Carbono Uomo #16

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CARBONO uomo

Nº 16 | 2023

GABRIEL MEDINA Uma conversa sincera, muito além do surfe, e um ensaio fotográfco com o tricampeão mundial, no Hotel Rosewood São Paulo

ATITUDE A nova cara da cerâmica, o esporte da vez, o mercado das feiras de arte e uma recente onda de vinhos

TRIPS Ilhas Faroé, Acre, Maldivas e mais

FALAMOS COM Carlos Motta, Rony Meisler, Hanna Limulja, Pedro Pacífco

MIX De roteiros de jatos privativos ao redor do mundo até pesca artesanal

PÁGINAS AMARELAS A reinvenção da Barra Funda, gastronomia judaica, o crescimento da charcutaria, a cena musical paulistana e outras tendências

Nº 16R$ 35,00 CARBONO Nº 16 | 2023
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REALIZAÇÃO:

REALIZAÇÃO E CONSTRUÇÃO:

Incorporadora: SK DIOGO DE FARIA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS. Memorial de Incorporação registrado sob o n° 1, na matrícula nº 241.373, do 14º Oficial de Registro de Imóveis de São Paulo – SP na data de 22/06/2022. Área não contaminada conforme processo CETESB 055461/2021-39. Manejo arbóreo e plantio compensatório autorizados, conforme processo SEI 6027.2021/0015913-6. Projeto Arquitetônico: LE Arquitetos. Projeto Paisagístico: Benedito Abbud Arquitetura Paisagística. Projeto de decoração das áreas comuns: Fernanda Marques. A perspectiva é meramente ilustrativa e possui sugestão de decoração. Acabamentos, quantidades de mobiliários e equipamentos serão entregues conforme Memorial Descritivo do empreendimento. O empreendimento está localizado na Rua Estado de Israel, 1053, CEP 04022-002 – Vila Clementino. Cyrela: Rua do Rócio, 109, 3° andar – Sala 01 – Vila Olímpia – Cep: 04.552-000. Comercialização: Cyrela (Creci: J-17592).

PERSPECTIVA ILUSTRADA | FACHADA

Brightening your holidays since 1971

SHOPPING

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ESPAÇO INCOMPARÁVEL

O luxo de ter espaço individual é fundamental para a promessa de A Regent Seven Seas Cruises®, possibilitando que os hóspedes tenham a liberdade necessária para explorar e relaxar ao máximo.

Como a principal linha de cruzeiros marítimos de luxo, temos orgulho de oferecer algumas das maiores varandas e mais espaçosas suítes dos mares. Nossa variedade de restaurantes de especialidades, opções de refeições al-fresco e na suíte, lounges sofisticados, bares e espaços elegantes são perfeitos para descansar e celebrar, sabendo que nunca haverá uma fila ou aglomeração e que cuidaremos de cada detalhe com todas as amenidades inclusas.

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COR TAMBÉM É ARAMIS

Cor é expressão Cor é possibilidade Cor é energia

Fim de ano é tempo de refletir de dentro para fora.

Para as pessoas. Para os lugares. Para o mundo.

Olhe para si mesmo de um jeito novo.

Repense. Imagine. Experimente.

Saib a mais

COR É EXPRESSÃO COR É POSSIBILIDADE COR É ENERGIA
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ICÔNICO

Não deixe o sonho morrer

O sonho é como a saudade.

Sucumbe quando concretiza-se.

A conquista invade seu palco.

E minguando se faz inútil.

Esquecemos, então, o quanto nos foi valoroso enquanto vivo.

Que não abandonemos o passado sonhar, quando presentemente se realiza.

Que não desamparemos a semente do nosso tronco.

E lembremos, sempre, que o sonhar é, muitas vezes, mais do que o próprio realizar.

O sonhar é o jogo. E não o gol.

Gabriel sonhou, e surfou.

Marina sonhou, e construiu.

Rony sonhou, e criou.

Pedro sonhou, e leu.

Fernanda sonhou, e viajou...

E não se esqueceram, um minuto sequer, de quando ontem estavam sonhando com o que hoje estão vivendo.

Sonhos são nomes.

Nomes sem sobrenomes.

Porque, mesmo um sonho sonhado só, é um sonho de toda a humanidade.

A tribo inteira sorri quando um nativo se põe a sonhar.

Sonhar é delirar.

É cismar, é amalucar.

Sonhar é a cura para todos os tipos de sanidades.

Sonhar é um atrevimento.

Atreva-se.

Feliz 2023!

Primeiras Palavras
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Nº 16 • 2023

A SEGUIR:

21. CURTAS

De radar ligado

34.

MEU BAIRRO

Carlos Motta

38. ENTREVISTA

Rony Meisler

42.

MEU ESTILO 1

Yanly Erh

44. LIVROS

Pedro Pacífico

48. CERAMISTAS

Arte manual

56. PERFIL

Gabriel Medina

76. CASA

Marina e Juan Pablo

86.

MEU ESTILO 2

Jorge Benson

88. VINHOS

Nova safra

94. ENTREVISTA

Hanna Limulja

98. ECONOMIA

Cena artística

102.

ESPORTE

Padbol

104. MOTOR Eletrificação

106. PESCA

Gastronomia em alto-mar

128.

MEIO AMBIENTE Rolex na Amazônia

131. PÁGINAS AMARELAS O guia Carbono Uomo

VIAGENS 112. Acre — 116. Ilhas Faroé
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122. Jatos privativos 126. Ilhas Maldivas Fotos divulgação; Anita Besson; João Bertholini; Marcus Steinmeyer; Renato Costa; Thomas Tebet

REDAÇÃO EDITORA CARBONO

PUBLISHER

Lili Carneiro lili@editoracarbono.com.br

DIRETORA DE ARTE

Mona Sung

EDITORA CONVIDADA Adriana Nazarian

PRODUÇÃO

Rebeca Martinez

REVISÃO

Paulo Vinicio de Brito

TRATAMENTO DE IMAGENS Cláudia Fidelis

COMERCIAL E MARKETING

DIRETOR DE COMUNICAÇÃO E NEGÓCIOS

Fábio Justos

publicidade@editoracarbono.com.br

DISTRIBUIÇÃO E MAILING

distribuicao@editoracarbono.com.br

FINANCEIRO

financeiro@editoracarbono.com.br

Editora Carbono

Av. Rebouças, 3575, Jardim Paulistano, 05401-400, São Paulo, SP

INSTAGRAM @carbonouomo

COLABORADORES

Amanda Francelino

André Klotz

André Ligeiro

André Nazareth

Anita Besson

Bianca Nunes

Bruno Conrado

Carlos Motta

Derek Fernandes

Diego Motta

Evandro Feliciano

Everson Verdião

Federico Cairolli

Fernanda de Almeida Carneiro

Fernando Pedroso

Filipe Berndt

Giu Ramaglia

Gui Gomes

Gustavo Steffen

Humberto Tozze

João Bertholini

Julia Furrer

Julia Magalhães

Juliana A. Saad

Laís Acsa

Layla Motta

Leo Martins

Leticia Waechter

Liege Wisniewski

Lucas Hirai

Lucrécia Prezia

Luisa Alcântara

Marcella Centofanti

Marcellus de Lemos

Marcelo Deguchi

Marcelo Ferreira

Marcos Londero

Nº 16 • 2023

CONCEPÇÃO EDITORIAL

CAPA

FOTOGRAFIA

Marcus Steinmeyer

Marina Acayaba

Mario Mele

Matheus Evangelista

Mayra Azzy

Melissa Janson

Mô Bertuzzi

Nani Rodrigues

Natália Albertoni

Pat Corvo

Pedro Pacífico

Rafael Salvador

Raquel Fortuna

Renato Costa

Rubens Kato

Ruy Teixeira

Sandro Iung

Stephanie Marie Eli

Tereza Sa

Thomas Tebet

Victor Balde

Victor Collor de Mello

CTP, IMPRESSÃO E ACABAMENTO Stilgraf

CIRCULAÇÃO Nacional

DISTRIBUIÇÃO, BANCAS E MAILING

Black and White, Dinap e Porte a Porte

Carbono Uomo é uma publicação da Editora Carbono. CNPJ 46.719.006/0001-14

A Editora Carbono não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados. As pessoas que não constam do expediente da revista não têm autorização para falar em nome da Carbono Uomo ou retirar qualquer tipo de material para produção de editorial caso não tenham em seu poder uma carta atualizada e datada, em papel timbrado, assinada por um integrante que conste do expediente.

Marcus Steinmeyer

EDIÇÃO DE MODA

Stephanie Marie Eli

GABRIEL MEDINA VESTE

Blazer Sease, camisa Vilebrequin e colares Amir Slama para Julio Okubo

Expediente

CURTAS

Tendências, ideias, projetos, endereços e reflexões que estão no nosso radar da vez. Da moda à gastronomia, o mix é quente e diversificado

Se flutuar sobre o mar em grande estilo está no seu imaginário, vale ficar de olho no Seven Seas Grandeur A começar pelo design, assinado pelo premiado Studio DADO, o lançamento da Regent é um acontecimento no mundo dos navios. Serão 750 hóspedes e uma tonelagem bruta de 55.500, o que significa espaço e conforto de sobra para os viajantes que não abrem mão do luxo.

Exemplos não faltam para explicar o quão especial é a novidade, mas é impossível não citar a suíte Regent, que tem sala de estar envidraçada com claraboia e spa privativo – os tratamentos são ilimitados – com saunas seca e a vapor. Outro destaque, entre as diversas opções

O Seven Seas Grandeur começará suas viagens em novembro de 2023 com roteiros que passam por cenários fantásticos no Caribe e no Mediterrâneo, além de duas travessias transatlânticas. Pronto para embarcar? @regentcruises ALTO-MAR

gastronômicas, é o restaurante Compass Rose. A ideia é oferecer a sensação de jantar em uma floresta – daí o dossel de cristal entrelaçado e as árvores de madeira iluminadas. E, para uma experiência ainda mais especial, os viajantes poderão criar sua própria entrada com os acompanhamentos preferidos: molhos, massas e pratos principais, como a cauda de lagosta do Maine.

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divulgação
Fotos

NA TIGELA

Servido em uma tigela exclusiva, o ramen é um prato japonês que combina cinco ingredientes, possibilitando a criação de inúmeras receitas. Nelas, o importante papel das tigelas de cerâmica, ou ramen donburi, rendeu ao artefato uma exposição na Japan House Los Angeles, que chega agora a São Paulo e fica até 5 de fevereiro de 2023. A Arte do Ramen Donburi busca mostrar o que torna esse prato um fenômeno que conquistou o Japão e o mundo. A mostra apresenta uma abordagem nipônica do design, que valoriza a beleza dos objetos cotidianos e eleva o donburi, uma peça utilitária, à categoria de arte. @japanhousesp

CARRINHO CHEIO

Planejando começar 2023 em dia com a saúde? O recém-inaugurado Galena Market promete lhe ajudar. Mais do que uma loja de produtos saudáveis, trata-se de um mercado com cerca de três mil itens e que agrada dos naturebas aos gourmets de carteirinha. São produtos orgânicos, sem glúten, lactose e açúcar, vegetarianos e veganos, além de suplementos alimentares. E mais: os básicos, como o brasileiríssimo combo arroz e feijão, molhos, temperos e cereais a granel, disputam lugar nas prateleiras do market com itens do dia a dia, como sucos, iogurtes e hortaliças. Sem falar na adega abastecida com rótulos orgânicos e biodinâmicos. Para finalizar, vale um pulo na seção de chocolates premium . De A a Z, com muita saúde. @galenamarket

“A VIDA SE FAZ NO DELÍRIO E SE DESFAZ NO TÉDIO”

CIORAN

MODA GLOBAL

Kitsuné é a palavra japonesa para raposa, símbolo da versatilidade. Assim como a Maison Kitsuné , que sabe adaptar seu repertório de acordo com a inspiração. A casa de moda independente de Paris baseia-se nas conexões culturais e estéticas entre a cidade francesa e Tokyo por meio de um guarda-roupa que reúne alfaiataria e influências de streetwear . Pense em moletons, t-shirts , joggers e jaquetas com designs cheios de estilo e diversão, sem abrir mão do conforto. No Brasil, com exclusividade no Iguatemi365. @maisonkitsune

22 Fotos divulgação; ilustração Mona; frase via @desculpeapoeira
CURTAS | Carbono Uomo

LAGOSTA DE FAMÍLIA

Para quem gosta de comida com história, atrelada a um dos mais belos destinos do Brasil, o Tiatê é o mais novo espaço gastronômico do NANNAI Muro Alto, em Pernambuco. O cinco estrelas presta homenagem à octagenária dona Tereza de Jesus Meira Lins, matriarca do grupo (que, vale lembrar, também tem um endereço em Fernando de Noronha). Além de assinar as receitas de família e a decoração do restaurante, Tia Tê desenvolveu o tableware à mão. Entre as especialidades, lagosta e frutos do mar, em um ambiente paradisíaco. @nannairesortespa

ESTAMOS DE OLHO na agenda de shows da Bala Desejo , banda meio hipster, meio hippie que ganhou o Grammy latino e é um convite para cair na pista.

ESTAMOS DE OLHO na versão para o cinema que Tudo é Rio , obra de Carla

Madeira, ganhará ainda em 2023. Será que as imagens podem ser tão viscerais quanto as palavras da escritora mineira?

APRENDENDO COM O BRASIL

A vontade de mostrar as belezas de seu país para o mundo foi o que levou Luciana Rizk ao empreendedorismo educativo. A Studio Tropical, sua marca de jogos lúdicos, tem como fio condutor as maravilhas que só o Brasil possui. São quebras-cabeças e jogos da memória, em português e inglês, com imagens de Parques Nacionais, praias e cidades, em pontos como Brasília, Praia da Pipa e Tiradentes. Tudo em papel reciclável e embalado em charmosos saquinhos de algodão sustentável. “Amo a natureza e acredito muito no poder dessa conexão para limpar o stress e ativar a criatividade”, conta Luciana. Para crianças pequenas e grandes. @studiotropicalbr

Fotos divulgação
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Localizado no Jardins, encontre seu refúgio no Anantara Spa. Viva uma experiência imersiva, que conecta corpo e mente, com massagens que oferecem benefícios holísticos da tradição tailandesa, em um dos mais conceituados hotéis da capital paulista, o Tivoli Mofarrej São Paulo.

Faça sua reserva através do e-mail: spa.tspm@tivolihotels.com ou pelo telefone (11) 3146-6420

No Anantara Spa, as melhores jornadas não são ditas, são sentidas.

Alameda Santos, 1437 - Cerqueira César, São Paulo - 4° andar.

NO RISCO DE HENDRIX E MAIS

Com a Great Characters Edition, a Montblanc celebra a vida e as realizações de figuras que moldaram a cultura mundial. Reconhecido como um dos músicos mais criativos e influentes do século 20, Jimi Hendrix reinventou as possibilidades da guitarra elétrica, revolucionando o mundo da música. A Montblanc Great Characters Jimi Hendrix Special Edition é dedicada ao ídolo, com detalhes de design que contam sua história. Disponível como caneta-tinteiro, esferográfica e rollerball , a geometria da peça ecoa o padrão bordado da alça da guitarra de Hendrix. E o título de seu álbum de estreia, You Experienced , decora o topo do clipe. A edição especial Montblanc Great Characters Jimi Hendrix Limited Edition 1942 traz exatas 1.942 peças para comemorar o ano de nascimento do guitarrista, além de usar a paleta de cores vermelha e dourada em homenagem à capa do álbum de 1968, Electric Ladyland . Outra novidade da Montblanc é a coleção de artigos de couro Meisterstück, que ganhou formas redondas contemporâneas, novos detalhes de design e couro luxuoso, para alcançar um toque mais suave. São bolsas e pequenos acessórios, como porta-chaves, porta-cartões e carteiras, que expressam a qualidade do artesanato da marca. A adição de elementos originais, incluindo um emblema Montblanc maior, contribui para a sofisticação e a elegância de cada peça. @montblanc

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CURTAS | Carbono Uomo Fotos divulgação

NATUREZA E EXPERIÊNCIAS

No Tivoli Ecoresort Praia do Forte as belezas naturais e o serviço de alta qualidade se unem em um verdadeiro refúgio de bem-estar, conforto e segurança para as suas próximas férias em família. Gastronomia exclusiva, atividades ao ar livre, esportes náuticos, piscinas, Anantara Spa e Clube infantil para as crianças, proporcionam maravilhosas experiências para dias inesquecíveis.

www.tivolihotels.com

ELE DISSE SIM

Um novo ícone da joalheria nasce na Tiffany & Co.. O Charles Tiffany Setting é o primeiro anel de noivado masculino com diamante solitário. O modelo, nomeado a partir de Charles Lewis Tiffany, fundador da marca, que em 1886 introduziu esse tipo de peça para mulheres, abre caminho para novas tradições. Moderna e ousada, a novidade, com design de platina e titânio, revisita o estilo masculino clássico com perfil contemporâneo. @tiffanyandco

PERFUME ESSENCIAL

O arquiteto e designer de interiores Guilherme Haji sabe melhor que ninguém que nossa casa é nosso oásis. Para materializar essa sensação de bem-estar que só nosso próprio lar oferece, desenvolveu a Haji Essentials. A marca de fragrâncias tem em seu portffólio velas, home sprays, difusores, car sprays e acessórios, como bandejas e perfumes para roupa de cama – chic! Para o final de ano, Haji criou a vela Tomato Leaf & Geranium. Com notas de tomate, gerânio e limão-siciliano, a novidade traz para a atmosfera um mood aromático vegetal e terroso, evocando a energia e purificando o ambiente. Divino! Sem falar nas embalagens dignas de galeria de arte. Encontre no Shopping Iguatemi ou no e-commerce da marca. @haji.essentials

“AMEAÇOU TEMPESTADES NÃO CHOVEU”

POEMA DE RÉGIS BONVICINO

ESTAMOS DE OLHO no Emerald Garden

Pool & Bar , espaço do hotel Rosewood –aberto também para os não hóspedes – que é a cara do verão. Reserve uma cabana em frente à piscina e se delicie com os espetinhos feitos na grelha!

Fotos divulgação; Andre Klotz; Ruy Teixeira; ilustração Mona; frase via @desculpeapoeira
CURTAS | Carbono Uomo
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TIGER 1200 TOURING

Vá para onde sua aventura te levar. A linha Tiger 1200 Touring foi projetada para todo tipo de estrada proporcionando tecnologia, potência e muito mais conforto em suas viagens.

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BARATO DA CATEGORIA
Juntos salvamos

ALTA PERFORMANCE

O conceito de moda athleisure , termo que surge da junção das palavras atlético e lazer, não é apenas mais uma tendência passageira. A expressão representa um momento atual da sociedade, em que o consumidor busca soluções para otimizar uma nova dinâmica de rotina, que mistura momentos de trabalho, lazer e esporte. De olho nisso, a Aramis INC, com 27 anos de expertise no mercado de moda masculina, lança a Urban Performance , marca nativa digital que propõe redefinir o lifestyle do homem contemporâneo.

Para agregar um conceito de estilo de vida dinâmico, multidimensional e inteligente, a grife se une ao empresário Felipe Titto, que alça voos no mercado da moda como parceiro estratégico e criativo. “A Urban Performance tem uma proposta única e em sintonia com o que eu vivo e acredito. Sentia falta de roupas que permitissem infinitas possibilidades, viabilizando um novo estilo de vida, sem amarras”, ressalta.

As peças evidenciam essas propriedades: camisetas, camisas, calças e jaquetas chegam com tecnologias de secagem rápida, proteção UV, função antimicrobiana e antiodor, além de quase dispensar ferros de passar. Os cortes são sofisticados e adaptáveis para combinações sociais e casuais, trazendo muita versatilidade para quem quer unir conforto e autenticidade.

A primeira coleção da marca já está disponível em seu e-commerce próprio (urbanperformance.com.br) e pode ser encontrada em cinco lojas da Aramis, nos Shoppings Iguatemi, Pátio Higienópolis, Pátio Paulista e na flagship da marca, na Oscar Feire – todas em São Paulo –, e no Park Shopping Brasília. @_urbanperformance

30 Fotos divulgação
CURTAS | Carbono Uomo
Tradição Fasano em casa. @emporiofasano www.fasanoemporio.com.br
Rua Bela Cintra, 2.245 – Jardins

A MARCA DA TARTARUGA

Pensou em verão cheio de estilo, pensou Vilebrequin. A icônica marca francesa é responsável pelas roupas de banho mais desejadas da estação desde 1971. O badalado modelo Mistral é concebido após nove etapas distribuídas ao longo de vários meses. Cada calção de banho possui, além do bordado, as ponteiras feitas de prata e um número de registro, pois a quantidade de peças por estampa se limita a, no máximo, 300 unidades. Os modelos são fabricados na Itália, mas é possível encontrar algumas unidades exclusivas nas lojas do Shopping Iguatemi São Paulo e JK Iguatemi. @vilebrequin

ESTAMOS DE OLHO Em Marinheira de Açude , livro da modelo Michelli Provensi. Histórias de infância viraram contos fantásticos!

PODE ENTRAR

Imagine-se andando pelo bairro Sumaré e deparar-se com uma galeria de arte totalmente aberta para a rua. Sem portas separando a arte do espectador. Esta é a Cópia Fiel, loja de fotografias idealizada por Arnaldo Pappalardo. O fotógrafo paulistano, que coleciona exposições no Brasil e fora, sentia falta da conexão da rua com o cotidiano artístico e decidiu alargar a possibilidade de compra de fotografias. Basta entrar, admirar e escolher uma das fotos para chamar de sua. São quatro opções de tamanhos, que custam entre 40 e 450 reais. “O formato postal tem a ambição de restituir o hábito de usar o correio, então ofereço o envio para qualquer lugar do Brasil”, conta Pappalardo, nostálgico. Independentemente da aquisição de imagens, a instalação permanente, composta de 80 registros, está aberta para qualquer feliz transeunte que estiver passeando no bairro. @copiafiel_br

32 Fotos divulgação; Lais Acsa
CURTAS | Carbono Uomo
Urbanismo | CARLOS MOTTA
Carlos Motta, arquiteto
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MEU BAIRRO

O arquiteto e designer de móveis descobriu a Vila Madalena nos anos 1970 e, desde então, usa a veia pulsante e criativa do bairro como fonte de inspiração de seu ateliê

Por Carlos Motta em depoimento a Adriana Nazarian

“Minha história está fortemente ligada com a Vila Madalena. Afinal, já faz mais de 40 anos que o Atelier Carlos Motta está no bairro e, consequentemente, que eu faço o trajeto Jardins-Vila Madalena, ida e volta, de bicicleta, para trabalhar.

Meu primeiro contato com a região foi no início dos anos 1970, quando eu estudava arquitetura, mas já estava gamado pela ideia de migrar do desenho para o tridimensional.

Meu tio veio me contar sobre a tal Vila Madalena, uma colina povoada por imigrantes dos Açores. Cheguei lá e pirei: o lugar reunia profissionais livres, serralheiros, marceneiros, algo raro naquela década.

Aluguei um quarto nos fundos de uma casa, comprei umas ferramentas e passei um tempo lá antes de ir estudar marcenaria na Califórnia. Quando voltei ao Brasil, em 1978, não tive dúvidas de que era na Vila que eu queria ficar.

Nessa época, a região já começava a ter uma vida cultural porque os estudantes da USP passaram a frequentá-la. Arrigo Barnabé, Itamar Assumpção estavam sempre ali. O grafiteiro Alex Vallauri também deixava suas frases contra a ditadura nos muros da Vila, que, desde cedo, se mostrava vanguardista.

Aluguei um galpão e, dois anos depois, comprei uma casa antiga de uns portugueses, na Rua Aspicuelta, onde até hoje funciona meu ateliê. O fundo do terreno dava para o Beco do Batman, um lugar meio abandonado e talvez

até bandido na época, mas interessante. A Vila sempre foi um bairro de identidade hippie, mas que reúne uma frequência plural e variada.

Outra coisa que me encantava era o ar de cidade do interior, onde todo mundo se conhece e se ajuda. A costureira Ima, por exemplo, arrumava minhas roupas, enquanto eu consertava o portãozinho de madeira da casa dela.

O tempo foi passando e todos perceberam a existência desse lugar pitoresco, perto de tudo, e a Vila Madalena explodiu. O lado negativo é que abriram muitos bares e restaurantes. A Vila ganhou uma nova identidade e uma frequência flutuante, de pessoas que só vinham para usufruir. Ficou chato e esquisito por um período.

Mas sempre digo que o tempo é implacável e, aos poucos, endereços que não eram relevantes fecharam suas portas. Aquela curadoria natural da Vila foi voltando e o bairro ganhou novamente sua identidade marcante, com lojas, cafés, estúdios e restaurantes realmente bacanas.

Sinto que hoje a Vila Madalena volta para um momento muito bacana porque a veia pulsante segue presente, mas a bagunça diminuiu. É claro que a preocupação com a verticalização total do bairro permanece. Infelizmente nós, brasileiros, somos muito ignorantes em relação a preservar o histórico das cidades.

Mas a Vila mantém firme sua resistência e, independentemente do que aconteça, acredito que a doçura dessa região tão especial vai permanecer.”

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Urbanismo | VILA MADALENA
Retrato arquivo pessoal

vila madalena

04

“Quando não volto para casa para almoçar, vou a esse restaurante simples, gostoso e distante de qualquer grã-finagem que, definitivamente, não cabe na Vila. Gosto da torta de frango com salada marroquina.”

Rua Aspicuelta, 181 | @florindacozinha

UMA

“As roupas são básicas, mas chiques e atemporais. Acho difícil encontrar roupa para Sibila, minha esposa, e lá eu consigo.”

Rua Girassol, 273 | +uma.com.br

02

FEIRA DA RUA MOURATO COELHO

“Para mim, é o melhor pastel da cidade.”

