Encontro com o Boca-de-Ouro
Texto: Roberto Beltrão / Ilustração*: Fábio Rafael *Feita originalmente para o livro “Malassombramentos: os arquivos secretos d’O Recife Assombrado”
O Boca-de-Ouro é um ser misterioso que, sob as vestes de boêmio, esconde um misto de zumbi e demônio. Gilberto Freyre cita, no livro “Assombrações do Recife Velho”, que essa visagem não era exclusiva do Recife, tendo também sido registrada em outras cidades do Brasil. É uma assombração cujas primeiras aparições datam do início do século XX. Nas horas mortas, aborda caminhantes solitários que vagam pelas ruas desertas. E sempre pede fogo a esses desavisados. Talvez seja alma penada de um malandro que cometeu todos os pecados da boemia; namorou muitas mulheres, apostou todo dinheiro em jogos de azar e bebeu além da conta. Ou talvez seja a encarnação de um espírito maligno, que tanto fascina com seu figurino impecável e seus dentes de ouro, quanto provoca repulsa com sua face carcomida de cadáver. Ao que parece, o Boca-de-Ouro prefere atormentar homens que buscam aventuras ou estão simplesmente perdidos na noite. E enquanto a vítima estiver consciente ele não para de persegui-la. Não adianta correr, não adianta fugir. A assombração sempre reaparece à frente do coitado até que o pânico e a exaustão o façam desfalecer. Referências bibliográficas: BELTRÃO, Roberto. Estranhos Mistérios d’O Recife Assombrado. Recife: ed. Bagaço, 2008. FREYRE, Gilberto. Assombrações do Recife Velho: algumas notas históricas e outras tantas folclóricas em torno do sobrenatural no passado recifense.3. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987.
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