Cinturao negro revista portugues 279 2014

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"Só o que se perde se adquire para sempre" Henrik Ibsen “E no momento de partir, serão estas as minhas últimas palavras: Eu vou embora, mas deixo o meu amor atrás de mim” Rabindranath Tagore o passado mês de Setembro faleceu José Luís Paniagua Tévar, um dos meus mais queridos conselheiros. Muitos foram os anos passados juntos, muito o que ensinou a mim e a muitos outros, muito o que me ajudou… Obrigado! A vida e suas mil circunstâncias, muitas delas (sempre todas!) minúsculas, nos separaram e até nos enfrentaram um breve lapso no tempo, mas o reencontro foi magnífico e hoje me satisfaz infinitamente o facto de o ter promovido; por mais que o nosso tempo juntos tivesse passado, ficaram um profundo respeito, sincero carinho e sentido reconhecimento. Não vou fazer aqui um panegírico do meu querido Mestre, ele próprio diria que só se fala bem dos mortos; também não direi que fica a sua obra - que fica, e muito boa! Livros, algum DVD, seus filhos e os muitos corações que tocou com a sua profunda sensibilidade… (querida Maria, fortaleza!). Foi atrevido e valente, consequente até em suas inconsequências, e se superou a si mesmo em cada esquina do caminho. De seus defeitos fez autêntica virtude (nada mais grande se pode fizer de um homem!) e nesse esforço descobriu e abriu caminhos para muitos outros, que necessitados de sua guia nos aproximamos dele em algum momento. A ele devo meu reencontro com as Artes Marciais, quando delas me tinha a. Ele me proporcionou uma visão superior das mesmas, superior no sentido de ir mais além, de integrar, de superar as formas e entrar em suas mais profundas utilidades. Foi um reformador, um revolucionário, e pagou por seu pecado o preço que todos eles pagam. Seu livro “Artes Marciais, equilíbrio Corpo Mente”, deixou uma marca na minha visão deste assunto, e me permitiu anos depois, exercer com mais atino uma profissão à qual inesperadamente me vi comprometido e pela qual a maioria dos leitores me conhecem. Paniagua soube retirar-se no campo, na sua Valdepenhas natal, para gozar da vida na natureza, para ter um tempo de qualidade, mas não deixou por isso de continuar ajudando muita gente com as suas aulas. Partiu deste mundo rapidamente e em silêncio, sem alvoroço e consciente do trânsito. Não houve despedidas, talvez porque não existem, só há um trânsito, o resto é importância pessoal. Mas isso é a vida para todos e cada um de nós, milhões de detalhes, sentimentos, apegos, desejos e sonhos, envolvidos em circunstâncias que nos estimulam, provocam, confrontam e põem à prova. Vivemos nesse trânsito o que temos de viver, aquilo que forma parte do nosso caminho, e nesse lapso de tempo, em cada esquina do caminho, cumprimos de uma ou de outra maneira os

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desígnios do destino. A quinta-essência, o resultante, fica impregnado nos outros, em aquilo que encontramos, nos que tocamos, por vezes sem darmos por isso, ondas que provocam ondas de energia, de transformação e até consciência, ondas que mais tarde ou mais cedo voltam a nós após tocar os confins do infinito. Não, não é a mesma coisa viver uma vida de proa à consciência e a superação, que viver uma vida entregue à confusão e à apatia extrema. Por mais que ambas se misturem inequivocamente sempre em os milhares de ciclos, existe uma dominante, que nos leve para cima ou que nos afunde em baixo. Não há um valor moral em tudo isso! Muito gostaríamos que fosse assim tão fácil! Mas se uma existe diferença, muito mais inata que adquirida, talvez mais existe o estreito livre alvedrio no qual nos movemos, que marca profundas diferenças, enormes e à vez frágeis e finas como as asas de uma borboleta. No território das crenças, tudo vale. As crenças, como o papel, aguentam tudo. Se a consciência perdura, se a vida continua no mundo espiritual ou não, é coisa que cada um interpreta como quer e pode. A minha opinião a este respeito é bem conhecida, porque muito tenho escrito sobre ela, e desde essa certeza, eu te desejo irmão José Luís, querido Pani, uma boa travessia, muita luz e paz. Eu não sou juiz da tua vida, nem da vida de ninguém, em mim só resta a gratidão, o doce e suave encanto da gratidão, essa forma de amor pouco valorada… ¡que ela te acompanhe e reconforte. Obrigado!

Alfredo Tucci é Director Gerente de BUDO INTERNATIONAL PUBLISHING CO. e-mail: budo@budointernational.com

https://www.facebook.com/alfredo.tucci.5




Kapap “No último seminário, Carlos Newton, Ken Akiyama e eu, ensinamos que a acção é mais rápida que a reacção e como se pode utilizar a lei da gravidade e a massa do objecto (o peso) para ajudar a controlar o oponente”


Mixed Martial Arts A Consciência no Budo Conheci Carlos Newton quando tinha 17 anos. Logo percebi que tinha talento, mas para conseguir o que Carlos conseguiu, é necessário mais que talento. O seu êxito e habilidade são o resultado de árduo trabalho. O duro trabalho supera o talento, quando o talento não trabalha arduamente! Com os anos, Carlos e eu temos compartilhado amizades e juntos temos atravessado pontes. Faz já muito tempo, Carlos foi um dos poucos especialistas em Artes Marciais que teve o privilégio de poder instruir as Forças especiais de Israel, por mim convidado. Mais recentemente, senti-me honrado por poder completar um grande círculo, compartilhando conhecimentos e amizade com Nick, o filho de Carlos, um jovem de 17 anos. Durante os últimos anos, Carlos e eu temos trabalhado juntos em muitos projectos. Trabalhar com as tribos dos Cree e dos Inuit no Árctico, foi uma grande aventura. Uma estrada remota, de 500km, Por Avi Nardia and Ken Akiyama e Carlos Newton


Jiu Jitsu “A consciência é uma matéria primordial nas Artes Marciais. Procurando ganhar destreza nas Artes Marciais, primeiro se deve tomar consciência de si mesmo, de seus medos, de quem é, do que é e, acima de tudo, do que quer ser”


Mixed Martial Arts “O Jiu Jitsu trata acerca de compreender acções e reacções. Quando alguém pode predizer os efeitos e vulnerabilidades das suas acções, sempre pode interceptar as opções de seus oponentes antes de atacar. Quando se faz isto, o oponente fica muito frustrado”

leva à zona das tribos; um território isolado no círculo polar árctico, onde a temperatura chega a descer aos 45 graus negativos. O nosso projecto consta de ensinar Artes Marciais às tribos, para reforçar suas tradições culturais e seus valores. Carlos e eu temos ministrado seminários juntos e este ano produzimos um DVD com Ken Akiyama e a revista Budo International, acerca da “Consciência". A consciência é uma matéria primordial nas Artes Marciais. Para se poder alcançar destreza nas Artes Marciais, primeiro se deve ter consciência de si próprio, dos medos, de quem se é ou o que é, e acima de tudo, do que se quer ser. Só depois de se estudar a si próprio, se pode começar a estudar os outros e só depois de se conhecer a si mesmo, se podem conhecer os outros. Quanto mais se sabe da vida, mais se pode fazer nesta vida. Na estratégia das Artes Marciais, se é mais consciente do que está sucedendo em redor, o que aumenta a capacidade de aceitar e contra-atacar. É muito importante estudar a consciência, o facto de ser consciente permite-nos observar a primeira regra da defesa pessoal - a acção é sempre mais rápida que a reacção. Em aplicações militares e desportivas, entramos em desafios e inclusivamente procuramos o conflito. No entanto, na própria defesa procuramos evitar o conflito e escapar. Com frequência, a missão de uma unidade militar será procurar o inimigo e entrar em combate. No entanto, a ideia subjacente na auto-


Kapap “Só depois de se estudar a si próprio, se pode começar a estudar os outros e só depois de se conhecer a si mesmo, se podem conhecer os outros”


Mixed Martial Arts "Nas Artes Marciais, o Sensei Avi Nardia mostra magnificamente o nível de consciência que se pode alcançar através de cultivar de uma grande habilidade e técnica" Carlos Newton


“Um sistema de ensino baseado no suposto de que os estudantes não são capazes de pensar, é como dar vitaminas a um corpo morto”


Mixed Martial Arts


“No espírito da amplificação da consciência, também ensinamos acerca da importância de estudar os cenários, "o que aconteceria se", a concatenação de ataque, e as relações de causa e efeito”


Mixed Martial Arts defesa civil é evitar o conflito e escapar sem ser magoado. Há uma grande diferença e agora poderão perceber o motivo de que muitos professores que ensinam os sistemas militares, estão perdendo “o ponto” da auto-defesa. A aplicação do combate militar é completamente diferente do contexto da defesa própria. O trabalho policial é outro contexto que tem as suas próprias características únicas. Uma boa defesa pessoal requer de uma boa consciência e uma grande defesa pessoal requer de uma grande consciência. Um professor israelita desenhou o seu sistema para ensinar os seus alunos, em só 5 movimentos. A sua estratégia se baseia em uma táctica - se alguém se aproximar, pontapear nas virilhas. Este professor israelita narra um facto para apoiar a sua estratégia. Ele diz que um gato sempre trepa a uma árvore para escapar de algum perigo. Diz também que se aos estudantes se dão muitas ideias diferentes, não vão ser capazes de pensar estando stressados. Eu respondi rapidamente, com uma pergunta: "O que acontece si não houver árvores?" Alguns Mestres tratam de apoiar a sua teoria da simplificação com a pesquisa científica. Um experimento não relacionado com as Artes Marciais, mostrou que quando as pessoas têm muitas opções para escolher, necessitam de mais tempo para tomar uma decisão, porque estão procurando a melhor opção. Esta pesquisa é válida quando se trata de alguma coisa assim como escolher a comida em um restaurante, ou da selecção de uma peça de fruta madura. Um sistema de ensino baseado no suposto de que os estudantes não são capazes de pensar, parece ser semelhante a dar vitaminas a um corpo morto. Porquê ensinar às pessoas que não têm a capacidade de pensar? Eu sempre explico aos meus alunos que um piloto de Jet precisa calcular muitas coisas a alta velocidade. O piloto deve ser capaz de reagir rapidamente e com a consciência de muitas preocupações, mantendo o avião no ar. Este exemplo vem mostrar que os seres humanos têm a capacidade de tomar decisões sob pressão. Um dos segredos desta habilidade é cultivar uma mentalidade da acção, em vez da reacção. Como disse anteriormente, a melhor defesa é atacar primeiro. A lei nos Estados Unidos, permite a acção preventiva, no caso de se detectar uma ameaça imediata. Temos


Jiu Jitsu

“Um dos segredos desta habilidade é cultivar uma mentalidade da acção, em vez da reacção”


Mixed Martial Arts direito a lançar o primeiro ataque e ainda sermos protegidos com o direito à autodefesa. No último seminário, Carlos Newton, Ken Akiyama e eu, ensinamos que a acção é mais rápida que a reacção e como se pode utilizar a lei da gravidade e a massa do objecto (o peso) para ajudar-nos a controlar um oponente. Compartilhamos ideias do Aiki Jujutsu Kenpo e do Machado Jiu Jitsu e convidamos alguns assistentes a compartilharem as suas próprias ideias acerca da Luta Livre. Com o espírito da ampliação da consciência, também ensinamos acerca da importância de estudar os cenários, "o que aconteceria se…", a concatenação do ataque e as relações de causa e efeito. Ken Akiyama mostrou algumas ideias de um grande projecto no qual estamos trabalhando, compartilhando exercícios de movimentos muito eficazes para desenvolver a força e a relaxação. A capacidade de mover o corpo de uma maneira relaxada, é uma habilidade vital para o Brazilian Jiu Jitsu e a defesa pessoal. O Jiu Jitsu trata de como entender acções e reacções. Quando se pode predizer os efeitos e vulnerabilidades das acções, sempre se podem interceptar as opções dos oponentes, antes de atacar. Quando se faz isto, o oponente fica muito frustrado. Quando isto sucede, se pode destruir a capacidade de pensar do oponente. Quando o oponente não pode penar, é derrotado! Isto é o que provoca a grande estratégia do Jiujitsu. A estratégia é um estudo da acção, da reacção e da previsão. A estratégia requer consciência.



Com o meu estudante Misa Ortis, que é campeão de MMA de Puerto Rico e agora estuda comigo nos Estados Unidos. Tiramos umas fotografias com o Carlos Newton, o Ronin, campeão do UFC Pride e do Vale Tudo. Carlos Newton no campeonato de UFC. Ronin com meus alunos Misa Ortis, campeão de Boxe Tailandês e de MMA, e com Pablo Colón e Mike Wilson. Mike conta mais de 70 anos, começou a estudar comigo BJJ, Machado RCJ, com 63. Agora é faixa castanha e espera conseguir em breve o Cinturão Negro. Eu disse a ele e ao Carlos Newton, que são Campeões de Campeões para sempre! Eu próprio, Carlos Newton, Ronin e Misa Ortis, campeão de Boxe, Boxe Tailandês e MMA, e Pablo Colón. Todos se sentiam honrados por serem Mestres.


