OutrOlhar | Edição 23 | Julho de 2010

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ANO 7 | EDIÇÃO Nº 23 | JULHO 2010

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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO - UFV

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Murilo Araújo

HOJE

Descumprimento à legislação ambiental faz com que a cidade sofra com as consequências

página 7 Arquivo pessoal Tony Mello

ONTEM

ESPELHO

SONO

Padrão de beleza e vaidade trazem perigos à saúde dos adolescentes

Entenda por que você sempre quer ficar mais um tempinho na cama

páginas 5 e 9

Saiba como eram e para que serviam alguns edifícios de Viçosa

página 11

página 8

RELIGIÃO

ABANDONO

Festa de Santa Rita de Cássia movimenta milhares de fiéis

Praça de Esportes da cidade necessita ser reformada

página 10

página 15


opinião opinião

EDITORIAL

A vida que segue

Esta edição encerra mais um ciclo de trabalho árduo para levar ao leitor o melhor em informação útil, agradável e cidadã. A turma que há um ano iniciou as suas atividades no OutrOlhar despedese agora para seguir o seu caminho em busca de novos conteúdos que contribuirão para uma formação mais sólida e totalmente voltada para os ideais da profissão de jornalista. Embora ainda não sejam profissionais, durante o tempo que permaneceram em nossa redação, eles se portaram como tal e tiveram uma atuação destacada e relevante no projeto do nosso jornallaboratório. O esforço, além de proporcionar a vivência necessária e a apaixonante experiência do jornalismo impresso, trouxe para este grupo recompensas que esperamos sejam as primeiras de muitas outras: a conquista de três importantes prêmios regionais na maior Exposição de Projetos Acadêmicos do País, na qual disputaram trabalhos de tradicionais Instituições de Ensino no setor, a Expocom. Certamente sentiremos saudades deste grupo, embora o nosso sentimento, neste momento, seja o de dever cumprido e o desejo que essas trajetórias continuem sendo de conquistas, vitórias e muito sucesso. A próxima edição já estará sob a responsabilidade de outros estudantes do Curso. Esperamos que o novo grupo assuma o Projeto com o empenho e entusiasmo da turma que ora nos deixa, além é claro do talento necessário para que possamos continuar produzindo material jornalístico de qualidade para você. Joaquim Lannes Editor

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Escolha certa é satisfação A maioria dos jovens se sente pressionada a fazer um curso superior

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juventude certamente é uma das mais difíceis e complicadas etapas da vida. Nela, os adolescentes lidam, além das descobertas e do autoconhecimento, também com as importantes escolhas que têm de ser feitas. A principal delas, sem

go, podem proporcionar enorme satisfação. No entanto, parecem não ter conquistado os futuros profissionais, pois a procura por essas oportunidades é baixa, comparado à procura por vagas em universidades. A psicóloga Rita de Cássia con-

quanto muitas pessoas buscam estabilidade financeira, outras simplesmente querem exercer uma profissão que corresponda às suas habilidades. A pressão dos pais, aliada à ansiedade, acaba por confundir os adolescentes, que podem, às vezes,

“O que a maioria busca nas escolhas feitas é

reconhecimento no grupo social, status e prestígio dúvidas, é a escolha profissional. A maioria dos estudantes, ao entrar para o ensino médio, passa a conviver com a preocupação de ter que fazer a escolha certa, pois, na maioria dos casos, ela definirá o futuro. Uma pesquisa, realizada em São Paulo, em 2008, com estudantes secundaristas, revelou que, apesar da dúvida da maioria sobre qual carreira escolher, todos priorizam a satisfação pessoal na hora da definição. A pesquisa revela ainda que 49% deles se sentem pressionados a entrar em uma faculdade. Principais responsáveis por essa pressão, os pais, através desse comportamento, refletem os valores familiares compartilhados pela maioria da população brasileira, que acredita que o curso superior é o melhor - ou o único - caminho a seguir. Acabam, assim, enraizando esse pensamento na cabeça dos jovens. A realidade tem mostrado que cursos técnicos, por exemplo, com boas oportunidades de empre-

sidera que existem outras preocupações bastante recorrentes nessa faixa etária e cita como exemplo as relacionadas à aparência corporal. “A satisfação dos jovens quanto ao corpo é medida a partir do olhar do outro e a forma de sentir-se satisfeito com ele pode exemplificar o que acontece de forma geral, inclusive em relação à escolha profissional”, diz Rita.

“A juventude tem autoconhecimento baixo, por isso faz escolhas erradas Rita de Cássia Souza , psicóloga

Sendo assim, o que a maioria busca nas escolhas feitas é reconhecimento no grupo social, principalmente status e prestígio entre os amigos e entre os familiares. Mas é claro que os sinônimos de satisfação variam bastante. En-

Coordenador do Curso de Comunicação Social/Jornalismo: Prof. Carlos d’Andréa

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social - Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV), sob responsabilidade da turma de 2008. Endereço: Vila Giannetti, Casa 39, Campus Universitário - 36570-000 - Viçosa, MG Tel: 3899-2878

Reitor: Prof. Luiz Cláudio Costa Diretor do Centro de Ciências Humanas Letras e Artes: Prof. Walmer Faroni Chefe do departamento de Comunicação Social (DCM): Prof. Ernane Corrêa Rabelo

Editor Prof. Joaquim Sucena Lannes Registro: MT/RJ-13173 Editor de Fotografia Prof. Erivam de Oliveira Registro: MT/SP-20193 Subeditores Lucas Guerra (Cidade), Jader Gomes (Ciência, Vida e Saúde), Daniel Fernandes (Comportamento), Rodrigo Castro (Cultura), Rayza Fontes (Entrevista), Maria Clara Corsino (Esportes), Diogo Rodrigues e Felipe Pinheiro (Meio Ambiente) e Kívia Oliveira (Opinião)

fazer a escolha errada. Rita de Cássia afirma que essa situação é normal e aceitável, principalmente nos dias atuais, em que há uma proliferação de novas profissões, o que dificulta ainda mais a decisão. Acrescenta também que “a juventude tem autoconhecimento baixo, e por isso faz escolhas erradas”. O ideal é que os jovens sempre façam escolhas, principalmente a quanto à carreira a seguir, levando em conta a vocação e a satisfação pessoal. Para isso, é necessário, antes de tudo, que cada um estabeleça o que considera satisfação pessoal e profissional e determine os caminhos que o ajudarão a encontrar aquilo que procura. A ajuda dos pais, familiares e amigos é importante, sem dúvida, mas a pressão só atrapalha. Se é na juventude que uma pessoa se autoconhece, esse conhecimento certamente é o bastante para a tomada de decisão. Samantha Dias

Redação Camila Caetano, Camila Campanate, Caroline Lomar, Daniel Fernandes, Diego Mendes, Diogo Rodrigues, Erik Oliveira, Felipe Pinheiro, Gustavo Paravizo, Hélio Assa-Fay, Jader Gomes, Jordana Diógenis, Kamilla Bitarães, Kelen Ribeiro, Kívia Oliveira, Lilian Lima, Lucas Gadbem, Lucas Guerra, Luiz Phillipe Souto, Luiza Sena, Maria Clara Corsino, Mayara Barbosa, Monizy Amorim, Murilo Araújo, Murilo da Luz, Nayara Souza, Olívia Miquelino, Paula Machado, Priscila Fernandes, Rayza Fontes, Rodrigo Castro, Rodrigues Alves, Samantha Dias, Sávio Lopes, Talles Carvalho e Thiago Alves

AO LEITOR

Três tempos Conhecer o passado, compreender o presente e visualizar o futuro. Tal exercício é o que propõe esta edição do OutrOlhar. Parece bobagem, porém, imagine leitor, caso perdesse sua memória. Quem você seria? Quem iria se tornar? Pois é assim que se percebe a importância dos registros, do valor que o detalhe de cada coisa, por mais simples que seja, tem no conjunto que forma a história. Retomando a última abordagem sobre o ilustre personagem Arthur Bernardes, voltamos a destacar Viçosa, fazendo um passeio histórico pela cidade dos tempos de outrora. Convidamos vocês, leitores, para relembrar onde era o cinema que seus avós frequentavam, como era a praça onde provavelmente namoravam e, ainda nessa nostalgia, destacamos o valor da memória enfatizando a importância da preservação dos monumentos e patrimônios Além disso, de volta ao presente, passamos a enxergar o crescimento vertical da cidade e deixamos um caminho para visualizar as suas implicâncias no meio ambiente e, principalmente, no futuro das gerações. Boa leitura. Kívia Oliveira Redatora

Diagramação Diogo Rodrigues (diagramação final) e Felipe Pinheiro (Cidade, Esportes, Opinião e Ciência, vida & saúde) Impressão: Divisão Gráfica Universitária Tiragem: 2000 Exemplares Os textos assinados não refletem a opinião da Instituição ou do Curso, sendo de inteira responsabilidade de seus autores

Revisão Final Rodrigues Alves e Diogo Rodrigues

Edição 23 - Julho de 2010


opinião

Amor não é mais cafona

Amor, vestido branco, igreja, filhos e família feliz? Sim, mas só depois do emprego e das viagens

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eus avós se casaram antes do final da adolescência, em comum acordo familiar. Meus pais se uniram em matrimônio, já por opção própria, mas também jovens. E, nos meus tempos de colégio – que nem estão tão distantes assim – a onda era o “ficar”. Dessa forma, concluía minha ignorância que não me casaria, talvez tivesse um filho e, provavelmente, não seria avó, seguindo o curso progressivo de diminuir o grau de envolvimento amoroso inspirado nos pensamentos tortos da modernidade. Ingênuo equívoco! Descobri que ser romântica, querer casar na igreja e formar família não é mais um trio cafona. Na verdade nunca foi, era pura hipocrisia de quem se dizia acompanhar essa volátil contemporaneidade. Um pesar que mesmo eu tenha me incluído nesse conjunto que alegava ressaltar as conquistas feministas, camuflando o ver-

gonhoso medo de assumir uma paixão e encarar os desafios dos relacionamentos afetivos. A constatação de que os jovens não reprimem o amor, como eu erradamente pensava, é resultado de uma pesquisa do OutrOlhar com 20 estudantes de Viçosa com idade entre 14 e 17 anos. Na conversa que fluiu nas ramificações do

cer algumas primeiras condições a serem atendidas. Assim, numa escala de prioridade com valores de 1 a 5, o namoro/casamento estaria em 3º lugar para as meninas e na 4ª posição no caso masculino. Ambos os sexos defenderam a colocação, justificando que a formação profissional, independência e estabilidade financeira são aspi-

