Princesa do Deserto - Sandra Marton

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Princesa do Deserto The Sheikh's Defiant Bride

Sandra Marton Sheiks & Magnatas 01

Ela dará ao sheik um herdeiro. Mas se tornará sua esposa? O príncipe herdeiro de Dubaac precisava de um filho, e o dever lhe exigia a escolha de uma esposa que lhe obedecesse dia e noite. Porém, por uma artimanha do destino, Madison Whitney engravidou de Tariq! Mas ela certamente não é uma mulher obediente... Por isso, para conquistá-la e reivindicar seu filho, Tariq não hesitará em seduzi-la... e até mesmo seqüestrá-la!

Digitalização: Simone R. Revisão: Cris Pacheco


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Querida leitora, Ao fazer uma inseminação artificial, Madison Whitney jamais imaginou que, pouco tempo depois, fosse ter à sua porta um sheik alto, moreno, sedutor... e furioso. Tariq ai Sayf reivindicaria seu filho, mesmo que sua concepção tivesse sido um acidente. A solução ideal era o casamento, que resguardaria sua honra e protegeria a linhagem real. Ela, no entanto, não estava disposta a ceder a ele, um homem retrógrado, com uma visão tão machista e limitada do mundo. Tariq precisaria fazer melhor que isso e seduzir Madison lhe parecia uma excelente forma de começar... Equipe Editorial Harlequin Books

PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.VJS.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE SHEIKH’S DEFIANT BRIDE Copyright © 2008 by Sandra Marton Originalmente publicado em 2008 por Mills & Boon Modem Romance Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica: ABR£U'S SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654/2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11)2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 21) 2195-3186 Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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PRÓLOGO Reino de Dubaac, início do verão O sol inundava o azul-claro do céu como uma torrente de ouro derretido. Sob seus raios inclementes, um pequeno grupo de homens a cavalo permanecia imóvel, cercado pelo infinito silêncio do deserto. Todos fitavam o cavaleiro afastado dos demais e o açor encapuzado, cujas garras letais se fechavam ao redor de sua luva de couro. Finalmente, um dos homens aproximou-se calmamente em seu cavalo e parou ao lado dele. — Está na hora, Tariq — disse o homem em voz baixa. O homem chamado Tariq assentiu com a cabeça. — Eu sei. Ele sabia mesmo. Estava na hora. Seu pai tinha razão, mas, de alguma forma, aquela última homenagem ao irmão morto, Sharif, tornara-se tão torturante quanto o funeral. Quem diria que um costume tão antigo seria tão doloroso? Tariq crescera em Dubaac, mas, depois, vivera muitos anos longe das Nações. Era um homem bem educado, cosmopolita, moderno, e aquele era apenas um gesto simbólico... — Tariq? Ele balançou a cabeça e levantou o braço. O falcão se agitou, ansioso, e esperou que lhe tirassem o capuz. Em vez disso, Tariq soltou as correias do pássaro. Os minúsculos sinos que enfeitavam as tiras de couro macio amarradas às patas da ave tilintaram ao cair na areia. Após uma breve hesitação, Tariq tirou o capuz do falcão e o jogou de lado. Pela primeira vez, desde que fora capturado e treinado, o falcão estava totalmente livre. Tariq ergueu o rosto para o céu. Seu perfil tinha a mesma pujante nobreza do falcão. — Sharif, meu irmão — disse em voz rouca. — Eu lhe envio Bashashar: que vocês possam voar juntos para sempre na vastidão do céu de nossa pátria. Após um outro momento de hesitação, ele elevou o braço. O falcão abriu suas poderosas asas, soltou o punho enluvado de Tariq e, sem hesitar, voou na direção do sol. Por um momento, ninguém se moveu ou disse algo. O sultão pigarreou. — Está feito — resmungou. Tariq assentiu e manteve o olhar no céu, apesar de o falcão já ter desaparecido de vista. — Sim, pai. — Seu irmão está em paz. Estaria mesmo? Tariq gostaria de pensar que sim, mas a morte súbita de Sharif ainda era muito recente. Seu avião caíra durante um vôo de rotina e levara dias até encontrarem o que restara de Sharif após a queda e o incêndio que se seguiu.

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— Ele era um bom filho — disse o sultão, sereno. Tariq concordou. — Um dia ele guiaria nosso povo com sabedoria. Agora ele se foi, precisamos reavaliar nossos planos para o futuro. Um músculo da mandíbula de Tariq se contraiu. Ele já esperava por isso, mas não achava que seria tão imediato. Mas, afinal, por que adiar algo inevitável? — Compreendo, pai. O sultão suspirou. — Não temos tempo a perder, meu filho. Tariq olhou para o pai, alarmado. — Você está doente? — Só se velhice for doença — disse o sultão, imperturbável. — Mas a morte de Sharif é uma prova, se é que precisamos de uma, de que nossas vidas são governadas por Kismet. Agora você é meu herdeiro, Tariq. Tremo só de pensar, mas se algo lhe acontecer... Não precisava dizer mais nada. O peso da sucessão caíra sobre Tariq, e para garantir a continuidade de uma sucessão ininterrupta de líderes que se mantivera por séculos ele agora tinha o dever de se casar e ter um filho. Se ao menos Sharif tivesse casado e tido filhos, se ainda estivesse vivo, pensou Tariq ao sentir o ardor estranho das lágrimas em seus olhos acinzentados. — Pense no que sempre aconteceu às Nações quando houve algum problema de sucessão — disse o sultão, enganado quanto às razões do silêncio de Tariq. — E isso que você deseja para nosso povo? Tariq pigarreou. — Não precisa me convencer, pai — disse ele, secamente. — Cumprirei meu dever. O sultão deu um leve sorriso. — Ótimo. Agora venha. Vamos voltar ao palácio e celebrar a vida de seu irmão. — Vá com os outros. Eu... quero ficar um tempo sozinho. O sultão fez um sinal para seus homens. Partiram como tinham chegado: em fila e em silêncio respeitoso. Tariq desmontou, acariciou o pescoço do cavalo e olhou para o céu. — Uma esposa, Sharif — disse, baixinho. — É o que preciso encontrar, por sua causa. — Ele sorriu. Se o irmão pudesse ouvi-lo, entenderia aquele tipo de conversa que mantinham desde que eram meninos. — Como é que vou fazer? — O vento sussurrou em resposta. — Devo deixar que o pai e o conselho escolham minha noiva? Você sabe quem seria. Abra, que me mataria de tédio ou Lilah, que logo estará mais pesada que eu. — O vento sussurrou novamente. — Um homem tem o direito de escolher sua noiva. — O cavalo resfolegou e bateu a pata na areia. — Onde vou encontrá-la, Sharif? Aqui, nas Nações? Nos Estados Unidos? O que acha? Claro que Sharif não poderia responder, nem precisava. Tariq sabia o que ele teria dito. A esposa perfeita não seria norte-americana. Havia dois tipos de mulheres norte-americanas: as rateis, interessadas em superficialidades; e as inteligentes, que cuspiam o fogo e a fumaça da igualdade. Nenhuma das duas serviria. Claro que ele queria uma esposa atraente, mas eram necessários outros requisitos: ela deveria ter um temperamento agradável, ser capaz de conversar de maneira apropriada com as Projeto Revisoras

