9ª Bienal de São Paulo (1967) - Catálogo

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ISRAEL Israel apresenta à IX Bienal de São Paulo dois jovens artistas: o pintor Avigdor Arikha e o escultor Igael Tumarkin; dois temperamentos muito diferentes um do outro, duas personalidades que reagem, cada um a seu modo, aos problemas estéticos de nosso tempo. I - A VIGDOR ARIKHA, de 38 anos, possue notável carreira. Seus primeiros passos como desenhista e ilustrador foram tão brilhantes que, aos 25 anos, já havia eclipsado a maioria dos desenhistas de Israel. A inteligência e a originalidade do traço lhe eram inatas. A isso deve-se acrescentar o fervor e a virtuosidade de um ser apaixonado que sabe, no entanto, represar suas emoções por meio de uma lógica quase austera. Há um aparente dualismo na carreira artística -de Arikha: desenhista extraordinário a princípio, ilustrador original e sutil, sempre figurativo, transformou-se em pintor abstrato, desde sua chegada a Paris em 1951 .. Desenvolvendo um estilo próprio, a pintura abstrata tornou-se, para êle, meio de expressão quase exclusivo. Afastando-se cada vez mais da imagem, Arikha aproximou-se da pintura. Definiu esta transição, afirmando:

~.

"A pintura é visível' fora de sua significação. A imagem só é visível pelo seu significado. A pintura revela. A imagem lembra. .. A pintura não é vista, pois, com o mesmo olhar com que se vê a imagem. -O olhar, mal ajustado, substitue o ler ao ver e faz de uma fonte de emoção um sistema de sinais. Apaga a pintura e clareia a imagem u • Assim, Arikha optou pela pintura contra a imagem, e depois pela pintura abstrata. Esta sua conquista da pintura foi resoluta e rica em descobertas. N ela, revelou-se Arikha criador de um universo muito pessoal, o de um artista voltado para o destino de sua época. atormentado pelos perigos que ela enfrenta, mas que se recusa obstinadamente-a aceitar a fatalidade..· de um cataclisma. Uma luz interior fende as trevas de suas pinturas e as inflama: alusão a um nôvo nascimento, à dolorosa gestação de um mundo melhor. Mesmo em suas obras pintadas, quase que exclusivamente em branco e prêto, adivinha-se uma riqueza de côres e valores que se afirmam implicitamente. Estabelece-se então um diálogo, entre o espectador e o artista. através da obra que, ao mesmo tempo, é pessoal e eminentemente universal. Arikha procura sempre uma espécie de encontro entre duas realidades: a racional, quase palpável. e a emocional que provém do âmago de seu sêr esfaimado de mistério. Os mundos apolíneo e dionisíaco travam sempre feroz combate na alma dêste homem culto, sutil, nervoso, inquieto, sempre desperto e à procura da expressão adequada, aspirando; em seu fôro íntimo, por um pôrto tranquilo no qual sua' alma atormentada encontre repouso. 19


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