O Bocas 30

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30 Edição de junho de 2020

Escola Básica Santa Clara, Escolas do 1.º Ciclo e Jardins de Infância Agrupamento de Escolas Severim de Faria, Évora

Inaudito 3º período O Governo decretou o fecho de escolas no dia 13 de março devido à pandemia COVID 19. Escola fechada, aulas à distância, confinamento, Reflexões e trabalhos de alunos sobre este período de suspensão das aulas presenciais. P.4 –11

Concurso de escrita

Era uma vez no Convento - lista dos participantes e informações. P.16

O Memorial de um outro Convento por Gil Nobre—texto inédito dedicado aos professores, no âmbito do aniversário dos 40 anos da escola. P.17


Desde o dia 16 de março, quando foi decretado o fecho das escolas fruto da pandemia do Covid 19, que alunos e professores tiveram de se adaptar rapidamente a uma nova realidade: o ensino não presencial. Além de todos os constrangimentos sentidos por ambas as partes, ficou um sentimento de grande incerteza quanto ao que o futuro nos reserva. O contacto manteve-se através das novas tecnologias, mas e se essas falhassem?

Editorial ou uma carta Évora, 26 de junho de 2020

Querido aluno, Querida aluna, Nada mais apropriado do que receberes uma carta neste período singular da tua vida para contrastar com o uso diário das novas tecnologias. Imagina-te na década de 80 do século passado, em que as pessoas , quando distantes umas das outras, comunicavam por carta, por telegrama, por telefone fixo. Sim, porque o primeiro telemóvel só foi comercializado em 1984 e pesava mais de um quilo! Já alguma vez escreveste uma carta, um postal a um amigo ou um familiar? Já alguma vez abriste a caixa do correio e no meio de cartas de uma qualquer empresa que nos vem lembrar que temos contas para pagar ou fazer propaganda aos seus serviços, descobres uma carta para ti. Sim, com o teu nome e a tua morada! Se tem o teu nome, és tu que a vais abrir e mais ninguém! Vais abrir o envelope, retirar o papel e ler uma carta manuscrita. Ah! Que prazer descobrir o que o remetente tem para nos dizer, percebermos que a caligrafia é mesmo daquela pessoa, percebermos que escreveu apressadamente ou que se demorou a aperfeiçoar a letra; e receberes um postal de um amigo que foi de férias e tirou tempo para comprar o postal, escrever uma linda mensagem e ainda foi aos correios para comprar o selo e, por fim, a colocou no marco do correio. E guardarás o postal e a carta num lugar especial, no teu quarto, numa caixa, numa gaveta e quando te apetecer, poderás reler e relembrar a pessoa que te escreveu... Desafio-te, estas férias, a escrever uma carta ou um postal. Depois dir-me-ás o que achaste da experiência. Fico à espera...

Termino esta carta, desejando que nos possamos reencontrar todos em presença em setembro, mas antes, que aproveites da melhor forma o período de férias! Lê, escreve, desenha, dança, pensa e sonha MUITO! Um abraço.

Coordenação e Paginação: Olga Rocha Editorial: Olga Rocha Participaram na edição deste jornal Professores: Olga Rocha, Dália Conceição, Cidália Vinagre, Sandra Silva, Maria José Vitorino, Angélica Silva, Manuela Domingos, Cristina Caixeiro. Alunos: turmas do 9ºA, 9ºC e 9ºB, Júlia Flamino, Guilherme Pedreiro, Gil Nobre Assistente operacional: Guiomar Rodrigues 2


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ENSINO À DISTÂNCIA

Na área de Cidadania, a Professora Dália Conceição abordou o tema Direitos Humanos e solicitou aos alunos do 7º B que redigissem três comentários para cada um dos documentos abaixo indicados. Seguem os textos da aluna Júlia Flamino.

1 Curta-metragem For the birds (disponível em https://www.youtube.com/watch?v=WjoDEQqyTig) « Um por um, um bando de pequenos pássaros pousa num fio de telefone. Sentarem-se lado a lado já traz problemas suficientes, quanto mais aparecer um grande pássaro tonto a querer juntar-se a eles. Os pássaros de plumagem igual não conseguem evitar troçar dele - e a sua mentalidade de gozões acaba por se revelar constrangida no final. (…) For the birds é enganosamente simples. Veja de perto esta curta-metragem da Pixar vencedora de um Óscar.» in Pixar

« No meu ponto de vista, infelizmente, o vídeo relata alguns acontecimentos da atualidade. Os pássaros mais pequenos começaram a julgar o outro pássaro por ser diferente e, logo aí, estão errados por julgar alguém pela aparência, sem dar oportunidade ao outro pássaro de se apresentar. Mais à frente na curta-metragem, os pássaros fazem coisas más ao outro pássaro para o prejudicar, só por ele ser diferente e ser diferente não é uma coisa má, ser diferente é ser único, é teres certas capacidades que talvez os outros não tenham, porque cada um de nós tem uma capacidade que, com o tempo, descobrimos qual é. Quando os outros pássaros ficaram sem penas, o pássaro que era “gozado” gozou com eles também para eles verem que não é fácil ser julgado pelo aspeto. Porém, isso só demonstra que ele era igual aos outros, porque, assim que teve uma oportunidade, fez o mesmo que eles.»