Rua Mourato Coelho, 1074

03

01 FLORINDA

COSTUREIRA IMA

“Assim como eu, a Ima está no bairro há muito tempo. Detesto roupa apertada e já são quase 40 anos arrumando todas as minhas calças e camisetas com ela.”

Rua Simpatia, 117

36 Urbanismo | CARLOS MOTTA

sete acertos

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“É a loja que tenho com meu filho. Sei que sou suspeito, mas considero um dos endereços mais especiais da Vila. Fazemos peças utilitárias da maneira mais correta possível – ambiental e socialmente falando. Camisa de flanela com botões de jarina, uma semente da Amazônia, bowls e cumbucas de muiracatiara feitos por uma comunidade também da Amazônia. E por aí vai.”

06

“Faz parte do meu caminho de casa até o ateliê atravessar o cemitério de bicicleta. As pessoas acham que é um lugar melancólico, mas, para mim, é um respiro na cidade. Florido, silencioso, bem cuidado, transmite uma paz.”

Rua Cardeal Arcoverde, 1250

Rua Aspicuelta, 121 C | @attomdesign

07 ATTOM

CEMITÉRIO SÃO PAULO ALTERNATIVA CASA DO NATURAL

“Um mercadinho natureba, orgânico, que também tem um restaurante self-service que gosto. E sempre acabo encontrando o pessoal mais antigo do bairro, os mais hippies, ioguis...”

Rua Fradique Coutinho, 910

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Urbanismo | VILA MADALENA
Fotos divulgação;
Diego Motta; Layla Motta

Empreendedor, com amor

Entrevista
Rony Meisler Retrato divulgação

Referência no empreendedorismo brasileiro, Rony Meisler é a prova de que nem só de números é feita uma história de sucesso. Para o fundador da Reserva, um olhar atento e humano também é fundamental

Por Humberto Tozze

Há uma história famosa sobre a criação da Reserva que merece ser lembrada porque diz muito sobre o espírito empreendedor de seu fundador, Rony Meisler. Ele e seu sócio, Fernando Sigal, estavam na academia, quando cinco homens apareceram com o mesmo modelo de bermuda. Rony, na época, um engenheiro de produção com 20 e poucos anos, e o amigo não tiveram dúvidas: era hora de empreender para mudar a falta de personalidade da moda masculina.

Quase duas décadas depois, não é exagero dizer que o insight foi transformado em um verdadeiro império – atualmente, são 126 lojas físicas no Brasil – , comprado pela Arezzo em 2020. Mas, para além de números e feitos de sucesso, o legal

Carbono Uomo

Como foi sua infância e sua adolescência?

Rony Meisler

Tive a sorte de ser filho de pais extremamente amorosos e presentes. Era uma família de classe média. Eu morava no Flamengo, no Rio de Janeiro. Eram dois quartos e uma sala bem pequena, sem móveis, porque meu pai não tinha dinheiro. Cresci brincando na rua. Meus pais também nos estimularam muito a ler. E tenho essa memória judaica cultural muito forte. A família judaica é muito visceral. Era sempre muita gente, muita fartura. Ali foram erguidos nossos valores. Minha prática com a minha família vem desse lugar: meio judaico, humilde, afetivo e empático.

Carbono Uomo

Houve alguma influência na sua juventude que indicasse essa veia empreendedora?

Rony Meisler

Minha mãe foi uma grande influência. Ela dizia que focar na criação dos filhos era seu melhor empreendimento. Eu tive a sorte de ser um empreendedor por oportunidade, o que não é a realidade do brasileiro. E seja qual for o perfil, é muito difícil empreender aqui: a burocracia, o acesso ao capital, a carga tributária. Então, ou você é mobilizado por algo maior, como seus sonhos, de modo que eles se misturem

é saber que o crescimento da marca nunca foi alienado de uma consciência sobre a realidade do País. Em 2015, a empresa foi a única brasileira a ser reconhecida como uma das mais inovadoras do mundo pela revista Fast Company. Um ano depois desenvolveram um projeto que distribui cinco pratos de alimentos a cada peça vendida – já são mais de 75 milhões de contribuições. Para Rony, o olhar humano para o business tem muito a ver com os valores judaicos de sua família. Tanto é que, quando o empresário é convidado a falar sobre sua trajetória, ele faz questão de lembrar da influência de seus pais, “sempre amorosos e presentes”. Esta e outras lições do empreendedor você descobre a seguir.

com o seu negócio, ou o país lhe espanca até você desistir. Essa é a verdade.

Carbono Uomo

Há exemplos práticos de como a sua mãe te passou esses ensinamentos?

Rony Meisler

Eu escrevi um livro para contar a história da minha infância (Rebeldes têm asas, Ed. Sextante) e foi um processo psicoterápico. Fui lembrando de situações muito marcantes com a minha mãe. Meu pai viajava muito a trabalho, então dormíamos, eu, meu irmão e ela, na mesma cama. Antes de apagar as luzes, pontualmente às 21 horas, ela rezava e conversava com a gente sobre os acontecimentos do dia. Hoje, como adulto e pai, fica muito claro que aquele era o jeito de ela nos ensinar duas coisas: primeiro, a disciplina, da maneira mais amorosa possível; segundo, com uma postura amigável e fraternal, minha mãe conversava conosco e acabava sabendo tudo o que se passava nas nossas vidas. Ela estava criando os vínculos necessários. Minha mãe me deu tudo e eu tento fazer o mesmo com meus filhos.

Carbono Uomo

Como você equilibra as vidas pessoal e profissional?

RONY MEISLER 39

Rony Meisler

Família é primeiro, segundo e terceiro lugares. Se isso não estiver bem, nada estará. Eu tomo café com meus filhos antes de eles irem para a escola e tento estar em casa por volta das 19 horas. Aos finais de semana, tento ficar o tempo todo com eles. Acho que esse é um hábito que vem do meu pai.

Carbono Uomo

Seu pai também lhe ensinou valores levados para a sua vida adulta?

Rony Meisler

Com ele aprendi que quantidade não é qualidade. Meu pai viajava durante a semana, mas se você me perguntar se eu me lembro de alguma situação importante em que ele não estivesse ao nosso lado, a resposta é não. No final de semana, éramos prioridade total.

Carbono Uomo

Ele também foi uma grande influência?

Rony Meisler

Meu pai tem uma história muito inspiradora. Meus avós vieram da Polônia depois da Segunda Guerra Mundial. Chegaram aqui sem dinheiro e sem falar português. Meu avô virou mascate, vendia de porta em porta. E, apesar de excelente vendedor, era um péssimo administrador. Cresceu muito, chegou a ter quase dez lojas no Saara, o grande shopping carioca naquela época. Ficou rico, mas quebrou quando meu pai fez 18 anos e teve que se mudar com a família toda para Israel. Então imagine: um adolescente mimado, que tinha tudo, e, de repente, precisa trabalhar carregando mala em hotel para pagar a faculdade. Nessa época, meu pai e minha mãe já estavam juntos. Meu avô materno, que vivia no Brasil, ficou doente e eles acabaram voltando para cá. E meu pai, que construiu a vida do zero, tornou-se um dos maiores executivos de tecnologia no Brasil.

Carbono Uomo

Você acha que a sua bagagem de vida foi fundamental para o sucesso do seu negócio?

Rony Meisler

Vejo como uma consequência. As coisas estão sempre 100% associadas. Estamos numa indústria criativa e as questões socioemocionais são muito relevantes na construção da marca, da cultura da nossa companhia e do ambiente de trabalho. Na maneira que tratamos as pessoas, direta e indiretamente. Se

eu for conversar com meus sócios, as histórias são muito parecidas. Então a gente construiu a empresa com os mesmos valores.

Carbono Uomo

A Reserva foi fundada com um discurso “antimoda”, com a ideia de ir na contramão da indústria, certo?

Rony Meisler

Começamos com 22 anos e fomos amadurecendo com a companhia. A filosofia por trás daquela ideia carrega o nosso jeito adolescente e, claro, depois de 16 anos, não posso falar que não faço moda. Mas a gente não se identificava ou se reconhecia no lugar de moda existente naquela época. Era uma coisa exclusivista. Assim começamos a criar roupas básicas e funcionais o suficiente para que as pessoas pudessem combinar com seu estilo.

Carbono Uomo

O que você acha necessário para uma marca ter sucesso?

Rony Meisler

Acredito que, quando uma sociedade dá errado, é porque os valores das pessoas envolvidas são muito diferentes. Eu e meu melhor amigo tomamos uma decisão inconsequente de virar sócios, que acabou dando certo. Eu sou completamente apaixonado pelo que eu faço, todos nós somos. Quando é assim, você passa a apreciar muito mais o processo do que o resultado.

Carbono Uomo

Vocês tinham ideia da dimensão que alcançariam?

Rony Meisler

O nosso negócio é on going. Estamos todos os dias construindo. O ser humano se apega às coisas pequenas da vida. Então não costuma apreciar seu legado. Claro, a gente comemora, mas no dia seguinte tem outro problema para resolver, outra coleção para fazer e meta para bater. Eu não tinha noção de onde a gente estaria e sigo sem saber aonde podemos chegar – e é justamente por isso que a gente vai chegar. A insurgência tem a ver com a percepção de que você é pequeno. Ser grande é engessado. A gente se vê como um negócio jovem de espírito, pequeno e veloz.

Carbono Uomo

O trabalho social sempre esteve presente no grupo. De que forma você acredita que a iniciativa privada pode contribuir para combater as desigualdades?

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Entrevista | RONY MEISLER

Rony Meisler

Fazer o certo é o primeiro passo sempre. Essa questão da filantropia é uma coisa muito judaica – novamente, inspirada na minha infância. E agora as empresas seguem o conceito de ESG. Ainda bem. A gente sempre tentou fazer, com a certeza de que nunca alcançaremos a perfeição. Eu li Capitalismo Consciente, do professor Raj Sisodia e de John Mackey, um dos fundadores do Whole Foods. Eles perceberam que as empresas que faziam investimentos socioambientais tinham um sucesso de receita muito alto e foram estudar o motivo. Descobriram que essas companhias não ganham consumidores, mas criam comunidades de pessoas que gostariam de ver e viver em um mundo semelhante ao que elas expressam e investem para existir. Esse livro mudou a minha vida, é a minha Bíblia nos negócios.

Carbono Uomo

Quais problemas chamam sua atenção atualmente?

Rony Meisler

Na bolha em que vivemos, a gente acha que o maior problema do nosso país é a educação, mas a fome é o maior deles. São 120 milhões de pessoas vivendo com insegurança alimentar e isso acontece porque a gente desperdiça comida. A fome no Brasil é um problema logístico e decidimos nos engajar com a causa lá atrás, por meio de dois bancos de alimentos. A gente disponibiliza uma grana para cada peça vendida. O suficiente para complementar cinco refeições. Meu pai dizia: “para uma doação ser boa, ela tem que doer no bolso”. E essa era uma doação que doía no nosso bolso. Tudo aquilo que a gente leu não pode ser demagogia, nem estratégia de marketing, precisa funcionar como modelo de negócio. Então é um sistema que é tão preocupado com a venda quanto com a quantidade de refeições complementares. E isso se retroalimenta. Hoje tenho clientes que mandam mensagens: “deixei cinco pratos lá”. Estamos criando uma comunidade. A nossa taxa de retenção de clientes é três, quatro vezes maior do que a média de mercado. E, quando você se envolve em um problema social como a fome, encontra diversos outros. O Brasil é um país muito diverso. Ao olhar para nossa empresa lá atrás, sei que ela não trazia um retrato da sociedade. Nós nos perguntamos como poderíamos mudar. Como eu faço para contratar pretos e pardos se estou procurando aqui uma pessoa com uma formação

“A insurgência tem a ver com a percepção de que você é pequeno. Ser grande é engessado. A gente se vê como um negócio jovem de espírito, pequeno e veloz”

muito alta? É preciso investir, treinar, desenvolver essas pessoas, não apenas contratar.

Carbono Uomo

Quase toda a produção de vocês acontece no Brasil. Essa escolha é importante para a marca?

Rony Meisler

A gente está sempre reclamando do nosso país e, na hora de produzir e gerar renda aqui, acabamos na Ásia ou na Europa. Confrontamos esse problema e desenvolvemos a indústria nacional para que ela fosse certificada a ponto de garantir todos os passivos socioambientais. São anos nesse movimento. Somos uma Empresa B e 80% da nossa produção é à base de algodão. Menos prejudicial ao meio ambiente se compararmos com outros materiais.

Carbono Uomo

Você tem algum grande arrependimento ao longo da sua trajetória?

Rony Meisler

São dois. O primeiro é não ter tido outras vivências profissionais, em outros lugares. E o outro é não ter embarcado em um mochilão na minha adolescência. Ainda quero fazer com a minha esposa e os meus filhos.

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Entrevista | RONY MEISLER

1

Look

“Hoje em dia eu prefiro e gosto muito de usar roupas mais largas, com modelagens amplas.”

2

Quimono

“Encontrar quimono no Brasil é dificílimo, esse que estou usando fui eu que fiz. Comprei três tecidos e criei uma espécie de patchwork: é tudo uma questão de referências e testes, além de ter olho para pinçar bons achados e misturar sem ter medo de errar.”

MEU ESTILO

YANLY KASSIN ERH

ESTUDANTE DE MODA E ESTILISTA DE ROUPAS AGÊNERO

3

Moda Genderless

“Não é uma questão de ser genderless, mas de usar o que você quiser. Acho completamente errado esse estereótipo de roupas para mulher; roupas para homem. A sua roupa é o que te expressa e acredito que a moda esteja indo para esse caminho.”

4

Saia, sim!

“O Brasil tem essa ideia de que saia não é uma peça masculina e eu não tinha o hábito de usá-la. Mas fui amadurecendo e hoje não ligo para a opinião de ninguém. Adoro o caimento da saia, com diversos tecidos, fica muito estiloso.”

5

Made in Japan

“A cultura japonesa influencia bastante meu estilo e minhas criações. Foi depois da minha viagem para o Japão que comecei a me interessar ainda mais por moda.”

42
Texto Matheus Evangelista Retrato João Bertholini JEANS SAINT LAURENT

Novos Tempos

“Até dois anos atrás, eu era completamente viciado em tênis, tenho 22 pares! Mas meu gosto foi mudando nos últimos tempos: hoje acho o design, de forma geral, muito preguiçoso.”

6 Botas

“Tenho duas Tabi Boots, com alturas diferentes de salto. Ganhei confiança para usar e não tiro mais dos pés. A Maison Martin Margiela é uma das minhas marcas prediletas e o design associado à cultura das peças me interessa demais.”

7 Acessórios

“Adoro acessórios e o bucket hat não sai da minha cabeça. Também gosto dos colares e pulseiras da Marc Jacobs. Às vezes, ‘roubo’ algumas bijoux do guarda-roupa da minha mãe, Fabíola Kassin, que tem peças incríveis.”

8 Mood Board

“Prefiro livros mais visuais, que servem como referências artísticas. Também não sou muito de assistir filmes. Entre os que me inspiram, estão os de anime como o Neon Genesis Evangelion. Traz pensamentos fortes e profundos.”

KAYTRANADA

9 Som na caixa

“Adoro jazz, disco, house, bossa nova e hip hop, mas sou muito aberto e curioso para aprender e explorar novos gêneros musicais. Meu artista favorito é o KayTranada.”

43
BOTA SAINT LAURENT Fotos divulgação; João Bertholini

O HOMEM QUE LIA DEMAIS

Dono do perfil literário Bookster, sucesso nas redes sociais, o advogado Pedro Pacífico acredita no poder de transformação da literatura e divide com a Carbono as obras que mais impactaram sua trajetória Comecei a seguir e fiquei muito impactado! Essas pessoas passaram a ser minhas referências e me fizeram perder diversos preconceitos literários. Decidi criar a minha própria página porque queria mostrar que todo mundo poderia ler o mesmo que eu. Não era formado em Letras ou Literatura e, ainda assim, estava devorando obras que nunca tinha imaginado.

Eu não venho de uma família de leitores. Minhas avós até tinham o hábito e me despertaram essa curiosidade, mas dentro de casa isso não acontecia. Eu era uma criança que lia, mas não frequentava, por exemplo, a biblioteca da escola. Esse gosto foi crescendo em mim por interesse próprio. Acho importante frisar isso porque mostra que não é preciso nascer leitor, ou estar em um círculo de leitores assíduos, para se tornar um: nunca é tarde para começar.

Na adolescência, inclusive, tive uma fase de poucas leituras, talvez porque fiquei um pouco “traumatizado” com as obras obrigatórias da escola. Acho que também me sentia um pouco perdido sobre o que ler; acabava recorrendo às listas de best-sellers e não ficava instigado pelas histórias. Só com o tempo entendi que esses rankings não são necessariamente feitos dos melhores títulos, até porque o melhor muda para cada perfil.

Nessa busca, lembro-me muito dos primeiros livros que me marcaram: A Revolução dos Bichos, de George Orwell, e Capitães de Areia, de Jorge Amado. Mas nunca imaginei que meu gosto pela leitura poderia influenciar as pessoas e virar um segundo trabalho, que é o meu perfil literário chamado Bookster (Pedro é advogado e segue exercendo a profissão).

Foi durante a faculdade que descobri a existência de influenciadores desse universo nas redes sociais.

Hoje busco muito a diversidade na hora de escolher o que entra na minha prateleira e, consequentemente, indico para os meus seguidores. Conhecer o diferente, a diversidade do outro, saber o que está longe da minha realidade e aprender mais sobre os seres humanos. Tenho certeza de que os livros me ensinaram muito sobre os outros e, ao fazer isso, acabei me entendendo melhor. É um processo de autoconhecimento. Você enfrenta seus preconceitos, angústias, medos, emoções, e não importa há quanto tempo aquela história tenha sido escrita.

Gosto de ler à noite. Hoje, se me deito sem ler, demoro muito para dormir. O momento da leitura é aquele em que foco em uma única tarefa, uma espécie de meditação mesmo. Por tudo isso, acredito na ficção como ferramenta de transformação do ser humano. É realmente meu estilo preferido. Mas, ao contrário do que muita gente imaginou, meu primeiro livro, que será lançado no próximo ano, não é uma ficção. Ainda não posso contar muita coisa, mas estou animado!

44 Livros | PEDRO PACÍFICO
Retrato divulgação Pedro Pacífico, advogado
46 Fotos divulgação Livros | PEDRO PACÍFICO

COLEÇÃO DESVENTURAS EM SÉRIE

Lemony Snicket | Companhia das Letras

Foi o primeiro livro que deixou claro meu gosto pela leitura, quando ainda era criança (pré-adolescente). Eu me envolvi muito com a história dos jovens retratados na trama.

HARRY POTTER

J. K. Rowling | Rocco

Uma obra que despertou a imaginação e a vontade de ler em uma geração de jovens e crianças que não tinham tanta familiaridade com isso. Tem uma grande importância, mesmo que hoje a autora esteja envolvida em diversas polêmicas.

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Uma narrativa que me marcou na escola. A forma como o autor constrói uma história tendo os animais como personagens me fez entender que poderia gostar de uma literatura mais adulta.

O CÓDIGO DA VINCI CAPITÃES DE AREIA EQUADOR

Jorge Amado | Companhia de Bolso

Outro livro que li na escola e gostei. Os personagens tinham idades parecidas com a minha na época, mas vivenciavam uma realidade totalmente diferente. Fez-me perceber a importância de ler e saber mais sobre o outro.

Dan Brown | Arqueiro

Era uma época da adolescência em que estava lendo muito pouco, e esse suspense me reconectou com esse hábito. Gostei tanto que li todas as obras do autor na sequência.

FRANKENSTEIN O FILHO DE MIL HOMENS

Valter Hugo Mãe | Cosac Naify

Foi a partir dessa leitura que comecei a me aventurar mais em autores diferentes. Percebi que um livro pode ir muito além de sua narrativa e o leitor precisa prestar atenção em aspectos como contexto histórico, biografia do autor.

A HORA DA ESTRELA

Mary Shelley | Companhia das Letras

Eu estava lidando com a aceitação da minha sexualidade e esta obra me ajudou a identificar os monstros que criava dentro de mim. E o fato de ter sido escrito por uma autora de 19 anos, em uma época em que as mulheres escreviam muito pouco, é espetacular.

O OLHO MAIS AZUL

Clarice Lispector | Rocco Toni Morrison | Companhia das Letras

Este clássico da literatura brasileira me comoveu. Mais do que construir uma personagem extremamente humana, ingênua e pura, a autora mostra como o mundo lida com uma pessoa assim.

Este livro traz, de uma forma sensível, a história de uma criança que começa a se questionar por conta dos preconceitos da sociedade. Uma narrativa importantíssima e triste.

Miguel Sousa Tavares | Oficina do Livro

A forma como o autor mescla as partes histórica e romanceada me surpreendeu. Foi quando realmente me apaixonei pela literatura. Envolvi-me demais.

CIRANDA DE PEDRA

Lygia Fagundes Telles Companhia das Letras

Lygia Fagundes Telles é uma das minhas autoras favoritas e achei incrível como ela conseguiu abordar conflitos familiares a partir da perspectiva de uma criança.

PAIS E FILHOS

Ivan Turguêniev | Companhia das Letras

Foi umas das minhas primeiras experiências com a literatura russa, e o livro se tornou um dos meus favoritos da vida. Interessei-me pela forma como o autor trata do conflito entre gerações, um tema que se revela muito atual.

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Livros | PEDRO PACÍFICO

DE VOLTA AO BARRO

A cerâmica, normalmente dominada pelas mulheres, ganha cada vez mais mãos masculinas. Conversamos com os ceramistas da vez para descobrir o que está por trás dessa arte ancestral que se tornou ofício – e processo terapêutico – de muitos

Eu nunca domei um cavalo, mas é essa a imagem que me vem à mente quando o ceramista Eduardo Nazarian tenta explicar o que sente ao trabalhar no torno. Só é possível manipular a argila enquanto ela está centralizada sobre um disco, que gira sem parar. É necessário fixar os olhos na massa amorfa marrom-rosada sem saber se ela vai aceitar ser dominada. É preciso força, pois o material chega a pesar dez quilos, mas também leveza. Qualquer movimento brusco pode fazer com que a massa saia do centro, seguindo sua própria vontade. Empurra, amassa, aperta e as mãos, lambuzadas, se sincronizam com o movimento da máquina. É hipnótico. E, se tudo der certo, você pode ver nascer ali uma forma. “É difícil explicar. Não sou místico. Mas, quando acontece, sinto como se o mundo estivesse no eixo”, conta Eduardo.

Não é à toa que trabalhar com as mãos está em alta, inclusive entre os homens. A atividade desenvolve a concentração e pode desencadear a liberação de dopamina, o tal hormônio da felicidade. Na era do uso mais do que excessivo das telas, a experiência do it yourself, que teve um hype nos anos 2000, chega a uma nova fase. A onda do artesanato, em especial a cerâmica, que também viveu seu boom nos anos 1970, conquista maturidade diante da busca por uma reconexão com nós mesmos frente a tantos estímulos. É uma forma de exercer presença que chega a ser comparada com técnicas de meditação, ioga ou terapia.

Soma-se ao hype da cerâmica uma pandemia, quando todos foram obrigados a olhar para dentro e fazer mudanças. Por todos esses motivos, a lista de adeptos, que tem nomes como Brad Pitt e Leonardo Di Caprio, segue crescendo. A seguir, apresentamos ceramistas que desafiam estereótipos a partir dessa onda. O torno é a base das

Manual | CERÂMICA
criações de Nazarian, feitas no sótão de sua casa/ateliê

“É esse encontro de opostos que me encanta. Claro e escuro.

Força e delicadeza. Técnica e intuição. Cerâmica é um pouco isso”

Os opostos se atraem

Eduardo Nazarian começou a manipular a argila há cerca de dois anos, após ver o material na sua forma bruta, no meio de uma falésia na Bahia. Na época, ele buscava uma nova plataforma artística para substituir o piano, com o qual compunha premiadas trilhas para o cinema, por algo mais físico, literalmente. Passar cada vez mais tempo dentro do estúdio, no computador, onde boa parte da composição musical acontece, o deixava claustrofóbico. E a cerâmica surgiu como um novo horizonte. “Eu pensava que era algo sereno demais. A gente associa a um trabalho feminino. E, de fato, as mulheres são maioria nessa arte. Mas é um ofício bastante técnico e corporal. Não parei mais.” No seu ateliê, que funciona no sótão da Fotos

sua casa lindíssima no Jardim América, há cerâmicas em várias fases, inclusive algumas rasgadas cirurgicamente. Os ruídos não têm tanta função para além da beleza e talvez por isso chamem tanta atenção. Nazarian passa horas trabalhando nas múltiplas etapas de um processo que chega a levar até 20 dias para dar vida a uma única peça. Toda feita de argila marmorizada ou porcelana, sua primeira coleção, Mar e Falésia, pode ser encontrada na Galeria Garimpo, em São Paulo, e na loja Trancoseando, em Porto Seguro. As peças são inteiramente brancas ou alternam sutis variações cromáticas em tons terrosos que lembram realmente os tais paredões de areia colorida de praias como Espelho e Trancoso. Juntas, ostentam um contraste e parecem compor

outra obra. “É esse encontro de opostos que me encanta. Claro e escuro. Força e delicadeza. Técnica e intuição. Cerâmica é um pouco isso”, sintetiza. @nazarian_studio

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Nazarian e uma das cerâmicas “rasgadas”. No detalhe, vaso de sua primeira coleção

Epicentro

Eduardo Valdetaro caiu de paraquedas num curso de cerâmica em Barcelona, após uma de suas viagens para Berlim como bom entusiasta da cena techno underground. Com a mão na massa, conheceu a técnica que virou sua especialidade, o acordelado – pense em uma superposição de rolos de argila a partir de uma base, ou, para quem se lembra, nas famosas cobrinhas que experimentamos nas aulas de artes na escola.

