Revista CHICO nº 15 - Abril de 2024

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REVISTA DO COMITÊ DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO FRANCISCO - MAIO DE 2024

Expediente

Presidente : José Maciel Nunes de Oliveira

Vice-presidente : Marcus Vinícius Polignano

Secretário : Almacks Luiz Carneiro da Silva

Produzido pela Assessoria de Comunicação do CBHSF, Tanto Expresso Comunicação e Mobilização Social

Coordenação-geral : Paulo Vilela, Pedro Vilela e Rodrigo de Angelis

Coordenação de comunicação : Mariana Martins

Edição : Karla Monteiro

Assistente editorial: Arthur de Viveiros

Textos : Andréia Vitório, Arthur de Viveiros, Hylda Cavalcante, Karla Monteiro, Juciana Cavalcante, Paulo Barcala e Mariana Martins

Projeto gráfico: Márcio Barbalho

Diagramação : Albino Papa

Fotos: Azael Gois, Bianca Aun, Edson Oliveira, Ércio Cardoso, Fernando Piancastelli, Guilherme Martimon, João Alves, Léo Boi, Manuela Cavadas, Pedro Vilela, ShutterStock, Taíssa Dias e Walberto Maciel

Capa: Fernando Piancastelli

Ilustrações : Albino Papa

Revisão : Isis Pinto

Impressão : EGL Editores

Tiragem : 3500 exemplares

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Direitos Reservados. Permitido o uso das informações desde que citada a fonte.

Secretaria do Comitê :

Rua Carijós, 166, 5º andar, Centro - Belo Horizonte - MG CEP: 30120-060 - (31) 3207-8500 secretaria@cbhsaofrancisco.org.br

Atendimento aos usuários de recursos hídricos na bacia do Rio São Francisco: 0800-031-1607

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SUMÁRIO

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Editorial 6

Páginas verdes

Peixe no Prato

20 Economia Prós
Contras 16 Revitalização Perspectivas
e
10 Meio Ambiente Revitalização, uma história

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Meio Ambiente

Mais Sertão

50 Ensaio

Chico Rico

Chico Vivo

36 Cultura

48 Aconteceu

32 Alerta Ambiental Bomba Relógio O Cartógrafo

40 Turismo O Jardim do Brasil

NEM TUDO SÃO FLORES

Editorial 4

Há exatos 20 anos, em 2004, foi lançado pelo governo federal o primeiro “Programa de Revitalização do São Francisco”. Desde então, outros programas propondo a recuperação ambiental do Velho Chico se sucederam. Mas o que significa exatamente revitalizar um rio? Segundo o Dicionário Aurélio, revitalizar quer dizer dar mais vitalidade ou vigor, imprimir vida, reviver. Para compreender o que pensam aqueles envolvidos nessa grande questão, tema da campanha de comunicação e mobilização social do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), fomos ouvir seis envolvidos com a causa do Velho Chico.

Além disso, na reportagem “Revitalização, uma história”, investigamos o presente e o passado, traçando a linha do tempo até desaguar em 2024. De acordo com o presidente do CBHSF, Maciel Oliveira, o momento agora requer mais ação e mais firmeza. Ao longo dos anos, o CBHSF já apoiou e desenvolveu, a partir de recursos oriundos da cobrança pelo uso da água, um total de 66 projetos que contribuem para a saúde do São Francisco. “A política nacional de recursos hídricos está parada, o que é inadmissível. Os próximos passos precisam ser decididos, definidos e a revitalização entra como nossa bandeira principal”, afirmou Oliveira.

Nas Páginas Verdes, entrevistamos o ministro da Pesca e Aquicultura, André de Paula. O assunto é a piscicultura, fundamental para o desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar da populaçãosobretudo da população ribeirinha.

Hoje, são cerca de 20 milhões de pessoas vivendo às margens do Velho Chico. Entre as principais atividades ao longo do rio estão a geração de energia elétrica e o agronegócio. Na reportagem “Prós e Contras”, esmiuçamos o que se deve e o que não se deve fazer para continuar garantindo comida e luz num cenário cada vez mais adverso. Como se vê na reportagem “Mais Sertão”, em duas décadas o Brasil ganhou cerca de 350 mil quilômetros quadrados de Semiárido.

Como seria o São Francisco antes de tanta degradação ambiental? Pois um alemão, nascido em 1797 na cidade de Hanôver, Henrique Halfeld, nos conta na reportagem “O Cartógrafo”. De 1852 a 1854, ele mapeou palmo a palmo o desconhecido rio, traçando um completo mapa contendo 30 pranchas, além de um curioso relato de viagem.

Para finalizar, uma viagem pelo Parque Nacional da Serra do Cipó, que o paisagista Burle Marx chamou de “O Jardim do Brasil”. Nesta florida edição da CHICO, você vai conhecer algumas das espécies que compõem a diversidade botânica do Parque Nacional da Serra do Cipó, que há séculos vem impressionando especialistas.

Nem tudo são flores, mas as flores, com sua beleza, nos lembram que a luta pela preservação da natureza tem seus prêmios.

Boa Leitura!

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Foto: Bianca Aun

Páginas verdes

Por: Hylda Cavalcanti

Fotos: Pedro Vilela e Guilherme Martimon (MAPA)

PEIXE NO PRATO

Para o ministro da Pesca e Aquicultura, cessão de uso de águas de reservatórios para a piscicultura é iniciativa fundamental para o desenvolvimento sustentável e a segurança alimentar da população. Nesta entrevista, ele nos conta também sobre as cessões para a piscicultura no reservatório de Itaparica (BA), no Submédio São Francisco

No ano passado, após reunião com o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) avançou na liberação de áreas para a piscicultura, incluindo cessões no reservatório de Itaparica (BA). De acordo com o ministro André de Paula, também presidente do PSD de Pernambuco, a meta, daqui por diante, é assinar entre 20 e 30 novos contratos de cessão de uso, com produção estimada em 23 mil toneladas de peixes por ano.

“Trata-se de iniciativa fundamental para o desenvolvimento sustentável, geração de emprego e renda, inclusão social, e, sobretudo, segurança alimentar da população brasileira”, afirmou o ministro.

Para o ministro, porém, existem dois itens essenciais neste processo. O primeiro, o fato da aquicultura ser uma via crucial para garantir a sustentabilidade econômica e ambiental, além de ser um pilar na luta contra a insegurança alimentar. O segundo é a importância de, tanto o empreendedor, como o produtor de peixes, também monitorarem a qualidade de águas e sedimento: “O potencial da aquicultura é imenso, mas precisamos sempre de cuidados na sua implementação”.

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Em 2023, depois que integrantes do CBHSF pleitearam a legalização das pisciculturas de cativeiro em situação irregular, localizadas no Submédio do São Francisco, o Ministério envidou ações que culminaram na cessão de uso de 12 mil hectares no reservatório de Itaparica (BA). Existe algum projeto ou política voltada para a piscicultura?

Reconhecemos a vitalidade das águas da União como um recurso estratégico nacional. A cessão de uso dessas águas para a aquicultura é iniciativa fundamental para o desenvolvimento sustentável, a geração de emprego e renda, a inclusão social, e, sobretudo, a segurança alimentar. De fato, no último ano, avançamos significativamente nessa frente, com a liberação de áreas para a piscicultura, incluindo as cessões no reservatório de Itaparica (BA). Essas ações refletem nosso compromisso não só com a regularização de atividades existentes, mas também com a expansão responsável do setor.

O sucesso dessas iniciativas depende da colaboração entre diversos órgãos, incluindo a Marinha do Brasil e a Secretaria de Patrimônio da União. Com a finalidade de promover a desburocratização e agilizar os processos de cessão de uso, o ministério tem implementado medidas para tornar o procedimento mais célere e proporcionar segurança jurídica aos produtores. O número de pisciculturas que serão contempladas com essas políticas está em constante avaliação, visando maximizar os benefícios para a sociedade enquanto garantimos a conservação dos nossos recursos hídricos.

Quais as metas de regularização dessas pisciculturas em situação irregular?

Para 2024, aproximadamente 200 novos contratos. Para o Rio São Francisco, acreditamos que vamos conseguir assinar entre 20 e 30 novos contratos de cessão de uso em 2024, com produção estimada em 23 mil toneladas de peixes por ano. É importante ressaltar que a regularização das cessões de uso depende da aprovação, também, de outros órgãos como a Marinha e a Secretaria do Patrimônio da União – SPU.

Como o senhor está avaliando o avanço da atividade aquícola e pesqueira em relação às questões hídricas e ambientais?

Acreditamos na aquicultura sustentável. Falando em reservatórios, cada um tem uma capacidade de suporte. E essa capacidade de suporte existe para que a produção não cause danos ambientais. A regularização da atividade faz com que essa produção permaneça dentro dos limites permitidos minimizando qualquer impacto ao meio ambiente.

Firmamos, ainda, parcerias para monitorar os reservatórios e avaliar os impactos da atividade. Mas, cabe salientar, que o produtor de peixes também deve monitorar a qualidade de águas e sedimento. O potencial da aquicultura é imenso, mas precisamos sempre de cuidados na implementação. Estamos investindo bastante em ações de capacitação e assistência técnica, além de apoio na regularização da atividade.