“Os jovens não reprimem o amor, como eu erradamente pensava tema amor e compromisso, percebe-se que a juventude não só ama descaradamente, como está buscando a sensatez do meio-termo entre a precipitação do casamento prematuro e a radicalização do “ficar”. Na constituição base dessa ideia equilibrada, os estudantes buscam prudência e leveza, revelando que acreditam no amor e que o segredo para alcançar esse desejo de completude é estabele-

rações que devem ser alcançadas antes de se pensar em casamento e/ou filhos. Eles devem vir depois do tempo que planejaram ter para o que chamam de “curtir a vida”, desde viajar pelo mundo, montar uma banda ou fazer compras em Paris. Mas, apesar desse condicionamento, o namoro não é recriminado. Para o curto prazo, o que a galera quer é conhecer gente nova

e se divertir, sem a necessidade de qualquer compromisso amoroso. Uma paixão inesperada, porém, não é motivo para desespero. A receita, segundo os estudantes, é ter discernimento para saber aproveitar o momento sem receio de se envolver e, principalmente, tomar os devidos cuidados nas relações sexuais. Certo é que nem o alto número de divórcios contabilizados nos últimos anos, ou mesmo os pessimismos modernos do senso comum, tiram das novas gerações a admiração pela paixão e o desejo manifestado de namorar, casar, ter filhos e ser feliz ao lado de quem ama. Se é que ainda posso me incluir nessa juventude, digo que me sinto livre das antigas amarras falsas e vou me adaptando aos novos valores do amor com flores, chocolate e uma boa dose de romantismo que, pode apostar, não é coisa século passado. Kívia Oliveira

A internet na luta contra a corrupção

O

Projeto Ficha Limpa, que foi aprovado no Senado Federal em maio deste ano, é uma iniciativa do capítulo brasileiro da Avaaz, uma rede de ativistas globais que atuam através da internet e utilizam esse nome que significa “voz” em

“O acesso à

informação dos atos políticos cresceu muito com o uso da internet vários idiomas asiáticos. O grupo conseguiu reunir através de e-mails e divulgação virtual uma média de 1,9 milhões de assinaturas. Obviamente, a mobilização Edição 23 - Julho de 2010

não resolve por completo o problema da corrupção e existem, inclusive, controvérsias a respeito de sua efetividade. No entanto, além de ser um movimento contra a corrupção, o projeto é o resultado de uma mobilização de cidadãos através de uma ferramenta relativamente recente, a internet. O acesso à informação dos atos políticos cresceu muito com o uso da internet, que, da mesma forma, facilita a “vigilância” sobre os "homens de colarinho branco". O site Adote um Vereador (www.vereadores.wikia.com) é um exemplo. Ele conta com a colaboração de internautas que acompanham o desempenho dos cargos dos vereadores de sua escolha, criando uma rede de informações de utilidade pública. O Transparência Brasil (www. transparencia.org.br) é uma organização autônoma que, através da internet e outros recursos, busca facilitar o acesso à informação

sobre a política brasileira. Em seu site, disponibiliza artigos, notícias e diversos dados para pesquisas de cidadãos e da imprensa. O objetivo de disseminar dados, segundo os mesmos, é de “ajudar as organizações civis e os governos de todos os níveis a desenvolver metodologias e atitudes voltadas ao combate à corrupção”.

Manifestar-se virtualmente é só um pequeno passo contra a corrupção, muito ainda deve ser feito. Especialmente em época de eleição, é importante estar informado sobre os eleitos e, assim, a internet revela mais uma de suas utilidades.

Onde acompanhar e fiscalizar a política brasileira Avaaz www.avaaz.org

Transparência Brasil www.transparencia.org.br

Adote um Vereador

Sávio Lopes

opinião

A síndrome do dedo indicador

Q

uando se julga uma pessoa se começa pela posição das mãos. O dedo indicador aponta para os erros e defeitos do outro e, instantaneamente, os outros dedos da mão apontam para aquele que pouco antes estava na posição de juiz. Na linguagem popular é comum remeter a essa metáfora para lembrar que ninguém tem o direito de julgar ninguém. Quando se é criança, uma brincadeira comum é o telefone sem fio. Um jogador começa uma palavra que deve ser repetida. A graça do jogo é que, no final, quase nunca o que o último participante ouve é o mesmo que foi dito no ínicio. Com a fofoca também é assim. Mas ao fofocar as pessoas sabem que é errado. Sempre começam a conversa com um “me disseram”, “estão falando por aí”. O psiquiatra José Ângelo Gaiarsa, autor do livro Tratado Geral sobre a Fofoca, aponta que o ato de fofocar está ligado à insatisfação que as pessoas sentem em relação às suas vidas. Algo interessante, mas que ocorre muitas vezes de forma inconsciente. Isso porque o fofoqueiro costuma se achar superior àquela pessoa de quem se fala mal. Uma outra metáfora do senso comum é aquela que compara a sociedade a uma fila indiana. Cada pessoa carrega seus defeitos nas costas e suas qualidades na barriga. Assim, pela forma como as pessoas ficam dispostas, cada um só vê suas próprias qualidades e os defeitos do outro. Olhar para trás para ver as qualidades da pessoa que se costuma indicar os erros com o dedo mágico é importante. Não basta usar apenas o dedo indicador. Dar as mãos vale mais.

www.vereadores.wikia.com Nayara Souza Redatora

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comportamento Mesmo com várias opções, a comportamento

Ídolos que vêm e vão

maioria prefere seguir a Ele

Daniel Fernandes

Exercer a fé não é coisa do passado para o jovem brasileiro, o terceiro mais religioso do mundo Rodrigues Alves

Rodrigues Alves

São sete e meia da noite de um sábado. Mais de 40 adolescentes, entre 12 e 18 anos, estão reunidos no térreo de um dos prédios do bairro Júlia Mollá. Muitos sentados nas cadeiras colocadas em forma de círculo e alguns no chão. Eles batem papo sobre sexo, cantam e tem gente que chega a dar uns passinhos de dança ao som do violão. Não parece existir nada que os diferencia de outros grupos espalhados pela cidade. Mas eles mesmos fazem questão de dizer: essa galera é de Deus. Em certo momento do encontro, a escolhida para fazer a reflexão, Lise da Matta, aluna do 3º ano do Anglo, pede que todos abram a Bíblia no Evangelho de João. O aluno do 2º ano também do Anglo, James Gilbert, tem aparelho nos dentes, usa boné virado pra trás e tênis Nike. Enquanto a maioria folheia o livro sagrado, ele tira o Ipod do bolso e na tela sensível ao toque acompanha a passagem bíblica. James, Lise e os demais fazem parte da União Presbiteriana de Adolescentes (UPA). Segundo o coordenador, Pedro Paulo Valente, ao todo são 60 adolescentes que se reúnem mais ou menos quatro vezes por semana, para encontros informais como esse ou grupos de estudo bíblico. Eles estão longe de serem considerados vozes clamando sozinhas num mundo cada vez mais tecnológico, que prega a razão como medida de todas as coisas e tem um sistema que prioriza o lucro a qualquer custo. O Instituto alemão Berelsmann Stifung fez uma pesquisa em 21 países e identificou o jovem brasileiro como o terceiro mais religioso do mundo, perdendo para os nigerianos e guatemaltecos. De acordo com a pesquisa, 95% dos jovens se dizem religiosos e 65% afirmam que são profundamente religiosos. Noventa por cento dos jovens entrevistados também afir-

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ADOLESCENTES participam da maior festa católica da cidade, a de Santa Rita de Cássia mam acreditar em Deus. “Atualmente, os jovens têm mais acesso a informações sobre as religiões e possibilidade de comunicação. Mesmo assim, a expressão da fé é bastante sólida”, diz Pedro Paulo. A UPA tem um blog na internet e uma comunidade no Orkut que servem para difundir mensagens cristãs e auxiliar na comunicação entre os membros. Liberdade para crer No encontro dos jovens presbiterianos, Lise perguntou a Davi Bastos por que ele vai à escola. A resposta veio seca e espontânea, para riso dos demais: “Porque me mandam”. Depois, ao ser questionado pela reportagem quais motivos que o fazem deixar a internet em casa ou a balada num sábado à noite para ir ao um encontro da igreja, o aluno do 9º ano da Escola Nossa Senhora do Carmo pensa um pouco e responde: “Para crescer espiritualmente, entender melhor eu mesmo e o mundo a minha volta”. James, que mudou dos Estados Unidos aos quatro anos, diz que a escolha por participar de uma religião tem mais de liberdade do que

muitos pensam. “É mais imposto pelo mundo que você deve fazer coisas erradas. Estou aqui porque é algo que eu escolhi livremente.” Os católicos comungam da mesma opinião dos irmãos evangélicos. Eles citam a convivência com pessoas que compartilham da mesma fé como uma das melhores coisas de se participar dos grupos religiosos. “Você conhece pessoas com o mesmo objetivo e assim a caminhada fica mais fácil”, diz a integrante do grupo Adolescentes Seguidores de Cristo (ASC), Thayanara Lopes.

ou todas numa festa não é atitude de um cristão. “Se eu achar que vai valer a pena, tudo bem. Se eu gostar dele e for sério. Só por número, não”, afirma Jaqueline Barbosa, aluna do 2º ano do Esedrat e também participante do ASC. “Não fico só pra beijar e pronto. Eu ficaria se a gente tivesse um compromisso, se assumíssemos um namoro.”, explica Larissa Sakiyama, aluna presbiteriana do 1º ano do Coluni. James, porém, confessa: “Tem hora que não dá pra seguir tudo, é muito difícil não pecar”.

Somos iguais, somos diferentes Ao mesmo tempo em que dizem que são iguais a qualquer pessoa da idade deles, os jovens religiosos fazem questão de ressaltar o que os distingue. “São pequenos atos, coisas mínimas, como tratar todos com respeito”, afirma Mônica Oliveira, aluna católica do 3º ano do Esedrat. Outros exemplos são não colar nas provas, não beber, não usar drogas, mas a questão mais ouvida pela reportagem diz respeito ao “ficar”. Tanto os meninos como as meninas dizem que pegar todos

Preconceito Mesmo agindo às vezes diferentes dos demais, os jovens dizem lidar bem com os preconceitos dos outros amigos não religiosos. “Se for pra ir num lugar para beber, eles nem me chamam”, conta James. De acordo com Jaqueline, alguns ficam zoando porque ela segue a Deus, mas ela nem liga. “No início, meus amigos da escola falavam que eu era viado, mas hoje eles entendem”, conta Davi. Para Lise, porém, a fé supera tudo isso. “Deus mesmo já disse que a gente ia sofrer chacota”.

