O Momento Zero

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DA MESA DO DIRECTOR

O Momento ZERO J. Norberto Pires Prof. da Universidade de Coimbra CEO do Coimbra Inovação Parque

O orçamento de estado para 2011, e o momento do seu debate já nos dias 2 e 3 de Novembro, é um assunto de extrema importância para o nosso futuro próximo. Na verdade, considero-o tão decisivo que decidi ir assistir ao vivo (com convite e tudo) ao debate na Assembleia da República. Será uma sessão que marcará, para o bem ou para o mal, a história deste país. Será um momento para perceber de que matéria são feitos os nossos políticos. O que têm como prioridade. Que lugar ocupa o país e os portugueses nas suas preocupações. Pois será esse debate, que espero que as televisões e rádios transmitam em directo, sem cortes, nem comentários dos “inteligentes” profissionais, que marcará o momento ZERO da nossa vida nos próximos anos. Não são os múltiplos apelos a Pedro Passos Coelho para que engula um sapo e deixe passar o orçamento de José Sócrates. Apelos bem resumidos nestas duas cartas de Henrique Raposo [carta 1 (http://aeiou.expresso.pt/carta-aberta-a-passoscoelho-i=f608413) e [carta 2 (http://aeiou.expresso.pt/carta-aberta-a-passos-coelho-ii=f608636)]. Nem os apelos daqueles que pensam o contrário [exemplo (http://estadosentido.blogs.sapo.pt/1259332.html)], nem os muitos apelos e pressões daqueles que já tendo ocupado funções no Estado são também co-responsáveis pela situação a que chegamos (são tantos os apelos que não coloco nenhum link, basta googlar). Digo o momento ZERO porque vai marcar a diferença e definir o futuro. Será nessa altura que saberemos, se é que já não sabemos, se este país vale ou não a pena e tomaremos todos, pessoalmente, as medidas que considerarmos necessárias para a nossa vida e para a vida da nossa família. É isto que os políticos não compreendem, tão atarefados que andam com as suas guerras de poder. Este país pode deixar de ser importante e deixar de valer a pena para muitos portugueses. Muitos deles podem pensar que o seu futuro não passa por Portugal aumentando a já vergonhosa (para um país europeu) taxa de emigração (mais de 50 mil por ano). Muitos, a maioria, fartos desta TRETA, podem desistir. Não percebem, pois não? Os países ou regiões, antes de espaços geográficos, políticos ou económicos, são a sua população. São as pessoas que fazem a diferença e moldam o futuro. Perder as pessoas, especialmente aquelas que fazem a diferença, aquelas que sabem identificar oportunidades e as perseguem tenazmente, perder as pessoas com atitude, é só o fim do fim. Mercados Foram anunciadas (http://www.agenciafinanceira.iol.pt/economia/salarios-funcao-publica-oe-governo-orcamento-despesa/1195139-1730.html) medidas de austeridade muito violentas (redução de salários na função pública, aumento do IVA em 2%, aumento de impostos, entre outras) que têm como objectivo resolver o nosso problema de contas públicas: deficit orçamental (que pretende ser de 7.6% este ano, 4.3% em 2011 e 3% em 2012) e dívida soberana (que atinge neste momento 236% do PIB e é a 10ª maior dívida pública do mundo em função do PIB). Este pacote de medidas (o famoso PEC3), segue-se a outro (PEC2), anunciado (http://www.jornaldenegocios.pt/home.php?id=425285&template=SHOWNEWS_V2) em Maio deste ano, que foi classificado pelo PM como sendo necessário e suficiente. Mas logo percebemos que o esforço não era para todos. Apareceram logo as excepções (http://economia.publico.pt/noticia/governo-recua-e-permite-aacumulacao-de-pensoes-com-salario-aos-actuais-funcionarios_1460189) e recuos. Uma LONGA LISTA de pessoas, entidades e instituições que não fazem o esforço dos outros. E também percebemos que este esforço não chega. Em 2011 serão necessários mais cortes, mais esforço, mais sacrifício. Para quê? Para tapar os buracos que o nosso percurso errático e sem objectivos tem produzido. É assim quando se chega ao fim. Sabem, estou convencido que enfrentamos um problema de regime. O nosso problema é que a situação do país se tem agravado ao longo dos anos. Não temos um projecto nacional, objectivos a atingir, nem uma ideia clara do que queremos ser daqui a 15 ou 20 anos. Sem objectivos e sem planos isto é muito complicado. É andar ao sabor do vento. Ora Portugal foi grande quando aprendeu a aproveitar o vento para atingir os seus objectivos: navegou à bolina e os resultados são por todos conhecidos. Descobrimos novos mundos com as nossas naves espaciais (as caravelas), fizemos evoluir o conhecimento, marcamos a diferença e fazemos saber que tudo “vale a pena quando a alma não é pequena”. Até dividimos o mundo ao meio, com a Espanha. Assim, da forma que vivemos, estou certo que se o Bill Gates conseguisse convencer o grupo dos mais ricos do mundo a pagar toda a nossa dívida pública, isso não serviria de nada porque depressa ela voltava. E se calhar ainda com mais força. Porque o nosso deficit é de atitude e cultural, isto é, o de viver sem objectivos acima das nossas possibilidades: é um deficit de responsabilidade (como dizia um amigo meu há dias: “norberto, isto é tudo um bando de garotos a brincar com o país”). O deficit das contas públicas é só uma consequência, assim como o descalabro da educação, da justiça, da saúde, da segurança-social, etc. Um país à deriva, um povo sem rumo. Bem dizia Camões: fraco rei faz fraca a sua forte gente. Por isso não somos credíveis no exterior. Enfrentamos o problema que enfrentamos porque quem nos emprestou (e continua a emprestar) dinheiro não acredita (ou tem sérias e crescentes dúvidas) que somos capazes de pagar. E não é desta forma que vão acreditar. É preciso ser claro. Em 2011 e nos anos seguintes aparecerão outras despesas para pagar: mais um submarino, as SCUTS, as parcerias público-privadas, as contas escondidas da saúde, de empresas públicas, entre outras.

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