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Rádio Nove de Julho, ecoando a resistência popular

A Rádio Nove de Julho, da Arquidiocese de São Paulo, nasceu em 1953 e teve grande participação na luta contra o regime militar, apoiando a resistência popular, denunciando prisões políticas, torturas, desaparecimento de pessoas.

No dia 30 de setembro de 1973, sua concessão não foi renovada e seus transmissores foram lacrados. Para o monsenhor Dario Benedito Bevilacqua, porta-voz da Arquidiocese de São Paulo e diretor da rádio, “esse gesto arbitrário do governo ditatorial foi, segundo os analistas da época, uma tentativa de silenciar a igreja, pois Dom Paulo Evaristo Arns já representava para todo o Brasil uma voz que lutava pela liberdade, contra a tortura. Isso desagradava profundamente o regime militar”. Bevilacqua ressalta que “não havia nenhuma razão legal para essa punição”.

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A importância da Nove de Julho édestacada por Dom Paulo, que considera a rádio, tal como é hoje, “um instrumento de comunicação insuperável. Soube que tem um programa com 500 mil ouvintes. Onde é que você, na vida, pode falar para tantas pessoas?”.

Depois de muita luta para a devolução da rádio, o então presidente Fernando Henrique Cardoso assinou um decreto para sua reabertura em 1996. Mas a Nove de Julho voltou a funcionar efetivamente apenas em outubro de 1999, quando Dario Bevilacqua foi nomeado por Dom Paulo para ser diretor da rádio.

_ Qual é a principal característica democrática da Nove de Julho?

Uma das características da rádio é que o ouvinte fala, participa. Existe a preocupação de que suas opiniões possam ser manifestadas. Agora, temos uma linha, uma filosofia. A visão democrática não significa que deva ceder a rádio para pessoas que são contra a democracia, por exemplo. Entendo democracia como valorização da pessoa humana, então precisamos de uma rádio que respeite os direitos das pessoas.

_ O que a rádio, como rádio católica, defende?

A justiça, a verdade e o amor, porque são esses os valores do evangelho. O fato de ser uma rádio católica não significa que ela reze o dia inteiro. A oração é importante, temos alguns momentos, como a transmissão da missa, a reza do terço. Mas temos programas jornalísticos, o programa Jornal dos Trabalhadores, feito por uma equipe de profissionais de jornalismo, onde se procura transmitir os acontecimentos a partir da ótica do trabalhador. Tem duração de uma hora e é feito, atualmente, em parceira com a Central Única dos Trabalhadores – a CUT. Cada vez mais os católicos precisam marcar sua presença no mundo da comunicação.

_ Qual o papel da igreja na comunicação nos dias atuais? Há inimigos a serem combatidos hoje, a exemplo do que ocorria no trabalho da rádio nas décadas de 1960 e 1970 com a ditadura militar?

Hoje, os grandes inimigos são os inimigos da pessoa humana. A igreja tem como missão defender a pessoa humana, a salvação da pessoa humana e fazer com que não viva na exclusão. Existem grandes formas de exclusão que são inimigas da igreja, por exemplo, a necessidade de educação de milhares e milhares de brasileiros analfabetos. Claro que em certos momentos a falta de liberdade era uma grande inimiga da igreja, mas não era a única. Talvez no tempo da ditadura essa falta de liberdade tenha se manifestado de uma forma mais violenta e a igreja então se manifestou contra. Hoje, em grande parte a comunicação está a serviço do mercado, e esse não valoriza a pessoa humana, pelo contrário, em sua maioria das vezes valoriza o produto e o lucro. Os comunicadores devem estar presentes na comunicação para mostrar a importância do valor fundamental da pessoa humana no processo de comunicação.

[história] Rádio Nove de Julho [onde e quando] São Paulo (SP),de 1953 a 2005 [quem conta] Dario Bevilacqua [entrevistas realizadas] Setembro de 2004