Revista Plural - Ano 7, n.º 14, 2011/II

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Revista Experimental do Curso de Jornalismo - UNIFRA Ano 7 - Nº 14 - 2º semestre de 2011

O UNIVERSO DA MÚSICA De agente ressocializador a campo profissional, as funções da música vão além da cultura e do entretenimento


índice Nos palcos de Santa Maria

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O papel da música na construção de sonhos Falta palco, mas não falta artista

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O desafio de fazer da música profissão A relação entre músico e instrumento

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Arte, som e bom tom

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EXPEDIENTE Revista experimental produzida pelos alunos do 4º semestre - 2011/02 do curso de Jornalismo, do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) Reitora: Irani Rupolo Pró-Reitora de Graduação: Vanilde Bisognin Coordenadora do curso: Sione Gomes Professores orientadores: Maicon Kroth (disciplina de Redação Jornalística), Iuri Lammel (disciplina de Planejamento Gráfico); Laura Elise Fabricio (Lab. de Fotografia e Memória) Impressão: Gráfica Editora Pallotti Tiragem: 500 exemplares

Equipe de reportagem e diagramação: Camila Severo, Camille Wegner, Cristian Cunha, Daiane Tonato Spiazzi, Danielle Carvalho, Eduardo Clavé, Franciele Kettermann, Jéssica Menezes, João Davi Martins, Mariane Dall’Asta, Mateus Konzen, Mateus Pereira, Mauren Gnoccato, Maurício Lavarda, Maurício Saldanha, Micheli Barros, Michelle Teixeira, Paola Schwelm, Pedro Porto, Rúbia Keller. Projeto gráfico: Ariadni Loose, Lucas Schuch e Rodrigo Fontana Arte da capa: Lucas Schuch

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PLURAL

Texto de Daiane Tonato Spiazzi e Maurício Saldanha Diagramação de Camila Severo e Danielle Carvalho

Nos palcos de

SANTA MARIA

Santa Maria é referência por ser berço de importantes histórias que contribuíram para a formação do Estado e por apresentar vastas potencialidades culturais que a colocam como uma das mais importantes cidades do Rio Grande do Sul. Possibilidades estas que estão presentes nos museus e casas de memória, nos teatros, nas salas de cinema, nos centros desportivos, nos centros tradicionalistas, nos restaurantes e boates, nos centros comerciais, nos parques, praças e ambientes naturais que embelezam a cidade. Santa Maria conta ainda com o desenvolvimento cultural, econômico e social promovido pelas ações das universidades e centros universitários. Em complemento a esses espaços estão os equipamentos culturais sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura de Santa Maria. Entre eles podemos citar: o Arquivo Público Municipal, a Biblioteca Pública Municipal, o Museu de Arte de Santa Maria, o Largo da Gare, a Casa de Cultura, a Concha Acústica do Parque Itaimbé e o Centro Desportivo Municipal. Tendo em vista a valorização e reapropriação dos espaços culturais e dos patrimônios da cidade, a Prefeitura de Santa Maria desenvolve projetos de preservação e reformulação desses locais. E é através de eventos culturais que atraem a população que se pretende criar entre os santa-marienses o sentimento de pertencimento e identidade com a cultura local. Para este fim, a

Secretaria de Cultura prioriza a produção de festivais tradicionais como a Tertúlia Nativista e a valorização dos artistas locais. Com ampla variedade de programações e espaços culturais,

a população de Santa Maria, em torno de 300 mil pessoas, tem a possibilidade de optar pela expressão cultural que mais lhe agrada, tanto em ambientes privados e públicos. SEGUE >>

Público assistindo Quico Lemos, Beto Pires e Junior Bernarduce

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Música que se propaga em todas as direções Palco de histórias, emoções e muita música, a Concha Acústica do Parque Itaimbé é uma opção para todos aqueles que apreciam escutar suas bandas favoritas em meio ao aconchegante espaço natural que o parque proporciona. Por seu perfil arquitetônico, que se assemelha aos teatros romanos, permite que o som dos instrumentos musicais se propague em todas as direções, o que propicia uma qualidade acústica ideal para grandes apresentações e festivais. A Concha Acústica de Santa Maria tornou-se referência cultural para a cidade e para os artistas locais. Durante muitos anos foi um importante palco que lançou, divulgou e revelou inúmeros talentos da música, como Quico Lemos, Beto Pires, Junior Bernaduce. Entretanto, este espaço caiu no esquecimento. Em conseqüência, sofreu vandalismos, agravado pelo descaso da população que deixou de se identificar com o local e do poder público que não promoveu mais eventos no local.

Junior Bernaduce canta na Concha acustica do Parque Itaimbé

Em vista disso, e tendo por prioridade devolver aos santa-marienses seus espaços de lazer, a Concha Acústica de Santa Maria, juntamente com todo o complexo que a abriga, foi objeto de reformas promovidas pela administração atual. Assim, no dia 11 de setembro de 2011, o espaço foi reinaugurado, contando com público diversificado, que compareceu para prestigiar os shows

de música tradicionalista. Na ocasião, o Prefeito Cezar Schirmer se comprometeu com o público. Prometeu dar continuidade aos eventos promovidos no local. Deste modo, a população de Santa Maria pode curtir, desde outubro, shows musicais, que pretendem devolver ao Parque Itaimbé todo seu potencial cultural, conforme afirma a Secretária de Cultura, Iara Druzian.

Patrimônio Histórico serve de palco para festivais Mantendo o compromisso de aliar a história local com acontecimentos culturais que propiciem eventos de qualidade, a Prefeitura de Santa Maria promove festivais musicais no Largo da Gare da Estação Férrea do município. Neste ambiente, que alia a nostalgia dos tempos gloriosos da cidade com o tradicionalismo dos eventos ali realizados, gera no público uma comoção, que extrapola idade, credo ou posição social.

A Tertúlia Musical Nativista, tradicional festival de música gaúcha de Santa Maria, teve ao longo dos anos de 1980 até 1999, 17 edições. O evento acontecia anualmente na Estância do Minuano e no antigo Cine Independência. Do ano de 2002 até 2008, o festival foi substituído pelo Minuano da Canção, que em 2010 mudou-se para São Pedro do Sul, deixando os nativistas desamparados. Tendo em vista a importância e a credibilidade dos festi-

vais nativistas, o poder público negociou o uso da marca com a Estância do Minuano, detentora do nome do festival. Obtendo a liberação, foi lançada uma nova edição da Tertúlia Nativista, o que alterou, no entanto, algumas de suas características tradicionais, como a extinção do acampamento em estilo Woodstock. Isso ocorreu em função da falta de espaço físico, já que as novas edições passaram a ser realizadas na Gare da Estação. Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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O Festival, considerado pela Secretaria de Cultura como o maior e mais importante evento promovido na cidade, possui um formato semelhante às edições anteriores. Os shows intercalam as apresentações da mostra competitiva com apresentações de grandes nomes do nativismo. O evento ocorre sempre no mês de novembro de forma gratuita à população. O espaço da Gare da Estação Férrea, que abriga a Secretaria de Cultura e o Museu Ferroviário de Santa Maria, também é palco para festivais de Bandas Marciais. Ainda recebe eventos como o Macondo Circus e mostras artísticas, além de feiras e apresentações teatrais.

No palco, a cultura santa-mariense As reformas iniciadas em 1992 no Teatro Treze de Maio colocaram Santa Maria no circuito nacional e internacional de espetáculos culturais. Mantido com recursos públicos, pelo empenho da Associação dos Amigos do Theatro Treze de Maio e por editais voltados para a cultura em nível estadual e nacional, o palco do Teatro recebe atrações vol-

tadas a todos os públicos. Desde musicais infantis até apresentações marcantes da Orquestra Sinfônica de Santa Maria, passando por artistas de renome no mercado da música nacional e internacional. O sucesso de suas atrações já concedeu ao Teatro reconhecimento e inúmeros prêmios tais como: Destaque Teatral 1998, conferido pela Prefeitura Municipal de Santa Maria; Prêmio Líderes e Vencedores 1998 conferido pela Federasul e Assembléia Legislativa do RS e Destaque Cultural 1999 pela Prefeitura Municipal de Santa Maria. O Theatro Treze de Maio possui estrutura para receber espetáculos de dança, música, teatro e outras atividades como palestras e cerimônias de colação de grau. Possui um ambiente climatizado apropriado para receber até 350 pessoas, incluindo estrutura adequada para portadores de necessidades especiais. O público e os artistas podem usufruir também do café e dos camarins. O teatro dispõe ainda de um espaço virtual, onde é possível acompanhar a programação e conhecer um pouco da história desse espaço cultural considerado patrimônio da cidade e palco da cultura santa-mariense. Confira a programação pelo site: www.theatro13maio.com.br. SEGUE >>

O palco da cultura O Theatro Treze de Maio desenvolve projetos com o objetivo de promover a cultura locar e dar oportunidades a artistas da cidade e região.

ARQUIVO THEATRO 13 DE MAIO

TREZE: O PALCO DA CULTURA O Projeto Cultural Treze: O Palco da Cultura tem como intuito incentivar os valores locais através do apoio à produção artística, estimulando a produção local, fomentando a formação de público consumidor dos produtos culturais locais, estabelecendo parcerias público – privadas visando o incentivo à cultura. SCALA TREZE O Projeto Cultural Scala Treze é uma iniciativa de caráter eminentemente musical e popular, com entrada franca, que busca aproveitar o foyer do Theatro Treze de Maio para apresentações artísticas, contemplando di-

ferentes tipos de públicos e gostos musicais. A iniciativa revela talentos locais, através da apresentação de diferentes ritmos e estilos musicais, que de forma simples e descontraída manifesta ideias, formas e emoções.