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pessoas com quem ele se relacionava e nunca provocar discussões. Em outras palavras: a mulher perfeita entenderia seu papel de esposa e jamais reivindicaria igualdade. O homem que um dia ocuparia o trono precisava de uma mulher com tais qualidades, o tipo de mulher que agradaria a qualquer homem. Ele deveria procurá-la entre seu próprio povo. Tariq fora educado, vivera e trabalhara nos Estados Unidos, mas a partir de agora seu estilo de vida seguiria os costumes de Dubaac, onde um homem comanda sua própria casa e sua esposa. Um grito áspero atravessou o deserto. Tariq olhou para o céu e viu Bashashar, que planava muito acima de sua cabeça. Alguns diriam que era um presságio. Tariq não acreditava em presságios, mas, quanto mais pensava em encontrar uma noiva, mais se convencia de que deveria restringir sua busca a Dubaac, e, se necessário, às outras Nações. O cavalo encostou o focinho no ombro de Tariq, que agarrou as rédeas e o montou. Estava resolvido. Ficaria uma semana em Dubaac, talvez duas, não mais. Afinal, não poderia ser tão difícil encontrar uma esposa adequada.

CAPÍTULO UM Nova York, dois meses depois Era raro que Sua Excelência, o sheik Tariq ai Sayf, príncipe herdeiro do trono de Dubaac, se enganasse. Jamais, quando se tratava de negócios. Mesmo seus adversários, que o julgavam jovem demais e que haviam previsto seu fracasso ao assumir a direção do Banco Real de Dubaac, em Nova York, quatro anos antes, tinham que admitir que o banco prosperara sob seu comando. Ele também raramente se enganava em sua vida particular. Claro, uma ou outra amante ocasional chorara e o chamara de miserável insensível no final de um relacionamento, mas não por sua culpa. Ele sempre fora honesto, talvez franco demais. "Para sempre" não lhe interessava, fazia questão de esclarecer às mulheres. Para sempre significava uma esposa, casamento, filhos, algo para o futuro... Entretanto, o futuro chegara, e sob o céu quente do deserto de sua terra natal ele dissera a si mesmo que encontraria uma esposa em uma semana — duas, no máximo. Afinal, não deveria ser difícil. Parado diante da parede de vidro de seu enorme escritório, Tariq admirou o rio Hudson, ao sul de Manhattan, e fez uma careta. Não fora difícil, fora impossível. — Idiota — resmungou por entre os dentes. As duas semanas haviam se transformado em três, depois, em quatro. Seu pai promovera um elegante jantar para as mais nobres famílias do reino que tivessem uma filha solteira para lhe apresentar. Tariq achara algum defeito em cada uma. Em seguida, o pai promovera um jantar para as famílias mais nobres de todas as Nações. Tariq se arrepiava ao recordar as jovens em fila para conhecê-lo, todas cientes da razão de estar ali... Ele as cumprimentara, beijara suas mãos, conversara um pouco e Projeto Revisoras

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as vira balbuciar e corar, sem jamais encará-lo porque isso seria inadmissível para uma moça de boa reputação. De repente, ocorrera-lhe que escolhia cavalos da mesma maneira, e a partir de então era assim que pensava naquelas jovens: como éguas que esperavam docilmente ser escolhidas pelo garanhão. — E então? — perguntara o pai, depois do segundo jantar. — De qual delas você gostou? De nenhuma. Eram muito altas ou baixas, muito magras ou gordas. Falavam demais ou não falavam. Eram introvertidas ou extrovertidas... Frustrado, zangado consigo mesmo por falhar em sua missão, Tariq voltara para Nova York havia um mês. Talvez estivesse enganado a respeito das norte-americanas. Quem sabe, poderia encontrar ali uma mulher que preenchesse seus requisitos? Pensando bem, ele esquecera de alguns aspectos favoráveis. Em geral, as norte-americanas eram atraentes. Muito sol, aparelho nos dentes na infância, muita vitamina e cálcio. Isso contava. Eram sociáveis, gostavam de festas, conversavam sobre assuntos divertidos, não provocavam discussões. Melhor: encantavam-se com qualquer título. As jovens que conhecera seriam capazes de tudo para fisgar um marido de sangue azul. Claro, no passado, quanto mais elas demonstravam interesse, mais rápido ele fugia... Agora, quanto maior o interesse da pretendente em alguém da realeza, maior seria a vantagem. Não faria mal expandir seu campo de busca, procurar em Nova York e ver o que encontraria. A resposta fora: nada. Tariq aceitara vários convites para velejar, para festas em Connecticut, eventos beneficentes nos Hamptons. Saíra com inúmeras mulheres para jantar, ir ao teatro ou a concertos no Central Park. Saíra com tantas mulheres que depois de algum tempo se arriscava a chamá-las pelo nome errado. Onde isso o levara? — A lugar nenhum — disse em voz alta, melancólico. Não estava mais perto de encontrar uma pretendente do que estivera há dois meses. Assim como acontecera em sua terra natal, as mulheres exageravam em tudo, inclusive em agradá-lo. Nada de manter olhos baixos nos Estados Unidos, mas a intenção era a mesma. Sim, Alteza. Claro, Alteza. Ah, concordo totalmente, Alteza. Maldição! Será que ele tinha uma placa pendurada no pescoço anunciando que procurava uma esposa? Não que ele não quisesse uma esposa submissa. Afinal, um dia seria o líder de seu povo. Uma esposa que não demonstrasse respeito não lhe serviria. Tariq semicerrou os olhos. Então, por que, toda vez que uma candidata lhe parecia bastante atraente — apesar de nenhuma corresponder ao tipo físico que ele desejava — ele a submetia a uma série de testes estúpidos? Contava uma piada sem graça, fazia comentários tolos sobre os problemas do mundo... Não precisava esperar muito. Logo a mulher que ele discretamente avaliava soltava uma gargalhada ou sacudia o penteado rebuscado, como uma boneca de corda. Ele, então, olhava o relógio e dizia: — Nossa, veja a hora. Não percebi que era tão tarde... Ainda por cima — não que ele fosse puritano —, a maioria era supersexuada. Não exatamente sensual, mas óbvia, esta era a palavra. Um homem deseja uma esposa que aprecie o sexo, mas também quer que ela seja discreta. Ele sabia que este era um Projeto Revisoras