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O ministério tem ou está fazendo algum mapeamento sobre as atividades de piscicultura no São Francisco?

O ministério mantém e atualiza constantemente um banco de dados que abrange todos os pedidos de cessão de uso de águas da União para fins de aquicultura, bem como o status de cada processo. Esse banco de dados é acessível publicamente por meio de um mapa interativo, disponível em nosso site, que permite visualizar com precisão a localização dos projetos existentes e aqueles que ainda requerem regularização.

Reconhecemos a importância de liberar capacidades de suporte ociosas para novos projetos de piscicultura, sempre dentro de um marco regulatório que assegure a proteção ambiental e o uso sustentável dos recursos hídricos. Por isso, estamos empenhados em trabalhar lado a lado com os produtores para facilitar o processo de regularização.

A legalização não apenas beneficia o ambiente e a sociedade como um todo, mas também oferece aos produtores a oportunidade de acesso a mercados, financiamentos e novas tecnologias.

Em relação ao São Francisco, quais os projetos do ministério?

Falando especificamente da bacia do São Francisco, pode ser destacada uma iniciativa pioneira, em que o Ministério da Pesca e Aquicultura, em colaboração com a Universidade Federal de Alagoas e outros importantes parceiros, lançou um projeto de capacitação destinado a 300 aquicultores no Baixo São Francisco, abrangendo 10 municípios entre Alagoas e Sergipe.

A ação faz parte da Expedição Científica do São Francisco, iniciativa multidisciplinar que engloba meio ambiente, saúde e aspectos sociais, envolvendo pesquisadores de diversas universidades em uma jornada ao longo do rio. Para os aquicultores, o projeto oferece uma oportunidade única de capacitação técnica, com cursos que cobrem desde a introdução à aquicultura até técnicas avançadas de manejo. Além da formação, os participantes receberão assistência técnica gratuita, fornecimento de alevinos e ração para o primeiro ciclo produtivo, bem como kits para monitoramento da qualidade da água, garantindo um início sólido de suas atividades.

Essa iniciativa visa não apenas desenvolver a capacidade técnica e operacional dos aquicultores locais, mas também impulsionar o setor de aquicultura como um todo na região do Baixo São Francisco. Com esses esforços conjuntos, o projeto espera criar um impacto positivo duradouro na economia local, na sustentabilidade ambiental e no bem-estar social das comunidades ribeirinhas.

O que o Ministério da Pesca e Aquicultura possui, em termos de políticas públicas, para desenvolver nos próximos anos a aquicultura e a pesca artesanal?

Publicamos o Proaqui (Programa Nacional de Aquicultura Sustentável), através de um decreto que norteia as ações do MPA relacionadas à aquicultura. Foi pensada uma série de ações prioritárias. Cada uma dessas ações gerou parcerias, projetos e benefícios para os aquicultores. Entre elas estão o estímulo à regularização ambiental e fundiária, a geração e gestão de dados e informações aquícolas, o fomento das diferentes cadeias produtivas da aquicultura e o ordenamento e desenvolvimento da aquicultura em águas da União

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Além disso, o Proaqui engloba também ações de estímulo à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação no setor da aquicultura, incentivo às boas práticas de sanidade aquícola, biossegurança e bem-estar animal, atração de investimentos públicos e privados para aquicultura e seguro aquícola, promoção da comunicação e do marketing na aquicultura. Sem falar no estímulo à economia circular e à bioeconomia e nas ações de desenvolvimento e competitividade do mercado interno e externo.

Serão implantadas, também, iniciativas de apoio às certificações como forma de agregar valor aos produtos da aquicultura, fortalecimento da aquicultura familiar e dos arranjos produtivos locais, incentivo ao associativismo e ao cooperativismo, qualificação e valorização dos recursos humanos da aquicultura e o desenvolvimento da assistência técnica e extensão aquícola.

Algumas dessas ações resultaram, por exemplo, em articulações com o Congresso Nacional para incluir a desoneração da ração para peixes na reforma tributária. Essa, aliás, é uma ação que visa baixar o custo de produção e melhorar a vida do produtor. Acreditamos que muitos frutos serão colhidos pelos produtores e envolvidos na cadeia produtiva da aquicultura em 2024.

O que acha da política de fomento em vigor atualmente para a pesca e a aquicultura?

A política de fomento é fundamental para o desenvolvimento do nosso setor. Precisamos sempre saber o que aquicultores, pescadores, armadores, industriais, comerciantes, pesquisadores e outros representantes da sociedade civil precisam. Não é eficiente oferecer políticas públicas apenas com aquilo que pensamos ser importante. Precisamos de diálogo objetivo e foco nas entregas. Para isso, contamos com o nosso conselho, o CONAPE (Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca), reinstalado em 2023. Que vai reaproximar a sociedade das nossas políticas. Contamos, ainda, com os Comitês Permanentes de Gestão (CPGs) para orientar mais ainda o rumo de nossas ações.

E quanto à produção de tilápias no Rio São Francisco? Como está caminhando essa cultura, que sempre chamou a atenção no país?

Segundo dados do boletim da aquicultura em águas da União, referente à produção de 2022, na bacia do Rio São Francisco foram produzidas 24.549,37 toneladas de tilápias e a perspectiva é que esse número aumente nos próximos anos, principalmente com regularização de novas áreas. A ampliação da produção de tilápia decorre da regularização das pisciculturas informais e da implementação de novos empreendimentos.

O MPA vem trabalhando na gestão dos contratos de cessão de uso e das capacidades de suporte dos reservatórios das hidrelétricas nas águas do Rio São Francisco, visando disponibilizar novas cotas para produção em tanques rede. A gestão dos contratos de cessão de uso é realizada por meio do acompanhamento dos dados de produções, informados no relatório anual de produção (RAP), e fiscalização in loco nas áreas de cultivo.

Como está sendo a relação do ministério com o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco?

Temos estreita relação com o Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco. O MPA tem realizado reuniões com seus representantes para discutir sobre a regularização das cessões de uso e a gestão dos usos múltiplos das águas. Contudo, buscamos sempre o fortalecimento dessa relação, pois o Comitê tem um papel fundamental para o desenvolvimento sustentável da piscicultura.

Num governo que fala tanto em segurança alimentar, quais os planos mais concretos para colocar o peixe na mesa da população?

O Brasil tem um potencial imenso para a produção aquícola e essa produção precisa aumentar para estar presente na mesa de quem precisa. O pescado é uma carne nobre, saudável e devemos estimular o seu consumo desde a infância. Desde o ano passado, o MPA e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao Ministério da Educação, estão preparando uma ação conjunta para incluir o pescado na merenda escolar. A iniciativa será fundamental para criar o hábito de consumir peixes.

Outra ação importante foi a inclusão do pescado na nova cesta básica brasileira. Recentemente, mais especificamente no dia 7 de março deste ano, foi publicada a Portaria 966/24, do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS).

Além disso, a revisão do arcabouço regulatório está em curso, a fim de modernizar nossa legislação pesqueira e caminhar no ritmo do desenvolvimento sustentável. Não é fácil. Desafios como o próprio tamanho do país, a necessidade de infraestrutura de gestão compatível e o respeito às tradições e particularidades de cada região elevam o grau de dificuldade. Mas acredito que estamos no caminho certo.

Muitas ações dos ministérios dependem de recursos definidos pelo Orçamento Geral da União (OGU), mas várias outras podem ser incluídas em programas já implantados. Que programas o senhor pode citar como mais importante(s) da pasta, aplicado(s) a todas as áreas, em especial a região da bacia do São Francisco?

A Lei nº 14.802, de 10 de janeiro de 2024, que instituiu o Plano Plurianual (PPA 2024-2027), trouxe o objetivo estratégico “Fortalecer a agricultura familiar, agronegócio sustentável, a pesca e aquicultura” incluído nos diversos Programas das outras pastas ministeriais. É um grande avanço para a aquicultura estar presente de forma marcante em outros ministérios. Podemos citar como exemplo programas como Agropecuária Sustentável (Ministério da Agricultura e Pecuária), Bioeconomia para um novo ciclo de prosperidade (Ministério do Meio Ambiente), Agricultura Familiar e Agroecologia (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura familiar) e muitos outros.

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REVITA LIZAÇÃO, UMA HISTÓRIA

Drone sobre área rural de Paracatu, MG
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Ambiente
Meio

Por: Arthur de Viveiros, com

Mariana Martins e Taíssa Dias Fotos: Léo Boi e Taíssa Dias

Na pauta desde pelo menos 2004, em sucessivos programas do governo federal, a revitalização do Rio São Francisco ressurge como o grande tema do ano de 2024

“Velho Chico: Revitalizar o rio, preservar riquezas”: o mote da campanha de comunicação e mobilização social do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) traça o verbo de 2024. Neste ano, o objetivo é um só: arregaçar as mangas, impulsionando a tão falada revitalização do Velho Chico, que, desde 2004, vem sendo prevista em diferentes programas do governo federal. Ao longo dos anos, o CBHSF já apoiou e desenvolveu, a partir de recursos oriundos da cobrança pelo uso da água, um total de 66 projetos que contribuem para a saúde do São Francisco. Agora, porém, segundo afirmou o presidente do Comitê, Maciel Oliveira, urge jogar o foco de luz na questão.