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Cultura na hora da diversão

Santa Maria, que dispõe de inúmeros centros culturais públicos, conta ainda com variadas opções de estabelecimentos privados, onde o público pode desfrutar de uma boa música, um ambiente descontraído e a presença de pessoas bonitas. Esses espaços são voltados a quem prefere curtir a noite em baladas, bares ou ainda um happy hour acompanhado de uma boa refeição, ou simplesmente de uma boa conversa entre amigos. Em Santa Maria as opções são variadas. A cidade conta com bares para todos os tipos de público, shoppings centers que oferecem música ao vivo e boates que atendem tribos variadas. Uma das atrações mais importantes para se escolher o programa noturno em algum destes estabelecimentos é a música. A cidade conta com artistas que tocam desde o velho blues importado do Mississipi, o bem brasileiro samba e os movimentos mais novos como o sertanejo universitário, que se espalha pelas movimentadas noites da cidade.

a iniciativas como a do Cristal. “Eu não escutava samba quando jovem, pois gostar de samba era ser mal elemento, preferia ouvir Paul Anka, mas o samba desceu para o centro com a ajuda do Café Cristal e então escutar este tipo de música passou a ser melhor visto pela sociedade da época”, relata João, de 69 anos, enquanto bebe vagarosamente sua bebida, sentado em uma mesa do bar em que frequenta, desde jovem, e viu o samba se tornar popular na cidade.

As madrugadas agitadas da cidade cultura

Nas madrugadas há uma diversidade de festas. Sertanejo, rock, samba, pagode entre outros estilos musicais agitam os santa-marienses e jovens de outras regiões. Um dos locais mais antigos na cidade é o Absinto Hall. Com mais de 10 anos de atividade, a casa oferece um ambiente despojado e amplo com cardápio musical bem variado que vai do rock ao sertanejo. Artistas locais e de outras cidades e estados passam pelo palco da casa todos os finais de semana, desde artistas consagrados até bandas mais jovens que buscam o sucesso e tem no espaço oportunidade de mostrar o seu trabalho para um eclético público. Anexo ao Monet Plaza Shopping, o AbsinA cidade tem bares tradicionais, pontos de en- to abre todos os finais de semana, conta com estacontro nos finais de tarde e até altas madrugadas cionamento coberto. que recebem públicos de todos as idades e gostos. Também existem locais mais alternativos como Alguns exemplos resistem ao tempo e as tendên- o Macondo Lugar, uma casa de shows que iniciou cias, como o Café Cristal, que já beira os 80 anos de suas atividades em março de 2005 em um pequefuncionamento e tem tradição no samba de raiz, no espaço na rua Floriano Peixoto. Rapidamente dando oportunidade aos artistas locais a se mostra- tornou-se um espaço de amplamente comentado rem ao público cativo que frequenta o café. e frequentado na cidade, com apresentações teaO Cristal, que recebe da velha guarda até jovens trais e musicais. O local promove festivais de múuniversitários, foi o primeiro estabelecisica que incentivam a cultura local e da mento de Santa Maria a dar oportuniregião, dando oportunidade a novas “Em dade aos artistas locais de samba. bandas. O espaço é frequentado, Inicialmente, nos sábados à tarde, em sua maioria, por estudantes Santa Maria regados à clássicos de Cartola, universitários que apreciam a as opções são variadas. Noel Rosa, Pixinguinha e o gaúcultura um pouco menos pop. cho Lupcínio Rodrigues, como Localizado hoje na Rua SeA cidade conta com bares relata o frequentador do café, rafim Valandro, o Macondo para todos os tipos de público, João Caçapuk Flores. abre de quinta-feira a sábado No bar, o sambista teve e vésperas de feriado. Uma shoppings centers que oferecem seus primeiros contatos com das marcas da casa é que em música ao vivo e boates o samba que se tornava forte algumas festas estudantes e era visto com outros olhos não pagam ingresso antes da que atendem tribos na cidade, neste período, graças meia noite.

Não deixe o samba morrer

variadas”

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Texto e diagramação por Paola Schwelm e Camille Wegner

PLURAL

A IC S Ú M A D L E P A P O

s o h n o s e d o ã ç u r t s n o c a n A música é entendida, entre outros diversos fatores, como uma forma de entretenimento, lazer ou cultura. Mas ela pode ir muito além, modificando a vida de crianças e jovens, através da sua perspectiva social. Nesse contexto, bairros carente utilizam o lado lúdico da música para oferecer uma nova oportunidade de futuro aos seus pequenos habitantes. Acompanhe, nas próximas páginas, a história de superação do bairro Nova Santa Marta, de Santa Maria, que utiliza de várias oficinas musicais para a construção da identidade da nova geração de moradores. E, também, a inserção da música como ressocialização de crianças e jovens em situação de risco ou vulnerabilidade social do bairro Cristo Rei, de São Sepé.

Morador do bairro Cristo Rei participa da oficina de percussão social

LEANDRO INEU

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Nova Santa Marta:

para mudar, é só começar REPRODUÇÃO PAULO SANGOI

Texto e diagramação por Paola Schwelm

Comunidade conseguiu melhorar sua estrutura através de lutas sociais

O bairro Nova Santa Marta é o exemplo de que a união social pode mudar uma realidade. Quem vê a estrutura da comunidade hoje, não imagina as lutas e as conquistas de seus moradores. O não cumprimento da promessa da construção de um conjunto residencial, no prazo de cinco anos, fez com que, em 1991, na cidade de Santa Maria, famílias do Movimento Nacional de Luta pela Moradia (MNLM) ocupassem a fazenda Nova Santa Marta, que pertencia ao Rio Grande do Sul. A ocupação foi um marco das classes populares na história do Estado. A comunidade, que iniciou com 37 famílias, é hoje a maior área ocupada de forma organizada da América Latina, tendo mais de 25 mil habitantes. Segundo o membro da coordenação do MNLM, Cristiano Schumacher, a luta para responsabilizar o governo municipal ou estadual pelas terras durou quase 18 anos e os investimentos em infra-estrutura vieram aos poucos. Escolas e creches surgiram. Mas o problema apenas foi resolvido com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), quando a comunidade recebeu um valor de R$ 50 milhões do governo federal. A união das pessoas em busca de seus direitos de cidadania foi o principal motivo que levou a con-

quista de melhores condições de vida. O morador Éder Pompeo relata que se abrigou na Nova Santa Marta pouco tempo depois da ocupação, e que a estrutura era precária. “Viemos morar em uma moradia 4m x 6m. Sem água e sem luz”, afirma. Pompeo também conta que a participação dos moradores em movimentos populares foi o que fez com que os governos começassem a incentivar a comunidade para o desenvolvimento. As inúmeras lutas dos ocupantes resultaram em uma realidade diferente para a atual geração de moradores. Desde o início da ocupação, as crianças não tinham como estudar, pois não havia nem uma escola na região. Em 1998, os irmãos maristas conseguiam um terreno para construir a Escola Marista Nova Santa Marta, que atende cerca de 900 estudantes. Em 2001, após reivindicações ao governo estadual, foi inaugurada a Escola Estadual Assentamento Santa Marta. Já em 2003, a comunidade conseguiu a instalação de uma dos maiores educandários municipais, a Adelmo Simas Genro, que abrigaria cerca de 700 alunos. Com essas melhorias, hoje as crianças podem participar de diversos projetos culturais que incentivam a arte e a construção da personalidade, sediados por essas instituições de ensino. Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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A música que modifica a comunidade Os estudantes entram em tidas de funk, forró e até mescontato com a música através mo um hino, composto por de aulas de instrumentos, per- eles para a Nova Santa Marta. cussão e coral. Segundo a mo- O professor de percussão, Ronitora de teatro, Ana Patrícia drigo Rosa é baiano. Ele conta Moura, o fato deles ainda que se encantou com serem considerados a curiosidade e sem teto faz com determinação que as crianças dos meninos O grupo já se carreguem um e meninas da pouco dessa discomunidaprepara para a criminação, já de. “Depois gravação do quarto CD, o refletida na vida que a gente que anima e estimula os dos pais. “ Eles mostra pra não conseguiam eles um estilo jovens talentos emprego porque de música, um moravam num luritmo, eles quegar que não tinha enrem correr atrás dereço”, lembra. A músie fazer o melhor deca modifica a realidade desses les”, enfatiza. O menino estudantes que tem aulas de Luis Paulo, que sempre morou instrumentos pelo menos três na Nova Santa Marta, parece vezes por semana. “Muda a vida ter consciência do papel dele deles, até a questão da auto-es- como integrante do grupo. “A tima melhora. Muda tudo”, afir- gente representa a nossa coma o professor de instrumento, munidade”, destaca satisfeito. Michel Wagner. SEGUE >> O grupo de coral “Vozes em Canto” já gravou três CDs. Os estudantes envolvidos na atividade artística têm a oportunidade de se apresentarem em diversos eventos. A iniciativa também aproxima os familiares por meio de reuniões. A professora do coral, Neida Reis de Andrade, conta que o trabalho realizado tem que ser diário. O objetivo não é apenas trabalhar a música, mas também questões relacionadas a parte humana. “Eu gosto da alegria de todo mundo. E que a gente tem a oportunidade de ir a vários lugares, conhecer”, acrescenta a integrante do coral, Andressa Quevedo da Cunha. O grupo de percussão toca diferentes ritmos e contagia os ouvintes, apresentando ba-

Grupo de Coral se apresentando na Feira Internacional de Economia Solidária, em Santa Maria

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As opção musicais são diversas. Os participantes têm diferentes instrumentos à disposição e podem escolher, de uma maneira eclética, os ritmos a serem tocados.

Como participar Para continuar a participação nos projetos musicais, o estudante deve manter um bom empenho nas aulas, tornando a música uma recompensa para os estudos. A seleção dos componentes do coral, do grupo de instrumentos e de percussão é feito pelos professores. É necessária a autorização dos pais ou responsáveis.

Segundo Schumacher, os projetos culturais têm muita importância na história, no desenvolvimento e no futuro dessas crianças que não precisam mais ter vergonha do lugar onde moram. “Elas podem dizer: eu moro em um local que é fruto de uma ocupação, da luta do povo organizado. Que não ficou esperando as coisas acontecerem”, destaca. O passado faz parte da construção da história desses jovens e de suas famílias. Os

projetos culturais mudam o presente e abrem novas oportunidades para o futuro. Nesse contexto de novas perspectivas, no pequeno município de São Sepé, com 23.798 habitantes, também há iniciativas que desenvolvem uma série de projetos e oficinas. Estas auxiliam no crescimento das crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A novidade é uma oficina de percussão como aposta para o desenvolvimento da sensibilidade dos pequenos.