Luan Santana, Restart, Fiuk e Robert Pattison são apenas alguns exemplos de artistas que fazem os adolescentes, principalmente as meninas, gritarem e se desesperarem de paixão. Ídolos da atual geração, os artistas são ícones de várias “tribos” e influenciam na maneira de se vestir, de falar, de se comportar. Não é difícil reconhecer um fã da banda Restart, por exemplo. No estilo do “rock colorido”, quem curte a banda se veste praticamente com o uniforme de sua tribo: calça colorida, óculos característicos e cabelos proposital e calculadamente bagunçados. Segundo a psicóloga Sônia Fávaro, é preciso tomar cuidado para que a idolatria não permita que a influência do artista sobre o jovem se torne prejudicial. “Principalmente quando esse artista possui um comportamento não muito adequado.” Porém, com a mesma velocidade que aparecem para arrebatar multidões de fãs, muitos desses grupos ou artistas desaparecem sem deixar saudade. É só voltar um pouco no tempo e lembrar que, no Brasil, grupos como KLB, Twister, Br’oz, Rouge e tantos outros tocavam sem parar nas rádios de todo o país e, hoje, algumas sequer existem. Até mesmo bandas mais recentes, como o grupo RBD, já saíram de moda, e se tornaram motivo de vergonha para algumas pessoas, como a estudante Mariana Veronez, de 15 anos, hoje fã do meteoro sertanejo Luan Santana. “Além de lindo, canta muito bem”, acredita. “Hoje tudo passa muito rápido. Ouço e gosto de Beatles desde meus 15 anos, há mais de 40 anos. Acho que, infelizmente, eles não poderão sentir esse gostinho”, afirma o empresário Felipe Nunes.

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comportamento Vaidade em excesso traz riscos à saúde

comportamento

Preocupação precoce e exagerada com a beleza pode gerar diversos problemas graves de saúde entre as adolescentes Caroline Lomar

Adolescência é fase de querer ser aceito. Nas escolas, é normal que se formem grupos diferentes e com características específicas e que os membros desses grupos sejam identificados e parecidos. Para conseguir essa semelhança, alguns jovens, principalmente meninas, exageram na vaidade. Salto alto, maquiagem em excesso, alisamento nos cabelos e até cirurgia plástica são utilizados pelas adolescentes para se encaixar em certos padrões. A estudante Luana de Souza, 15 anos, não se acha excessivamente vaidosa, mas não abre mão de certos cuidados. “Eu acho que me cuido na medida certa, sem exageros. Mas não deixo de fazer escova progressiva para alisar os cabelos”, conta. Toda adolescente sabe que escova progressiva e seus

similares, na maioria das vezes, contém formol, uma substância extremamente perigosa e que é proibida para usos estéticos. Segundo o site da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o formol pode causar infecções na pele e problemas respiratórios gravíssimos, além de ser cancerígeno. Elas sabem disso. Mas deixam de usar? “Eu sei que faz mal e que pode até fazer o cabelo cair. Mas eu gosto mais dos meus cabelos lisos e vou continuar usando”, declara Luana. Outro perigo que passa quase despercebido pelas adolescentes é o salto alto. Segundo ortopedistas, o uso excessivo de salto alto não é recomendado nem para mulheres adultas. Para adolescentes, então, os danos podem ser ainda maiores. A universitária Patrícia Calegari faz uso de salto alto desde os 10 anos. Hoje, aos 22, sente

na pele os efeitos dessa vaidade. “Tenho um problema sério no joelho, causado pelo uso de salto desde pequena. Hoje, não posso fazer alguns tipos de exercício e sinto muitas dores”, conta. Para a psicóloga Rosana Cognalato, da Divisão Psicossocial da UFV, os danos causados pela vaidade excessiva vão muito além do físico. “Meninas que tentam se encaixar desde pequenas podem se transformar em adultas frustradas e carentes, já que constroem toda a felicidade em torno da aparência”. Segundo Rosana, é normal que meninas se cuidem. O perigo é quando esses cuidados extrapolam os limites. “Mulheres são naturalmente vaidosas e é normal que meninas tentem imitar as amigas, a mãe ou artistas da televisão. Mas os limites devem ser claros e é importante lembrar que a saúde vem sempre em primeiro lugar”, alerta.

Rodrigo Castro

MÉTODOS, como o uso da chapinha, podem sem prejudiciais

Figurinhas, uma ideia que cola em qualquer época Rodrigues Alves

Erik Oliveira

Trocaram o atacante Cristiano Ronaldo pelo zagueiro Lúcio, o goleiro italiano Buffon pelo brasileiro Júlio César, e até mesmo o Messi por Robinho e Luís Fabiano. Não, os dirigentes do Real Madrid, Inter de Milão, Barcelona, Santos e outros clubes não ficaram malucos. Esse “mercado da troca”, na verdade, é o universo das figurinhas dos jogadores das seleções que disputam a Copa do Mundo da África do Sul. O sucesso das figurinhas, que atingiu o Brasil nos últimos meses, tem deixado as crianças excitadas e ansiosas para colecioná-las. Elas colecionam pelos mais diversos motivos. Os estudantes do ensino fundamental Gustavo Costa, Fernando Miguel e Maurício Fontes enumeram: empolgação, por estar na moda, por ser divertido, para guardar de recordação e para poder conferir no álbum os jogadores que fizerem gols durante a Copa. Mas esse fenômeno das figurinhas das Copas não é exclusiEdição 23 - Julho de 2010

SATISFEITO, garoto mostra figurinhas das páginas destinadas à Seleção Brasileira vo deste ano. No passado, elas também fizeram muito sucesso e a alegria de muitos adultos de hoje. Entre eles, Márcio Vinícius, pai de João Lucas, 11 anos. Neste ano, pai e filho colecionam juntos.

“Eu incentivo o João a colecionar, porque colecionava quando era jovem. Lembro-me dos álbuns das Copas do México em 70 e da Alemanha em 74,” afirma o pai. E para quem pensa que somen-

te os garotos se interessam pelos cromos, está completamente enganado. As meninas também se interessam (e muito) pelo álbum da Copa. As irmãs gêmeas Maria Carolina e Vitória Valverde, jun-

tamente com suas amigas Beatriz e Maria Clara, todas com 11 anos de idade, também estão colecionando. Elas afirmam que colecionam não por causa da beleza dos jogadores, mas sim porque adoram futebol. Segundo Maria Clara, todo mundo na escola também coleciona, e elas não poderiam ficar de fora dessa onda. As meninas dizem já ter experiência com o álbum. Elas colecionavam figurinhas dos Rebeldes e das Princesas em outros tempos. Beatriz não é iniciante nem mesmo quando o assunto é futebol. Na Copa da Alemanha, em 2006, ela colecionou as figurinahs dos jogadores. Para tentar a sorte de encontrar as figurinhas mais difíceis ou trocar as que estão repetidas para completar o álbum, os colecionadores se reúnem na Praça da Matriz, onde o verdadeiro “mercado” de figurinhas acontece. Pessoas de todas as idades e classes sociais fazem ali um escambo honesto e democrático, além de terem a oportunidade para se divertir e encontrar novos amigos.

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meio ambiente meio ambiente

Trabalho árduo ajuda o meio ambiente Para ajudar os catadores a aumentarem a renda, bastam ações simples, como separar o lixo “molhado” do lixo “seco” Kelen Ribeiro

O catador de material reciclável recolhe todo tipo de objetos que podem ser reaproveitados, como vidros, plásticos, latas, alumínio e papéis. Esse tipo de trabalho é feito principalmente por pessoas de baixa renda e exige um grande esforço em seu cumprimento, já que o recolhimento de materiais consiste em procurar nas ruas e tambores de lixo aquilo que pode ser reciclado. Ainda há também o fato de que o manuseio do lixo para que esse tipo de coleta seja feita é de extrema dificuldade. As pessoas não têm o hábito de separar o lixo reciclável em outros recipientes para que os catadores recolham. “Não podemos ligar para o que tem no meio do lixo. A gente fica sujo, mas tem que arrumar um jeito de ganhar a vida”, afirma o

catador José Pedro Adriano, mais conhecido como “Zé do Botão”. Ele também é presidente da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Viçosa (ACAT) e reclama da falta de políticas de atenção por parte tanto da administração pública, quanto da população. “Não temos hora nem de entrar nem de sair do serviço. Temos que ficar aqui até terminar todo o trabalho. Fico com dó daquela ali [aponta para uma colega com quem trabalha], que já tem setenta anos e fica no trabalho pesado o dia inteiro”, diz. Zé do Botão também fala da precariedade dos meios de transporte. Muitas vezes os catadores ficam impossibilitados de recolher materiais em bairros mais afastados, já que o carrinho que usam para a coleta fica muito pesado. A maioria dos materiais reco-

Kelen Ribeiro

CATADORES contribuem para a limpeza das ruas de Viçosa lhidos por esses trabalhadores é de latinhas, caixas de papelão e garrafas pet. Ou seja, coisas que habitualmente descartamos quase todos os dias. O que não se tem muita noção é de que a reciclagem de materiais como as garrafas pet,

por exemplo, contribui para a economia de energia, já que o plástico é um derivado do petróleo, além de reduzir drasticamente o volume de lixo nos aterros sanitários. Para se ter uma ideia, a reciclagem de uma única latinha de

alumínio economiza energia suficiente para manter um aparelho de TV ligado durante três horas. Por isso, o trabalho dos catadores se torna tão benéfico. Medidas simples e eficazes podem fazer uma grande diferença para o meio ambiente e para todos esses trabalhadores que buscam, com muito empenho e suor, uma fonte de renda e sustento, além de ajudarem na limpeza e preservação da natureza. Separar o lixo orgânico do inorgânico, ou, mais basicamente, o lixo “molhado” do lixo “seco” é de extrema importância. Se possível, incentivar a realização da coleta seletiva dentro de casa, educando e conscientizando os moradores. Além de passar um ato de responsabilidade ambiental adiante, esses gestos são atos de solidariedade e ajuda para as pessoas que realmente merecem.

Universidade abriga zoológico livre em suas matas Diogo Rodrigues Felipe Pinheiro

Não são raras as oportunidades de se deparar com algum animal quando se está andando pela UFV. Com uma grande cobertura vegetal e rodeada de áreas de proteção ambiental, a universidade serve de casa para diversas espécies de aves, peixes e mamíferos. As diferenças de hábitat e personalidade dos animais selecio-

nam aqueles que são mais pops, mais vistos, e os que se reservam um pouco mais. Nessas condições, os jacus, junto com as capivaras, são os mais badalados do pedaço, aqueles de contato mais frequente com as pessoas. No entanto, nem sempre os mais vistos são os preferidos dos que andam pelo campus. Aqueles de aparição menos frequente, como os micos-estrela e os porcos-espinhos, chamam bastante a atenção das pessoas. Segundo o pós-graduando em Daniel Fernandes

CANÁRIOS são encontrados facilmente no campus da UFV

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biologia animal da UFV, Rodolfo Stumpp, existem aparição de gambás, furões, preguiças e até do macaco bugio, conhecido como macaco barbado. Os ares universitários também não ficam de fora da diversidade animal. Com mais de 200 espécies de aves catalogadas na região, o campus é pre enchido de

cantos e cores dos seres de asas. Os gaviões-tesoura, apesar de serem visitantes da UFV, por se tratarem de aves migratórias, merecem nossa atenção. De acordo com o estagiário do museu de zoologia da UFV, Gian Carlo Zorzin, os animais deixam a Amazônia nas épocas mais chuvosas e habitam o território da universidade, onde caçam insetos, para depois retornarem à floresta ao norte.

