Linha Direta || edição março 2018

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Linha Direta Órgão Informativo do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Sorocaba e Região

Ano 26 • nº 394• Edição de março • 2018

“Nossa luta é por direitos, igualdade e democracia”

Foto: CUT/SP

O Brasil se vê diante de um período de retrocessos nos direitos. As mulheres são as maiores vítimas. A reforma trabalhista, o desemprego, o congelamento dos gastos públicos e a redução das políticas públicas para o acolhimento de vítimas da violência, são apenas alguns exemplos. Paula Proença, presidenta do Sindicato, fala sobre estes e outros assuntos na Pág. 3

MACHISMO JORNADA Saiba como o preconcei-

AUTODEFESA SEMINÁRIO

to afeta cada uma das mulheres brasileiras

CUT e movimentos populares realizam jornada por democracia e direitos das mulheres

Oficina ensinará as mulheres a se defenderem da violência

No editorial dessa edição do Jornal Linha Direta, a diretora do Sindicato e secretária da Mulher Trabalhadora da CUT/ SP, Márcia Viana, analisa as diversas formas com que o machismo afeta as mulheres e a sociedade –

Até o dia 1° de maio diversas cidades paulistas, incluindo Sorocaba, receberão seminários, rodas de conversa e formação sobre os direitos das mulheres. Debates sobre a atual situação do país e das mulheres trabalhadoras também fazem parte da

A maioria das mulheres não se preocupa em aprender a se defender diante de situações de violência, mas esta é uma necessidade evidente. Tanto em casa, quanto na rua, milhares de mulheres são vítimas de homens covardes que se aproveitam do porte físico para agredir suas vítimas. O Sindicato realizará uma Oficina de Autodefesa para mulheres no dia 12 de março –

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programação.

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A reforma trabalhista prejudica profundamente as relações de trabalho e reduz direitos. Por outro lado, a ação sindical será o único instrumento capaz de impedir que os trabalhadores e as trabalhadoras tenham seus salários e benefícios reduzidos, além de impedir, por meio da negociação coletiva, que os patrões usem a nova lei para precarizar ainda mais o local de trabalho. No dia 12 de março, o Sindicato realizará um Seminário, em parceria com o Ministério Púbico do Trabalho, para tratar desse e de outros assuntos, como reforma previdenciária, por exemplo. Pág. 4


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EDITORIAL

“Nenhuma de nós estamos salvas do machismo” Por: Márcia Viana Diretora de Sindicato e Secretária Estadual da Mulher Trabalhadora da CUT/SP Existe uma parcela da sociedade que tenta esconder a desigualdade entre homens e mulheres na vida e no mercado de trabalho. Estas pessoas ignoram o fato de muitas de nós trabalharmos 8, 9, 10 horas em empregos cujas condições não são as mais adequadas e depois de encarar uma longa viagem, onde muitas vezes somos submetidas a situações constrangedoras, iniciamos uma nova jornada. Dessa vez em casa: limpando, passando, lavando, cozinhando, cuidando dos nossos filhos, dos nossos pais, dos nossos companheiros ou companheiras. A sociedade em que vivemos está repleta de pessoas e de atitudes machistas. Não estamos salvas quando um pré-candidato à presidência da república afirma em alto e bom som, em rede nacional de televisão, que “não empregaria uma mulher com o mesmo salário de um homem”. Não estamos salvas quando abaixamos a cabeça diante do discurso de quem, sem conhecer a realidade da vítima, considera que “mulher que apanha do marido e mesmo assim permanece na relação conjugal, merece ou gosta de apanhar”. Não estamos salvas quando concordamos com o estuprador que se coloca como vítima da beleza e da sedução feminina. “Ela provocou usando roupas tão curtas”. Engana-se a mulher que julga estar salva dos conteúdos compartilhados nas redes sociais que buscam nos diminuir e desqualificar nossa luta por igualdade. Do lado de fora das telas dos smartphones existe uma realidade sobre a qual nenhuma de nós estamos imunes. No Brasil, todos os dias cerca de 8 mulheres são assassinadas por seus companheiros. A cada 7 minutos uma mulher é hospitalizada na rede pública de saúde, vítima de violência dentro da própria casa. Se contabilizarmos a violência psicológica e financeira, são milhares de vítimas. A frase “em briga de marido e mulher não se mete a colher” se transformou no álibi perfeito para a sociedade se calar diante de tanta dor. Um estudo recente do Fórum Econômico Mundial mostra que a previsão para o fim da desigualdade de gênero no mundo aumentou de