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FOTOS LEANDRO INEU

Onde o barulho

vira talento

Texto e diagramação por Camille Wegner Carente de projetos que auxiliem no desenvolvimento social, o bairro Cristo Rei, de São Sepé, ganhou um novo aliado no processo de formação da educação de sua população: a música. Por meio de um projeto realizado pelo Centro de Referência de Assistência Social (CREAS) do município, numa parceria com um grupo de percussão de Santa Maria, as atividades visam despertar novos talentos. A ideia de promover oficinas de percussão iniciou em julho de 2011 e tem como prioridade os alunos do 4º ano. A entidade parceira é o movimento de Percussão Atoque, que desenvolve, entre outras atividades, as oficinas de Percussão Social. A iniciativa visa atender crianças e jovens menos favorecidos através de aulas gratuitas de música à comunidade carente. Na Escola Municipal de Educação Fundamental Gabriel Brenner, 23 crianças de sete a 14 anos são

beneficiadas pelas oficinas, que ocorrem em turno oposto ao das aulas. Na parte da tarde, todas as quartas-feiras, o grupo se reúne para aprender o novo ofício. “A gente aprende a bater em instrumentos e é muito bom”, disse Isabela*, uma das alunas. A aposta do projeto é utilizar a música como forma de ressocialização. A música traz uma série de benefícios para crianças que estão em situação de risco ou vulnerabilidade social. Através da atividade lúdica, crianças e adolescentes aumentam sua concentração, atenção e disciplina. “A questão da auto-estima também é despertada pela música, porque a criança pode mostrar o que está aprendendo e assim é valorizada na sociedade, que muitas vezes a exclui sem saber o talento que ela pode adquirir”, defende o professor da oficina, Márcio Tòlio. SEGUE >>

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Um novo aliado Dentro da perspectiva de vulnerabilidade social do Centro de Referência Especializado em Assistência Social, o bairro Cristo Rei é considerado o mais vulnerável em São Sepé. Dados da Secretaria de Saúde, a partir do Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) revelam que a comunidade local possui 608 pessoas, tem 114 crianças de sete a 14 anos, sendo que 107 (93,86%) delas estão na escola. Este público, na maioria, é de classe D e E e tem dificuldades de acesso à atividades educacionais. Na comunidade, a maioria dos pais são desempregados ou exercem a atividade de catadores de lixo ou biscateiros. As mães, na maioria, são faxineiras, o que as obriga a deixar seus filhos sob os cuidados dos irmãos mais velhos, expondo as crianças e adolescentes a situações de vulnerabilidade social. Algumas crianças chegam a ficar nas ruas pedindo alimentos para seu sustento e de seus irmãos menores. Diante dessa realidade e da importância da música como instrumento social, o CREAS escolheu se inserir nessa comunidade, através da oficina re-

alizada pelo Atoque na escola Gabriel Brenner, já que o Bairro necessitava de novas alternativas de ressocialização. “Estamos tentando despertar, além de novos talentos, uma nova maneira de orientar e atender nosso público alvo”, enfatiza a Coordenadora do CREAS, Sabrina Schröder. Também em uma tentativa de melhores condições para o bairro, este ano, a Escola Gabriel Brenner passou a trabalhar em turno integral, oferecendo, na parte da manhã, o processo de educação formal e, na parte da tarde, atividades lúdicas, como as oficinas. Mesmo com essa nova oportunidade, a Escola ainda encontra dificuldade de inserir todos os alunos nos dois turnos escolares. “Precisamos da autorização da família para que a criança participe dos dois turnos, e tem muitas famílias que ainda resistem, e essas, muitas vezes, necessitam de atendimento”, declarou a coordenadora dos projetos da escola, Márcia Aires. Mesmo sem integrar todos os alunos da escola, a oficina já apresenta resultados satisfatórios. Entre as FOTOS LEANDRO INEU

Nesse curto período de funcionamento já se pode perceber um grande aumento na concentração, disciplina e interesse das crianças que participam da oficina

O bairro Cristo Rei, considerado um dos mais vulneráveis de São Sepé, foi escolhido para receber a oficina Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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Alunos da Escola se juntam aos 23 participantes da oficina para assistir o ensaio de percussão

características que mais se sobressaem através da oficina está o interesse e a participação dos alunos. “É incrível como os alunos gostam da oficina. Nesse curto período de funcionamento já se pode perceber um grande aumento na concentração, disciplina e interesse das crianças que participam da oficina”, salienta a coordenadora do CREAS. Em quatro meses de atividade, as crianças do projeto desenvolveram, além de seus talentos, a expectativa de mostrar para a comunidade e seus familiares o que aprendem, promovendo, assim, a sua reinserção na sociedade. A continuidade do projeto trará mais benefícios para estes alunos que demonstram entusiasmo com a oportunidade. “Já fizemos uma apresentação e foi muito legal. Estamos ansiosos para nos apresentar de novo”, disse Carolina* participante do projeto. *Os nomes das alunas são fictícios para preservar as identidades das mesmas.

Realizadores CREAS: O Centro de Referência em Assistência Social (CREAS) é um serviço de proteção social, oferecido pela Secretaria de Assistência Social de São Sepé. Através dele são oferecidas ações de orientação, proteção e acompanhamento psicossocial individualizado e sistemático às crianças, adolescentes e famílias em situação de risco ou de violação de seus direitos.

ATOQUE: Formado em 2002, em Santa Maria, é coordenado pelo professor Márcio Tólio. Através do desenvolvimento de um repertório de percussão popular, o Atoque passou a se apresentar em eventos do município. Devido a amplitude do projeto, em 2007, foram criados novos subgrupos que formaram o Movimento de Percussão Atoque, atendendo também a região. Dentro dessas divisões do movimento, está a Oficina de Percussão Social Atoque, um projeto financiado pela Lei de Incentivo a Cultura (LIC), que desenvolve a educação social através da música.

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PLURAL

Texto de Cristian Cunha, Jéssica Menezes e Micheli Barros Diagramação de Pedro Porto, João Davi, Jéssica Menezes e Cristian Cunha

, O C L A P A T L FA

a t is t r a a lt a f o ã n s ma tando seu trabalho para conseguir visibilidade. Há também os que já conquistaram o seu espaço, mantendo seu trabalho sempre visível. As diferenças musicais estão muito fortes no município. Existem algumas casas noturnas que têm dia especifico para gêneros do momento, mas têm lugares mais conservadores, onde o que importa é a mùsica de qualidade.

ARTE: PEDRO PORTO

Quem canta seus males espanta. Santa Maria, mais conhecida como cidade “cultura” tem o costume de acolher e comportar todos que aqui chegam, alguns para estudar, outros para seguirem carreira militar. Como coração de mãe, sempre tem um lugarzinho para mais um. Mas para os artistas da cidade, não é bem assim. A cidade coração do Rio Grande é repleta de bons músicos. Entretanto, não tem estrutura necessária para mantê-los. Algumas bandas já foram esquecidas no espaço musical. Uns desistem de seus sonhos, outros persistem adap-

Aguarde a sua vez!!

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Beto Pires, em um show beneficente CRISTIAN CUNHA

Mesmo com todos esses novos estilos musicais surgindo no mercado, ainda existem músicos e compositores que preferem o tradicional, a antiga MPB, rock’and roll, blues, jazz e músicas nativistas que embalaram a geração da década de 80 e 90. Esses modificam apenas a forma de trabalhar, mas não o seu estilo e gosto. O músico e compositor Beto Pires se mantém no mercado até hoje. Ele toca desde MPB até o nativismo. Para conseguir se manter como músico, constitui um trabalho diferente, que começou há muito tempo. Seus shows são irreverentes. Brincadeiras, parodias e piadas são utilizadas para atrair a atenção do público para o seu espetáculo. Ele acredita que seu estilo diferente de trabalhar é o que distingue seu trabalho. Para se manter no mercado, fez mudanças. Começou trabalhando em bares de Santa Maria. Hoje, toca apenas em eventos, muitos deles beneficentes. Ele e seu violão são o necessário para ser inovador e ganhar a admiração das pessoas. “Eu utilizei o humor como uma válvula de escape para mim. Eu gosto que o público participe, cante junto. Acho que é um egoísmo de artista. Comecei a utilizar a graça para chamar a atenção das pessoas. O improviso, a própria interatividade para que ficassem focados em mim como artista”, ressalta. O estilo do artista deu certo porque é uma espécie de stand up musical, utilizando muita alegria, teatro, filosofia, poesia e a música em si. Todos os presentes aplaudem de uma maneira especial. Beto Pires faz shows por todo o Brasil e, com os recursos dos espetáculos, garante boas condições de vida para sua família.

JÉSSICA MENEZES

Musicalidade ultrapassando décadas

Renato Mirailh Existem os que trabalham de uma maneira tradicional, mas única. E um exemplo de profissional que valoriza a singularidade é Renato Mirailh. Músico e compositor, tem suas canções em vinte e oito discos gravados. Entre tantas composições, há uma em especial e que teve reconhecimento nacional, que é “Criatura de Babel”, escrita junto com Raul Maxwell. A canção foi premiada em festival que aconteceu em Brasília, em 2004, e chegou ao conhecimento de Fagner, reconhecido músico brasileiro, de estilo popular, que regravou a música de Mirailh e que a mantém em seu repertório até hoje.

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Renato Mirailh, compondo no seu estúdio Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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CRISTIAN CUNHA

Mas o trabalho de Mirailh não para por ai. Existem muitas músicas de sua autoria tocando em festivais nativistas e ainda é a grande atração da famosa “segunda-feira” do Ponto de Cinema – tradicional local de hap-py hour de Santa Maria. Há 17 anos, ele vem trabalhando em parceria com os proprietários do espaço. Ele tem os seus “fãs” que não perdem seu espetáculo, pois é do conhecimento de quem aprecia seu trabalho de que, nas segundas-feiras, é Renato Mirailh a atração. Seu trabalho é muito requisitado para festas e eventos em outras cidades do Rio Grande do Sul. Seu repertório é eclético, repleto de boas músicas. Faz com que ele consiga viver bem do que mais gosta de fazer. Ele tem outra atividade que não seja essa, compor, tocar e cantar apesar de ser administrador por formação de nível superior. “Sou versátil. Eu faço músicas nativistas e, no começo da carreira, tentei trabalhar apenas com MPB. Se fosse só com esse repertório, não conseguiria porque as coisas foram mudando na música e viver só de músicas próprias, aqui no interior do Rio Grande do Sul, acho impossível, a não ser do gauchismo e nativismo”, declara.