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JACUS podem ser vistos em bando nas matas do Recanto das Cigarras

Edição 23 - Julho de 2010


meio ambiente meio ambiente

Verticalização em Viçosa desrespeita leis A construção de prédios na cidade requer planejamento, levando em conta preocupações com o meio ambiente Murilo Araújo

Murilo Araújo

Viçosa não está fora das atuais tendências de crescimento “para cima”, tão notável nas grandes cidades do Brasil. Mesmo que a cidade não seja uma metrópole, a quantidade de prédios sendo construídos aqui é considerável. O que se observa no caso de Viçosa é que o principal motivo do processo de “verticalização” é a presença da UFV. São cada vez mais estudantes chegando à cidade, especialmente nos últimos anos, em que têm crescido o número de vagas e cursos na Universidade. A demanda massiva e crescente provoca uma expansão para cima, que, muitas vezes, a cidade não está preparada para atender. Esse tipo de construção pode causar sérios impactos ambientais e, por isso, há determinados territórios que são protegidos por lei. Segundo o Código Florestal Brasileiro (instituído pela Lei Federal nº 4.771/1965, alterada por leis posteriores), devem ser

EDIFÍCIOS da Av. P.H. Rolfs foram construídos a menos de dez metros da margem do ribeirão consideradas áreas de preservação permanente florestas e outras formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água; ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios d’água naturais ou artificiais; nas nascentes,

ainda que intermitentes e nos chamados “olhos d’água”; no topo de morros, montes, montanhas e serras; nas encostas com declividade superior a 45°, entre outras. Apesar disso, em Viçosa, ainda incomodam a muitas pessoas ca-

sos clássicos, como a construção do prédio conhecido como “Carandiru”, edificado em cima do Rio São Bartolomeu. Segundo informações do blog do ex-vereador Aguinaldo Pacheco (viçosacidadeaberta.blogspot.com), até mesmo o

Ministério Público questionou a autorização dada pelo Ibama para a construção do prédio, em 1999. Outro caso, do mesmo ano, foi a construção de um estacionamento privativo num shopping situado à Rua Padre Serafim. O estacionamento fica em cima do Córrego da Conceição. Aguinaldo, que é arquiteto e urbanista, afirma que muitas construções, tanto privadas quanto públicas, estão fora do modelo que é atual para a preservação do meio ambiente. Quanto aos esgotos da cidade, o engenheiro Sanzio Borges, da Divisão Técnica do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), afirma que o planejamento de um sistema de interceptação sempre leva em conta uma previsão de crescimento para trinta anos, e sua construção em Viçosa está sendo planejada. Porém, segundo ele, o tratamento de esgotos ainda não é suficiente em Viçosa. De acordo com o SAAE, atualmente Viçosa recolhe 88% de seu esgoto, contando com apenas duas estações de tratamento.

Projeto visa recuperar nascentes do Rio São Bartolomeu Camila Campanate

O uso indevido da água é um fator que preocupa a sociedade e, de maneira especial, os especialistas. Porém, mais que essa prática, há também a preocupação em manter as nascentes que abastecem os rios e são responsáveis pela água que é levada a cada residência da cidade. Em Viçosa, por exemplo, há o cuidado de preservar as nascentes do Rio São Bartolomeu, que abastece grande parte da cidade. O projeto para aumentar a vazão da água do rio foi implantado em 1997, tendo como coordenador o engenheiro florestal e professor da UFV Paulo Santana. Antes, o também professor da Universidade, Paulo Darque, já alertava, em suas aulas, sobre a diminuição da vazão da água na bacia. Então, especialistas começaram a estudar as áreas que poderiam absorver a água Edição 23 - Julho de 2010

das chuvas e criar possibilidades de absorção pelas terras das regiões próximas às nascentes. O projeto “Nascentes do Rio Doce” orienta os agricultores que possuem ou trabalham em propriedades com nascentes a criarem curvas de nível nestes locais, para que o solo absorva melhor a água da chuva. Além da orientação e capacitação, o projeto repassa sementes, calcário, adubo e materiais necessários para o reflorestamento e formação de curvas de nível em áreas degradadas. Segundo um dos coordenadores do projeto, Marcos Antônio Magalhães, o pograma busca técnicas simples e baratas para que o agricultor, independente da sua condição financeira, possa fazer essa recuperação. O SAAE também está no projeto desde 1999, com três unidades experimentais que monitoram a quantidade da água da chuva.

Uma das ações consiste no auxílio no cercamento das nascentes, repassando materiais como arame e madeiras tratadas. De acordo com o aposentado Darcy Araújo, que é dono de uma dessas propriedades, esse cuidado garante a qualidade da água que chega às residências de Viçosa. Os materiais repassados aos agricultores impedem gados, outros animais e pessoas de ficarem próximos às nascentes. São mais de 200 propriedades com potencial de recuperação de nascentes, todas na área rural viçosense. Elas podem beneficiar cerca de 40 mil pessoas. Marcos Antônio explica que, desde 2000, a recuperação das nascentes já aumentou entre 40% a 60% a quantidade de água em uma das bacias no rio São Bartomoleu. As técnicas também elevaram a vazão de água no rio entre 60% e 70% no período de seca.

Arquivo SAAE

AS NASCENTES garantem a qualidade da água

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ciência ciência, vida e saúde

Só mais um minutinho, por favor... Adolescentes sofrem cada vez vez mais com a privação crônica do sono por motivos muitas vezes ligados à recreação Pryscilla Almeida

Pryscilla Almeida

Quem é adolescente ou já passou por essa fase sabe o quanto é difícil dormir e acordar cedo. Mas os que pensavam que isso não passava de preguiça podem começar a mudar seus conceitos. Pesquisas da Universidade de Columbia indica que dormir e acordar mais tarde faz parte do processo de amadurecimento dos adolescentes. Além disso, eles precisam de pelo menos uma hora a mais de sono do que os adultos. O clínico geral Ângelo Faria diz que na adolescência os hormônios estão literalmente à flor da pele, e essa produção excessiva de hormônio influência na produção de melatonina, que é responsável pela liberação de substâncias associadas ao sono. Na puberdade, a produção de melatonina acontece com mais ou menos quatro horas de atraso. Por esse motivo, nessa fase o sono costuma chegar mais tarde. O adolescente dorme mais tarde, mas, mesmo assim, tem que

Dicas para uma boa noite de sono Evitar chá, café, refrigerante e chocolate à noite Não praticar atividades físicas à noite Praticar atividades ao ar livre durante o dia Dormir em um quarto calmo, escuro e fresco Evitar refeições pesadas nas quatro horas que antecedem ao sono

TV E VIDEOGAME atrasam ainda mais a hora de dormir estar cedo na escola. Ele deixa de dormir o tanto necessário para descansar e ter um dia produtivo. Uma boa noite de sono é essencial para o funcionamento do nosso corpo e mente. No sono, células são renovadas, a memória é consolidada e o hormônio do crescimento é liberado. Isso significa que dormir pouco pode atrapalhar até o crescimento. Segundo

Ângelo Faria, dormir pelo menos nove horas por noite é o ideal nessa idade, mas poucos adolescentes conseguem fazê-lo. Além da questão hormonal, ele tem acesso a inúmeras distrações como televisão, internet, além das atividades extra escolares. Muitos adolescentes sofrem atualmente de privação crônica do sono, que é quando se dorme

menos do que o corpo precisa e sintomas dessa privação começam a aparecer. Dormir pouco pode causar, por exemplo, irritação, falta de concentração, sonolência diurna, queda no rendimento escolar. A professora da rede pública de Viçosa, Maria das Graças Nogueira, diz que é complicado prender a atenção dos alunos em sala de aula, principalmente no início da manhã. Muitos chegam

a dormir profundamente durante a aula. Apesar de você que leu agora este texto ter um argumento a mais para pedir os importantíssimos 5 minutinhos, a aula ainda começa às sete horas da manhã. Então, é importante tentar dormir mais cedo para cumprir as nove horas de sono necessárias para descansar o corpo e se preparar para o dia seguinte.

Não bastam agasalhos, é preciso se cuidar Talles Carvalho

Talles Carvalho

Você acorda com a garganta estranha, pega aquela blusa de frio que não usa há séculos e nota que o sol resolveu sumir por um tempo. A paisagem muda, o termômetro também, e todos nós sabemos que, quando se trata de inverno, em Viçosa, só existe uma certeza: nenhuma previsão climática vale. Em uma cidade como a nossa, onde ocorrem variações bruscas de temperatura, não se pode ignorar as mudanças que o período mais frio do ano pode trazer às nossas vidas. Com a chegada do inverno, nossos hábitos mudam, e aumentam os casos de doenças que afetam o pulmão e a pele. Além, claro, da clássica preguiça que nos toma na hora de acordar. Inserida na zona da mata mineira, Viçosa se inclui na faixa

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tais complicações na saúde são os idosos por terem o sistema imunológico mais frágil e serem mais sensíveis às doenças favorecidas pelo frio. Porém, existe uma preocupação também com a saúde do jovem, que pode ser afetado principalmente pelos seus hábitos. Isso porque, para um estudante que passa horas por dia compartilhando objetos, convivendo com muitas pessoas e circulando num mesmo ambiente, as chances de adquirir doenças do frio também são grandes. Além da queda da umidade do ar, há uma tendência das pessoas de se aglomerar em locais fechados, facilitando a transmissão de vírus, como o da gripe (Influen-

za), explica o médico infectologista da Divisão de Saúde da UFV, Alex Smiquelide. O problema é maior para pessoas que possuem predisposição alérgica respiratória, como rinite e asma, já que a fumaça e poeira contribuem para o agravamento de tais doenças. Contudo, há certos cuidados que reduzem os efeitos ruins que o inverno causa. Utilizar agasalhos adequadamente, ingerir bastante liquido e se alimentar bem fazem parte do conjunto de ações simples, que garantem nossa autoproteção. Assim, com um pouco de cuidado, podemos desfrutar sem preocupações o conforto e o clima agradável que só o inverno pode oferecer.

