Apresentacao "A Historia da Criacao de Pedro Leopoldo Contada pelo Arquivo Geraldo Leao"

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ESCOLA DE DESIGN DESIGN GRÁFICO PROJETO EDITORIAL

Bruno Lopes

A história da criação de Pedro Leopoldo contada pelo

Arquivo

Geraldo Leão Projeto de conclusão do curso de graduação em Design Gráfico, pela Escola de Design da Universidade do Estado de Minas Gerais. Orientadora: Daniela Luz de Oliveira BELO HORIZONTE/MG Dezembro, 2010.



O resgate da memória histórica de um lugar ou de uma região expressa a vontade da população de conhecer suas origens e sua trajetória. O Arquivo Geraldo Leão, um acervo aberto ao público localizado na cidade de Pedro Leopoldo, tem como função guardar fotografias e documentos que reconstituem a história da cidade, sendo de grande importância para a comunidade em geral. Tendo em vista a relevância de tal instituição, esse projeto consiste em construir um material editorial utilizando as fotos que constituem este acervo como ilustração para depoimentos de moradores da cidade, que contarão suas memórias e casos curiosos sobre a criação do município de Pedro Leopoldo.

Palavras-Chave: Design Editorial; Acervo Fotográfico; História Oral.


Introdução O Arquivo Geraldo Leão foi criado há 35 anos, no dia 6 de julho de 1975, pelo Sr. Geraldo Leão dos Santos. Seu acervo é constituído por cerca de 11 mil fotos, 800 depoimentos gravados em áudio, gravações de eventos e solenidades em vídeo e objetos raros, que remontam a história da cidade de Pedro Leopoldo. Em 27 de janeiro de 2000, foi criado, em parceria com a Prefeitura Municipal de Pedro Leopoldo, o Arquivo Público Municipal Geraldo Leão, que é aberto ao público para visitação e pesquisa. Há décadas, o Arquivo Geraldo Leão vem lutando pela preservação de seu acervo, que é a memória visual de Pedro Leopoldo, sendo de grande valor cultural para a comunidade.


Algumas instituições têm como função precípua a guarda de documentos produzidos por particulares e/ou órgãos públicos. As instituições dessa natureza mantêm sob sua custódia acervos documentais que não foram por elas acumuladas de forma espontânea. Ao desempenhar essa tarefa, as entidades criadas para esta finalidade explícita preservam documentos considerados valiosos para a comunidade em geral. Determinados acervos, independentemente de seu valor utilitário, atendem aos mais diversos objetivos, que podem abranger desde interesses relativos a pessoas físicas, até a reconstituição da história político-administrativa e cultural do país.1

A luta pela proteção do patrimônio fotográfico é uma questão cultural que afeta a todos aqueles que têm um mínimo de preocupação com a segurança das informações históricas e contemporâneas que se acham gravadas em documentos. (...) Por tais razões servem as imagens e os arquivos. Para que possamos fazer essas e outras descobertas; para que possamos preservar a lembrança de certos momentos e das pessoas que nos são caras; para que nossa imagem não se apague; para que não percamos as referências do nosso passado, dos nossos valores, da nossa história, dos nossos sonhos; para que possamos manter acesa a chama dos que foram sacrificados nos tempos de intolerância e autoritarismo; para que possamos preservar as imagens dos desaparecidos e torturados; para que tenhamos provas que fatos hediondos ocorreram; para que não nos esqueçamos... .2

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FUNARTE. Centro de Documentação. Arquivo Fotográfico: estudo preliminar. Rio de Janeiro, 1982. 129 p. KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo, 2002. 152 p.


Outra fonte de registro histórico é a história oral. O relato da história, através de depoimentos de pessoas que vivenciaram fatos ou de quem os ouviram, permite uma visão mais ampla do contexto histórico, pois nele são acrescentados curiosidades que possam ter passado despercebido pela história ou mesmo sentimentos em relação aos acontecimentos.

Os relatos orais passam a ser valorizados pouco a pouco pelas ciências sociais, na medida em que se percebe que comportamentos, valores, emoções permanecem escondidos nos dados estatísticos. Com o tempo e com o avanço de outras disciplinas, como a lingüística, a semiótica e a antropologia, foi reconhecido que o discurso do ator social tem uma lógica própria e estrutura-se como ‘linguagem’, podendo permitir a compreensão de fenômenos sociais que escapam à observação fria e distante do pesquisador. 3

Segundo Andrew Haslam4, uma forma de registrar e preservar informações por meio de texto e da imagem, embora possa tomar 3 4

CAMARGO, A. História oral e política. In: MORAES, M.de. História oral. Rio de Janeiro: Diadorim, FINEP, 1994. HASLAM, Andrew. O livro e o designer II: como criar e produzir livros. São Paulo, 2007. 256 p.


muitas formas, é a do livro. Essa abordagem, dentro do design gráfico, é caracterizada como documentação.