2 Imagem dos protestos contra a morte de George Floyd « A imagem apresenta uma manifestação contra os polícias que mataram, por “defesa” (segundo eles), o cidadão Floyd e entre outros cidadãos, com um tom de pele escuro. O que os polícias fizeram é totalmente errado, não se julga ninguém muito menos se mata alguém pelo tom de pele, pela orientação sexual, pelo tipo de cabelo, pelo tamanho, pelo peso…Seja pelo que for, isso simplesmente não se faz. Apesar das nossas diferenças, as nossas lágrimas são todas transparente e todo o nosso sangue é vermelho. Não podemos distinguir ninguém por ser diferente, mas podemos distinguir pelo que cada um tem dentro de si. Não importa postar uma frase ou um apoio no Instagram, Twitter, Facebook etc. se não mudares o que tens dentro de ti, se não fizeres a diferença. E nunca penses que, por mais barulho que faças, não vale de nada, porque, como tu, pensam mais mil e mil pessoas ouvem-se. Todas as vidas importam, ninguém merece ser mais um número numa tabela ou mais um número num canal televisivo que as pessoas veem e dizem “Que pena, mais um”. Também recomendo um filme que me comoveu bastante sobre o assunto, chama-se The Hate U Give, ou seja, “o ódio que tu semeias”, o filme fala sobre uma rapariga que viu o amigo ser alvejado por um polícia e, sendo ela a única testemunha, ela quer ir a tribunal em honra do amigo, mas recebe várias chantagens para não contar o que realmente aconteceu.»

3 Citação de Nicanor Parra « Eu entendi que a frase apresentada diz que todos falam do que devem ter, mas poucos falam do que devem fazer. E a primeira coisa que devemos fazer é respeitar tudo o que devemos ter: liberdade e direito de expressão, igualdade, respeito, etc..»

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ENSINO À DISTÂNCIA

PAPOILA e ALECRIM Texto coletivo criado pelos alunos do 9º A, durante o período de confinamento. A Papoila e o Alecrim, cujos nomes sugerem primavera, cor e bom tempo, são dois adolescentes que passam este período único da pandemia, como tantos outros da sua idade, em casa. Frequentam a mesma turma de 9.º ano no Porto. Têm interesses comuns, adoram surfar e cantar, e também tocam vários instrumentos. Ele é aplicado, fala francês, ela é uma baldas, fala italiano. Dominam os dois o inglês. A Papoila é italiana, nasceu em Veneza. Chamam-lhe Papoila por causa do seu cabelo vermelho, e os seus olhos pretos. O seu nome verdadeiro é Giulia Santos. O Alecrim é um rapaz magro, alto, moreno, de olhos azuis, é muito aplicado. O pai é português, a mãe é francesa. O seu nome é Julien Alecrim. Ela veio para Portugal há pouco tempo e foi para a turma do Alecrim. No entanto, neste momento, ela preferia estar em Itália, onde podia ficar mais perto dos seus familiares devido à situação atual. Quando Giulia chegou a Portu-

gal, não conhecia ninguém e foi difícil a adaptação à sua nova vida. Na escola ela era tímida e por isso não conseguia fazer amigos

facilmente,

o

Alecrim

foi

Ilustração de Catarina Arranja

o primeiro a ir ter com ela e desde esse momento eles têm sido os melhores amigos. Tinham conversas intermináveis sobre as coisas que mais gostavam e planeavam ir juntos aos festivais de verão. Depois, aconteceu a pandemia! A pandemia não deixou de ser um obstáculo para a amizade de ambos. Afinal, é nestes momentos mais

frágeis que precisamos do apoio dos nossos amigos mais próximos. A Papoila e o Alecrim, ao fim de 2 meses de quarentena, já tinham realizado milhares de chamadas, e assim mantinham em dia as notícias um do outro.

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Por norma, logo pela manhã, ligavam um ao outro e desta forma passavam o dia “juntos” fazendo várias atividades durante esse tempo, como exercício físico, jogavam juntos, ajudavam-se em alguns trabalhos, etc. Os dois partilhavam o gosto pela música e passavam algum tempo a cantar e a tocar por videochamada. Tinham, também,

muitas saudades do surf, por isso, tentavam praticá-lo cada um na sua piscina. Estas aventuras na piscina, aliadas a uma aplicação que toda a gente usa durante a quarentena, o Tik Tok, fizeram com que ambos ficassem famosos nesta app e surgiram algumas dificuldades em lidar com a fama. Eles não gostaram de ter a sua vida exposta devido à fama e deixaram o Tik Tok de lado, e passaram a fortalecer a sua amizade até que o Alecrim começa a sentir mais do que amizade pela Papoila. Passaram-se dias e o sentimento de Alecrim por Papoila aumentava. Às vezes, ele sentia que parecia retribuído, mas outras vezes era claro que não era, mas continuava sem arranjar uma maneira de lhe dizer o que sentia. Por um lado, ele tinha medo de arriscar, pois se ela não gostasse dele da mesma forma, ela poderia acabar por afastar-se, mas por outro, como ele sentia que às vezes era retribuído, acabava por ter esperança… Alecrim não sabia o que fazer.