Há uma tendência das pessoas a se aglomerarem em locais fechados

FRIO INTENSO modifica vestuário dos moradores de Viçosa climática denominada “tropical de altitude”. Por isso, possui períodos quentes e úmidos intercalados por fases frias e secas. Assim, a partir do dia 21 de junho, saímos do outono e entramos no inverno, uma transição de estação

que ocasiona uma incrível transformação do nosso ambiente e na nossa saúde. Nessa estação, há um aumento considerável de doenças respiratórias e dermatológicas, sendo que os mais prejudicados com

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vida e saúde ciência, vida e saúde

Jovens correm risco de ficar doentes para conseguir padrão de beleza Drunkorexia, Vigorexia e Transtorno Dismórfico Corporal são distúrbios alimentares pouco conhecidos entre os adolescentes Jader Gomes

Os padrões de beleza estão por aí, na TV, nas revistas, nos outdoors, nas passarelas. A mídia impõe e a sociedade quer se incluir. Até que ponto a irrealidade dessa beleza imposta pode prejudicar? Normalmente, se cria modelos de perfeição e se vincula o sucesso à aparência “perfeita”. Se você não se enquadra, poderá ser excluído da roda de amigos e até mesmo de uma boa colocação no mercado de trabalho. Aliado a outros fatores, como a ansiedade, a depressão ou o transtorno obsessivo compulsivo, os distúrbios alimentares estão atingindo pessoas cada vez mais jovens. Para a psicóloga Rita de Cássia Souza, o surgimento desses distúrbios tem a ver com as mudanças corporais vivenciadas na

adolescência, relacionadas a uma imagem distorcida de si mesmo ou a uma grande diferença entre o que você é e aquilo que esperam

que você seja. Emagrecer de forma brusca e doentia e ainda se achar gordo? Comer, comer e depois querer se livrar dessa comida a qualquer custo? Bom, sobre anorexia e a bulimia certamente você já ouviu falar. Outros distúrbios , porém, existem e são menos comentados. D r u n ko r e xia? É o nome dado a doença que associa a ingestão excessiva de álcool a uma dieta alimentar restrita. Vigorexia? Apesar dos portadores desse

transtorno serem bastante musculosos e passarem horas na academia malhando, ainda assim se consideram fracos, magros e, até mesmo, esqueléticos. Transtorno Dismórfico Corporal? Ideias persistentes sobre o modo como se percebe a própria aparência, que estão em desacordo com o gosto da pessoa, e, portanto, a fazem sofrer. Rita Souza garante que o papel do psicólogo é fundamental para que o paciente se conheça melhor e aceite a si próprio, aprendendo a lidar com a ansiedade e frustrações na construção de uma autoimagem mais real. Destaca também ser indispensável o acompanhamento nutricional no tratamento. De acordo com a nutricionista Kilza Miranda, a dieta para portadores de transtornos alimentares, bem como para qualquer

pessoa que queira se manter saudável, não faz restrição a nenhum tipo de alimento, somente define quantidades e proporções de nutrientes e calorias a serem ingeridas, ou seja, deve ser balanceada e não restritiva. “O que não ocorre com dietas praticadas por portadores desses distúrbios”, diz Kilza. Deve-se conscientizar que não existe um único tipo corporal e que não há fórmula mágica que fará com que todas as pessoas sejam iguais. Dessa maneira, o ponto não está em se adequar a um padrão ideal e sim em fazer com que as pessoas se sintam bem ao valorizarem as características e os atributos individuais que elas possuem, independentemente de ser alto ou baixo, gordo ou magro, branco ou negro, loiro ou moreno.

Adolescentes precisam visitar o ginecologista Paula Machado

Garota, você já foi ao ginecologista? Visitar esse médico durante a adolescência é super importante e ainda assim muitas meninas deixam de ir por vergonha ou por não quererem contar aos pais que precisam de uma consulta. Tratase de uma decisão perigosa para a saúde, pois, desse modo, você corre o risco de atrapalhar o desenvolvimento do corpo além de não receber as orientações adequadas. É preciso fazer um exame ginecológico quando se tem disfunções menstruais, anormalidades no desenvolvimento puberal, atividade sexual ou queixa genital ou mamária. Mas, é legal fazer uma visita mesmo que para um simples exame de inspeção ou para uma conversa com o especialista. A ginecologista Lúcia Halfeld Clark defende que as garotas

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deveriam procurar um médico principalmente para receberem uma orientação confiável, porque, durante a adolescência, elas têm dificuldades de pedir conselhos aos pais. Uma boa dica sobre se você necessita ou não de uma consulta está no seu ciclo menstrual. Um ciclo irregular ou caótico é um indicador de problemas médicos e, infelizmente, muitas moças e pais consideram essas irregularidades normais para a idade. Esses sintomas podem estar associados a distúrbios hormonais, diabetes, Síndrome do Ovário Policístico, tumores ovarianos e até distúrbios alimentares. Foi o que aconteceu com a estudante Ana Paula Guedes, que aos 17 anos foi ao especialista pela primeira vez por conta da menstruação irregular e descobriu que tinha problemas hormonais, hoje

já estabilizados. Também são importantes os exames para a avaliação do desenvolvimento da mama. Neles, os médicos observam a simetria, o formato, os mamilos e retrações ou cicatrizes. Desvios de desenvolvimento mamário, como atrofia, hipotrofia e deformidade dos seios são os principais transtornos de mama na infância e na adolescência. Nesses casos, é indicado o tratamento cirúrgico, que consiste em cura da doença, apoio psicológico e tratamento cosmético. Virgens também podem ser examinadas. No caso delas, o exame é de inspeção, em que não há coleta de tecidos. Também pode ser feito uma ultrassonografia, um método complementar útil para avaliar os órgãos genitais internos. E para quem já tem relações sexuais é preciso fazer o exame preventivo e a coleta todos os anos.

Marianne Gomes

CICLO irregular ou caótico é indicador de problemas médicos

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cultura cultura

O glorioso dia da ‘Santa do povo’ Festa de Santa Rita de Cássia, realizada em 22 de maio, atraiu milhares de pessoas para a principal praça da cidade Kívia Oliveira

Rodrigo Castro

Já passava das seis e meia da tarde do sábado da procissão quando o cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, mais conhecido como Seu Cônego, anunciou que a praça Silviano Brandão contava com mais de 5.500 pessoas, amontoadas em frente a entrada da Matriz de Viçosa. Todos escutavam atentamente as informações do religioso, enquanto aguardavam com ansiedade a chegada da procissão de Santa Rita de Cássia, padroeira da cidade. A Santa é conhecida como protetora dos desamparados. “Além disso, é a santa das causas impossíveis, e por isso o povo gosta tanto dela”, conta a ministra da eucaristia Maria do Carmo, que trabalha na paróquia de Santa Rita de Cássia. A procissão, tão aguardada por todos, tinha saído da Matriz às quatro da tarde e já estava prestes a voltar para o início da missa, após percorrer algumas ruas de Viçosa. “É uma das festas mais lindas de toda a região, e há uns anos era ainda melhor. Era um trem de doido, a praça não comportava o tanto de gente”, diz a vendedora Maria Catarina, que há 24 anos

IMAGEM DE SANTA RITA é carregada pelos devotos em procissão pelas ruas de Viçosa ininterruptos trabalha na praça vendendo pastel durante as comemorações. Muitas pessoas permanecem devotas à Santa, que morreu em 1457 na cidade de Cássia, na Itália. “Ela foi exemplo, foi modelo para todas as idades, porque foi jovem, casou, teve filhos, teve um

marido difícil que conseguiu converter depois, e que logo morreu”, conta Maria do Carmo. Santa Rita chegou a oferecer a vida dos próprios filhos a Deus, para que assim eles não vingassem a morte do pai, que tinha sido assassinado. “É um jardim de vida”, comenta Maria.

A alegoria do jardim não é à toa, já que Santa Rita foi enviada a um convento onde as freiras a incubiram de cuidar do jardim. Mesmo com todas as dificuldades – o inverno, a neve, a geada –, ela conseguiu fazer com que ele florescesse, ajudada por um enxame de abelhas, que fecundaram as

plantas. “Depois teve uma parreira que também deu frutos, a partir de uma estaca que ela fincou no solo, e ainda hoje se encontra lá”, conta a ministra. É por isso também que muitas pessoas levam rosas para a festa, tornando cada vez mais forte o símbolo da Santa. Além disso, muitas mães levam as filhas pequenas vestidas como Rita – um manto preto sobre uma roupa branca, e sempre uma rosa em mãos, que durante a festa concorrem com os balões vendidos na praça. No domingo quase tudo volta ao normal: a praça esvazia-se, mas, mesmo assim, muitos vendedores continuam por lá. “Só quem está dentro sabe quanto essa festa é importante. Quem está fora não consegue entender...”, diz Catarina. Durante todo o período da semana que antecedeu a procissão, a praça Silviano Brandão contou com atividades diversas, preparando a todos para a grande festa. Finalmente, no sábado, todos os tipos se encontraram no coração de Viçosa, aguardando a chegada de Santa Rita. Sem distinções de classe, idade, cor, sexo. “É a Santa do povo”, finaliza Maria do Carmo.

Passado e presente da música viçosense Mayara Barbosa

A cidade de Viçosa possui um grande histórico musical que, infelizmente, é desconhecido por muitos viçosenses. A sua história está guardada no Centro de Documentação Musical. Ele abriga obras musicais de compositores de Viçosa e região dos séculos XVIII, XIX e início do século XX. Atualmente, existem cerca de quatro mil obras, que vão desde valsas a músicas sacras. Elas são armazenadas em móveis apropriados, feitos especialmente para as pautas (estrutura para notação musical) e são embaladas em papel especial. Algumas composições são tão antigas que seu manuseio deve ser feito com luvas para que

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não ocorra nenhum dano ao papel. A obtenção dessas obras aconteceu através de muita pesquisa na região. O maestro Modesto Flávio Chagas Fonseca foi quem começou o acervo. Ele recebeu doações das famílias dos músicos e também fez buscas em sítios e fazendas da região de Viçosa. Algumas, como conta o professor Luis Clairmont, membro da associação, foram encontrados em galinheiros e jogadas em qualquer lugar. “Muitas pessoas não entendiam a importância histórica das músicas para a cidade” afirma o professor. Hoje, as composições estão também digitalizadas e fazem parte do livro A Música Sacra em Viçosa, obra que guarda um conjunto de mú-

sicas sacras que fazem parte do acervo. O Centro de Documentação Musical funciona na Casa Paroquial de Santa Rita e é administrado pela Associação dos Amigos da Orquestra de Câmara de Viçosa. A Orquestra de Câmara já usou muitas vezes das composições do Centro em suas apresentações. Atualmente, jovens da orquestra apresentam um repertório de músicas clássicas viçosenses por meio do som de violinos, violas de arco, violoncelos e contrabaixos. Além das apresentações da orquestra, o grupo, responsável pelo Centro, dá aulas às crianças e ado-

lescentes da cidade. As aulas são gratuitas e todo o material é doado aos 92 alunos. “Na Associação, aqueles alunos que se dedicam podem levar os instrumentos para casa. Enquanto eles tiveram foco na música, estarão fora da rua”, diz o professor Clairmont. Fundada em 1996, a Associação já formou vários músicos. Muitos deles continuam na carreira musical. Thiago Luiz Costa e Silva começou na música aos 12 anos. Hoje dá aula e é reconhecido na cidade por sua música.