Emerson “Sino” Lopes Emerson Lopes, músico e compositor, muito conhecido no mundo do rock’n’roll, atualmente é vocalista da banda NOCET. Segundo o músico, toca somente o que gosta e em lugares que aprecia. Junto com a rotina de tocar em casas noturnas, decidiu montar sua própria produtora musical: a “Music Box”. Roqueiro nato, desde a década de 80, traz em sua bagagem um currículo imenso de bandas que trabalhou. Seu trabalho é reco-

Emerson Sino Lopes, com seus instrumentos de trabalho

nhecido por muitos no meio musical. Hoje faz shows em Porto Alegre e São Paulo. Como existem em Santa Maria locais que não comportam bandas, ele também tem carreira solo. Sino acredita que se manter em Santa Maria trabalhando somente com bandas é difícil, por causa da falta de estrutura adequada para os equipamentos necessários para o trabalho.

Lopes deixa a sua mensagem para quem está começando no mercado musical. “Quer ser músico: estude muito o estilo musical que quer seguir, persistência sempre. Compõe uma música com o violão. Coloca no Youtube. De repente, faz sucesso. O fazer sucesso não pode ser teu objetivo nunca, tem que ser a consequência do teu trabalho”, enfatiza. Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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DIVULGAÇÃO

Acima de tudo, gostar!

Componentes do Grupo Conspiração. Da esquerda para a direita: Thiago Abreu, Fabiano Félix, Anderson Martins, Bruno Marques e Emerson Martins

Como vários músicos explicam nesta reportagem, Entretanto, em Santa Maria, muitas das casas para ser músico, além de ser persistente, ter qualida- noturnas que abriam as portas para o gênero “Pade ao tocar suas canções, tem que gostar realmente gode e Samba” estão fechadas ou aderiram ao gêdo que está fazendo, pois a sua cidade, talvez não nero musical do momento. Isto dificulta muitas ofereça uma estrutura adequada para o crescimento das vezes a introdução do gênero da banda, pela e o reconhecimento de suas carreiras musicais. falta de espaço no cenário musical na cidade, faCom a falta de locais específicos em Santa zendo com que as bandas busquem, fora daMaria para que grupos de pagode posqui, uma maneira de mostrar seu trasam se apresentar, há uma grande balho, em casas noturnas específicas Muitas das vontade, por parte deles, em buscar do gênero. “A gente está começanoutros mercados, fora da cidade, do a ser reconhecido fora da cicasas noturnas que no cenário musical. dade de Santa Maria, pelo fato abriam as portas para o Santa Maria oferece poucos lude, nas outras cidades, o gênero gares, entre boates e barzinhos, pagode estar bem reconhecido e gênero “Pagode e Samba”, para a expressão de alguns ritmos. tem mais visibilidade no mercaestão fechadas ou aderiram Os espaços são disputados por vádo”, explicam. rias bandas de todos os estilos muPara ser músico, os integranao gênero musical do sicais. Isto torna difícil o início de tes do Grupo Conspiração acredimomento carreira no campo musical, como é o tam que é algo que nasce com cada caso do grupo de pagode “Conspiração”. um, que tem que gostar de verdade, O grupo foi criado há três anos. Hoje é pois para ser músico em Santa Maria é formado por cinco integrantes e o apoio inconcomplicado. Tem que ser persistente e correr dicional da família. Tudo começou na brincadeira atrás de seu objetivo para que as coisas aconteque acabou virando trabalho sério, pois eles zelam çam e portas se abram. pela qualidade musical nos shows. No entanto, os Neste sentido, para que essas portas se abram, integrantes do grupo estudam a forma de deixar o grupo vem prezando pela qualidade, tanto pelo suas atividades de lado, tornando a música sua prio- fato de apresentar músicas próprias e outras múridade, devido ao sucesso que vem fazendo. Todos, sicas de aceitação por parte do público, tentando atualmente, ainda mantêm outra atividade que pro- realçar o estilo e a performance na interpretação porciona uma renda que se agrega ao final do mês. das canções. SEGUE >>

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Onda do momento é dançar agarradinho Há alguns anos, as músicas sertanejas eram de grande sucesso. Era só o que se ouvia em rádios, fitas e discos de vinil. Já foram consideradas bregas pela maioria. Mas os bons tempos voltaram e o estilo sertanejo ganhou inovações, fazendo a cabeça dos jovens universitários. Surge, então, o sertanejo universitário. Os cantores de sertanejo normalmente trazem consigo uma trajetória de vida emocionante, como, por exemplo, a dupla Zezé de Camargo e Luciano, que tiveram uma história de vida comovente, contada em um filme “Os Filhos

de Francisco”, que retrata a vida dos cantores desde sua infância até a fama. Em Santa Maria não foi diferente. Universitários formam duplas e começam a explorar e mostrar seu talento com o estilo musical do sertanejo universitário. Duplas como Sandro e Cícero e Pedrinho e Léo; são as mais conhecidas em bares e boates na cidade e já têm reconhecimento do público. A Revista Plural entrevistou alguns músicos que despontam no cenário musical do sertanejo universitário em Santa Maria.

Entrevista com a dupla Sandro&Cícero

que gostam do nosso trabalho. Faz isso tudo valer a pena. Estamos de corpo e alma nesse trabalho. Gostamos muito do que fazemos, curtimos cada momento e talvez seja por isso que esteja dando resultado. Queremos levar a todos a nossa música e a nossa alegria e esse é o nosso trabalho.

Revista Plural: como surgiu a dupla? Bom, nos conhecemos na noite de Santa Maria. Cada um com seu projeto em estilos diferentes. Aproveitando a onda que começava a chegar no estado e o convite de Sandor Mello para compormos uma dupla, demos início a “Sandro&Cícero”. Quando começamos, não achávamos que isso tomaria uma proporção tão grande e que o público nos aceitaria tão bem. Cada lugar que passávamos (mesmo sendo a primeira vez) , recebíamos o carinho do pessoal e esse carinho foi que nos motivou a tocar a dupla a frente e buscar melhorar sempre. Antes fazíamos faculdade, (Sandro – Música, Cícero – Publicidade e Propaganda) mas tivemos que trancar por causa da agenda apertada e a correria. Graças a A dupla Sandro e Cícero Deus , esse nosso esforço vem dando resultados a cada dia que passa. Mesmo assim estamos longe do que queremos realmente e por isso trabalhamos tanto. Nossos dias hoje são de muito trabalho e correria. Acabamos de lançar nosso CD novo, via internet, e precisamos trabalhar muito pra que ele chegue até todas as rádios e cidades do Sul do Brasil. Em cada cidade que chegamos, somos muito bem recebido pelo público, sempre muitas fotos e presentes. Não existe coisa melhor que esse carinho das pessoas

Porque o nome sertanejo universitário?

O público universitário que deu o start pra esse gênero. Um sertanejo mais alegre, dançante, próprio para uma balada de verdade. Diferente do de raiz, o sertanejo universitário chegou e domina a maioria dos lares e das festas em todo Brasil, pois não tem aquele caráter por vezes triste, amargurado que tinha o Sertanejo de tempos atrás.

Quais os componentes das bandas? Bruno Vestena - bateria Jeferson Solner - acordeon Daniel Souza - Guitarra e violão solo Thaigor Farias - contrabaixo Cris Bahia - percussão

Você acha que futuramente poderá decair o estilo sertanejo ou veio para ficar? Tudo é um ciclo. As coisas mudam, os gostos e as pessoas também. Se o Sertanejo Universitário não continuar se renovando e criando coisas novas para o seu público, irá perder a preferência. Como foi com o pagode. Isso se aplica em qualquer produto, o público gosta de novidade. Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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Pedrinho e Léo se conhecem de longa data. Conterrâneos da cidade de Alegrete, sempre foram grandes amigos e trabalhavam em projetos distintos. Pedrinho Filho, professor e músico multi-instrumentista profissional a 17 anos, que atuou no inicio da carreira em uma dupla sertaneja infantil, abrindo shows nacionais no estado nos anos 90, acumulou experiência e musicalidade tocando em eventos, bailes e casa noturnas por mais de 10 anos pelo Rio Grande do Sul, onde se tornou um dos mais respeitados músicos do gênero. Leonardo Paim (Léo), também começou com dupla sertaneja, tocou em eventos e casas noturnas da região, e hoje é considerado um dos maiores interpretes nativista da nova geração, já gravou dois CDs do gênero, e é um dos mais premiados interpretes em festivais no estado. Pedrinho e Léo sempre tiveram a música como prioridades em suas vidas. Hoje, totalmente dedicados ao projeto da dupla, abriram mão muitas coisas e prazeres que uma vida normal oferece, devido a agenda lotada e viagens longas para cumprir compromissos com shows e divulgação do trabalho. A rotina hoje se resume a isto, e também a dedicação de seus projetos individuais, tentando sempre que possível praticar esportes e cuidar da saúde para manter um desempenho dinâmico e alegre em seus shows.

Revista Plural: como surgiu a dupla? Reencontramo-nos em Santa Maria -RS, e em março de 2009, resolvemos montar nosso próprio projeto: “Pedrinho e Léo” na Terçaneja.

Porque o nome sertanejo universitário? Acreditamos que este novo formato e arranjos diferenciados “agitaram” as festas da galera da faculdade e, a partir da alegria que essa música representa, por falar de amor e todos seus acertos e frustrações, acabou gerando todo esse movimento. Somado a isso, o timing das composições e produções fonográficas ajudaram muito. Acreditamos, também, que a Internet teve (ainda tem) um papel fundamental nisso, através do Youtube, Palco Mp3, Redes Sociais, e a influência dos Amigos ao enviarem arquivos via MSN’s, etc.

DIVULGAÇÃO

A trajetória da Dupla Pedrinho e Léo

Pedrinho e Léo, em uma noite muito agitada na cidade de Santa Maria

Quais os componentes das bandas? Quem nos acompanha desde o início do projeto são Alexandre Scherer (Contra-Baixo), Leandro Bittencourt (Violão/Guitarra) e Renato Soares (Acordeom). Com a ida do Matheus Alves para Minas Gerais, o Arnildo Pereira passou a ser nosso baterista. Em eventos maiores, como Planeta Atlântida, Jonas Vianna (percussão) nos acompanha. Ainda, na Produção temos Sandor Mello e Thiagão Larangeira, que cuidam da nossa carreira.