O Kyusho nos Katas Em primeiro lugar temos de compreender que os Katas, mesmo sendo muito bons, não são a melhor maneira de aprender Kyusho. Pessoalmente, desde 1975, não deixei de praticar os Katas nem um só dia. Suponho então que posso dizer que gosto. No entanto, não penso, que seja a forma correcta de aprender Kyusho. O Kyusho se aprende melhor (mais eficaz e completamente) por separado em combate espontâneo e depois, permitindo que o estilo ou Arte assimile o Kata, naturalmente..., não tratando de o situar no interior à força. O Karate tem as posições corporais mais intrigantes, incrustadas em suas formas ou katas, que constituem a biblioteca de cada estilo... e isso é o que tem fascinado milhões de profissionais de todo o mundo, ao longo da história. Cada posição está aberta à interpretação e tem um potencial infinito limitado apenas pelas capacidades mentais e físicas da pessoa. Muitos estilos têm o que se denomina Bunkai, ou interpretações - que são previamente conceituadas - e sequências de comandos na forma, no rendimento e na duplicação. No entanto, este potencial ilimitado está assim limitado pela interpretação, quando se estabelece na técnica específica que deve ser recordada e praticada de acordo com um ataque combinado e reagir em um determinado cenário. Em vez disto, pode ter ainda maior potencial se mudar ou adicionar constituintes diferentes das acções físicas estabelecidas, em r elação com as acções físicas de um oponente ou um parceiro de treino. Como limitamos a mente e portanto também limitamos as manifestações físicas em um único paradigma, nunca se pode desbloquear todo o potencial que é possível conseguir.


Kyusho ou Kata? A primeira pergunta que devemos fazer-nos é: o que foi primeiro... o Kyusho ou o Kata? As Formas ou Katas se desenvolveram em volta do conhecimento ou descoberta das estruturas anatómicas mais débeis, as funções e as possibilidades. Assim, os "Estilos" que se seguiram foram criados a partir desta base de conhecimentos. Aqui é onde a maioria da gente do Kyusho (até de um nível superior) se confunde. Tratar de transformar forçadamente um conhecimento universal e natural, em uma ferramenta feita pelo homem, não é método eficaz ou natural... Desenvolvendo a ferramenta, se mostram de maneira natural as leis, as estruturas e a capacidade física ou as limitações. Também é mais lógico entender que os objectivos (ou metas) devem ter chegado em primeiro lugar. Seguidamente, as armas e as acções para ter acesso a correcto a esses objectivos, foram preparadas mediante posições e padrões que depois foram vinculados às formas ou Kata. Quem gastaria seu valioso tempo de vida na criação de movimentos aleatórios do corpo, para depois passar mais desse tempo em descobrir o que se poderia fazer com eles? É muito mais natural e eficiente desenvolver um movimento para ter acesso, utilizar ou incentivar para chegar à meta. A maneira mais eficiente não é pôr Kyusho no Kata; o Kata deve de evoluir com a compreensão do Kyusho. Quando se realiza a acção, a posição específica ou uma série de movimentos e se trabalha para situar o Kyusho neles, então sim que vão a melhorar essas acções (em teoria, até que se aplica na realidade), mas assim, nos limitamos a essa realidade até que tiver inventado (ou mais alguém pensar em copiá-la) outra possibilidade. Outra maneira de ver isto é que se um instrutor ensina uma Bunkai, não nos apercebemos do seu potencial..., simplesmente imitamos as acções de outro, o que é uma receita certa para o fracasso sob o estresse de um ataque, posto que não é a tendência natural (física, mental ou espiritual). Quanto mais anti-natural e complicada seja uma acção para uma pessoa, mais probabilidades tem de falhar quando estressado, ou numa situação de combate real. Trabalhando um objectivo ou vários objectivos, trabalhando os ângulos correctos e a dinâmica através do treino espontâneo e orientado para o estresse, se está desenvolvendo uma singularidade de possibilidades infinitas. Assim, quando se faz o “nosso" Kata, seus métodos naturais, tendências e capacidades surgirão automaticamente como acções já realizadas e "sentidas". Este é um factor crucial no Kata, que muitos desconhecem. A maioria das pessoas realizam o Kata e tratam de inventar acções ou cenas para que seja verosímel e dar um sentido à acção que se pratica... Então, o instrutor obriga o estudante a recordar isto através de muita prática, de novo inculcando um aspecto estranho em seu caminho. Mas em troca, quando se treina correctamente o ataque a um objectivo e se aprende sob estresse, mediante ataque único ou múltiplo para chegar a esse objectivo, se nota o efeito que tem o ataque a esse objectivo e outra maneira de responder a um ataque que tem sido visto muitas vezes... Então, fazendo um Kata e esse movimento natural instintivo de resposta, se revive essa sensação ou experiência. O que faz que o Kata se tor ne realidade, inclusivamente em um ataque real, é a maneira em que se forjou... e não a memorização das acções de outra pessoa.

O que é simples gera o que é complexo, o complexo esconde o que é simples… A maioria das vezes, temos tendência a referir-nos só à parte externa de uma tarefa determinada, o desafio, as acções do rival, etc., e a passar por alto o que é interior, posto que o não vemos. Como exemplo, alguém nos lança um golpe, pontapé ou agarre... Vemos esta acção exterior e reagimos da mesma maneira (por regra geral, em relação aos atacantes, para o exterior de acção) o que nos limita. Este tipo de treino fará nos mantermos a um passo, dando o impulso e a vantagem ao agressor. Trabalhando só nesta maneira de reacção física, frequentemente estamos limitados pelo tamanho, a velocidade, a força, a idade e todos os outros atributos físicos..., o que limita todo o nosso potencial. No entanto, se em primeiro lugar treinarmos aspectos interiores através da experiência recolhida automaticamente em combate, podemos então ter uma gama mais ampla de possibilidades e potencialidades; inclusivamente de nos libertarmos das limitações físicas. Mantendo esta dinâmica interior de sentir a intenção, o objectivo ou a meta, cada posição ou acção no Kata terá um maior alcance, possibilidade e potencial e o Kata terá vida. Como neste exemplo - obsérvesse a posição do karateka acima - podemos apreciar muitas possibilidades físicas, tais como o bloqueio de um pontapé e soco, o agarre de uma perna, uma ruptura de pescoço ou mesmo o legendário método de puxar e agarrar a virilha. Tudo



“O Kyusho é a inibição de uma função fisiológica, se entendermos a fisiologia interna, a funcionalidade e a acessibilidade como uma série infinita de novas possibilidades a aproveitar e portanto, para aumentar o potencial de maneira exponencial, consoante os atributos inatos” dependerá do tamanho, força e capacidade de se posicionar durante o ataque, para conseguir superá-lo fisicamente. Também, tudo dependerá da maneira em que estiver treinado ou acondicionado a pensar desde esta posição, especialmente..., se treinar para repetir uma acção específica da posição e a transição. O Kyusho é a inibição de uma função fisiológica, se entendermos a fisiologia inter na, a funcionalidade e a acessibilidade como uma série infinita de novas possibilidades para aproveitar e portanto, para aumentar o potencial de m a n e i r a exponencial, consoante os atributos inatos. De maneira que o que isto nos diz é que em vez de pensar apenas na imitação da ideia de alguém do bunkai ou técnica de acções mecânicas, é necessário ter acesso ao órgão interno desde a primeira acção, respondendo com a inércia da acção de contra-ataque a cada uma das acções dos oponentes… e no processo do corpo, encontrar esta posição de maneira natural. Isto é possível treinando os objectivos, as ferramentas e trajectórias, em vez das acções específicas de cada posição.

Então, o que é o Kata? Conforme indica a Wikipedia: Kata (literalmente "forma") é uma palavra japonesa que descreve padrões detalhados de movimentos praticados, tanto seja a sós ou com parceiro. Cada um é um sistema de combate completo, com os movimentos e posições do Kata, sendo uma guia de referência para viver a forma correcta e a estrutura das técnicas que se utilizam dentro desse sistema. Os Katas de Karate são executados como uma série especificada de uma variedade de movimentos, com passos e rotações, para tentar manter a forma perfeita. Se aconselha ao praticante visualizar os ataques inimigos e suas respostas. O Karateka "lê" um Kata com a finalidade de explicar os acontecimentos imaginados. O kata não pretende ser uma descrição literal de uma luta fingida, mas uma amostra da transição e o fluir de uma posição para outra e de um movimento para outro,

ensinando a forma adequada e a posição aos estudantes e incentivando-os a visualizarem diferentes cenários para o uso de cada movimento e cada técnica. Há várias formas de Kata, cada uma com muitas variações menores. Se isso é tudo, é um processo muito ineficiente para reter e transmitir as técnicas, especialmente difícil através de múltiplas gerações. Mas pelo contrário, seria muito mais eficiente treinar só a técnica, posto que é repetitiva, e adicionar sistematicamente o estresse e o combate real (velocidade, potência e verdadeira intenção) como no Judo. Certo é que o Kata também se pode utilizar desta maneira, mas encarna muitos outros detalhes que são muito mais importantes e úteis em um verdadeiro confronto sob estresse e limitações físicas. No entanto, fazer a forma correcta não é o mesmo que viver essa forma... Não é em uma actuação onde se encontra o valor mais profundo, que consiste em viver e voltar a viver o Kata. Então, como se consegue "vivê-lo"? Em primeiro lugar, é preciso saber quais são os objectivos anatómicos mais débeis e naturalmente fáceis e aptos para ser atacados com os atributos e habilidades corporais de cada pessoa. Seguidamente, começar com a aplicação simples de assegurar-se ter a correcta dinâmica e os ângulos, com a intenção de alcançar o objectivo até estaticamente, tanto seja com o controlo, a dor, a disfunção ou o KO. Conseguindo isto, tem de se recordar a sensação não só da mão ou da cabeça dos oponentes, como também suas qualidades mentais, físicas e emocionais. Sentir como o corpo dos oponentes reage e observar como caem. Repetir isto tantas vezes como seja possível (quantas mais melhor, posto que assim se automatiza). Depois, tem de se começar a trabalhar de maneira dinâmica, para conseguir o objectivo, o efeito, a sensação e o aspecto emocional em um cenário de crescente estresse e agressividade. Talvez se pode fazer primeiro da maneira prevista, mas com o tempo, deve de ser realizado de maneira espontânea, para adquirir realmente a capacidade provada e verdadeira. Quando conseguido isto, sempre que se execute o Kata, se revivem (se sentem) essas experiências nos três níveis: mental, físico e espiritual. Isto é o que o Kata pode ser depois de treinado com fervor... Não é um grupo de técnicas de ajuste que dependem de um ataque, trata-se da necessidade urgente e espontânea de uma realidade. Não temos de nos obrigarmos a fazer o Kata (muito menos seguir o caminho de outros), o Kata serve só para recordar as experiências através da evocação mental, espiritual e inclusivamente física das próprias experiências. Nunca ponham o Kyusho no vosso estilo, ponham o vosso estilo no Kyusho. © Evan Pantazi 2014 www.kyusho.com





Na semana passada fiz um combate com um jovem lutador de MMA. Ele contava 23 anos de idade, media 1,90m, pesava 80 quilos e se preparava para a sua quarta luta como amador. Eu tenho 61 anos e 1,80m de altura, peso 90 quilos e o meu último combate Full Contact foi no ano 2000. Para que o jovem lutador estivesse perfeitamente treinado, o seu treinador contava com outro homem alternando comigo no ringue. Ele lutaria durante noventa segundos e depois seria a minha vez de lutar outros noventa segundos. Durante o decorrer do primeiro dos três assaltos, recebi uma forte pancada na sobrancelha direita (devido a eu ter descido o meu cotovelo um pouco, durante um segundo), e quando após o terceiro assalto, eu estava sentado no chão, (devo de confessar que estava sem fôlego…) o treinador reparou em um corte na minha sobrancelha direita, devido a eu não ter usado suficiente vaselina. Não foi um grande problema; de facto, no passado eu teria continuado, mas agora sou um pouco mais consciente do que habitualmente era… e dei a luta por concluída.


Um amigo do ginásio, que é médico, assistiu a tudo e me convidou a passar pelo seu consultório, para coser a brecha. Quando cheguei em casa e me lavei, a minha mulher tirou uma fotografia. Fui ao médico meu amigo, para que me limpasse a ferida adequadamente (isto é importante, porque há muitos micróbios desagradáveis à solta!). Levei cinco pontos de sutura. De entre as muitas coisas que o meu professor o Guro Dan Inosanto me tem dito nos últimos anos e que guardei comigo, uma delas é a seguinte: "É bom saber onde te encontras!" Uma das exigências na minha linha de trabalho é que as pessoas me

respeitem quando estou ensinando. É coisa que não posso evitar! Faço o mesmo quando estou do outro lado! de facto, seria um estorvo “provar” um Mestre quando estivesse ensinando! Mas, há um perigo nisto: é que facilmente podemos começar a tornarnos uma lenda para nós próprios e calcularmos mal as nossas próprias capacidades. Isto seria um grave erro na evolução darwiniana! Tenho entendido ter sido John Wayne quem disse: "A vida é dura, mas é ainda mais difícil quando somos estúpidos". De varias maneiras, faço todos os possíveis por evitar isto quando estou

ensinando ou treinando; por exemplo: a) Insisto em ataques honestos. Por exemplo, como muitos dos leitores sabem, em contraste com a maioria dos sistemas de FMA que interceptam, como resposta aos golpes que se ensinam, no DBMA, a menos que se especifique o contrário, o atacante deve seguir em frente com o seu movimento, à semelhança daquilo que mais provavelmente se faria numa luta a valer. Sem dúvida, a velocidade, a potência e a intensidade se destacarão de novo, em maior ou menor grau, dependendo do ponto em que nos treinos nos encontrarmos desenvolvendo a resposta, mas em todos os casos, o ataque deve ser dirigido para o objectivo de uma maneira natural.

b) Eu utilizo o que no DBMA denominamos "o método do metrónomo": velocidade constante e a mesma velocidade e com igual potência dos dois praticantes. “No entanto, não há substituto para a acção, para se saber onde está cada um”, são as palavras que o Guru nos dedicou, após deixar-nos de boca aberta, por ter passado quarenta e cinco minutos de duro Muay Thai batendo no saco sem parar e com os seus sessenta anos de idade... Portanto, para mim, a sessão de treino tem um valor incalculável para "saber onde estou", posto que todos os dias trato de seguir o caminho do guerreiro. Me esforço em não ser estúpido a este respeito. Não sinto vergonha em falar até