Nascido em Cingapura, Valdetaro passou por alguns lugares do mundo antes de se estabelecer em Registro, no Vale do Ribeira, na fazenda da família. Deixou o trabalho

como designer para se dedicar ao campo, tornou-se agricultor de sistemas agroflorestais e encontrou espaço para desenvolver sua prática artística influenciado por processos de autoconhecimento. “Eu era extremamente ansioso. A natureza me ensinou a ter paciência. Sempre que eu tentava pular etapas, algo dava errado”, conta. O trabalho manual, que exige certo vagar, também ajudou Valdetaro a lidar com o hiperfoco, sintoma de seu déficit de atenção grave. Desde 2016 num outro ritmo, ele se dedica à criação de obras de cerâmica combinada com metais oxidados, que recicla dos arredores.

50 Fotos Renato Costa
Eduardo Valdetaro e a obra Jequitibá
“Eu era extremamente ansioso. A natureza me ensinou a ter paciência. Sempre que eu tentava pular etapas, algo dava errado”

Suas séries abordam temas como o impacto humano no meio ambiente, as civilizações do futuro e até a música eletrônica. Nein!, por exemplo, é uma homenagem à Berghain, a famosa balada berlinense que acontece numa antiga usina. Na festa, que é considerada uma das melhores do mundo, as filas são quilométricas e não há qualquer garantia ou critério de entrada. “Quem já foi certamente já tomou um nein (não) do hostess de barba branca, que decide aleatoriamente quem entra ou não. A escultura é a personificação da dor do não”, finaliza o artista. @studiovaldetaro

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Em sentido horário, escultura Nein! (2020); Valdetaro em produção; e escultura Samaúma (2020)

Retalho de referências

Augusto Ribeiro teve uma vida nômade. Na infância e no início da adolescência, costurou um retalho de referências ao se mudar de cidade de três em três anos, por conta da profissão do pai. Das experiências em Pernambuco e Minas Gerais guardou a proximidade com o artesanato popular brasileiro, que, mais tarde, encontraria espaço no seu imaginário minimalista e contemporâneo de designer.

Seu estúdio, o Breve, nasceu em 2019 justamente para contrapor o universo mais rústico e intuitivo do artesanato com o aquele idealizado, milimétrico e projetado de sua profissão. Surgiu também do desejo de fazer uma ponte com suas origens – sua família por parte de mãe é dona de uma olaria no Sul do estado do Rio de Janeiro e seu avô foi um dos maiores produtores de tijolo da região. “Desenvolvi

minha própria argila porque eu queria que toda a linha tivesse essa cara de tijolo, de terra, de telha. Essa cor vermelha, que é a cor da favela, da casa sem acabamento, traz o estigma da pobreza. No Brasil a gente tem uma mania de olhar para dentro e achar que tudo nosso é pobre. E eu queria trazer esse questionamento. Repensar sobre o que damos ou não valor”, explica.

Para criar peças de cerâmica – a lista vai dos utilitários às esculturas –, Ribeiro mistura técnicas como a prototipagem com a experimentação. O processo começa com rabiscos no papel, mas também envolve o desenvolvimento e a impressão em software 3D. Tudo para oferecer contrapontos que fazem diferença no resultado final. Para encontrar, acesse a página breveceramica.com.br. @breveceramica

“ Desenvolvi minha própria argila porque eu queria que toda a linha tivesse essa cara de tijolo, de terra, de telha”
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Manual | CERÂMICA
Augusto Ribeiro
Fotos divulgação

Naturalmente minimal

As principais referências de Rodrigo Ramires vêm da arquitetura modernista, do minimalismo e da natureza. “Durante a pandemia, passei a criar peças mais geométricas. Talvez para tentar organizar o caos e a incerteza que vivemos”, lembra.

Foi durante esse mesmo período que Ramires começou a se dedicar inteiramente à produção de cerâmica no Estúdio Boitatá, que antes ficava sob o comando de sua esposa e parceira, Dani Carazzai. Ele, que também é fotógrafo, viu sua profissão pausar por completo durante o isolamento e usou o tempo livre para aprofundar o fazer

manual na casa onde moram, em uma zona rural de Curitiba. “Minha técnica favorita é o uso de moldes de gesso, que me permitem reproduzir diversas peças semelhantes à original. Gosto de comparar essa ideia com as sementes das árvores: a partir de algo orgânico e natural, cria-se uma nova vida que perpetua e fortalece uma espécie”, conta. Dos utilitários às esculturas lúdicas, as criações da dupla costumam deixar aparente a cor da argila e sua textura. Além de encontrá-las no site – estudioboitata.com. br –, é possível adquiri-las nas lojas da Feira Rosenbaum e na Boobam, em São Paulo. @estudioboitata

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Manual | CERÂMICA
Acima, em sentido horário: o vaso Ninho; detalhe da linha Biruta; Rodrigo em ação e peças da coleção Oscar

Intuição ancestral

Não é raro ver Raphael Oboé, picareta e balde em punho, buscando matéria-prima para suas peças em um descampado nos arredores da sua casa em Jundiaí. Depois da colheita, ele refina a terra, separa os sedimentos e só assim tem o material ideal para trabalhar. “A argila é fácil de encontrar e pode apresentar variações de cor, dependendo dos óxidos presentes na terra. Passei a estudar e a entender como ela se comporta. Acho interessante esse processo de extração”, explica.

Oboé, que também é grafiteiro, se interessou pela cerâmica em 2019 ao descobrir num sebo o livro Biblioteca dos Grandes Mitos e Lendas Universais: América do Sul e viu a história ganhar ainda mais força depois de um intercâmbio cultural no Peru, onde observou as criações dos povos originários.

Mas foi uma tragédia pessoal que o fez mergulhar de vez no tema, como um processo terapêutico mesmo. Na virada para 2020, sofreu um acidente de moto, perdeu a parceira e ficou imobilizado por quase três meses. Veio a pandemia e, em meio à recuperação pós-trauma, passou a produzir intensamente. “Nunca planejo minhas peças. E, se o faço, sempre tomo um rumo diferente de onde comecei. Vai tudo de acordo com o meu humor. Eu me sinto presente o tempo inteiro.”

Diferentemente da maioria dos ceramistas, Oboé usa um forno a lenha de tijolo de barro que ele mesmo criou. Para tal, a queima é feita junto de folhas de árvores, cobrindo as peças, como se elas estivessem num recipiente fechado, resultando em uma coloração preta que dá a tônica das suas coleções. As obras estão à venda na lidabr.com. @1oboe1

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Manual | CERÂMICA
Acima, uma seleção de peças criadas e finalizadas por Raphael Oboé em um forno a lenha de tijolo de barro Fotos Evandro Feliciano

Entre na onda

Selecionamos escolas de diferentes tipos para quem pretende aprender técnicas de cerâmica

SÃO PAULO

Hideko Honma

No ateliê da renomada artesã, é possível aprender técnicas japonesas e a utilização de torno elétrico e ferramental variado. @hidekohonma

Escola Olive

Idealizada por Sofia Oliveira, do Olive Cerâmica, a escola tem introdução à cerâmica, cursos temáticos de modelagem manual e torno para iniciantes. @escolaolive

MINAS GERAIS

Ateliê da Vila

RIO DE JANEIRO

Alice Felzenszwalb

Mentora de grandes nomes da cerâmica, como a dupla Elizabeth Fonseca e Gilberto Paim, a artista está à frente de uma escola e ateliê no Rio. @alicefelzenszwalb

Terra de Galdino

Numa simpática casinha no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, Fabio Galdino cria e também dá cursos contínuos com técnicas tradicionais. @terradegaldino

SANTA CATARINA

Ateliê do Futuro

DISTRITO FEDERAL

Paulo de Paula

Há 25 anos na área, o ceramista e escultor coordena aulas de torno, escultura, esmaltacão e moldes em contato com a natureza em meio à cidade de Brasília. @paulodepaulaceramica

PARANÁ

Mosca

A loja de cerâmica autoral de Paula Mosca, em Curitiba, também abriga aulas de técnicas como pinch, acordelado e esmaltação. @moscaceramica Fotos

Espaço de artes manuais, café e comida saborosa em BH, o Ateliê tem uma agenda variada de cursos e workshops @ateliedavila

O coletivo em Florianópolis oferece aulas e experiências rápidas dentro do universo da cerâmica, além do aluguel de estrutura e ferramentas. @oateliedofuturo

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divulgação;
André Nazareth; Marcelo Deguchi; Rafael Salvador

BUENA ONDA

Maior surfista do Brasil, Gabriel Medina faz das instalações do Hotel Rosewood São Paulo recortes de sua casa. Um ensaio de moda cheio de charme e naturalmente despretensioso, a cara do tricampeão mundial

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Fotos Marcus Steinmeyer Edição de moda e styling Stephanie Marie Eli Grooming Liege Wisniewski Agradecimento Hotel Rosewood São Paulo
Perfil | GABRIEL MEDINA GABRIEL MEDINA USA Colar e pulseiras TIFFANY&CO. — Relógio MONTBLANC
58
59 Perfil | GABRIEL MEDINA
NESTA DUPLA
e
Bermuda e prancha RIP CURL
Colar
pulseiras TIFFANY&CO.
Relógio MONTBLANC
60 Perfil | GABRIEL MEDINA
NESTA DUPLA
e
— Pulseiras TIFFANY&CO. —
Suéter
e calça RIP CURL
Colar
anéis AMIR SLAMA PARA JULIO OKUBO
Relógio ROLEX
63 Perfil | GABRIEL MEDINA ACIMA
— Camisa VILEBREQUIN — Colares AMIR SLAMA PARA
OKUBO NA PÁGINA ANTERIOR Camiseta e calça RIP CURL — Colar e anéis AMIR SLAMA PARA JULIO OKUBO — Pulseiras TIFFANY&CO. — Relógio ROLEX
Blazer SEASE
JULIO
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NESTA DUPLA
Blazer SEASE Camisa VILEBREQUIN Calça RIP CURL
JULIO OKUBO —
TIFFANY&CO. — Relógio MONTBLANC Perfil | GABRIEL MEDINA
Colar
e anel AMIR SLAMA PARA
Pulseiras
66 Perfil | GABRIEL MEDINA
NESTA DUPLA Colar e pulseiras TIFFANY&CO. — Relógio ROLEX
68 Perfil | GABRIEL MEDINA
LOUIS VUITTON — Calça DIOR — Botas SALVATORE FERRAGAMO — Colares AMIR SLAMA PARA JULIO OKUBO — Pulseiras TIFFANY&CO. — Relógio ROLEX — Brinco acervo pessoal
NESTA DUPLA Blazer

CRÉDITOS –Produção de moda: Melissa Janson; assistente de fotografia: Bruno Conrado; tratamento de imagens: Sandro Iung

grooming: Leticia Waechter

Grooming: Liege Wisniewski (GROUPART MgT), com produtos Dior Forever e Schwarzkopf; assistente de

A EVOLUÇÃO SILENCIOSA DE

G A BRIEL MEDINA

Com a paciência de um monge e a alegria de um garoto, o tricampeão mundial de surfe não apenas tem sobrevivido às tormentas da vida, como sai delas mais forte e pronto para conquistar novos mares

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MEDINA USA
e pulseiras TIFFANY&CO.
GABRIEL
Colar
Perfil | GABRIEL MEDINA
“Passei por várias situações que me deixaram mais maduro. Aprendi a ter paciência, a evoluir um pouco a cada dia e a não cair na mesmice”

Gabriel Medina está em um momento introspectivo. Enquanto a equipe de produção monta o cenário deste ensaio na varanda de uma das suítes do hotel Rosewood São Paulo, ele espera pacientemente. De dentro do quarto, sentado em um banquinho feito de tronco natural, o brasileiro tricampeão mundial de surfe inclina a cabeça para a frente e encosta a testa na porta de vidro que dá acesso à área externa. Medina parece pensativo. Ou melhor, zen. Fecha os olhos e une as pontas dos dedos das mãos em uma espécie de mudra. A cena é tão autêntica que o fotógrafo Marcus Steinmeyer se apressa para não perder o momento: pega a câmera e adianta os primeiros cliques sem precisar “brifar” o atleta.

Medina está vivendo uma nova fase. Mais centrado, focado em si mesmo. Tanto é que um de seus stories do Instagram nesse mesmo dia falava sobre uma “evolução silenciosa”, em saber aceitar, reconhecer e aprender com os próprios erros, dar a volta por cima ou um passo além. Pergunto, então, se ele tinha feito alguma tatuagem nova (em meio aos dois braços “fechados” por letras e desenhos) e ele revela que recentemente eternizou um texto em sua coxa esquerda: “Que sejamos gentis com as pessoas e com nós mesmos durante o caminho. Que sejamos felizes com o que temos. Que a ideia do amanhã nos traga esperança. Que a lembrança do ontem nos encha de gratidão. E que a certeza do hoje nos inspire a estarmos presentes, conscientes e dispostos a entregar o nosso melhor.” As palavras são da escritora brasileira Wandy Luz, famosa nas redes sociais por suas mensagens

inspiradoras, e caíram como uma luva no atual momento do surfista. “Fico feliz por ter aprendido a viver de um jeito mais leve”, diz Gabriel.

A atual plenitude vem depois de um longo processo em busca da sabedoria, repleto de desafios no caminho. Em 2021, depois de romper a parceria profissional com o padrasto, Charles Saldanha – seu técnico de sempre e que, junto com a mãe do atleta, Simone Medina, o acompanhava em praticamente todas as etapas do circuito mundial –, Gabriel cortou de vez o cordão umbilical para assumir o controle. Uma decisão que veio cercada de polêmicas. Sua vida pessoal virou um prato cheio para especulações da mídia.

Aquele foi, de fato, um ano de altos e baixos. Em julho, Gabriel deixou as Olimpíadas de Tóquio sem nenhuma medalha no peito. Na estreia do surfe nos Jogos, ele perdeu na semifinal para o surfista local Kanoa Igarashi, que virou a bateria no último minuto com uma nota superestimada pelos juízes, assunto que gerou controvérsia e foi discutido pela imprensa especializada no mundo inteiro. A realidade do brasileiro mudaria da água para o vinho dali a dois meses. Em setembro, na Califórnia, Gabriel fechou a temporada como tricampeão mundial de surfe, vencendo a disputa final do circuito da World Surf League (WSL) contra o brasileiro Filipe Toledo. Fez história: ingressou no seleto hall dos tricampeões mundiais do seu esporte, passando a dividir o salão nobre com o havaiano Andy Irons, o norte-americano Tom Curren e o seu ídolo mor no esporte, o australiano Mick Fanning. A maré boa,

no entanto, durou pouco. Em janeiro, exatamente um ano depois de oficializar o relacionamento com a modelo Yasmin Brunet, em uma cerimônia no Havaí, o casal se separou. Gabriel novamente viu seu nome virar alvo da imprensa. Só que, ao invés de voltar para debaixo das asas da família, anunciou que se afastaria por um tempo do esporte para se cuidar.

Foi uma disputa contra ele mesmo, até conseguir varar mais uma pesada arrebentação. “Passei por várias situações que me deixaram mais maduro”, diz hoje, já com outra mentalidade. “Aprendi a ter paciência, a evoluir um pouco a cada dia e a não cair na mesmice.”

Em 2022, seu retorno às ondas se mostrou progressivo e desafiador. Em junho, durante a etapa Rio Pro do WSL em Saquarema, enquanto brigava por uma vaga para as finais do circuito mundial, Gabriel aterrissou mal de um aéreo e lesionou o joelho esquerdo. Foram mais alguns meses afastado do mar, até finalmente protagonizar um retorno triunfal: em novembro, na mesma Saquarema onde se machucou, venceu uma etapa classificatória da WSL. “Optei por correr Saquarema no fim do ano como um teste”, diz. “Passei a treinar a preparação física durante o evento, algo que funcionou e que pretendo manter daqui para a frente.”

UMA NOVA HISTÓRIA

Nos últimos tempos, Medina tem aprendido a tocar violão, pegando dicas no YouTube e com os amigos. É mais uma atividade que o tira da rotina e o leva a novas descobertas.

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Perfil | GABRIEL MEDINA
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Blazer LOUIS VUITTON — Colares AMIR SLAMA PARA JULIO OKUBO — Brinco acervo pessoal
“Nunca imaginei chegar aonde estou e não vai ser agora que eu vou me preocupar com coisas sobre as quais eu não tenho o menor controle”
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Perfil | GABRIEL MEDINA
VILEBREQUIN —
TIFFANY&CO.
Blazer SEASE Camisa
Pulseiras

“É tão bom quando você consegue encaixar os acordes com a voz”, diz. “Mas ainda não canto. Isso exige muita coordenação”, complementa, como se não soubesse fazer nada extraordinário. Quando um produtor das fotos lhe entrega o violão – um acessório exclusivo às suítes luxuosas do Rosewood –, Gabriel arrisca as primeiras notas de Velha Infância, dos Tribalistas. E, ainda meio que timidamente, solta a voz. Essa é a mesma música do vídeo postado por ele há algumas semanas em suas mídias sociais, em que faz um duo com a irmã Sophia Medina (também surfista) – Gabriel no violão e Sophia no vocal. “Não somos os melhores músicos, mas o melhor sentimento é estar com quem você ama”, escreveu na legenda.

Foi justamente com o intuito de “fazer coisas diferentes” que o atleta decidiu também passar um tempo no Rio de Janeiro. Na verdade, hoje ele vive entre São Conrado, bairro carioca, e Maresias, praia do litoral de São Paulo, onde nasceu e ainda mantém sua casa. “No Rio, eu jogo altinha e futevôlei com meus amigos na praia, pego onda (de manhã e no fim de tarde) e sigo firme nos treinos fora d’água.”

Não são férias, mas uma rotina feliz e saudável que o tem motivado a chegar focado na próxima temporada. “Ainda quero ser campeão mundial mais algumas vezes”, diz, sem medo de parecer pretensioso. “O Circuito é corrido, você tem que estar bem – do corpo e da cabeça.” Ele sabe melhor do que ninguém que a força mental é uma arma que costuma funcionar em suas baterias. “Meu surfe não tem nada programado, é tudo na base da improvisação”, garante.

Ao invés de se comparar com recordistas de seu esporte, Gabriel vai atrás de suas próprias marcas. Ele não pretende,

por exemplo, superar os 11 títulos mundiais de Kelly Slater. Prefere tentar se manter no auge pelos próximos seis, sete anos para brigar pela tão sonhada medalha olímpica. Pelo que se conhece do “competidor Gabriel Medina”, ele não ficaria satisfeito com nada menos do que o ouro. “Sou muito competitivo, mas não me vejo no surfe de alta performance até os meus 50 anos, como tem feito o Kelly”, diz. “Venho dedicando minha vida toda ao esporte. Quero que outros capítulos ainda venham.”

O mundo empreendedor é algo que o fascina e faz cada vez mais parte desses próximos planos. A Medina Softboards, sua marca de “pranchas macias”, vai muito bem. E, em novembro, ele revelou o primeiro negócio de sua gestora Kauai Ventures: uma piscina de ondas que deve revolucionar o “surfe artificial”. “Estou animado. Trata-se de uma tecnologia inédita (Endless Surf), que forma uma onda mais parecida com a do mar. Não importa se ela é tubular ou para iniciante”, explica.

CADA DIA, UM DIA

Conseguir viver um dia de cada vez tem sido gratificante. Hoje Gabriel não cria expectativas nem se cobra demais para absolutamente nada. São lições aprendidas com o ídolo Mick Fanning. “A gente conversa muito e ele sempre fala para eu ter equilíbrio, não ficar 200% em cima de uma coisa só.” Ao fazer uma rápida retrospectiva, Gabriel resume sua carreira a uma consequência natural de seus próprios esforços. “Nunca imaginei chegar aonde estou e não vai ser agora que eu vou me preocupar com coisas sobre as quais eu não tenho o menor controle.”

Steven Allain, jornalista especializado em surfe e editor do canal digital Moist, que acompanha a trajetória de

Gabriel Medina há muitos anos, diz: “Ele hoje é um homem, e não mais um garoto”. Claro que sua busca pela independência, o fato de ele querer finalmente tomar as próprias decisões, além dos sacodes que a vida lhe deu, aceleraram esse processo de amadurecimento. “Mas o Medina está bem mais tranquilo e centrado. Nunca o vi tão bem quanto agora. Os próximos anos certamente prometem”, aposta o jornalista.

Gabriel também tem o dom da imprevisibilidade. Nem no estereótipo de surfista ele se enquadra – apesar de ser o melhor do mundo. É vaidoso, gosta de se vestir bem, surfa o universo dos famosos com a mesma desenvoltura com que desce as ondas e já está acostumado até com ensaios de moda. Não se incomoda, por exemplo, em usar uma joia mais chamativa ou várias peças diferentes para posar para uma foto. “Vocês querem me emperiquitar, né?”, brincou durante a sessão de fotos.

Sem contar que sua playlist é das mais ecléticas: Dave Matthews, Ed Sheeran, Pelé MilFlows, Marina Sena… É impossível tentar adivinhar o que vem na sequência. E quando pergunto sobre o que ele pensa do pessoal mais conservador de seu esporte, que ainda acha que surf, rock e psicodelia devem andar juntos, ele balança a cabeça negativamente. “A galera gosta de rotular tudo”. Coincidentemente, a próxima música a tocar é Somewhere I Belong, do Linkin Park, cujo refrão pesado ele sabe de cor.

“Eu quero curar, eu quero sentir / Como se eu estivesse perto de algo real / Eu quero encontrar algo que sempre quis / Um lugar onde eu pertença.”

Gabriel está atento a tudo. E, pelo visto, sua busca tem encontrado significados em cada detalhe.

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no compasso

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Casa | MARINA ACAYABA E PABLO ROSENBERG
– A
do novo
o
sombra diante
bloco da propriedade é o cenário perfeito para começar
dia em Catuçaba

do tempo

Em Catuçaba, região de São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, a arquiteta Marina Acayaba e sua família encontraram o lugar ideal para colocar em prática seu projeto dos sonhos e adotar um estilo de vida sem pressa, que segue o ritmo da natureza

Texto Raquel Fortuna

Fotos Federico Cairolli e arquivo pessoal Marina Acayaba

Acordar cedo, com o sol entrando pela janela, e dormir com a chegada da lua (de preferência, cheia). Das lições da vida no campo, estabelecer uma nova relação com o tempo foi a mais marcante para a arquiteta Marina Acayaba: “Não tem essa de trabalhar até tarde. A gente levanta com a luz e se recolhe quando ela vai embora”. A imersão começou em 2019, quando ficou pronta a casa que ela e o marido, o também arquiteto Juan Pablo Rosenberg – a dupla comanda o escritório Ar Arquitetos –, reformaram em uma propriedade comprada em Catuçaba, subdistrito da charmosa São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo.

Moradora do bairro dos Jardins, em São Paulo, Marina, que se define como uma pessoa urbana, conta que o endereço rural trouxe muitas descobertas. “Estar na natureza é olhar para o tempo de uma forma completamente diferente. É prestar atenção às mudanças de estação, às fases da lua, estar aberto para o que se passa ao redor. É menos narcisista e egocentrado”, conta ela.

Nos últimos dois anos, esse foi o tom dos dias de Marina, Pablo e dos filhos do casal, Leon, 11 anos, e Eva, 9 (mais recentemente, nasceu Santiago, de 7 meses), quando a família passou mais tempo no interior do que na capital. Menos roupa, mais pé no chão,

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baralho e ócio nos momentos de falta de luz, idas ao mercado local e conexão com a natureza em tempo integral. “Minha filha morria de medo de bichos e hoje pega na mão. As crianças não se assustam mais se aparecer uma cobra, aprenderam a andar a cavalo e a lidar com fogo, a cozinhar e a fazer fogueira. O fogo tem os tempos dele, traz uma ideia de purificação. Existe um aprendizado muito interessante nisso”, diz.

Típico de lugares pequenos, praticamente todos os vizinhos se conhecem na área da Mato Dentro, como é chamada originalmente a fazenda – coincidências à parte, Marina descobriu que uma antiga propriedade de seu bisavô tinha esse mesmo nome.

A história da região é curiosa: segundo a arquiteta, até um ano atrás quase todos os habitantes das redondezas eram de uma mesma família, os Martins. O que se conta é que a antiga dona, Maria Martins – considerada uma pessoa importante na comunidade, pois sempre recebia peregrinos a caminho de Aparecida, cidade a cerca de 80 quilômetros dali –, tinha 20 filhos e foi loteando o terreno em pequenos sítios e distribuindo entre eles. “Agenor Martins é um desses herdeiros, muito conhecido na cidade até hoje por ser o mestre da cavalhada [cerimônia local que acontece em junho e recria os torneios medievais e as batalhas entre cristãos e mouros]”, conta.

2 – Leon com a colheita do dia

3 – Marina, Leon e Eva em um dos muitos almoços sem pressa que acontecem no refúgio

4 – Detalhe da construção feita do zero pela dupla de arquitetos

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| MARINA ACAYABA E PABLO ROSENBERG
Casa
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“A gente tomou conhecimento de um saber local e aprendeu muito com ele”

SABERES DA TERRA

Esse mix de tradição, simplicidade e natureza exuberante vem atraindo cada vez mais gente para Catuçaba. E foi justamente o que despertou no casal o desejo de construir algo por lá, depois de uma estada na pioneira Fazenda Catuçaba, antiga propriedade cafeeira transformada em hotel pelo francês Emmanuel Rengade, que recebe gente de todos os lugares do mundo em busca de experiências bucólicas. “O mote original da nossa casa era poder fazer a arquitetura que a gente quisesse em um lugar incrível”, explica Marina.