O Centro de Documentação Musical e a Associação dos Amigos da Orquestra de Câmara de Viçosa estão abertos ao público. As composições históricas do Centro podem ser visitadas e estudadas por quem se interessar por música. A Associação está aberta a toda criança e adolescente que se interessa em aprender teoria musical e um instrumento clássico, sem nenhum custo. Os dois se juntam e guardam a história musical viçosense. O que foi feito, o que é tocado pelas crianças hoje e o que elas produzem e irão produzir na música, tudo fica guardado lá. A música se mantém atemporal e vai se perpetuando ao longo da história. Edição 23 - Julho de 2010


cultura cultura

A cada rua, uma construção histórica Conheça as principais mudanças arquitetônicas feitas em alguns edifícios de Viçosa ao longo de sua história Monizy Amorim

Arquivo pessoal Tony Mello

Avenida P.H. Rolfs, Praça do Rosário, Rua Padre Serafim, Praça Silviano Brandão. Lugares muito conhecidos em Viçosa, mas que, raramente, por causa da correria do dia a dia, paramos para observar e pensar como eles eram no passado e qual a história deles. Nesses quase 134 anos, patrimônios foram erguidos e demolidos em Viçosa. Já outras construções aguentaram o passar do tempo e continuam em pé até hoje, porém não mais na sua forma original. Na verdade, muitas vezes totalmente diferentes de quando foram criadas. Por volta dos anos 50, Viçosa passou por muitas mudanças, em que a “velha Viçosa” foi em grande parte demolida e construiu-se uma “nova Viçosa”. O resultado disso, porém, foi que a história da cidade em certa parte foi apagada. A arquiteta Liliane Sayegh afirma que “tudo conta uma história, às vezes a gente passa e nem sabe a história daquilo ali. Não é só um direito de o cidadão preser- ONTEM: localizado na Praça do Rosário, Cine Brasil era opção de entretenimento para as noites dos moradores de Viçosa var, é também um dever preservar sua história e tentar conciliá-la ao crescimento e desenvolvimento O sacolão que fica na esquina coreto, algumas poucas árvores 60 e 70, a praça passou por pro- Os jardins deixaram de ser parte da cidade.” Pensando nisso, re- da Avenida P.H. Rolfs com a rua e um amplo espaço para grandes fundas mudanças que em quase principal e se tornaram apenas um solvemos contar um pouco sobre Padre Serafim já foi o Cine Brasil. festas, como a de Santa Rita. nada preservaram o seu modelo canteiro mais alto, rodeado por alguns lugares de Viçosa que hoje O prédio começou a ser construíAntes, a praça possuía um tra- original. A última mudança fei- bancos. não são mais como antigamente do em 1950 e só ficou pronto em çado geométrico definido, com ta na praça ocorreu na década de Esses são apenas alguns de muiou não existem mais. 1956. O Cine Brasil era uma atra- amplos jardins, lagos com peixes, 1980. A estátua de Arthur Ber- tos lugares de Viçosa que têm alNa Praça do Rosário, atual- ção na cidade. Mesmo existindo muitas árvores. Isso no ano de nardes, que antes ficava na parte guma história interessante para mente, há alguns bancos, uma outros cinemas na época (o Cine 1915. Em 1948, e nas décadas de central, foi para a lateral da praça. contar. Locais que, para os que banca de jornal, Odeon, localizaconheceram a sua forma original, Luiz Eduardo trailers e carrido onde hoje é a trazem saudades de tempo e fornhos de cachorro Por volta Igreja Universal, ma que não voltam mais. E que, quente. Antes, na Praça Silviapor isso mesmo, não se pode deionde hoje está a dos anos 50, no Brandão, e xar que sua história se vá com o banca de jornal Marapassar das gerações. construiu-se uma ojá, Cine e a fonte, existiu na Avenida É preciso que se conheça os faa Igrejinha Nos- “nova Viçosa” Santa Rita), o tos e as construções que contam sa Senhora do Cine Brasil era um pouco sobre Viçosa. Cada um Rosário. Ela foi o mais frequendesses locais e muitos outros reconstruída em 1834 e foi demo- tado. Devido a popularização da presentam um período vivido pela lida em 1963, pois sua estrutura televisão no inicio dos anos 80, o cidade. Às vezes, podemos nos física estava em estado de dete- cinema começou a diminuir seus perguntar: qual a importância disrioração. Foi a partir da Praça do frequentadores e em 1984 foi feso para as nossas vidas, se hoje viRosário que se iniciou o povoa- chado. vemos outra realidade? A resposta mento da Rua Padre Serafim, que Andando um pouquinho, cheé fácil: não se pode compreender ligava o Cemitério Dom Viçoso gamos à Praça Silviano Brandão. o presente se não conhecermos o ao centro da freguesia. Atualmente, lá existem bancos, HOJE: Sacolão Center ocupa o espaço do antigo cinema passado. Edição 23 - Julho de 2010

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entrevista entrevista

‘Gostar de arte não tem começo, é sempre gostar’ A pintora viçosense Maria das Dores Rimaro conta um pouco sobre sua vida e carreira artística dedicada ao Naïf Arquivo Rimaro

Lilian Lima

Ri de Ricardo, Ma de Marina e Ro de Rodrigo, a pintora viçosense Maria das Dores assina suas telas com o pseudônimo Rimaro, que une as sílabas dos nomes dos seus filhos. Apesar de sempre ter gostado de arte, só aos 16 anos ela fez seu primeiro curso de pintura, em que priorizou temas como a natureza morta e paisagens. Na idade em que o vestibular assombra e a escolha por uma profissão convenciona, um curso relacionado à arte nem sempre é bem visto, principalmente pelas famílias. Maria das Dores conta que sempre teve o apoio familiar. Mesmo assim, ela também possui habilitação para dar aulas ao ensino primário (do primeiro ao quinto ano). Em Viçosa, chegou a trabalhar por quatro anos no setor de arte da Editora Universitária, da UFV, mas assim que se casou foi morar no interior do Mato Grosso. Lá desenvolveu trabalhos manuais ligados a pintura em cerâ-

PESCARIA INDÍGENA, pintura à óleo que representa as características da arte Naif mica, gesso e tecido. Em 2001, Maria das Dores passou a fazer aulas no ateliê livre da Universidade Federal de Mato Grosso e

conheceu o artista plástico Nilson Pimenta. Sob a orientação dele, Rimaro começou seus trabalhos na linha primitivista e o Naïf.

“A arte Naïf é arte da espontaneidade, da criatividade autêntica, do fazer artístico sem escola nem orientação, é instintiva e onde o

artista expande seu universo particular”, afirma Rimaro. O estilo Naïf é considerado uma arte “ingênua” por ser característico de artistas sem uma formação sistemática. É uma forma de expressão que não se enquadra nos moldes acadêmicos nem nas tendências modernistas. “O artista Naïf não se preocupa em preservar as proporções naturais nem os dados anatômicos corretos das figuras que representa”. Infelizmente essa arte ainda é desconhecida da maioria dos brasileiros, sendo mais valorizada no exterior. “Os quadros brasileiros são reproduzidos nos mais importantes livros estrangeiros sobre arte Naïf”, conta Rimaro. Para aqueles que sempre gostaram de arte, a pintora explica que em Viçosa não há cursos sobre Naïf, mas que os cursos de arte são a base para o artista escolher suas tendências e definir sua linha de seu trabalho. Para saber mais sobre o Naïf, é só acessar www.museunaif.com.br, site do MIAN – Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil.

Pesquisador de Viçosa exporta tecnologia inédita Luiza Sena

Principal fonte de energia existente no planeta atualmente, substância oleosa e inflamável, sua cor varia de acordo com a origem, indo do negro ao castanho escuro. Além de gerar a gasolina, que serve de combustível para grande parte dos automóveis, vários produtos, como a parafina, são seus derivados. Por ser esgotável, possui grande valor econômico e já foi até motivo de guerra, muitas vezes causando mudanças geopolíticas e socioeconômicas em todo o mundo. Você já deve ter adivinhado que estamos falando do petróleo, um recurso natural não renovável, desejo de todos os países do mundo por ser sinônimo de riqueza e poder. O produto é tão valioso que existe uma Organização dos

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Países Exportadores de Petróleo (OPEP) responsável por controlar preços e volumes de produção. No Brasil, a Petrobras é a maior empresa exploradora desse recur-

de Viçosa, Marcos Rogério Tótola, desenvolveu um novo método de limpeza. O sistema usado hoje possui alto custo e riscos ao meio am-

enviar para cimenteiras, onde o material é queimado. Com a nova tecnologia, a limpeza dos tanques recupera o óleo, que representa 95% da composi-

“Com a nova tecnologia, o tempo de limpeza de um tanque cai para quatro dias so. A maioria do petróleo retirado no nosso país vem do mar. De acordo com a empresa, a produção é de aproximadamente 2.526.000 barris por dia. E você já parou pra pensar como é realizada a limpeza de todos esses barris? Não?! Viçosa poderá exportar tecnologia inédita que ajuda nesse processo. Um grupo de pesquisa liderado pelo professor da Universidade Federal

biente. O trabalhador precisa entrar no tanque para realizar a limpeza, e retirar toda a borra oleosa que se acumula no fundo do barril. Esse trabalho é feito com pás e baldes, demorando meses. Depois de tudo isso, ainda é preciso transportar o material para um local ambientalmente seguro. A solução encontrada é destinar para aterros que recebem resíduos perigosos, de custo elevado, ou