Eskrima limites onde não é aconselhável chegar. Por exemplo, antes de começar, pedi ao meu jovem oponente de MMA, que não me atacasse na parte baixa das costas. Assim sendo, quando ele me derribou, só agarrou uma parte dessa zona. Da mesma maneira, como a minha meia guarda não conseguia interceptá-lo, levou a minha cabeça até a vala. Se eu fosse um jovem lutador, teria tentado sair do problema à minha maneira, mas como sou um homem já de certa idade, com uma família para sustentar e dependo do funcionamento do meu corpo, não estava disposto a correr o risco de uma lesão de pescoço… Então, simplesmente pedi ajustarmos a nossa posição longe da vala. Uma parte importante da minha experiência como Dog Brother, é ter um

DBMA de "consistência em todas as categorias". O KT é diferente e necessita de uma busca contínua. Me fascina intensamente ver a profundidada que a Arte atinge e como é tão certa a sua “promessa” das mãos nuas, mãos que têm a mesma linguagem do movimento. Sob o meu ponto de vista, eu seria o mais adequado para trabalhar isto, excepto pela minha idade. Claro que gostaria ter trinta anos menos e entrar na jaula de verdade, mas para isso, terei de esperar uma outra vida. Ainda assim, neste momento que não só posso obter uma resposta honesta acerca de "onde estou", como também continuo sendo capaz de desenvolver KT, não só mediante as experiências dos meus alunos mas também

preparando a nossa adrenalina para agir contra uma pistola, uma faca e as mãos nuas. Assim sendo, "nos morremos menos frequentemente". Procuramos a vantagem de ter um sistema contra ataques com armas, contra mãos nuas e a mistura de ambos. Menos opções significa reacções mais rápidas e quando se trata do DLO, o facto de ter consistência em todas as categorias, significa um menor número de opções para cada vez, o que pode constituir a diferença entre viver ou não. Tenho a honra de trabalhar com pessoas que estão alinhados com as circunstâncias do DLO, ou seja “Die Less Often” (morrer com menos frequência). Eles são os protectores, coisa que, suspeito eu, cada um dos

sentido realista do que posso e não posso conseguir em tempo real. O meu tempo para a luta Full Contact parece ter passado, mas ainda sou o “Crafty Dog”.

mediante a minha própria experiência além da liberdade que vem da acção, também da acção vem a sapiência - e me torno um melhor Mestre e posso permanecer mais tempo sendo relevante. Lembrem-se também de que na lógica do DMBA, a nossa motivação para melhorar os resultados na jaula é só secundária. A nossa missão principal é o uso da jaula como um meio para experimentar e capacitar-nos,

leitores aspira a ser, quando vive a sua respectiva vida. Todos eles merecem que eu saiba o que ensino. Com certeza que também está a alegria interior que vem de deixar de ser competitivo. Como diz a canção country: "Posso não ser tão jovem como dantes, mas sou tão jovem agora como sempre tenho sido".

Há um capítulo adicional nesta pequena história Neste caso em especial, eu estava trabalhando Kali Tudo™, o subsistema que tenho vindo desenvolvendo desde faz vários anos, como parte do conceito

Adiante, a aventura continua! Guro Crafty/Marc










Karate Texto e Fotos: Salvador Herraiz, 7º Dan

O RELACIONAMENTO MESTRE E ALUNO NO KARATE Sem dúvida é muito bonito dedicar-se em corpo e alma à prática e ensino do Karate. Com os anos, com muitos anos, podemos chegar a nos tornarmos um Mestre. Mas o significado desta palavra, que frequentemente se utiliza à ligeira, contem e deve de conter determinadas características para se ser considerado como tal. Salvador Herraiz, que se caracteriza por explicar as coisas sem pelos na língua, desde o respeito e o conhecimento mais profundo do Karate, ao qual se entregou em corpo e alma, faz hoje uma reflexão sobre este assunto e sobre a relação Mestre-Aluno, que por vezes se torna difícil por um mal entendimento da Filosofia e o Espírito do Karate.

Questão de Disciplina… e Confiança Nos nossos dias, nas Artes Marciais se abusa da palavra Mestre (Sensei). Para uns, Mestre é quem tem grande conhecimento e habilidade técnica e também a capacidade de transmissão. Para outros, é simplesmente quem tem alunos (que por outra parte motivos há-de haver para os ter). Lembro-me que dirigindo-me aos “old boys” de Keio (com idades acima dos 80 anos e uma vida inteira no Karate) eu sempre os chamava “Sensei” e aqueles que não davam aulas, sempre me replicavam: “Não sou um Sensei. Eu não ensino alunos”. Talvez o mais sensato e certo seja pensar que um mestre é aquele que junta ambas coisas: alguém com conhecimentos, habilidades, capacidade de transmissão… e alunos. Mestre, o que entendemos como Mestre é muito e mais ainda que Sensei, pois necessariamente deve incluir características relativas aos valores japoneses. Passemos agora ao que pensamos acerca deste assunto. Comecemos pelo ambiente. O Mestre, como deve de ser, está no seu lugar e o seu lugar não é o ginásio, é o Dojo. Há uma grande diferença. É óbvio que o lugar não importa, mas também é bem certo que o ambiente em que se desenvolve uma actividade, influi decisivamente na atitude do


Pensamentos praticante e em seu aproveitamento. Todos conhecemos importantes Mestres nada suspeitos de não transitarem por um caminho que não seja tradicional, que dão aulas em pavilhões desportivos ou salas em que habitualmente se praticam outras actividades, mas o certo é que de um ponto de vista de um Karate tradicional,

grande influência no tem desenvolvimento do mesmo, o lugar e ambiente em que se encontrar o aluno. Por isso pode observar-se nos dojos de Karate no Japão e Okinawa (e apesar de estarmos no Século XXI, tanto lá como cá) que se trata de tradicionais lugares, onde o espírito do Karate aflora mais facilmente.

As diferenças específicas que se podem apreciar entre um dojo (onde desenvolver positivamente um espírito de Karate, junto com a sua tradicional prática) e um ginásio (onde cultivar e desenvolver outro género de atitudes nos alunos) são bastante evidentes. Vemos um ginásio moderno, com mármore, alumínio, vidros e outros materiais. Um

Salvador Herraiz e o Mestre Goshi Yamaguchi, no santuário Shintoista Igusa Hachimangu, em Tóquio.


Karate dojo vemos que é tradicional, com madeira e pouco mais. O ginásio dispõe de amplos vestiários, armários e estantes, recepção de visitas, etc…, enquanto que num dojo não se dá importância a tudo isso e no Japão, salvo excepções, carecem até de vestuários (e certamente de chuveiros), passando-se directamente da rua… para tatame. O ginásio conta com pessoal que lá trabalha, enquanto que o dojo é atendido por seu Mestre de uma maneira mais familiar. Um ginásio se enfeita com grandes e espectaculares fotografias, um dojo pendura em suas paredes recordações de mestres e titulações, que animam e motivam o praticante. O ginásio faz a sua publicidade geralmente em base às boas instalações, enquanto que a única publicidade do dojo é por transmissão oral dos praticantes a amigos e familiares, falando das bondades do seu ensino. Trata-se não só de fazer uma coisa como do prazer de a fazer de determinada maneira. O mesmo acontece, por exemplo, com o treino físico tradicional utilizando os velhos instrumentos okinawenses. De certeza os modernos sistemas de treino, máquinas que isolam determinados músculos, etc…, oferecem uma efectividade enorme, mas… quando se pratica com os velhos instrumentos tradicionais, não se procura só efectividade mas também

O autor, Salvador Herraiz, com Mamoru e Masahiro Nakamoto, um de cada lado, no Shikina Enn de Naha (Okinawa).


Pensamentos “Em Karate, por sua filosofia e história, não se deveria questionar nenhuma decisão do Sensei. Assim então, porquê perguntar? A resposta chegará em seu momento e a quem tiver de chegar” o prazer de o fazer com esses meios. Há qualquer coisa de romântico nisso…, como também há na prática do Karate em geral.

Já falamos do espaço, do lugar de encontro, passemos agora a ver a relação Mestre-Aluno no dojo… e fora dele, posto que ambos papeis estão perfeitamente delimitados e não se devem confundir os seus comportamentos. O Karate é japonês e no Japão não se questiona, só se acata. Se aprende e se pratica. Mais nada. Os ocidentais querem, queremos, faze-lo à nossa maneira, perguntando em excesso (em vez de deixar que o tempo nos faça compreender). No Karate, por sua filosofia e história, não se deveria questionar nenhuma decisão do sensei. Assim então, porquê perguntar? A resposta chegará em seu momento e a quem tiver de chegar. Os exames de grau, por exemplo, são um assunto sobre o qual devemos pensar longa e profundamente, principalmente acerca da maneira de aceitar seus resultados, especialmente quando são negativos. O Mestre Yamazaki me contava que passou muitos anos sem saber o motivo de não ser aprovado para 1ºDan. Nunca perguntou nem lhe explicaram o motivo. Essa é a atitude. Trinta anos mais tarde veio a saber e tinha sido pelo excesso de confiança! O mestre Hironori Ohtsuka sempre fala do excesso de confiança como um dos males do Budo, junto com o desprezo, a côlera, temor, etc… Aqueles eram tempos em que os exames não tinham data estabelecida, pelo que não se podiam preparar especificamente durante os meses anteriores. Só se conhecia a data dois dias antes. Isso obrigava a estar sempre preparado, o que o faz ser mais realista. Quando o excesso de benevolência entra no tatame de um exame de grau, a justiça sai dele. Há muitos factores a ter em consideração em um exame justo (incluindo os conhecimentos, as habilidades, a técnica do estilo, a eficácia, as características físicas e situações pessoais, etc…), tudo o qual é o Sensei quem está em disposição de avaliar em su justa medida. A benevolência é uma das qualidades do Código do Bushido, mas se o Sensei caísse em um excesso da mesma, por amizade, por pena, por excesso de camaradagem, etc…, a Justiça (outra das normas do Bushido) desapareceria. Tudo na sua justa medida, como tudo na vida e no Karate. Qualquer comida pode ir “por água abaixo” tanto por excesso como por defeito de qualquer dos seus ingredientes. Só o Sensei está capacitado para pôr em sua justa medida o grau de benevolência que honre a justiça. Isto pode chegar a perceber-se e aceitar-se por parte do aluno, mas por vezes sacrificando um tempo precioso, perdido na incompreensão e em ver fantasmas ou motivos inexistentes. Partindo da premissa de que o Sensei sabe mais que o aluno, acerca do que se deve ter em consideração em um exame e do que não, e se supostamente o Sensei não tem nada em contra do aluno aspirante, mas sim tudo pelo contrário…, por que não aceitar sua decisão ou conselho, sem discussão, imaginação, contraposição, ou aquecimento cerebral em geral? Sem se dar ao luxo de pensar de maneira diferente daquele que de verdade sabe! O certo é que tanto mestre como aluno devem de saber qual é o seu lugar. O aluno, para se tornar discípulo Uchi Deshi (alguém especial a quem transmitir o mais profundo da arte), tem de trabalhar sem dar nas vistas e não ter nenhum desejo de protagonismo, entrar em conversas que não tenham a ver com ele, relacionamentos que não lhe pertençam ou conversas às quais não tenha sido convidado… Cada um deve ser ciente dos seus limites e do seu lugar. Sempre se disse que “quem fala não sabe e quem que sabe não fala”, o que nos leva sermos discretos de palavras e feitos, deixando em evidência ao que se espraia em excesso, ou sem sentido e fora de lugar. Por outra parte, devíamos de agradecer que os verdadeiros versados em qualquer matéria compartilhem com os outros seus conhecimentos e reflexões, do contrário, esses conhecimentos iriam


Karate perdendo-se, o que sem dúvida seria negativo e indesejável. A minha mãe sempre me repetia a frase “quem mais souber…, mais diga”. Alguém sem maturidade, acostuma a se enganar. Cada um é livre, com certeza, mas perante a liberdade de pensamento…, está o risco de se enganar. Temos de recordar sempre que o Sensei já passou por esse pensamento, pela auto segurança, pela convicção que erroneamente acostuma ter o aluno. Há quem diga que as pessoas inteligentes aprendem dos seus próprios erros, mas

O autor nas dunas de Com Com (Chile).

o mais prático é o que fazem as pessoas superiores e sábias, “aprender dos erros dos outros, em vez de aprender dos seus. Quem não aproveita esses erros alheios, está condenado a repeti-los, assim como quem não conhece o seu passado também está condenado a revive-lo. O perigo radica em que o homem pode tropeçar duas vezes na mesma pedra e se teimar…, três e mais. Tem de ter a humildade de reconhecer a quem sabe. O Sensei já conhece o seu corpo, sua mente e seu espírito, após muitos anos de prática e estudo. O aluno…, está


Pensamentos tentando isso. Uma mente dispersa, que não se concentra ou que quer ocupar-se em varias coisas diferentes, não pode obter resultados e tem tendência a misturar, a confundir e a confundir-se, a não assimilar bem a informação e a prática. Higa Sensei dizia: “Se corres atrás de uma lebre, talvez consigas apanhá-la, mas se correres atrás de duas lebres…, não vais apanhar nenhuma delas”. O assunto ainda se agrava mais quando os diferentes caminhos são técnica ou espiritualmente diferentes, pois de certeza um irá interferir na evolução do outro.