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conceito sexista e chauvinista, mas... Mas, por Ishtar, ele se enfiara num buraco sem saída. Talvez por isso, algumas semanas antes, ao jantar com seus melhores amigos, ele acabara comentando as dificuldades de sua tarefa. Khalil e Salim ouviram, impassíveis. Depois, entreolharam-se. — Ele está procurando uma esposa — disse Salim, solenemente. — Mas não consegue encontrar — Khalil comentou, no mesmo tom. Os lábios de Salim se contorceram. Os de Khalil também. E os dois caíram na gargalhada. — O garanhão do Saara. — Khalil perdeu o fôlego. — Lembra quando aquela garota o chamou assim em Harvard? — E ele não consegue encontrar uma esposa — disse Salim. E os dois se desmancharam de rir. Tariq levantou. — Vocês acham engraçado? — disse ele, furioso. — Esperem até que tenham que se casar! — Não por muitos e muitos anos — respondeu Khalil. — Mas, quando chegar a hora, vou fazer tudo às antigas. Vou deixar que meu pai resolva por mim. O casamento de um príncipe não tem nada a ver com romance. Trata-se de dever. Tariq suspirou e olhou pela janela do escritório. Era verdade. Então, por que ele demorava tanto a decidir? Seu irmão se fora. Seu pai já não era jovem. E se algo acontecesse com seu pai, ou com ele mesmo? Tudo era possível. Sem um herdeiro para o trono, Dubaac se tornaria um caos. Era algo que ele não deixaria acontecer... Alguém bateu na porta. Tariq se voltou e viu sua assistente. — O jornal de economia das 17h, na CNN, já começou, senhor. Deseja assisti-lo? Ele a olhou sem expressão. — Para ver se a MicroTech vai anunciar sua nova aquisição...? Sem esposa, sem cabeça, pensou Tariq, sombrio. — Obrigado, Eleanor. Boa tarde. Vejo você amanhã. Tariq sentou-se à sua mesa e ligou a televisão. Diante dele surgiu a imagem estereotipada do que deveria ser um escritório. Paredes claras, piso escuro, uma longa mesa atrás da qual se sentava um homem de meia-idade, vestido num terno azulmarinho, encarando outros três homens de meia-idade em ternos azul-marinho... E uma mulher. Ela também vestia um terno azul-marinho, mas a semelhança terminava ali. Os olhos de Tariq se estreitaram. Seria difícil dizer a idade dela por trás dos enormes óculos de aro de tartaruga que lhe davam uma aparência severa, assim como os cabelos louro-dourados, presos na nuca. Ela sentava muito reta na cadeira, com as mãos no colo e as pernas cruzadas. Lindas pernas! Longas, esbeltas, bem torneadas... Tariq sentiu uma pontada de desejo nas entranhas. Ele se viu levantando aquela mulher da cadeira, soltando-lhe os cabelos, tirando-lhe os óculos para constatar se era apenas atraente ou perturbadoramente linda... Maldição! Ele não costumava fantasiar com mulheres, ainda mais desconhecidas. Sua busca por uma esposa o Projeto Revisoras

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reduzira a isso? A desejar uma mulher que via na televisão? Uma mulher cujo nome ignorava? Era resultado do celibato: há dois meses não tinha contato com uma mulher. Pensara que seria melhor não se deixar influenciar pela perícia de uma mulher na cama enquanto procurava uma esposa. A idéia lhe parecera ótima, e era. Tudo o que ele precisava era parar de fantasiar como um estudante. Desviou os olhos da imagem da mulher. O apresentador do programa, o executivo sentado diante dela, falava. — ... verdade que a MicroTech adquiriu o controle acionário da FutureBorn? O mais roliço dos executivos assentiu com a cabeça. — É verdade. Acreditamos que a FutureBorn representa o futuro, sem trocadilho — acrescentou, com um sorriso. Os dois homens ao seu lado riram com aprovação. A moça não reagiu. — Veja, Jay. Quanto mais as pessoas adiarem o nascimento de filhos, mais as novas técnicas da FutureBorn se tornarão importantes. — Mas a FutureBorn não está num mercado bastante disputado? — Eu diria que sim. A inseminação artificial é usada há muito tempo, mas as novas técnicas da FutureBorn... Talvez nossa diretora de Marketing possa explicar melhor. Todos olharam para a mulher. Diretora de Marketing, pensou Tariq, levantando a sobrancelha. Um título importante. Ela o merecera ou será que o conseguira dormindo com alguém? Ele estava nos negócios há tempo suficiente para saber que tais coisas aconteciam. Ela olhou para a câmera. Direto para ele, disseram-lhe suas entranhas, apesar de ele saber que era ridículo. — Vou tentar. — A voz dela era suave, quase rouca. Tariq tentou se concentrar no que ela dizia, mas estava ocupado demais admirando-a. — ... em outras palavras, absolutamente perfeito para armazenar o esperma. Tariq se assustou. O que ela acabara de dizer? — Poderia explicar, por favor, srta. Whitney? Tariq agradeceu intimamente ao apresentador pela pergunta. Com certeza, a mulher não poderia ter dito... — Com todo prazer — disse ela. — É verdade, como você disse, a inseminação artificial não é algo novo, mas o sistema que a FutureBorn desenvolveu para preservar o esperma não é apenas novo, é revolucionário. Tariq ficou surpreso. Como é que uma mulher participava daquele tipo de conversa? — E quais são os benefícios? — Bem... — A mulher umedeceu os lábios com a ponta da língua. Fora um gesto inconsciente, mas deixou Tariq com a boca seca. — Um benefício óbvio é que um homem que não queira ter filhos agora pode nos confiar seu sêmen. Será uma contribuição para o futuro, e ele ficará seguro de que o material poderá ser usado anos depois. — Uma contribuição, pensou Tariq. Interessante escolha de palavras. — Se não for para uso pessoal, poderá ser utilizado de acordo com o interesse do doador. — Como assim? — perguntou o apresentador. Projeto Revisoras