Por meio de amigos que já habitavam as redondezas, ficaram sabendo de um terreno à venda e deram início às negociações em 2018. A reforma, que durou um ano, procurou

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5 – Um pátio conecta o novo bloco com a antiga morada do século 19 restaurada pelo casal

6 – Simplicidade e aconchego marcam o interior da casa

7 – Detalhe do fogão a lenha, protagonista das refeições na roça

8 – Leon em um dos passeios na horta da propriedade

9 – Juan Pablo mostrando que é a natureza quem rege o tempo da fazenda

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preservar uma antiga morada de pau a pique, do século 19 construída sobre um platô de pedra (que havia sido enterrado pelos antigos moradores!), e inseriu um bloco novo, resultando em duas partes ligadas por um pátio. Tirando um metal ou outro, os materiais utilizados na obra foram todos comprados nos arredores, como os tijolos fabricados na cidade vizinha: Cunha. A mão de obra também veio da região. “Não é arquitetura, não é overdesign. É uma casa que respeita aquilo que tem no lugar. Se um projeto nosso costuma ter 20 folhas, esse teve dez. Tudo foi feito em obra, discutido com os operários in loco. A gente tomou conhecimento de um saber local e aprendeu muito com ele.”

E o plano é continuar a beber dessa fonte. Marina e Pablo tinham o desejo inicial de implementar algum tipo de cultivo na fazenda, mas não conseguiram até agora por conta da realidade da rotina, dividida entre a cidade e o campo. “Quem sabe daqui a 15 anos eu decida plantar berries e me mude de vez para cá”, brinca a arquiteta.

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Casa | MARINA ACAYABA E PABLO ROSENBERG
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10 – Juan Pablo e Leon diante da imensidão do vale verde que cerca o refúgio 11 – Paz, silêncio e muito verde no sítio da família
“Não é arquitetura, não é overdesign. É uma casa que respeita aquilo que tem no lugar”
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UM DÉCADA

TRIUNFANTE

A centenária Triumph Motorcycles completa dez anos de sua história em território nacional com números impressionantes e a marca de 40 mil unidades montadas no Brasil

Em 2022 a inglesa Triumph Motorcycles completa 120 anos de história no mundo e dez anos de atuação no mercado brasileiro. A montadora, que começou a montar suas motos em Manaus (AM) em outubro de 2012, com apenas três modelos, virou referência no mercado brasileiro entre as motocicletas premium, investiu e ampliou sua fábrica, aumentando significativamente a quantidade de modelos disponíveis para o consumidor brasileiro e ampliou sua rede, que hoje conta com 22 concessionárias espalhadas de Norte a Sul do Brasil.

Conheça um pouco da história da marca com essa timeline dos principais acontecimentos dos últimos dez anos:

Início da produção em Manaus aos 110 anos de história da Triumph

Nascida em território brasileiro em 2012, montando apenas os modelos Bonneville T100, Speed Triple e Tiger 800XC, a fábrica da Triumph, localizada em Manaus, recentemente atingiu a expressiva marca de 40.000 motocicletas produzidas no Brasil desde sua implementação.

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Lançamento do TRX (Triumph Riding Experience)

Com mais de 240 passeios, 179 cursos de pilotagem, 1840 contratos de locação de motocicletas e 112 viagens nacionais e internacionais realizadas, a Triumph Riding Experience (TRX) é hoje a maior plataforma de experiências com motocicletas da América do Sul. Criada em 2013 pela Triumph do Brasil.

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Tiger 800

Lançamento de Novas Clássicas

triumph.com.br | @triumph

Na primeira apresentação à imprensa, ainda em 2012, apenas três modelos foram lançados para o consumidor. Um deles foi o Tiger 800XC, um dos maiores ícones globais da Triumph, que logo caiu no gosto do consumidor brasileiro. Uma das motos mais amadas, elogiadas e premiadas pela crítica internacional.

A primeira das clássicas da empresa a ser comercializada no mercado brasileiro foi a Bonneville T100, em 2012, bem antes de esse segmento virar verdadeira febre no mundo todo e de a própria Triumph investir pesado em tantos novos modelos com visuais retrô, cheios de história e personalidade.

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Daytona 675R

Referência absoluta no segmento desde o seu lançamento, a Daytona 675R definiu novos padrões para as superesportivas, passando rapidamente a ser reconhecida como a moto mais rápida na pista e a melhor para andar na estrada, além de contar com características que lhe conferiam personalidade própria, ao contrário de outras esportivas do mercado.

Lançamento da Rocket 3 R

O público brasileiro teve o primeiro contato com esse modelo no Salão Duas Rodas 2013. Na época, seu nome era Rocket III Roadster, mas o modelo já era único, inesquecível e proporcionava uma pilotagem impressionante ao seu condutor, graças a seu motor de 2.294 cc, capaz de desenvolver 148 cv de potência.

Lançamento da Tiger 900

A motocicleta Tiger 900, chegou para revolucionar o segmento Adventure. Inteiramente transformado, o modelo foi desenvolvido para substituir a bem-sucedida Tiger 800, uma lenda do motociclismo mundial, e se tornar uma nova referência no segmento das motocicletas Adventure. São quatro versões: GT Low, GT Pro, Rally e Rally Pro.

Lançamento da nova Tiger 1200

A Triumph Tiger 1200, modelo mais moderno da categoria Big Trail, possui seis diferentes configurações e diversas cores, com preço competitivo dentro do segmento, comparando-a com as principais concorrentes. Assim como a Tiger 900, possui versão Touring, que já vem equipada de fábrica com suporte, malas laterais e top box.

Lançamento da Street Triple RS 765

O modelo Street Triple já está à venda no Brasil desde 2017, mas foi em 2020 que a moto passou pela sua primeira grande revolução tecnológica. A nova Street Triple RS, que pertence ao segmento Roadster, é leve, rápida, divertida, ágil e elegante – a Street Triple é um modelo revolucionário, com estilo diferenciado e emocionante motor triplo de 765 cc.

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Festa de comemoração de dez anos da marca no Brasil

No leilão especial, pilotado pelo leiloeiro James Lisboa da casa Leilão de Arte de São Paulo, uma Triumph Scrambler 1200 XE, edição única e comemorativa, customizada pelo artista Teydi Deguchi, do estúdio Shibuya Garage e Deus Ex Machina. Parte do valor arrecadado será doado ao Instituto Olívia, de Henrique Fogaça.

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Fotos divulgação

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Minimal

“Sou muito básico. Tenho muitas camisetas brancas e pretas, sem nada. Adoro os modelos da Uniqlo e sempre que viajo compro algumas.”

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Detalhes

“Pode parecer coisa de publicitário dos anos 1980, mas eu gosto muito de meias coloridas. Sempre que vejo um modelo com uma estampa muito diferente, acabo comprando.”

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Hi-lo

“Prefiro tons mais neutros, mas, às vezes, busco um ponto de cor. Tenho uma camiseta amarela, por exemplo, que uso com calça e jaqueta pretas ou com um blazer escuro.”

MEU ESTILO

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Curinga

“Gosto de fazer camisas em tons neutros na BRNC, a alfaiataria de Bruno Colella. Quando tenho reuniões ou algum evento, uso um blazer para transformar a cara do dia a dia.”

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BENSON ACOHAMO DIRETOR DE ARTE, SÓCIO DA AGÊNCIA DE BRANDING BSN Fotos divulgação; João Bertholini Texto Rebeca Martinez Retrato João Bertholini HAPPY SOCKS MONTBLANC

5 Ponto final

“Gosto bastante de abotoaduras. Acho que trazem um toque bacana, mesmo quando estou com uma roupa mais despojada.”

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24/7

“Tenho hábito de ouvir variados tipos de música em diferentes momentos do dia. Clássica, de manhã, que me ajuda a focar. À tarde, bossa nova. E, quando anoitece, mudo para jazz ou soul.”

6 Herança

“Este quadro tem uma história especial. Em 2013, eu o postei no Instagram, depois de vê-lo em uma exposição do Petit (Francesc Petit). Quando o artista faleceu, sua filha me procurou dizendo que ele tinha deixado a obra para mim. Ele foi uma das minhas maiores inspirações como diretor de arte e ser humano.”

8 Enciclopédia

“Sou um leitor voraz. Tanto que há muitos livros espalhados na minha casa. Mas também gosto de acompanhar revistas como a Monocle . Tenho uma grande coleção.”

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ARETHA FRANKLIN

A taça está cheia

O consumo de vinho no Brasil dobrou nos últimos 12 anos, colocando o país entre os mais atraentes do mundo para esse mercado. Como resultado, os wine bars têm ganhado cada vez mais espaço no eixo Rio-São Paulo. Selecionamos alguns dos nossos favoritos e outras dicas para os entusiastas do assunto. Santé!

Nos últimos tempos, os enólogos parecem concordar com uma máxima: o Brasil está diante de uma “revolução do vinho”. E basta se atentar aos números para entender. Segundo o Wine Intelligence Wine Market Attractiveness Compass Model 2021, o País é considerado hoje o 14º mercado de vinhos mais atraente do mundo. A sede é tanta que subimos 12 lugares no ranking só nos últimos dois anos.

O crescimento teve como catalisador a pandemia, que impulsionou grandes mudanças no estilo de vida dos brasileiros, inclusive em relação ao consumo de álcool. Impedidos de sair de casa e socializar, nos abrimos a essa bebida de convite mais reflexivo e discreto. E também

SÃO PAULO

PALOMA

Menos é mais nesse bar de vinhos no térreo do Copan, no Centro. No meio do salão, os vinhos são expostos em prateleiras e, então, servidos em copos de vidro no lugar de taças. Para escolher, é possível contar com a ajuda do bartender Felipe Rara, que se divide com o vizinho Fel, especializado em coquetelaria. Além de entradinhas simpáticas, como a porção de manjubinha, há almoço executivo de segunda a sexta. @paloma___sp

CLOS BAR À VIN & BISTRÔ

Essa simpática casinha na Vila Madalena oferece uma curadoria generosa de vinhos naturais, que podem ser pedidos em taças ou garrafas. Há rótulos de tiragem limitada, como os da Azienda Agricola Lammidia, produzidos na região italiana do Abruzzo. A cozinha aberta, de onde saem caprichadas moules frites, também chama a atenção. No comando, Elisa Fernandes, primeira vencedora do MasterChef Brasil, que fez escola em restaurantes estrelados da França. @clos_winebar

uma “novidade” para alguns num momento de distrações restritas – considerando nossa forte cultura cervejeira e da cachaça.

Outro motivo para que o vinho ganhasse destaque na terra oficial da caipirinha foi o aprimoramento da distribuição, principalmente via e-commerce, e pelo crescimento da oferta de rótulos de maior qualidade nos supermercados. Como consequência, uma nova safra de wine bars tem atraído os mais diversos públicos. Nas próximas páginas, conheça dez endereços onde é possível apreciar uma boa taça, dicas para encontrar vinhos naturais, um livro sobre o tema, um rodízio e até uma viagem enológica.

LOS PERROS

No “boteco de vinhos”, como o sommelier Fabiano Aurélio (ex-Figueira Rubaiyat, Grand Cru e Rubi Wine Bar) define seu bar na Consolação, a carta privilegia rótulos europeus que não vão muito além dos R$ 100. A proposta é democratizar a bebida e o ambiente é propício. Para comer, camembert na chapa e polenta com ragu de linguiça. @losperros.boteco

Safra | VINHOS Fotos divulgação
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SEDE 261

Apesar de não ser exatamente uma novidade, o bar segue firme no topo da lista dos fãs de vinho. Com foco em taças, o lugar ganhou esse nome por ser a sede do clube de vinhos das sommelières Daniela Bravin e Cássia Campos, que existe desde 2006. O espaço intimista em Pinheiros acomoda dez pessoas sentadas, mas é possível garantir seu copo na calçada – tem até quem traga sua própria cadeira. Para comer, às quintas tem pizza, aos sábados, ostras e, nos demais dias, tábua de queijos ou de charcuterie, ambos artesanais. @sede261

Na badalada região de Baixo Pinheiros, o antigo Miya, do chef Flávio Miyamura, voltou em formato de bar de vinhos. O diferencial do local é oferecer taças de rótulos de grandes terroirs, como Brunello e Chianti, incluindo safras exclusivas e especiais. Para acompanhar, que tal a famosa tostada de milho com atum marinado? @miyawinebar

IAIÁ CAVE À MANGER

Há um clima de casa nesse bar que também é empório no Itaim Bibi. E é justamente no quintal, ao redor de uma jabuticabeira, que ficam as melhores mesas, onde semanalmente pode-se curtir um jazz ao vivo. Idealizado pelo francês Benoit Mathurin (Esther Rooftop), o endereço oferece uma carta global, com destaque para a seleção dos les bleus, com vinhos orgânicos da região de Languedoc-Roussillon, ainda não tão conhecida, mas bastante promissora, no Sul da França. A cozinha é comandada pelo chef Nando Carneiro. @iaiacaveamanger

ALTRUÍSTA OSTERIA E ENOTECA

Numa das paredes do salão, com pé-direito de seis metros, uma imponente estante repleta de garrafas impressiona quem entra no restaurante-adega nos Jardins. Entre os 500 rótulos, há 150 opções de vinhos em taça para serem harmonizados com pratos italianos, como o Fiori di Brie e Albicocca. A equipe conta com cinco sommeliers, todos donos de boas sugestões. @altruista.osteria

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MIYA WINE BAR

BELISCO

“Penso, logo belisco”, sugere o neon numa das paredes do bar de vinhos comandado pela chef Monique Gabiatti e pela sommelière Gabriela Teixeira. No burburinho de Botafogo, o spot privilegia rótulos naturais, produzidos em pequena escala, além de petiscos como o gateau de queijos brasileiros. Entre os vinhos estão o Escândalo Carignan, do Vale do Colchagua, no Chile, e o Regeneracion Semillon, produzido em Mendoza, na Argentina. @belisco.rj

SULT

É uma delícia esperar a noite chegar em uma das mesinhas ao ar livre dessa casa em Botafogo, que privilegia vinhos naturais, orgânicos e de baixa intervenção. Do lado de dentro, o ambiente é descontraído, com cozinha aberta para o salão, e garrafas decorando as janelas. Saboroso, o cardápio de acento italiano oferece ótimas entradinhas, caso da carne cruda com avelãs e queijo grana padano. @sult.restaurante

Imersão

CAVE NACIONAL

A graça de ir ao restobar de Marcelo Rebouças e Karina Rodrigues é visitar sua charmosa adega, com cerca de 250 rótulos rotativos – o espaço é um desdobramento da loja virtual da dupla. A carta, exclusivamente nacional, investe em pequenos e médios produtores, como a Vinícola Torcello, do Vale dos Vinhedos e a Routhier & Darricarrere, da Campanha Gaúcha. É possível levar garrafas para casa com desconto. @cavenacional

Duas dicas que prometem surpreender até os mais enólogos

BEBA (ATÉ O FIM) SE FOR CAPAZ

Se a ideia é viver uma experiência diferente em torno do vinho, vale visitar o wine bar que fica dentro da loja da Vinícola Campestre, em Pinheiros. O espaço está aberto três vezes por semana para um rodízio de vinhos da produtora gaúcha. De quinta (apenas para mulheres) a sábado, é possível degustar 17 rótulos (R$ 99), incluindo alguns da linha Zanotto, premiada em 2021 pela Decanter World Wine Awards, o “Oscar” do vinho. @vinicolacampestresaopaulo

VINHO EM AULA

Imagine aprender francês falando sobre… Vinhos, claro. A brasileira Analu Torres, que durante anos comandou o simpático Jardim dos Vinhos Vivos, está à frente dos cursos do Super Chouette Vins. Além das aulas, ela também promove degustações guiadas e viagens enológicas —oui, oui. Os roteiros, sempre em regiões da França, são focados em visitas a produtores artesanais de vinhos naturais biodinâmicos, ou, como ela mesma diz, “puros, livres e vivos”. @super.chouette.vins

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RIO DE JANEIRO

Vinhos Naturais

Os habituês dos wine bars mundo afora já devem ter notado o destaque cada vez maior dado aos naturais. São rótulos que prezam pela produção artesanal e de baixa interferência, algo comum nos primórdios desse universo. Sem aditivos químicos usados para acelerar os processos na era da industrialização excessiva dos alimentos e bebidas.

Priscila Herrera, chef do restaurante vegetariano Banana Verde e apaixonada por vinhos, divide com a Carbono Uomo suas dicas de endereços para se adquirir garrafas de baixa intervenção.

ENOTECA SAINT VINSAINT

“Além dos bons rótulos, o brunch deles é imbatível. Com música ao vivo, é uma boa dica para aproveitar o fim de semana sem pressa.”

@enotecasaintvinsaint

PRIMITIVO

“Gosto de ir para conhecer queijos diferentes e novos estilos de vinhos naturais – vale provar uma taça lá ou levar uma garrafa para casa.”

@primitivosaopaulo

CHEF VIVI

“Comida deliciosa, com muito conceito, rastreabilidade de produtos e harmonização deliciosa com a carta de vinhos!”

@chefvivicasa

RAISIN DIGITAL

“Para quem gosta de viajar e procura lugares especiais com vinhos naturais, vale ficar de olho neste app: raisin.digital/en”

FEIRA NATUREBAS

“Os curiosos que adoram estudar, conhecer novidades e comprar bons rótulos devem visitar essa que é a melhor feira de vinhos naturais! Vá com tempo e leve um carrinho para carregar preciosidades do mundo todo!”

@feiranaturebas

MUITO ALÉM DO RÓTULO

Para quem deseja ir além das degustações informais dos wine bars, a dica é o livro Conversas acerca do Vinho. Lançado há poucos meses por Gabi Monteleone, sommelière à frente dos projetos Tão Longe, Tão Perto e Vinhos de Combate, é um dos finalistas do prestigioso Gourmand World Cookbook Awards 2022, na categoria Wine Writing. A proposta é enxergar o vinho muito além de luxo ou bem de consumo, mas como um alimento que resulta de um saber milenar, ligado diretamente à agricultura. R$ 65. @livraria_cultura

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Leitura

Lares Doces Lares

Conheça a empresa brasileira que já realizou 2.400 transações imobiliárias e promete muito mais para 2023

Casa em condomínio – Joá, Rio de Janeiro

Fundada em 1976 com o mesmo compromisso de levar o serviço excepcional que caracterizou a tradicional casa de leilões Sotheby’s, estabelecida em 1744, a marca Sotheby’s International Realty® se tornou conhecida em todo o mundo pelas propriedades distintas que representa.

Em 2015 nasceu seu braço brasileiro: a Bossa Nova Sotheby’s International Realty. Uma parceria da gigante britânica com os paulistanos Marcello Romero, cofundador e CEO, e Renata Victorino, diretora de Vendas e sócia da BNSIR.

Conversamos com a dupla para entender como, em sete anos de jornada, já se tornaram a primeira empresa do segmento imobiliário de alto padrão do Brasil, somando,

em 2021, impressionante 1,7 bilhão de reais em transações imobiliárias e crescendo 17 vezes desde o princípio da companhia.

Sob a gestão de Renata, a equipe de vendas é tida como especialista em atendimento impecável. “Estamos em constante inquietação, em busca de melhorias. O conceito de luxo tem mudado nos últimos anos, assim como os hábitos e conscientização dos consumidores. Nossa atualização é diária. A todo momento nossos corretores estão na rua colhendo informações do dia a dia, conhecendo de perto os imóveis, o que cada bairro oferece, quais os benefícios daquela localidade. Nosso time usa sua experiência de

Carbono Uomo + SOTHEBY’S
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“Nosso papel é apresentar ao cliente a cena real e não ao que ele leu na internet”

anos de atendimento atrelada à utilização das ferramentas de tecnologia”, conta a diretora. “Com o surgimento de inúmeros sites do ramo, o cliente se tornou uma figura empoderada, que consegue ir atrás dos dados por conta própria. Mas, dado não é informação! Nossos corretores são advisors, e não simplesmente mostradores de imóveis. Eles sabem desde o que está acontecendo naquela área, se aquele imóvel pode ou não trazer algum problema jurídico, até se o preço está justo, passando por saber onde o sol incide na sala em determinado horário. São profissionais extremamente capacitados, experts em arquitetura, urbanismo e economia”, afirma Marcello, referindo-se aos 260 representantes da Bossa Nova Sotheby’s International Realty. “Nosso papel é apresentar ao cliente a cena real e não ao que ele leu na internet”, completa. Com cerca de mil escritórios espalhados pelo mundo, a Sotheby’s International Realty, está em mais de 80 países. E a filial brasileira, Bossa Nova Sotheby’s International Realty pode encontrar o imóvel perfeito em qualquer lugar do planeta. “Nosso departamento

internacional cuida não somente da busca do imóvel que melhor atenda à necessidade do nosso cliente, mas também de uma curadoria de vida na nova cidade, como achar a escola ideal e pontos de interesse para o novo dia a dia da família”, explica Renata. Responsável pelo desenvolvimento da plataforma Cidade Virtual, uma ferramenta proprietária para profissionais do ramo, capaz de dizer em tempo real, por exemplo, quando uma unidade passa a ser comercializada, ou quantos apartamentos de determinada metragem existem à venda em uma região específica, a BNSIR fornece aos seus especialistas uma tecnologia de conhecimento única, fazendo com que eles estejam sempre à frente da informação. “Mas acreditamos que não há números nem tecnologias que supram o olho no olho. Nada substitui o corretor, com informações em tempo real e transparência. Trabalhamos para o cliente, e não para as vendas”, finaliza Renata, com a certeza de que expertise igual, com alcance global, não será fácil de encontrar em outra imobiliária.

A Bossa Nova Sotheby’s International Realty

atua majoritariamente nas zonas Sul e Oeste da cidade de São Paulo e no interior, com os condomínios de campo mais prestigiados do estado, como Quinta da Baroneza, Fazenda Boa Vista e Fazenda da Grama, e com exclusividade nos lançamentos de sucesso Praia da Grama e O Portofino. No portfólio de atuação constam também cidades como Campinas, Sorocaba e os principais destinos do litoral paulista. No Rio de Janeiro a operação da BNSIR concentra-se na Zona Sul e nas regiões de Serra, Costa Verde e Região Oceânica.

bnsir.com.br

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Renata Victorino e Marcello Romero Casa em condomínio – Fazenda Boa Vista, Porto Feliz

Sonhar é preciso

Entrevista
Hanna Limulja Retrato divulgação

Uma repórter obcecada por sonhos conversa com a antropóloga Hanna Limulja, que estudou a fundo o que o tema representa para os Yanomami –e que deveria servir para nós também

Por Natália Albertoni

O meu interesse pelos sonhos é tanto que, ainda na adolescência, procurei um médico especialista. Além de me entender, ele explicou que nossa alma passeia durante a noite – inclusive para lugares nunca antes visitados. Anos depois, ao entrevistar a antropóloga Hanna Limulja para a Carbono, tudo pareceu fazer sentido.

Carbono Uomo

Você diz que os Yanomami tinham curiosidade de saber com o que sonhamos. No que nos aproximamos?

Hanna Limulja

Um dos retornos mais bonitos que recebo dos leitores é que eles passam a sonhar mais durante a leitura. Isso sinaliza algo que está ali dormente dentro de nós. Davi Kopenawa, xamã e líder Yanomami que participa da obra, fala que os brancos não sabem sonhar, mas, por outro lado, diz que seu livro A queda do céu foi pensado com as palavras que ele deveria passar para que os brancos pudessem fazê-lo. Saber sonhar não é um dom inato. É como se fosse uma técnica. Todo mundo sonha. A diferença é que eles prestam atenção e fazem algo com isso.

Carbono Uomo

O cientista Sidarta Ribeiro escreveu que deveríamos reaprender a sonhar com os povos originários. Os sonhos já foram centrais para tomadas de decisões, inclusive. O que houve?

Hanna Limulja

Passamos por uma transformação não só na antropologia, mas na ciência. Sidarta deu bastante visibilidade ao tema e está colocando o sonho num lugar em que ele já esteve. Na história da humanidade, esse é um dos temas mais discutidos. Na Bíblia há sonhos proféticos importantes. O sonho de um rei era levado ao oráculo para ser interpretado. Mas, se todo mundo tem acesso a algo tão potente, perde-se o controle. Ao privar as pessoas dessa capacidade, de tomarem decisões por conta própria, é possível dominá-las.

Carbono Uomo

E funcionou?

No livro O Desejo dos Outros – uma etnografia dos sonhos Yanomami, Hanna fala sobre os sonhos que coletou em uma comunidade indígena. Para seus integrantes, o momento em que sonhamos é tão importante quanto o de vigília. E, como a autora que foi destaque na última Flip mostra nesta entrevista, nos faria um bem danado pensar assim.

Hanna Limulja

Sim, mas é reversível. Como uma pessoa começa a ler um livro sobre sonhos e começa a sonhar?

Ela lê o sonho dos outros e passa a se interessar. É mais simples do que parece. Mas demanda atenção. É um exercício de memória. A memória também é uma forma de resistência.

Carbono Uomo

E há quem ainda preserve essa relação de atenção entre nós?

Hanna Limulja

Um jovem me disse que a avó jogava no bicho baseada em seus sonhos, mas que ele nunca acreditou. Quando me ouviu falar, começou a refletir se ela teria razão. Perguntei: “mas sua avó ganha dinheiro com isso?”, e ele: “sim”. “E como você não acredita?”, indaguei. Em algum lugar a gente ainda vê isso. Temos de localizar entre nós onde os sonhos deixaram de ser importantes. Falamos de um lugar de classe média privilegiada, que não presta atenção, ou os entrega a um especialista. É o psicanalista que vai tratar dos seus sonhos. Tem a ver com esse nosso modo de delegar nossas questões. Porque não pensar nos sonhos é não pensar na nossa autonomia para resolver as próprias dúvidas.

Carbono Uomo

Estamos mais próximos do que imaginamos dos Yanomami?

Hanna Limulja

Sim, a gente só não sabe. O sonho é onde conseguimos escapar de alguma forma. É o único lugar onde o capitalismo não chegou. Tem um caráter de resistência, e não só para os Yanomami. E não o sonho como

HANNA LIMULJA 95

algo que almejamos no futuro, que é quase um milagre. Mas o que você sonha agora e pode concretizar.