É difícil para um aluno ansioso de destacar, poder pôr freio no seu ímpeto avançando neste Caminho do Karate, mas deve de o fazer. Quando se está preparado se compreendem melhor as coisas. De qualquer maneira, por muitas explicações que se possam dar em determinados momentos, se o nosso corpo, a nossa mente ou o nosso espírito não estiverem preparados para compreender…, não o farão. Há gente que quanta mais informação lhes é proporcionada: dados, explicações, motivos…, menos compreendem e ainda perguntam “Porquê“?, ou mesmo se atrevem a não estarem de acordo por não perceber… Alguns se tornaram verdadeiros “surdos intelectuais”, outro efeito da dispersão… O Mestre pode pôr da sua parte para a correcta transmissão, mas se o aluno não segue os seus conselhos e pensa saber mais ou compreender melhor…, tudo será em vão e vai cair em saco roto. Ah, as pressas! Não há atalhos no Karate e quem os procurar, mais tarde ou mais cedo, em alguma curva vai sair do caminho... Também de nada servem gestos vazios de aparente entendimento, se as acções não são consequentes. A paciência de um sensei não é infinita e logicamente, a sua entrega pode passar a concentrar-se em outros alunos mais dispostos a seguirem as suas ensinanças com as suas normas, como de facto historicamente tem acontecido durante anos e anos, em qualquer lugar e âmbito. O Sensei procura o anteriormente dito Uchi Deshi, o aluno interno. O tempo e o grau de algum dos seus alunos mais veteranos, fará dele um Sempai, mas outra coisa diferente é o Kohai, o futuro, a promessa, alguém em quem o Mestre deposita as suas esperanças para o futuro. Outra coisa diferente, em algumas ocasiones coincidente, são os pioneiros, alguns dos quais têm podido chegar depois a ser verdadeiros Mestres. Os pioneiros merecem respeito e reconhecimento por em o caminho, por serem alguma maneira visionários de algo transcendente. Mas quando os pioneiros não continuaram depois evoluindo no dito caminho e na sua prática (maior ou menor), acredito não ser justo que mereçam ser o centro dele. Ter sido os primeiros é importante mas não suficiente para serem considerados “Mestres”. Ter percorrido uma pequena parte do caminho, mesmo que tenha sido em tempos remotos, não pode compararse a o ter feito muito mais trecho, mesmo que seja em tempos ulteriores. Outro caso a mencionar é o dos “filhos de…”. Por vezes se são impostas pessoas à frente de organizações ou estilos aproveitando a grande importância de seu pai (Grão Mestre ou Fundador), mas em justiça e realidade sem terem suficiente conhecimento, habilidades…, ou seja, merecimento. O talento não se herda por si só. De certeza todos teremos agora no nosso pensamento, algum nome em especial. Se em vez de “filhos de” falarmos de “netos de”, o assunto pode diluir-se ainda mais. Os meus maiores respeitos, não obstante, às excepções que além de herdar um


Karate nome e uma posição… se fizeram merecedores. Aos outros…, também o meu respeito…, mas de maneira diferente. Afinal, se o Karate se entende, tanto em sua técnica, história, filosofia e objectivos…, resumindo, em seu Espírito, como algo de grande valor, um tesoiro que transmitir só a uns alunos merecedores (e privilegiados), a relação MestreAluno se torna, realmente, uma relação de Confiança (pois não se oferece um tesoiro a qualquer um) e como tal, qualquer questionamento quebra essa relação de confiança. Honestamente acredito que um Mestre como tal, com sua já necessária certa idade, com um grau importante, com uma bagagem de certo conhecimento, de contribuições de muitos grandes mestres conhecidos, com claridade de ideias, com uma atitude consoante com esses pensamentos gerados através de tantos e intensos anos…, teria que dar muitas explicações acerca das formas do Karate? Realmente acredito que a estas alturas…, não! Quem voluntariamente queira percorrer o Caminho a seu lado, terá de ser, logicamente, à sua maneira, à maneira do Karate Do, acatando e não questionando. Sempre se tem dito que o Karate é disciplina. Não se refere só como meio para obter eficácia técnica, que também, mas como a linha de relação do aluno com o Mestre. Resumindo, acredito que DISCIPLINA, ATITUDE e CONFIANÇA são as colunas de base da dita relação. O questionamento e a dispersão são, frente a elas, sua carcoma. Outro gesto vazio muito habitual é a saudação (teoricamente símbolo de respeito e reconhecimento) e a expressão Oss, que para além de maior ou menor costume de utilização, dependendo dos diferentes estilos (por exemplo, no Wado Ryu não existe tradicionalmente grande costume), está habitualmente mal utilizada no Karate por esse conteúdo vazio. Por não falar de outras confusões em sua utilização. Efectivamente, este termo, exportado ao Karate desde a Escola Naval Japonesa, é utilizado como uma saudação geral entre karatekas (tipo olá!, adeus!). De

momento, isto é já um erro. Esta expressão, que vem das palavras Osu (contracção de Osae) e Shinobu, deveria utilizar-se no Karate só em momentos e situações em que tenha de mostrar um compromisso de perseverar até os limites pessoais com paciência, com verdadeiro respeito e apreço pelo Mestre, aceitando as suas correcções, os seus conselhos… e mostrando também esta expressão, se necessário fosse, como uma desculpa que invoca inclusivamente pedir perdão por algum erro cometido, entendendo-o e aceitando-o. É isto o que significa Oss e se alegremente se utiliza para tudo…, seu conteúdo fica desvirtuado. A disciplina é a base do espírito do Karate. Não digo que se tenham de manter as duas famosas normas de antigamente, cuja primeira era “O chefe (neste caso o Sensei) sempre tem razão” e a segunda “Em caso de a não ter aplicar-se-á a primeira norma”. Conforme parecem irem os rumos da vida, do ponto de vista do espírito e a filosofia do Karate, um Mestre, em muitas, em demasiadas ocasiões vêse obrigado a suportar os deslizes de alguns alunos que se pensam mais espertos que ninguém e que não percebem que só acatar as normas ou decisões com as que se está de acordo, não é mérito nenhum. Isso é fácil! Onde se demonstra a disciplina e a lealdade é acatando e apoiando as outras… Mestre é alguém com quem vale a pena percorrer o caminho a seu lado, aprendendo das suas ensinanças. Mas no entanto, um amigo espanhol, 9ºDan de Karate, me disse: “Não me chames Mestre. Mestre tivemos um e o crucificamos”. PAGINA DA ESQUERDA: Salvador Herraiz e Hirokazu Kanazawa, no dojo deste Grão Mestre, em Tóquio. PAGINA DA DIREITA: Acima, com o Mestre Tetsuhiro Hokama praticando em antigos túmulos okinawenses, tradicionais lugares onde antigamente se fazia em segredo. Em baixo, o Mestre Morio Higaonna e S. Herraiz, no dojo do Mestre, em Naha.






Esta é uma sequência de batimentos de mãos e pernas, útil para apresentar ao estudante uma longa e complexa forma de Hwa Rang Do Open com mãos nuas. PASO #1 • Se situa em posição de guarda defensiva. PASO #2 • Se situa na posición do gato e cruza as mãos por diante da perna adiantada. PASO #3 • Move as mãos cruzadas de baixo para cima, interceptando um ataque de punho frontal com os antebraços.

PASO #4 • Move as mão para um lado e bate com a técnica de dupla palma nas costelas do oponente. PASO #5 • Agarra a orelha do oponente e puxa a sua cabeça. PASO #6 • Bate no queixo do oponente com uma técnica de uppercut de palma. PASO #7 • Bate na cara do oponente com a mão como se fosse uma faca. PASO #8 • Lança um golpe vertical ao plexo solar do oponente. PASO #9 • Dá um passo para a esquerda e faz um bloqueio alto com a direita. PASO #10 • Realiza um pontapé de machado para finalizar a sequência.










O termo "Defesa Pessoal" comporta um aspecto negativo. que desde o princípio pode implicar fracasso para o indivíduo. O problema é que este rótulo já reflecte mentalmente que a pessoa é vítima de um acto violento ou agressão e que o praticante deve realizar uma acção defensiva. Esta premissa de agir após os factos, é a razão pela qual a maioria das pessoas sucumbem às acções do agressor e nunca se recuperam totalmente do ataque inicial ou do medo que provoca a situação. A mulher não deve situar-se à defensiva; deve ser consciente da sua situação e não desestimar ou ignorar possíveis ameaças. Ela deve ser pro-activa e ter a iniciativa e o ímpeto, forçando a confusão na mentalidade do atacante, para ter uma possibilidade de vantagem. “Autoprotecção Kyusho” é um processo de treino vital que trata das realidades de um ataque. É um simples mas poderoso processo de treino, que oferece aos indivíduos mais débeis, mais lentos, com mais idade ou menos agressivos, uma oportunidade contra o de maior tamanho, mais forte ou mais agressivo atacante. Mediante o uso dos objectivos anatómicos mais débeis do corpo, conjuntamente com as próprias acções e tendências naturais do corpo, se pode proteger facilmente a si mesma ou a outros, inclusivamente sob as limitações de estresse e físicas, quando a sua adrenalina aumenta. Mediante um trabalho progressivo com as suas próprias habilidades motoras grossas (em vez das técnicas de outros), as suas possibilidades de vitória são eminentes.


REF.: • KYUSHO-21


Kenjutsu - A distância interna e externa!... Várias são as pessoas que nos dizem ter sonhado com espadas, armas medievais, e de uma forma ou de outra, buscam uma explicação. A espada sempre foi um objecto mítico e místico no universo masculino. A palavra espada é oriunda do Latim spatha < Gr. Spáthe s. f., arma composta de punho, copo e uma folha de aço mais ou menos comprida e pontiaguda. Se olharmos pelo viés do militarismo, todos possuímos o lado corajoso que nos impulsiona a lutar pelos nossos objectivos. Todavia, o homem que carregava as espadas no Japão tinha como definição “aquele que serve” - Samurai. Isso significa que o primeiro passo no aprendizado do Kenjutsu é servir, resolver esta distância que estabelecemos entre o orgulho e a humildade. O acto de aprender é totalmente desprovido de orgulho ou arrogância. Para o caminho da espada significa rendição, significa controle das distâncias externas e internas. Muitos acreditam que existem apenas “Ma-ai” externos diante do oponente. Contrariamente a isso, o Ma-ai se inicia em nosso interior e se manifesta de maneira externa. “Se acalmar a mente detendo seu movimento, essa quietude fará movê-la ainda mais”. Podemos dizer analogamente que nosso interior é como se fosse uma grande montanha. Para o zen, no capítulo 62 do Shôbôgenzô de Dôgen Zenji (1200-1253), a montanha tem uma virtude a que nada falta, ela é absoluta em si mesma: por isto mesmo, apesar dela estar firmemente estabelecida no solo, está contudo sempre se movendo. A mente interior diante da espada é consciente de sua movimentação. O Ma-ai é capaz de estabelecer a eternidade do momento em um único movimento. Este "movimento" a que se referia Dokai, é a essência de todo movimento. Contudo, quem está na montanha não tem consciência deste movimento. Aqueles que não são capazes de ver esta montanha pelo menos uma vez, não podem compreender, ver ou ouvir este tipo de coisa, devido a este princípio. O Kenjutsu é a experimentação, a doação, a rendição, um único momento! A via de acesso e saída de nossa mente interior. Em um confronto verdadeiro não há tempo, não existem verdades nem mentiras, tudo é muito rápido. Existem apenas as distâncias internas e externas. A sabedoria de atrair e afastar as manifestações do dojo em constante movimentação. Neste raciocínio, é explícito no caminho do Kenjutsu que toda experiência nova é desafio, caracterizado por dificuldades, superáveis, que mais despertam os valores morais de quem a deseja vivenciar. No que diz respeito àquelas de complexidade profunda, quais as de transformação do


Bugei


homem velho em um novo ser, os patamares a conquistar são múltiplos, revestidos de compreensíveis impedimentos. Alguns mestres e professores de escolas tradicionais têm entrado em contacto e juntos temos chegado à interessantes conclusões. Conservar algo em pleno século XXI não é tarefa fácil, nem tão pouco barata. Conservar significa manter a forma como é, ainda que existam sequências ultrapassadas e irreais para os tempos de hoje. Muitos se dizem tradicionais e quando percebemos a síntese técnica, encontramos fragmentos disso, daquilo, e logo, intensas justificativas para tal. A palavra conservação, de acordo com o dicionário, é derivação fem. sing. de conservar. Conservação s. f., acção de conservar. Para nós, conservar significa conservar até a forma de pensamento na aplicação de cada Seiteigata. Obviamente que todos nos preocupamos em evoluir interiormente e através do pensamento buscarmos a perfeição de cada dia. Porém, estamos falando de herança marcial. Significa que se colocarmos dentro do ponto de vista histórico, deve ser como é. Dentro da visão apenas da arte marcial, cada um é livre para praticar e realizar as técnicas como achar conveniente. Através da História, o homem oriental, em nosso caso referencial, japonês percebendo que sua vida é breve, acidentada, sujeita ao sofrimento e à morte certa, sempre formulou a ideia chamada "Bujutsu" - artes de guerra (específica, pois o termo aplicado ao caractere “Jutsu” se refere à uma arte específica e não abrangente). Reconhecendo - como também hoje reconhecemos - que a vida é transitória, desejou experimentar alguma coisa de imenso e de supremo, coisa não criada pela mente ou pelo sentimento; desejou a experiência ou descobrir o caminho de um mundo transcendental, inteiramente diferente deste, com suas aflições e torturas. As artes marciais foram influenciadas pelas crenças da época de cada país. No caso do Japão, as maiores influencias foram o Shintoísmo, Budismo e Confucionismo. Nutriu a esperança de descobrir esse mundo transcendental pelo buscar e sondar. Cumpre-nos examinar esta questão, a fim de descobrirmos se existe, ou não, uma realidade (cujo nome não importa) de dimensão inteiramente diferente. Para penetrarmos tão fundo, devemos naturalmente perceber não ser suficiente compreender apenas no nível verbal - porquanto a descrição jamais é a coisa descrita, a palavra nunca é a coisa. Pode-se penetrar esse mistério, se é um mistério isso que o homem sempre tentou penetrar ou prender, chamando-o, a ele se