“A política nacional de recursos hídricos está parada, o que é inadmissível. Os próximos passos precisam ser decididos, definidos, e a revitalização entra como nossa bandeira principal. Este país precisa tratar a política das águas como prioritária. Enfrentaremos as dificuldades, não vamos parar, continuaremos cobrando dos governos”, comentou ele, durante a segunda plenária de 2023, em Penedo, Alagoas:

“Na nossa última plenária, em Belo Horizonte (MG), debatemos essa questão da revitalização do Rio São Francisco. O TCU fez a recomendação ao governo federal e fomos à Brasília para participar de reuniões junto ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos”.

O ano de 2024 começou com ação. Em março, a Diretoria Colegiada (Direc) realizou, em Brasília, reuniões com diferentes órgãos e agentes da gestão federal de recursos hídricos, como a Agência Nacional de Águas (ANA), a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e a Secretaria Nacional de Segurança Hídrica do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR). Em sua maioria, as reuniões foram pautadas pela apresentação, por parte do CBHSF, de demandas e possibilidades de parcerias e destinação de recursos voltados à revitalização da bacia do São Francisco.

“Nós começamos a buscar uma articulação muito forte, principalmente neste início de ano, estamos em conversas permanentes com a Codevasf, com os diversos Ministérios, para que possamos ampliar a revitalização na bacia do Rio São Francisco”, pontuou Maciel.

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DIA A DIA

De fato, a revitalização está pautando o dia a dia do Comitê. No último dia 20 de março, por exemplo, foi realizado um webinário totalmente destinado ao debate, com a participação de Maciel Oliveira, presidente do CBHSF, Marcus Vinícius Polignano, vicepresidente do Comitê, e Thiago Campos, gerente de projetos da Agência de Bacia Peixe Vivo, entidade delegatária do CBHSF.

Segundo Thiago Campos, tornou-se fundamental o reconhecimento da bacia hidrográfica como unidade de planejamento e de execução, mobilizando os atores-chave, sejam proprietários de terras, prefeituras, organizações da sociedade civil, sejam empresas públicas atuantes, e a mitigação dos passivos ambientais, sempre orientada por diagnóstico prévio e cadastro.

Também no caso de programas de Revitalização ou de Produção de Água, Thiago reforçou que o CBHSF vem trabalhando a partir da hierarquização e seleção de microbacias prioritárias, mobilização local, cadastro, diagnóstico técnico, elaboração dos projetos e coleta de termos de aceite, execução das

intervenções e posterior monitoramento e acompanhamento com medição de indicadores na microbacia. Também citou experiências exitosas, como o projeto hidroambiental executado na bacia do Rio Curituba, em Canindé de São Francisco (SE), uma das regiões mais carentes de recursos hídricos do Semiárido brasileiro. Concluído em 2019, o projeto contou com um investimento de aproximadamente R$ 2,5 milhões por parte do Comitê. Outra ação destacada foi a revitalização de nascentes urbanas do Ribeirão Arrudas, executada em 2018, em Belo Horizonte (MG), dentre outros exemplos.

“Ao longo dos anos fomos aprimorando nossas técnicas, melhorando nossos processos, para tentarmos alcançar a tão almejada revitalização. Temos que reconhecer o trabalho dos Comitês na posição de artífices desse processo de revitalização, vide o desafio que é encampar ações numa bacia da extensão da bacia do Rio São Francisco, que conta com três biomas diferentes”, comentou Thiago.

PRÉ-HISTÓRIA

Muita água já passou debaixo da ponte da recuperação do São Francisco. O primeiro “Programa de Revitalização do São Francisco” foi lançado oficialmente ainda em 2004, com previsão de conclusão neste 2024. Seguindo-se ao início da obra da transposição, obteve alguns êxitos, tais como a assinatura, em 2011, numa parceria com o CBHSF, da Carta de Petrolina, documento estabelecendo os eixos prioritários para a revitalização.

À época, o programa foi criado no âmbito do Ministério do Meio Ambiente (MMA), em parceria com outros 15 ministérios. Entre os principais parceiros, destacavamse a Codevasf, a ANA, o Ibama, o ICMbio, a Funasa/MS, Universidades Federais e o CBHSF. Fora, inclusive, incluído nos Planejamentos Plurianuais do governo federal para os quadriênios seguintes 20042007, 2008-2011 e 2012-2015.

Em 2016, no entanto, acabou substituído por outro programa, o “Novo Chico”. Na ocasião, o governo federal assumiu o compromisso de dar andamento às obras de saneamento e sistemas de abastecimento por toda a bacia, representando um investimento de

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Membros da Diretoria Colegiada do CBHSF e o Secretário Nacional de Segurança Hídrica Giuseppe Serra Seca Vieira

R$1,162 bilhão, que seriam gastos entre 2016 e 2019. Criou-se, ainda, um comitê gestor, que integrava ministérios, governos estaduais e o próprio CBHSF. Já em 2021, o governo federal lançou mais um projeto: Programa Águas Brasileiras, voltado para a revitalização de bacias hidrográficas, substituindo o “Novo Chico”. Dessa vez, foram selecionados 26 projetos de revitalização para diversas bacias hidrográficas. O plantio de 100 milhões de mudas ao longo das bacias dos Rios São Francisco, Parnaíba, Tocantins e Taquari era uma das ações propostas. O programa seria coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), em parceria com outros ministérios, como o do Meio Ambiente, da Ciência, Tecnologia e Inovação, e da Agricultura, Pecuária e Pesca.

Ainda assim, representantes do CBHSF indicam que, durante todos esses anos e todos esses projetos, os esforços federais nunca surtiram o real efeito. Durante o webinário de março, Marcus Vinícius Polignano, atual vice-presidente do CBHSF, falou do assunto. “Quando do início do processo da Transposição, em 2004, as promessas eram de que seria aplicado quase o mesmo montante para a revitalização, e isso, de fato, não se efetivou: a Transposição avançou, porém a Revitalização não acompanhou”

Para Polignano, é preciso mais envolvimento dos entes públicos: “Mesmo com as promessas, de diversos governos, ainda percebemos que o rio sofre com assoreamento, perda do espelho d’água, perda de matas ciliares, um saneamento deficitário em muitos municípios da bacia, ou seja, temos uma gama de questões que ainda precisam ser resolvidas, e não precisamos somente do dinheiro, precisamos de políticas públicas dos municípios, dos estados, que sejam comprometidas com esse processo de revitalização”.

Maciel Oliveira concorda, embora tenha ressaltado a receptividade dos gestores federais durante a nova leva de conversas realizada em Brasília, no início do ano: “Fizemos, sozinhos, esse trabalho durante muito tempo, o Comitê fazia sua parte, porém os demais órgãos ambientais não nos acompanhavam, por isso a necessidade dessa articulação”. Ele segue. “Quando instauramos a cobrança pelo uso da água na bacia, em 2010, fizemos também uma busca ativa, revisamos os Planos Plurianuais (PPA) de Ministérios, instituições, governos estaduais, buscando os recursos previstos para a bacia. Tínhamos recursos para várias áreas, porém, quando se tratava de revitalização ou requalificação ambiental, havia, na

prática, pouquíssimos recursos. Por isso, investimos o recurso da cobrança e afinamos cada vez mais nossas ações nessa área de revitalização, principalmente no Semiárido”.

Dada a extensão do Rio São Francisco e de sua bacia, precisamos de uma integração entre o Comitê, a sociedade e os demais níveis da gestão hídrica, seja federal, estadual ou municipal, para que tenhamos ações e projetos, de diversos entes, que realmente se integrem, que se somem, que estabeleçam uma sinergia, ao invés de dispersamos recursos, que a gente caminhe junto, com um conjunto de ações que combatam esses grandes problemas que ainda temos ao longo da bacia”, ressaltou Polignano.

Por fim, Maciel comentou que o CBHSF enxerga a necessidade de uma revitalização ampla, não só ambiental, mas também social. “Não dá para fazermos somente uma requalificação ambiental, temos que pensar nas pessoas também, temos que pensar naqueles que sobrevivem dessas águas, portanto, precisamos pensar e trabalhar por uma revitalização social também”.

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CBHSF discute parcerias em reunião na Codevasf

Linha do tempo:

Revitalização e Transposição

Ações do governo federal, em termos de Revitalização:

2003 2004 2004 2007 2008

Início das atividades do CBHSF, com eleição da sua primeira Diretoria e aprovação do regimento interno

Aprovação do Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco

Inserção do Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas no PPA 2004-2007

Ações do CBHSF, em termos de Revitalização:

Criação de departamento específico do Ministério do Meio Ambiente para coordenação e execução das ações de revitalização

Novo arranjo institucional para o Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas

Seleção das primeiras demandas de Projetos Hidroambientais

Seleção da segunda leva de demandas de Projetos Hidroambientais 2011 2012 2013 2018

Divulgação da primeira Deliberação Normativa (DN) para orientar a seleção de demandas de Projetos Hidroambientais

Ações do governo federal, em termos de Transposição:

Seleção da terceira leva de demandas de Projetos de Requalificação Ambiental (novo termo para ‘Projetos Hidroambientais’)

2022

Publicação do manual operativo para Projetos de Proteção, Conservação e Recuperação Ambiental na Bacia do Rio São Francisco

Aprovação do Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia do Rio São Francisco, prevendo a transposição

Publicado o processo licitatório para a obra 2004 2007 2008 2015 2017

Começam as obras, com previsão de entrega para o ano de 2012

Canais recebem as primeiras águas

Eixo Leste inaugurado

‘Novo Chico’ encerrado; lançamento do programa ‘Águas Brasileiras’ 2008 2009 2011 2016 2020

Instituídas câmaras técnicas temáticas do Programa de Revitalização

O CBHSF marca seus 10 anos de atuação com assinatura da Carta de Petrolina, que estabelece eixos prioritários para a revitalização da bacia

Seleção da quarta leva de Projetos de Requalificação Ambiental.