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— Por exemplo, um homem poderá deixar instruções sobre o uso de seu esperma depois que ele morrer. — Ela sorriu educadamente. — O esperma congelado, junto com as disposições legais sobre sua utilização, é um meio seguro de um homem rico garantir que terá um herdeiro... Ou de um príncipe garantir um sucessor. Tariq franziu o cenho. E se ele deixasse um... uma... Como ela dissera? Uma contribuição. E se ele preservasse um tubo de ensaio com seu sêmen, para o caso de ocorrer alguma interferência do destino antes que ele encontrasse uma esposa? Maldição. Estaria louco? Tariq desligou a televisão e levantou-se. Um homem de verdade não deixaria uma "contribuição" num tubo de ensaio. Ele a deixaria no útero de uma mulher. Ele não procurara direito. Numa cidade de milhões de habitantes, com certeza, haveria uma mulher perfeita à sua espera. Ele fora convidado para uma festa naquela noite. Seu advogado comprara uma casa no East Side e iria comemorar. Ao imaginar quantas mulheres de pernas longas estariam ali, Tariq logo pensara que seria uma ótima oportunidade para ele. Depois, estremecera ao perceber que passara a considerar tais ocasiões em termos de oportunidades, e decidira mandar uma desculpa. Outro erro, ele pensou, enquanto vestia o paletó e saía do escritório. O primeiro fora escolher o celibato, o que afetara claramente sua concentração. O segundo seria recusar o convite para ir à festa, onde, sem dúvida, teria excelentes perspectivas de encontrar uma esposa. Uma velha expressão norteamericana lhe ocorreu: três erros e você está fora. A frase se referia a beisebol, mas bem poderia ser usada no seu caso: primeiro, sua procura em Dubaac, depois, nas Nações. Não haveria um terceiro erro. O problema é que ele não procurara direito, e tudo mudaria a partir daquele momento. — Certo, pessoal. Estamos fora do ar. Madison Whitney levantou-se, tirou o microfone da lapela e o entregou ao técnico de programação. — Madison — disse-lhe seu chefe — você fez um ótimo trabalho. — Obrigada. — Excelente. Ho-ho-ho! — Ele riu exatamente como um péssimo ator interpretando o Papai Noel, pensou Madison. — Que tal tomarmos uma bebida e discutirmos alguns assuntos? Discutir o quê? ela quis responder. A maneira pela qual você vai tentar me levar para a cama? Mas a sra. Whitney não criara uma filha idiota e, portanto, ela deu o sorriso luminoso que mantinha desde a fusão da MicroTech com a FutureBorn, e respondeu que seria muito agradável, mas já tinha outro compromisso. O sorriso falso de seu chefe — casado — tornou-se ferino. — Vamos, Madison. Não é prudente dizer sempre "não". Também não é prudente se arriscar a ser processado por assédio sexual, pensou Madison. Mas ela sabia algo que ele ignorava: que a desagradável convivência dos dois logo terminaria. Não foi difícil dar outro sorriso. — Talvez em outra ocasião, sr. Shields. Como lhe disse, tenho um encontro. Vinte minutos depois ela se sentava num bar sossegado da avenida Lexington. Duas coisas a aguardavam: um coquetel Cosmopolitan e sua antiga companheira de Projeto Revisoras

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quarto na universidade, Barbara Dawson. Madison suspirou, pegou o copo e bebeu um grande gole. — Bendita seja, por já ter pedido a bebida. Eu estava precisando. — Eu vivo para servir — disse Barb alegremente, e apontou a tevê sobre o balcão. — Assisti ao programa. Você ainda se esconde por trás desses aros de tartaruga? Madison fez uma careta. — Eles me dão um ar intelectual. — Você quer dizer que eles lhe dão a aparência de intocável. — Quem dera — disse Madison ao beber outro gole da bebida. — Não diga. O devasso continua insistindo? — Hã, hã. Sabia que você era meu encontro desta noite? — Ora, Maddie — ronronou Barb, batendo as pestanas. — Eu não sabia que era assim que você se sentia. — Ei, você me deu uma idéia. Talvez esta seja minha próxima desculpa. — Madison sacudiu a cabeça. — Ele é impossível, mas, também, é homem. — Você não acha que está na hora de parar de pensar que todo homem é infiel, um miserável hipócrita como o seu ex-noivo? — Não — disse Madison com firmeza. — Todos eles são iguais. Isso inclui meu pai, que só parou de trair minha mãe porque morreu. São todos uns mentirosos. E um fato da vida. — Errado. — Certo. Não existem homens sinceros, Barb. Bem, com exceção do seu, mas Hank é o último exemplar do planeta. — Maddie... — Você leu o último boletim dos ex-alunos? Barb desanimou. Sabia aonde aquilo iria levar. — Não. — Você se lembra de Sue Hutton? Ela se formou um ano depois de nós. Divorciada. Sally Weinberg? Divorciada. Beverly Giovanni? Divorciada. Beryl Edmunds? Div... — Certo. Entendi o recado, mas isso não significa que... — Significa sim. — Madison engoliu o último gole de bebida e procurou o garçom. — Eu nunca vou me casar, Barb. Jamais! — Nada de marido? Família? Filhos? Madison hesitou. — Sem marido não significa sem filhos. Na verdade, eu quero muito ter um filho. — Ela hesitou de novo. — Mas não quero que um marido atrapalhe. Barb levantou uma sobrancelha. — Como é que você vai fazer? Certo, pensou Madison. Aquele era o momento. — Inseminação artificial — disse ela. Se seu coração não tivesse disparado ao admitir pela primeira vez o que pretendia fazer, teria rido da cara de Barb. — Surpresa? Projeto Revisoras

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— Claro que sim! — Eu conheço bem esse assunto. É um método seguro, confiável e significa que uma mulher só precisa de uma seringa de sêmen, não do homem que o doou. Algo caiu no chão. Madison olhou para cima. O garçom, um jovem de cerca de 20 anos, estava parado junto à mesa. Seu queixo, ou talvez seu bloco de pedidos, acabara de cair. Era o que Madison precisava para aliviar a tensão. — Outro Cosmopolitan — disse ela gentilmente. — E outra taça de Chablis para minha amiga... E desculpe se abalei seu ego. Barb gemeu e escondeu o rosto nas mãos. O garçom sumiu depressa. Madison esboçou um sorriso. — Às vezes, a verdade dói. — Falando nisso... Vou ser franca, posso? — disse Barb. — Somos amigas, vá em frente. — Você já pensou bem nesse assunto? Quer dizer, já pensou por que quer um filho? Talvez seja para reviver sua própria infância, apagar os erros de sua mãe. Ah, inferno... — disse ela ao ver o sorriso de Madison desaparecer. — Maddie, eu não queria... — Não. Tudo bem. Você avisou que seria franca. Eu também vou ser. — Madison se inclinou sobre a mesa. — Minha mãe dependia do marido para tudo. Eu não queria ser igual a ela. Pretendia viver do meu jeito, sem nunca ter que me apoiar em alguém. Um bom desempenho escolar faria a diferença, assim como obter um diploma, uma especialização em Administração e ocupar um alto cargo em alguma empresa. — Querida, você não precisa se... Madison pegou a mão de Barb. — Eu tinha certeza de que não queria casar ou ter filhos. — Ela hesitou e abaixou a voz. — Então, um dia, eu olhei à minha volta e percebi que tinha tudo o que desejava: o diploma, a especialização, um ótimo emprego, o apartamento em Manhattan... mas... faltava algo que eu não conseguia definir. — Viu? Eu tinha razão, Maddie. Um homem para amar e... — Um filho. — Um sorriso iluminou o rosto de Madison, mas não impediu seus olhos de ficarem úmidos. — Há um Picasso na parede ao lado da minha mesa. Ele custa milhares de dólares. Minha secretária tem uma fotografia da filha em cima da mesa, e, sabe de uma coisa? Um dia, percebi, de repente, que a foto que ela tem vale muito mais que o meu Picasso. Então, há cerca de dois meses, uma jovem que foi minha estagiária veio me visitar. Estava com uma barriga enorme, suas costas doíam e ela precisava ir ao banheiro a cada cinco minutos... Eu notei que ela jamais estivera tão feliz. — Madison soltou a mão de Barbara e esperou, enquanto o garçom as servia. Quando ele se afastou, ela pegou o copo e tentou parecer indiferente, sem conseguir. — Na mesma ocasião, percebi que logo terei 30 anos. Quase dá para ouvir meu relógio biológico fazendo tique-taque... — Trinta anos não é nada. — Não é verdade. Minha mãe teve uma menopausa precoce. Pelo que sei, é hereditário. Projeto Revisoras