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apegando, adorando-o, por ele se fanatizando. Entretanto, este não é o ponto desejado, nem tão pouco enaltecido neste texto. As artes de guerra tiveram sua ascensão no período Sengoku e seus reflexos podem ser vistos ainda nos dias de hoje. Sendo a vida nesta época - bastante superficial, vazia, cheia de enganos e sem muita expressão - impulsionou a guerra entre as verdades, cada escola ou clã tratou de inventar, de lhe dar um significado. Se o indivíduo que inventa tal significação e finalidade é dotado de certo talento, sua invenção se torna uma coisa bastante complexa, haja vista que muitas artes sofreram uma reformulação no período Tokugawa. É este o ponto em que quero chegar: tudo está certo desde que esteja perfeitamente em ordem em seu interior. Cada qual sabe a sua necessidade. Cada qual sustenta a verdade que lhe é conveniente. Contudo, há de se entender que conservar está além do que é ou não perfeito. Como tudo na vida, dependemos de um tempo até que a nossa mente se adapte e descubra se estamos ou não no caminho correcto. Muitos mestres só tiveram a certeza de seus caminhos depois que se tornaram professores. É natural e normal que cada um possua seu ritmo próprio de evolução. Isso significa que em determinadas pessoas o sentimento é construído com esmero e atenção. Uma coisa de cada vez! Em princípio lidamos com a dúvida, o preconceito, a negação... Entretanto, para os que persistem, de ensinamento a ensinamento e de bênção a bênção, sem percebermos o mecanismo de semelhante metamorfose, o coração se nos transforma, se lhe aceitamos, em verdade, a liderança e a tutela. Sombras de mágoas, preconceitos, ressentimentos, pontos de vistas e opiniões descabidas vão cedendo lugar na floresta dos nossos pensamentos obscuros, a clareiras de luz que acabam por mostrar-nos a infantilidade e a inconveniência das nossas atitudes menos felizes, à frente do caminho. Este processo no passado era chamado “Nagai” - Comprido. O extenso caminho que nos leva à compreensão. Para os mestres, é através deste método que o discípulo, no centro da agitada esgrima, se vê na obrigação de manejar as armas do próprio discernimento, para que os adversários externos não lhes destruam as forças. É no próprio caminho escolhido que ele encontra aqueles outros inimigos, talvez ainda mais perigosos - aqueles que se te ocultam no espírito, quais sejam o medo de aceitar-se com as imperfeições que ainda lhe assinalam a vida, o desalento perante as dificuldades que se desdobram, a noção das próprias deficiências ou o temor do fracasso. Descobrir as próprias forças e onde encontrá-las é o ponto de encontro consigo mesmo. É um caminho solitário, mas essencial, cuja consequência é a alteração


Bugei


completa da forma como vemos e entendemos a arte, o entorno, as pessoas, e a nós mesmos. O que nos faz lembrar de uma pequenina história que é pertinente para um ponto de partida:

Acreditar e agir (autoria desconhecida) Um viajante caminhava pelas margens de um grande lago de águas cristalinas e imaginava uma forma de chegar até o outro lado, onde era seu destino. Suspirou profundamente, enquanto tentava fixar o olhar no horizonte. A voz de um homem de cabelos brancos quebrou o silêncio momentâneo, oferecendo-se para transportá-lo. Era um barqueiro. O pequeno barco envelhecido, no qual a travessia seria realizada, era provido de dois remos de madeira de carvalho. O viajante olhou detidamente e percebeu o que pareciam ser letras em cada remo. Ao colocar os pés empoeirados dentro do barco, observou que eram mesmo duas palavras. Num dos remos estava entalhada a palavra acreditar e no outro agir. Não podendo conter a curiosidade, perguntou a razão daqueles nomes originais dados aos remos. O barqueiro pegou o remo, no qual estava escrito acreditar, e remou com toda força. O barco, então, começou a dar voltas sem sair do lugar em que estava. Em seguida, pegou o remo em que estava escrito agir e remou com todo vigor. Novamente o barco girou em sentido oposto, sem ir adiante. Finalmente, o velho barqueiro, segurando os dois remos, movimentou-os ao mesmo tempo e o barco, impulsionado por ambos os lados, navegou através das águas do lago, chegando calmamente à outra margem. Então o barqueiro disse ao viajante: - Este barco pode ser chamado de autoconfiança. E a margem é a meta que desejamos atingir. Para que o barco da autoconfiança navegue seguro e alcance a meta pretendida, é preciso que utilizemos os dois remos ao mesmo tempo e com a mesma intensidade: agir e acreditar. E você? Está remando com firmeza para atingir a meta a que se propôs? E, antes de movimentar o barco, verifique se os remos não estão corroídos pelo ácido do egoísmo. Depois de tomar todas essas precauções, siga em frente e boa viagem.









REF.: • KMRED 1

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Entrevista https://www.facebook.com/pages/TL-Security-Solutions/805843832765631


Entrevista por Thomas Lynch Fotos cortesia de Don Warrener T.L. Security Solutions Cinturão Negro.: O que era que nas Artes Marciais te atraía quando começaste a treinar? Thomas Lynch: Acredites ou não, o negócio do cinema. Lembro-me que o meu pai passava todos os dias no videoclube, a caminho de casa, quando voltava do trabalho. Alugava regularmente filmes de acção de Hollywood e de Hong Kong, que nos encantavam e como só existia um aparelho de televisão lá em casa, tínhamos de escolher ver os filmes com ele ou ir estudar. Naturalmente que os filhos escolhíamos a primeira opção! Quando o pai chegava em casa, o meu irmão e eu já não podíamos ver os desenhos animados e assistíamos a uma noite de cinema... Bem, uma noite e todas as noites! Rapidamente, isto tornou-se um imenso gosto pelo cinema e pelas Artes Marciais. À semelhança de qualquer criança em idade escolar, o meu irmão e eu imitávamos as cenas de luta entre nós. Foi então, que descobri que gostaria de ser uma estrela do cinema de acção de Hollywood. A resposta do meu pai foi: "Não! Tu precisas ter um bom emprego! Ser médico, advogado ou engenheiro!". Sendo eu o filho mais velho, pensei que estava obrigado a isso. C.N: O que aconteceu quando o pai soube que andavas a estudar Keishinkan? T.L.: Quando eu disse aos pais que queria aprender Artes Marciais, a resposta foi "não!". Alguns momentos passados, inquiriram o motivo... Eu respondi que podia ser uma estrela do


MA Films cinema de acção. Mais uma vez responderam NÃO! Ainda hoje, "NÃO" continua a ser uma das suas palavras favoritas! Passados alguns dias, o assunto surgiria de novo e assim se repetia quase constantemente. Finalmente, o meu pai me disse que se realmente queria aprender Artes Marciais, podia faze-lo, mas que teria de pagar esse ensino eu próprio. Aproveitei o ensejo e rapidamente me inscrevi no Keishinkan Karate. Quando o meu pai soube disto, ele me disse: “Se alguma vez te lesionares no treino, não quero nem saber…" Ele me

avisou que em caso de lesão, seria eu a pagar todas as despesas médicas. Como o Japão tem um bom Sistema Nacional de Saúde, no caso de sofrer uma lesão, no pior dos caso pagaria uns 5 dólares. C.N: Qual a Arte Marcial que mais gostas de treinar e quis os motivos de assim ser? T.L.: Na verdade eu não posso escolher só uma. Gosto imenso do Shaolin Kung Fu do Norte, devido à variedade de coisas que fazemos nas aulas e no treino, como as posições profundas, armas e as formas muito compridas e difíceis. Também gosto do Keishinkan Karate, devido ao combate de contacto total, o que nos permite pormos as técnicas à prova sob pressão, como assim também a resistência e as habilidades. Mas se tiver de escolher uma em especial, diria que do que mais gosto é das "posições profundas" no Kung Fu. O motivo é que para mim, as posições profundas são esgotantes e requerem de toda a minha atenção. São formidáveis e em geral são uma magnífica maneira de restabelecer as minhas bases nas Artes Marciais..., especialmente quando o meu horário me impede dedicar duas horas a treinar. C.N: Se pudesses fazer tudo de novo, há algum estilo das Artes Marciais que em especial gostarias de ter começado a treinar a uma tenra idade e porquê? T.L.: Esta pergunta é difícil de responder. Imagino eu que dependeria de qual fosse a minha intenção para o futuro, nesse momento. Por exemplo, se fosse muito jovem, provavelmente gostaria de fazer alguma coisa que realmente

chamasse a atenção..., como Wushu ou XMA. Mas na minha idade actual, não vejo necessidade de um "sentido prático" no aspecto da defesa pessoal, portanto, provavelmente escolhia MMA.

T.L.: Agora não tenho nenhum mas em criança admirava praticamente todas as grandes estrelas do cinema de acção de Hollywood e Hong Kong: Stallone, Snipes, JCVD, Jackie Chan, Steven Seagal, Tom Cruise, Bruce Willis.

C.N: Qual foi a tua técnica favorita de Keishinkan Karate? T.L.: Sem dúvida, a minha técnica favorita de todos os tempos é o "gyakuzuki" (punho reverso). O motivo é que o meu instrutor de Keishinkan sempre me ensinou que a meta do Karate é ter uma técnica impecável, para acabar com uma

C.N.: E o Chuck Norris e o Bruce Lee? T.L.: Quando cheguei aos Estados Unidos, nem sequer sabia da sua existência…, suponho eu porque o meu pai nunca alugou as suas fitas.

luta... Também o "Ichigeki" (traduzido livremente como “um golpe, uma morte”. Se alguém não pode fugir e tem de recorrer a usar o seu treino em Artes Marciais para a autodefesa, o bom senso diz que “menos é mais”, o que quer dizer que se para o derrotar só posso bater no meu oponente, isso é muito melhor que "forcejar" com ele durante alguns minutos. C.N: Qual é a tua arma favorita clássica para usar nas Artes Marciais e porquê? Escolhe uma… T.L.: Em Kung Fu, a minha arma favorita é a espada dupla. Por alguma razão, a primeira vez que empunhei as duas espadas, me senti incrivelmente bem com elas. E mais ainda, quando comecei a saltitar em volta do oponente, imitando o Jackie Chan, alcancei o melhor da minha capacidade. Quando tentei a minha primeira "forma comprida" com a dupla espada, bati em mim próprio… É uma "forma" muito intensa, profunda e desafiante, mas fiquei encantado… Logo comecei a passar horas e horas a cada dia, praticando com as espadas e realmente ficou demonstrado quando fiquei no 1º lugar no meu primeiro torneio de armas. Depois pensei que teria usado a Katana japonesa, que tinha visto utilizar muitas vezes. Realmente gozo muito trabalhando com a katana, mas inicialmente comecei a treinar com a katana restritamente para espectáculos públicos. Pensei que iria ser uma simples transição partindo da dupla espada, mas estava muito enganado. Parece simples, mas é uma ferramenta muito complicada. C.N: Quem são os teus ídolos nas Artes Marciais?

C.N: O que planejas no teu futuro nas Artes Marciais?

T.L.: Continuar a promoção das Artes Marciais através da FUNDAÇÃO Koyamada e do FESTIVAL DE ARTES MARCIAIS DOS ESTADOS UNIDOS. Na Fundação Koyamada patrocinamos crianças maltratadas e crianças de famílias com poucos recursos, mediante a concessão de uma bolsa de estudos nas Artes Marciais. Fazemos isto porque pensamos que o treino das Artes Marciais pode dar confiança, auto-estima e em geral, uma perspectiva positiva na vida de uma criança. Estamos contentes de que o acossamento escolar se esteja dando a conhecer e que finalmente se esteja sendo abordado a nível nacional. Mesmo economicamente limitados, estamos fazendo o nosso melhor esforço para ajudar individualmente estas crianças. Por outro lado, o Festival está pensado para promover TODAS as artes, todos os estilos e disciplinas Marciais (tanto sejam conhecidas ou desconhecidas) e dar a todas a mesma oportunidade. Isto faz-se através de Festivais, aos quais convidamos muito diferentes estilos de Artes Marciais, para mostrá-los publicamente. Obtemos licenças, lo cais para as A rtes Marciais , organizamos seminários, exibições, faz emo s a entrada po r uma passadeira vermelha, com múltiplas aparições de actores famosos e artis tas Marciais famo s o s … e muito, muito mais! É realmente um evento divertido, onde também os Grandes Mestres podem contactar com outros Grandes Mestres, os quais nem sempre têm tido ocasião de se conhecerem pessoalmente. Também o ferecemo s uma plataforma para que o público em geral possa ver as claras diferenças entre as diversas disciplinas das


Entrevista


MA Films


Entrevista Artes Marciais. Com isto quero dizer quando se pergunta a um "cidadão tipo médio", provavelmente não sabe a diferença entre Shotokan Karate e Karate Kyokushin, mas assim podem ser apreciadas à simples vista. Não só isso, como também o público pode conhecer estes grandes Mestres pessoalmente e falar com eles, fazerlhes perg untas … Es ta é uma po s s ibilidade que a maio ria das pessoas nunca teve. Em geral, é realmente um ambiente divertido e educat iv o para to do s os participantes.