Depois de tanto pensar, Alecrim tomou uma decisão, ele ia dizer à Papoila aquilo que sentia mas de uma forma especial. Pôs-se então a escrever uma música onde descrevia o que sentia por ela e todos os momentos que tinham passado juntos. Ao fim de alguns dias, ele já tinha a música pronta e ia tocá-la e cantá-la na videochamada do dia a seguir. Qual não foi o seu espanto quando na manhã do dia seguinte acordou com uma notícia: "Fim do estado de emergência em Portugal". Papoila que também tinha visto esta notícia chocante, ligou logo ao Alecrim; ela queria encontrar-se com ele para matarem as saudades. Alecrim ainda agarrou na guitarra mas quando finalmente ia cantar a sua canção de amor, lembrou-se que seria ainda melhor cantá-la ao pé de Papoila, no jardim onde eles tanto gostavam de passar a tarde. Os dias passavam e Alecrim não se conseguia conter, até que se viram finalmente juntos de novo naquele belo jardim. Mas Papoila não apareceu sozinha, estava acompanhada pelo Girassol, o seu novo amigo. Alecrim não era pessoa de ficar com ciúmes facilmente mas não conseguiu evitar a sua inveja. Papoila e Girassol estavam a deixá-lo à parte das conversas, das piadas, de tudo! Alecrim já não se conseguia controlar, estava tão zangado que se foi embora, estava à espera que a Papoila fosse atrás dele para animá-lo, mas pareceu que ela não quis saber. Quando ele se acalmou e decidiu voltar ao sítio onde Girassol e Papoila estavam viu uma coisa que o surpreendeu. Papoila não estava com o Girassol porque já não gostava do Alecrim, muito pelo contrário, o Girassol estava no jardim com a Papoila para a ajudar a exprimir os sentimentos que tinha por Alecrim com uma canção que também tinha escrito. Depois da Papoila se declarar, da parte do Alecrim foi recíproco. Tiveram uma relação bastante duradoura e com uma cumplicidade que poucos alcançavam.

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ENSINO À DISTÂNCIA

Imagine you have a blog. Write an entry sharing your feelings during this quarantine. Talk about the things that stress you out and the things you do to relax at home.

The teacher Dália Conceição

During this quarantine I´m feeling pretty fine. I´ve been reading a lot and watching series. I like to spend time with my family. I almost hadn´t time for my family, but now I can enjoy being with them. But, as others, I want to leave my home and appreciate the outside world. Unfortunately this time is very difficult since we need to take more care of ourselves and our things. I hope that we´ll overtake this. Lara Saburlu - 9º C Life isn´t so pleasant during this quarantine. Not being able to see my family and friends makes me extremely upset. Not only that but also the fact that we can’t leave our house and walk around freely, is very stressful. Throughout the day, I do the tasks my teachers assign me, play computer games (either alone or with my friends), do chores, exercise and walk my dog. Francisco Santos – 9ºB

Me, that kinda strange art kid: the blog Hey there guys, Today I’ll be telling you how my quarantine is going on. As I’m in the 9th grade, next year I’ll attend another school and that wasn’t scary enough until now. With this virus there is a big possibility that my 10th grade isn’t going to be as I dreamed of so much. And that is arising in me a lot of depressing feelings and stress. As a way to avoid bad feelings I rewatch one of my favourite TV series «Friends» and I have been randomly rewatching some episodes of my favourite show «Glee» Love, Francisco Cardoso

Rita Sabino – 9º A

Inês Ferreira – 9º A 6


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ENSINO À DISTÂNCIA

Write a four-line poem which contains five of these words from the lyrics “You get what you give” by New Radicals : Miracle// Knees// Dreamers// Laugh // Fly // Heart // Friend . The teacher Dália Conceição

I have got a friend

When you have a real friend,

Who likes to dream

All the problems fly away,

And whose heart did a miracle.

His heart is full of goodness

Do you know him?

And you fall on your knees with laugh.

Margarida Palma – 9ºB

We laugh until dawn

Gabriel Camacho – 9ºA

A friend is who makes you laugh.

On our knees.

Is who helps you when you’re falling apart.

Watching sunrise as in a miracle

Make us fly like dreamers.

If you‘re down on your knees, he’ll be there Just to get you up and make you fly.

Gonçalo Cunha – 9ºA

David Varela – 9ºB

The laugh is the best part of your friend, The fly is the best part of your dream, The music is the best part of your hearing, And the love is the best part of your heart.

Marcelo Buehring – 9º C

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ENSINO À DISTÂNCIA

O aluno Guilherme Pedreiro do 5º B respondeu a um dos desafios do # EstudoEmCasa, que consistia em fazer um passaporte sobre os percursos da expansão marítima.

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ENSINO À DISTÂNCIA

No âmbito da disciplina de Português, os alunos do 9º C redigiram textos de opinião., subordinados às indicações seguintes:

1. Partindo dos versos de Fernando Pessoa «Tudo vale a pena/ Se alma não é pequena.» , o que mais vale a pena na vida ?

2. Concluído o terceiro ciclo, os alunos têm de escolher o curso para o prosseguimento de estudos no 10.º ano. Há quem defenda que é muito cedo para tomar uma decisão tão importante para o futuro dos jovens, mas também há quem considere que esse é o momento adequado.