A documentação é fundamental para o mundo moderno; ela preserva idéias e permite que sobrevivam a memória e o discurso humanos.5

Tendo em vista esse contexto, este projeto consiste na elaboração de um livro em que se conte a história da criação da cidade de Pedro Leopoldo, utilizando parte do material fotográfico do acervo do Arquivo Geraldo Leão que esteja relacionado à época da criação do município, de forma a ilustrar os depoimentos de moradores de Pedro Leopoldo sobre histórias e curiosidades desse período da história abordado no livro, de maneira que desperte o interesse da comunidade em geral para a preservação da história e do patrimônio cultural da cidade.

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HASLAM, Andrew. O livro e o designer II: como criar e produzir livros. São Paulo, 2007. 256 p.


PROBLEMA Projeto gráfico que apresenta parte representativa do acervo fotográfico do Arquivo Geraldo Leão no formato de um livro, de maneira a ilustrar a história da criação da cidade de Pedro Leopoldo, contada através de depoimentos de moradores da cidade que conheçam sua história, com o objetivo de despertar o interesse da comunidade dessa cidade e, também, de pessoas de outros lugares, para esse patrimônio de grande valor cultural.


OBJETIVOS Geral Apresentar parte do acervo fotográfico do Arquivo Geraldo Leão no formato de um livro, de maneira a ilustrar a história da criação da cidade de Pedro Leopoldo, contada através da história oral.

Específicos - Divulgar o acervo fotográfico do Arquivo Geraldo Leão; - Registrar e preservar a história da cidade de Pedro Leopoldo; - Dar importância para as vivências e lembranças das pessoas que vivem no município, através dos depoimentos; - Despertar o interesse da comunidade para a importância desse acervo e preservação do patrimônio cultural da cidade.


JUSTIFICATIVA O interesse pelo resgate da memória histórica da região de Pedro Leopoldo através do acervo do Arquivo Geraldo Leão se deve pela necessidade de um registro de seu material fotográfico, para que a memória da história da cidade não seja perdida. Segundo Marcos Lobato Martins6, demolições de antigas edificações, poluição dos ribeirões que cortam a cidade, economia estagnada há cerca de trinta anos e a proximidade da capital mineira, Belo Horizonte, transformando a cidade em “dormitório”, colaboram para o esquecimento e a perda da identidade histórica da cidade.

Junto com as velhas edificações, caem por terra relações sociais tradicionais, substituídas pelo individualismo típico das grandes metrópoles. O cotidiano tradicional está ferido de morte, se já não está morto. E a destruição de bens culturais facilita a perda da identidade histórica.7

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MARTINS, Marcos Lobato. Pedro Leopoldo: memória histórica. 2. ed. Pedro Leopoldo, 2006. 224 p. MARTINS, Marcos Lobato. Pedro Leopoldo: memória histórica. 2. ed. Pedro Leopoldo, 2006. 224 p.


A solução em design escolhida para fazer o registro do acervo fotográfico será a criação de um livro. Segundo Andrew Haslam8, os livros podem ser reproduzidos e publicados, permitindo que as ideias transcendam o tempo, sem restrições geográficas ou de épocas e podem ser apresentados, simultaneamente ao redor do mundo. Segundo Antonio Celso Collaro9, entre os produtos gráficos, o livro é o que detém o maior cabedal de conhecimentos, a ponto de sua história se confundir com a própria história do pensamento. Responsável pela transmissão do conhecimento, o livro foi, é e sempre será o encarregado de levar às futuras gerações o conhecimento produzido pela espécie humana.

O ponto de partida de um livro é a documentação. Em seu estado puro, ela é o manuscrito que será manipulado, reunido e organizado. A documentação também pode ser usada como a principal abordagem editorial e de design. Uma coleção de fotorreportagens, por exemplo, documenta um evento, situação ou grupo de pessoas: as fotografias são documentos visuais que um designer manipula ao longo de um livro.10

8 9 10

HASLAM, Andrew. O livro e o designer II: como criar e produzir livros. São Paulo, 2007. 256 p. COLLARO, Antonio Celso. Produção gráfica: arte e técnica da mídia impressa. São Paulo, 2007. 155 p. HASLAM, Andrew. O livro e o designer II: como criar e produzir livros. São Paulo, 2007. 256 p.