No total, desde 2011, o CBHSF já apoiou e desenvolveu 66 projetos de Requalificação Ambiental na bacia, com foco na proteção das nascentes e na melhoria da qualidade da água. 2022 2023

Lançamento do ‘Novo Chico’, atualização do Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas

Conclusão das obras necessárias para que as águas cheguem ao Rio Grande do Norte 2017 2022

Fontes: Portal do Ministério do Meio Ambiente (MMA); Apresentação do gerente de projetos da Agência Peixe Vivo, Thiago Campos, no Webinário ‘Experiências Práticas de Revitalização na Bacia do Rio São Francisco’; matéria de Carlos Madeiro, originalmente publicada no portal ‘UOL’

Revitalização

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Por: Andrea Vitório

Arte: Albino Papa

PERSPECTIVAS PARA UM NOVO SÃO FRANCISCO

Segundo o Dicionário Aurélio, revitalizar quer dizer dar mais vitalidade ou vigor, imprimir vida, reviver. Ao longo dos anos, a palavra ronda os debates sobre o São Francisco. Conversamos com seis pessoas envolvidas nas questões do Velho Chico para compreender o que, de fato, isso significaria na prática

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Segurança Hídrica

O Superintendente Adjunto de Planos, Programas e Projetos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Henrique Pinheiro Veiga , destaca que a bacia do Rio São Francisco abriga mais de 14 milhões de pessoas e abrange sete unidades da federação, sendo estratégica para o Brasil. Ele defende que a revitalização pode ser entendida como um processo que busca melhorar as condições ambientais da bacia para contribuir com a segurança hídrica, considerando as suas quatro dimensões: humana, econômica, ecossistêmica e de resiliência.

“Uma bacia saudável e equilibrada é essencial para garantir qualidade de vida para sua população e condição necessária para o desenvolvimento socioeconômico, não só da região, mas de todo o país”, frisa. Esse resultado, acredita, pode ser alcançado por meio da implementação de diversas ações integradas, tendo por base os principais problemas identificados.

Acesso a recursos

Coordenação integrada

A gerente de Integração da Agência Peixe Vivo, entidade delegatária do CBHSF, Rúbia Mansur , defende que revitalizar o Rio São Francisco significa executar ações planejadas e coordenadas com diversos atores, cada um no âmbito da sua área de atuação. O objetivo é tornar o rio cada vez mais vivo, vigoroso e em condições necessárias para o cumprimento do seu papel integrador, social, ecológico, econômico e cultural, de forma sustentável.

“Revitalizá-lo é prerrogativa essencial para a manutenção das interações da bacia com a natureza, assim como seus demais usos de forma equilibrada, garantindo o suporte às futuras gerações que dependerão dele”, diz. Entre as demandas necessárias, aponta: melhorar a qualidade da água e o saneamento básico, requalificação ambiental e proteção e uso sustentável dos recursos, garantia na explotação racional da água (economias sustentáveis) educação ambiental e desenvolvimento socioeconômico”.

Hoje, Rúbia enxerga escassez hídrica, desmatamento, assoreamento, conflitos pelo uso da água e poluição. Mas, para o futuro, quer um novo Velho Chico: “Visualizo o Rio São Francisco como exemplo de gestão integrada e sustentável, onde a harmonia entre o desenvolvimento humano e a conservação ambiental seja uma realidade”.

Para isso, recomenda planejamento, monitoramento e um esforço planejado e coordenado, envolvendo a participação de diversos atores, como governos, Comitês de Bacia, usuários de água e sociedade civil

“Para mim, revitalizar o São Francisco é trazer vida ao rio, o mais próximo possível da sua condição natural. É importante não apenas pela manutenção da qualidade da água e da biodiversidade aquática, mas, também, para revitalizar a vida das pessoas que dependem dele para desenvolver suas atividades”, destaca Larissa Cayres , da Secretaria de Meio Ambiente do Estado da Bahia e membro do CBHSF, onde atua como secretária da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL) e coordenadora do Grupo de Acompanhamento do Contrato de Gestão (GACG).

Para a revitalização, lista: investimentos na área de saneamento básico, principalmente na área de esgotamento sanitário, recuperação da vegetação, das matas ciliares e das nascentes do Rio São Francisco. Ela também ressalta que o rio enfrenta problemas relacionados à qualidade da água e à ausência do esgotamento sanitário adequado em diversos municípios que ainda lançam efluentes em sua calha.

No futuro, gostaria de ver um São Francisco em plenitude, com saúde suficiente para fornecer água em quantidade e qualidade para todos os usos da bacia. Ela reconhece que a principal dificuldade é o acesso a recursos.

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Esperança

“Revitalizar é preciso Pra não vermos sua morte O velho Chico tem sede Sofrendo a própria sorte Mas as gotas de esperança Deixam o rio mais forte”

Planejamento

“Revitalizar significa trazer vida novamente, renovar, restaurar ou reanimar algo desgastado, como é o caso do São Francisco, que vem gradativamente passando por um processo de declínio de suas potencialidades”, diz o advogado Marcelo Ribeiro , especialista em Direito Ambiental, membro da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco e da Câmara Técnica Institucional e Legal (CTIL) do CBHSF.

Para ele, a revitalização do Velho Chico ganha mais relevância quando lembramos da dimensão gigantesca da sua bacia. Sobre o rio que gostaria de ver no futuro, sabe bem: um rio livre de poluentes, vivo, pujante, trazendo bem-estar para suas populações e todo ecossistema.

Além da gestão integrada, Marcelo fala da importância do planejamento de curto a longo prazo para lidar, por exemplo, com as questões decorrentes das mudanças climáticas.

Foi assim que Elias da Silva , membro do CBHSF, representando a Associação de Desenvolvimento Sustentável, de Pernambuco, reagiu ao tema. É que ele também é cordelista e vive o São Francisco de perto. Para Elias, revitalizar o São Francisco é dar força, vigorar, garantir que a vida se perpetue. Isso, frisa, é ainda mais importante para os que têm uma relação umbilical com as águas do Velho Chico e de lá tiram água para beber, matar a sede de animais e avançar com o desenvolvimento local.

“A maior ação de revitalização é ter todos os municípios da bacia saneados. Em seguida, ter um controle das nossas matas ciliares e a clareza de que toda reserva legal prevista seja realmente praticada, não só no papel”, comenta.

Para uma revitalização, elenca prioridades: planos de saneamento e ações de reflorestamento e recaatingamento, planos de gestão e ocupação do solo, além de integração, investimento e políticas públicas. Para o futuro, quer um São Francisco com tranquilidade de navegação, água, força. Tem esperança, também, de ver o dia em que os ribeirinhos sejam, de fato, ouvidos sobre o que se quer para o Velho Chico.

Saneamento

Heloísa França , membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco – CBHSF e representante do Serviço Autônomo de Saneamento Básico de Itabirito (SAAE Itabirito), gosta de trocar o verbo revitalizar por reviver. E, para impulsionar esse movimento de dar vida ao São Francisco, elenca como prioridade investir em saneamento básico, retirando o esgoto do curso d’água, além de recuperar sua mata ciliar e a vegetação nativa. De acordo com Heloísa, o Velho Chico vem, desde a sua nascente, sofrendo pressões antrópicas e alterações de margem, de fundo, de disponibilidade e de qualidade de água, impactando, sobretudo, as próximas gerações.

Para o futuro, ela só deseja ao São Francisco saúde: mais vivo e com ações necessárias implementadas e em curso.

Para o que chama de “grande projeto de revitalização”, seria preciso recursos e somente a cobrança pela utilização do recurso hídrico não é suficiente, por isso a necessidade de estabelecer parcerias. Outra ação passaria por reduzir a inadimplência e promover financiamentos de projetos de revitalização por parte de quem faz uso da água.

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PRÓS E CON

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Economia

Por: Juciana Cavalcante

Fotos: Léo Boi e Bianca Aun

TRAS

Com cerca de 20 milhões de pessoas vivendo às margens do rio da integração nacional, o Velho Chico abriga duas atividades fundamentais para o país: a produção de alimento e a geração de energia elétrica. O que fazer e o que não fazer para continuar garantindo comida e luz elétrica?

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Matias Cardoso, limite do Parque Estadual Lagoa do Cajueiro, MG

No Agro

Em 2023, o agronegócio exportou US$ 166,55 bilhões, 4,8% a mais do que em 2022, um aumento de US$ 7,68 bilhões no volume de alimentos exportados. Além dos grãos, outros produtos da cadeia produtiva do agro também bateram recordes, somando mais de US$ 1 bilhão em exportação. A exportação de frutas, por exemplo, aumentou 5,9%. O setor emprega 28,5 milhões de pessoas. Com tudo isso, o agronegócio é o maior consumidor de recursos hídricos outorgáveis do Rio São Francisco.