Na minha opinião, quando fazemos algo valer a pena é porque esse “algo” é importante para nós. Para mim, o que me faz valer vale a pena na vida é o sentimento que partilho com quem me importa como, por exemplo, a família e os amigos. Quando temos um sonho e acreditamos que o podemos concretizar e nos empenhamos para o realizar, isso já por si vale a pena. Podemos concluir que quando há esforço e dedicação todas as coisas valem a pena. Lara Saburlu, 9º C

Para mim o que mais vale a pena na minha vida é ser uma pessoa muito realista e ser sempre muito simpático. Também é ter uma vida pela frente e não desperdiçá-la. Para mim o que mesmo vale a pena é ser uma pessoa honesta, sempre atento, ajudar sempre as pessoas que precisam e ir sempre à escola que é o sítio onde aprendemos tudo isto e onde aprendemos a nossa História. Daniel Salvador, 9º C

No final do 9º ano devemos escolher o rumo das nossas vidas, o curso em que iremos ingressar, uma escolha que mudará o nosso futuro. Mas será que estamos preparados para uma decisão tão importante nas nossas vidas? Muitos dizem que não estamos prontos para tal escolha, que somos muito jovens e isso pode prejudicar-nos em escolhas futuras, porém ao mesmo tempo que existem desvantagens, existem vantagens. Esta escolha vai mostrar como vai ser o futuro dali para a frente, um mundo de escolhas, onde aprenderemos com as certas e as erradas, e quanto antes começarmos a escolher melhor. Escolhendo agora, poderemos perceber o que gostamos e o que não gostamos, preparando-nos para escolher aquilo com que você se identifica mais no futuro, em qual curso da faculdade iremos seguir e no que iremos querer trabalhar. O futuro está chegando, quanto antes estivermos prontos melhor, se não aprendermos agora, então quando? A vida é cheia de quartos escuros, e só conseguimos acender a luz depois de entrar nele. Devemos começar a acender as luzes para sabermos os quartos que devemos manter à distância e aqueles onde devemos ficar. Marcelo Buehring, 9º C

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Intercâmbio entre a Escola Louise Michel, em Lussac-les-Châteaux (Poitiers - França) e a Escola Básica Santa Clara, Évora Os alunos das duas escolas mantiveram a troca de correspondência no período de confinamento. Dos alunos das turmas 9ºA e B de Santa Clara para os alunos das turmas de 3ème A, B, C da Escola Louise Michel.

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Dos alunos das turmas de 3ème A, B, C da Escola de Lussac-les-Châteaux para os alunos das turmas 9ºA e B de Santa Clara.

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No dia 20 de fevereiro realizou-se o espetáculo 50 passos para trás com os alunos do 9.º A como protagonistas.

Para mim este espetáculo foi uma experiência … - Para mim este espetáculo foi uma experiência incrível, intensa e curta. Foi uma das melhores experiências da minha vida, em que todo o trabalho e cada segundo de aulas perdidas valeu a pena. Conectou-nos ao que mais gostamos (música) de uma forma diferente da habitual (pelo menos para nós que não convivemos com estes projetos no dia a dia). Se pudesse, repetia TUDO (ensaios, discussões, nervosismo, o espetáculo em si, ...) mil vezes, porque não só as coisas positivas, mas também as coisas negativas uniram-nos enquanto turma e ajudaram-nos a crescer como pessoas e como artistas. Carolina Marques - Para mim este espetáculo foi uma experiência única pois trabalhámos todos em conjunto. Catarina Arranja - Para mim este espetáculo foi uma experiência única e incrível que nunca vou esquecer. Deu muito trabalho, houve muitas complicações e não estava perfeito mas, quando apresentamos foi perfeito e foi um momento memorável e em que todos puderam divertir-se . Tenho de agradecer a todos, principalmente às professoras Cidália e Susana que ajudaram muito e tornaram aquilo um espetáculo. Ficará para sempre na minha memória! Clara Casaca - Para mim esta experiência foi inesquecível conseguimos realizar tudo o que planeávamos naquele espetáculo. Emma Chora - Para mim este espetáculo foi uma experiência que nunca irei esquecer, porque senti união entre os colegas e tive oportunidade de mostrar uma outra parte de mim. Foi muito emocionante, gostei muito da participação das professoras e do apoio e esforço da Diretora de Turma. Obrigado a todos por tudo. Vou ter saudades deste dia. Gabriel Camacho - Para mim este espetáculo foi uma experiência incrível, em que trabalhamos muito para acontecer. Gianni Floriddia - Para mim este espetáculo foi uma ótima experiência. Uma experiência a repetir. Gonçalo Cunha - Para mim o espetáculo foi uma experiência que nos fez crescer muito a nível de grupo, fez-nos confiar em nós mesmos e nas nossas capacidades, o espetáculo foi uma experiência que nos retirou da sala de aula (ambiente normal de escola) e que nos deu vontade de acordar e ir para as aulas, porque sabíamos sempre que íamos ensaiar. Foi uma experiência única e incrível. Matilde Martins 12