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— Eu insisto que existe um homem feito para você andando por aí. — Não se o mau gosto da minha mãe para homens também for hereditário. Vá em frente, olhe para mim com essa cara, mas quem sabe? Ela foi casada três vezes, sempre com um cafajeste de primeira classe, rico e lindo. Se não fosse pelo acidente, é provável que ela estivesse casada com o número quatro. — E quanto ao fato de as crianças precisarem de pai e mãe? — insistiu Barb. — Você teve os dois? — Não, mas... — Ter apenas um dos pais dando amor é melhor que ter os dois estragando tudo. Eu sei que a inseminação artificial não é o ideal para todos, mas, no meu caso, é a melhor solução. I — Você está mesmo falando sério? — Barb perguntou. — Estou. — Madison deu um sorriso trêmulo. — Eu quero tanto ter um filho... Chega a doer só de pensar. Em tudo, sabe? Os prós e os contras, carregar uma vida no ventre, um bebê nos braços. Fraldas e mamadas de madrugada, o primeiro dia na escola, as visitas de Papai Noel e depois de alguns anos, as brigas sobre o horário de chegar em casa... — Está bem. Você me convenceu. Talvez você deva realmente fazer isso. Madison deu um suspiro. — Vou fazer — ela disse, calmamente. — Já está tudo preparado. Barb arregalou os olhos. — O quê? — Consultei minha ginecologista. Estou controlando meus períodos menstruais... Consultei as fichas da FutureBora e escolhi um doador que parece perfeito. Ele tem cerca de 30 anos, doutorado, excelente saúde, gosta de ópera, de poesia e... — Como ele é? — perguntou Barb. — De constituição mediana, cabelos castanho-claros, olhos castanhos... — Eu perguntei qual a aparência dele. — Ah, não existem fotos. Todo o processo é anônimo, a não ser que o doador queira preservar o esperma para uso próprio no futuro. Quando uma mulher compra o esperma... — Compra! — disse Barb levantando a sobrancelha. Madison deu de ombros. Aquela parte da conversa seria fácil. Falar sobre seus sentimentos seria difícil. Os detalhes técnicos eram brincadeira de criança. — Não se trata de um romance — disse ela, secamente. — O objetivo é ter um filho, não um relacionamento. — E... quando é que você pretende fazer isso? — Segunda-feira. Se tudo der certo... — Tão rápido assim? — Esperar não faz sentido. Segunda-feira, às 14h. Se tudo der certo, daqui a nove meses serei mãe. — Madison hesitou. — Você não vai me desejar boa sorte? Barb olhou-a por um longo tempo, suspirou, pegou o copo e o levantou. Projeto Revisoras

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— Claro. Desejo-lhe toda a sorte do mundo, você sabe. Eu só espero... — Tudo vai dar certo. As duas fizeram um brinde, trocando o tipo de sorriso que as mulheres dão quando amam uma à outra, mas discordam sobre algo importante. — Então — disse Barb bruscamente — já que segunda-feira é o grande dia, por que não celebramos esta noite? — Você e Hank não pretendem sair? — Na verdade, pensei que poderíamos nos encontrar com Hank. O chefe dele comprou uma casa e vai dar uma grande festa. Madison se admirou. — Uma festa na cidade, em junho? — disse ela. — Que coisa mais absurda. — Vamos, não diga não. Vai ser divertido. — É, talvez — apenas talvez — eu me deixe arrebatar por algum Príncipe Encantado? — Madison riu ao ver Barb corar. — Você é tão óbvia, Barbara! — Ora, ainda é sexta-feira. Seu encontro com o tubo de ensaio só será na segunda. — Muito engraçado. — Vamos, Maddie. Madison deu um longo suspiro. — Foi um dia cansativo e eu não estou vestida para... —A festa é perto do seu apartamento. Podemos parar para você trocar de roupa. Por favor. — Às vezes, esqueço como você é quando cisma com alguma coisa. Barb fez uma careta. — Como um cachorro com o osso, é assim que eu sou. Olhe. Uma última tentativa para encontrar o príncipe encantado não vai lhe fazer mal. — Não existem príncipes, só existem sapos. — Você é uma mulher implacável, Madison Whitney. — Não, eu faço qualquer coisa por uma amiga. — Você vai? Madison concordou com um movimento de cabeça. Iria apenas porque era importante para Barb. A partir de segunda-feira, toda aquela bobagem acabaria. Ela faria a inseminação, ficaria grávida, teria o bebê e o educaria sozinha, dando-lhe todo o amor que tinha no coração.

CAPÍTULO DOIS Quando o táxi parou diante da casa, Tariq estava prestes a mudar de idéia pela quarta ou quinta vez. O que o levara até ali? Procurava uma esposa. Que chance teria de encontrá-la numa festa em Manhattan? O motorista se virou para ele. — O senhor vai ficar ou não?

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Não, ele pensou. Mas, já que estava ali, bem que poderia entrar. O táxi se afastou e Tariq olhou ao redor. A rua, cortada nas extremidades por amplas e movimentadas avenidas, era bem arborizada e tão sossegada quanto várias outras daquela região da cidade. Quando ele chegou à porta da casa, ouviu o ritmo ensurdecedor da música. Hesitou antes de apertar a campainha. Ainda tinha tempo para mudar de idéia. Terceira bola fora, ele pensou num misto de irritação e de ironia, mas não seria uma jogada importante. Voltaria para casa, trocaria de roupa e sairia para correr. Alguns quilômetros através do Central Park e sua cabeça ficaria livre de pensamentos sobre dever, obrigações e... A porta foi aberta. Cento e vinte decibéis de guitarra o atingiram. Uma morena que segurava um cigarro e um isqueiro lançou-lhe um sorriso extasiado. — Bem, bem — disse ela. — Que belo pacote eu encontrei na porta! Ela também era um belo pacote, embrulhada num vestido transparente que, na terra de Tariq, seria uma camisola a ser usada apenas na frente do marido, mas que se tornara moda na alta roda. — Que sorte para nós dois que eu tenha resolvido sair para fumar justamente agora. O sorriso dela, sua voz... Aquela era uma manobra de abertura de um jogo do qual ele participara dezenas de vezes. Algumas bebidas, uma conversa e ele a levaria para casa. Para a cama dela, não dele — porque era menos complicado — mesmo que o que começasse aquela noite durasse algumas semanas ou alguns meses. Depois, ele perderia o interesse e ela se perguntaria por quê. A mulher se aproximou. — Você não vai entrar? — Ela o pegou pelo braço. Tariq olhou as unhas pintadas de vermelho vivo e, depois, o rosto. Ela era bonita, mas, na verdade, haveria dezenas de mulheres como ela na festa. Lindas mulheres que se jogariam em cima dele apenas pela sua aparência. Não adiantava ser modesto quanto ao que a natureza lhe dera de presente. Quando as mulheres descobriam quem ele era, que possuía um título de nobreza e que tinha mais dinheiro do que ele mesmo conseguia contar... Não, ele decidiu. Não estava disposto esta noite. — Desculpe — disse ele, polidamente. — Parece que me enganei de endereço. — Bobagem — disse ela aproximando-se mais e roçando os seios no braço dele. — Você veio ao lugar certo... Mas, se preferir, podemos ir para algum lugar mais sossegado. O rosto de Tariq se contraiu. De repente, aquela situação lhe pareceu lamentável, e ele se afastou. — Não estou interessado — disse ele friamente. O rosto dela ficou vermelho. Ele disse a si mesmo que se comportava como um canalha, mas... — Alteza! — Um dos jovens sócios do advogado de Tariq acabara de vê-lo à porta. Maldição, pensou Tariq. Estava preso na armadilha. A morena se recuperou rapidamente. — Alteza? — disse ela sem fôlego. — Você é rei? Projeto Revisoras