83 anos em 2016, para 100 anos em 2017. Isso quer dizer que no atual andar da carruagem, as mulheres só terão as mesmas condições que os homens no ano de 2117. Num total de 152 países, somos o 92.º em termos de desigualdade entre os sexos masculino e feminino. As mulheres brasileiras recebem em média 25% a menos que os homens em trabalhos semelhantes. No geral, a remuneração das trabalhadoras é 30% menor que a dos trabalhadores, mesmo tendo mais estudo e qualificação profissional. Mas existem mais contradições: No Brasil vivem cerca de 102,4 milhões de homens e 105 milhões de mulheres. Apesar da população feminina ser maioria, nosso país conta com apenas 45 deputadas federais contra 468 parlamentares homens. Para entender melhor o tamanho da falta de participação feminina nos espaços públicos de poder, basta olhar ao nosso redor. Em Sorocaba, dos 20 vereadores, apenas duas são mulheres. Na indústria do vestuário de Sorocaba e região, a maioria das vagas de emprego são preenchidas por mulheres, mas em muitas empresas as chefias e cargos mais elevados são preenchidos por homens, mesmo havendo mulheres qualificadas para exercer tais cargos. Não podemos esperar 100 anos por igualdade. Não viveremos tanto tempo assim. O machismo é o alicerce que sustenta a desigualdade entre homens e mulheres. Para combate-lo é preciso reconhecer suas formas. Quantas de nós fomos ou ainda somos vítimas de violência doméstica? Quantas já sofremos algum tipo de abuso ou assédio sexual no ambiente de trabalho ou fora dele? Quais de nós nos submetemos à dupla jornada de trabalho sem contar com a ajuda de nossos companheiros ou filhos homens? Estamos educando nosso filhos e filhas para um mundo sem preconceitos, ou simplesmente reproduzimos a mesma educação que recebemos de nossos pais? Nenhuma de nós estamos salvas do machismo. Da mesma forma, nenhuma de nós estamos sozinhas se decidirmos combate-lo.


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Muito a perder

O ataque promovido por Michel Temer (MDB) contra os direitos, atingiu em cheio a mulher trabalhadora Por: Paula Proença – Presidenta

Uma jornada por direito, igualdade e democracia Mulheres de diversos segmentos percorrerão o Estado de São Paulo para participar de debates, seminários, aulas públicas e outras atividades que envolvem os direitos das mulheres

Começou no dia 24 de fevereiro na cidade de São Bernardo do Campo e vai até 1.º de maio, a Jornada de Luta das Mulheres em Defesa da Democracia e dos Direitos. A organização é da Secretaria Estadual de Mulheres da CUT/SP, coordenada pela diretora do Sindicato do VestuáComeçou logo após o golpe, quando Temer fechou o Ministério de Políticas rio de Sorocaba, Márcia Viana. Durante a jornada, mulheres de diversos segmentos percorrerão as para as Mulheres e reduziu os recursos para programas sociais como o Minha principais cidades do Estado de São Paulo e participarão de seminários, Casa, Minha Vida, Bolsa Família, FIES, dentre outros. Durante os governos de Lula e Dilma, estes programas significaram o avanço da autonomia finan- rodas de conversa e formação sobre os direitos das mulheres, democeira das mulheres que é uma das principais armas contra a violência do- cracia e as consequências do golpe na vida e no trabalho da população méstica. Sem renda alguma, as mulheres estão mais vulneráveis à violência feminina. dentro de casa. Já no dia 8 de março, haverá um grande Ato em defesa dos direitos, da A seguir, veio o congelamento dos gastos com saúde, educação e segu- democracia e de Lula ser candidato. rança por 20 anos, mais um duro golpe contra toda a sociedade, em especial contra as mulheres. Na prática, a política de Temer consiste em não aumentar a verba para os serviços públicos de acordo com o aumento da demanda. O resultado são hospitais sem leitos disponíveis, filas ainda maiores para exames, superlotação das salas de aula, mais violência contra as mulheres com menos possibilidade de punição ao agressor e menos acesso aos serviços sociais e gratuitos. O que já é precário, tende a piorar muito ao longo do tempo. Mas Temer, o golpista, não parou por aí. Veio a reforma do ensino médio que tirou das nossas meninas e meninos o direito à uma educação inclusiva, que auxilie as novas gerações a construírem uma sociedade mais justa e mais igual.

A reforma trabalhista, que já está valendo desde novembro do ano passado, possibilita o aumento da jornada de trabalho e a diminuição da renda da mulher trabalhadora, além de permitir que mulheres grávidas e lactantes possam permanecer em locais de trabalho que poderão afetar a saúde da gestante e do bebê.

