Energia solar fotovoltaica, que custos no fim de vida dos painéis?

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LUZES

energia solar fotovoltaica. que custos no fim de vida dos painéis? Sendo Portugal um dos países europeus com maior valor médio anual de horas de exposição solar é particularmente adequado ao estabelecimento de instalações de produção de energia eléctrica, baseada em painéis fotovoltaicos. Por isso, têm sido criados incentivos ao estabelecimento destas instalações, sobretudo na vertente da microprodução. No entanto, simultaneamente, temos assistido à concretização de alguns grandes investimentos na área da energia solar fotovoltaica, tal como a Central Solar Fotovoltaica da Amareleja, em Moura, que constituiu um investimento de mais de duzentos milhões de euros, tendo uma capacidade instalada de 46,41 MW de pico e 35 MW de potência de injecção na rede e ocupando uma área de terreno de cerca de duzentos e cinquenta hectares, que é uma dos mais importantes instalações deste tipo a nível mundial. Mais recentemente, perto do fim do ano passado, Portugal tornou-se também detentor da maior central solar fotovoltaica do mundo instalada em ambiente urbano. Refiro-me à Central Fotovoltaica do Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL), situada em São Julião do Tojal, Loures. Um investimento de mais de trinta milhões de euros, com uma potência de 6 MW, que compreende cerca de trinta mil painéis solares de silício policristalino, cinquenta e nove conversores DC/AC, onze postos de transformação de 315 kVA e treze postos de transformação de 250 kVA ligados à rede de 10 kV. Se, por um lado, o investimento em instalações de produção de energia eléctrica com base em energias renováveis atesta a nossa sensibilidade para o problema da sustentabilidade do desenvolvimento e a nossa vontade de empreender acções que visam melhorar a situação, por outro lado, o recurso à tecnologia fotovoltaica provoca-me algumas dúvidas, para as quais ainda não encontrei resposta cabal. Trata-se de saber o que acontecerá no fim da vida útil dos painéis. Sabendo que a produção de energia eléctrica com base na tecnologia fotovoltaica é um processo com baixo rendimento, não atingindo ainda os vinte por cento nas soluções comercialmente disponíveis, por cada KW a instalar a quantidade de equipamentos que têm de ser utilizados é bastante superior ao que seria necessário recorrendo a outras fontes de energia renovável. Assim, para além de ser necessária uma maior quantidade de materiais e, possivelmente, de energia para produzir os equipamentos fotovoltaicos, sabemos que dentro de pouco

Custódio Pais Dias Director

mais de duas décadas esses equipamentos chegarão ao fim da sua vida útil, dado que o seu rendimento diminuiu para valores desinteressantes, tendo de ser substituídos, o que na altura porá a questão de saber o que fazer com a enorme quantidade de painéis fotovoltaicos que serão retirados de uso. Embora pareça que o problema do fim de vida dos painéis fotovoltaicos só se colocará nos grandes investimentos, como os referidos anteriormente, tal não é verdade na medida em que o microprodutor que tenha instalados na sua propriedade alguns poucos painéis ver-se-á confrontado com a mesma dificuldade, a diferença está apenas na escala do número. Creio que, por razões ambientais e de dimensão dos equipamentos, estará fora de questão pegar nos painéis e ir colocá-los no ecoponto. Haverá certamente um procedimento de reciclagem obrigatório, com custos. Que dimensão terão esses custos relativamente ao preço de venda do painel em novo? Quem assumirá esse custo? Será o proprietário do painel a pagá-lo quando o depositar no centro de recolha? Ou, pelo contrário, não haverá lugar a qualquer pagamento, pois esse custo já está incluído no preço de venda dos painéis, tal como a ecotaxa que actualmente é aplicada na venda de pneus e óleos no ramo automóvel. Para um cabal esclarecimento do público seria bom que alguém de direito desse resposta a estas questões, para que o investidor, sobretudo o micro, menos conhecedor destas dificuldades e por isso menos atento a elas, não se veja no futuro a braços com uma situação para a qual não foi alertado e que poderá gorar, pelo menos parcialmente, as suas expectativas de lucro. Obviamente, que a análise do custo de uma instalação na perspectiva de uma análise de ciclo de vida não se coloca só para as fotovoltaicas, coloca-se para todas. Contudo, creio que a análise financeira comparativa entre as diferentes tecnologias de produção de energia eléctrica com base em fontes renováveis, actualmente disponíveis ao grande público consumidor, deve incluir os custos que terão após o fim de vida, sob pena de estarmos a falsear os resultados dessa comparação.


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