Em um momento onde se discute sobre as vantagens e desvantagens do livro impresso e o digital, a escolha do suporte do livro, ou seja, do livro impresso, físico, se deve por questões conceituais e também de acesso. Por se tratar de um livro feito para se registrar e preservar o acervo fotográfico do Arquivo Geraldo Leão, é necessário o contato físico e a relação de estima com o produto, como se fosse um álbum de fotografias antigas que se tem em casa, para sensibilizar o leitor sobre a consciência de preservação deste patrimômio cultural, que é o Arquivo. Quanto ao acesso, o livro digital está em ascensão, porém, para uma população de uma cidade pequena como Pedro Leopoldo e também para um público importante a que foi dirigido esse livro, que são os idosos, este tipo de publicação não será eficaz. Para Nízia Villaça11, professora da Escola de Comunicação da UFRJ e autora de Impresso ou Eletrônico, um dos grandes equívocos das obras que tratam da história do livro e da leitura é não fazer uma distinção entre a leitura de necessidade

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Disponível em: <http://www.estadao.com.br/arquivo/arteelazer/2003/not20030113p135. htm>. Acessado em 18 out. 2010.


e a leitura apaixonada; para a primeira, o texto eletrônico é muito apropriado, por eliminar barreiras de tempo, espaço e seleção; a leitura de fruição, no entanto, se completa no contato corporal com o livro - o que favorece, pelo menos por enquanto, o papel. Para fazer o elo entre o acervo fotográfico e a história de Pedro Leopoldo, foi escolhido o método de coleta de depoimentos de moradores do município. Para M. I. P. de Queiroz12, o relato oral tem sido, através dos séculos, a maior fonte humana de conservação e difusão do saber, ou seja, a maior fonte de dados para a ciência em geral; a palavra antecedeu o desenho e a escrita. Esta, quando inventada, não foi mais do que uma cristalização do relato oral. Sendo o acervo o maior registro da memória de Pedro Leopoldo, seu conteúdo se enriquece ao ser auxiliado pela tecnologia de produção gráfica existente. Para assim, despertar o interesse do público para a importância e preservação desse acervo.

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QUEIROZ, M. I. P. de. Relatos orais: do indizível ao dizível.Ciência e Cultura, São Paulo, v. 39, n.3, p. 272-286, mar. , 1987.


DESENVOLVIMENTO Delimitação do tema O Arquivo Geraldo Leão contém, aproximadamente, 11 mil fotos sobre a cidade de Pedro Leopoldo, que são dividas em temas e épocas. Devido ao grande material disponível, que seria inviável abordá-lo completamente por causa do prazo do projeto, foi definido por mim, com o auxílio do Sr. Geraldo Leão e de Angélica Breunig, que é gerente da Secretaria de Educação e Cultura de Pedro Leopoldo, de que seria selecionada uma parte que fosse significativa para o acervo e relevante para a população da cidade. Através de uma pesquisa histórica sobre a cidade a partir de publicações existentes, definiu-se que as fotos seriam selecionadas através de depoimentos que contariam sobre os fatores que propiciaram a criação da comunidade até a fundação da cidade. Os principais temas abordados foram a criação da Fábrica de Tecidos, a Estação Ferroviária e a Fazenda Modelo.


Seleção de depoentes e coleta de depoimentos O Sr. Geraldo Leão selecionou uma lista de moradores da cidade que poderiam discorrer sobre os temas abordados. Após uma pesquisa sobre coleta de história oral, auxiliada por Mannuella Luz, que é especialista em história oral, coletei depoimentos de 5 pessoas: Geraldo Leão dos Santos, Elza Alves Costa, Antônio Coutinho Viana, Alcindo de Oliveira e Angélica Grellmann Breunig. Um dos depoimentos foi fornecido pelo acervo do Arquivo Geraldo Leão, que foi do Elysio Alves Gonçalves Ferreira, que já faleceu. Após transcrevê-los, os textos foram passados para Lourdes Nascimento, que é formada em Letras, para revisá-los.

Tratamento das fotos Orientado por Alexandre Lopes, professor de Fotografia da FUMEC, que também forneceu e indicou materiais de pesquisa sobre tratamento fotográfico, as cópias das fotografias foram feitas


através de scanner, em alta resolução, possibilitando que as bordas originais de algumas fotos fossem mantidas e valorizadas. Não foi possível que todas as fotos recebessem uma legenda detalhada como data aproximada, formato original, suporte original, crédito do fotógrafo e localização, pois o Arquivo não registrou todas essas informações, já que a maior parte do acervo são de doações e empréstimos para cópia.