- Para mim este espetáculo foi uma experiência única, que me levou a ultrapassar uma das minhas maiores vergonhas, falar para um público "grande". Rita Sabino - Para mim este espetáculo foi uma experiência incrível e única, que deu para perceber o quão unida consegue ser a nossa turma, uma experiência que não se vai esquecer, sem dúvida! Sofia Mau - Para mim este espetáculo foi uma experiência embaraçosa. Guilherme Santos - Para mim este espetáculo foi uma experiência incrível e diverti-me imenso com os meus colegas, gostava de repetir alguma coisa do género. Mesmo que não possamos ir aos Açores, acho que o trabalho e o esforço que pusemos no espetáculo e nas atividades da turma não foi em vão, pois é uma experiência que nos vai ajudar a crescer e um momento que vai marcar o resto das nossas vidas. Inês Ferreira - Para mim este espetáculo foi uma experiência espetacular, inesquecível e que vou levar para a vida. Esivemos a prepará-lo ao longo de vários meses e era uma espécie de escapatória, mesmo dentro da escola, às quatro paredes de uma sala de aula. Todos os dias que trabalhámos para o espetáculo e angariação de fundos valeram a pena, apesar de não termos realizado a viagem. Com o trabalho que fizemos para chegar a este espetáculo, ficámos a conhecermo-nos melhor uns aos outros e ficámos muito mais unidos. Tenho mesmo muito orgulho na nossa turma que sempre lutou unida para que o espetáculo corresse o melhor possível. E também tenho muito orgulho na nossa DT que sempre esteve lá para apoiar todas as nossas ideias e que nos ajudou em praticamente tudo, e em todos os professores que ajudaram a que tudo isto se pudesse realizar. Obrigada . Joana Matias - Para mim este espetáculo foi uma experiência única e inesquecível. Mostrou-nos que só conseguimos alcançar os nossos objetivos através do trabalho e da dedicação, apesar de às vezes haver acontecimentos inesperados e que se consegue resultados melhores quando trabalhamos em equipa. Para além de termos conseguido o que pretendíamos com o espetáculo (angariar dinheiro para a visita de estudo) também nos divertimos imenso e vai ser um acontecimento que nos irá sempre trazer boas recordações. Leonor Carvalho - Para mim este espetáculo foi uma experiência … Incrível, onde me diverti imenso. Não poderia ser possível realizá-lo sem a ajuda de todos os professores e alunos. Leonor Jesus - Para mim este espetáculo foi uma experiência única, e inesquecível que, apesar dos percalços que tivemos e que fazem parte, serviu para nos juntarmos e conhecermos ainda melhor enquanto turma. Temos muita sorte em ter uma turma como a nossa, unida e que alinha e se esforça para cumprirmos todos os nossos objetivos. Claro que também não teríamos conseguido realizar isto sem a melhor professora e DT . Resumindo, apesar de não termos tido a possibilidade de realizar a nossa viagem tão esperada, tudo o que fizemos desde a banca atá ao espetáculo valeu a pena, pois vivemos momentos que jamais viveremos de novo e que foram e sempre serão muito especiais. Obrigada. Luana Ferreira - Para mim este espetáculo foi uma experiência fantástica, voltava a todos os momentos que passámos por conta dele. E repetia. Madalena Peixeiro - Para mim este espetáculo foi uma experiência incrível, espetacular, ajudou-me muito a crescer, a ter espírito de turma e de equipa, a saber em quem realmente posso confiar e foi magnífico!! Experiência a repetir!! Margarida Peixe

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5 Escola Básica Santa Clara

passos para trás 9º A

EBORAE Conservatório de Música

Espetáculo apresentado no dia 20 de fevereiro de 2020, no auditório da Escola Secundária Severim de Faria

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Hino à Escola de Santa Clara

( letra para grupo coral com encenação )

(Grupo 1) Lembrar-me-ei dos pombos soltos que passeiam na cantina

Diálogo introdutório

E sei que há uma freira que habita em Santa …(todos) Clara!

Freira Abadessa: Olá raparigas! Três freiras noviças (em uníssono): Como está, irmã? Freira Abadessa: Hoje estou aborrecida … Três freiras noviças (em uníssono): E o que a faz infeliz, pode

(Grupo 2) Dizem que é ela que protege os alunos E desaparece sempre que é oportuno.

saber-se?

Freira Abadessa: Ouvi dizer que o Convento vai fechar… Três freiras noviças (em uníssono): Não queremos saber do

(Solo) Para ser franca não sei se acredito. (Solo) A tradição oral será o veredito ?

que dizem. P’ra nós será sempre Santa Clara, o nosso conven(Grupo 1) Nada poderá afastar-me de Santa….(todos) Clara!

to, a nossa escola!

(Grupo 2) Nada me fará esquecer Santa…... (todos) Clara!

Freira Abadessa: Deveras?

Canção Os intérpretes dividem-se em dois grupos vocais. (Grupo 1) Nada poderá afastar-me de Santa….(todos) Clara! (Grupo 2) Nada me fará esquecer Santa…... (todos) Clara!

(Todos) Apesar do frio e das longas escadarias

(Todos) Apesar do frio e das longas escadarias as portas fechadas como real clausura! Meu querido convento e querida escola, p‘ra sempre!

(Grupo 2) Nada poderá afastar-me de Santa…. (todos) Clara! (Grupo 1) Nada me fará esquecer Santa……(todos) Clara!

as portas fechadas como real clausura! Meu querido convento e querida escola, p‘ra sempre!

Olga Borges Rocha

(Grupo 2) Nada poderá afastar-me de Santa…. (todos) Clara! (Grupo 1) Nada me fará esquecer Santa……(todos) Clara!