De acordo com o Pacto pelas Águas da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, mais simplesmente chamado de Pacto das Águas, a principal atividade econômica na bacia do Rio São Francisco é justamente a agricultura. Atualmente a produção de frutas vem crescendo muito. A irrigação é predominante, principalmente na região do Submédio, com o avanço da fruticultura irrigada. Mais de 60% da manga exportada brota do Vale do São Francisco, além das demais culturas como a uva, segunda maior produção, goiaba, coco, pinha, acerola, banana, e, mais recentemente, mirtilo, maçã, pera e limão.

“Acredito que o Semiárido, e especialmente o Vale do São Francisco, tem muito a ensinar. Ou temos muito calor ou muita inundação pela chuva. Para sobreviver estamos desenvolvendo tecnologias que podem ser usadas em outras regiões e também em outros países”, comentou o agrônomo Newton Shun Iti Matsumoto. “Temos trabalhado ao longo dos anos, sendo capazes de pegar uma cultura como a uva, de clima temperado, e adaptar para o Semiárido Tropical, produzindo o ano inteiro. Isso requer tecnologia, variedade, adubação, manejo e nutrição para produzir em condição tropical”.

Sobre a irrigação, Iti Matsumoto comentou: “A irrigação localizada com microaspersão e gotejamento possibilitou, nos últimos 30 anos, reduzir pela metade o uso da água. Fazemos o monitoramento da umidade do solo, calculando a necessidade de cada planta”.

São muitas as tecnologias surgindo nas plantações que rodeiam o Velho Chico. Mais duas delas: a plasticultura e o controle microbiológico. A plasticultura é utilizada no mundo inteiro para esquentar a plantação, já no Semiárido, plásticos especiais, com difusor de luz, impedem a passagem de raios infravermelhos e auxiliam para o esfriamento da produção. O controle microbiológico por sua vez, utiliza-se de organismos naturais para reduzir a incidência de pragas e doenças, reduzindo também o uso de químicos. “Trata-se de tecnologias que têm ajudado a produção sustentável. O que ainda não é possível em todos os locais devido à falta de acesso à assistência técnica e difusão de tecnologias”, completou Matsumoto.

As plantações se estendem rio acima e rio abaixo. Nas redondezas de Petrolina, localizam-se as vastas plantações de cana-de-açúcar. No oeste da Bahia, acham-se o milho, o feijão e outros grãos. Já nos perímetros de irrigação do Jaíba e de Pirapora, em Minas Gerais, cultiva-se, sobretudo, manga, banana e uva. Com a estimativa de aumento da população mundial, chegando a 9,8 bilhões de pessoas até 2050, a produção agrícola deve aumentar 70%, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), e, até 2030, o uso da água terá um crescimento de 24% sobre o volume atual.

Os desafios que se apresentam no Rio São Francisco são muitos, sobretudo diante da imensurável crise ambiental.

De acordo com o meteorologista Humberto Barbosa, além do São Francisco já ter perdido em torno de 50% de superfície de água, há tendência na redução de chuvas nos próximos anos. A região do Semiárido também vem enfrentando outros fenômenos, como as chamadas secas rápidas, que duram entre uma semana e um mês. “O Brasil vai ter que se adaptar às questões climáticas, considerando a vulnerabilidade, degradação do solo devido ao desmatamento, sobrepastoreio, carvoaria, desertificação. O agronegócio depende do ecossistema para adaptar as culturas às altas temperaturas, aprofundando-se em espécies com resiliência e resistência às secas. O fenômeno das secas rápidas faz com que a umidade do solo seque mais rápido,” afirmou Humberto Barbosa.

Para ele, estabelecer uma cooperação entre diferentes atores será fundamental. “É preciso cooperação da academia, dos setores públicos e privados. São vários setores interligados, que precisam saber sobre medidas para a adaptação, desde a produção de alimentos em grande escala até o pequeno agricultor. Hoje já vemos muitas áreas do Agreste ficando mais secas, o Sertão virando árido, e isso é complicado, porque significa que a desertificação e a degradação estão se expandindo. Todos estamos no mesmo barco”.

SIM NÃO

Uso de novas tecnologias

Redução do consumo de água

Aumento da produção sem aumentar a área plantada

Aumento do uso de micro-organismos para preservar a produção e o solo

Dificuldades no acesso à assistência técnica para pequenos e médios produtores

Esgotamento hídrico e de uso do solo

Adaptação aos extremos climáticos

Desmatamento

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Produção agrícola no Cerrado, Verdelândia, MG

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Na Energia Elétrica

Num passado não muito distante, as usinas hidrelétricas representavam 70% da energia consumida no país. Hoje, dividem a função com outras fontes renováveis, significando metade da geração, cerca de 55%. Em seguida, vêm a geração Eólica (14,8%) e a Biomassa (8,4%). Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), dos 200 GW alcançados este ano, 84,25% são de fontes renováveis e 15,75% de fontes não renováveis. Das fontes não renováveis, as produções são Gás Natural (9%), Petróleo (4%), Carvão Mineral (1,75%) e Nuclear (1%).

Na bacia do Rio São Francisco, encontram-se instaladas nove usinas hidrelétricas. O complexo hidrelétrico de Paulo Afonso é formado pelas usinas de Paulo Afonso I, II, III, IV e Apolônio Sales (Moxotó), Sobradinho, Xingó, Itaparica (Luiz Gonzaga) e Três Marias. A capacidade instalada do Sistema Interligado Nacional (SIN) atingiu 212.659 MW em dezembro de 2023, sendo que o subsistema Nordeste contribui com 25,8% desse total (54.813 MW). Além das hidrelétricas, as fontes renováveis, eólica e solar, se destacam cada vez mais na paisagem, possibilitado, inclusive, a exportação de energia. Em 2023, o Nordeste foi responsável por 82,3% de toda a energia solar e eólica produzida no Brasil.

No entanto, devido aos efeitos da emergência climática, que afetam a quantidade e intensidade das chuvas, o físico, doutor em Energética pela Université d’Aix-Marseille III, Heitor Scalambrini Costa, é enfático: mais do que nunca tornou-se urgente reduzir a dependência das hidrelétricas.

O professor Chang Hung Kiang, membro da Câmara Técnica de Águas Subterrâneas do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), também lembra que, além de otimizar o uso da água e evitar o seu desperdício, o grande desafio é conhecer precisamente a disponibilidade hídrica das bacias hidrográficas. Para gerar energia, o Velho Chico precisa de força.

“Para se chegar ao nível necessário de conhecimento sobre a disponibilidade hídrica, é preciso entender os impactos ocasionados pelas mudanças climáticas e conhecer o arcabouço subterrâneo, isto é, a geologia e as propriedades hidrodinâmicas dos aquíferos”, comentou Kiang. “Os impactos das mudanças do clima, causados pelo aquecimento global e o desmatamento (local e da Amazônia), afetam a quantidade e a distribuição de chuvas que alimentam diretamente os corpos d’água superficiais e os aquíferos.

Diversidade da matriz elétrica

Desenvolvimento Econômico

Maior participação do Nordeste no SIN

O conhecimento hidrogeológico dos aquíferos é fundamental para o conhecimento das reservas hídricas subterrâneas, que além de armazenar a água de chuva, mantêm o escoamento contínuo dos rios”.

Em 2022, com o foco na preservação dos aquíferos Urucuia e Cártisco, contribuintes importantes para a manutenção da vazão do Rio São Francisco, especialmente entre a divisa do estado de Minas Gerais e a montante de Sobradinho, Bahia, o CBHSF apresentou o resultado do estudo de disponibilidade hídrica. “Estudos realizados, utilizando dados da missão GRACE, analisando o período de 2003 a 2014, estimaram uma redução no armazenamento do aquífero de 9,75 km³ no período, uma perda equivalente a 30% da represa de Sobradinho. Para evitar um colapso é preciso usar a água com parcimônia, priorizando naturalmente os usos essenciais. É preciso otimizar o uso dos recursos hídricos, adotando, por exemplo, métodos mais sustentáveis na irrigação, além de proteger as áreas de recarga e mananciais, de forma a prolongar a longevidade dos recursos hídricos da bacia”.

Redução da disponibilidade hídrica

Impactos ambientais e sociais negativos

Desmatamento

SIM NÃO
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CURIOSIDADE

A geração de energia eólica conta hoje com 31 GW de capacidade instalada: 1.039 parques eólicos, totalizando 11.000 aerogeradores em operação, em 12 estados. Em abril de 2021, eram 695 parques eólicos, com 8.300 aerogeradores. Já de acordo com a Aneel, as usinas solares fotovoltaicas de grande porte somaram, em 2023, mais de 11 GW no Brasil. As maiores ficam no Nordeste, entre elas a quarta maior está localizada no município de Juazeiro, norte baiano, e no estado de Minas Gerais, onde cinco das 10 maiores estão localizadas, sendo duas em Pirapora.

