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Tocantins: novo estado, horizonte a construir

A luta pela criação do estado do Tocantins foi durante décadas a pauta principal dos veículos de comunicação existentes no antigo Norte de Goiás. Um desejo amparado pela imprensa, que resistiu, inclusive, ao período da ditadura, momento em que há uma ausência de cobertura sobre temas regionais polêmicos, como a Guerrilha do Araguaia, os conflitos de terra do Norte, os grandes projetos para a Amazônia, entre outros. Como se os principais veículos da imprensa regional estivessem preocupados em defender apenas os interesses locais, inclusive respaldando os movimentos políticos e sociais que visavam a fortalecer a região Norte goiana e também aqueles que retomavam periodicamente a pauta do ideal separatista.

A década de 1970 foi um “período morno” para a imprensa escrita da região, que assistia ao aparecimento de outros veículos de comunicação: a televisão e o rádio. Diferente de outras regiões do País, no Tocantins, depois dos jornais impressos veio antes a televisão e, só por último, a instalação de emissoras de rádio, o que se daria no final da década de 1970 e durante os anos 80. Ao passo que alguns jornais foram extintos, outros interromperam a circulação e poucos mantiveram suas atividades, enquanto a televisão se impunha.

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A partir da criação oficial do estado do Tocantins, em 1988, a imprensa da região, que antes atuava como elemento aglutinador de ações para a separação do Norte de Goiás, adotou tímida atuação frente aos problemas sociais do novo estado, que enfrentava condições precárias de saúde, educação e transporte.

Por outro lado, um dos elementos que contribuiu, de certa forma, para a democratização da região foi o próprio processo de implantação do estado, que possibilitou um impulso no desenvolvimento local, com a melhoria dos meios de transporte, o acesso às novas tecnologias e aos meios de produção, trazendo à população um acesso às informações menos restrito.

Muito recentemente, principalmente a partir de 1997, foi criado o curso de Comunicação Social na Universidade do Tocantins (Unitins) que, após muita luta da sociedade local contra a privatização da instituição, foi transformada na Universidade Federal do Tocantins (UFT). Criado para suprir a demanda de profissionais da área de comunicação no estado, o curso foi responsável pelo início da discussão sobre democratização da comunicação na região, além de ser ponto, ainda que muito pequeno, de conscientização crítica sobre a atuação da imprensa regional.

O atual coordenador do curso de comunicação da UFT, Fábio D’Abadia, acredita que a universidade é fundamental como celeiro para defender o que ele chama de “utopia realista” dos comunicólogos. “Acredito muito nessa nova geração de jornalistas que vem surgindo no estado, que faráa diferença necessária na mídia local”.

MOVIMENTOS SOCIAIS NA MÍDIA

No início da década de 90, os movimentos sociais começam a surgir no Tocantins. No entanto, as iniciativas são poucas e praticamente não noticiadas pela imprensa, sobrevivendo à margem das instituições oficiais. Um dos primeiros movimentos sociais do Tocantins surgiu ainda na década de 1980, de mulheres quebradeiras de coco-babaçu do Bico do Papagaio (Norte do estado, junto ao Maranhão e Pará), que originou a organização dessas mulheres em uma entidade reconhecida internacionalmente, a Associação de Mulheres do Bico do Papagaio (Asmubip). Aregião também testemunhou o trabalho de mobilização realizado pelo padre Josimo, um dos principais expoentes da Teologia da Libertação na época. Josimo foi um dos fundadores do PT e, por seu envolvimento com as lutas sociais, acabou assassinado por pessoas ligadas ao latifúndio na região. Apesar de seu reconhecimento, a Asmubip, por sua vez, só começou a ser retratada pela mídia local em 2003, sendo pouco ainda conhecida na região.

Exemplo bem diferente de relação entre movimento social e imprensa tocantinense ocorreu com a organização não governamental Casa 8 de Março. Criada em 1998, a ONG surgiu com o objetivo de prestar assistência a mulheres vítimas de violência física,

psicológica e sexual, além de orientação a profissionais do sexo. Por ser o primeiro movimento feminista do estado, a Casa conseguiu pautar a imprensa local. Consciente do papel da importância da mídia para a divulgação dos trabalhos dos movimentos sociais, a Casa 8 de Março é uma das poucas organizações do Tocantins que busca trabalhar o tema formação para a mídia junto a atividades desenvolvidas com as mulheres atendidas. Além disso, a Casa 8 de Março é integrante da Rede de Mulheres do Rádio e pleiteia uma concessão de rádio comunitária.

[com reportagem de] LAILTON ALVES DA COSTA é jornalista, pós-graduado em arqueologia pela USP e professor de jornalismo do Ceulp-Ulbra (Centro de Ensino Luterano de Palmas da Universidade Luterana Brasileira) LUCAS MILHOMENS é jornalista. Trabalha atualmente como técnico em comunicação do Incra no Rio Grande do Norte e integra o Intervozes SAMARA PEREIRA MARTINS é jornalista, formada em comunicação pela Universidade Federal do Tocantins VIRGÍNIA DE FIGUEIREDO MAGRIN é jornalista, formada em comunicação pela Universidade Federal do Tocantins e integrante do Intervozes

[história] Contexto Tocantins [onde e quando] Tocantins,de 1960 a 2005,especialmente 1970 a 1989 [quem conta] Bernardete Aparecida Ferreira,Edivaldo Rodrigues,Fábio D’Abadia,João Lino Cavalcante,Jocycléia Santana,Maria Josée NapoleãoAraújo [entrevistas realizadas] Março a Julho de 2004