Carbono Uomo

Para um Yanomami os sonhos têm uma conexão com os mitos. Poderia explicar?

Hanna Limulja

Dentro da antropologia, a mitologia é um tema clássico, assim como o xamanismo. Durante a pesquisa, eu me perguntava por que eles falavam sobre mito quando eu questionava sobre sonhos. Entendi que eles não confundiam as coisas, mas sonhavam com os mitos. O mito só podia existir porque era sonhado. Em última instância, todo mito é um sonho. Eu tenho uma hipótese que se estende a nós: não há história criada no mundo que a gente não tenha sonhado.

Carbono Uomo

Você não fala de psicanálise e menciona Freud em um parágrafo. Para ele, havia uma continuidade entre vigília e sonho. Então tem uma relação aí, certo?

Hanna Limulja

Para mim, faz sentido, mas eu não sou psicanalista. Talvez queira me debruçar mais a fundo, mas o que me atraiu é o porquê de a antropologia ter rejeitado o tema do sonho por muito tempo. Dentro do pensamento ameríndio, o mito e o xamanismo são centrais. E em vários povos indígenas o sonho é central. Tem muito mais para pesquisar.

Carbono Uomo

Mas há um contraponto.

Hanna Limulja

O contraponto entre nós e eles é que, para os Yanomami, um outro motiva o seu sonho. Para nós, a maneira como sonhamos tem a gente como centro. Diz respeito a um desejo que é nosso e não está manifesto. Essa abordagem faz com que a gente se afaste. Simplifica o lugar que o outro tem na nossa vida. O outro não poderia interferir no seu sonho, algo tão íntimo e particular. Então, o sonho só pode ser fruto de um desejo seu, reprimido.

Carbono Uomo

Essa é a diferença fundamental entre nós?

Hanna Limulja

Sim. No momento do antropoceno, eles veem tudo.

Os outros são importantes. Os outros são as árvores, os animais, todos os seres que também sonham e estão aqui. Enquanto nós estamos centrados no eu. Quando o Davi diz que “os brancos não sabem sonhar”, está sendo freudiano. “Vocês só sonham suas mercadorias, suas coisas, o eu. E é por isso que não conseguem ver a floresta.” Porque existe essa outra dimensão de conhecer as coisas por meio do sonho.

Carbono Uomo

Como assim?

Hanna Limulja

Um xamã Yanomami dizia: “Eu conheço São Paulo”, mesmo sem nunca ter saído da sua comunidade. Ele foi até a cidade em sonho. Ele reconhece que o mundo é muito maior que a sua habitação. Há muitos brancos. Eles estão espalhados no mundo todo e o mundo todo contempla muitos outros lugares. É essa abertura para o outro que é tão necessária para que eles possam existir. Porque isso também faz parte do universo deles. Não temos essa relação e por isso conseguimos destruir o lugar onde vivemos. Não olhamos para além dos nossos desejos e posses.

Carbono Uomo

O que foi o mais desafiador no processo de criação?

Hanna Limulja

O coletivo. Não havia nada que eu pudesse fazer sozinha ou sem que eles soubessem onde eu estava. E eu gosto muito de ter momentos só. Esse controle é uma forma de cuidado. Eu era uma branca na floresta. Teve um dia que eu me perdi, mas isso é história para outro livro…

Carbono Uomo

E quais outros projetos estão nos seus planos?

Hanna Limulja

Quero fazer a pesquisa em lugares onde há garimpo. O xamã Davi tem pesadelos recorrentes com guerra e o chão se abrindo. Talvez eu não consiga comover as pessoas falando que há 20 mil garimpeiros na terra Yanomami, mas, ao relatar esses pesadelos em torno dessa violência, é possível tocar em algum lugar. O sonho tem esse poder. Por isso alcança tantos. Às vezes, as pessoas não veem relação entre a defesa da floresta e desse povo. Mas a floresta só existe por conta deles. Esse povo não pode morrer e nós precisamos nos responsabilizar.

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Entrevista | HANNA LIMULJA

Carbono Uomo

O que você espera nesse sentido?

Hanna Limulja

Primeiro as pessoas precisam conhecer as coisas. As redes sociais têm esse poder de mobilização tsunâmica. Em pouco tempo, milhões de usuários sabem sobre algo, mas de maneira superficial. Ninguém se envolve com as causas. Dão um like, compartilham e acabou. Conhecer é ter engajamento. É saber que essas pessoas estão lá, estão morrendo... e isso tem a ver com garimpo ilegal, com política de governo, entre outras questões. Assim, é possível entender de que maneira, do seu lugar, você pode apoiar a causa. Se as pessoas se importam com os alimentos que comem e assinam cestas orgânicas, também podem saber de onde vêm os outros produtos que consomem. De onde vem o ouro? Do garimpo ilegal da terra Yanomami. Política não é algo que fazemos a cada quatro anos. É ter consciência e ação.

Carbono Uomo

Se não nos responsabilizamos, ficamos imobilizados?

Hanna Limulja

Sim. O que eu posso fazer? Divulgar esse livro. Não espere que alguém lhe diga: “Meu querido, faça isso”. Você tem que saber. E, antes de tudo, precisa saber que tem o poder de fazer.

Carbono Uomo

E aí caímos no sonho de novo. Do poder que eles têm de gerar transformações.

Hanna Limulja

O sonho tem um caráter democrático. Se eu estou num táxi e falo para o motorista sobre o meu trabalho, ele certamente terá um sonho para contar. Eu vou fazer um projeto com professoras de escolas públicas e pensei em sugerir o sonho como política pública. Imagine se convidássemos as crianças a lembrarem do que se passa na cabeça delas ao fecharem os olhos? Poderíamos entender várias questões. Desde condições de abuso, que elas talvez não falariam. E ouvir os professores também. E sem essa ideia de interpretar os sonhos. É sobre falar sobre eles. Porque a questão da fala é relevante. Quando você narra o sonho, começa a lembrar.

Carbono Uomo

É possível fazer isso em outros ambientes?

“Saber sonhar não é um dom inato. É como se fosse uma técnica. Todo mundo sonha. A diferença é que os Yanomami fazem algo com isso”

Hanna Limulja

Um médico pode perguntar dos sonhos para o paciente, um empresário pode falar deles numa palestra motivacional. Sobre um sonho sonhado e não algo como “quero ser CEO”. É possível fazer isso na igreja que você frequenta, no seu grupo de amigos. É muito mais fácil falar de qualquer assunto quando se leva para o nível do sonho. Porque não é uma fala direta. É você no contexto do sonho. Conseguimos explorar diversos temas sem ir direto ao assunto. As pessoas trazem os sonhos para um contexto coletivo e conseguem dialogar.

Carbono Uomo

Quando eu era pequena, ouvi sobre a ideia de que a alma sai do corpo para viver experiências durante o sonho e me impressionei. Isso acontece com a gente também?

Hanna Limulja

Aí cada um tem sua visão e sua teoria (risos). Algumas pessoas me perguntam se a tese tem relação com o espiritismo. Cada um tem sua chave de leitura. O que eu trouxe é como os Yanomami veem.

FECHE OS OLHOS

Uma seleção de livros para quem quer se conectar com os sonhos

A Queda do Céu –

Palavras de um xamã Yanomami

Davi Kopenawa e Bruce Albert | Cia. das Letras

O Desejo dos Outros –uma etnografia dos sonhos Yanomami

Hanna Limulja | Ubu

Sonho Manifesto

Sidarta Ribeiro | Cia. das Letras

Sonhos no Terceiro Reich

Charlotte Beradt | Fósforo

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Entrevista | HANNA LIMULJA

HEAT UP

Recordes de vendas, feiras de todos os tipos e novas formas de exibir as obras mostram que a arte vive um momento de crescimento e mudanças que vão muito além das já tradicionais paredes brancas das galerias

Por Matheus Evangelista

O mundo da arte contemporânea não é o mesmo desde o começo da pandemia. Está maior – e mais poderoso. Afinal, quase dois anos após o lockdown e o início de restrições severas que impactaram do dia a dia à economia mundial, consumir arte volta a ser possível. Se para muitos visitar uma simples vernissage poderia ser considerado irrelevante, uma pequena parcela da população concorda: era tudo o que faltava para a vida, enfim, tornar a ser como antes.

Exposições, feiras de arte, leilões e empresas que oferecem consultoria nessa área tiveram um boom em 2022, deixando claro que o mercado ressurge como uma fênix, pulverizando novos artistas e batendo recordes em volume de vendas e cifras mundo afora.

O exemplo desse movimento é comprovado pela pesquisa divulgada anualmente pelo banco suíço UBS, o UBS Global Art Market Report, em parceria com a economista cultural Clare McAndrew e com a feira Art Basel. No primeiro semestre de 2022, colecionadores de 11 países, entre eles o Brasil, gastaram em média US$ 180 mil – valor bem maior do que o do ano passado e também do ano de 2019, antes da pandemia, que somou US$ 100 mil.

Economia | ARTE
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Exposições, feiras de arte, leilões e empresas que oferecem consultoria nessa área tiveram um boom em 2022, deixando claro que o mercado ressurge como uma fênix

UM NOVO CENÁRIO

“Apesar de muitas incertezas, principalmente políticas, o mercado de arte contemporânea está retornando para um patamar interessante”, reflete Filipe Masini, fundador da galeria carioca Athena, que representa 14 artistas. E ele complementa: “O período da pandemia fez as galerias repensarem suas formas de atuação e amadurecerem seus programas, e isso foi um ponto positivo para esse universo”.

O aquecimento do mercado tem trazido bons ventos à arte nacional e, com ele, pontos de vista mais diversos, que atingem novos públicos. É assim que pensa Rodrigo Editore, fundador da Galeria Triângulo, de São Paulo. “A arte contemporânea pós-pandêmica está profundamente marcada por aspectos políticos, relativos à diáspora africana e às demais minorias, como artistas indígenas e trans”, explica. Segundo ele, outra característica relevante do momento é a presença de um público mais jovem como apreciador do tema e, muitas vezes, como incentivador e patrono de museus, o que interfere diretamente nesse novo jeito de comprar arte.

Esse consumo mais jovem e low profile também tem como consequência as novas configurações de espaços destinados

Economia | ARTE 99
Exposição de Lyz Parayzo, na Galeria Triângulo, em São Paulo Foto por Filipe Berndt

a esse universo, o que pode incluir a união de diversas galerias em um mesmo endereço. Entre os exemplos, vale citar o C.A.M.A, em São Paulo, uma plataforma de colaboração entre agentes do mercado de arte contemporânea. O time idealizador reúne diferentes galeristas, como Ana Elisa Cohen (Cavalo), João Azinheiro (Kubikgallery), Rodrigo Mitre (Periscópio), Adriano Casanova (CASANOVA), Felipe R Pena (Cavalo) e Julia Morelli (55SP); além da GDA, galeria carioca gerida por Bruno Baptistelli, Carolina Cordeiro, Maira Dietrich e Rato Branko.

Esse jeito coletivo de se organizar traz novas possibilidades de venda e representação. “A 55SP é diferente de uma galeria comum. Nós trabalhamos por projetos. Ou seja: a busca pode ser por artistas mais consolidados, que por vezes já são representados por outros espaços, mas também por nomes emergentes e

ainda autônomos”, explica Julia Morelli, que já produziu edições com mais de 35 criadores.

QUANTO MAIS, MELHOR?

O número de eventos e feiras nacionais de arte contemporânea que ganharam vida nos últimos anos também impressiona. Se há duas décadas eram em torno de 60 feiras mundo afora, hoje são mais de 300 – no Brasil, projetos já consolidados como o da SP-Arte lançaram novas propostas, caso da Rotas Brasileiras, com foco na produção fotográfica e artística regional.

Para Brenda Valansi, idealizadora e presidente da ArtRio e da ArtSampa, o aumento é bem-vindo. “O momento pós-pandemia parece marcado pelo ressurgimento e pela valorização de eventos presenciais e do contato. As pessoas estão buscando experiências físicas com a arte e o

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Economia | ARTE
Coluna (2022) – Gabriela Mureb
divulgação;
Sem nome (2021) – Ana Cláudia Almeida
Fotos
Estúdio em obra (Cortesia Central Galeria)

mercado tenta atender a essa demanda”, explica. Em 2022, 50 mil pessoas estiveram na ArtRio durante os cinco dias de evento.

Filipe Masini, fundador da galeria carioca Athena, analisa: “A feira de arte é muito importante para a formação de novos colecionadores. Entretanto, também é essencial que as pessoas acompanhem as galerias para conhecer os artistas de forma mais profunda. Esses dois canais, em conjunto, podem ser bastante eficazes”.

Rodrigo Editore, da Triângulo, concorda que as feiras não podem substituir a experiência de exposições em galerias ou museus, quando

“As feiras são excelentes fóruns de encontro e impulsionam os mercados, mas há um excesso delas no Brasil”

existe a chance de conhecer, por completo, a mente de um artista. “As feiras são excelentes fóruns de encontro e impulsionam os mercados, mas há um excesso delas no Brasil, e precisamos repensar esse modelo, diz.

No exterior já existe até uma expressão para falar sobre o grande número de acontecimentos do gênero, a fairtigue, ou, em tradução livre, a fadiga das feiras. Brenda Valansi acredita que ainda não chegamos lá e ressalta a importância de analisar dados que vão além do número de eventos. “Uma feira não é só sobre a comercialização da obra, mas é também sobre relacionamento, conhecimento do mercado, tendências e mudanças de comportamento. É preciso entender como as pessoas estão vendo o mundo e o que mais valorizam nesse momento”, reflete.

ON DEMAND

Apesar do grande número de agitos em torno do universo artsy, há quem prefira contratar

experts em arte contemporânea para não ter que se desgastar tentando acompanhar tudo o que acontece. Quem não tem tempo – nem dinheiro – a perder aposta no serviço de art advising. “O art advisor surgiu para guiar a tomada de decisões do colecionador e assessorar em todo o processo de aquisição. Seja ele um iniciante nesse mercado, seja alguém já bastante experiente”, explica Julia Clemente, da Kauffmann Clemente.

Já João Paulo Siqueira Lopes, da ArtCool, acredita que seu trabalho é desmistificar um sistema tão codificado como o das artes e educar um apreciador iniciante para que suas decisões sejam baseadas em dados e fatos. “Ao invés de comprar, colecionar”, diz ele, que oferece uma programação constante para seus clientes, incluindo visitas diversas a ateliês, galerias, museus e feiras no Brasil e no exterior.

O processo se repete com Julia e Marina, que moldam sua consultoria conforme os objetivos de cada coleção. “É comum ficarmos próximas dos nossos clientes. Todas as aquisições são importantes e a maioria das pessoas convive com elas diariamente. Portanto nosso trabalho acaba fazendo parte de um universo íntimo. Há colecionadores com quem falamos todos os dias”, explica Julia.

E, para além de gosto pessoal, o trabalho das consultoras, que pode oscilar entre R$ 20 mil e R$ 200 mil, ajuda os entusiastas das artes a identificarem boas oportunidades. “Criar um patrimônio sólido e duradouro está sempre no centro das nossas discussões”, diz Julia. “O trabalho de assessoria propõe uma visão de 360º do mercado, baseada em dados. Gosto de ampliar os horizontes de quem me procura”, reflete João, que segue à risca a não interferência no gosto ou na percepção estética de cada cliente.

Treinados para farejar o melhor do mundo da arte, os art advisers dão uma pista do que é preciso para quem quer começar a colecionar. Para Julia Clemente, comprar obras que você goste e queira conviver é sempre o primeiro passo a ser considerado. João Paulo sugere: “Calma, foco e visitas infinitas a museus e galerias”. Ele aproveita para entregar dois nomes em quem devemos ficar de olho: Gabriela Mureb e Ana Almeida. Agora, para saber mais, by appointment only.

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Economia | ARTE

PRA LÁ E PRA CÁ

Recém-chegado ao Brasil, o padbol faz sucesso mundo afora ao misturar diversas modalidades esportivas em uma mesma quadra. Conheça mais sobre o esporte que tem tudo para ser a próxima febre entre os fãs da bola

Por Adriana Nazarian

Há quem diga que é um squash com bola de futebol. Outros entendem como uma mistura do futebol com o futevôlei. E tem ainda quem acredite nunca ter visto nada igual, nem tão dinâmico. Fato é que o padbol mal desembarcou no Brasil e já tem rendido discussões calorosas, daquelas que só os esportes mais adorados ocasionam.

A modalidade, criada em 2008 por um argentino, chegou por aqui pelas mãos de Henrique Sacilotto e Luiz Gabriel Sacilotto Filho, este último um ex-jogador de futebol profissional, com direito a passagem pelo Perugia Calcio, na Itália. Depois de conhecer a prática por meio do Instagram, os amigos iniciaram o processo para se tornarem,

com exclusividade, os licenciados do padbol no Brasil. Afinal, como o país conhecido por ser bom de bola ficaria de fora dessa onda que é sucesso mundo afora? Presente em 33 países, o esporte é bastante popular na Espanha, na Itália e em Portugal e, mais recentemente, tem visto um boom acontecer no Oriente Médio.

BATE-BOLA

O local escolhido para a estreia da empreitada em solo brasileiro foi uma quadra em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo, que segue à risca as recomendações

Esporte | PADBOL
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Vale pensar em uma mistura de futebol com futevôlei, adicionar uma quadra similar à de squash e regras que lembram as do tênis

Praticantes de padbol em ação na primeira – e, por enquanto, única –quadra dedicada ao esporte no Brasil

da modalidade. Com 60 metros quadrados, o espaço tem um vidro temperado de dez milímetros, capaz de aguentar os “trancos” que aparecem no caminho.

Para entender como funciona, vale pensar em uma mistura de futebol com futevôlei, adicionar uma quadra similar à de squash e, por fim, regras que lembram as do tênis. Os sets têm até seis games e intercalam o serviço de uma dupla e outra.

Não à toa, quem é bom de bola mostra certa facilidade nas quadras de padbol e tem adorado se reencontrar com o futebol a partir dessa nova mania. É o caso de jogadores e ex-jogadores como Ibrahimovic, da Suécia, Paul Pogba, da França, James Rodriguez, da Colômbia, e Ayala, da Argentina, considerados representantes da modalidade. Por aqui, quem já vestiu, literalmente, a camisa foram o ex-atacante Amoroso e o meia Oscar, eleito embaixador do esporte.

TODO MUNDO JUNTO

Os atletas que já se arriscaram nas boladas do padbol tendem a concordar que um dos aspectos mais interessantes da novidade é o seu lado inclusivo. “É difícil ter um esporte que coloca pais e filhos na mesma quadra, e o padbol faz isso. Crianças a partir de dez anos já conseguem jogar e temos sentido bastante procura desse público”, comenta Gabriel Sacilotto. A ideia, inclusive, é que as partidas sirvam para capacitar o desenvolvimento físico dos pequenos, que se trata de uma atividade bastante dinâmica.

O desafio, agora, é tornar o esporte conhecido nas grandes cidades e ocupar outras quadras para, quem sabe, ver uma nova febre nascer. Se tudo der certo, Gabriel pretende levar o Brasil para o campeonato mundial que acontece em novembro do próximo ano em Buenos Aires e trazer para cá a Copa América. O beach tênis que se cuide!

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ALTA TENSÃO

O lançamento do Maserati Granturismo confirma uma tendência sem volta no segmento do automobilismo: a eletrificação. Conheça mais sobre este e outros destaques na área

Um dos esportivos mais icônicos da indústria italiana ganhou uma nova geração. Não é nenhuma Ferrari – embora seja da família –, mas o Maserati Granturismo promete agradar.

Ainda não vamos falar em preços, já que ele chega ao mercado europeu em 2023, mas o modelo acompanha uma tendência forte: a eletrificação.

Não, a Maserati ainda não abriu mão totalmente dos motores a combustão. As duas versões mais baratas, Modena e Trofeo, trazem o mesmo V6 3.0 biturbo do MC20, com 490 cv, na Modena, e 550 cv. na Trofeo. E quem tem pressa não

passa vontade. Mesmo na configuração mais modesta do V6, o cupê chega a 100 km/h em 3,9 segundos. E em 3,2 segundos, na mais potente. Nada mal.

Mas a grande novidade é a versão Folgore, com três motores elétricos, que entregam 790 cv e conquistam a aceleração de 0 a 100 km/h em 2,7 segundos.

O modelo tem baterias com capacidade de 92,5 kWh e potência de 560 kW para alimentar os motores, mas ainda não sabemos detalhes sobre a autonomia.

A Maserati adianta que os alimentadores elétricos ficam no assoalho, em um sistema chamado T-Bone, que baixa o

centro de gravidade e não interfere na esportividade do Granturismo.

Para não exagerar no peso – as baterias dos elétrico não são leves –, a Maserati usou alumínio e magnésio na carroceria, além de aço de alta performance.

As fotos internas não foram reveladas, mas o cupê terá duas telas de 12,2 polegadas: uma para o painel configurável e outra para a central multimídia, com as principais funções do carro.

Um projetor no para-brisa, com velocímetro e outras informações, o chamado head-up display, será item opcional – o equipamento ajuda o motorista

Motor | ELETRIFICAÇÃO
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Fotos divulgação

ELÉTRICOS X HÍBRIDOS

São muitos os novos tipos de tecnologia e nem sempre é fácil entender as diferenças entre os carros híbridos e elétricos. Veja mais detalhes sobre cada um deles:

ELÉTRICOS

São carros movidos 100% a eletricidade, sem qualquer tipo de motor a combustão. Modelos como os da Tesla ou Audi e-tron precisam ter suas baterias recarregadas, mas oferecem autonomia de cerca de 500 km, dependendo do modelo.

HÍBRIDOS PARALELOS

Como no Toyota Prius e no Corolla Hybrid, um motor elétrico ajuda o propulsor a combustão em baixas velocidades. As baterias são recarregadas pelo próprio movimento do veículo, assim como sua frenagem. Não é possível fazer qualquer tipo de carga externa.

HÍBRIDOS PLUG-IN

As versões oferecem mais autonomia ao motor elétrico, podendo ser usadas por mais tempo e em velocidades mais altas. Para isso o motorista precisa recarregar as baterias em um carregador ou em tomadas residenciais comuns. Em caso de baixa carga, somente o motor a gasolina será utilizado.

HÍBRIDO LEVE

O motor elétrico ajuda o a gasolina em diversas situações com o objetivo de economizar combustível, mas ele não é capaz de, sozinho, movimentar o veículo. Este tipo de tecnologia usa baterias mais leves e menores, que não exigem recarga externa.

a não tirar os olhos da pista durante a condução. Espere também um potente sistema de som com 1.195 W, da marca Sonus faber: com dois níveis de customização, o equipamento poderá ter até 19 alto-falantes para proporcionar o efeito 3D na cabine.

LINHA DE CHEGADA

Como se sabe, a eletrificação tem se mostrado um caminho sem volta. “Os clientes estão interessados em tecnologia e os carros elétricos trazem isso. O uso dos motores híbridos agrada os dois públicos – dos puristas aos modernos”, afirma Emílio Paganoni, head de treinamento do BMW Group Brasil.

Esse movimento entre os esportivos começou há pelo menos oito anos, quando Ferrari, Porsche e McLaren lançaram seus modelos top com propulsão híbrida.

A Ferrari LaFerrari, por exemplo, tinha um V12 com 800 cv capaz de levar o cupê a 100 km/h em menos de três segundos. Da mesma época, o Porsche 918 combina um propulsor V8 4.6 de 608 cv a dois elétricos com um total de 890 cv. No McLaren P1 são dois motores, um V8 3.8 biturbo a gasolina e um elétrico, que garantem ao carro potência de 918 cv – são menos de três segundos para chegar aos 100 km/h.

Mas a grande aspiração atual vem da Tesla e seus modelos 100% elétricos. O sedã Model S na versão Plaid, por exemplo, tem baterias para rodar mais de 600 km e consegue ser o carro mais rápido do mundo. Chega a 100 km/h em 1,9 segundo. O Taycan, da Porsche, atinge essa velocidade meio segundo depois.

Seguindo a tendência, marcas como Mercedes, Audi e BMW também têm investido nos modelos 100% elétricos. A BMW, por exemplo, aposta agora no XM, um SUV com um potente motor V8 biturbo 4.4 de 489 cv e um motor elétrico de 197 cv. Juntos têm 653 cv de potência. Haverá uma versão mais potente ainda, com 748 cv. Primeiro modelo 100% desenvolvido pela BMW M desde o M1, criado há 44 anos, o XM é o BMW M mais potente da sua história.

Motor | ELETRIFICAÇÃO 105

A maré está para peixe – fresco!

Um movimento de valorização da pesca artesanal e do consumo do pescado fresco invadiu o litoral brasileiro. Por aqui, a torcida é para que a tendência, saudável e saborosa, passe longe de uma marola e conquiste cada vez mais espaço

É possível que você já tenha ouvido falar sobre uma maré que ganha cada vez mais força no litoral do Sudeste brasileiro: a valorização da pesca artesanal. O movimento começou pequeno, em 2014, como uma marola mesmo, quando a chef e empresária paulistana Gisela Schmitt ancorou em Paraty, no Rio de Janeiro.

Com experiência em restaurantes internacionais e em um bufê de São Paulo na bagagem,

Gisela decidiu transformar o barco de lazer da família em uma espécie de catering náutico. A ideia era servir refeições para os barcos de passagem na região ou receber viajantes para uma experiência gastronômica a bordo do Sem Pressa, sua traineira de 50 pés, construída por artesãos de Paraty com madeira de reflorestamento.

Mais do que um passeio nas águas cristalinas da região, o Gastromar nasceu com o intuito de

Mar | PESCA ARTESANAL
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Fotos Victor Collor de Mello

Abaixo e, na página anterior, os pescadores do projeto A.MAR em ação

Da pesca à mesa, diferentes momentos da experiência gastronáutica batizada de Barca

servir produtos frescos. Pode parecer elementar para quem está à beira do mar, mas não é. No Brasil, a maioria dos restaurantes em cidades litorâneas e turísticas usa produtos congelados como matéria-prima.