Você acha que futuramente poderá decair o estilo sertanejo ou veio para ficar? Este estilo tem vida própria fora do RS. Muito anterior ao “rótulo” universitário. Tanto que temos várias músicas “novas” no repertório, que foram lançadas há alguns meses, e mesmo assim, o ponto máximo do show são as “antigas” (Evidências, Boate Azul, Fio de Cabelo, Telefone Mudo, 60 Dias Apaixonado, Por Um Minuto, entre outras) tanto que são chamadas de “Sertanejo de Raiz”. Em relação ao “movimento universitário”, acreditamos que o que for bem feito, como nos demais estilos, ficará e, na medida que for sendo tratado com profissionalismo e responsabilidade, continuarão com a fidelidade do seu público. O fato de ser um estilo popular e, sendo assim, com fácil identificação nas composições, ajudará o movimento.

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PLURAL

O desafio

Francisco Coser, violinista natural de Santa Maria Rev ista Plural 2011 / IIยบ semestre

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Texto de Maurício Lavarda e Rúbia Keller Diagramação de Mateus Pereira, Michelle Teixeira e Rúbia Keller

de fazer da música

PROFISSÃO

N

essa reportagem você encontrará histórias de pessoas que consolidaram a carreira musical, gente que investe na música como profissão ou como uma segunda opção. Músicos que não compartilham da mesma trajetória, das mesmas oportunidades, dos mesmos palcos e reconhecimentos, mas que, apesar das diferenças, possuem algo em comum: enaltecer a música, nas suas diferentes dimensões. SEGUE >>

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Francisco Coser nunca pensou em mudar de curso ou escolher outra profissão

Futuro internacional Francisco Coser descobriu as primeiras notas musicais aos sete anos, quando começou a estudar violino no Método Suzuki, oferecido pelo Curso de Extensão de Música da UFSM. Aos 15, decidiu o que queria para o seu futuro: ser músico profissional. Dois anos depois, já pensava em estudar no exterior. Aos 18, fez audições para entrar no conservatório de música da Chicago College of Performing Arts, da Roosevelt University e Mary Pappert School of Music, da Duquesne University. Passou com bolsa nas duas instituições americanas, mas escolheu a primeira opção. O jovem vê a música como uma oportunidade de viver daquilo que gosta,

mas sabe que é preciso muito estudo e dedicação para poder ganhar dinheiro com ela. “Para muitos é uma utopia poder ganhar dinheiro suficiente fazendo o que gosta, porém, isso é uma realidade para a maior parte dos músicos bem-sucedidos. E para ser um músico bem-sucedido, tu precisa conseguir se comunicar com qualquer pessoa através da música, além de, logicamente, ter todos os aspectos técnicos do instrumento em alto nível de preparo”, salienta. Coser estuda quatro horas de violino por dia, durante o período de aulas. Intensifica os estudos do instrumento durante o período de férias: seis a oito horas diárias.

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Dedicação Ser dedicado é uma das principais características de quem busca viver da música. Porém, dedicação nem sempre é sinônimo de sucesso. Para Francis Vidal, 28 anos, estudante do bacharelado em música da UFSM, habilitação em violão, para ganhar dinheiro com música, não basta ter estudo e talento, mas sim, investir em marketing: “pra mim é tudo questão de marketing, tem muita banda ruim, com estilo, que tem sucesso, assim como tem muita banda boa que não aparece”. Conforme Vidal, viver de música no Brasil continua sendo um desafio, pela falta de incentivo e desvalorização da música pela sociedade. Por isso, muitos saem do país. Coser é um exemplo dessa realidade. “Eu sai do Brasil para estudar música um tanto por opção própria ao ver o cenário musical no país, principalmen-

te o da música erudita e também por inspiração e orientação do professor Marcello Guerchfeld. O cenário musical para a música erudita no Brasil é ainda bastante precário, está em crescimento, porém, precário”, comenta o futuro violinista. Esse fato não se restringe apenas ao nosso país. Conforme o japonês que vive em Toyama, Seiichiro Tsukamoto, 21 anos, estudante de Engenharia Eletrônica, ser músico no Japão também é uma tarefa difícil. Além dos baixos salários, bandas americanas dominam o cenário musical, principalmente o público jovem. A japonesa Chika Soya, 19 anos, estudante do Ensino Médio, é um exemplo disso: “Eu prefiro música pop americana à japonesa. Ouço praticamente todos os dias em meu iPod, quando estou no trem”, explica a moradora de Tokyo. SEGUE >>

Não acredito que eu tenha passado mais de um dia da minha vida sem escutar música. Francisco Coser

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Entrevista com Felipe Alvares Instrumentista e diretor musical, Felipe Alvares é um contrabaixista gaúcho natural de Júlio de Castilhos, que reside atualmente em Santa Maria. Formado em Licenciatura em Música na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Mestrando em Educação pela mesma instituição, Felipe, que já dividiu os palcos com grandes nomes do cenário musical gaúcho como Luiz Carlos Borges, Renato Borghetti, César Oliveira e Rogério Melo, entre outros, discorre sobre a profissão de músico e fala sobre as dificuldades e prazeres encontrados nessa área, onde também atua como professor ministrando oficinas e aulas particulares de violão, contrabaixo, teoria musical e música popular há mais de dez anos. Confira a entrevista abaixo:

Revista Plural: fale sobre tua formação e atuação musical. Felipe Álvares: Creio que falar em formação e atuação estabelecendo fronteiras entre elas é uma tarefa difícil. Explico: trabalho como contrabaixista há mais de 10 anos na música popular, e antes mesmo de entrar na faculdade já atuava. Aprendia durante as experiências que tinha em minhas atuações e acho que foi sempre assim, trabalho e estudos juntos. Os trabalhos me levaram a estudar conteúdos específicos, desenvolver habilidades no instrumento, em um repertório de música popular, além de outras coisas. Já toquei em bailes, bares, formaturas, com bandas de rock, pagode, nativista, MPB, entre outras. O músico precisa atuar em várias frentes, e é difícil atuar como instrumentista em uma só banda, por exemplo. Acho que a formação vai além da faculdade. Estamos nos formando todos os dias. Até porque, dentro da universidade não existem disciplinas que tratem de música popular, produção de espetáculos, gestão de carreira e afins. Isso faz com que tenhamos que correr atrás. O aprender fora da universidade é algo que não deve deixar de participar da formação do músico. Além de instrumentista, atuo como diretor musical elaborando e executando espetáculos e projetos musicais. Já fiz o Tropicália, Quarteto Gauderiando, Jazz do Monte, e recentemente Encanta Maria Bethânia, com Débora Rosa. Também tenho

O castilhense, Felipe Alvares de 32 anos atua tanto nos bastidores quanto no palco.

uma produtora, onde trabalho com publicidade, trilhas para audiovisual, entre outros, e uma escola de música onde ministro aulas. Ser músico é exercer uma porção de funções, tocar é só uma delas.

Quando optou pela música como profissão? F.A.: Depois de tocar bares e bailes, fui trabalhar em um estúdio de gravação como técnico. Nesse estúdio conheci um pessoal que atuava em festivais nativistas. Isso foi por volta de 2002. A partir disso passei a tocar em festivais e acompanhar cantores desse gênero. Devo estar envolvido com a música nativista há aproximadamente dez anos. Nesse tempo tive o prazer de dividir o palco com nomes como: Luiz Carlos Borges, Luiz Marenco, João de Almeida Neto, Neto Fagundes, Shana Muller, Sergio Reis e mais uns quantos, e nesse caminho me interessei por um estilo que até hoje é uma paixão: a música instrumental. Esse interesse me abriu portas para tocar com músicos como Marcello Caminha e Maurício Marques, nomes que acompanho até hoje. Também fiz alguns trabalhos para a gravadora ACIT, que é uma das maiores do sul do Brasil. EnRev ista Plural 2011 / IIº semestre

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tre os trabalhos realizados estão os DVDs Canto e Encanto Nativo I e II, Wilson Paim e o Festchê.

Como é a receptividade musical dentro e fora do Rio Grande do Sul? A música nativista dá retorno? E os outros gêneros?

Ser músico é exercer uma porção de funções, tocar é só uma delas

F.A.: Quanto à música nativista, é um mercado muito bom. Nesse tempo de trabalho com música foi a área que mais tive oportunidades. De modo geral, o mercado é melhor, tanto em termos financeiros como de carreira. É muito mais fácil ter uma carreira autoral no nativismo do que na MPB e no Rock, por exemplo. Mas isso aqui no Estado. Fora, a realidade é outra, bem diferente. Sobre o bairrismo, não creio que é uma preocupação de quem faz esse tipo de música, pois há um mercado aqui no estado que se sustenta, então não há grandes interesses em sair daqui. Acredito que o Borghetinho faça essas saídas, talvez algum outro, mas isso não é “pauta do dia” nas conversas dos nativistas. O fato é que o mercado para a música em geral está crescendo e descentralizando. Foi o tempo em que era preciso sair de Santa Maria, por exemplo, para viver de música. A cidade já oferece um ótimo mercado de trabalho.

A reação da tua família foi de aceitação ou houve alguns bloqueios quanto o fato de tu escolher a música como profissão?

A tua convivência com a música no dia-a-dia é praticamente em tempo integral? F.A.: Quando não estou envolvido com a música, estou com minha família ou dormindo. Mas durmo pouco... (risos). Veja, música para mim não é só instrumento. É produção, arranjo, gestão e muito mais. Também incluo estudos do mestrado, no qual falo sobre música; artigos que escrevo para uma revista de Panambi, projetos que frequente-

Se não fosse o apoio que tive em casa, não estaria aqui dizendo isso

F.A.: Minha família: Seu Oscar, meu pai; minha mãe, dona Sonia. São, certamente, os melhores pais que uma pessoa pode ter. O apoio deles sempre foi incondicional. Sou músico, fiz as coisas que fiz e devo tudo a eles. Se não fosse o apoio que tive em casa não estaria aqui dizendo isso a ti.