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CONCURSO DE ESCRITA

CRIATIVA

Era uma vez no convento INFORMAÇÃO Fruto da suspensão das atividades escolares, o Concurso de Escrita Era uma vez no Convento foi interrompido por não estarem reunidas as condições previstas no Regulamento, nomeadamente para a constituição do júri. Assim, os promotores do concurso deliberaram pela dilação do prazo de divulgação dos vencedores que deverá ocorrer no início do ano letivo 2020-2021. São divulgados aqui os nomes dos alunos concorrentes: 2º ciclo

3ºciclo

Clara Coelho, 5ºA

Maria Carolina Caldoneiro, 6ºA

Ana Beatriz Vieira, 7ºA

Sofia Gonçalves, 5ºA

Duarte Oliveira , 6ºA

Tales Barreto, 7ºA

Inês Rebocho,5ºC

Maximilian Rebeja, 6ºA

Inês Gabriel, 7ºA

Matilde Cameiro, 5ºC

Guilherme Brálio, 6ºA

Matilde Martins ,9ºA

Maria Beatriz Rolo, 6ºA

Cristina Huang, 9ºC

Dora Fanico, 6ºA

João Euzébio, 9ºC

Isabel Veiga, 6ºA

Daniel Salvador, 9ºC

Madalena Veiga, 6ºA

Manuel Ferreira, 9ºC

Margarida Rêgo, 6ºA Maria Rita Sardinha, 6ºA Simão Ramalho, 6ºA

Tiago Pontes, 6ºA Madalena Figueiredo, 6ºA

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A propósito do aniversário dos 40 anos de existência da Escola Básica Santa Clara, Gil Nobre, que já foi aluno nesta escola, presenteou-nos com um texto da sua autoria que publicamos nesta edição do jornal. É com muito orgulho que divulgamos o texto do Gil, não apenas pela qualidade da prosa como pelas qualidades humanas que sempre lhe conhecemos , que se destacavam na relação afável que mantinha com os seus pares e com o pessoal docente e não docente.

O Memorial de um outro Convento GIL NOBRE À Escola Básica de Santa Clara, minha escola. Aos professores que a sustentam, em jeito de agradecimento.

«Azulejos da cidade, numa parede ou num banco, são ladrilhas da saudade vestida de azul e branco.» Ary dos Santos I Havia um convento, edificado justamente no meão da mui nobre cidade de Évora, de seu nome, o de Santa Clara, em homenagem àquela santidade que fundou a ordem que aí se acomodou. Sendo Évora cidade tão devota, de tantas e tão esbeltas abadias, este convento sobressaía pelo detalhe da sua estrutura maneirista, revestida de elegante mármore e airoso granito, que lhe conferiam formosura e harmonia distintas; e mais, pela persistência que tomou até cerrar os seus portões. Consta que, à data da extinção das ordens religiosas em terras portuguesas, Santa Clara foi exemplo, pela perseverança com que a derradeira monja que ainda o suportava, no píncaro dos seus noventa invernos e no limiar da sua sandice, resistiu ao tolher dos largos átrios do convento, que foi somente trucidado por cima de seu admirável e tenaz defunto, em 1903. Detratores e maledicentes apregoavam que esta ordem, a das clarissas, era mera amostra do adágio do verdadeiro português, que sempre protrai, atrasando-se sem cessar, perpetuamente. Pelo contrário! Era seguro ensinamento para aqueles que renunciam antes mesmo de pelejar. II Corria o ano de 1452, quando o então bispo dessa que hoje conhecemos por cidade-museu decidiu alçar esta sumptuosa construção, que brevemente veio a albergar a celebrada congregação feminina instituída pela santíssima Clara de Assis. As obras duraram um ápice, embora saibamos hoje que este convento, assim como Roma, não se fez num dia; antes resultou de um contínuo processo de aprimoramento, que perdurou por alguns centénios. Começadas então as majestosas obras por volta de 1450, a cargo de um mestre de pedraria do reino, sucumbiram-se as ruínas que previamente ocupavam o espaço, e por fim se começou o levantar deste ostensivo convento: ergueram-se as primeiras colunas e as robustas paredes, e nestas se alicerçando, lá se estruturou o magistral claustro, de talhe retangular, abundante em mármores de brancura intensa, de tal alvura que recordavam a própria virgindade da Santa que lhes presenteou um propósito, quase tão pura como a água que jorrava da faustosa fontícula, de simetria invejável, ao centro. O mestre que se encarregava das obras era de mestria irrefutável, em 1459 trabalhos finalizados, – um fenómeno para seu tempo! - já se miravam as madres, que muito atarefadas, mas sempre mantendo um registo sóbrio e contemplativo, percorriam os primorosos corredores daquele caprichado Convento de Santa Clara.

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III Ali, o tempo corria de forma peculiar. Os relógios de algibeira, perfeitamente dependurados à moda da época – envoltos em delgadas camadas de aguçado ouro (do italiano, como convinha); de mecanismos engenhosos, meticulosamente trabalhados por mãos de admiráveis artífices (que não permitiam aos afilados ponteiros qualquer preguiça nem qualquer pressa nas

suas corridas); prensados, nas costas, de professas representações de Clara de Assis, e de outras figuras tão adoradas nesta casa – alforjavam-nos as ditas madres nas algibeiras dos seus frondosos hábitos. Nunca ninguém que aqui tivesse ingressado tardou a cumprir o mais insignificante compromisso (à exceção do meritoso exemplo daquela que postergou o fim do convento), e tal deve-se, em grande parte, ao egrégio trabalho daqueles que construíram estes relógios, dos quais não resta sequer um exemplar; mas também à notável pontualidade e correção das que habitavam este convento, qualidades ensinadas e exigidas pelas rígidas abadessas que ao longo dos tempos aqui governaram. Porém, o tempo corria de forma peculiar em Santa Clara de Évora: como se, ao invés de correr, apenas vagueasse; porque apesar de tamanha integridade e acerto, tudo parecia mais pausado e moroso dentro dos claustros deste convento - talvez pelas ditas severidade e austeridade que pautavam a natureza envolvente.