ção da borra. Isto é feito através de um composto biodegradável e não-tóxico originado de bactérias, fungos e leveduras. É o chamado surfactante biológico ou biossurfactante. O operador não precisa mais entrar no tanque, todo o processo usa equipamentos já existentes na refinaria. O método é realizado colocando-se um pouco de água juntamente com o biossurfactante

dentro do tanque. O material deve ser movimentado por bombeamento e agitação. Depois de alguns dias, o óleo contido na borra se mistura com a água, facilitando o seu bombeamento para fora do tanque. “Com a nova tecnologia o tempo de limpeza de um tanque cai para quatro dias e que o resíduo é convertido em material que pode ser utilizado”, diz o pesquisador Tótola O projeto de pesquisa demandou um aporte de 1 milhão de reais do Programa de Incentivo à Inovação – PII. O objetivo do grupo de pesquisa agora é criar uma empresa produtora de biossurfactantes, além de uma empresa prestadora de serviço de limpeza para tanques. A previsão é que a tecnologia esteja presente no mercado daqui a aproximadamente um ano. Edição 23 - Julho de 2010


entrevista

entrevista

Uma vida dedicada à preservação ambiental Tarcizio de Paula atua como coordenador de projetos que buscam conscientizar a população através da educação Rayza Fontes

“O que é normal para algumas pessoas é um absurdo do ponto de vista ambiental”. A afirmação de Tarcizio Antônio Rego de Paula, professor do curso de veterinária da Universidade Federal de Viçosa, revela a preocupaçãocom questões ambientais, como o tráfico de animais silvestres e a necessidade de ensinar às crianças, desde cedo, a preservar a natureza. Tarcizio é coordenador do Centro de Triagem de Animais Silvestres, que atualmente funciona no campus da UFV. O local abriga um museu aberto à visitação e uma área para alojar os animais silvestres apreendidos pela polícia ou levados pela população. Após uma série de debates re-

alizados pelos voluntários do local, criou-se o projeto CETAS na Escola, que há três anos funciona com uma equipe de estudantes da UFV trabalhando em três escolas para conscientizar alunos de 1ª a 4ª série sobre a necessidade de cuidar do meio ambiente. O projeto já faz parte da grade curricular das instituições e os voluntários promovem discussões sobre desmatamento, coleta seletiva, reciclagem e diversos outros temas atuais, utilizando filmes, dinâmicas de grupo e ilustrações. Além disso, o professor coordena outras atividades ambientais e se dedica a vários outros projetos, como um livro infantil sobre os lobos guarás e outro projeto de educação ambiental, na Serra do Brigadeiro, que envolve não só as escolas, mas também as propriedades rurais.

A experiência profissional rendeu boas histórias. Ele se lembra do dia em que estava fazendo visitas em propriedades rurais e conheceu uma senhora que era dona de duas vacas e sua renda era baseada na produção de queijos. Um dia, uma onça comeu uma das vacas, reduzindo a renda da senhora pela metade. Ela e o marido não tentaram matar o animal, como acontece na maioria das vezes. Com o projeto de assistência às propriedades rurais o professor pretende não somente ensinar as famílias a se protegerem de casos como esse, mas também promover cursos que possam complementar a renda familiar. Formado há 23 anos em medicina veterinária pela UFV, Tarcizio possui títulos de mestrado e doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Olívia Miquelino

PROFESSOR pretende lançar livro infantil sobre lobos-guará

Amor à música marca carreira do Maestro Rogério Campos Olívia Miquelino

Olívia Miquelino

Desde cedo Rogério sabia muito bem o que queria. Queria ser músico, tocar na banda da cidade. Para muitos, a banda era vista como uma oportunidade de trabalho e, no caso do Rogério, não era diferente. Sua paixão veio do berço: ele cresceu em meio a uma família de músicos. Era tanto amor pela música que ele não só conseguiu tocar na banda da sua cidade, mas como também prestou vestibular e passou para o bacharelado em Trompete da Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais, (UFMG). Essa é só uma pequena parte da história do maestro Rogério Moreira Campos, 59 anos, responsável pelo Conjunto de Sopros, pelo Coral dos Alunos e pelo Coral dos Servidores da UFV. A trajetória do maestro começou na cidade mineira de Amparo da Serra, onde nasceu e deu seus primeiros passos na música. Confira um pouco mais sobre a vida do maestro Rogério Moreira Campos. Edição 23 - Julho de 2010

Regente dos três corais da UFV ainda se emociona com cada garnde apresentação OutrOlhar: Após se formar pela Escola de Música da UFMG, de que maneira deu continuidade à sua carreira? Rogério Campos: Ainda na escola de música, participei da orquestra e de um quarteto de metais. Cantei no Madrigal Renascentista, um coral de muito

prestigio em Belo Horizonte, e com ele fiz turnê pela Europa. Ainda na capital mineira, toquei ainda por muitos anos em um conjunto de bailes. Quando veio para Viçosa? Cheguei a Viçosa em 1977 para trabalhar na banda de música da UFV. Em 1986, assumi a

regência do coral da Universidade e passei à frente do Conjunto de Sopros. Durante essa fase, fiz cursos de regência no Rio de Janeiro com maestros internacionais. Em 2001, foi criado o Coral dos Servidores da UFV, do qual sou regente. Também realizo um trabalho fora da universidade, dando

aula de canto na Casa da Música da cidade. Ao longo desses anos à frente dos Corais em Viçosa, há histórias de pessoas que alcançaram o sucesso pela música? Sim, e muitas. Como por exemplo Lincon Andrade, que passou pelo conjunto de sopros e pelo coral. Ele fazia engenharia florestal na UFV, deixou o curso e foi fazer música na Universidade de Brasília (UnB). Hoje ele é doutor em regência coral e professor de regência da Escola de Música da UFMG. Tem também o Petrônio Duarte, que fazia zootecnia e também largou o curso para estudar música. Ele morou durante 10 anos na Suíça, onde cantava num coral de um teatro. Hoje é regente do Palácio das Artes, em BH. Quais são os momentos de maior emoção e satisfação durante sues 33 anos dedicados à música? Para mim cada apresentação bem feita é uma grande realização, um momento de grande alegria., como o Coral Canta Beatles, que neste ano esgotou os ingressos e foi muito emocionante.

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esportes Jovem atleta faz sucesso no Peru esportes

O viçosense Mateus Felipe Gregório ganhou duas medalhas no Campeonato Sulamericano Sub-17 de levantamento de peso Maria Clara Corsino

O levantamento de peso parece mesmo ter terreno fértil em Viçosa. No final de abril deste ano, Mateus Felipe Gregório, de 16 anos, ganhou duas medalhas no Campeonato Sulamericano Sub 17. Uma de prata, no arranco, e outra de bronze, no total geral da competição, que aconteceu na cidade de Chiclayo, no Peru, onde Mateus foi o único brasileiro a conseguir um lugar no pódio. Na edição passada do OutrOlhar, você já havia conhecido um pouco sobre Bete, famosa como a “vovó do levantamento de peso”. Ela foi destaque em várias competições e disputou a Olimpíada de Sidney, na Austrália. Tornar-se um campeão não é nada fácil. Mateus treina três horas e meia por dia, cinco vezes por semana. Seu treinamento faz parte de um projeto de extensão da Universidade Federal de Viçosa. Tímido, e ainda não muito

acostumado a dar entrevistas, Mateus quer seguir carreira no levantamento de peso e continuar conquistando medalhas para Viçosa e para o Brasil. O estudante da Escola Estadual Professor Edmundo Lins começou a praticar o esporte por causa de seu irmão, que já participava do projeto há um ano. Tudo isso começou em 2007. O treinador de Mateus, Pedro Henrique Meloni, que é estudante de mestrado no curso de educação física da UFV, fala com orgulho do atleta. “O Mateus é muito dedicado”. Mateus é um adolescente como qualquer outro. Gosta de sair com os amigos, jogar futebol, se divertir. “Não gosto muito de estudar, mas reconheço que é importante” diz ele, meio sem jeito. O que o torna diferente é sua imensa vontade de melhorar e de treinar, até em casa, fora do horário habitual. Talvez seja assim que se forma campeões.

Arquivo Pessoal

SEGUNDO LUGAR com sabor de primeiro: Mateus representou o Brasil na competição sub-17

Música influencia no rendimento de atletas O engenheiro Milton Guaracy é adepto do uso da música para praticar corrida. “Quando coloVocê já reparou que antes de co músicas que gosto, tipo rock cair na piscina para competir, o progressivo ou clássico, fico muito maior nadador de todos os temmais disposto. Hoje em dia sou pos, o monstro Michael Phelps, refém da música. sempre está usando Toda vez que vou um aparelho de som A música estimula o sistema malhar e correr no ouvido? Mas qual levo meu mp4”, seria o motivo? Será psicológico, tirando a atenção afirma. que alguém está coApesar do estímunicando com ele do corpo para o exercício em si mulo que a música pelo aparelho? confere ao esporA resposta é mais simples do que parece. Ele está do a resistência muscular e cardio- tista, Lucas Correia alerta para que os atletas iniciantes tomem apenas ouvindo músicas de gosto vascular. O personal trainer Lucas Cor- cuidado com a falsa sensação pessoal, para diminuir sua ansiedade e manter concentração e reia ressalta, porém, que não exis- agradável despertada pelo ritmo. te nenhum estudo afirmando que “Os experientes não têm este profoco na prova. Estudos comprovam que a mú- a música atua diretamente no sis- blema, mas um atleta iniciante sica pode ajudar no rendimento e tema biológico. O professor expli- precisa conhecer seu corpo, saber na concentração do atleta na com- ca que a música estimula o sistema como ele funciona, quando está psicológico, tirando a atenção do fadigado. A falsa impressão de petição esportiva. Segundo uma pesquisa da em- corpo para o exercício em si, e pos- disposição pode ser um fator que presa esportiva Mizuno, divulga- teriormente desencadeando uma facilita uma futura lesão”, conclui o professor. da na edição do dia 15 de setem- série de alterações no organismo. Diego Mendes

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bro de 2005 do jornal Folha de S.Paulo, a música é capaz de influenciar o sistema biológico, causando menor percepção de esforço durante o exercício, diminuindo a frequência cardíaca e aumentan-

André Berlinck

ATLETA escuta música durante prova de corrida na UFV Edição 23 - Julho de 2010


esportes Praça de Esportes abandonada esportes

Único espaço púlbico esportivo da cidade, a PEMV apresenta graves problemas estruturais e necessita reformas Luis Phillipe Souto

Viçosa, com seus mais de 70 mil habitantes, dentre eles grande parte formada por crianças e adolescentes, sente a falta de mais espaços públicos onde esses jovens possam praticar esportes. A cidade conta com as quadras das escolas, além das existentes no Departamento de Educação Física da UFV. Contudo, o único espaço público da cidade para a prática esportiva é a Praça Municipal de Esportes (PEMV), antiga Associação Esportiva Viçosense (AEV). O local, porém, não é aberto ao público em geral, já que para frequentá-lo deve-se estar inserido em algum dos projetos que são realizados na Praça. Nos fins de semana, o espaço é destinado também aos servidores da prefeitura e seus dependentes. A PEMV possui um ginásio coberto, duas quadras poliesportivas, três piscinas e área de playground. Além disso, acabaram de ser construídas uma pista de skate e uma sauna, que, entretanto, ainda não foram inauguradas. Existe também um projeto já pronto

Luis Phillipe Souto

para a cobertura de uma das quadras abertas. Mesmo diante dessas melhorias realizadas há pouco tempo, a Praça de Esportes ainda apresenta problemas estruturais. As quadras estão com estragos nos pisos, faltam redes nos gols e alambrados, por exemplo. No ginásio, que recebeu reforma há pouco mais de um ano, a situação não é diferente. Nos banheiros e vestiários muitos azulejos estão se soltando e algumas paredes estão com mofo. A treinadora Elizabeth Jorge, mais conhecida como “Bete do Peso”, usa provisoriamente o espaço para treinar seus atletas. Ela diz que o lugar, se bem conservado, poderia ser importante para o esporte viçosense, mas que é preciso reformas. A auxiliar de serviços gerais, Maria Aparecida de Freitas, afirma que, mesmo com os problemas, o espaço continua sendo utilizado. Segundo Freitas, que trabalha na PEMV há seis anos, durante a semana acontecem atividades atividades ligadas ao projeto municipal Bom de nota, bom de bola, nas modalidades de futsal e natação.