Hoje, apesar de existir muito caminho pela frente ainda, quando olha pra trás vê que o caminho foi difícil ou as coisas foram mais fáceis que de costume? F.A.: Dificuldades sempre têm, mas acho que tive sorte de ser de uma geração em que a música é mais respeitada, melhor articulada, com remunerações melhores. Creio que quem se dedica e leva

a sério tem um ótimo campo de trabalho com essa profissão. Mas não pense que é fácil. Muita viagem, muito estudo pra conseguir algo. Dedicação, seriedade, honestidade e responsabilidade são ingredientes que fazem com que acertemos o caminho. Dizem que músico tem que ter talento, né? Eu acho que tem que ter esses ingredientes. Talento, sozinho, não adianta nada.

mente me pedem para escrever; estúdio, gravando jingles, produzindo discos, dando aulas, e por aí vai. Acho que o músico do século XXI tem que ter esse misto de instrumentista, empreendedor e curioso, não se fechar em apenas uma tarefa.

Tu tens algum músico na família? F.A.: Minha mãe tocou gaita quando pequena e meu avô, por parte pai, era um boêmio que tocava violão. Nunca vi isso, só ouvi falar, mas lembro bem dos discos dos Beatles e do Led Zeppelin em SEGUE >> Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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casa. Desde pequeno escutei essas coisas por causa do meu pai, e até hoje gosto muito.

Como é trabalhar com vários estilos musicas, muda muito de gênero para gênero? F.A.: Hoje para mim é uma coisa cotidiana, mas é difícil, sim. Às vezes tenho muita dificuldade em encontrar músicos para fazer certos estilos musicais. Está faltando músicos interessados em tocar jazz, bossa nova, instrumental... outros estilos de música. Acho que o mercado e a mídia são muito responsáveis pela fabricação da identidade dos músicos.

A mídia que mostra o rock, o pop, contribui para criar uma porção de músicos que saibam tocar esses estilos. O mercado musical contribui para formar músicos que sabem tudo de sertanejo, entende? Não tem estímulos para formar músicos de MPB, de instrumental... ou tem bem menos. Faltam políticas públicas que estejam atentas a isso. Mas veja, não é renegar o rock ou o sertanejo, ou a mídia ou o mercado. De maneira nenhuma. Acho que isso tudo esta aí, e devemos estar atentos a isso. Mas ao mesmo tempo, ações em prol do diverso devem existir.

Dedicação, seriedade e resposabilidade são ingredientes que fazem com que acertemos o caminho Felipe Alvares

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Um Rio Grande verde-amarelo Um guitarreiro que instrui um violão que fala. A parceria que silencia gargantas para emanar diálogos entre cordas e dedos. É com essa verdade que Marcello Caminha enaltece o que há de melhor na música do Sul. Sempre acompanhado de seu violão e em parceria constante com músicos consagrados, o músico leva aos quatro ventos trabalhos resultantes de muito estudo, responsabilidade e qualidade que conquistam cada vez mais pessoas dentro e fora do país. E fazendo um costado por aqui, este senhor de ponteios inconfundíveis sintetiza aspectos sobre sua carreira e família. Marcello Caminha diz ter começado sua carreira musical aos 14 anos. Aos 18, ingressou no curso de Medicina Veterinária trabalhando paralelamente em duas atividades até o ano de 2005, quando então pôde se dedicar somente à música. Suas inspirações partem da vida rural e de seus aspectos, assim como das diferentes culturas que presencia pelos lugares por onde passa. “Uma delas (das inspirações) vem da natureza, do campo, das pessoas do meio rural. A outra vem quando viajo por lugares diferentes, da cultura local desses lugares”.O violonista garante que as diferentes tradições o estimulam a produzir, e que o pluriculturalismo faz parte de seu repertorio. “Compor algo nesse sentido só soma minha música. Daí surgiu o CD Influência”. Caminha diz que a música folclórica uruguaia e argentina influenciam seu repertório e o ajudam no quesito arranjos, assim como o samba de raiz e a música clássica. Porém, não só de técnicas se formam composições. “O jazz me ensina a pensar na música e o heavy metal me inspira quando estou no palco”, acrescenta. Conciliar vida pessoal e profissional não é tarefa fácil para quem tem a estrada como moradia. Porém, o músico afirma que a convivência é intensa por dividirem tarefas. “Viajamos e trabalhamos juntos. Minha esposa faz a produção e o Marcello (filho) toca comigo”. Caminha também tem uma filha caçula, e desconfia do seu rumo pelo mesmo caminho. “A Malena tem cinco anos. Ainda não toca, mas acho que será a cantora da família. Vamos esperar pra ver”.

Marcello Caminha traz em suas composições traços de outras culturas

Sobre o filho músico, Marcello Caminha expressa o orgulho de vê-lo seguindo os mesmos passos e afirma que isso também é fator de muita responsabilidade. Marcello Caminha Filho o acompanha na vida e nos palcos. “Não posso de forma alguma forçar ele a fazer o que faz. Se futuramente optar por outro gênero musical, terá meu apoio para seguir em frente”. Por fim, Marcello Caminha simplifica sua escolha pela música gaúcha, mas ressalta a importância de explorar outros ritmos musicais: “Preciso ter um foco para que as pessoas se identifiquem com o meu trabalho, além de gostar da música nativista do RS. Ser gaúcho é uma honra, mas tenho muito orgulho de ser brasileiro. Nosso país tem a cultura rural mais rica do mundo”.

Nosso país tem a cultura rural mais rica do mundo

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PLURAL

Texto de Eduardo Clavé e Mateus Konzen Diagramação de Eduardo Clavé

A relação entre

MÚSICO E

INSTRUMENTO “O violão é a ponte para minha afinação no cantar” Essas são palavras de Tiago Borges, o Tampa, vocalista da banda santa-mariense Bandaneja, que ilustra a importância do instrumento e o que ele representa na vida de todo músico. Na reportagem da Revista Plural, vai-se conhecer um história de vida dedicada a um instrumento musical, a gaita. Também vai conhecer onde os músicos podem encontrar locais que consertem seus instrumentos e informações sobre compras de instrumentos novos e usados, com um levantamento da média de preços nas lojas da cidade.

DIVULGAÇÃO

Tiago “Tampa” Borges (esquerda), vocalista da banda santa-mariense Bandaneja, com seu irmão e companheiro de banda, Diego Fantinel

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Uma vida na companhia das gaitas É nos fundos da sua antiga oficina mecânica, em um pequeno ateliê, que Antenor Farias Dutra, o “Seu Dutra”, 83 anos, passa maior parte do seu tempo na companhia das gaitas. Instrumentos de trabalho e paixão, o qual dedicou e ainda dedica sua vida. Ainda jovem, aos 14 anos, adquiriu seu primeiro acordeom, que lhe acompanha até hoje. O seu principal incentivador e professor foi o músico Nardo Schimidt, que passou todo seu conhecimento sobre a arte de consertar e tocar o instrumento. Além da sua paixão pelas gai“Seu Dutra” tas, Seu Dutra foi proprietário acompanhado das gaitas em de uma oficina mecânica. Mas seu ateliê em 1975 decidiu se aposentar e deixar sob os cuidados dos seus filhos. Foi então que se dedicou inteiramente ao conserto de gaitas. Há 36 anos, Seu Dutra conserta gaitas ponto e gaitas piano. Rodeado das suas gaitas, Seu Dutra passa o dia na companhia sicos de toda região o procuram também do seu antigo rádio, um para consertar seus acordeons. E telefone e uma lembrança que como em Santa Maria, além dele, ganhou de uma emissora radio- só existe outra pessoa que faz fônica da cidade. Um Troféu Gai- esse trabalho, sempre tem uma teiro Feliz, que homenageia a gaita para arrumar. sua dedicação pelo ins“A gente sempre contrumento. E mesmo serta uma e outra e com problemas de quando eu não to “Não posso visão e diabetes arrumando o pespor causa da idade soal berra”. parar, se a gente avançada, Seu DuOs serviços mais não fizer nada, a tra não se vê longe procurados pelos gente morre” de seus instrumenclientes no conserto tos musicais prefedos acordeons são: ridos. Segundo ele, a afinações e trocas de distância deles, que faz fole, correias e presilhas. parte da sua rotina, faz com Os custos dos trabalhos vaque ele adoeça. riam de acordo com a marca e o No seu ateliê improvisado, modelo do instrumento de modo ele também compra e vende al- a atender a satisfação do cliente. guns instrumentos usados. MúPara o Seu Dutra, os acorde

ons mais utilizados pelos gaiteiros na atualidade são de origem italiana. Umas das referências do instrumento é a marca Scandalli, e em nível nacional, a Todeschini. Existem também acordeons de origem chinesa como os da marca Michael, que são encontradas por um valor bem acessível, ideal para os iniciantes. Quem precisar consertar sua gaita pode procurar o Seu Dutra, na sua casa, que fica na Avenida Nossa Senhora Medianeira, 1244. Ou quem quiser entrar em contato pode ligar para o telefone 3221 7236. Além de encontrar um especialista em consertar acordeons, quem o procurar irá se deparar com uma história de vida dedicada à paixão pela gaita. SEGUE >>

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Comércio musical Cases Para proteger os instrumentos existem os cases e as capas. Esses são usados para proteger e conservar os instrumentos que acompanham seus donos por onde andam. Existem inúmeros modelos de cases e capas. Os mais procurados são para os instrumentos de corda. Capas para guitarras custam em torno R$100,00, já para guitarras são encontrados por R$150,00, em Santa Maria. Os cases mais procurados são os para baterias. Para proteger suas bateria os músicos precisam desembolsar em torno de R$1 mil a R$1,5 mil para poder adquirir um case.

DIVULGAÇÃO - FENDER

Mas se você procurar no dicionário o que significa musica você irá encontrar lá que música é “arte e técnica de combinar sons de maneira agradável ao ouvido, por meio da voz ou de instrumentos”, então isso nos faz concluir que a música não vive só de gaitas. E através desses textos iremos dar dicas de como funciona o comércio de venda de instrumentos musicais em Santa Maria. Na cidade existem diversas opções de vendas e oficinas de consertos de outros instrumentos. Tanto o músico mais exigente quanto o iniciante pode encontrar o instrumento desejado. Há lojas especializadas em produtos novos, de marcas nacionais e importadas, mas também têm aquelas que vendem produtos usados com os preços mais baixos. Uma opção é a Eletrônica Guerra, que vende produtos novos e algumas relíquias usadas. Guitarras e Violões são os que aparecem com mais freqüência para serem vendidos entre os usados. Os preços variam em torno de R$ 150,00 as guitarras e R$ 100,00, os violões. (confira na foto abaixo). Além disso, a loja possui também uma oficina que conserta todos os tipos de instrumentos. Já quem procura instrumentos novos, encontra diversas opções espalhadas pela cidade. Os preços dos instrumentos variam de acordo com a qualidade e com a origem da fabricação. Como a tecnologia avança a passos largos, as novidades no mundo dos instrumentos não fica para trás. É possível adquirir instrumentos cada vez mais sofisticados e de qualidade.