C.N: Como foi a tua iniciação nas Artes Marciais? T.L.: Eu estava interessado em aprender Karate porque pensei que me ajudaria a tornar-me uma estrela do cinema de acção de Hollywood. Comecei a usar o dinheiro que semanalmente me davam os meus pais, para me inscrever no Keishinkan Karate Dojo e lá conheci o Instrutor Tadashi Yoshii (8ºDan). Eu já era muito atlético e tinha participado em algumas lutas da rua, por isso sabia que tinha de ser capaz de "me conter" nas aulas. Tadashi deve ter percebido isto ou

talvez pensou que fosse um pouco de arrogância pela minha parte, porque me convidou a atacá-lo. Surpreso, pergunte: O quê??? Queria que eu o atacasse como eu quisesse... Soco, pontapé…, tudo! Depois disse: "Zenshin nomi aru" (lo que se podo traduzir por "Vem até mim…"). Foi isso mesmo que eu fiz… Uns 10 ou 12 minutos depois, eu estava esgotado e arquejante como cão no deserto. Ele interceptou tudo… Quero dizer mesmo TUDO! Quando ele viu como era inútil o meu ataque, amavelmente resolveu afastar-me da “miséria” com um forte "mae geri"

(pontapé frontal) ao meu esterno. Me tinha derrotado… Depois desta iniciação à humildade, me conviou a chegar mais cedo que os outros alunos, uns 30 minutos antes do início de cada aula, para praticarmos nós dois sozinhos. A cada aula eu chegava cedo que ele me voltasse a dizer: "Zenshin nomi aru". Eu gostava de tratar de lutar com ele com toda a minha vontade, enquanto ele evadia o meu ataque com facilidade. Uns meses passados percebi que as minhas técnicas e velocidade estavam evoluindo rapidamente. Eu me estava tornando um aluno mais dedicado, disciplinado e marcial. Ele se apercebeu da minha mudança. Com apenas 3 meses de treino, Tadashi Sensei me disse: "Shin, há um torneio de Karate aberto em Nagano e quero que vás competir". A minha resposta foi sem pensar, mas muito concisa... Muito surpreso, respondi: "O quê?..." Nesse torneio não havia divisão por faixa, a categoria se determinava pela idade escolar: Júniors, Secundária, Liceu e Adultos. Antes de começar o meu primeiro combate, eu estava visivelmente petrificado. Tadashi me disse: "Eu sei que tu és um principiante, mas não tenhas medo, porque quando se tem medo se tem tendência a retroceder e a chave do êxito no Karate é ir avançar quando se sente medo. Isto porque si te baterem a uma distância curta, não te farão tanto mal". De maneira que fechei a distância e me bateram, me bateram muito, mas ele tinha razão, não doía assim tanto… Claro está que não ganhei o torneio, mas obtive uma coisa muito mais valioso que um troféu, uma confiança em mim mesmo e uma motivação renovada, uma motivação para treinar ainda mais duro.


MA Films Tadashi Sensei começou a levarme aos dojos de seus amigos, para "combater" com os alunos. Múltiplos oponentes, um depis de outro. Me bateram tanto no traseiro que já não me podia mexer… mas mais uma vez, a confiança em mim mesmo e a auto-estima aumentaram muito (mesmo depois de me baterem) porque vi claramente um progresso diferente e acelerado em praticamente todas as minhas técnicas de Karate. Já estava “apanhado pelo Karate” e mais resolvido que nunca a ter êxito no "mundo marcial.

C.N: Qual é teu personagem favorito daqueles que tens interpretado e porquê? T.L.: Tenho gostado de todos os personagens que tenho interpretado, mas destacaria dois, que são em primeiro lugar “Nobutada”, no filme "O último samurai" e em segundo lugar Shen, em "Wendy Wu: A garota Kung Fu". Nobutada é o meu favorito porque é um personagem inesquecível. Era todo Honra e Respeito, coisas que um verdadeiro samurai deve mostrar em cada aspecto da sua vida. No que respeita a Shen devo ser honesto... – para mim, foi um sonho feito realidade, porque finalmente

tive ocasião de interpretar uma estrela de acção, para o que eu venho treinando desde criança. Deu-me a oportunidade de mostrar a minha capacidade para as Artes Marciais em um ambiente muito divertido e estimulante. Ambos personagens são completamente diferentes, em função das suas personalidades e suas motivações. Ambos constituíram um desafio e ambos eram diferentes realizações dos meus sonhos feitos realidade. C.N: Qual foi a tua experiência mais memorável em um estúdio de rodagem?



MA Films T.L.: Honestamente? A hora da comida… Numa produção importante de Hollywood há catering todos os dias, para o pequeno-almoço, almoço e jantar. Eu me refiro a alimentos de qualidade superior especialmente bem cozinhados. Todos os dias serviam alguma coisa melhor que no dia antes: car ne, mariscos, frango marinado, massas, a mesa das sobremesas... Tudo! Todos engordamos comendo no estúdio - ri às gargalhadas - Mas no "O último Samurai" tínhamos um elenco predominantemente japonês, com centenas de extras e no lugar da Nova Zelanda onde estávamos, não havia comida nem restaurantes

japoneses por perto, porque estávamos no meio do campo. Então, um dos extras teve uma ideia brilhante. Comprou um carrinho de comida e preparava e vendia comida japonesa para todos aqueles que comíamos lá todos os dias. Deve de ter feito uma fortuna! Mas falando a sério…, todos os dias tive umas conversas incríveis com Tom Cruise. É uma das pessoas mais humildes que tenha conhecido. Ensaiando ou filmando, quando gritavam, "cortem" ele me chamava para eu ir ter com ele. Ao princípio eu pensava que tinha feito mal alguma coisa (esta era a minha primeira longa metragem). Mas ele só queria conversar. Me disse que eu lhe fazia lembrar-se a si mesmo quando tinha a minha idade. Eu disse: "Tom, tu és americano, eu sou japonês"… Rindo ele respondeu: "Não por isso… O que eu quero dizer é que com a tua inocência e determinação, enfrentas bem a realidade e tens muita personalidade. Fazes-me lembrar a mim". Senti-me honrado quando ele me disse isto. A partir de então todos os dias conversávamos acerca de todas as coisas. Ainda hoje me honra poder tratá-lo como amigo e essa experiência é um dos melhores momentos da minha vida. C.N: Então agora devo de perguntar como foi trabalhar com Tom Cruise? Quero dizer que era o teu primeiro filme e de repente, estás frente a frente com ele, como coprotagonista… T.L.: Foi absoluta e positivamente surrealista. Eu estava muito contente e honrado por formar parte da produção e agradecido pela oportunidade que me davam. Esta foi a minha primeira fita e determinou a minha carreira. Eu sabia que tinha de ter um diferente nível de profissional para trabalhar com ele e realmente eu tinha pouca ou nula experiência e zero ideias do que podia esperar. Eu estava completamente

concentrado no meu papel de Nobutada e na produção. Não cheguei a ficar tão nervoso como pensara que estaria e me sentia muito confiado em mim mesmo. No entanto, me fiquei petrificado quando cometi um enorme erro logo no primeiro dia. Aconteceu que escutei Tom Cruise a gritar entre duas das suas cenas: "Shin! Shin, onde estás?Onde está Shin? Shin! Shin!" Todos ficaram quietos e olhavam para mim como se eu tivesse feito alguma coisa horrivelmente mal ou coisa parecida… Eu respondi: "Hei, eu estou aqui”. Ele disse: "Vem cá. Quero apresentar-te ao meu amigo director!"

Eu fiquei como se estivesse congelado. Era de verdade? Não me podia mexer porque ainda estava à espera que me dizerem que estava despedido ou coisa semelhante… Mas nada disto sucedeu! Tom Cruise era incrivelmente agradável. Nunca conheci ninguém mais sincero e humilde que ele. Quando chegava ao estúdio, cumprimentava e dava a mão a cada membro da equipa e do elenco que ia encontrando. Todas as manhãs se dirigia a cada um de nós para fazer isto durante oito meses!!! Tofa vez que nos encontrávamos dentro e fora do estúdio, tanto fosse no campo, em Nova Zelanda, ou em outro


Entrevista


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Entrevista lugar. Nesse momento, frequentemente eu me sentia confuso… C.N.: Confuso? O que queres dizer por confuso? T.L.: Por exemplo, um dia Tom me levou para um canto do set, entre duas das nossas cenas. Ele me disse que eu olhe fazia lembrar-se de si Próprio, quando tinha a minha idade. Eu pensava como podia ser isso! Anos mais tarde, finalmente compreendi que era um elogio muito sincero, mas durante anos, não percebia como eu podia fazer-lhe lembrar-se de si mesmo! (Ri às gargalhadas).

C.N: O que foi o mais memorável e surpreendente que te aconteceu trabalhando com ele? T.L.: Ver a sua precisão. Definitivamente a sua precisão técnica durante a execução da sua cena de luta na rua, onde tem múltiplos atacantes. Ele tinha ensaiado pela sua conta durante meses e meses, preparando-se para esta cena. Naquele dia da rodagem. ele a executou de um maneira absolutamente impecável. Eu, como todo o resto das pessoas presentes, estava pasmado. Eu pensava: aqui estou eu trabalhando com um dos actores mais bem sucedidos do mundo e que realmente é de longe a

pessoa mais humilde que conheço, porque não só pode legitimamente ser considerado um bom tipo, ele também é um tipo duro. A partir de então... é um dos meus ídolos dos heróis de acção. C.N: Para onde pensas que se dirijam as Artes Marciais e a indústria do treino no futuro? O que quero dizer é qual o tipo de Artes Marciais que futuramente veremos mais? T.L.: Penso que é cíclico. Como a tecnologia se desenvolve mais e mais, temos visto como os filmes e a televisão se tornam mais dependentes dos CG (gráficos por computador.) Penso que


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Entrevista algum dia, o público se vai cansar de ver CG e vai querer mais "realidade”. Ou seja, mais realismo nas acções dos personagens e na coreografia das Artes Marciais. Mas anos depois de que isto se torne um elemento básico na indústria do entretenimento..., penso que as pessoas vão querer ver um pouco mais de CG, repetindo-se assim o ciclo… C.N: O que planejas futuramente para o cinema? Representar? Produzir? Realizar…? T.L.: Por agora... gostaria muito de continuar concentrando-me na actuação

e na produção. A realização é uma opção, mas não em um futuro imediato. Enquanto à actuação, tenho uma nova série estado-unidense da televisão, de acção e fantasia, cuja rodagem faz pouco finalizou em Okinawa, intitulada "O Rei de Yokai". Foi gravada em Inglês e pretendem vendê-la no mercado dos Estados Unidos em primeiro lugar, e depois em outros países. Actualmente também estamos filmando uma serie web chamada "Coração de Dragão". É um “thriller” sobrenatural de Artes Marciais, onde o meu personagem se vê obrigado a chegar à realidade da própria

mortalidade. Além disto, a minha empresa Shinca Entertainment acaba de criar e publicar um série de bandas desenhadas chamada "The Dreamhoppers" e começou a desenvolver uma nova série. Nestes momentos tenho dois projectos em produção... Trato de me manter em tantas facetas da indústria do entretimento como seja possível. Basicamente porque é divertido e aprendo constantemente. Isto vai das bandas desenhadas aos vídeo-jogos, as séries web, a televisão e o cinema. Tudo isso me encanta e vou produzir tanto como me seja possível.

C.N: Qual que é a fita de Artes Marciais que não se fez ainda e que gostarias de ver feita? T.L.: A fita de Artes Marciais que me gostaria de ver feita é com 100% das pessoas reais, sem actores. Que toda a gente sejam pessoas que são realmente aquilo que representam… O taxista é um taxista real. O agente do FBI é um agente do FBI. Todos e tudo contando uma história comum que se entrelace entre todos. Algumas pessoas poderiam considerar isto como um documentário, mas não é isso o que eu quero dizer. Quero uma fita real, com pessoas reais, contando uma historia real ao longo dos mesmos parâmetros da vida do outro..., à maneira de uma fita de acção real da vida. C.N: Qual é o melhor conselho que se pode dar aos artistas Marciais que desejarem seguir uma carreira na indústria do cinema e da televisão? T.L.: Comecem a fazer rodagens. Filmem alguma coisa, filmem tudo. Filmem-se a si próprios e subam as imagens por todo lado..., nos meios de comunicação sociais como Youtube, Facebook, etc. Se realmente desejam fazer carreira nesta indústria, é importante ter em consideração que não precisam ser um actor para o fazerem. Trata-se do "Show Business". Lembrem-se que se assim desejarem, podem mostrar ou fazer alguma coisa melhor do que ninguém… C.N.: Mas, o que acontece com estas pessoas que têm pouca ou nula experiência na actuação? T.L.: Isso é fácil. A companhia de produção contratará um professor de actuação para a pre-produção e vai mantê-lo enquanto durarem as filmagens, se necessário… Isto é



Entrevista decisão da produção e não nossa. Quando comecei em "O último samurai", não tinha praticamente experiência em montar a cavalo, nem no Kyudo (tiro com arco japonês)... Também tinha pouca experiência na actuação. O último samurai foi a minha primeira longa-metragem. Na selecção, fui honesto acerca disso logo desde o início... No dia em que fui seleccionado, imediatamente contrataram um professor para mim. Comecem a filmar-se e subam as imagens a todo lado. Trabalhem na rede. Mexam-se… Tenho a certeza de que já escutaram isto anteriormente..., mas é absolutamente certo: procurem pessoas com ideias afins. “Diz-me com quem antes, digo-te quem és!”

