Teorias da Comunicação (Mauro Wolf)

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ð ð Ä Ó Ó Ó Ó Ô ítica que provocou a guerra criar um terreno fértil para a produção de um certo tipo de efeitos. Do mesmo modo, a tranquilidade dos anos 50 e 60 conduzia a um tipo de efeitos limitados, No final dos anos 60, um período de conflitos, tensões políticas e crise económica contribuiu para tornar fundamentalmente vulnerável a estrutura social e, por conseguinte, para a tornar permeável à comunicação dos mass media» (Carey, 1978, 155). O modo de pensar o papel da comunicação de massa parece estar, portanto, estreitamente ligado ao clima social que caracteriza um determinado período histórico: às modificações desse clima correspondem oscilações no comportamento acerca da influência dos mass media. Mas, para além destas transformações, sob a descontinuidade existente entre um clima de opinião e outro, na heterogeneidade dos resultados e das atitudes quanto aos efeitos sociais da comunicação de massa, existe uma coerência que se prende com o modo como esses efeitos são definidos e estudados operativamente. A tentativa de Hovland, procurando continuidade onde aparentemente predominam a dissociabilidade e a discordância, constitui uma indicação útil a colher também a propósito de outros problemas. 1.5. A teoria funcionalista das comunicações de massa A teoria funcionalista dos mass media simboliza o desmentido mais explícito do lugar-comum segundo o qual a crise doutrinária do sector é devida essencialmente à indiferença, ao desinteresse, à separação entre teoria social geral e communication research. Para um grande número dos estudos sobre os mass media, esse facto não parece de modo algum convincente ou, pelo menos, como se verá mais adiante, se existiu ou existe carência de um paradigma teórico geral, isso não se verifica tanto na vertente sociológica como na vertente comunicativa: portanto, neste caso particular, o quadro interpretativo dos mass media adapta-se de novo, explícita e programaticamente, a uma teoria sociológica tão complexa como é o estrutural-funcionalismo. Antes de se expor o modelo, convém precisar alguns dos seus contornos gerais. A teoria funcionalista dos mass media constitui essencialmente uma abordagem global aos meios de comunicação de massa no seu conjunto; é certo que as suas articulações internas estabelecem a distinção entre géneros e meios específicos, mas acentua-se, significativamente, a explicitação das funções exercidas pelo sistema das comunicações de massa. É este o aspecto em que mais se distancia das teorias precedentes: a questão de fundo já não são os efeitos mas as funções exercidas pela comunicação de massa na sociedade. Assim se completa o percurso seguido pela pesquisa sobre os mass media, que começara por se concentrar nos problemas da manipulação para passar aos da persuasão, depois, à influência e para chegar precisamente às funções. A mudança conceptual coincide com o abandono da ideia de um efeito intencional, de um objectivo do acto comunicativo subjectivamente perseguido, para fazer convergir a atenção nas consequências objectivamente averiguáveis da acção dos mass media sobre a sociedade no seu conjunto ou sobre os seus subsistemas. A isso corresponde outra diferença importante relativamente às teorias precedentes: enquanto a segunda e a terceira tratavam essencialmente de situações comunicativas de tipo «campanha» (eleitoral, informativa, etc.), a teoria funcionalista dos mass media -ao mesmo tempo que passa do estudo dos efeitos para o estudo das funções - refere-se a um outro contexto comunicativo. De uma situação específica como uma campanha informativa, passa-se para a situação comunicativa mais «normal» e usual da produção e difusão quotidiana das mensagens de massa. As funções analisadas não estão associadas a contextos comunicativos especiais mas à presença normal dos mass media na sociedade. Segundo este ponto de vista, a teoria funcionalista das comunicações de massa representa um momento significativo da transição entre as teorias precedentes sobre os efeitos a curto prazo e as hipóteses posteriores sobre os efeitos a longo prazo (ver Capítulo 2), embora o quadro teórico geral da referência destas últimas seja bastante diferente (o estrutural-funcionalismo, no primeiro caso, e a sociologia do conhecimento e, em parte, a psicologia cognitiva, para as hipóteses sobre os efeitos a longo prazo). Em conclusão, na evolução geral do estudo das comunicações de massa - que acentuou progressivamente as relações entre fenómenos comunicativos e contexto social, a teoria funcionalista ocupa uma posição muito precisa que consiste na definição da problemática dos mass media a partir do ponto de vista da sociedade e do seu equilíbrio, da perspectiva do funcionamento do sistema social no seu conjunto e do contributo que as suas componentes (mass media incluídos) dão a esse funcionamento. Já não é a dinâmica interna dos processos comunicativos (como é típico, sobretudo, da teoria psicológicoexperimental) que define o campo de interesse de uma teoria dos mass media, é a dinâmica do sistema social e o papel que nela desempenham as comunicações de massa.


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