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— É uma brincadeira — disse Tariq rapidamente. — E nada engraçada, não é, Edward? — Para seu alívio, apesar de confuso, o advogado concordou. — E uma piada, claro. — Ele fez uma reverência. — Entre... senhor. Permita que eu lhe sirva uma bebida. — Ei! — disse a morena. Tariq a ignorou e seguiu o advogado. O lugar estava lotado e não foi fácil encontrarem um espaço para conversar. — Tariq. Alteza... — Não, por favor. Chame-me pelo nome. Eu acertei seu nome? — Sim, senhor. — Bem, Edward, minha semana foi muito cansativa. A última coisa que quero esta noite é ser tratado de maneira formal. — Claro, senhor. — O jovem pigarreou. — O senhor Strickland — John — vai ficar encantado ao vê-lo. Vou procurá-lo e... — Não é preciso. Prefiro ficar sozinho, livre e desimpedido. — Ah, entendi. Quer passar a noite fora da tela do radar. Claro, como preferir, Alteza. Tariq pensou em corrigir o homem outra vez, mas desanimou. Dentro de cinco minutos estaria longe dali. Na segunda-feira pediria à sua assistente que mandasse algumas flores para John Strickland e sua esposa, junto com um cartão de agradecimento pela hospitalidade e votos de felicidade na nova casa. Ele se despediu de Edward, que sumiu no meio da multidão. Um garçom lhe apresentou uma bandeja com canapés e Tariq recusou. Outro garçom, outra bandeja. Na terceira vez, para se livrar de outro garçom, ele pegou algo preso a uma torrada por um palito. Segurou o salgadinho por algum tempo e depois se aproximou da mesa e o colocou discretamente sobre um prato já usado. — Você está sozinho? A voz delicada soara às suas costas. Tariq se voltou e deu de cara com uma loura. Não novamente, ele pensou, mas logo se arrependeu. A morena era bonita. Esta mulher era... sensacional. Seu cabelo tinha a cor do trigo na primavera e caía em ondas suaves sobre o rosto oval. As maçãs do rosto eram salientes e a testa, delicada. Os lábios cheios e macios. Seus olhos eram castanho-escuros e tinham um brilho inteligente. Era alta, esbelta e suas curvas eram acentuadas por um vestido simples de seda preta que contornava seus seios, a cintura estreita e os quadris arredondados. — Eu perguntei se você está sozinho. O mesmo jogo, mas uma abertura diferente. Talvez ele precisasse de um descanso da rotina das últimas semanas. Talvez, afinal, a noite fosse ser melhor. Ele sorriu e deu o passo que o deixaria mais próximo dela. — O que vai acontecer, se eu responder que sim? — Se responder que sim, vai salvar minha vida. — Estou impressionado. Tanto drama numa festa tão banal. Ela deu um rápido sorriso. Projeto Revisoras

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— Certo. Não vai salvar minha vida, mas vai me impedir de ser cruel com um sapo. Acha que pode me ajudar? — Um sapo? — Um homem que parece um sapo. — Ah! — Tariq sorriu. — Vou ganhar um prêmio da Sociedade de Proteção aos Sapos? A jovem riu. Sua risada era encantadora, luminosa, espontânea e natural. — Algo parecido. Olhe, será apenas por alguns minutos. Converse comigo. Sorria. Essas coisas que se fazem em coquetéis. Por favor? — Concordo — disse Tariq com seriedade. — Se é para preservar a vida animal... — Maravilha. Obrigada. — Ela olhou por sobre o ombro de Tariq. — Ali está ele — disse em voz baixa, sorrindo. —Ah! — disse alegremente, de maneira que o homem pudesse escutar. — É verdade! Eu não diria isto, mas... — Ela parou no meio da frase e revirou os olhos. — Ele se foi. — Sapos são sempre assim — disse Tariq, solenemente. — Num segundo estão aqui, no outro — upa! —, sumiram. Ela deu outra risada adorável, olhando para ele. Tariq notou que os olhos dela não eram apenas castanhos, tinham tom de chocolate cremoso. — Obrigada. — De nada. — Ele sorriu e acariciou o rosto dela. — Como você se chama? — Meu nome? — Seu nome, seu endereço, seu telefone. — A voz dele enrouqueceu. — Podemos começar por aqui, habiba. — Você quer dizer... Você pensou... — Ela corou. — Eu não estava flertando com você. Sério, eu... — Ela olhou para o outro lado da mesa. —Ah, meu Deus! — falou mais alto. — Sim, obrigada, eu adoraria! Tariq franziu a testa. — O sapo voltou? — Voltou. — Se ele fez algo para ofendê-la, habiba... — Não. Nada disso. Eu só não conseguia me livrar dele, e não queria dizer claramente que ele perdia seu tempo. — Uma mulher bondosa. — A voz de Tariq se transformou num murmúrio. — E quanto a mim, habiba, estou perdendo meu tempo? Ah, Deus, pensou Madison. Saíra da frigideira para cair no fogo. Exceto que esse fogo faria qualquer mulher se derreter... e ainda a deixaria contente. Não uma mulher como ela, farta daquele tipo de jogo, mas qualquer mulher que se impressionasse com uma bela aparência, senso de humor, roupas que mostravam que ele tinha dinheiro e que logo estaria metida numa confusão. E sensualidade: não adiantava negar. Ele era extremamente sensual, ao contrário do sapo que a abordara uma hora antes e que conseguira afastá-la de Barb — ou, talvez, Barb a tivesse abandonado. De qualquer