O estalo de Gisela para o fato aconteceu no Japão, um ano antes da mudança para Paraty. Ao entrar no Tsukiji, o maior mercado de pescados do mundo, ficou intrigada por não sentir aquele cheiro forte de peixe: “Descobri que o odor que existe na feira é de peixe podre. Fiquei chocada e, a partir daí, comecei a entender o quanto a pesca do Brasil é precária”.

Começava, assim, seu trabalho exclusivo com pescadores artesanais e locais. Entre as (más) descobertas da jornada, está o uso de um conservante artificial chamado sulfito, no camarão, pelas grandes empresas. Segundo Gisela, muitas pessoas alérgicas ao crustáceo são, na realidade, sensíveis ao composto químico. “Às cinco horas da manhã, o pescador me perguntava se eu queria o camarão que ele tinha acabado de pegar. Comprava 20 quilos sem sulfito”, conta.

Em sintonia com a natureza, o cardápio do Gastromar respeita a sazonalidade das espécies. “Eu digo para o cliente: agora está na hora de você comer sardinha. A missão do cozinheiro também é educar o consumidor.” Na ausência de um robalo, que tal um namorado? Ou sororoca, pargo, vermelho, prejereba, bonito, carapau, tainha… O que Iemanjá oferecer.

Além do horizonte

A prova de que o mercado realmente precisava de um modelo como o de Gisela é a Barca, negócio criado em 2021 por Guigo Barros, Rodrigo Albertazzi e Max Motta, em Ilhabela. Entusiastas do mar, da pesca e do surfe, os sócios usam uma traineira estilo trawler, semelhante à do marinheiro Popeye, para oferecer sua experiência gastronômica. Com capacidade para 12 pessoas, o barco de

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Mar | PESCA ARTESANAL
Fotos Thomas Tebet
O pescado fresco é o grande protagonista da Barca

origem pesqueira foi reformado com itens de marcenaria assinados por Motta, que é filho do arquiteto Carlos Motta.

A estrela do evento é, claro, o pescado fresco, fisgado na linha por eles próprios ou por parceiros de comunidades locais. “O nosso conceito não é alta gastronomia, mas sim uma culinária de ingrediente, com preparos mais simples”, aponta Guigo Barros. E o modelo de negócio varia: é possível reservar a embarcação para grupos, contratar apenas o serviço de catering no seu próprio barco ou ir até a barca do trio com um bote para provar delícias feitas no seu “restaurante” al mare, que ancora em diferentes locais.

Ainda em Ilhabela, mais precisamente na praia do Bonete, o projeto A.MAR surgiu influenciado pelo mesmo movimento, mas com outro propósito. A ideia é capacitar comunidades pesqueiras tradicionais e resgatar métodos ancestrais para conservar peixes e frutos do mar sem energia elétrica.

A técnica faz capturas manualmente, sem o uso da força mecânica, por meio de métodos como rede, cerco, linha,

tarrafa e mergulho. “A grande diferença de impacto ambiental é que a pesca industrial captura toneladas de uma mesma espécie em uma pescaria, enquanto a artesanal pesca o que a natureza permitir naquele contexto, naquele momento”, explica Rodolfo Villar, um dos fundadores do A.MAR.

Outro ponto de atenção da iniciativa é a despesca, processo que compreende o abate e a manipulação do animal a bordo e diz muito sobre a qualidade do pescado. “O Brasil tem uma despesca muito ruim e o peixe chega para o consumidor em péssimas condições. Não dá nem para comparar com o que acontece no mundo”, explica Rodolfo.

Por esses e outros motivos, o A.MAR vem capacitando pescadores de comunidades tradicionais de diferentes regiões, muitas vezes em parceria com projetos como o Gastromar. Noé Inácio Pereira Lopes, morador de Trindade que participou do curso, por exemplo, surpreendeu-se ao aprender sobre o ikejime, método de despesca desenvolvido no Japão há cerca de 200 anos. “Exerci esse ofício

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Mar | PESCA ARTESANAL Fotos divulgação
Cenas do Gastromar – no mar e em terra firme –, que busca seus pescados nas águas cristalinas de Paraty
“Eu digo para o cliente: agora está na hora de você comer sardinha. A missão do cozinheiro também é educar o consumidor”
Gisela Schmitt

TARTAR DE ROBALO NO AVOCADO

Aprenda a receita da chef Gisela Schmitt. Em tempo: o robalo pode ser substituído por outro peixe, desde que seja fresco e cortado no momento de preparar e servir

Ingredientes

1 avocado maduro

150 g de robalo bem fresco

a vida toda e nunca tinha ouvido falar. Tenho interesse, mas o processo é bem mais trabalhoso e demorado. Em Paraty, só o Gastromar está interessado nesse pescado com mais qualidade”, diz.

O caminho pode ser longo, mas a torcida é para que se espalhe nos mares Brasil adentro. “Eu fico feliz com todas essas iniciativas que valorizam a pesca, o pescado e a educação do cliente. Assim, de pouquinho em pouquinho, a gente começa a ter mais demanda por um produto fresco”, diz Gisela.

Público a gente sabe que existe: enquanto o A.MAR desenvolveu mais de 30 produtos oriundos da pesca, que hoje servem como fonte de renda para o projeto, o Gastromar já não se resume ao barco. Hoje Gisela também comanda um restaurante na Marina Porto Imperial, um empório, uma horta com cultivos orgânicos e um restaurante japonês, o Japamar, que nasce com a proposta de capacitar comunidades pesqueiras artesanais locais e educar consumidores. Se depender dessa turma, esse mar está definitivamente para peixe.

1 col. (chá) de pimenta dedo-de-moça sem semente e picadinha

1 col. (chá) de gengibre fresco picadinho

2 col. (chá) de cebolinha verde, desde o talo, picadinha

1 col. (chá) de raspa de limão

1 col. (chá) de cebola roxa picadinha

1 ½ col. (sopa) de um bom azeite extravirgem

Sal a gosto

Modo de fazer

Corte o avocado em quatro partes: primeiro ao meio, no sentido do comprimento, depois na metade. Corte o robalo em cubinhos de um centímetro e misture com todos os temperos. Coloque o robalo temperado sobre as quatro partes do avocado e sirva na hora.

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Mar | PESCA ARTESANAL

MUITO ALÉM DO HORIZONTE

Carbono Uomo relembra a imersão de uma advogada criminalista de São Paulo em uma tribo indígena no Acre. Das revelações em torno da ayahuasca à limpeza à base de veneno de sapo, ela garante que foi uma vivência inesquecível – e reparadora

ACRE VIAGEM

Sempre tive interesse em entender a realidade de pessoas que vivem de forma totalmente diferente da minha, em completa harmonia com a natureza e sem apreço por bens materiais – afinal, sou uma advogada criminalista de São Paulo. Quando criança, tive algum contato com povos indígenas, mas nada além do básico, como excursões para pequenas tribos. Mais recentemente, visitei aldeias no Sul da Bahia e nos arredores de Manaus, mas foram encontros curtos e em povoados já muito urbanizados.

Em 2020, um amigo me contou sobre sua experiência em uma tribo yawanawá, no Acre, na fronteira com o Peru. A ideia de conviver mais intimamente com esse povo tão rico me encantou, mas a pandemia acabou adiando meus planos. No final de 2021, surgiu uma nova oportunidade de visitá-los, e lá fui eu. A intenção era passar uma semana vivendo na tribo, sem qualquer programação previamente estabelecida. Depois de autorizada pela Funai, parti muito entusiasmada com a aventura.

A viagem não é fácil. São quatro horas de avião até Rio Branco, capital do Acre. De lá, mais uma hora e meia até Cruzeiro do Sul, em um voo operado poucas vezes por semana. De táxi, mais duas horas até a vila de São Vicente,

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Texto e fotos Fernanda de Almeida Carneiro
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Acre

1 – Fernanda espera as 12 horas de cocção do banho de ervas

2 – A voadeira que a levou até a aldeia

3 – Uma das árvores consideradas sagradas na região

4 – Preparação para a festa com as outras tribos

às margens do rio Gregório. Mas não se engane: ainda estávamos longe de completar o trajeto. O percurso continua de voadeira, aqueles estreitos barquinhos metálicos que cortam os rios. Depois de longas seis horas, finalmente chegamos ao nosso destino final: a aldeia Matrinxã, que leva o nome de um peixe local. São cerca de 1.500 habitantes yawanawás vivendo em sete aldeias ao longo do rio – a nossa tinha 200 moradores. E é a Funai que define qual irá lhe acolher.

Fui recebida com muito entusiasmo pelo cacique e sua família – a maioria dos habitantes é bilíngue e fala português. Eu, a única visitante naqueles dias, ficaria hospedada na oca cerimonial, que fica a cerca de dez minutos de caminhada da aldeia mata adentro. Cheguei lá animada e desfiz as malas: rede com mosquiteiro, repelente, roupas leves e compridas, sabonete, xampu, condicionador, lenços

“Se havia qualquer receio dentro de mim, rapidamente foi dissipado. A atmosfera de paz e alegria é contagiante!”

umedecidos biodegradáveis e um saco de nuts

A oca era grande, espaçosa, e frequentemente visitada por aranhas, sapos e todo tipo de inseto. O banheiro, um buraco cavado no chão e protegido por algumas folhas de bananeira, ficava a uns 30 metros de distância.

Ao som da floresta, fui dormir ansiosa pelas aventuras que me aguardavam. No dia seguinte, ao acordar, uma surpresa: um indígena tinha sido mordido por uma cobra enquanto caçava e o cacique estava na floresta em busca de ervas medicinais.

Enquanto aguardava o anfitrião, tive o corpo pintado com urucum e jenipapo. Os desenhos, cheios de significados, foram feitos com esmero por duas filhas do cacique. Quando ele chegou, passei por uma imersão na história do povo, que quase foi dizimado por seringueiros até a demarcação da terra, no final da década de 1980.

Depois, hora de conhecer o almoço – estava faminta! –, que se repetia diariamente: arroz,

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banana e ovo. Para beber, há chás de ervas, pelando, mesmo com um calor de quase 40 graus.

É quando cai a noite que a tribo realiza um dos rituais mais esperados, a cerimônia da ayahuasca. O chá, preparado com cipó e folhas, fica fervendo em um grande caldeirão por longas horas. Se havia qualquer receio dentro de mim, rapidamente foi dissipado: a atmosfera de paz e alegria é contagiante! Todos os copinhos são abençoados individualmente pelo cacique, que profere algumas palavras para cada pessoa que vai receber o chá. Até as crianças entram na história quando se sentem preparadas, sem qualquer limitação de idade. A cerimônia acontece em uma roda em volta da fogueira e é embalada por cantorias até o dia seguinte. Durante horas e horas, tive alucinações incrivelmente malucas. Não me foi revelado nada em especial, mas realmente é um mergulho dentro de si.

Ao acordar, depois de um descanso, mais uma experiência memorável. Um caldeirão com dezenas de tipos de ervas – fervidas por 12 horas – esperava por mim em uma pequena oca, onde passaria algumas horas inalando seus vapores. Quando a água ficou morna, tomei um delicioso banho com a bênção do cacique enquanto as mulheres da aldeia cantavam e tocavam violão – a tribo é conhecida por ser uma das únicas a incorporar o instrumento em seus rituais. Nunca vou me esquecer das canções, lindas e envolventes, que me ajudaram a relaxar por completo para que o cacique me aplicasse o rapé. A mistura de tabaco, cinzas e ervas foi colocada em um canudo feito de osso e assoprada em minhas narinas: a sensação é indescritível, mas o que posso dizer é que dormi feito uma criança.

O sono, reparador, foi providencial, já que no dia seguinte, às cinco da

5 – Amigos da fauna no caminho para a oca

6 – Refeição típica, que acompanhou toda a viagem

7 – Detalhe do banheiro protegido por folhas de bananeira

8 – À noite, aguardando pela cerimônia da ayahuasca

9 – O sapo recolhido para o ritual do kambô e as marcas de queimadura deixadas na pele

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11 – Pinturas corporais de urucum e jenipapo, feitas pelas filhas do cacique

Acre

manhã, participaria do ritual conhecido como kambô, em que o visitante recebe uma aplicação de veneno de sapo. Conseguem imaginar? Antes de o sol nascer, fui recebida pelo cacique com o anfíbio verde brilhante, amarrado pela perna em um galho. Bebi litros de caiçuma, líquido feito com mandioca fermentada. Depois, com um cipó em brasa, foram feitos pequenos furos na minha perna. Delicadamente, o cacique pegou uma espátula de madeira e raspou aquela secreção leitosa que recobre a pele do animal para, depois, aplicá-la nas minhas queimaduras. E, assim, o bicho é solto.

Não demorou muito para sentir o efeito e sair correndo em direção ao rio. Meu coração batia desesperadamente, a pressão na cabeça beirava

“Era como se meu corpo estivesse finalmente limpo das toxinas que passou a vida ingerindo”

o insuportável e a vontade de vomitar era incontrolável – e você só consegue parar quando realmente passou por uma profunda limpeza! E, assim, não mais do que de repente, fui invadida pela mais incrível sensação de flutuação: era como se meu corpo estivesse finalmente limpo de todas as toxinas que passou a vida ingerindo. A leveza era tanta que demorei meia hora até ter forças para carregar minha toalha de volta para a oca.

Mais tarde, os membros das outras seis aldeias se reuniram na Matrinxã para uma festa repleta de brincadeiras. Em uma delas, as mulheres tentavam tirar das mãos dos homens pequenos pedaços de cana de açúcar. De noite, outra cerimônia de ayahuasca.

Os dias se seguiram com mais rapé, banhos de ervas, longas conversas em volta da fogueira, danças e cantorias. Antes de ir embora, ainda tive tempo para a temida cerimônia da sananga. Uma espécie de colírio indígena feito com cipó macerado e água é aplicado nos olhos para melhorar sua visão espiritual. Pode parecer loucura, mas depois que passou o primeiro efeito de queimação – a sensação é de haver uma brasa no seu globo ocular –, pude enxergar perfeitamente, mesmo sem minhas lentes de contato. Despedi-me cheia de gratidão pelos momentos incríveis que passei com esse povo extraordinário. Uma experiência que carrego sempre dentro do meu coração e que, certamente, irei repetir.

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10 – Lagoa em frente à oca
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ILHAS FAROÉ

ERA UMA VEZ

As Ilhas Faroé, arquipélago entre a Escócia e a Islândia, foi o destino escolhido por Anita Besson para uma jornada de imersão na natureza. Viajante nata e uma das sócias da Matueté, produtora de viagens sob medida, ela garante que a experiência é inesquecível

“Imagine o seguinte: um vale lindo, grandioso, no meio do nada. Verde por todos os lados e só até onde os olhos alcançam: nenhuma casinha, nenhuma pessoa, apenas ovelhas pastando. Foi diante desse cenário que ouvi, pela primeira vez, o termo diamond sounds. Estava viajando pelas Ilhas Faroé e meu guia disse: ‘Fechem os olhos e escutem os diamond sounds’. Obedeci. Então pude ouvir o vento, o mar, os pássaros como nunca antes. E entendi: diamond sounds são os sons puros da natureza, sem nenhuma interferência humana. E, claro, assim como os diamantes, são únicos.

Fiquei ali, totalmente vidrada por 15 minutos, apenas compreendendo a imensidão do universo. Mais do que escutar o silêncio, pude entender, de fato, a magia por trás desse pontinho verde no meio do oceano, entre a Escócia e a Islândia, que há tantos anos sonhava em visitar. Antes de eu conhecer as Ilhas Faroé, costumava pensar: como aquelas pessoas podiam viver ali, afastadas, absolutamente isoladas? Mas naquele instante entendi que elas têm exatamente o que precisam diante dos seus olhos.

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VIAGEM
Texto e fotos Anita Besson
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Ilhas Faroé

1 – Uma das típicas casinhas de Faroé, na ilha de Kalsoy

2 – Anita e o capitão da escuna que a conduziu no passeio entre Klaksvík e Kalsoy

3 – A impressionante cachoeira de Múlafossur, no vilarejo de Gásadalur

4 – Um dos maiores do arquipélago, o lago de Sørvágsvatn é conhecido por “flutuar” no oceano

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Ilhas Faroé

Tão longe, tão perto

Desde que ouvi falar nesse conjunto de 18 ilhas vulcânicas interligadas por túneis, fiquei curiosa. Viagens de natureza são comigo mesma e sabia que as condições meteorológicas duras, os ventos fortes e o mar agitado desse arquipélago só poderiam render uma boa aventura.

O próprio desembarque já anuncia o que há por vir: a pista do aeroporto da ilha de Vagar não é muito longa e a sensação que se tem é de aterrissar no meio da água, entre vales, lagos e inúmeras cachoeiras. Isso sem contar o frio, mesmo estan -

do em julho! De lá para Tórshavn, a capital onde ficam os hotéis que servem de base para as experiências, são 49 quilômetros com direito a passagem por um túnel cavado na rocha embaixo d’água, incrível.

Verde que te quero ver-te

A paisagem que marca Faroé toda é aquela grama macia e verdinha, que muda de tom dependendo das condições climáticas. Ovelhas mil, casinhas coloridas, parece cenário de filme! Como chove muito por lá, esse visual perdura

praticamente o ano todo. E justamente por isso é preciso ter bastante jogo de cintura, pois o roteiro pode mudar a qualquer hora, junto com a previsão. Para se ter uma ideia, o tempo é algo tão importante no destino que faz parte do bate-papo diário entre os locais.

O meu roteiro é prova disso: precisei mexer algumas vezes na programação durante os quatro dias que passei nas ilhas. Não consegui, por exemplo, sobrevoar o arquipélago por conta do tempo – o helicóptero é um meio de locomoção super comum lá e, até por isso, acessível.

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“Mais do que escutar o silêncio, pude entender, de fato, a magia por trás desse pontinho verde no meio do oceano, entre a Escócia e a Islândia”

5 – O bucólico vilarejo de Funningur

6 – A praia na vila de Bøur, cercada pelas autênticas casinhas de Faroé

7 – Casinhas cobertas por grama na cidadezinha de Bøur

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Onde ficar

Aproveito para dizer: a parte de estrutura deixa um pouco a desejar – recomendo os hotéis Foroyar ou o Havgrim –, então é um programa que indico para viajantes que realmente gostem de natureza. Quem já foi para a Islândia e Groenlândia, por exemplo, vai adorar.

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8 – No alto de uma colina, o hotel Foroyar tem uma vista linda da cidade de Torshvan

9 – A sensação de viver no meio do nada na vila de Gásadalur

10 – Pertinho de Torshvan, a cidade principal das Ilhas Faroé, o hotel Havgrim é pequeno, simples e intimista

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– O penhasco

12 – Uma escuna vintage –e sua tripulação – pronta para navegar

“Uma jornada que nos lembra a imensidão da natureza – e o quão pequenos somos diante dela”

Mas tive experiências fantásticas como o passeio de barco em pleno pôr do sol, passando por diversas cachoeiras que caem no mar. A força da água é impressionante! Percorremos penhascos, cavernas e rochas enormes, que servem de abrigo para inúmeras aves: o barulho do mar e dos pássaros voando é mágico, um verdadeiro balé da natureza. Também gostei do trajeto curtinho que fizemos em um barco bem antigo, todo de madeira, restaurado durante 12 anos por três senhores.

Outro ponto alto foi desbravar vilarejos mais afastados de carro, como Saksun, Gjógv e Funningur, passando por estradas bucólicas: você consegue perceber o quão isolado do mundo esse destino está. Visitamos mais cachoeiras e

achados locais, como uma padaria artesanal, antes de terminar o dia na casa de um autêntico morador. Foi lá que vi de perto o processo de fermentação que eles fazem com a carne por dois meses para que ela se mantenha conservada também durante o inverno. É curioso perceber como eles aprenderam a ser autossuficientes por conta de seu isolamento. A principal atividade econômica é a pesca de salmão, haddock e bacalhau; muitas casinhas têm a sua própria horta e o plantio de tubérculos é abundante. Apesar de utilizar diversos ingredientes locais, como o horse mussel , um marisco gigante, e o ouriço fresquíssimo, a gastronomia de Faroé não chamou minha atenção. Diria que a exceção é o Roks, comandado pela

antiga turma do KOK’s, um restaurante Michelin que acabou se mudando para a Groenlândia. O chef é jovem, com um olhar mais atual e saudável para a culinária do arquipélago.

Afinal, na culinária e em todos os outros aspectos de Faroé, as histórias e tradições locais não são esquecidas. Eles acreditam em fadas, gnomos e sereias e fazem questão de contar a história por trás de cada pedra que aparece pelo caminho. É definitivamente um lugar que carrega uma pureza no ar. Do começo ao fim, uma jornada que nos relembra a grandeza da natureza – e o quão pequenos somos diante dela.

@matuete

viajar@matuete.com

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11 de Drangarnir, uma das muitas belezas naturais de Faroé

NAS ALTURAS

Marcas como Aman, Four Seasons, Abercrombie & Kent e Latitudes apostam em seus próprios jatos privativos para oferecer jornadas que são verdadeiras voltas ao mundo

As atuais viagens em jatos privados me remetem às Voyages Extraordinaires, de Júlio Verne, aos Grand Tours e às Great Expeditions… Impossível não associar essas jornadas épicas aos roteiros atuais, especialíssimos e desenhados para explorar as maravilhas do mundo em uma única viagem surfando os céus. E com estadas em hotéis sensacionais e explorações comandadas por guias e especialistas que tornam o programa perfeito para quem curte roteiros sob perspectivas incomuns.

Essas grandes jornadas a bordo de jatos privativos vêm ganhando espaço e já são oferecidas

“Sem o incômodo de atrasos e conexões perdidas em aeroportos, as viagens oferecem múltiplos destinos, com o benefício adicional de uma rede de apoio inigualável em terra”

África do Sul via Aman por marcas como Aman, Four Seasons, Abercrombie e a operadora Latitudes. Afinal, nada como transformar o cotidiano percorrendo o mundo em grande estilo. Ready? Let’s go!

A aventura começa com embarque e desembarque diretos e muita exclusividade em voos de primeira classe, com excelência de instalações como lounges, flatbeds, adegas e a presença de especialistas (concierges, chefs, guias, pilotos) garantindo em terra e ar momentos sem precedentes.

Conversei com Simon Mayle, que dirige alguns dos mais importantes eventos mundiais do mercado de viagens de luxo, como a ILTM (International Luxury Travel Market) Latin America, a ILTM North America e a PROUD Experiences, e ele concorda comigo: “As viagens em jatos particulares são a última palavra em luxo, especialmente as de longa duração, ideais para quem procura uma lua de mel ou uma viagem inesquecível. Sem o incômodo de atrasos e conexões perdidas em aeroportos, elas oferecem múltiplos destinos, com o benefício adicional de uma rede de apoio inigualável em terra”.

Pronto para embarcar em versões incríveis da Volta ao Mundo em 80 Dias ? Conheça algumas das jornadas a jato mais interessantes do momento.

Viagem | PRIVATE JETS
Fotos divulgação
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Montenegro via Aman

ABERCROMBIE & KENT

Entre as jornadas da A&K para 2023, duas se destacam:

Tesouros culturais (Cultural Treasures Around the World)

Imagine ziguezaguear nos céus de regiões tão diversas quanto Japão, Butão, Sicília, Jordânia, Nepal, Emirados Árabes e EUA, em uma jornada de 24 dias para apenas 48 pessoas, em um Boeing 757 com chef a bordo. O objetivo é descobrir destinos inspiradores em programações exclusivas, algumas delas na companhia do fundador da A&K, Geoffrey Kent. Exemplos? Voar de helicóptero no coração do Himalaia com sobrevoo no Monte Everest; divertir-se numa road drive siciliana ao volante de um Fiat 500; jantar em uma

fortaleza samurai no Japão; ou explorar Petra com arqueólogos.

África de Norte a Sul (Africa: Across a Continent)

Uma jornada de 22 dias no continente africano explorando desde o Egito até as planícies do Serengeti; do Benin até o delta do Okavango, em Botsuana; do Kilimanjaro, na Tanzânia, aos gorilas de Ruanda; das tendas de luxo no deserto do Saara até a agitação da medina de Marrakech. E mais: degustação de vinhos na África do Sul, voos de helicóptero e de balão para avistar os animais.

Nos diversos destinos, a estada será em hotéis de primeira linha, como o Oberoi Amarvilas (com vista do Taj

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Mahal) e o Rocco Forte Villa Igiea, alojado em uma propriedade do século 19, no Golfo de Palermo. abercrombiekent.co.uk

AMAN

A ideia aqui é viajar em um Airbus ACJ 319, com 19 poltronas – em lugar das 130 da configuração original –, lounges e serviço de primeira classe, com estada em propriedades Aman mundo afora. Em destaque, a colaboração especial entre a Remote Lands e a Aman, que oferece expedições para apenas 16-18 passageiros (8-9 casais) com passeios e traslados feitos em carros com um motorista e um guia para cada casal. Os jatos podem ser fechados para grupos de familiares e amigos em itinerários customizáveis. A seguir, as expedições programadas para 2023 que sobressaem.

The Grandest Tour

Uma viagem que vai da Ásia à Europa percorrendo 7 países com estada em oito Amans. São 21 dias de duração, começando na vibrante Tóquio e seguindo para a fascinante

Ise-Shima, no Japão. O tour continua rumo às impressionantes paisagens de Luang Prabang, no Laos, a Phuket, na Tailândia; de Thimpu, no Butão, a Alwar, no Rajastão; do litoral turco de Bodrum a Port Heli, na Grécia, até os canais de Veneza.