O salário mínimo está ainda mais mínimo e muitos outros direitos estão ameaçados, incluindo a aposentadoria, que só não foi destruída graças à ação sindical e resistência dos trabalhadores(as). O golpe afetou toda a classe trabalhadora, mas foi implacável contra as mulheres. Contra os destruidores de direitos, nossa maior arma será o voto. Antes de ir às urnas nas eleições para presidente, senadores, governador e deputados estadual e federal, pesquise o histórico de seus candidatos e não deposite nenhuma confiança em quem apoiou Temer e seu plano de deixar o pobre mais pobre, o rico mais rico e a mulher ainda mais oprimida.

Pela Vida das Mulheres, Soberania e Democracia: Sai Temer, Fica Aposentadoria! Este será o tema de um grande Ato em São Paulo, no dia 8 de março, no período da tarde, na Av. Paulista. A Central Única dos Trabalhadores e suas entidades filiadas participarão da atividade. As trabalhadoras no vestuário de Sorocaba estarão representadas pela direção do Sindicato.

Cidadania

O Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres realizará diversas atividades no dia 10 de março, das 9h às 12h, na Praça Coronel Fernando Prestes. Com uma programação voltada para as mulheres, o evento contará com apresentações culturais e prestação de serviços. O Sindicato do Vestuário irá participar do evento levando à população informações sobre direitos trabalhistas, aposentadoria, dentre outros. Confira a programação completa das atividades do mês de março em Sorocaba pelo site www.vestuariodesorocaba.org.br.


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Reforma trabalhista, ação sindical e promoção do trabalho decente serão temas de Seminário realizado pelo Sindicato Em parceria com o Ministério Público do Trabalho, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Sorocaba e Região promoverá um dos maiores eventos sobre as reformas sindical e previdenciária já realizados em Sorocaba. O Seminário “Ação Sindical e Promoção do Trabalho Decente Frente às Reformas Trabalhista e Previdenciária” acontecerá no dia 12 de março, a partir das 8h, no Sorocaba Park Hotel. Juristas renomados debaterão os impactos da Reforma Trabalhista na vida dos trabalhadores e das trabalhadoras e as atuais propostas de mudança nas regras para aposentadoria. “A reforma da Previdência penaliza os mais pobres e mantém o privilégio dos políticos, a exemplo de Michel Temer (MDB) que se aposentou aos 55 anos com salário superior a 30 mil reais. Além disso, ela não prevê mecanismos de cobrança das grandes empresas devedoras. Embora suspensa por ocasião da intervenção militar no Rio de Janeiro, essa reforma não está extinta e é preciso que a classe trabalhadora se mantenha mobilizada”, destacou Paula Proença.

Promoção do trabalho decente

Como melhorar as condições de trabalho, salário e saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, mesmo diante de uma legislação que representa um grande retrocesso com relação aos avanços conquistados ao longo de muitas décadas de luta da classe trabalhadora, será um dos debates do Seminário. “A ação sindical se tornou mais importante do que nunca. Sem o sindicato, os trabalhadores estarão vulneráveis já que a CLT deixou de garantir alguns direitos fundamentais para uma boa relação de trabalho. A negociação coletiva é o único caminho para garantir a jornada de trabalho, o piso salarial, cesta básica e outros direitos ameaçados pela reforma trabalhista”, analisou Proença. Serviço: Seminário “Ação Sindical e Promoção do Trabalho Decente Frente às Reformas Trabalhista e Previdenciária” Data: 12 de março, 8h Local: Sorocaba Park Hotel (Av. Joaquim Silva, 205, Alto da Boa Vista – Sorocaba/SP 150 vagas – Inscrição gratuita pelo site www.vestuariosorocaba.org.br

Palestra sobre violência contra mulher integra programação do Seminário O Seminário contará também com uma palestra sobre a violência contra a mulher. A partir das 14h, a Dra. Emanuela Oliveira de Almeida Barros, presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, falará sobre as principais formas de violência contra as mulheres e o papel do poder público para prevenir a agressão e punir os agressores. A palestra, que integra a Jornada de Luta das Mulheres em Defesa da Democracia e dos Direitos, é gratuita e aberta ao público em geral.

Oficina de autodefesa

Logo após a palestra, haverá uma “Oficina de Autodefesa para Mulheres” que será desenvolvida pelo Movimento Empodere-se, da cidade de São Paulo. O evento é inédito em Sorocaba e tem como objetivo ajudar as mulheres a se defenderem dos agressores.

Tanto a palestra, quanto a oficina, são eventos gratuitos. Para participar, basta comparecer.

EXPEDIENTE: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias do Vestuário de Sorocaba e região || Rua Humberto de Campos, 680, Jardim Zulmira || Fone: (15) 99119•7574 / (15) 3222-2122 / 3202-2465 - Presidente: Paula Proença || Profissionais Resps.: João Andrade e Giovani Miranda


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