C.N: Tu és o fundador da Fundação Koyamada. Qué é e o motivo da sua criação? T.L.: Quando pela primeira vez cheguei aos Estados Unidos, nunca imaginei nem tinha a intenção de iniciar uma obra de caridade. Após alguns anos, me convidaram para visitar a instituição de caridade "Kick Start Kids", de Chuck Norris. Pude ver a maneira em que eles estavam ajudando crianças em todo o país, mediante a formação de pessoas fortes e morais, através das Artes Marciais. A minha mulher me disse que podíamos e devíamos de fazer alguma coisa similar e assim fizemos. O nosso objectivo é capacitar os jovens para poderem

alcançar seus sonhos e metas. Na vida sempre há-de haver gente que trate de não fazer possível esse sonho… Sem auto-disciplina e confiança, podem crescer com uma mentalidade negativa... e nunca terem a oportunidade de desenvolver todo o seu potencial. Com a nossa fundação, nós promovemos a educação intercultural, a prevenção de desastres para as crianças menos favorecidas e suas famílias mais chegadas, assim como a concessão de bolsas de estudo de Artes Marciais, para fortalecer os jovens através do treino. Pensamos que as Artes Marciais proporcionam às crianças e adolescentes a possibilidade de desenvolverem o carácter e a auto-estima, através do treino

marcial. Queremos que todos na vida tenham uma oportunidade de ter êxito. Não a toda a gente se lhe estende uma mão de maneira justa e estamos tratando de os ajudar a sair em frente. C.N: Como se modificou a tu vida com as Artes Marciais? T.L.: Para melhor... Sei positivamente que sem as Artes Marciais eu não estaria onde hoje estou. Me ajudaram a descobrir quem realmente sou nos meus relacionamentos e como pessoa. Me ajudaram a compreender os outros para poder ter mais compaixão com tudo e com todos na vida. Mais importante ainda, me ajudaram a não sentir medo de experimentar coisas novas. O meu treino das Artes Marciais desenvolveu muitíssimo a minha intuição, conhecimento da situação e a sensibilidade para do que está em meu redor. Tem esculpido a minha motivação, a auto-disciplina e a confiança em praticamente tudo quanto faço. O Karate e a formação em Kung Fu, realmente me têm permitido alcançar coisas novas na vida. Muitas vezes penso no que me disse Tadashi Sensei: "Nunca dês um passo atrás... Se acreditas poder fazer alguma coisa, faz!" E isto eu o interpreto como: "Não se pode avançar na vida se sempre se estiver andando trás e com medo a experimentar coisas novas. Tem de se ir sempre para diante e descobrir”. www.shinkoyamada.org (website pessoal) www.koyamada.org (fundação caridade) www.shincaentertainment.com (empresa de produção) www.usmafest.org (Festival de Artes Marciais dos Estados Unidos)







Técnica "Um elo solto de nada serve, mas entrelaçado a outros muitos, obtemos um dos instrumentos mais úteis: a cadeia". Isto também é aplicável às artes marciais e valha a metáfora para compreender a importância que têm os concatenamentos de técnicas dentro da prática marcial. Evidentemente, o ideal em termos marciais é ser capaz de acabar qualquer confronto, aplicando um só golpe ou uma única técnica. Mas isto é muito difícil. Alguns grandes mestres talvez se aproximem frequentemente muito a este ideal; ou um golpe de sorte pode fazer que em alguma ocasião consigamos acabar um combate com a primeira técnica. Mas para isso conseguir, a sua execução tem de ser absolutamente perfeita, enquanto a precisão, rapidez, potência, oportunidade, coordenação, etc... E a perfeição é um ideal ao qual se tende mas que nunca se alcança, de maneira que a maioria dos praticantes de artes marciais temos que aprender a concatenar técnicas para resultarmos eficazes em combate.

Texto: Pedro Conde. Fotos: David Gramage (davidgramage@gmail.com)

Concatenar O que é um concatenamento? Um concatenamento técnico é, simplesmente, a coordenação de diferentes técnicas em sequências. Normalmente aprendemos e treinamos estas técnicas de maneira isolada. Mas concatenar não consiste simplesmente em somar técnicas, senão que cada concatenamento tem uma lógica própria (conforme as circunstâncias, o adversário, etc.) e dentro do mesmo, cada técnica dependerá da anterior ou precedente e da que vier depois.

São fáceis os concatenamentos? É curioso observar como gente que lançando um golpe de maneira isolada o executa impecavelmente, quando lança o mesmo golpe dentro de uma combinação, perde qualidade a olhos vistos. A que é isto devido? Isto é devido a que a habilidade de concatenamento, como qualquer outro atributo, também tem de treinar-se e

como tudo, requer tempo, mas acima de tudo, saber como treinar. O certo é que concatenar “quase” toda a gente sabe... O difícil não é lançar golpes à esquerda e direita, mas que pelo menos a maioria deles cheguem a destino. Se consegue mais com três golpes bem concatenados (com coerência, táctica e eficácia) que com vinte lançados sem ordem e sem um objectivo claro.

Como treinar os concatenamentos Quando já se dominam as bases de uma técnica, é imprescindível aprender a coordená-las com outras. A coordenação é assim uma das bases primordiais da habilidade no concatenamento. A metodologia mais pedagógica para conseguir isto é ir gradualmente, ou seja: começar aprendendo a coordenar técnicas similares, pois isto resultará mais simples (concatenamentos simples) e depois ir progredindo para a combinação de técnicas mais dispares (concatenamentos mistos). Também se

deve graduar o número de técnicas a treinar, começar com o concatenamento de duas técnicas e ir ampliando o número (até cinco ou seis, que é o máximo razoável de todo concatenamento). Por exemplo, uma vez dominadas as bases de um soco directo dianteiro e as do soco directo traseiro, aprenderemos a coordenar estes dois golpes, que por seu parecido formam uma das combinações mais simples e básicas das artes marciais. Mais adiante se aprenderá a concatenar os socos directos com os circulares (ganchos) e depois, os socos com os pontapés. Finalmente, os golpes com técnicas de desequilíbrio, luxação, estrangulamento, etc., sempre em sequências cada vez mais longas e mais complexas. Para treinar convenientemente o concatenamento é preciso recriar o maior realismo possível. Para começar, no caso dos desportos de contactos, se consegue muito mais numa sessão de sparring ou de treino com parceiro (focus, paos) que em várias sessões de sombra ou de saco. O parceiro ou o



Técnica

instrutor têm de saber mover-se para incitar as combinações (onde e como situar os aparelhos). Deve mover-se muito e muito rápido e abrir e fechar espaços constantemente, para aplicarmos em condições reais os nossos concatenamentos de golpes. E deve variar seus deslocamentos (ataque, defesa, contra-ataque, fuga, rodeio, etc.) para nos habituarmos a concatenar em qualquer circunstância. Nas artes marciais se conseguem os mesmos resultados à base de repetir as técnicas até fluir com naturalidade. Em ambas modalidades podemos dizer que se dominam os concatenamentos quando se é capaz de realizar diversas combinações, como se se tratasse de uma só técnica, quer dizer: sem diferenças ou lapsos de tempo entre um movimento e o seguinte. Para conseguir isto é muito importante que o treinador ou o parceiro saibam manobrar com destreza as mãos, ou seja, que possua uns amplos conhecimentos sobre artes marciais e conheça muito bem as aptidões físicas de seu pupilo ou parceiro. No caso dos desportos de contacto o que tem que fazer é incitar e provocar aquelas técnicas para as quais tem uma facilidade natural, com aquelas outras que ainda há-de aperfeiçoar. Evidentemente, quanta mais experiência tiver quem movimenta as manoplas, maior será o rendimento do treino. Nunca esquecer que cada pessoa é diferente e que as combinações que podem funcionar com uns, talvez não sejam aptas para outros. Por esta razão se deve de iludir na medida do possível, trabalhar mecanicamente, quer dizer, memorizando simplesmente umas combinações e concatenando-as automaticamente. Quando alguém utiliza um focus para bater, de existir um motivo este dependerá da guarda que tiver o parceiro, da sua distância, do tipo de golpe que já impactou ou do que segue, etc. Por exemplo: se o parceiro está afastado de nós, não se deve situar a manopla de maneira a incitá-lo a bater com um gancho; primeiro situaremos a manopla fazendo-o compreender que deve encurtar a distância com um jab (golpe directo com o punho adiantado), enquanto a outra manopla deve de estar preparada ou na posição adequada para receber um cross (golpe directo com o punho atrasado) depois do qual


podemos indicar-lhe que remate com um crochet (gancho horizontal). Uma vez aplicados os três golpes. ligados entre si, ou bem está obrigado a realizar uma esquiva (para isso o instrutor ou parceiro pode lançar algum golpe tentando impactar com a manopla) ou bem deverá voltar à posição inicial, cobrindo a sua saída com alguma técnica de perna. Obviamente é necessário que exista a máxima sincronização entre os dois, pois quando o golpe impactou, o focus deve imediatamente mudar de posição em função das circunstâncias e da maneira de lutar de cada um. Desta maneira, a pessoa que está batendo, realiza combinações racionais e eficazes consoante os seus atributos físicos.


Técnica


Se se pretender concatenar de maneira coordenada golpes de pernas e punhos, o mais recomendável é utilizar os focus especiais existentes para pontapés, ou directamente uns paos.

O que são os concatenamentos simples e os mistos? O conceito de graduação do treino se baseia então, em dois tipos de concatenamentos: o simples e o misto. O simples é aquele que concatena técnicas parecidas (mesmas "ferramentas", dinâmica ou trajectória similar, objectivos próximos, etc.), e o misto é o que mistura técnicas dispares, como por exemplo pontapé e soco, técnicas circulares e directas, golpes altos e baixos, golpes e luxações, etc. Para que a aprendizagem seja feita com naturalidade, tem de se graduar a dificuldade: convém começar assimilando primeiro as combinações próximas e ampliar aos poucos, passando a combinações mais diversas, como explicamos ao princípio do artigo. Os concatenamentos mistos nem sempre são forçosamente superiores em eficácia, mas sim mais complexos que os simples. Os simples têm a vantagem de que se assimilam antes e são mais instintivos, o que pode

resultar decisivo na rua ou em momentos de grande tensão, quando é difícil pensar. Por regra geral, o mais simples é o mais eficaz. No entanto, os mistos têm a vantagem de que são mais inesperados e imprevisíveis. Variando de "ferramentas" (pés, punhos, cotovelos, etc.), trajectórias (directas, circulares, verticais, horizontais) e objectivos (pernas, fígado, cabeça, etc.), nos complicamos mais, mas também complicamos mais o adversário. O factor surpresa é fundamental na estratégia de concatenamento. Para ser eficaz concatenando movimentos e técnicas marciais, têm de se aperfeiçoar uma série de atributos físicos. Neste caso consideramos como essenciais os seguintes: a estratégia, a fluidez, o deslocamento, a bilateralidade, a rapidez, a precisão e a potência.

Conceito da estratégica dos concatenamentos Saber jogar com os níveis de ataque e as combinações mistas, é muito útil em combate. Mas sempre tendo em consideração as vantagens tácticas que podem oferecer as combinações específicas de diferentes técnicas. Por exemplo, dar ou amagar um pontapé baixo acostuma a ser uma das melhores maneiras de obrigar o

adversário a descer sua guarda e descobrir a sua cara (esta estratégia responde ao conceito de "abrir espaço"). Perante isto, a melhor combinação é seguir com um soco directo dianteiro à cara (golpe muito rápido) e aproveitando o atordoamento e ligeiro retrocesso do rival, rematar com um soco directo traseiro ou se o rival retrocedeu notavelmente, com um pontapé alto, em rotação. Este é um exemplo específico do uso estratégico de concatenamentos mistos (pontapés-punhos, em baixo-acima), um exemplo muito simples e usual, que acostuma a funcionar muito bem. Outra estratégia muito usual é desgranar técnicas isoladas com uma mesma dinâmica (por exemplo, socos directos), para forçar o rival a cobrir a linha central de seu corpo e, de repente, aproveitar que descuidou os lados, para lançar uma combinação de golpes em rotação (ganchos, pontapés em rotação, etc.). Evidentemente, a variedade na combinação, dependerá das regras do nosso estilo marcial, dos nossos conhecimentos e preferências, das regras da competição, etc. Cada arte marcial e desporto tem as suas exigências. Em Karate se procura primordialmente a velocidade e "o golpe", quer dizer, resolver com uma única técnica limpa e perfeita. Os intercâmbios são muito rápidos e o


Kick Boxing

árbitro logo separa a os contendentes. Isto não dá muito jogo aos concatenamentos. Entretanto, no Taekwondo primam as longas combinações de pontapés, especialmente circulares e em rotação. Nos desportos de contacto também se dão longas combinações ainda que sejam mais comuns as de punhos, devido à influência do Boxe Inglês.

A Fluidez Outro elemento primordial na habilidade de concatenamento é a fluidez, é a naturalidade. Aprender a aplicar com fluidez um tipo de técnicas, é um processo muito longo: primeiro tem de se treinar isoladamente a técnica até aperfeiçoala, depois deve ser introduzida progressivamente no nosso arsenal técnico, para finalmente aplicá-la em combate. Quando se fez das técnicas coisa própria, se flui de uma para outra de maneira inconsciente e natural. Isto é o fruto da prática e da experiência, de maneira que neste campo só há três conselhos: treinar, treinar e treinar… e nas condições mais realistas possíveis. Para trabalhar bem a fluidez, dependendo da arte marcial, as luvas são por vezes um impedimento, posto que impedem o agarre, o ataque com os dedos a pontos vitais, etc. Em

Combat Arts se treina indiferentemente com luvas ou sem elas, o importante é adquirir a fluidez, independentemente da protecção que se utilizar.

Os deslocamentos Os deslocamentos são, como é lógico, determinantes para a eficácia dos concatenamentos. Tem de se aprender tanto a adaptar os deslocamentos aos concatenamentos (mover-nos com fluidez consoante os deslocamentos do adversário e as técnicas que realizemos), como também adaptar os concatenamentos aos deslocamentos (quais os golpes mais convenientes em função da distância e posição de cada momento da luta). Muita gente aprende a deslocar-se e a concatenar em linha recta, avançando ou retrocedendo, conforme se atacar ou defender. Este é um esquema excessivamente básico, posto que os combates reais não acostumam a ser lineares, posto que por pouco que o confronto supere uma primeira troca de golpes, é muito usual produzirem-se rotações, mudanças de direcção, quebra do ritmo, contraataques, etc. Por isso é fundamental aprender a concatenar com realismo, incluindo ataques e defesas, alterações de posição, sentido e ritmo e outras mudanças tácticas. De pouco

serve aprender esquemas de longos concatenamentos anteriormente estabelecidos, porque não se pode abranger todas as situações possíveis. O concatenamento tem de ser instintivo e natural.

