A iluminação em Portugal: sustentabilidade energética ou de interesses?

Page 1

o electricista

ILUMINAÇÃO

revista técnico-profissional

144

A Iluminação em Portugal: sustentabilidade energética ou de interesses? A evolução tecnológica da luminotecnia vem conhecendo um desenvolvimento tão acelerado que mais parece uma revolução. Fontes de luz com características inovadoras, como é o caso dos LEDs, fomentam novas ideias abrindo caminhos e conceitos, nem sempre para substituir os meios existentes mas para complementar as suas potencialidades. Por outro lado, o desenvolvimento das ciências da visão e novos conhecimentos biológicos, evidenciaram as exigências de boa iluminação na criação de ambiências estimulantes, em linha com o sentir do ser humano. Hoje em dia, conceber sistemas de iluminação deixou de se basear exclusivamente em normas quantitativas, sendo a sua importância ultrapassada pelas exigências qualitativas do ambiente em que se desenvolve a actividade visual. Ao luminotécnico exige-se saber contemplar objectivos de natureza psicológica e fisiológica, para atender não só à resposta visual mas também à mental devida aos estímulos da luz. A IESNA acaba de lançar o livro “The Lighting Handbook” onde o saber da luminotecnia é abordado ao longo de 1.087 páginas! Em paralelo com toda esta evolução, em Portugal, o escasso ensino da luminotecnia, salvo muito poucas e honrosas excepções, tem regredido pelas reduções de tempo advindas dos acordos de Bolonha: aqueles mínimos de ensino desapareceram. Licenciaturas em Engenharia Electrotécnica e Arquitectura não contemplam a luminotecnia (existe arquitectura sem luz?). Todavia, como por milagre, aparecem conhecedores de todos os lados, tudo sabem, promovem equipamentos técnicos, distribuem incentivos, “botam palavradura” como entendidos, desde que cheire a negócio.

Nos tempos difíceis que vivemos, parece caricato dizê-lo, mas o problema é que há dinheiro a mais para distribuir! É ver os programas ditos de racionalização energética, em que as entidades que os promovem não têm suporte técnico nem know-how para bem os promover (nem o procuram) e todo esse dinheiro (o nosso dinheiro!) vai direitinho para a sustentabilidade… dos interesses instalados. Temos casos, como o da empresa que selecciona as luminárias aplicadas na maior parte da iluminação pública do País, ser sócia maioritária de um fabricante dessas luminárias, ou de outra cujo fim é certificar projectos de electrotecnia que elabora projectos de iluminação cheios de inverdades, mais parecendo promoção comercial (chegando a indicar alterações em luminárias que colidem com a etiqueta “CE”), ou entidades vocacionadas para promover a racional utilização de energia, recorrendo a programas de incentivo sem objectivos válidos, reais e criam-se ”peritos” de luminotecnia em cursos de 1 dia… Muitas vezes a sustentabilidade energética tem sido um filão não contributivo para o bem estar dos cidadãos, nem para a racional utilização dos dinheiros disponibilizados. Para todos aqueles que têm dedicado a sua vida profissional ao bom uso da iluminação, este status quo é francamente desanimador. É caso para dizer que nunca o panorama da luz foi tão negro! Não há ninguém que acenda a luz? Já! Por favor … Vitor Vajão Presidente da Direcção do CPI – Centro Português de Iluminação


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.