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maneira, Madison se vira acuada num canto, enquanto ele falava de si mesmo: seu sucesso, seu dinheiro, sua genialidade em tecnologia. — É interessante — ela dissera. — Eu também trabalho no ramo de tecnologia e... — Ela nem deveria ter tentado... Ele recomeçara a falar sobre seu enorme apartamento, seu carro caríssimo, a casa em Miami... — Ah, ali está alguém que preciso cumprimentar — dissera Madison de repente, e correra na direção do único homem que parecia estar só. Ela procurara um salvador. Encontrara um homem que jamais salvaria uma mulher, mas que, pelo contrário, iria levá-la direto para o caminho do pecado. Ele era lindo — não havia outra palavra para descrevê-lo. Era alto o suficiente para ultrapassá-la em altura, apesar dos enormes saltos que ela usava. Seus cabelos eram escuros e os olhos acinzentados tinham um brilho quase prateado. Ombros largos, cintura marcada, longas pernas. Falava com um leve sotaque que acentuava sua sensualidade. Ele era um magnífico predador e seria fácil para ela aproveitar a última noite antes que sua vida mudasse para sempre, entregando-se ao que ela sentia que estava acontecendo: ele queria levá-la para casa, queria levá-la para a cama, e ela... ela... Madison respirou fundo e tentou recuar. A sala estava tão cheia que ela não conseguiu se mexer. — Ouça — disse ela depressa. — O que eu lhe disse é verdade. Não o culpo pelo equívoco. Quer dizer, a culpa foi minha, e... — Nós já nos conhecemos? Madison levantou as sobrancelhas. Um homem como ele fazer aquele tipo de abordagem? — Não. E como eu disse... — Devemos nos conhecer. Talvez de alguma festa? — Desculpe. Meu rosto é muito comum. Ele a observou com insolência, examinando-lhe os lábios com tanta intensidade que o coração dela começou a acelerar. — Creia — ele disse com doçura. — Seu rosto não tem nada de comum. A multidão se comprimiu em torno deles e fez com que se aproximassem. O hálito de Madison tocou o peito de Tariq e o calor a invadiu. A reação dele foi mais evidente: seu corpo se enrijeceu. Ela sentiu que ele estava excitado e se assustou ao sentir um espasmo contrair suas próprias entranhas. Rapidamente, ela colocou as mãos no peito dele e o afastou. — Obrigada por sua ajuda — disse ela. — Pretende escapar, habiba? A voz dele era macia, repleta de sensualidade. Não, ela pensou com firmeza. Eu não vou fazer isso. Não com meu futuro planejado com tanto cuidado. — Pretendo — disse ela num tom artificial. — Ele foi embora. O sorriso dele era lindo, leve, sensual e totalmente masculino. — Mas ele vai voltar. — Tenho certeza de que não vai. Projeto Revisoras

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— Vai sim, se ele tiver uma gota de sangue nas veias. Nenhum homem seria tão tolo para deixá-la fugir. — Olhe, eu não... Quer dizer, você não... — O olhar de Madison se dirigiu para além dele. — Ah, inferno — disse ela, infeliz. — Ele voltou. — Vamos. — Sua mão grande, forte e firme agarrou a mão dela. — Para onde? — Vamos para o pátio... Ou você prefere ser apanhada pelo sapo? Ela hesitou por um curto instante. — Está bem — disse ela, e Tariq a conduziu rapidamente para o pátio. Ele sabia muito bem que poderia se livrar do outro homem apenas com um olhar, mas porque o faria se, em vez disso, poderia levá-la até um lugar calmo e fresco? Ele não fora à festa à procura de um encontro casual, mas falara a verdade: só um homem sem sangue nas veias não desejaria aquela mulher. Ele ficaria com ela por uma noite. Diabos, um fim de semana, e nada o impediria. A porta do pátio abriu, o "sapo" saiu, olhou para eles, e seu rosto se iluminou. — Ah, aí está você — ele disse. — Eu a procurei por todo lado. Não acabei de lhe contar sobre a casa que comprei em Miami... Tariq olhou para a loura. Ela mordeu os lábios. Ele desejou que fosse ele a mordêlos. — Ah, inferno — ela sussurrou. Tariq sentiu o sangue ferver. — Tem razão — disse ele em voz macia. Um segundo depois ela estava em seus braços, olhando-o com os olhos arregalados. — O que você... — Estou deixando claro a quem você pertence esta noite — disse ele com firmeza, beijando-a. Ela engoliu em seco, seu hálito contra os lábios dele. Ele gemeu roucamente e a apertou nos braços. — Beije-me — ele sussurrou. Ela obedeceu. Seus lábios se abriram e suas línguas se encontraram: seda contra seda, fogo contra fogo. O pátio desapareceu, o "sapo" sumiu e tudo o que restou foi a mulher nos braços de Tariq, a sensação de que ela... —Ah! — ela suspirou, e ele percebeu que ela sentia o mesmo. Madison deslizou as mãos pelo peito dele e entrelaçou os dedos em torno de sua nuca. Tariq sentiu o roçar dos seios dela contra o peito e o perfume que invadia seus sentidos, e gemeu. Todo o rígido controle que mantivera durante os últimos dois meses ruiu. Ele deixou que ela sentisse sua poderosa ereção contra o corpo, e quando ela gemeu e se agarrou a ele, apertou-a com mais força e intensificou o beijo, saboreando-a. Agarrou-a pelos quadris e a ergueu, encaixando-se entre suas coxas. De algum modo, eles saíram do pátio e entraram no jardim, onde foram envolvidos pela escuridão da noite e seu doce aroma de flores. Os ruídos da festa emudeceram. Tariq sentiu algo às suas costas: a parede de um cara-manchão iluminado por uma luz difusa. Ele a levou para dentro. Ela se agarrou a ele e ofereceu a boca sedenta, pronta para Projeto Revisoras

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ser invadida pela língua de Tariq, a respiração ofegante. Pegou-o pelo rosto e se entregou ao mais ardente dos beijos. — Eu quero você — ele disse em voz rouca. — Sim — ela sussurrou. — Sim. Os lábios de Tariq estavam em seu pescoço, a mão, em seu seio, envolvendo-o, acariciando-o. Ele massageou-lhe o mamilo enrijecido com a ponta do dedo, através do vestido. — Você é tão linda — ele murmurou — Tão linda... Ela enfiou a mão sob a camisa de Tariq. Seu toque o incendiou. Ele gemeu, levantou o vestido dela até os quadris e se colocou entre suas coxas. Seda. Sedosa e macia. Uma tira de renda, calor, a maciez dos pelos úmidos... Por Ishtar, ele teria um orgasmo. Ele, que jamais deixara a paixão controlá-lo, que sempre mantivera frieza suficiente para observar a mulher que possuía... estava prestes a explodir. Maldição, não daquela maneira. Queria estar dentro dela, sentir que ela o acolhia em seu corpo, enlaçava-o com as pernas... — Não! — O grito dela ecoou no silêncio. Tariq a olhou espantado. — Maldito, afaste-se de mim! — Ela bateu nele com os punhos, o que bastou para trazê-lo de volta à realidade. — O que houve? — ele disse. — Você... miserável! — Madison o empurrou. Estava em pânico, não por medo dele, mas por medo de si mesma. — Solte-me — disse ela. — Ouviu? Eu disse... — Eu ouvi o que você disse. — A voz dele estava fria. — Garanto que mais da metade de Manhattan também ouviu. Ele a soltou e se afastou, mas não fez diferença. Ela ouvia sua respiração ofegante, sentia o aroma de sua masculinidade. Ah, sim, um predador da pior espécie. Simpático, arrogante, rico, que freqüentava os ambientes certos. Ele era tudo o que ela desprezava, e estivera à beira de fazer sexo com ele. À beira? Maldição, um beijo a mais e... Como acontecera? Ela estremeceu. — Você se aproveitou de mim! — Eu me aproveitei de você? — Ele começou a rir. Ela queria bater nele de novo, mas estava furiosa, não louca. — Você acha engraçado? — O que eu acho — disse ele — é que devo lhe agradecer por esse rápido interlúdio. Estou à procura de algo e percebi que vai demorar mais do que eu pensava para encontrar. — Não sei do que está falando. — Graças a você, acabo de perceber como seria fácil e errado dar a uma mulher algo que eu só deveria dar para a mulher certa. — Não importa — disse Madison. — Nada do que você disse faz sentido para mim. — Exato. Mas faz todo o sentido para... — Ele franziu a testa. — Claro! — disse ele, devagar. —Agora sei por que você me pareceu familiar. Você é a princesa de gelo da... Como é o nome... FutureTense? Projeto Revisoras