“Primeiro é preciso qualificar a palavra desenvolvimento: para que e para quem? O desenvolvimento deveria, preferencialmente, mudar a vida das pessoas de modo sustentável. Precisamos ter a preocupação de usar os recursos naturais de modo mais eficiente, garantindo as futuras gerações”, afirmou Heitor Scalambrini Costa. “Estamos vendo os reflexos no país, principalmente no Nordeste, do uso das energias renováveis, que é importante, é o caminho da sustentabilidade energética, do desenvolvimento sustentável, mas não como está sendo produzido. O que percebemos hoje de mudanças climáticas são de coisas que fizemos atrás, ainda não estamos sentindo os efeitos do que estamos fazendo hoje”, conclui.

MAIS SERTÃO

Em duas décadas, o Brasil ganhou mais de 350 mil quilômetros quadrados de Semiárido. Ao mesmo tempo, o desmatamento da Caatinga, a segunda floresta seca mais eficiente na captura de carbono do mundo, avança perigosamente

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Meio Ambiente
Comunidade Quilombola Gruta dos Brejões, BA
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Por: Juciana Cavalcante Fotos: Manuela Cavadas

No Brasil de 2024, o Semiárido se expandiu, conforme estudo recente publicado pelo Conselho Deliberativo (CONDEL) da Sudene, a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste. Em 2005, cobria uma extensão de 982.563,3 km². Agora esse número saltou para 1.335.298 km², correspondendo a cerca de 15% do território brasileiro. Se antes as terras secas ficavam majoritariamente na região Nordeste, 89,5%, o mapa mudou, com exatos 1.477 municípios, dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. O estudo atual foi realizado por um Grupo de Trabalho Interministerial para Redelimitação do Semiárido Nordestino e do Polígono das Secas.

“O Observatório da Caatinga e do Semiárido apontou que cerca de 35% do território, em termos de degradação, se encontra em uma situação crítica, severa e moderada, o que indica uma mudança climática em curso”, afirmou o pesquisador do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Aldin Martin Pérez.

O que é o Semiárido, afinal? Os critérios técnico-científicos para atualizar a delimitação do Semiárido são: média de precipitação anual abaixo de 800 mm, índice de aridez alto, calculado pelo balanço hídrico, que relaciona precipitações e evapotranspiração potencial, risco de seca maior que 60% e, além de tudo, continuidade territorial. “As áreas áridas brasileiras estão se aquecendo a uma velocidade duas vezes maior do que as áreas subúmidas do Agreste”, comentou o meteorologista Humberto Barbosa. “Atualmente, as terras secas representam mais de 26% dos municípios brasileiros, onde vivem cerca de 31 milhões de pessoas. Além da maior parte dos estados do Nordeste, a área inclui ainda o norte de Minas Gerais e Espírito Santo. Todos esses fatores comprometem fortemente a capacidade de adaptação a um ecossistema cada vez mais árido e degradado”.

De acordo com dados do MapBiomas divulgados em 2023, “o mapeamento de florestas naturais abrange tipos diversos de cobertura arbórea: formações florestais, savanas, florestas alagáveis, mangue e restinga. Juntos, esses ecossistemas ocupam 58% do território nacional. Quando todos eles são considerados, Amazônia (78%) e Caatinga (54%) são os biomas com maior proporção de florestas naturais em 2022. Os biomas que mais perderam florestas naturais entre 1985 e 2022, por sua vez, foram Amazônia (13%) e Cerrado (27%)”. O MapBiomas também apontou que os territórios quilombolas estão entre as áreas de menor desmatamento no país. Entre 1985 e 2022, a perda de vegetação nativa nesses territórios foi de 4,7% contra 17% em áreas privadas. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), são 494 territórios quilombolas, sendo que 94 destes territórios são cobertos pela Caatinga, totalizando 550 mil hectares.

“É importante destacar que, apesar de todas as problemáticas, quando observamos as florestas tropicais secas, verificamos que a Caatinga está dando dicas de esperança de como lutar contra as mudanças climáticas”, comentou Martin Pérez, do INSA. “Nas pesquisas do Observatório da Caatinga e Desertificação, descobrimos que é a segunda floresta seca mais eficiente, perdendo para um tipo de floresta seca na Rússia. A Caatinga, quando comparamos com vários ecossistemas, aparece como a segunda mais eficiente, significando que de cada 100 toneladas de carbono, em torno de 45% a 55% é retida pelo solo”.

Salve a Caatinga

Nos ecossistemas naturais, a maior parte do armazenamento de matéria orgânica está no solo, tendo o dióxido de carbono (CO2) como principal elemento de sua composição, que por sua vez tem forte influência no clima. O aumento das emissões de CO2 é apontado pelos especialistas como uma das principais causas do aquecimento global e das mudanças climáticas. Segundo o pesquisador do INSA, Martin Pérez, nas áreas de Caatinga hipoxerófilas, mais úmidas, o sequestro é de até cinco toneladas de CO2 por hectare/ano. Em áreas de Caatinga hiperxerófilas (mais secas), o sequestro varia entre 1,5 a 2,5 toneladas de CO2 por hectare/ano.

“O Semiárido enfrenta uma problemática que está inserida a nível planetário da desertificação, a mudança do clima e a perda da biodiversidade; três problemas que se retroalimentam entre si na medida em que, quando se corta a cobertura vegetal, o carbono que está armazenado no solo e na vegetação é liberado para a atmosfera. Quer dizer, à medida que corta essa vegetação, queima ou se usa para outros fins, esse processo vai contribuir com o aquecimento global”, acrescentou.

O grave drama é que a taxa anual de desmatamento da Caatinga está acelerada: 1.410 km² por ano. “Quando perdemos 1 tonelada de solo, perde-se 300 m³ de água, o equivalente a cerca de 30 carros pipas, e, em termos de nutrientes, se perde em torno de R$100 por hectare. Por isso temos que repensar o manejo sobre esse ecossistema, que abriga cerca de 3.347 espécies, sendo 526 endêmicas, ou seja, só ocorrem no Semiárido. Essas características tornam o bioma um dos mais relevantes do planeta, em termos de vida selvagem e conservação da vida, sendo duas vezes mais biodiverso que a Amazônia em espécie por área”.

Para o diretor de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Alexandre Pires, os dados são alarmantes. Primeiramente, a expansão do Semiárido foi da ordem de 370.000 km². Isso significa, ainda de acordo com Pires, que o processo de aquecimento global, somado ao desmatamento da Caatinga, tem de fato acelerado o processo de desertificação, o que significa efetivamente que a disponibilidade de água está cada vez menor. “Estamos olhando para esse contexto de emergência climática montando estratégias para curto, médio e longo prazo, com operações que garantam a efetivação de ações de prevenção, controle e combate ao processo de desmatamento”, afirmou.

“Estamos tratando de um território onde estão mais de 1,4 milhões de estabelecimentos da agricultura familiar, algo em torno de 5 milhões de pessoas vivendo da agricultura familiar, estamos falando de um território que tem a segunda maior população indígena do Brasil, um grande número de comunidades quilombolas”, comentou Pires. “Então é importante olhar com o cuidado necessário sobre a agenda da água, da biodiversidade, dos solos, para assegurar não só a vida e o modo de vida das populações de hoje, mas também para assegurar as populações futuras”.

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Cachoeira do Ferro Doido Morro do Chapéu, BA

O que está sendo feito

O 2° Plano de Ação Brasileiro de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca – PAB Brasil, um dos instrumentos da Política Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca (PNCD), atualiza o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, PAN Brasil, elaborado em 2004.

O primeiro Seminário Nacional de Atualização, ponto de partida da elaboração do novo documento, aconteceu em janeiro de 2024, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do ClimaMMA, por meio do Departamento de Combate à Desertificação, em parceria com a Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE e Fundação Joaquim Nabuco - FUNDAJ.

Ao todo, 10 seminários estaduais serão realizados, além de quatro regionais (Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Norte). O objetivo do governo federal é elaborar um panorama dos territórios para subsidiar a construção do PAB que deve ser concluído no final de 2024.

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Bioma da Caatinga, Morro do Chapéu, BA
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BOMBA RELÓGIO

Localizada entre os municípios de Ouro Preto e Itabirito, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, a barragem Forquilha III, da mineradora Vale S/A, apresentou anomalia que acendeu todos os alertas. O eventual rompimento arrastaria o Complexo Mina de Fábrica, despejando no Rio Itabirito, afluente do Rio das Velhas, 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos, volume 4,5 vezes maior do que foi visto em Brumadinho.

32 Alerta Ambiental
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Por: Paulo Barcala Fotos: Léo Boi

Entre os municípios de Ouro Preto e Itabirito, a 100 quilômetros de Belo Horizonte, esconde-se uma bomba-relógio: Forquilha III, barragem que faz parte do Complexo Mina de Fábrica, de propriedade da mineradora Vale S/A. Com 77 metros de altura e 19,4 milhões de metros cúbicos de rejeitos, Forquilha III teve a estrutura alteada pelo método a montante nada menos do que seis vezes. Hoje integra um conjunto que, a qualquer hora, pode ir pelos ares. Ao todo, são oito barragens e um dique. Das barragens, seis estão em nível de emergência e apenas duas têm estruturas estáveis, segundo a Agência Nacional de Mineração. O eventual rompimento da Forquilha III arrastaria tudo, despejando 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos, volume 4,5 vezes maior do que foi visto em Brumadinho.

