Os sete - andre vianco

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parte de baixo uma palavra conhecida e de grande utilidade para a situação: ABRIR. Sorriu, liberando no canto direito da boca um filete de sangue vermelho-vivo. Desceu a mão até a jóia quadrada e piscante. Quando os dedos, de maneira delicada, alcançaram o quadrado verde, percebeu que a peça, a jóia, cedia à pressão. Sua mente iluminou-se. Aquilo era realmente um dispositivo. Forçou levemente até onde ela não oferecia resistência. Quando ele parou, aquela estranha luz verde deixou de piscar, mantendo-se permanentemente acesa. A caixa emitiu um ruído. Um som curto e estridente. Que coisa maluca era aquela? Logo acima da jóia verde um retângulo escuro iluminou-se. Letras feitas de uma tinta desconhecida andavam pelo retângulo aceso. Inverno chegou a espantar-se. Que bruxaria era aquela? Aquilo não era feito de papel, e nenhum intelectual imprimia as letras naquele espaço iluminado. Os humanos eram mais que humanos agora. Começavam a se parecer com bruxos capazes de truques impensáveis. Passada a surpresa inicial, Inverno tentou desvendar as letras mágicas. Sentiu-se grato ao perceber que naquela terra os humanos usavam a língua portuguesa nos escritos. Seus olhos sobrenaturais vagaram pela inscrição: PARA ABRIR, PRESSIONE O BOTÃO VERDE MAIS UMA VEZ. Então aquela jóia da cor das esmeraldas era um botão! Inverno voltou a erguer a mão. Um dos dedos foi de encontro ao botão verde, afundando-o ainda mais. Ao primeiro toque, delicado como o de uma mulher, o botão recusou-se a ceder. Teve medo de empregar sua força sobrenatural. Poderia danificar a engenhoca e selar o irmão em definitivo. Passou a mão pelo rosto, percebendo o filete de sangue. Voltou ao botão, empurrando-o com força. Dessa vez ele cedeu, afundando-se ainda mais naquela tampa estranha. As letras mágicas desapareceram sem que ninguém viesse tocá-las. Os olhos do vampiro arregalaram-se, esperando por mais alguma mensagem bruxesca. ABRINDO. — anunciou o painel iluminado. Mais um ruído curto e estridente foi produzido pela caixa, e, depois de uma seqüência de sons metálicos, a porta deslizou sozinha, deixando o corpo do irmão descoberto. Inverno voltou a sorrir. Deveria agora reintroduzi-lo ao mundo dos despertos. Deveria agora devolvê-lo à própria maldição. A porta parou. Uma névoa branda havia se formado, desaparecendo agora completamente, deixando o corpo do espécime exposto ao frio avassalador, protegido apenas pela roupa antiga e esfarrapada. O apoio da caixa fazia com que o espécime seco e morto estivesse um palmo mais alto que Inverno, prejudicando-o em seu ritual. Inverno retirou o irmão de dentro da caixa metálica, deitando-o


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