O dia-a-dia entre estes claustros era fundado em distintas condutas e sistemáticos costumes que compunham a apregoada rotina da casa. Presenciá-lo faria, seguramente, recordar alguns ditos provindos da arraia lusitana (essa, da qual as madres do convento se resguardavam, dela conservando algum pudor), principalmente aquele que nos catequiza sobre as regalias de que gozam os madrugadores – assim grafava a sabida redação dos hábitos e tarefas conventuais, nas espessas paredes pregada, para que por todas conhecida: todos os dias acordar, pelas cinco horas e quarenta e cinco minutos, rezar uma Avé Maria

calada, e convergir em direção à nave da igreja [esta aberta pela abadessa, que se antecipava a todas as outras, empregando a única chave capaz de destrancar aquelas linguetas, a ela restrita], onde em uníssono se ora à palavra divina. A quietação com que executavam, religiosamente, cada palavra ali grafada, que se fazia transparecer na insonoridade completa dos seus movimentos, era excelsa; de tal modo que se tornava eufónico o quadrupedar de geolhos no gélido seixo que assoalhava a dita igreja, único ruído que naquelas madrugadas se ouvia. A partir daqui, era sempre igual: de hora a hora se comutavam papéis entre madres - a que às dez horas rezava, às onze cozinhava, e assim por diante. O rigor que pautava estas permutas, calculadas exaustivamente nas vésperas, era infalível; e se alguma vez, por qualquer ensejo, falhavam, depressa se punia e reprimia a responsável; isto porque a dimensão da cozinha limitava a quantidade de mão de obra que ali convinha, a um número previamente orçado, que por sua vez demarcava a quantidade de tarefas que ali cabiam em concomitância. E era também este rigor nos números que tornava quase maquinais todo e qualquer encargo anexado àquela divisão, o que se transluzia na suprema qualidade excecional das receitas ali confecionadas: quem degustasse a singular doçaria conventual que daquele espaço saía, apregoaria, de forma instantânea e inconsciente, a maior congruência - «é divinal!». De resto, o estado de saúde das freiras nos daria a conhecer os demais costumes e regras da conduta do convento. Todas as clarissas sofriam penosamente das mesmas moléstias: para além de dolorosas artrites e outras lesões do mesmo género, que nos explicam os desgastes provocados por repetidas genuflexões, acarretadas em virtude dos ofícios já descritos; todas sentiam os efeitos mais costumeiros da carência de vitamina D, que lhes era privada pelos umbrosos vestuários que lhes acobertavam as carnes, interditando-lhes a exposição solar – assim, fadiga e cansaços eram uma constante, bem como as depressões, as dores nos ossos e nas articulações, e até mesmo a queda de cabelo. Por conseguinte, não só se atulhavam com todos os açúcares e especialidades que ali se preparavam, como padeciam de mazelas graves por todos os ossos e ossinhos do corpo; em suma, não restava um dente naquelas bocas.

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IV Os primeiros anos em Santa Clara passaram com copioso portento. Das madres que para lá se encaminharam todas eram noviças, à exceção da que se ocupou do abadessado, e de mais duas ou três, mas rapidamente interiorizaram todos aqueles hábitos importados da Itália. Claro está que tudo era uma novidade por descobrir: a vida em clausura, a periodicidade das súplicas (porque algumas ingressavam para indulto de heresias) e, pois, o próprio edifício, que se encarregava de anunciar, pelas suas corpulentas e gélidas paredes, aquela vida austera e frugal - e tanta nova por descobrir ajudou certamente ao acomodamento. O problema foram os anos que os sucederam. Com a admissão de novas gerações de freiras, o convento deixou de ser o mesmo. Cessaram aquelas resplandecência e fulguração que luziam dos polidos mármores e dos dedáleos claustros em seus anos de frescura. O hábito impunha ser cumprido, e as promessas com que ingressavam as noviças perfaziamse dentro do razoável, é evidente; se assim não fosse, não tardaria a intemeratíssima Clara de Assis, ou seus representantes mundanos (que esses, ao menos, sabemos existirem), a agrilhoar portas a este convento, antecipando-se à própria História. A verdade é que, assim como sucede na vida, as novas gerações chegavam sempre piores que as anteriores, e já não se enxergava a mesma hombridade e primor em satisfazer preceitos. Já não havia a mesma paciência para todos os dias acordar, pelas cinco horas e quarenta e cinco minutos, rezar uma Ave Maria calada, e convergir em direção à nave da igreja, onde em uníssono se oraria à palavra divina, que teria havido outrora. A vida no convento era cada vez mais monótona, causadora de maior fastio. As paredes do convento mantinham a mesma espessura, mas tornavam-se cada vez mais álgidas, cada vez mais áridas, cada vez mais nuas. V Santa Clara estava perdido. Em mais de um século de existência nunca o Convento se tinha visto assim. O descuido pelo hábito era o descuido pela brancura dos mármores, que enfeitavam seus arcos e colunas de um tom grisalho, ruço como se de fumo se degradasse, plúmbeo como os olhares das que o percorriam, lúgubres e soturnos. Não tardou em espalhar-se o rumor pela arraia da mui nobre cidade, que ora tornava esta obra digna de escárnios e troças, ora a transfigurava amedrontadora aos moços e cachopos que aos seus portões se atravessavam. Mas também já pela diocese da cidade soava a notícia de que Santa Clara não honrava em suficiência a dignidade que o apadroava, tornando supérfluo o, ainda assim, imenso sumpto que despendia. Caiu no opróbrio; pela primeira vez na História, o Convento de Santa Clara em Évora prenunciava cerrar. VI Foi então que, por façanha de grandessíssimo beltrano, o viço de vetustas criações se viu medrar, com intenso verdor, num novo corpo que foi habitar o convento. De entre as novas irmãs, finalmente brochou admirável alento em suster o arcano convento, que não desvaneceu sequer quando miraram o seu estado de putrescência. Porém, não foi simples nem imediato o iterar da vida naquele espaço. Muitos desconfiavam que fosse alguma vez possível retornar ao estado casto e singelo em que se ergueu. Eram sobretudo basilares desejo e muito engenho, para que o hábito da casa se tornasse sedutor de novas vontades. VII