A possibilidade de rompimento de Forquilha III não é mera especulação. No começo de abril, a Vale admitiu: a barragem apresenta anomalia com “pontuação 10”, a mais grave na escala. Segundo a mineradora, o vazamento em um dos drenos da estrutura foi detectado no dia 15 de março e indica a existência de processo erosivo no maciço da construção. Desde 2019, Forquilha III já se encontrava no nível 3 de emergência, quando há risco iminente de ruptura.

A comunicação aos órgãos de fiscalização e controle, como a Agência Nacional de Mineração (ANM), Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e Defesas Civis Estadual e Municipais, que deveria ter ocorrido de forma imediata, com cadastro no Sistema Integrado de Gestão de Barragens de Mineração (SIGBM) em 24 horas, só ocorreu quatro dias depois, no caso da ANM, e cinco, com a FEAM.O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) recebeu notificação em 21 de março, e o Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas foi informado oficialmente 25 dias após a identificação da falha, em reunião de 10 de abril convocada pelo Comitê mineiro com órgãos estaduais e a Vale.

Caminho da lama

Assim como outras barragens da Vale, Forquilha III está passando pelo chamado processo de descaracterização ou descomissionamento, com previsão de término somente no ano de 2035. Em 2022, a mineradora chegou a inaugurar uma Estrutura de Contenção a Jusante (ECJ), de 95 metros de altura e 330 de comprimento, para tentar conter os rejeitos. Mas, caso a lama não seja barrada pela ECJ, o destino é o Rio São Francisco. Primeiro, atinge o Ribeirão Mata-Porcos. Em seguida, o Rio Itabirito. Mais adiante, o Rio das Velhas, afluente do Velho Chico. No Velhas, vai encontrar a Estação de Tratamento de Água (ETA) Bela Fama, da Copasa, cuja captação é feita a fio d’água, sem reservatórios. A ETA abastece 2,4 milhões de pessoas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e 70% da população da capital. A contaminação pode inviabilizar totalmente a operação.

De acordo com a Vale, o problema está superado. Em comunicado à imprensa, a mineradora informou que “concluiu as obras de reparação nas anomalias detectadas na barragem Forquilha III”. Ainda de acordo com a Vale, representantes da ANM inspecionaram a situação da barragem e “certificaram que a situação está regular”. “Por ocasião da inspeção, equipe da ANM não observou acúmulo de sedimentos no dispositivo instalado na saída do dreno DP-2, e a água do dreno apresentava-se, visualmente, límpida”, informou a AMN. “Apesar de não ser observada a presença de sedimentos na água que saía do dreno DP-2, a ANM exigiu o monitoramento até que a situação seja controlada, incluindo o monitoramento da vazão, bem como dos demais instrumentos, principalmente dos piezômetros instalados próximos ao dreno. A Vale vem cumprindo a exigência, reportando esse monitoramento no SIGBM e assim permitindo o acompanhamento remoto pela equipe de fiscais”.

Marcos Vinícius Polignano,

No estado que leva a atividade no nome, Minas Gerais, estão concentradas 40% de todas as barragens de rejeitos do país. Três delas se acham no nível mais elevado de emergência. Além de Forquilha III, a barragem Sul Superior, em Barão de Cocais, também da Vale, e a da mina de Serra Azul, da ArcelorMittal, em Itatiaiuçu. A Lei Estadual nº 23.291/2019, conhecida por Mar de Lama Nunca Mais, tomada por importante avanço e sancionada em 25 de fevereiro de 2019, dava três anos para o fim das barragens alteadas pelo método a montante, o mesmo de Forquilha III e das duas que, rompidas, ceifaram a vida de centenas de pessoas e afetaram gravemente as águas dos Rios Doce (Barragem do Fundão, em Mariana) e Paraopeba (B1, B-IV e B-IV-A, em Brumadinho). Contudo, Termo de Compromisso assinado pela Vale com o governo estadual, órgãos reguladores e Ministérios Públicos Estadual e Federal, no último minuto do prazo, adiou o descomissionamento para datas que vão de 2029 a 2035.

“As barragens são verdadeiras caixas-pretas que, de um lado, nos colocam reféns da palavra de empresas que não são confiáveis, como mostram os rompimentos em Mariana e Brumadinho, mas que também são praticamente inalcançáveis pela fiscalização dos órgãos de governo”, comentou o professor da Faculdade de Medicina da UFMG e vice-presidente do CBHSF, Marcus Vinícius Polignano. “De outro, vemos essa insegurança ser cruelmente mobilizada pelas empresas para avançar em seus interesses. É um cenário completamente absurdo e insustentável”.

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Cultura

Por: Karla Monteiro com Roberto Borges Martins

O CARTÓGRAFO

Entre 1852 e 1854, a serviço da coroa, o engenheiro alemão Henrique Halfeld mapeou palmo a palmo o Rio São Francisco. Verdadeira obra de arte, o mapa traçado por ele contém 30 pranchas, além de um curioso relatório de viagem

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“A povoação de Pirapora é composta de 30 a 50 casinhas cobertas de capim ou palha de coqueiro, habitadas por pescadores e suas famílias, que se ocupam em apanhar peixe, secá-lo ao sol sobre varais, e vende-los às tropas”, descreveu o alemão que por ali passava. Comissionado pelo governo imperial, o engenheiro Henrique Halfeld viajou o São Francisco da nascente à foz, entre os anos de 1852 e 1854. Aos 50 e poucos anos, ele estava incumbido da nobre missão de mapear o Velho Chico. Ao final, teria um atlas detalhado, com 30 pranchas, além de um relatório, descrevendo légua por légua tudo o que viu.

Visto hoje, o mapa de Halfeld é uma obra de arte. A partir dele, a coroa iria aprofundar-se no Brasil. Então, o Rio São Francisco representava a única via, ligando as províncias de Minas Gerais e Pernambuco, passando pela Bahia. Os homens da administração imperial não conheciam aquele rio, imaginando-o calmo e dócil até o mar. Fora a partir do traço de Halfeld que puderam vislumbrar as reais possibilidades. Ele havia chegado ao Brasil em 1825, como oficial mercenário do corpo de estrangeiros do nascente exército imperial. Trazia na bagagem, além do conhecimento militar, o diploma de engenheiro. Contratado como engenheiro-chefe de Minas Gerais, em 1836, destacou-se, primeiramente, na construção de estradas.

A partir dessa experiência, Halfeld iniciou a aventura rio acima. Ele percorreu exatamente 382 léguas marítimas ou cerca de 2,1 mil dos 2,8 mil quilômetros de extensão do São Francisco. Palmo a palmo, não deixou escapar nenhum detalhe. Descreveu os tipos de embarcações e peixes de cada trecho, detalhou a variação da altura dos barrancos e assinalou os trechos mais estreitos ou mais largos, mais profundos ou mais rasos, mais calmos ou mais agitados. De acordo com o engenheiro, as águas do Velho Chico ficavam muito mais velozes ao se aproximarem da cachoeira de Paulo Afonso, com queda de mais de 80 metros. No trecho, segundo observou, seria preciso uma grande obra. “Um corretivo do qual resulte uma segura e fácil passagem”. Nascido na cidade de Hanôver, em 1797, Halfeld terminou o magnífico trabalho em julho de 1858.

Biografia em 10 curiosidades

Nasceu Heinrich Wilhelm Ferdinand Halfeld, em 23 de fevereiro de 1797, na cidade de Clausthal, Reino de Hanover, no coração da importante região mineradora do Harz.

Desde cedo, trabalhou em atividades de mineração, tendo se formado em engenharia na Bergakademie Clausthal, a segunda mais antiga escola de minas da Alemanha.

Em 1815, alistou-se no exército prussiano em campanha contra Napoleão. Chegou a lutar na batalha de Waterloo, tendo sido ferido na cabeça.

Em 1824, casou com Dorothea Augusta Filippina e, no ano seguinte, emigrou para o Brasil. Desembarcou no Rio de Janeiro em 18 de julho de 1825, como oficial mercenário do corpo de estrangeiros do nascente exército imperial.

Não demorou a dar baixa do exército. Dirigiu-se para Minas Gerais, trabalhando em empresas de mineração de São João Del Rey, do Gongo Soco e da Serra de Cocais.

Teve dez filhos.

Em 1839, naturalizou-se brasileiro, adotando o nome de Henrique Guilherme Fernando Halfeld.

No ano seguinte, 1840, cerca de oito meses após a morte de sua primeira esposa, casou-se com Cândida Maria Cartola, da família Tostes, de Santo Antônio do Paraibuna. Com esse casamento, e posteriormente por compra de partes de seus cunhados, tornou-se o proprietário da Fazenda Juiz de Fora, onde se estabeleceu definitivamente. Dedicou-se tanto ao desenvolvimento da localidade que a ele é creditada a fundação da cidade de Juiz de Fora.

Em 1852, desligou-se do serviço provincial, comissionado pelo governo imperial para realizar o levantamento do Rio São Francisco.

Morreu em 1873, pouco tempo depois de se casar, aos 70 anos de idade, com a jovem Maria Luiza da Cunha, de 20 anos.