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DIVULGAÇÃO - PACIFIC DRUMS

A venda de instrumentos é mais intensa durante o final do ano, segundo Hilton Palma, proprietário de uma loja especializada neste tipo de comércio da Avenida Rio Branco, em Santa Maria, o instrumento mais vendido na sua loja é o violão. As marcas Tagima, Strinberg e Shelter são as mais procuradas. Já violões da marca Andaluz são bem procurados também pelo baixo preço, um violão dessa marca novo custa na média R$129,00. Os contrabaixos e as guitarras também têm uma procura alta por parte dos músicos. A marca americana Strinberg que produz violões, guitarras e contrabaixos na China é um das marcas vendidas na cidade com o preço mais baixo. As guitarras da Strinberg custam na média R$250,00, já os contrabaixos ficam em torno de R$460,00. Instrumentos de percussão, como bateria, o músico terá que desembolsar mais dinheiro. As baterias mais baratas encontradas na cidade custam entre R$1 mil e R$.1.200,00. Mas quem estiver procurando outro tipo de instrumento de percussão como o pandeiro meia-lua poderá encontrar um por até R$25,00. Quem estiver procurando instrumentos de sopro também encontrará diversas opções na cidade. Flautas Doces, por exemplo, da marca japonesa Yamaha custam em media R$25,00, apenas. Mas também há aqueles instrumentos que pesaram mais no bolso do musico, como é o caso de quem estiver interessado em um Saxofone da mesma marca Yamaha que custa em torno de R$6,5 mil. A marca Yamaha também é uma das marcas mais procuradas para quem toca teclado, o modelo mais barato dessa marca encontrado na cidade custa R$ 495,00.

LAND

ÇÃO - RO

DIVULGA

Trocas O cliente que não estiver satisfeito com o instrumento comprado ou verificar algum problema, pode trocar o produto. Os instrumentos de marcas nacionais têm garantia de seis meses a um ano. Já os importados podem ser trocados em até 90 dias após a compra. Para a troca é obrigatória a apresentação da nota fiscal.

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PLURAL

Texto e diagramação de Franciele Kettermann, Mariane Dall’Asta e Mauren Gnoccato

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M O B

A cultura musical em Santa Maria é múltipla e contribui, numa velocidade incomparável, para que a disseminação de estilos musicais seja, também, variada. Essa realidade pródiga é estampada no surgimento e consequente permanência de ambientes que agregam entre suas dinâmicas culturais, a música. O Macondo Lugar e o Boteco do Rosário são exemplos consistentes de como essa inserção é referência em Santa Maria. “Quando abrimos o Macondo Lugar não tínhamos a intenção de trabalhar com uma casa de shows. A ideia era que o espaço abrigasse linguagens artísticas das mais variadas. A casa se tornou, de forma gradual, um palco para a música independente num processo muito interessante, quando a mobilização de artistas, público e gestores apontou para esse caminho”, explica Atílio Alencar, sócio do Macondo.

No rastro desse trâmite, o mesmo aconteceu com o Boteco do Rosário. Leornado Retamoso Palma, 43 anos, um dos sócios do Bar, que abriu as portas no dia 25 de janeiro deste ano, revela como a música ganhou espaço nesse empreendimento. “A música praticamente conquistou dimensão no Boteco como expressão forte e irrecusável. Desde que a demanda dos músicos por campo de trabalho atravessou o ambiente que havíamos criado, compreendemos o Boteco do Rosário como espaço que acolhe um pouco, não tudo, da diversidade da produção musical local (Rock, Blues, Jazz, Samba, Samba-rock, Soul, Eletro-rock, MPB, Música de Câmara, Choro, Reggae)”. SEGUE >> Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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M O T M

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O universo do

Rock

A desmedida popularidade e abrangência no mundo inteiro do Rock’n’roll garantiu-lhe um impacto social ímpar. Muito mais que um cândido gênero musical, sua essência rebelde, inquisitora e ativista, com intercâmbio de elementos da música branca e negra, influencia desde o princípio até a contemporaneidade, estilos de vida, moda, atitudes e linguagem. Seus primeiros passos foram trilhados no final da década de 40, início dos anos 50 nos Estados Unidos, pela fusão de dois gêneros, que apesar de populares, ocupavam segmentos marginais no mercado americano. Estes gêneros musicais, vivos ainda hoje, são o Rhythm’n’blues (C&B) e o Country & Western (C&W). O primeiro tem raiz no Blues, estilo de canção dos negros do sul dos EUA. O segundo vem do folclore dos britânicos que colonizaram a região. É a essa herança que o Rock deve seu ritmo base: o compasso quatro por quatro temperado com um contratempo (acento em batidas normalmente fracas). Na harmonia e na métrica cada estrofe compõe um bloco de 12 compassos, com o uso apenas dos três acordes básicos, os de primeiro, quarto e quinto grau. A denominação deste novo gênero, que revolucionou a maneira de fazer e ouvir música veio de um disc-jockeynorte-americado, Alan Freed, que se inspirou em um velho blues: Mydaddyhe rocks me with a steadyroll (Meu homem me embala com um balanço legal).

Ao quebrar a barreira racial e conquistar uma legião de fãs pelo mundo, o Rock’n’roll ainda derivou muitos estilos musicais independentes: Progressivo, Punk, Heavy Metal e Alternativo são apenas alguns deles. Estes vários subgêneros - muitas vezes sem o contratempo característico originário - são derivados, por vezes, simplesmente como Rock. Um desses rótulos que surgiu ainda antes da virada da década de 70 foi o Rock Progressivo, influenciado pela música clássica e pelas inovações tecnológicas. O grupo de maior destaque nesta categoria é o inglês Pink Floyd, Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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formado em 1965. Já o Punk é um movimento de resgate da simplicidade e da energia mais básicas do Rock’n’roll e surgiu nos Estados Unidos em meados dos anos 70, do século passado. Os americanos Ramones, formados em 1974, são considerados o primeiro grupo punk da história. Na vertente Heavy Metal bandas inglesas como Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple se firmaram como importantes representantes, no início dos anos setenta. Toda essa explosão em ritmo acelerado teve seu marco inicial no Brasil em outubro de 1955, quando, na voz de Nora Ney, foi lançada a música “Ronda das Horas”, uma versão de Rock AroundtheClock, um dos primeiros sucessos do gênero gravado originalmente por Bill Halley. A partir de então, surgia uma nova juventude, símbolo da contestação dos padrões da época. Formada a forte cena musical com ênfase na potência sonora e no ritmo radical, atribui-se uma data para curtir Rock’n’roll e comemorar sua existência. A partir de um evento contra a fome na Etiópia que reuniu ícones do gênero em 1985, 13 de julho consagra-se o dia Mundial do Rock. O festival Live Aid foi realizado de maneira simultânea no estádio Wembley, em Londres, na Inglaterra e no estádio JFK, na Filadélfia, nos Estados Unidos. Participaram grandes nomes do Rock, como Duran Duran, Santana, Bob Dylan, The Who e Queen. O resultado foram 16 horas de música e cem milhões de dólares arrecadados e enviados para a África.

O Rock em Santa Maria

como tudo começou Na cidade, a inserção do gênero e a valorização de bandas locais não obteve um princípio fácil. Somou muitos obstáculos. O principal deles foi o fato de que na época, anos 80/90, a grande mídia desprezava o som produzido no interior do Estado. Em desafio a essa barreira, às bandas independentes Fuga, Nocet, Doce Veneno e Feeling, todas de Santa Maria, gravaram um CD com composições próprias, o antológico e memorável “Elo um” lançado em 1993. A produção foi um marco na história do rock na cidade, pois dessa ousadia surgiu a primeira coletânea de bandas gaúchas produzida fora do circuito de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

Esse período teve como seu grande hino a canção Saudade, composição de Rafael Ritzel e cantada por Pylla Kroth (ambos da banda Fuga). Efervescia em Santa Maria o movimento Rock. As bandas construíram uma relação que se leva tempo para se estabelecer com o público. O elo se disseminou. As pessoas se deslocavam de suas cidades natais para prestigiarem os shows, que tinham como trunfo composições autorais. Um estímulo para as novas gerações que, de fato, dão sequência a essa conquista. Muitas das bandas locais se destacam não só pelos covers, mas também pelas suas músicas próprias. Consolida-se assim o Rock. Uma explosão em ritmo acelerado que conquistou Santa Maria. SEGUE >>

Coletânea Elo Um lançada em 1993 pelas bandas Fuga, Nocet, Doce Veneno e Feeling Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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Rock de

MARIANE DALL’ASTA

gerações “Desde que nasci eu tenho Vinil. Eu ouvia os discos de Progressivo, Hard Rock, Heavy Metal e Tropicália que o pai tem. Minha relação com a música vem desde pequeno. Eu tenho uma característica que é a Sinestesia Auditivo/Visual”, revela Luis David F. Padilha, 20 anos, acadêmico do curso de Publicidade & Propaganda da Unifra. Somam-se gerações na paixão pelo Rock. O estudante reune mais de 200 vinis desde a coleção de seu pai, Luiz Padilha, até os discos acrescentados por ele. O estudante, de fato, aprecia e conhece muito bem esse universo. Em entrevista, suas palavras argumentam cada preferência dentro dos mais diversos cenários do gênero. Em primeiro momento, seu entusiasmo foi em direção ao seu maior ícone. “Disparado o Pink Floyd é a melhor banda do planeta pra mim. Pela forma que conheci ela, pelo tipo de som que ela faz, e por alguns motivos bem pessoais”, afirma. Porém, um amante do Rock não se limita. “Costumo ouvir muitas bandas que não são do mainstream. Eu acho que tem várias bandas excelentes que não obtiveram sucesso em vendas no cenário fonográfico mundial de 60 até hoje. Posso citar de bandas brasileiras “desconhecidas” a banda Karma, e o Recordando O Vale Das Maçãs. Do Cenário do Rock Psicodélico eu sou apaixonado pelo som do Strawberry Alarm Clock, e do Iron Butterfly. Do Hard Rock eu ouço muito a banda Dust, o Captain Beyond. Da cena Heavy