FALTA DE INVESTIMENTO e manutenção no ginásio comprometem a prática esportiva À noite, o ginásio é aberto à comunidade em geral. Os interessados devem, contudo, agendar previamente os horários, já que a procura é grande. Aqueles que querem conhecer

o local devem ligar para a Praça de Esportes, no telefone 38929507. Visitas de turmas escolares também podem ser agendadas. A PEMV fica localizada na rua Bernardes Filho, próximo ao antigo

Estádio do Atlético. Quem se interessar por participar de algum dos projetos pode procurar o departamento de esportes da prefeitura e os professores responsáveis pelas atividades.

Os benefícios proporcionados pela corrida Kamilla Bitarães

A corrida é, de fato, um dos esportes mais democráticos que existe. Para começar a praticá-la, basta um par de tênis e boa vontade. E, como todo esporte, a corrida traz benefícios para o corpo e para o estilo de vida. Se você busca saúde e bem-estar, começar a correr pode ser a solução para as suas necessidades. O personal trainer Lucas Correia diz que a corrida proporciona benefícios cardíacos, melhorias no condicionamento físico, ajuda no trabalho de tonificação dos músculos e na queima de gorduras, além de dar mais ânimo e alegria para a vida do atleta, que passa a se Edição 23 - Julho de 2010

sentir melhor durante o dia. Quanto à frequência e à intensidade dos treinos, Lucas diz não haver uma indicação certa. Ela varia de acordo com o objetivo e do condicionamento de cada atleta. A estudante Fernanda Mendes, de 22 anos, corre há quase dois anos. Ela já participou de algumas provas de proporção nacional, como a Volta da Pampulha, disputada em Belo Horizonte. O seu treinamento se baseia nas características e necessidades de cada competição.

Para o personal Lucas Correia, é importante ficar atento na escolha do par de tênis para a atividade física. Os pés são responsáveis por “carregar” todo o corpo na corrida. Por isso, merecem uma

Lucas aponta que o ideal é que as pessoas que se interessem por corridas procurem um médico e façam exames básicos para saber se está apto a praticar a atividade. Depois de ter os exames em mãos, uma avaliação física também é importante, para que a pessoa saiba qual é o seu nível físico e aeróbico. Para todos os iniciantes, a prática da atividade começa com uma caminhada esportiva e, gradativamente, o nível vai se elevando. “É preciso conhecer e respeitar seus limites”, completa o personal.

O ideal é que a pessoa procure um médico e faça os exames básicos, para saber se está apto a praticar a corrida atenção especial dos atletas, já que qualquer problema nessa parte do corpo pode comprometer os treinos. “Utilizar o calçado certo é fundamental para o corredor ter um melhor desempenho e prevenir lesões e dores”, orienta.

Uma boa dica dada por Lucas para quem está começando essa atividade é conciliar a corrida com a dança, mais uma atividade fácil de ser praticado. “Dançar faz bem. Esse exercício trabalha o condicionamento físico e exercita o fôlego e, por isso, pode auxiliar o iniciante na corrida a ter mais motivação nos treinos”, aconselha o personal. O primeiro passo, do sofá até a rua, não é tão longo. Com força de vontade e orientação, a prática da corrida também pode fazer parte do seu dia-a-dia. Para obter os benefícios dessa atividade física, sem riscos à saúde, é preciso ficar atento às orientações profissionais.

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cidade cidade

Lei a favor dos patrimônios históricos O município de Viçosa conserva seu passado ao garantir a preservação de bens inscritos no Livro do Tombo Lucas Gadbem

Muitos aspectos servem para retratar a história das cidades. Desde moradores – ilustres ou não – até as construções e monumentos, tudo tem importância essencial para compreender o espaço onde vivemos. Pensando nisso, leis foram criadas para tentar preservar os elementos que estão inseridos dentro do processo de formação histórica do município. Medida que se fosse tomada no passado, evitaria que edifícios que carregavam consigo parte da história da cidade fossem alterados, descaracterizando assim, seu valor cultural, como você leu na reportagem da página 11. Dentre esses regimentos podemos destacar o Tombamento do Patrimônio, que é uma iniciativa tomada pelos órgãos públicos municipais, que visa a conservação dos bens culturais/ambientais, na medida que impede legalmente a sua destruição e descaracterização. Em Viçosa não é diferente. Dezesseis obras sofreram o decreto

de tombamento e a manutenção do estilo arquitetônico original delas são garantidos por lei. Poucas pessoas sabem que lugares conhecidos como o Colégio Viçosa, Capela dos Passos, Estação Ferroviária, Casa Arthur Bernardes, estão inscritos no Livro do Tombo, e a conservação destes é assegurada por lei. Chefe do departamento de Patrimônio, Arquivo e Memória, Liliane Sayegh, ressalta que a preservação dos patrimônios históricos tem um grande valor para a sociedade. “A importância da preservação de uma forma geral é que as pessoas têm de saber sua própria história, de onde vieram. É uma questão de cidadania mesmo, de saber de que forma a cidade foi constituída, saber suas origens, entender sua identidade.” Para Liliane, cada lugar tem uma relação com o desenvolvimento do município. “Cada bem tem sua história particular, mas de uma forma geral esses bens contam a história de uma cidade e demonstram a importância que a cidade teve no cenário político cultural e de que forma hoje isso

se insere na comunidade” Projetos destinados a obra e restauração desses patrimônios sempre são realizados, e como os bens são de todos, se tem o direito de conhecê-los, como também o dever de ficar atento quanto à interferência que estão sendo realizadas. Vale ressaltar que aquele que ameaçar ou destruir um bem tombado está sujeito a processo legal que poderá definir multas, medidas compensatórias ou até mesmo a reconstrução do bem como estava na data do tombamento. Então, tome cuidado para não levar um tombo.

Lucas Gadbem

COLÉGIO DE VIÇOSA tem conservação garantida por lei

Bens tombados em Viçosa • Estação Ferroviária

• Livro de Atas Câmara Municipal

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• Fachada da casa que foi sede do primeiro Hospital de Viçosa • Igreja Nosso Senhor dos Passos • Escola Estadual Coronel Antônio da Silva Bernardes • Hospital São Sebastião

Colégio de Viçosa Balaustrada Estação Ferroviária de Silvestre Casa Arthur Bernardes Escola Municipal Edmundo Lins Edifício Artur Bernardes

Forma de vida moldada pelo artesanato Hélio Assa-Fay

Quase todo mundo já produziu um artesanato, mesmo que seja um boneco de pano. Mas com certeza o sucesso do trabalho do artesão depende muito da sua criatividade e também do tempo necessário para se dedicar a uma obra. A vida do artesão nem sempre é fácil. Além de ser um trabalho manual, ele depende da aceitação do público ou também da temporada de moda. O que se produz poderá ser bem aceito por alguns, mas rejeitado por muitos. Uma das grandes dificuldades é saber o que produzir de acordo com a estação. Produzir manualmente torna as coisas ainda mais complicadas, já que não se pode competir com as máquinas.

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O artesão Aníbal Armando Diaz está no Brasil há 22 anos. Natural de Lima, Peru, chegou a Viçosa há 15 anos e, desde então, sempre viveu do que produziu pelas próprias mãos. O artista pe-

que parece que há alguma conexão entre a pessoa e o artesanato. No entanto, é nessa estação que o principal rival de todo o seu trabalho aparece, a chuva. Todo dia Aníbal sai de casa

cidade universitária é, muitas vezes, favorável para os artesãos, já que a demanda aumenta em certo ponto. Marcelo Augusto, mais conhecido por Meme, também é arte-

“O verão é a melhor época para trabalhar, parece que há alguma conexão entre a pessoa e o artesanato

ruano diz que as novidades que o público exige, muitas vezes chega a ser uma pressão, o que o obriga a trabalhar muito mais rapidamente para suprir essa cobrança. Sem nenhum outro tipo de renda, ele trabalha sempre em função do público. Diaz diz que o verão é a melhor época para trabalhar, por-

para comercializar seus produtos, mas há leis que restringem a venda deles em determinados lugares da cidade. “Há certa tolerância das autoridades, mas mesmo assim não é fácil achar um ponto de venda favorável para todas as partes”, diz. Viçosa é, para ele, mistura de culturas e gostos. Ele diz que uma

são. Natural de Juiz de Fora, veio a Viçosa para estudar matemática, mas foi se desligando do curso, até decidir abandoná-lo, dois anos após sua chegada. A paixão pelo artesanato veio do convívio com amigos que praticavam a mesma atividade. Meme conta que os pais nunca aceitaram o fato de ele

ter deixado os estudos para seguir essa aventura artesanal. Apesar disso, explica que a sua felicidade está ligada a essa forma de vida. “O meu pai sempre me criticou, a minha mãe nem tanto. Mas o que eu gosto é muito mais importante para a minha felicidade do que para eles”, relata. Ele garante que a vida de artesão não é fácil, mas conta que escolheu a profissão porque encontra nela a única forma de se sentir livre, fazendo o que realmente gosta, apesar do baixo retorno financeiro. Aníbal, que já é veterano, admite que as coisas não são fáceis quando se vive assim. O sucesso depende muito do que se produz. Mesmo assim, ele fala que o artesanato é uma paixão. “A gente vive disso e vive isso”, finaliza. Edição 23 - Julho de 2010


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