Adventures in the Americas

Esta expedição explora o mundo partindo de Nova York – com estada no novíssimo Aman da cidade, claro. De lá os viajantes embarcarão em um jato da Bombardier Global Express aterrissando em destinos como o Amanyara, em Turks e Caicos, o Amanera, na República Dominicana, e o incrível Amangari, em Utah. No programa, passeio a cavalo, kiteboarding, paisagens naturais impressionantes e mimos como voo de helicóptero sobre o Grand Canyon e iate particular em Turks e Caicos.

A Aman e a Remote Lands também criaram roteiros mais curtos, de oito e dez dias, como o Aman Southeast Asia Journey, passando por locais icônicos do Sudeste asiático a bordo de um jato A318 Elite, com estadia em quatro Amans diferentes: Vietnã, Laos, Cambodja e Tailândia. E o The Aman Japan Culinary Journey, como o nome diz, é uma jornada gastronômica via helicóptero e trem-bala explorando Tóquio, a península de Shima e Kyoto, com experiências foodie excepcionais. aman.com

FOUR SEASONS

Percorrer as ilhas Galápagos em barco privativo e nadar com leões-marinhos; ter aulas de dança e descobrir a gastronomia de Bogotá; explorar o exotismo de Marrakech; jantar

no mais antigo templo Zen de Kyoto; observar gorilas em Ruanda; meditar nas Seychelles. Estas são apenas algumas das vivências oferecidas pelo Four Seasons Private Jet em um roteiro que evoca o glamour das grandes viagens aéreas aliado ao serviço impecável do grupo. São dois modelos de jatos: um Airbus A321LRneo, que levará 48 passageiros, e o Boeing 757-200ER, para 52 viajantes.

A World of Adventures passa por Seychelles, Bali e Marrakech, percorrendo oito países em 24 dias, enquanto a Timeless Encounters, também em 24 dias, liga quatro continentes, mostrando belezas naturais de destinos como Bali; tradições culturais em Praga ou Chiang Mai; o icônico Taj Mahal, e experiências urbanas em Sydney, Dubai e Londres.

Há ainda a Uncharted Discovery, que percorre o Hemisfério Sul desde a imensidão branca da Antártica, passando pelos mistérios de Machu Picchu e os ritmos e sabores vibrantes da América do Sul, em uma expedição de 21 dias em 7 países.

Já o roteiro da African Wonders é perfeito para viagens em família e amigos. Em 13 dias, os viajantes irão mergulhar na África em grande estilo, explorando a vida selvagem e as maravilhas naturais do continente, incluindo safáris em parques nacionais, praias, cidades e monumentos. Partindo de Atenas, o jato levará ao Cairo e às pirâmides do Egito; depois, tempo para as praias de Mauritius, para as savanas cheias de animais selvagens do Serengeti, as montanhas de Virunga e seus gorilas, os Big 5 no Parque Nacional de Akagera, em Ruanda, e chegando às trovejantes cataratas de Victoria Falls, no Zimbábue, e a Johannesburgo, na África do Sul. Em cada etapa, guias especializados e estada em lodges e camps ultraluxuosos. fourseasons.com

LATITUDES

A única expedição com equipe e programação totalmente em português e voltada para os viajantes brasileiros é feita pela Latitudes, operadora pioneira em viagens de conhecimento no Brasil e membro da rede Virtuoso. Nesse novo roteiro de 26 dias de volta ao mundo, um grupo de 50 passageiros visitará sete Patrimônios da Humanidade da Unesco, como o Rapa Nui National Park, na Ilha de Páscoa; o Parque Nacional de Komodo, na Indonésia; e o Serengeti National Park, na Tanzânia. Durante todo o trajeto, especialistas como o historiador Luis Estevam Fernandes de Oliveira e o fotógrafo Adriano Gambarini, além do médico Fábio Tozzi, estarão a postos. A viagem começa em São Paulo, com uma noite no Palácio Tangará, e segue com uma seleção impecável de hotéis, como o Six Senses Fiji Malolo Resort e os hotéis Four Seasons em Sydney e no Serengeti. Todas as comodidades a bordo e despesas são inclusas no valor da viagem.

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Viagem | PRIVATE JETS

O VALOR DAS EXPERIÊNCIAS

As viagens em jatos privativos custam a partir de US$ 134 mil por pessoa, para as grandes expedições, e a partir de US$ 47 mil, para as mais curtas. A bordo, acomodação em poltronas de couro italiano, lounges e serviços de primeira classe proporcionam total conforto, com concierges , especialistas, chefs e até médicos. Em terra, hotéis de primeira linha, equipes com motoristas e guias. Outra parte do apelo? Acesso a experiências realmente únicas e tratamento VIP, com tramitação sem filas e atenção aos detalhes — de malas a check-in . Tudo é cuidado pela empresa, o que faz com que os viajantes não se preocupem com nada além de curtir cada segundo.

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Detalhes do interior, o airbus e o serviço de mesa do Abercrombie & Kent Airbus Four Seasons Airbus Aman e detalhes do seu interior
Fotos divulgação
Airbus Latitudes

ILHAS MALDIVAS VIAGEM

O PARAÍSO É AQUI

Entre as inúmeras ilhas fantásticas das Maldivas, Carbono Uomo encontrou seu paraíso particular. Um pedaço de terra na imensidão do oceano considerado reserva da biosfera, e que ainda serve de cenário para um dos resorts mais incríveis do destino

Por Fábio Justos, o Diretor de Relacionamentos viajou a convite do Anantara Kihavah

Um paraíso na Terra. Não há outro meio de descrever as Maldivas, um arquipélago com quase duas mil ilhas espalhadas no Oceano Índico. As praias de areias brancas e o mar tingido de inacreditáveis tons de azul são o cenário de um dos mais estonteantes destinos de praia do mundo todo e, não à toa, uma unanimidade entre os hits do Instagram.

Mas, entre as milhares de ilhotas, como escolher um paraíso para chamar de seu durante uma temporada? Carbono esteve no destino e elegeu a ilha privativa de Kihavah, em Baa Atoll, uma Reserva da Biosfera da UNESCO.

A primeira impressão, ao olhar aquela areia branquíssima e a água turquesa, é que se trata de uma miragem,

mas histórias não faltam para comprovar sua realidade. Durante séculos, os comerciantes árabes a caminho do Extremo Oriente refugiaram-se nessa ilha, repleta de cocos, mamões e mangas. Os marinheiros, que se moviam entre os arquipélagos com a ajuda das estrelas, também foram atraídos pela riqueza do local. Um vulcão pré-histórico afundou nas profundezas, deixando para trás corais em flor e enormes cardumes.

E é justamente nesse canto especial das Maldivas que fica o Anantara Kihavah. O hotel é outro hit absoluto nas redes sociais, mas a gente garante que vale deixar o celular de lado para mergulhar por completo no que lhe espera fora

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Fotos divulgação
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Maldivas

1 – O visual paradisíaco da ilha de Kihavah

2 – O Anantara Kihavah se espalha no cenário incrível da ilha

3 – Uma das atrações do hotel, o restaurante subaquático SEA mais parece um aquário

das telas. Para começar, trata-se de um projeto que respeitou ao máximo a natureza, mantendo intocados os recifes de corais e as árvores que circundam a região.

Aqui a ordem é esquecer o relógio e aproveitar as delícias de uma temporada pé na areia, em que a sua única preocupação é decidir se o mergulho será na piscina particular da sua villa ou na imensidão do mar. E por falar em villas, vale dizer que todas incluem amenities como menu de travesseiros e sabonetes, tapete de ioga, adega e um membro da equipe à disposição 24 horas.

Quem tiver coragem de deixar seu pedaço de paraíso particular pode se aventurar em experiências mágicas como

mergulho ao lado das raias-manta, passeio de barco com direito a pôr do sol e observação de estrelas com o telescópio mais potente de toda a região. E, naqueles dias mais preguiçosos, nada como ficar à toa, só apreciando a imensidão do mar – para percorrer cada cantinho do Anantara Kihavah, bicicletas estão à disposição – ou, quem sabe, passar a tarde em um spa que flutua sobre a água.

Entre os restaurantes do próprio hotel, impossível não citar o subaquático SEA. O salão, cercado em 360º de vidro, faz com que as companhias das refeições sejam tubarões, peixes mil e tartarugas em mais um espetáculo inesquecível que só as Maldivas proporcionam.

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+anantara.com
ANANTARA KIHAVAH @anantarakihavah

PARA SEMPRE TERRA

Conheça os projetos dos brasileiros consagrados com o Prêmio Rolex de Empreendedorismo, fundado em 1976.

Da restauração da Mata Atlântica à preservação do peixe pirarucu, na Amazônia, são iniciativas incríveis – e necessárias

José Márcio Ayres, Laury Cullen Jr., João Campos-Silva e Luiz Rocha. O que esses quatro brasileiros têm em comum? São todos empreendedores revolucionários, empenhados em encontrar soluções para desafios ambientais e laureados com o Prêmio Rolex de Empreendedorismo.

Criada em 1976 –, em homenagem ao cinquentenário do modelo Rolex Oyster, o primeiro relógio à prova d’água da história da relojoaria – a iniciativa oferece apoio a programas de diferentes lugares que têm como missão desenvolver recursos para a construção de um mundo melhor. Em comum, são comandados por pessoas com pouco ou nenhum acesso a sistemas tradicionais de financiamento.

Ao longo das últimas quatro décadas, foram 155 premiados que viram suas vidas e, muitas vezes, as de suas comunidades transformadas pelo desenvolvimento de tecnologias, pela preservação de ecossistemas ameaçados, pela proteção de oceanos e até mesmo pelo avanço

desbravador nos campos da ciência e da saúde. Estima-se que 17 milhões de pessoas já tenham sido favorecidas pelas iniciativas patrocinadas pelo Prêmio Rolex. Mas não é só. Cerca de 23 milhões de árvores foram plantadas; 43 espécies ameaçadas ficaram protegidas, enquanto outras centenas foram descobertas; 30 importantes ecossistemas, incluindo 57.600 km2 da floresta tropical amazônica, foram preservados; 18 expedições desafiadoras foram realizadas; e 48 tecnologias inovadoras surgiram.

Entre os exploradores que já se beneficiaram com a conquista estão: Francesco Sauro, que lidera expedições científicas em cavernas longínquas nas montanhas tabulares da América do Sul; Cristian Donoso, que percorreu a costa Oeste da Patagônia, a bordo de seu caiaque, documentando essa região dramática para chamar a atenção para o seu valor; Joseph Cook, estudioso do manto de gelo da Groenlândia como combate ao aquecimento global; e Gina Moseley,

Sustentabilidade | ROLEX
Fotos divulgação @Rolex 128

uma exploradora de cavernas no extremo Norte do planeta a fim de lutar contra as mudanças climáticas no Ártico.

A seguir, apresentamos os quatro brasileiros visionários que conquistaram um investimento de 200 mil francos suíços, além de um relógio da marca Rolex e da divulgação na esfera global.

A iniciativa leva suporte a indivíduos pioneiros que, por meio de projetos originais e inovadores, desenvolvem recursos para as grandes adversidades do planeta

Em sentido horário, Laury Cullen Jr.; José Márcio Ayres; Luiz Rocha e João Campos-Silva

José Márcio Ayres

Vencedor do Prêmio Rolex em 2002

Responsável por estabelecer a importante Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Mamirauá, na Amazônia, criando a maior área protegida do mundo dentro de uma floresta tropical

Embora a reserva ecológica de Mamirauá, na Floresta Amazônica, tenha sido demarcada como área protegida, o desmatamento ilegal e a pesca intensiva vinham esgotando seus recursos. Em 1996, o brasileiro José Márcio Ayres, especializado em ecologia de florestas tropicais, decidiu agir e conseguiu estabelecer, numa área de 2.600 km², uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável — a primeira desse tipo na América do Sul. Ayres lutou, por mais de 15 anos, pela implementação de métodos conservacionistas que incentivassem as populações locais a permanecerem em suas terras. A verba que recebeu foi usada na

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ampliação do projeto Mamirauá para a reserva vizinha de Amanã, culminando na criação da maior área protegida do mundo dentro de uma floresta tropical.

Laury Cullen Jr.

Vencedor do Prêmio Rolex em 2016 Reflorestou parte da Mata Atlântica ao mobilizar agricultores e estabelecer viveiros de árvores e corredores de conexão de vegetação selvagem para a passagem dos animais

A derrubada das árvores da Mata Atlântica para o comércio de madeira e para dar espaço às lavouras teve um custo devastador para a fauna e a flora da região de Pontal do Paranapanema, no estado de São Paulo. Formado em engenharia florestal, Laury Cullen Jr. demonstrou que as técnicas agroflorestais usadas por pequenos proprietários rurais são capazes de reabilitar os solos degradados e salvar as plantas e os animais, inclusive espécies ameaçadas, como o mico-leão-preto. O Instituto de Pesquisas Ecológicas, para o qual trabalha, vem reflorestando uma área de 100 hectares

“Quero proteger os peixes porque são derivados únicos de um processo evolutivo de milhões e milhões de anos.
Para mim, é como arte”

de Mata Atlântica por ano, o que representa mais de um milhão de árvores. Em 2011 foi concluído o maior corredor de reflorestamento do Brasil – uma faixa vegetal de 700 hectares que conecta as duas principais unidades de conservação da floresta. Estima-se que, graças à diversidade de árvores, fauna e produção agrícola, a renda da população local tenha aumentado em 18%. “Temos um orgulho imenso em ver como nosso trabalho de campo mudou concretamente a paisagem, contribuindo para ampliar a cobertura vegetal da Mata Atlântica”, diz Laury Cullen Jr.

João Campos-Silva

Vencedor do Prêmio Rolex em 2019 Fez do manejo sustentável do pirarucu uma forma de evitar a extinção da espécie, além de uma maneira de investir no desenvolvimento sustentável das comunidades nativas locais

“O pirarucu tem um papel fundamental na alimentação dos povos da Amazônia desde o surgimento da primeira sociedade humana na região”, explica o biólogo João Campos-Silva. No entanto, a pesca predatória, a fragmentação do habitat e os impactos causados pela ação humana dizimaram as populações selvagens dessa espécie, quase provocando sua extinção em várias localidades. Campos-Silva, especializado no estudo de peixes, já demonstrou que o pirarucu pode ser salvo. No rio Juruá, na região Oeste da Amazônia, o fechamento de pequenos lagos conectados aos rios associado ao manejo cuidadoso dos estoques de peixes pela população local resultou em uma recuperação espetacular da espécie, multiplicando por 30 o número de pirarucus. Agora, o biólogo brasileiro planeja levar essa experiência a um novo patamar e quadruplicar a população em três anos. “Acredito que o manejo comunitário do pirarucu seja o instrumento mais poderoso que temos para garantir um futuro sustentável para as várzeas amazônicas”, finaliza.

Luiz Rocha

Vencedor do Prêmio Rolex em 2021

Em expedições de mergulho inéditas, o especialista em ictiologia – o estudo dos peixes – examina os recifes das profundezas das Maldivas para encontrar, descrever e proteger novas espécies

O oceano desperta a imaginação de Luiz Rocha desde a sua infância, o que o incentivou a dominar a categoria de mergulho altamente técnica e necessária para alcançar profundezas de 150 metros. Nesse universo turvo e escuro, vidas desconhecidas proliferam-se, incluindo grandes florestas de corais. E é em busca desses animais chamados mesofóticos que Luiz planeja diversas expedições pioneiras. O objetivo é explorar os níveis mais fundos dos atóis que constituem as Maldivas, no Oceano Índico, vista como um dos últimos refúgios de corais do mundo todo. Ao contrário dos recifes de águas menos profundas, pouco se sabe sobre os mesofóticos – e nada sobre os recifes abaixo de 60 metros da superfície. Luiz Rocha, portanto, tem explorado um ambiente nunca antes visto por humanos. “Como não conhecemos nada sobre essas espécies, a maioria delas não está protegida. Nem mesmo o governo das Maldivas tem conhecimento sobre a sua existência”, explica Luiz, que já completou a primeira etapa de seu projeto vencedor do Prêmio Rolex. A expedição submarina ao Atol de Rasdhoo resultou na descoberta de oito novas espécies de peixes, um recorde em relação às suas expedições anteriores. “Quero proteger os peixes porque são derivados únicos de um processo evolutivo de milhões e milhões de anos. Para mim, é como arte.”

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Sustentabilidade | ROLEX

PÁGINAS AMARELAS

Endereços e serviços que estão em alta: um guia inteligente por Carbono Uomo

BARRA FUNDA

Com ares industriais, o bairro se firma cada vez mais como polo das artes, do design e da gastronomia. Se fosse você, ia já!

Um Brinde às Boas Tradições

L’Chaim!

Ilustração Mona

Embutidos de origem animal ganham casas especializadas no assunto. Comida afetiva, artesanal e saborosa Latkes, varenikes e outras receitas deliciosas são as estrelas desses restaurantes. Nenhuma mãe judia botaria defeito nessa seleção

WELLNESS MÚSICA

Do jazz classudo ao hip-hop da cena underground, uma seleção de casas paulistanas dedicadas a fazer e ouvir boa música. A dica é aumentar o som!

SALUMERIAS JUDAICO DRINKS

Bartender do Trattoria Fasano ensina a colocar pitadas vanguarditas em drinks clássicos – com temperos direto da horta

O relógio diz tic-tac sem parar, mas desacelar é preciso. Técnicas integrativas, hotéis focados no sono e até cogumelos psicodélicos estão no nosso radar

FIQUE DE OLHO Drinks, flores, doces: reunimos ideias especiais para os momentos em que queremos agradecer alguém

A PULSANTE BARRA FUNDA

O bairro industrial vem mudando de cara e se firma, cada vez mais, como polo de artes, design e gastronomia. Neste miniguia, você encontra os endereços que precisam estar no radar

A Barra Funda vive um movimento semelhante ao que experimentaram os vizinhos Santa Cecília e Vila Buarque nos últimos anos. Enquanto parte do bairro está passando por uma verticalização, a outra entrou de vez na cena cultural da cidade. Em paralelo, o passado segue resistindo nos trilhos de trem, galpões e antigas fábricas desativadas, que também ajudam a manter o look underground do endereço.

Para rememorar as origens negras do bairro industrial que acabou ficando mais conhecido pela chegada dos italianos, há até um roteiro de afroturismo. Entre os foodies, a rota gastronômica tem opções de sobra para além da Rua Souza Lima, que concentra uma porção das novidades. Já a turma das artes pode se aventurar entre as galerias, estúdios e lojas de design. A seguir, revelamos alguns dos nossos endereços favoritos dessa “nova” Barra Funda e que traduzem o espírito multicultural da região. Vem ver.

AMARELLO BARRA FUNDA

O descritivo da loja da revista Amarello, inaugurada em outubro, diz tudo: “tem um pé na experimentação artística e outro no aconchego de um Brasil que te convida para uma conversa descontraída, servindo café e pão de queijo”. A proposta do espaço é expandir os valores da publicação que celebra a cultura nacional unindo arte, gastronomia e objetos genuinamente brasileiros. Destaque para as comidinhas criadas pelo chef Gustavo Rozzino, do restaurante Tonton. @amarelloloja Rua Vitorino Carmilo, 928

Páginas amarelas
Fotos divulgação; André Ligeiro; Derek Fernandes

MENDES WOOD DM

Depois de 11 anos na Rua da Consolação, a galeria agora ocupa um amplo galpão na Barra Funda, sem abrir mão de exposições de artistas nacionais e internacionais para propiciar um diálogo crítico. Até 21 de janeiro, o novo espaço recebe mostras individuais de Giangiacomo Rossetti e Naufus Ramírez-Figueroa. No mesmo período, haverá uma exposição histórica da brasileira Maria Auxiliadora, reunindo pinturas de 1968-1974, quando a artista trabalhou formalmente como pintora. @mendeswooddm

Rua Barra Funda, 216

USINA LUIS MALUF

Artistas nacionais e internacionais entram no portfólio desta galeria dedicada à arte contemporânea. Inaugurado em 2021 com um programa de Residência Artística, o endereço tem como pilares a formação e o acesso à arte para promover um espaço de construção, debate e de contato com a pluralidade da cultura brasileira. Artistas como Cranio, Finok e Shizue Sakamoto são alguns dos nomes que já passaram pela casa. @luis_maluf Rua Brigadeiro Galvão, 996

GALERIA JANAINA TORRES

Na galeria, o contexto cultural aparece de forma abrangente, unindo a experiência estética com questões geográficas, políticas e sociais. Vale conferir a exposição em cartaz, Criatura, primeira individual de Paula Juchem, que propõe novos caminhos para a escultura brasileira por meio da cerâmica. O endereço também reserva obras de artistas como Helena Martins-Costa, Heleno Bernardi, Andrey Guaianá Zignnatto, Marina Caverzan, Osvaldo Carvalho e Ricardo Siri. @janainatorresgaleria Rua Vitorino Carmilo, 427

ESTÚDIO RAIN

O espaço dedicado à arte e ao design é comandado por Mariana Ramos e Ricardo Innecco, que têm como fio condutor a curiosidade e a experimentação — muitas vezes, conciliando métodos tradicionais e rudimentares a produções digitais. A dupla carrega entre suas referências os contextos urbanístico e arquitetônico modernistas de origem. Agende a visita. @estudiorain

Rua Cônego Vicente Miguel Marino, 424

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Fotos
divulgação;
Ruy Teixeira; Gui Gomes; Marcellus de Lemos; Giu Ramaglia; Everson Verdião

NODA

LONA

A galeria propõe conexões entre curadores, colecionadores e instituições, sempre com foco na arte contemporânea. Este mês é possível conferir a exposição Sono Infinito, do artista visual Gabriel Torggler. A mostra, que dialoga com A Interpretação dos Sonhos, livro de Freud, faz uma ponte entre arte e psicanálise e reúne cerca de 20 obras em diferentes suportes, como tela, MDF, papel e metal, tendo o desenho como eixo central. @lonagaleria Rua Brigadeiro Galvão, 990

É em uma antiga (e reformada) marcenaria que funciona o showroom da loja virtual de objetos de cozinha e decoração. O acervo é composto de criações próprias, descomplicadas e atemporais, além de uma seleção de peças de outras marcas, selecionadas a dedo. Entram na lista tigelas de vidro fundido manualmente, bowls de granilite, saleiros de pedra-sabão e pilões de quartzo calcedônia. É possível conhecer o espaço com agendamento prévio. @nodacozinha

Rua Boracéa, 167

AR+KANSSEI

Os estilistas mineiros Antônio Gomes e Lucas Magalhães criaram suas marcas Ar Something e Kanssei durante a pandemia. E, em julho, decidiram abrir um projeto juntos. A loja dos amigos tem peças minimal nada básicas e pijamas estampados dignos de pista. @armaiskanssei

Rua Camerino, 99

NA FILA DO PÃO E FIALKA

Aberta na pandemia, a padaria de Diêgo Penido oferece pães de fermentação natural, além de financiers, espécie de bombocado francês, cookies e bolos. Como inspiração, a cozinha feminina que norteou a infância do chef. O bônus? O espaço é dividido com a florista Marilia Fialka, que oferece lindos arranjos, além de cestas, joias e bandeiras, entre outros itens. @na.filadopao e @afialka___

Rua Margarida, 30

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Páginas amarelas
Fotos divulgação; Mayra Azzy; Derek Fernandes; André Ligeiro; Lucrécia Prezia

KOMAH

Conhecido por ser um dos desbravadores da nova Barra Funda, o restaurante coreano agora está sob o comando de Daniel Park, pupilo de Paulo Shin, o chef que deu fama ao local. Vale ir em turma para experimentar os pratos que mais fazem sucesso na casa. Para beber, a dica é o Khaennip Sour, drink que leva a folhinha de gergelim selvagem batizada de khaenipp. @komahrestaurante

Rua Cônego Vicente Miguel Marino, 378

BOCADA’S

São Paulo é a cidade da pizza e, ainda assim, o Bocada’s conseguiu se destacar. Servidas em um salão simples, as receitas com inspiração napolitana ganharam fama entre os especialistas no prato. Os sabores podem variar, mas o cardápio costuma incluir opções clássicas como Margherita e Marinara. Vá com (muita) fome para experimentar o “rolê do Bocada’s”, espécie de rodízio. @bocada_s Rua Dr. Ribeiro de Almeida, 167

PINA

Neste bar de drinques com carinha de boteco, a cachaça é a protagonista da carta —justamente por ser pouco utilizada na coquetelaria nacional. No lugar de taças, as bebidas são servidas em copos como o americano e o bico de jaca. E, para facilitar a escolha, é só dizer o seu perfil sensorial: amargo, cítrico, seco, salgado, ou de café. @pina.drinques

Rua Brigadeiro Galvão, 177

TRAGO

Um dos bares mais disputados da região, que segue valendo cada minuto na espera. Os drinques são todos incríveis, mas vale confiar nas sugestões dos simpáticos bartenders. Entre os hits, o Manga Rosa leva vodca infusionada em pimenta-dedo-de-moça, suco de limão, xarope de açúcar e purê de manga. Refrescante e levemente apimentado! Aceita reservas. @trago_bar

Rua Sousa Lima, 174

Para sair ainda mais da mesmice, que tal percorrer o bairro sob outra perspectiva? A dica são os passeios promovidos pelo Guia Negro, plataforma de turismo que realiza caminhadas no Brasil com foco na cultura e na história negra. A Barra Funda foi berço do samba de São Paulo e as andanças por lá passam por lugares como a Aparelha Luzia, a Camisa Verde e Branco e o antigo Largo da Banana. Um dos novos pontos é a estátua de Geraldo Filme. @guianegro Páginas

LASKARINA BOUBOULINA

Tem história por trás do nome curioso deste restaurante: Laskarina Bouboulina foi uma comandante naval envolvida na luta pela independência da Grécia – daí o acento mediterrâneo do cardápio. É o caso do Gözleme, sanduíche turco que leva espinafre com queijo no pão folha. Destaque para os drinks autorais como o Mambembe, com bourbon, limão e xarope de capim santo. @laskarinasaopaulo

Rua Sousa Lima, 67

ES.TRAGO

Na esquina oposta, o irmão mais novo do Trago tem clima descontraído e cerveja de garrafa, além de drinques mais tradicionais, como a caipirinha de limão com rapadura. Para acompanhar, uma série de porções gostosas: bolinhos mais clássicos ganham molhos diferentes, como o barbecue de goiabada. @es.trago_bar

Rua Sousa Lima, 151

Identidade

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Fotos divulgação; Lucas Hirai; Rubens Kato; Marcelo Ferreira; Julia Magalhães

SEM FRONTEIRAS

A tradicional gastronomia judaica se reinventa e conquista novos fãs na capital paulista

Das delis nova-iorquinas às barraquinhas de rua em Israel, não falta variedade na gastronomia judaica. Em São Paulo, entretanto, até pouco tempo as poucas opções disponíveis serviam pratos tradicionais e recebiam majoritariamente clientes da própria comunidade. A boa notícia é que o cenário mudou. Restaurantes antigos ganharam roupa nova, incorporaram pratos de diferentes lugares

PINATI

Nem todo restaurante de comida judaica é kosher. É preciso seguir uma série de regras para conseguir um certificado como o do Pinati, que acaba de se mudar para um sobrado em Higienópolis. Inspiradas na comida de rua de Israel, as receitas não levam derivados de leite e são supervisionadas por um rabino diariamente. O serviço também é interrompido depois do almoço de sexta e fica fechado aos sábados. Apesar de seguir à risca a tradição, o local não tem nada de careta: neons e lambe-lambes conferem um clima descontraído ao local, comandado de perto pelos irmãos Alon e Lior. Prove os sanduíches caprichados, como o arais, feito com carne moída à moda israelense, vursht (salame bovino) e tahine, ou o falovo, bolovo de falafel que é sucesso total. R. Armando Penteado, 56 - Higienópolis | @pinatisp

do mundo ao menu e passaram a receber cada vez mais jovens. Somados a eles, novas casas surgiram com a proposta de provar que há muito mais nessa famosa culinária do que os velhos conhecidos varenike e gefilte fish. A seguir, selecionamos endereços que transitam entre o moderno e o contemporâneo e servem comida para nenhuma mãe judia botar defeito.