Bilaterlidade Um elemento que habitualmente perturba muito a nossa capacidade de concatenamento é o de uma bilateralidade defeituosa (quer dizer, menor habilidade com o lado esquerdo, e ao contrário no caso dos canhotos)), o que pode interferir gravemente na continuidade das combinações. Para isso, todo praticante deve tentar chegar a ser um "ambidestro marcial", ou seja, que a diferença entre um lado e outro seja mínima, em termos de técnica, velocidade, flexibilidade e potência. Isto é uma matéria ainda sem solução, para muitos praticantes de artes marciais em geral e de alguns competidores em especial. Uma má bilateralidade é de se notar especialmente nas combinações de pontapés, mas também nos deslocamentos e se manifesta entorpecendo notavelmente o nosso ritmo e fluidez. Só há uma maneira de equilibrar isto e é treinando quase que o dobro com o lado "mau". Treino longo e difícil, onde ser constante,


como em "quase" tudo, é a chave do êxito. Como informação curiosa adicional: só o 1% da povoação é ambidestra frente um 89% de destros e um 1 % de canhotos, pelo que no caso de se querer partir com uma “vantagem” adicional frente ao adversário, só resta um caminho, treinar de maneira especial as “ferramentas” do lado esquerdo. Por isso em Combat Arts se treina tanto ou mais o lado esquerdo, pois nunca se sabe de que lado se vai lançar a técnica, nem em quê circunstâncias.

espacial, e a velocidade enquanto à precisão temporal. De nada serve lançar uma série de técnicas, se elas não chegam ao seu destino. A precisão é crucial nos concatenamentos, pois quanto mais longos e complexos sejam eles, mais complicado será que quase todos os nossos golpes cheguem com precisão, por isso é imprescindível antes de passar ao combate, treinar com paos e focos este atributo, com diferentes tipos de concatenamentos.

A Rapidez

A Potência

Outro atributo importante para conseguir concatenar com eficácia, é a rapidez. Não só de cada golpe propriamente dito, mas também do concatenamento de um golpe para outro. Todo artista marcial acostuma dedicar bastante tempo a treinar a velocidade de execução de técnicas isoladas, mas não tantos fazem o mesmo com respeito à velocidade de mudança de umas técnicas para outras. Nos referimos à rapidez para, por exemplo, mudar a posição da anca para passar de um pontapé frontal a um circular, ou a velocidade para recolher o braço após um soco e tê-lo assim preparado para a nossa seguinte técnica. No concatenamento, é óptimo reduzir ao mínimo o lapso de tempo entre uma técnica e outra. Mas isto tem de ser feito com fundamento. Na maior parte dos casos recomendamos não executar técnicas simultâneas. Por exemplo, quando se lançou um pontapé, sempre convém ter pousado o pé no chão antes de continuar com um soco (a não ser que alguma das duas técnicas seja um simples âmago). A potência e precisão dependem em grande medida da estabilidade, se não há equilíbrio, dificilmente se pode ter precisão ou bater com força, por isso, Nas Combat Arts insistimos tanto no trabalho das posições.

Outro atributo a ter geralmente em consideração para o treino dos concatenamentos, é a potência. Existem numerosos tipos de potência, mas para simplificar, nos limitaremos a duas básicas: a penetrante e a explosiva. A primeira é uma potência terminante ou definitiva; com isto queremos dizer que seu objectivo é descarregar na técnica todo o peso do corpo. Como é lógico, a potência penetrante tem de usar-se preferivelmente na última técnica da combinação, com a qual pretendemos acabar o combate. Isto é assim porque depois de um golpe destes, no qual descarregamos todo o peso do corpo, resulta muito difícil concatenar imediatamente outras técnicas, pois tenhamos acertado ou falhado, quebramos o nosso ritmo e perdemos em certa medida o controlo corporal. Por isso é preferível deixar este tipo de golpes para o final, após um concatenamento que "nos abra o caminho" para descarregá-los. O resto das técnicas do concatenamento devem realizar-se com o outro tipo de potencia, a explosiva. Nos referimos ao "efeito chicote", a golpes que se lançam de maneira relaxada e muito veloz, para tensar os músculos justamente no momento do impacto. Evidentemente, bem aplicados são golpes que podem magoar muito, pois mesmo não levando atrás todo o peso do corpo, o efeito de somar a aceleração à flexibilidade resulta explosivo. A?sua vantagem é que, ao não implicar todo o corpo em sua execução, permitem um maior controlo e portanto continuar concatenando mais técnicas. Resumindo: o ideal em termos marciais é ser capaz de acabar qualquer confronto aplicando um só golpe ou uma única técnica. Mas isto é muito difícil. Só alguns grandes mestres são capazes de o fazer, o resto dos mortais teremos que aprender a concatenar técnicas para resultar eficazes em combate e para isso é imprescindível aperfeiçoar e trabalhar os atributos comentados.

A precisão Por precisão entendemos a capacidade para que uma acção neuromuscular alcance exactamente o objectivo espáciotemporal desejado. Em termos marciais, tanto seja bater ou agarrar um ponto determinado em um momento em especial, com a concisão ou a exactidão rigorosa com a qual um movimento técnico alcança a meta ou o objectivo previsto (tanto seja por impactar, bloquear, esquivar, etc.). A precisão é assim o resultado da conjunção de dois atributos básicos: a coordenação de movimentos enquanto à precisão







Sempre tendo como pano de fundo o Ochikara, “a Grande Força” (denominada e-bunto na antiga língua dos Shizen), a sabedoria secreta dos antigos xamãs japoneses, os Miryoku, o autor leva a um mundo de reflexões genuínas, capazes de ao mesmo tempo mexer com o coração e com a cabeça do leitor, situando-nos perante o abismo do invisível, como a verdadeira última fronteira da consciência pessoal e colectiva. O espiritual, não como religião mas como o estudo do invisível, foi a maneira dos Miryoku se aproximarem do mistério, no marco de uma cultura tão rica como desconhecida, ao estudo da qual se tem dedicado intensamente o autor. Alfredo Tucci, director da Editora Budo International e autor de grande número de trabalhos acerca do caminho do guerreiro nos últimos 30 anos, nos oferece um conjunto de pensamentos extraordinários e profundos, que podem ser lidos indistintamente, sem um ordenamento determinado. Cada um deles nos abre uma janela pela qual contemplar os mais variados assuntos, desde um ângulo insuspeito, salpicado de humor por vezes, de contundência e grandiosidade outras, nos situa ante assuntos eternos, com a visão de quem acaba de chegar e não comunga com os lugares comuns nos que todos estão de acordo. Podemos afirmar com certeza que nenhum leitor ficará indiferente perante este livro, tal é a força e a intensidade de seu conteúdo. Dizer isto já é dizer muito em um mundo cheio de manjedouras grupais, de ideologias interessadas e de manipuladores, e em suma, de interesses espúrios e mediocridade. É pois um texto para almas grandes e pessoas inteligentes, prontas para ver a vida e o mistério com a liberdade das mentes mais inquietas e que procuram o oculto, sem dogmas, sem morais passageiras, sem subterfúgios.





REF.: • TAOWS-2




Bruce Lee

Leo Fong - Acerca do meu amigo Bruce Lee Leo Fong, um chinês americano começou a praticar Artes Marciais nos anos 50, estudando Boxe. Não fim da década dos 50 começou a treinar pesas e depois conheceu Bruce Lee. Seus bons amigos Wally Jay e James Lee convidaram Leo para assistir à f e s t a a n u a l d e L u a u , q u e Wa l l y organizava em Oakland todos os anos e disseram que estaria lá um jovem artista marcial de nome Bruce Lee, que só tinha 21 anos.


eo, que tinha uns 30 anos, disse: "Bem, desconheço quanto possa realmente saber este jovem, mas vou de qualquer maneira”. Quando os apresentaram, Bruce se levantou e começou a dizer que as Artes Marciais clássicas não tinham nada a fazer, porque eram como nadar fora da água. Posteriormente, Leo Fong conheceu melhor Bruce e se fizeram bons amigos. Jimmy Lee convidou Leo para ir à sua casa, durante a semana em que ele e Bruce estariam treinando e Leo aceitou. A partir de então os três treinavam na sala de estar de Jimmy, enquanto os estudantes treinavam no andar de baixo. Leo perguntou a Bruce o motivo de todos lutarem com a direita adiantada e Bruce disse que se devia a que a mão forte estava mais perto do oponente e esta é a maneira em que ele também deveria lutar. O Leo disse que com ele não era assim, ele tinha a formação do Boxe e seu golpe forte era o gancho de esquerda. Bruce pensou um segundo e disse-lhe que se situasse dessa maneira, coisa que o Leo fez. Depois, após um combate com Wong Jack Man que Bruce realizou na escola de Jimmy Lee, Leo disse que os golpes concatenados do Wing Chun não funcionavam tão bem e no dia a seguir, quando o Leo se aproximou, Bruce estava batendo no saco como um pugilista, mas com a per na direita adiantada. Bruce acostumava ver vídeos de combates de Muhammad Ali, mas situava um espelho na parte frontal do projector, de maneira que quando se reflectia na parede atrás dele, parecia que Ali estava lutando com a direita adiantada. Seguidamente, notou que Leo era muito musculoso naquele momento e começou a mostrar a Bruce alguns dos exercícios de treino com pesos, que utilizava para melhorar seu corpo. Bruce logo os aprendeu e começou a realizá-los. Depois se soube que Bruce os treinava e tinha muitas revistas de “Ben Weider Body Building”, chamado Iron Man. De maneira que, mesmo que Leo não se considerasse Mestre de Bruce Lee, sem dúvida teve uma influência profunda no Bruce Lee que todos vimos nos filmes. Leo, agora com 84 anos de idade, continua treinando e trabalhando seu Boxe e suas técnicas de pernas, e como realizador de cinema, Leo é homem metódico e também dá uma aula de ginástica para a terceira idade. Seu aluno de mais idade tem 94 anos. Leo

L

ensina exercícios chineses misturados com exercícios básicos modificados para a terceira idade, como sejam flexões e sentar e levantar sucessivas vezes. Ainda dirige seminários no país todo e recebe imensas petições para o fazer. Mas a primeira pergunta que normalmente lhe fazem é que conte suas histórias com Bruce Lee e Angel Cabales, o famoso Mestre que ensinou Escrima a Danny Inosanto. Leo também foi um bom amigo de Angel Cabales e de muitos outros Artistas Marciais

destacados na Califórnia, durante os dias de glória das Artes Marciais, incluindo Ron Marchini, um dos melhores competidores da Costa Oeste. De facto, tanto Ron como Leo escreveram dois livros excelentes acerca do treino com pesos para as Artes Marciais, que ainda se vendem bem após todos estes anos. Leo esteve recentemente em um evento em que estava dando autógrafos e quando levantou a vista, estava um enorme homem preto à sua frente, pedindo-lhe que assinasse o seu livro que trata do


Bruce Lee


treino da energia para as Artes Marciais. Era o actor de cinema Michael Jai White. Michael queria agradecer-lhe pessoalmente, porque foi o seu livro que o levou a iniciar-se no Body Building quando era garoto. Leo olhou bem para ele e disse "Bem. Parece que funcionou"? Ambos riram. Pedimos-lhe que nos contasse alguma história da sua época com Bruce e Angel e isto foi o que ele nos disse: “Lembro-me de uma vez que fomos ver uma demonstração de Hidetaka Nishiyama, em São Francisco, e Bruce o viu a dar pontapés e estava muito impressionado com o seu equilíbrio e a sua potência, mas criticou o facto de ele estar tão rígido. Passado algum tempo, Bruce telefonou a Leo e perguntou se queria ir com ele para visitar algumas escolas de Karate em São Francisco. Leo aceitou e levou Bruce à escola de Kenpo de seu amigo Al Tracy, na zona de South Bay. Estiveram observando durante algum tempo e Bruce não parecia estar muito impressionado. Quando um dos estudantes lhe disse porque não entrava no tatame e fazia uma demonstração, Bruce entrou no tatame e o estudante começou a combater com Bruce. Bruce começou a agarrar o garoto, que nada podia fazer!


Bruce Lee


No que respeita a Angel, era um dos tipos mais agradáveis dos que conheci nas Artes Marciais e apesar de ser de tamanho pequeno, era o mais rápido dos que conheci. Era como um relâmpago! Outra das minhas histórias favoritas acerca de Bruce, aconteceu quando ele me apresentou a Mito Ueyhara, da revista “Black Belt” e ele me incluiu na capa da revista. Depois, Mito me pediu que escrevesse um livro acerca do Sil Lum Kung Fu e eu respondi que o não podia escrever. Então Mito me disse que isso me não preocupasse, porque os artistas marciais quase que nada acostumam a ler…Todos nós rimos… Depois de fazermos todas as fotografias para as ilustrações do livro, resolvemos dar algumas explicações dos movimentos, pelo que Bruce e eu estivemos acordados a noite toda. Foi a noite antes da sessão final e trabalhamos todas as técnicas de defesa pessoal para os movimentos. Todas as técnicas de defesa pessoal no fim do livro, são realmente todos os movimentos de Bruce. Leo disse que recentemente encontrou Linda Lee numa noite de prémios e falaram do que poderia estar fazendo Bruce nos nossos dias, se ainda fosse vivo. Leo disse que provavelmente teria estado mais concentrado na filosofia e no aspecto mais profundo das Artes Marciais e Linda disse que talvez…, mas a única coisa que realmente sabemos com certeza é que não estaria sentado em frente de um computador, que teria estado fazendo e treinando alguma coisa…” Ambos riram e estiveram de acordo!…


Bruce Lee

“Leo disse que Bruce provavelmente teria estado mais concentrado na filosofia e no aspecto mais profundo das Artes Marciais e Linda disse que talvez…, mas a única coisa que realmente sabemos com certeza é que não estaria sentado em frente de um computador, que teria estado fazendo e treinando alguma coisa… Ambos riram e estiveram de acordo!…”





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