Conceituação do projeto gráfico Memórias – Histórias contadas por minha avó – Álbuns antigos de fotografias

Formato O formato escolhido foi 25,0 x 25,0 cm. O formato quadrado é diferenciado, pois quebra a monotonia formal da maior parte das


publicações com a proporção da altura maior que a largura e seu tamanho proporciona uma melhor valorização das imagens.

Grid O grid foi construído em 4 colunas para que texto e imagem possam ter maior flexibilidade de diagramação. A borda inferior é maior, sendo reservada para legendas, grafismos, olhos e respiro. 25 cm

25 cm


Tipografia A escolha da tipografia dos títulos e textos foi inspirada nos documentos da época selecionada fornecidos pelo Arquivo Geraldo Leão, onde aparecem capitulares bem desenhadas e fontes serifadas com valorização irregular de espessuras.

Spinwerad SpinweradC Royal Initialen Garnet Padrão O padrão usado foi feito a partir da foto da Antiga Igreja de Nossa Senhora da Conceição, usando os contornos da arquitetura de sua fachada.



Grafismos As legendas originais das fotos foram usadas como grafismos para enriquecer o conteúdo visual das páginas e aproximar o contato do leitor com a fotografia real do Arquivo. Detalhes vetorizados das fotografias também foram utilizados como grafismos para valorizar as formas e contornos das fotos

Paleta de cores A paleta de cores foi selecionada a partir de tons retirados das fotografias e serve para distinguir a divisão dos capítulos.


Suporte e acabamentos Capa dura com aplicação de Hot Stamping: maior resistência e durabilidade, sofisticação. Miolo impresso em papel Couché Fosco 170g/m²: qualidade de impressão das fotos, maior opacidade entre frente e verso. Inserções de papel Vegetal 120g/m² entre algumas páginas do miolo: faz referência aos antigos álbuns de fotografia e traz leveza ao conteúdo. Aplicação de verniz localizado em algumas páginas do miolo: destaque e simulação de relevo em algumas fotos.



CONSIDERAÇÕES FINAIS A documentação é fundamental para o mundo moderno, pois ela preserva idéias e permite que sobrevivam a memória e o discurso humanos. Como já indicado aqui, o registro do acervo fotográfico do Arquivo Geraldo Leão em um livro contribui para a preservação da história da cidade de Pedro Leopoldo, instigando a população a aprofundar o conhecimento que possuem sobre vários aspectos do passado da cidade, de modo a preservar o seu patrimônio cultural.


BIBLIOGRAFIA Design Editorial COLLARO, Antonio Celso. Produção gráfica: arte e técnica da mídia impressa. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. 155 p. FERLAUTO, Cláudio Augusto da Rosa. O livro da gráfica. São Paulo: Rosari, 2001. 96 p. HASLAM, Andrew. O livro e o designer II: como criar e produzir livros. São Paulo: Rosari, 2007. 256 p. HURLBURT, Allen. Layout: o design da página impressa. São Paulo: Nobel, 2002. 160 p.

Fotografia e arquivos FUNARTE. Centro de Documentação. Arquivo Fotográfico: estudo preliminar. Rio de Janeiro, 1982. 129 p.


KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo, 2002. 152 p. KOSSOY, Boris. Fotografia & História. São Paulo, 2001. 168 p.

História de Pedro Leopoldo FERREIRA, Elysio Alves Gonçalves. A verdadeira História da Origem de Pedro Leopoldo. Pedro Leopoldo, 1991. 63 p. MAIA, Andréa Casa Nova; ARRUDA, Rogério. Nos trilhos do tempo: memória da ferrovia em Pedro Leopoldo. Belo Horizonte: Mazza Edições, 2003. 160 p. MARTINS, Marcos Lobato. Pedro Leopoldo: memória histórica. 2. ed. Pedro Leopoldo, 2006. 224 p.


História Oral ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 3. ed. Rio de Janeiro, 2005. 236 p. CAMARGO, A. História oral e política. In: MORAES, M.de. História oral. Rio de Janeiro: Diadorim, FINEP, 1994. GONÇALVES, Rita de Cássia; LISBOA, Teresa Kleba. Ensaio sobre o método da história oral em sua modalidade trajetórias de vida. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext &pid=S1414-49802007000300009&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em 30 ago. 2010. QUEIROZ, M. I. P. de. Relatos orais: do indizível ao dizível. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 39, n.3, p. 272-286, mar., 1987.




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