“ Metal ouço Lucifer’s Friend e Ruphus. Aí dá pra puxar bem o Rock Progressivo meu gênero musical favorito”. Para ele a lista de bandas é extensa. “Então vou pescar só por regiões mesmo. Rock Progressivo inglês e o italiano são os que eu mais costumo ouvir”, relata o jovem. O Rock é muito mais do que um tipo de música: ele se tornou uma maneira de ser, uma ótica da realidade, uma forma de comportamento. O Rock é e se define pelo seu público, que, por não ser uniforme, por variar individual e coletivamente, exige do Rock a mesma polimorfia (CHACON, 1985, p. 18-19). Essa possibilidade de mudar de formas é sua melhor descrição. O Rock’n’roll não é monotemático. “Pra mim o Rock representa uma questão de afinidade mesmo. Não sei se acredito na definição de “estilo de vida”, porque na verdade beber, fazer festa e rir todo mundo faz. Cada um do seu jeito. Eu particularmente não uso preto, odeio a cor preta para vestimenta. E isto não me faz menos metaleiro do que muita galera de cabelo comprido que tem solta por Santa Maria. O

A música sempre fez parte da minha vida, das belas artes sem dúvidas é que eu mais tenho contato.

viver Rock ‘n’ roll pra mim é apreciar um bom e velho Som de 60, 70, 80, 90. Sem tanta relevância nas cores, em cabelos compridos ou curtos”, reflete Luis David. Então, o gênero caracteriza estereótipos, dita comportamentos, mas não se restringe somente há isso, para defini-lo, Rock é arte, som e bom tom adequado a quem souber ouvi-lo.

Sinestesia Auditivo/Visual É uma percepção sensorial que o cérebro é capaz de reproduzir, anexando cores ao som. É a capacidade de identificar tom de cores nos diferentes tipos de harmonias sonoras.

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ARTE SOBRE FOTO DE DIVULGAÇÃO

Sexo, drogas e Rock’n’roll

Um lema, um estereótipo e um preconceito O que cai por terra e que cada termo presente nessa expressão foi requalificado pelas práticas e usos desde o seu surgimento. Assim, segundo Leonardo Palma, sócio do Boteco do Rosário, precisamos de um olhar cuidadoso e atento para que se assuma uma perspectiva interessante dessa trilogia. “De vários modos, há grandes aprendizados que modificam em cada período o que essa associação pode sugerir. Já é quase impossível separar afetos em geral, amizade, empatia e sexo, como coisas disjuntas e extremamente distintas, por exemplo. Muitas dessacralizações foram efetuadas e medos, muitos medos superados”, declara. SEGUE >>

DIVULGAÇÃO - MACONDO LUGAR

A maior bandeira dos anos 50, do século passado, uma geração que encontrou na música a forma máxima de se expressar. Quando se fala em comportamento no mundo do Rock’n’roll, logo vem à mente as excentricidades, a forma clichê do estereótipo de rebeldia, e o envolvimento com drogas por parte dos seus astros, e das pessoas que os cercam. Não é segredo para ninguém essa associação vide a trilogia “sexo, drogas e Rock’n’roll”, que figuram desde simples letras musicais à nomes e contextos inteiros de bandas. Bob Dylan, o então poeta norte-americano já fazia a sua apologia as drogas, mesmo que de forma metafórica, em Mr. Tamborine Man. Sendo assim, o lema carrega de fato capítulos dessa contestadora classe artística. Mas, antes das drogas e das atitudes “de pulso” algo, por vezes imerso desse contexto, se sobressai: a liberdade de expressão. É evidente que muitos tabus foram criados e uma imagem negativa foi injetada ao gênero, que apesar de radial não é mentirosa. Porém, pintar uma cena marginal, intolerante, e violenta na face de quem tem por opção musical ou mesmo por estilo de vida o Rock’n’roll é preconceituoso, generalizado e ultrapassado, como expõe Atílio Alencar, proprietário do Macondo Lugar. “O lema diz respeito a uma época ‘romântica’ do Rock, quando a ânsia juvenil de subversão era superficialmente contemplada por esta trilogia. Hoje, Rock, ou melhor, cultura pop, pode ser associada a tudo: política, arte, revolução, mercado, etc. E claro, sexo e drogas também. A questão pra mim é como equilibrar expressão, sustentabilidade e satisfação!”, argumenta.

Atílio Alencar (esq.) e Leonardo Retamoso Palma

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Dos campos às universidades Verão de 2011. Vinícius sai com os amigos para uma noite embalada ao som da dupla santa-mariense Sandro e Cícero. Ao mesmo tempo, Vitória arruma-se para curtir a noite sertaneja com as amigas, em comemoração ao seu aniversário de 21 anos. Durante a noite, os dois se encontram e, através de amigos em comum, começam a conversar. Enquanto trocavam as primeiras impressões, a dupla sertaneja tocou a música Adrenalina, do Luan Santana. Vinícius aproveita para convidar Vitória para dançar. O encontro proporcionou a aproximação do casal. Desde então, ao manter contato, todos os dias, decidiram namorar um mês após a festa em que se conheceram. A música ficou e ficará marcada na vida e na história do relacionamento. “É só a música do Luan tocar que passa uma novela na minha cabeça. Lembro do momento como se fosse hoje”, declara a jovem. O estilo musical, que serviu de elo para unir o casal, se espalha Brasil afora como a nova sensação que arremata milhões de fãs, sem delimitar classe social e faixa etária. E, como toda música, com o sertanejo universitário não poderia ser diferente. Ele acaba por marcar uma época, um contexto histórico e momentos da vida das pessoas, como a do casal Vinícius e Vitória. Sandro e Cícero, uma das duplas responsáveis pelo sucesso do gênero em Santa Maria, se sentem orgulhosos ao saber que a música que tocam motiva novas relações dentre os apreciado-

DIVULGAÇÃO - ABSINTO HALL

A permanecia dos gêneros tradicionais, como o Rock’n’roll, não impediu a transformação musical. O sertanejo ganhou vertentes “universitárias”.

Dupla santamariense Sandro & Cícero no Absinto Hall

res do novo gênero. “É tão bacana reflexão e denúncia social. “Gesabermos que de alguma forma ralmente, as pessoas que nos contribuímos para a concretiza- curtem, gostam também de oução de relacionamentos, mesmo tros ritmos. Para cada momento que de forma indireta”. há um estilo de música”, defende O sertanejo universitário Sandro de Paula. abrange um público de acadêO fato é que o sertanejo saiu micos, classe média, que veem dos campos e chegou à cidade. no estilo uma alternativa Com características pecude fuga, de diversão liares, uma batida difee entretenimento. renciada, com letras No entanto, é um adaptadas das O sertanejo ritmo contesgravações sertauniversitário abrange tado e julgado nejas antigas e por determinasob influências um público que vê no dos grupos. “A eletrônicas, o estilo uma alternativa de crítica deles é estilo ganhou quanto às letras os palcos e a fuga, de diversão e das músicas, dipreferência das entretenimento zem que não tem pessoas. Hoje, o conteúdo”, afirma sertanejo universiCícero Guedes. O que tário é presença conocorre é que o sertanejo firmada nos mp3, iPod e universitário é um estilo prefe- celulares da maioria dos jovens e rencial para diversão e não para virou “febre” nas baladas. Rev ista Plural 2011 / IIº semestre

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Festa e público garantido

Confirmando o sucesso desse novo desmembramento do sertanejo, Kaue Friedhein, 22 anos, gerente do Reduto Pub, garante que o Sertanejo Universitário ganhou popularidade do público baladeiro, devido à suas letras, com temas jovens e atuais como curtição. “Elas falam de coisas que acontecem na noite, na balada, por isso essa aceitação tão repentina”. O novo estilo é responsável pela animação no estabelecimento toda sexta-feira. “Em média, durante o mês, temos um público de 800 pessoas por noite”, afirma Friedhein. Antes da explosão do sertanejo universitário, os estilos tocados no Reduto Pub eram o Tchê Music, o Forró e a Música Gaúcha. No entanto, ao perceber a repercussão entre as pessoas do novo estilo que surgira, o gerente decidiu colocá-lo nas atrações da casa. “Elegemos o sertanejo universitário como mais um dos estilos para tocarmos nas festas. É sucesso garantido, a noite lota”, declara. Já para outra casa da cidade, o estilo não trouxe uma representatividade significativa das demais festas e que ratifique esse sucesso repentino. “Para

nós, o estouro do Sertanejo Universitário não justificou uma diferença expressiva de público. O número de pessoas que frequentam as nossas outras festas não varia para as noites sertanejas”, revela Mauro Hoffmann, proprietário do Absinto Hall. O público apresenta visões distintas. Para uns é um estilo que garante a diversão e está mais intrínseco a vida de algumas pessoas do que muitos outros tradicionais. “Todo mundo tem um lado brega”, assume Aline Gonçalves, 16 anos, estudante do ensino médio. “Crescemos ouvindo essas músicas e, quando nos damos conta, sabemos cantar todas elas”, declara a jovem, amante do novo segmento do sertanejo. Em contraponto a opinião da estudante e mais preocupado em ouvir o som e as letras, Pedro Henrique Santos, 25 anos, engenheiro civil, afirma: “o bom da música é o poder de reflexão que ela proporciona ao escutá-la. As letras das músicas com conteúdos de cunho político-social, que reivindicam alguma causa são as melhores”, argumenta.

“Todo mundo tem um lado brega”

História do gênero João Bosco & Vinícius foram os pioneiros a adaptar o sertanejo do caipira do interior aos jovens universitários dos grandes centros. O sertanejo universitário popularizou e mesclou diversos ritmos o que gerou uma aceitação muito grande do público. Após, sucederam-se inúmeras duplas e cantores oriundo desse novo estilo que conquistou os brasileiros.

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