SHOSHANA DELISHOP

Aberto em 1991, no Bom Retiro, o restaurante quase foi fechado na pandemia, mas foi comprado por um grupo de clientes que o deixou de cara nova. Agora assinado pela chef Clarice Reichstul, o menu mantém receitas famosas entre os frequentadores mais antigos, como os latkes – panquequinhas crocantes de batata servidas com ricota cremosa artesanal –, e adiciona pratos judaicos de diferentes regiões do mundo. É o caso da Ajilouk de Potiron (pasta de abóbora assada com pimenta harissa), típica da Tunísia. Para acompanhar tantas delícias, a carta de drinks elaborada por Günter Safert mescla gim-tônicas e cardinales autorais como o Schleper Fizz, feito com cachaça, limão, angostura e ginger ale.

R. Correia de Melo, 206 - Bom Retiro | @shoshana_delishop

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Fotos divulgação; Nani Rodrigues; Marcos Londero; Laís Acsa

SHUK FALAFEL & KEBABS

Nem só de gelfite fish e varenikes – pratos típicos da Europa Central – vive a culinária judaica. Outra faceta, a sefaradi, reúne receitas do Oriente Médio consumidas tanto por árabes como por judeus em Israel. Mesclar o que há de melhor na comida desses dois povos é justamente o foco do Shuk. Comandado por Suzana Goldfarb, de família judaica, e Mauro Brosso, que tem ascendência síria, o restaurante traz no menu diversas opções de hommus, kebabs e sanduíches famosos nas ruas de Israel, como o vegetariano sabich, que leva ovo cozido, berinjela frita com tahine e molho amba, envelopados no pão pita. Para beber, a boa é o negroni da casa, feito com arak, destilado árabe que garante um sabor de anis ao drink.

R. Ferreira de Araújo, 385 - Pinheiros | @shukfalafel

Z DELI DELICATESSEN

Clássico paulistano, o restaurante inspirado nas delicatessens de Nova York existe desde 1981 servindo receitas judaicas em esquema buffet. O salmão gravlax está sempre na vitrine, acompanhado de outros clássicos como o patê de ovos, as saladinhas de pepino e repolho e os varenikes de batata com cebola confit. Recentemente, o lugar passou a ser comandado por Julio Raw, neto da dona Rosa, uma das icônicas fundadoras e sócio do Z Deli Sanduíches. Veio dele a ideia de modernizar o ambiente e eliminar tradições como a de esquentar as comidas nos micro-ondas brancos que sempre ficaram à vista dos clientes. Guarde espaço para a sobremesa: o cheesecake com calda de amora é um dos melhores da cidade.

Al. Lorena, 1689 - Jardins | @zdelicatessen

TRADIÇÃO

Carbono indica dois endereços clássicos para quem deseja abastecer a casa com delícias judaicas

Por Mona

CASA ZILANNA

Desde 1972, o empório é ponto curinga para se encontrar uma grande variedade de produtos kosher . Após percorrer o salão repleto de castanhas a granel, chocolates importados e geladeiras com congelados e antepastos, junte-se à fila que se forma no fundo da loja, em frente à vitrine com as famosas conservas de hering, salmão defumado e gefilte fish. Todos feitos na casa. Igualmente requisitados são os bagels e as burekas variadas, como as de alcachofra.

R. Itambé, 506 - Higienópolis | @casazilanna

KOSHER DELIGHT

Fundada por dona Alegria Cohen, a padaria artesanal é ponto querido da comunidade judaica desde a sua abertura, na década de 1990. Kosher, as fornadas são fresquíssimas e concorridas: burekas e roscas amanteigadas se esgotam ainda quentes. E, a partir das quintas-feiras, a procura dos clientes é pela tradicional chalá. Outros pontos altos são as bandejas de palmier e petit four. Para completar, ainda é possível encomendar bolos tão nostálgicos como o Floresta Negra.

R. Baronesa de Itu, 436 - Santa Cecília | @kosherdelightbrasil

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Fotos divulgação; Amanda Francelino; Mona

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TUDO SE TRANSFORMA

Charcutaria ganha novos sabores e assume o papel de protagonista em negócios focados em embutidos de origem animal

Peças de lombo defumado, copa, salame, pancetta e lagarto maturado chamam a atenção de quem chega à loja Jais, aberta no início do ano, em São Paulo. É difícil escolher entre tantas opções de produtos de charcutaria, ou salumeria, nome que designa a principal especialidade da marca. A abertura da unidade física da Jais comprova um interesse crescente dos brasileiros em torno dessa área da gastronomia. Segundo Edson Navarro, presidente da Associação Paulista de Charcutaria Artesanal, a busca por produtos desse gênero cresceu significativamente nos últimos dois anos. “Depois do boom de cervejas e queijos artesanais, chegou a vez da charcutaria”, diz ele, que também é fundador da Curato Escola de Charcutaria, uma das pioneiras por aqui, com mais de 2 mil alunos formados.

O próprio Navarro, que define os charcuteiros como “transformadores da carne”, decidiu apostar em mais um negócio na área em julho deste ano. Sua loja on-line, a Curato (lojacurato.com.br), oferece insumos e equipamentos, como balanças e ganchos, para quem deseja se aventurar nesse mundo. “Nosso movimento não é apenas gastronômico. Trata-se também de resgate cultural, de comida afetiva e de produtos mais saudáveis.” Deu vontade de experimentar bons embutidos? Selecionamos locais que apostam na tendência.

PIRINEUS

A história data dos anos 1950, quando o tio-avô dos atuais sócios, um catalão, iniciou uma pequena produção de embutidos em São Paulo. E, até hoje, lições como o processo de produção artesanal são mantidas. Os itens podem ser encontrados em diversos restaurantes e lojas da Grande São Paulo e interior e na Botiga Pirineus, inaugurada em 2018 no bairro Cerqueira César. São cerca de 20 embutidos frescos, curados ou cozidos – todos com toque espanhol, como chorizo e morcilla, típica da culinária da cidade espanhola de Burgos. @pirineusbr

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ANTICA

Um espaço de 170 metros quadrados no Jardim Paulista, em São Paulo, abriga, desde agosto, a salumeria Antica. É a segunda unidade da marca, que começou em 2018, no bairro City America, também na capital paulista. Uma das opções da casa é a Antica Box, caixa com itens variados como presunto, copa e lombo defumado, com sabores como limão-siciliano ou tomilho e alecrim. A marca também trabalha com produtos especiais, como o salmão curado e defumado. Nos dois endereços há fabricação de pães que servem como acompanhamento perfeito para as carnes. @antica.salumeria

JAIS

Nascido em uma família de cozinheiros alemães, Egon Jais trabalhava como fotógrafo em São Paulo quando começou a fazer salames e vender para amigos, há cerca de cinco anos. O negócio cresceu e, em março passado, ele e a mulher abriram a Jais próximo ao galpão onde são produzidos os embutidos e conservas da marca. “Escolho o que fazer quando olho para a peça”, diz o cozinheiro. São 600 quilos de carne processados por mês, entre cortes de porco, boi, cordeiro, pato, javali e outros, que podem ser levados para casa ou consumidos na loja mesmo, fatiados ou em forma de sanduíche. @jaishandmade

CASA DELLA SALUMERIA

Em março deste ano, a cidade de Gramado ganhou a Casa della Salumeria, loja da marca Salumeria Caminho de Pedra, presente em Bento Gonçalves desde 2012. São 12 tipos de salames, produzidos a partir de receitas da família das proprietários, e um presunto cru feito por um produtor parceiro. “O mais especial nesse universo é a história dos antepassados, as raízes”, afirma Elisete Eckhardt, gerente da Casa. A história dos donos está contada em painéis espalhados nas paredes do imóvel escolhido, construído no fim da década de 1920. @casadellasalumeria

Fotos
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divulgação; Gustavo Steffen; Bianca Nunes, Mona

Páginas amarelas

NOVO FÔLEGO

Para além da nova era dos festivais, São Paulo está retomando seu lugar pulsante na cena musical. Aqui, uma seleção afiada de casas que servem de berço para bandas indies e outros endereços para curtir um som

Por Natália Albertoni

A cena paulistana está recuperando o tempo perdido. Após o fechamento ou ameaça de fechamento de importantes espaços culturais, a retomada é marcada pela nova era de festivais, com a chegada do Primavera Sound e do The Town, além dos já estabelecidos Lollapalooza, Coala e Popload. Mas também pela abertura de novos endereços que compõem um circuito capaz de oxigenar diferentes estilos musicais e receber saudosos da noite agitada.

São exemplos o novíssimo Bar Alto, que tem tudo para se tornar o próximo santuário da cena independente na capital, e o Rabo Di Galo, no hotel Rosewood, onde os ritmos brasileiros são predominantes. A Carbono selecionou ótimos endereços, para você (re)conhecer essa cena pulsante e, quem sabe, ter um novo som favorito para chamar de seu.

RABO DI GALO

O bar de música ao vivo fica no hotel Rosewood São Paulo, na Cidade Matarazzo, que, por si só, já valeria a visita. O design inspirado nos clubes de jazz dos anos 1930 reforça a atmosfera intimista e, no som, imperam ritmos brasileiros. Vale dar destaque para o teto – sim! –, que ostenta uma obra de Rodrigo de Azevedo Saad, conhecido como Cabelo. O artista passou quase 70 horas criando as ilustrações que compõem o universo lúdico do cenário. No cardápio, há drinques criados sob medida e petiscos conhecidos de bares nacionais. @rosewoodsaopaulo

AMATA

Em Pinheiros, a casa tem atraído fãs de rap, que revive um novo auge depois de ganhar grande destaque nos anos 1980. Entre os residentes estão a DJ Cinara, bicampeã brasileira do Red Bull 3Style Brasil, e o duo Deekapz, que faz música eletrônica popular brasileira e periférica e passou pelos festivais Coala e Turá. Ponto de encontro de MCs, o espaço, com muito verde e música ao ar livre, tem um rooftop de frente para o Instituo Tomie Ohtake. @amata.sp

Fotos divulgação; Ruy Teixeira

CINE CORTINA

Inaugurado há poucos meses, o espaço multicultural ocupa um antigo estacionamento no centro de São Paulo, onde, entre as décadas de 1940 e 1960, brilhou a Cinelândia Paulistana. E é no subsolo que a magia acontece. Quando a cortina se abre e as 80 cadeiras da sala de exibição saem de cena, o espaço recebe até 500 pessoas, que podem assistir a shows com experiências audiovisuais, que misturam cinema, música, gastronomia e coquetelaria. @cineclubecortina

PORTA

Misto de casa de show, bar, fábrica de skate e estúdio de produção musical, o Porta funciona numa antiga casa de bairro, em Pinheiros. Com tapetes, portas ornamentadas e porta-retratos, a decoração tem clima de lá em casa. As apresentações vão do rock ao dub, priorizando o formato experimental. Começam cedo, por volta das 20h, e encerram em torno das 23h. Para acompanhar, o bar, que funciona numa antiga cozinha, oferece clássicos de coquetelaria e, claro, cerveja. @___porta___

Recém-inaugurado, o endereço na Vila Madalena tem tudo para ser o novo nascedouro de bandas independentes — brasileiras e internacionais. A empreitada é fruto da união dos sócios do Selo Balaclava e do Grupo Tokyo, além do jornalista Lúcio Ribeiro, idealizador do festival Popload. A proposta de ser “o maior menor bar do mundo” ajuda a dar o clima do local, que reúne bar de coquetelaria, clubinho com som moderníssimo para shows intimistas e um terraço ao ar livre para se tomar uma cerveja. O projeto arquitetônico é do Futura Estúdio, da arquiteta Larissa Burke, responsável por projetos como Infini Bar e Bar Térreo. @baralto.sp

CAFÉ HOTEL

No lugar de uma antiga igreja evangélica, a casa de shows, que recebe até 1200 pessoas, fica em frente ao irmão (bem menor) City Lights Hostel. A aposta é oferecer uma noite com atrações de diferentes estilos, pontuada por shows de nomes importantes da cena nacional, como Luedji Luna. A agenda é variada e intercala gêneros regionais, como o carimbó, e ritmos latinos. @citylights_sp

Fotos
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divulgação;
Leo Martins; Mô Bertuzzi; Victor Balde

DA HORTA PARA O COPO

Especialista em adicionar uma pitada vanguardista nos drinks mais clássicos da carta, Leandro Nunes, head bartender do Trattoria Fasano, revela as receitas elaboradas por ele que fazem sucesso no restaurante paulistano

Aos 22 anos, o paulistano Leandro Nunes, hoje casado e pai de dois filhos, começava sua história profissional na coquetelaria. Foi quando, há 15 anos, iniciou sua carreira no Restaurante Nonno Ruggero, em São Paulo. “Lá foi a minha primeira escola de drinks. Dez anos depois migrei para o Trattoria Fasano, onde sou head bartender”, conta Leandro. Especialista em Coquetéis Clássicos pela ABS (Academia de Bartender de São Paulo) o expert aplica técnicas da coquetelaria avançada em bebidas tradicionais. “Adoro trabalhar com coquetéis bem equilibrados e com produtos selecionados de alta qualidade, principalmente os brasileiros e regionais.”

No backstage do Trattoria há uma horta com temperos e hortaliças que os chefs usam para preparar as receitas servidas no local. E é lá onde Leandro encontra boa parte de seus insumos. “Para harmonizar com os pratos italianos e franceses uso na elaboração dos drinks ervas aromáticas e frutas da época. Gosto de aproveitar tudo que seja relacionado à fruta, evitando totalmente o desperdício. Uso o suco, a casca, o bagaço... Seja para misturar, fazer xarope ou até guarnições”, conta ele.

Páginas amarelas

BOUQUET GARNI SMASH

GIN COM BOUQUET GARNI, ÓLEOS ESSENCIAIS CÍTRICOS E SUCO DE LIMÃO-SICILIANO

INGREDIENTES

50 ml de gin

30 ml suco de limão-siciliano 20 ml de óleo saccharum artesanal*

1 fatia de pepino

5 folhas de manjericão

5 folhas de sálvia

5 folhas de hortelã

MODO DE PREPARO

Em uma coqueteleira de Boston, adicionar o bouquet garni e a fatia de pepino. Macerar bem para soltar todos os aromas e sabores. Adicionar os outros ingredientes e gelo. Bater e coar duplamente. Servir em copo baixo com bastante gelo. Finalizar com um bouquet garni.

GIN COM MANJERICÃO FRESCO MACERADO, ÓLEOS ESSENCIAIS CÍTRICOS E SUCO DE LIMÃO SICILIANO CLARIFICADO E ALEITADO

INGREDIENTES

50 ml de gin

30 ml de suco de limão-siciliano

20 ml de óleo saccharum artesanal*

50 ml de leite integral Manjericão com gin (60 g de manjericão fresco macerado, infusionado em 750ml de gin)

MODO DE PREPARO

*Como fazer óleo saccharum artesanal

Cortar cascas de laranja e limão-siciliano — Pesar e adicionar o mesmo peso em açúcar — Levar ao vácuo — Aguardar os óleos essenciais dos cítricos diluírem todo o açúcar (tem que ficar uma mistura totalmente líquida) — Esse processo leva 12 horas — Coar e engarrafar o xarope natural.

Adicionar todos os ingredientes em um recipiente. Mexer com uma colher bailarina. Coar em filtro de papel.

Deixar em refrigeração por pelo menos 24 horas, até finalizar toda a coagem e a clarificação. Engarrafar.

Servir em copo baixo com bastante gelo. Decorar com biscoito artesanal de cítricos.

“Após a coagem do óleo saccharum, desidrato as cascas cítricas até que fiquem bem sequinhas e crocantes. Trituro e, com essa farofinha, monto as guarnições desse drink”

Fotos divulgação
PESTO MILK PUNCH
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DESACELERA

Na era da ansiedade generalizada, surgem cada vez mais técnicas e tratamentos integrativos para nos ajudar a viver melhor. Inspira, respira e escolha a sua

O final de 2022 chegou com uma constatação: estamos cansados de estar cansados. Tanto é que, no início deste ano, a síndrome do esgotamento profissional (o famigerado burnout) deixou de ser uma condição de saúde para ser descrita como fenômeno ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – ou seja, relacionada ao trabalho. Pouco depois, em junho, a agência divulgou a maior revisão sobre a saúde mental mundial desde a virada do século: um levantamento computado em 2019 revelou que quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental naquele ano. Segundo o mesmo estudo, a depressão e a ansiedade aumentaram mais de 25% só no primeiro ano da pandemia.

O contexto, que inclui desafios globais como a polarização política, a guerra e a crise climática, certamente não ajuda. “O maior problema é que estamos enfrentando um mal-estar ansioso que permeia todo mundo. É uma ansiedade compartilhada, que nos tira do presente, incitando a busca por recompensas imediatas e distrações. A procrastinação é um tipo de ansiedade, por exemplo. Você se preocupa com as sensações envolvidas em uma

tarefa que você não quer fazer. Quanto mais modernos e urbanos ficamos, maior é o sofrimento”, explica Lucas Ferreira, do perfil @neurofood, sobre neurociência e neuronutrição focada em performance e bem-estar.

A boa notícia é que evidências científicas têm mostrado os benefícios das práticas integrativas e complementares, como acupuntura e cromoterapia, principalmente quando associadas à medicina tradicional. O próprio Lucas é um exemplo disso: para enfrentar um esgotamento causado pela rotina non-stop na época em que trabalhava em banco, mergulhou na terapia. As mudanças foram tantas que hoje ele mora na praia e dá cursos para ajudar as pessoas a encontrarem rotinas mais saudáveis.

O SUS já reconhece a importância do tema e oferece 29 Práticas Integrativas e Complementares. Do outro lado, hotéis, spas e clínicas elegeram as técnicas e terapias naturais como as favoritas da vez, entre elas o Sound Healing, o Grounding e o Cultivo da Compaixão. Seja qual for o seu cansaço, há algo a ser feito: selecionamos alternativas que estão no nosso radar e também merecem sua atenção.

SOUND HEALING

Como o próprio nome entrega, a terapia sonora busca a cura por meio do som. Uma sessão pode envolver, além da meditação, o uso de instrumentos como gongo, tambor oceânico e tigelas de cristal de quartzo. O tratamento milenar reverenciado em lugares como a Califórnia tem ganhado adeptos por aqui ao promover uma sensação profunda de relaxamento e trazer benefícios como o controle da dor e a liberação de memórias, além de tratar a ansiedade e a depressão. No Rio, Victor Chateaubriand (@vchateau) e Gustavo Dale (@gugadale – imagens, acima) conduzem sessões no hotel Arpoador (@hotelarpoador) e na Casa dos Oitis (@casadosoitis_).

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Fotos divulgação; Leo Martins
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BARRA DE ACCESS

A técnica de expansão da consciência criada pelo estadunidense Gary Douglas nos anos 1990 vem conquistando adeptos em busca de desbloqueio de traumas e pensamentos negativos. Na sessão, um terapeuta corporal especializado aplica toques em 32 pontos energéticos específicos da cabeça. A “limpeza energética” libera espaço para receber novas informações e até impulsionar mudanças na rotina. A ferramenta quântica promove um estado de relaxamento intenso e há relatos de maior clareza mental, aumento na disposição física e sensação de bem-estar. Em São Paulo, é possível experimentar a prática no Templo Beleza e Bem-Estar @templo.sou

CULTIVO DA COMPAIXÃO

O pessoal da Universidade de Stanford sabe o que faz e, não à toa, criou um centro de pesquisa e ensino dedicado à compaixão, o CCARE. Isso porque fatores como o stress nos atrapalham a expressar esse sentimento aparentemente tão natural – e necessário. Afinal, como viver sem algo que nos ajuda a diminuir preocupações, medos e autocrítica, além de contribuir com uma maior satisfação pessoal? No Brasil, as aulas desenvolvidas na Califórnia são oferecidas pelo estúdio Moved By Mindfulness ao longo de oito encontros semanais. @movedbymindfulness

TURISMO DO SONO

Quem tiver a oportunidade de tirar um tempo off, além de poucas horas na semana, pode investir no turismo do sono, tendência que é a aposta da vez no universo wellness. Afinal, segundo uma pesquisa do Ibope, 65% dos brasileiros têm baixa qualidade de sono. Já nos EUA, 50 a 70 milhões de adultos sofrem de problemas semelhantes, sendo a insônia a mais prevalente. De olho nisso, o hotel futurista Zedwell (foto) foi pioneiro ao focar nesse serviço em Londres. Projetado para promover o sono, a saúde e o bem-estar, o espaço oferece “dormitórios-casulo” sem janelas, com isolamento acústico e iluminação ambiente (@zedwellpiccadilly). Em Coimbra, a marca sueca de camas Hästens criou o Sleep Spa Hotel (@hastenssleepspa_coimbra), que prioriza o bem-estar a partir de uma noite revigorante.

SHROOM BOOM

Proibidos em boa parte do mundo a partir dos anos 1960, os cogumelos mágicos voltaram a ter destaque em estudos na última década. Durante a pandemia, ganharam ainda mais espaço ao terem sua eficácia comprovada no reforço do sistema imunológico, na redução de inflamações e no auxílio de tratamentos para ansiedade, depressão e abuso de substâncias. Segundo uma matéria do The New York Times, mais de 20 empresas focadas em psicodélicos foram a público em 2020. Um ano depois, a Marley One, parceria da família de Bob Marley com a Silo Wellness, líder global em psicodélicos, lançou a primeira marca de cogumelos funcionais e psicodélicos do mundo. Entre os produtos estão as tinturas feitas de fungos medicinais, que ajudam em pontos como qualidade do sono e imunidade. A compra – legal – é feita on-line marleyone.com

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PELO GLOBO... Páginas amarelas

OBRIGADO!

Há sempre alguém especial a quem gostaríamos de agradecer. E a melhor coisa é fazê-lo com amor – e doses de criatividade. Reunimos boas ideias abaixo. Namastê!

Das formas mais sinceras e elegantes de se conectar com alguém:

Say it with flowers

ARRANJO TROPICAL Além dos belos arranjos prontos, é possível escolher uma gama de hastes para quem prefere montar sua composição. @arranjo.tropical

botânicas se transformam em verdadeiras esculturas. @floatelierbotanico

Com açúcar, com afeto

Imagine ser surpreendido com uma doçura dessas no meio de uma tarde qualquer. Chegar em casa e ter esse carinho à sua espera, pronto para ser compartilhado.

FS COOKING

Dos clássicos cookies aos bolos especiais, a confeitaria artesanal é uma boa pedida para marcar momentos únicos com ternura.

@fs.cooking

Tim-tim!

Que tal um brinde para celebrar a vida e agradecer uma pessoa marcante? Melhor ainda se for com a bebida favorita dela!

APTK SPIRITS

Os drinks clássicos engarrafados, assinados por Alê D’Agostino, podem ser customizados com uma mensagem simpática. @aptkspirits

“People will forget what you said, people will forget what you did, but people will never forget how you made them feel.”

— Maya Angelou

Clássico

Uma cartinha personalizada, escrita com a sua própria letra, nunca vai perder seu valor. É um jeito eterno de passar uma mensagem afetiva.

PAPER HOUSE

O melhor da papelaria, com seus mais diversos formatos e cores.

@paper_house

Moldura

Quem não amaria ganhar um desenho sob medida para guardar para sempre no coração?

SUZANA GASPARIAN

A artista Suzana Gasparian transforma fotos de família em aquarelas repletas de sensibilidade. @suzanagasparian

FIQUE DE OLHO
Fotos divulgação; Pat Corvo; Tereza Sa. Ilustração Mona
FLORES BÁRBARAS A delicadeza mora nos detalhes. Aqui, buquês em formato de cone com fita para pendurar. @flores.barbaras FLO ATELIER BOTÂNICO Criações
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