Ao fim de alguns anos, a ordem estava reestabelecida no convento: foi num golpe de compleição que, ao longo do tempo, se lembraram as madres de cobrir perfeitamente as densas e maciças paredes, que soíam retratar, em mau século, o

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enfado e desgosto que acertavam a vida ali dentro. Depois de bem polidos os mármores; esfregados com tal furor e afinco que se precisaram importar mais trapos de Lisboa, onde tudo chegava de mais pomposo, com aparato fausto, por já não haver nos arredores esfregalho que teimasse tamanha pertinácia; lá se resolveu em democrática assembleia, onde avultava em tom despótico a abadessa, que se cobririam os fastidiosos muros do convento com caprichoso ladrilho da insigne bem consagrada azulejaria portuguesa. Contudo, apesar de alguns anos de bonança, Santa Clara prosseguia descredibilizado pela conservadora diocese eborense, e o custo daquela criação não permitiu aprazer os desejos da boa e liberal abadessa, que da cólera e da repulsa à palavra de Deus, jazeu a partir daí prostrada nos seus aposentos, sofrendo de um atroz distúrbio da moleira. VIII Saberá o senhor se por piedade à mais velha ou por puro engenho, sucedeu que as irmãs se combinaram o melhor possível para cobrir as paredes que sustentavam Santa Clara – cada uma haveria de se responsabilizar por um azulejo, o seu, para que se encurtassem os dispêndios com o processo. Assim foi. E porque sempre se ouviu dizer que o costume faz o hábito (apesar deste não fazer o monge), para a posteridade ficou o hábito, e todas as madres que ulteriormente em Santa Clara

ingressaram deixaram nele, nas suas densas, mas anciãs paredes, sem qualquer atranco, pedaços de si, ladrilhas da saudade, vestida de azul e branco. IX Hoje, Santa Clara ainda existe. Ainda hoje, ao atravessar portas ao convento, o tempo para. Porque quem entra se fascina com os elegantes mármores e os airosos granitos, o tempo permanece vagueando do lado de dentro do convento. Mas não só a sua rebuscada arquitetura renascentista continua a fascinar quem o visita; porque os que entram são seduzidos pelos magníficos ares que o conservam intacto; pela fresca aragem que percorre languidamente os seus claustros, quebrando, por breves períodos, o seu ambiente pachorrento ao cerrar portas abruptamente de quando em vez, e que se torna cada vez mais densa encarcerada entre as altas paredes do convento; pela placidez e sossego em que vivem aqueles que ainda o habitam, sem prazos nem pressas, num ritmo invejável a este que apenas o visita; pelas estações em Santa Clara, onde os padrões da natureza se acentuam como em sítio nenhum: chilram os melros na primavera, cheira-se a cal que o adensar da brisa fresca corrompe no verão, mais o cheiro pútrido, mas incrivelmente doce, da voluptuosa queda de folhas que nos traz o outono, e o inverno traz o perturbador silêncio que é somente quebrado pelo ranger de soalhos que pavimentam parte do chão, e por intermitentes soares agudos de várias campainhas. Em Santa Clara preserva-se, assim, todo o magnífico edifício, classificado

hoje Monumento Nacional; mas também hábitos e modos de ser tão seus, um certo património imaterial. De certo, é tudo isto que o torna, hoje, único, entre os demais conventos da cidade de Évora, e foi, igualmente, todo este passado que conserva, que o transformou, justamente há 40 anos, em Escola Básica de Santa Clara, onde se vive intensamente e de forma singular o presente, contando a História como ninguém, impedido que pereça, sempre de olho no horizonte, para que o espírito criativo e sonhador prevaleça. X Hoje, Santa Clara é o convento que se tornou escola. Hoje, tem quarenta anos de alçada naquele convento a Escola Básica de Santa Clara. E ainda hoje lá estão, as densas paredes que alicerçam o majestoso edifício e permitem que se mantenha vivo, herdeiro de seu património, mas em constante renovação. Hoje, as paredes estão preenchidas de inerente entendi-

mento e de tanta emoção quanto a que cabe esmaltada no que começou por ser um ato de cortejo. Porém, há sempre espaço para mais um, porque todos os que por lá passam deixam o seu azulejo.

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