O JARDIM DO BRASIL

Ao ir se aproximando da Serra do Cipó, distante 100 quilômetros de Belo Horizonte, a paisagem muda. De um lado e outro da estreita estrada, a sobriedade do Cerrado encontra a amplitude de uma planície pedregosa, emoldurada por inusitadas formações rochosas. Nada mais bonito do que o pôr do sol ali. Não é à toa que o paisagista Roberto Burle Marx apelidou a Serra do Cipó de “jardim do Brasil”.

Naturalistas famosos como o francês August de Saint-Hillaire e o inglês George Gardner também passaram por lá e se impressionaram com os campos rupestres. Em 1984, há exatos 40 anos, os quase 34 mil hectares de terra foram transformados em parque nacional. Desde então, a Serra do Cipó se tornou destino do ecoturismo. O parque guarda alguns espantos, como a Cachoeira do Tabuleiro, com 273 metros de altura, a terceira mais alta do Brasil.

A Serra do Cipó é, sem dúvida, o paraíso para quem quer unir natureza e cultura de Minas Gerais. São belas cachoeiras para se visitar, todas acessadas por deslumbrantes trilhas. Às vezes, as caminhadas podem se tornar duras, pela falta de sombras. Mas, ao final, haverá sempre uma boa comida mineira, regada à melhor cachaça da região, como recompensa. Em Santana do Riacho, a porta de entrada do parque, o clima ainda é bem pitoresco.

Para os mais radicais, o conselho seria fazer a travessia da Serra do Cipó, uma caminhada de três dias, penetrando nas áreas mais remotas do parque. Os fãs de rapel não podem perder a cachoeira das Congonhas, além do cânion das Bandeirinhas. Outra atividade imperdível é descer os rios de caiaque, observando os bandos de capivaras e as revoadas de pássaros.

Segundo dizia Burle Marx, ele começou a entender as plantas quando passou a frequentar a Serra do Cipó. Na região, escondem-se cerca de duas mil espécies catalogadas. Na parte baixa da serra, predomina o Cerrado, enquanto na região mais alta são encontrados os campos rupestres, com alta diversidade de flores. O projeto de levantamento da flora da Serra do Cipó começou em 1972 e segue até hoje.

O número de espécies de Embriófitas (plantas terrestres) registrado está na ordem de 3.299: 238 espécies pertencem a famílias de musgos, hepáticas e antóceros, 116 a famílias de licófitas e samambaias, 2 são gimnospermas e 2.949 são angiospermas. Não volte para casa sem botar os olhos nas singelas sempre-vivas, as flores que não morrem.

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Turismo

Por: Karla Monteiro

Fotos: Bianca Aun e Pedro Vilela

Ilustrações: Albino Papa

Localizado a 100 quilômetros de Belo Horizonte, o Parque Nacional da Serra do Cipó completa 40 anos, abrigando cachoeiras de até 280 metros de altura, além de uma diversidade botânica que há séculos vem impressionando especialistas

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Queda D’água

Como algumas cachoeiras ficam em terras particulares, o acesso nem sempre é gratuito. Antes de pegar a trilha, confira

Cachoeira Grande

Um dos cartões postais da Serra do Cipó, fica na entrada da cidade, com nove metros de queda. O acesso é fácil, com 1 km de caminhada. Possui poços deliciosos para banho antes da queda principal. Na Cachoeira Grande acontecem passeios de caiaque e de stand-up, graças ao grande poço.

(Acesso pago)

Véu da Noiva

Uma das mais conhecidas cachoeiras do Cipó, o Véu da Noiva oferece estrutura de lazer completa para o turista: camping, vestiários, restaurante, quadras, área para churrasco, além de uma piscina de água natural.

(Acesso pago)

Serra Morena

Uma das mais bonitas da região, com duas quedas d’água. Fica localizada a cerda de 15 quilômetros do centrinho da cidade e pode ser acessada por uma curta trilha de não mais que 15 minutos.

(Acesso pago)

Cachoeira da Caverna

Além da queda d’água, dá acesso ao Rio Parauninha, lugar perfeito para nadar e curtir o dia.

(Acesso pago)

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Cachoeira Grande, Serra do Cipó, MG

Cachoeira da Farofa

Como o próprio nome indica, uma das mais visitadas. Para se chegar à Cachoeira da Farofa é preciso disposição. São cerca de oito quilômetros de trilha, aproximadamente duas horas de caminhada.

(Acesso gratuito)

Cânion das Bandeirinhas

O acesso é difícil, mas a paisagem compensa, devido à imensa variedade de espécies da fauna e da flora local.

(Acesso gratuito)

Cachoeira das Andorinhas

Mistura de corredeiras e duchas naturais envoltas por bela vegetação.

(Acesso gratuito)

Cachoeira do Gavião

Complexo com corredeiras e cachoeiras, perfeitas para praticar esportes

(Acesso gratuito)

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Lapinha da Serra - Santana do Riacho, MG Galeandra styllomisantha
erectifollius
Papalanthus
geminiflora
Velosia glabra Tilandsia

Pseudotrimesia juncifolia

Cattleya ittigiana

Flora do Cipó

Rhynchospora speciosa Velosia Gigantea

Aconteceu

CBHSF investe

Érico Cardoso e Correntina, municípios baianos do Médio São Francisco, foram contemplados com a assinatura do contrato que marca o início das obras do sistema de esgotamento sanitário nas cidades. Eles estão entre os municípios da bacia que responderam ao Ato Convocatório Nº 10/2023 do CBHSF. Ao todo, foram contemplados 8 municípios com um investimento total de aproximadamente R$70 milhões, por parte do CBHSF, que serão distribuídos aos municípios selecionados até o ano de 2025.

Ércio Cardoso: Agência Difere

3 de Junho

Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco

Eventos em:

São Francisco / MG (Alto)

Carinhanha / BA (Médio)

Lagoa Grande / PE (Submédio)

Delmiro Gouveia / AL (Baixo)

Assista ao vídeo do evento em: bit.ly/ObrasEsgotamento

Vire Carranca 2024

No dia 03 de junho, Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco, as cidades de São Francisco (MG), Carinhanha (BA), Lagoa Grande (PE) e Delmiro Gouveia (AL) serão palco da campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”. Com o mote “Velho Chico. Revitalizar o rio, preservar riquezas”, as comunidades estarão imersas em uma programação intensa que abrangerá desde atividades de educação ambiental até exposições fotográficas, shows e peças de teatro. A iniciativa busca sensibilizar a população sobre a importância da revitalização do Rio São Francisco e mobilizar esforços para proteger esse patrimônio natural brasileiro.

Acesse o site: bit.ly/VireCarranca2024

Apoio Técnico: Realização:
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Fórum

Em janeiro deste ano, membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) se reuniram com o colegiado coordenador do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (FNCBH) para tratar e organizar as atividades de 2024. Entre os diversos pontos tratados, foram discutidas a criação e composição de grupos de trabalho, comissões temáticas especializadas e a elaboração de modelo para encontros regionais, o ERCOB. O evento foi realizado em Belo Horizonte (MG).

Veja a matéria em: bit.ly/CBHSFnoFNCBH

Veja a matéria em: bit.ly/DIRECreuneSNSH

Encontro de Comitês

O CBHSF marcou presença no encontro de Comitês de Bacias Hidrográficas Interestaduais, promovido pela ANA, em abril deste ano, em Brasília. O evento focou na capacitação dos Comitês e comunidades atendidas, abordando gestão das águas, estrutura das bacias hidrográficas e novos enquadramentos. Além disso, o debate incluiu o PL 2.918/2021, sobre compensação financeira pelo uso de recursos hídricos na geração de energia elétrica, com os Comitês defendendo mudanças na lei.

Agenda DF

O início do ano foi marcado por intensas articulações do Comitê em Brasília, visando reforçar parcerias para otimizar a aplicação de recursos financeiros na bacia. Em março, o Comitê apresentou seu plano de ações para a Secretaria Especial da Casa Civil. No mesmo mês, representantes da Agência Nacional de Águas (ANA) participaram da reunião da Diretoria Colegiada (Direc). Além disso, representantes da Câmara Técnica de Comunidades Tradicionais (CTCT) entregou relatórios importantes sobre os Seminários dos Povos Indígenas e Tradicionais à Diretoria do CBHSF e ao governo federal. A agenda incluiu, ainda, encontros da Direc com o Secretário Nacional de Segurança Hídrica e discussões de parcerias em reunião na Codevasf.

Veja a matéria em: bit.ly/EncontroCBHI

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Taíssa Dias Walberto Maciel João Alves

CHICO RICO CHICO VIVO

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Maurilo Andreas Fotos: Bianca Aun, Léo Boi e Manuela Cavadas

Velho Chico, és um mundo Tão rico, tão grande e forte Tuas vidas, tuas águas Não podem depender da sorte

Proteger tuas riquezas

Compromisso que eu trago no peito Pra ter produção, energia e cultura Sempre vivos no seu leito

Revitalizar o rio, preservar riquezas

Para o nosso futuro mudar

Com toda riqueza do Chico Riqueza maior é cuidar

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Texto:
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Bianca Aun
53 Bianca Aun
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Bianca Aun
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Léo Boi 57
Léo Boi Manuela Cavadas
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