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— FutureBorn — disse Madison. — O que você sabe sobre isso? — Não tanto quanto pretendo saber — disse ele, enigmático. — Você conhece meu patrão? Se pensa que pode fazer com que ele me despeça... — Ele riu e lhe deu as costas. — Você não vai conseguir. Não vou ficar lá muito tempo. Tariq não se virou. O que ela dizia não lhe importava. O "sapo" ainda estava no pátio. Tariq deu um sorriso maldoso. — A dama é toda sua — disse ele, entrando na casa. Caminhou pelas salas num andar resoluto que atraiu olhares curiosos, até encontrar seu advogado. Strickland conversava com um pequeno grupo. Tariq parou a certa distância. — Strickland? — Alteza... Todos se viraram para olhá-lo. Tariq conhecia aquele olhar — um misto de respeito e de inveja. Em geral ele o odiava, mas agora era bem-vindo. A loura o fizera de tolo, e ninguém mais o faria. Strickland se aproximou. — Edward disse que o senhor estava aqui, Alteza. Eu o procurei, mas... — Preciso de um conselho jurídico. O advogado se admirou. — Agora? — Agora mesmo. — Tariq pegou seu celular, apertou uma tecla e aguardou até ouvir a voz de seu médico particular. — Dr. Miller — disse ele com a firme segurança de quem jamais precisa pedir, apenas mandar. — Estou na casa do meu advogado. Por favor, encontre-se comigo aqui, dentro de meia hora. — O senhor está doente? — perguntou Strickland quando Tariq desligou, depois de informar o endereço. — Há algum lugar onde possamos conversar em particular? — Sim, claro. — O advogado o levou para um elegante escritório, longe do ruído da festa. — Não estou doente — disse Tariq quando a porta fechou. — Então, o que... — Quero garantir que haja um herdeiro para o trono de Dubaac, caso algo me aconteça antes que eu me case — disse ele, bruscamente. — Chamei meu médico para discutir os detalhes, mas pretendo mandar congelar uma amostra do meu esperma o mais rápido possível. Existe algum problema legal? O advogado sorriu. — Nenhum, Alteza. Já lidei com situações semelhantes. — Ótimo — disse Tariq. E pela primeira vez desde a morte do irmão ele suspirou aliviado.

CAPÍTULO TRÊS As 9H de segunda-feira Tariq saiu do apartamento na Quinta Avenida, recusou o oferecimento do porteiro para chamar um táxi e caminhou rapidamente. Era uma

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luminosa manhã de verão, mas ele teria caminhado mesmo que fosse uma tempestuosa manhã de janeiro. Ele passara a maior parte da noite no terraço, observando, sem ver, a escuridão do Central Park. Dizia a si mesmo que o que faria na manhã seguinte era a versão moderna de um encontro com o destino. Uma pequena voz dentro dele insistia em descrever as coisas em termos mais realistas. Não importa o que pensasse, estava prestes a fazer sexo com um tubo de ensaio. Tinha certeza de ter tomado a decisão correta, mas não estava satisfeito. Um homem saudável, no auge da vida, que poderia escolher a mulher que desejasse, não deveria estar tão ansioso para plantar sua semente num consultório médico. Ele passara o sábado lendo documentos legais que especificavam como a sua "amostra" seria conservada e utilizada. Fora para a cama com todo aquele palavrório dançando diante dos olhos, e provara outra dose no domingo. Afinal, seu material de leitura acabara. Talvez por isso ele tivera aqueles sonhos com a loura Madison Whitney. Sonhos extremamente eróticos... Irritantes. Maldição, ele era um homem maduro, não um adolescente. Se não tivesse acordado a tempo, teria feito o ensaio do que deveria fazer mais tarde naquela manhã. A única coisa positiva que restara da noite de sexta-feira fora a certeza de que ele era um príncipe que precisava encontrar uma esposa, não um homem à caça de uma noite de prazer. Mesmo assim, ele hesitou ao chegar ao consultório do médico. Não seja tolo, disse a si mesmo, erguendo a cabeça. Tocou a campainha. O procedimento levou poucos minutos. Tariq assinou alguns formulários, entrou numa pequena sala com um recipiente de vidro na mão e recusou as revistas que lhe ofereciam com a arrogância de um homem seguro do poder de sua própria sexualidade... Então, sua imaginação o traiu. Nada aconteceu, até que ele fechou os olhos e se lembrou daquela mulher, de seu gosto, seu perfume, sua pele sedosa... Só depois disso é que ele fez o que precisava fazer. Agora, poderia esquecer a humilhação e a raiva que aquela mulher lhe causara. Madison costumava começar seu dia tranqüilamente. Serenamente, dissera Barb certa vez, revirando os olhos. Por que não? Planejar com antecedência, fazer tudo com cuidado. Fora assim que Madison aprendera a contornar as incertezas de uma infância caótica. A cafeteira estava programada para ligar automaticamente às 6h. O despertador, às 6h05. Às 6hl5, ela estaria na cozinha, de banho tomado, vestida, pronta para a primeira dose de cafeína. Dez minutos depois, de cabelos penteados com a ajuda do secador, maquiada, estava pronta para encarar o mundo. Na segunda-feira de manhã tudo dera errado. O café não fora coado, o secador queimara ao ligar, não havia meias limpas na gaveta, sua máscara para cílios a traíra, ao depositar uma massa grudenta e negra nas pestanas de um olho e nada no outro. A culpa era toda sua. Esquecera de colocar café na cafeteira. O secador já dera defeito na última vez em que o usara. Suas meias estavam todas no cesto para lavar e a máscara para cílios acabara. O mais inacreditável é que ela perdera a hora porque esquecera — pela Projeto Revisoras

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primeira vez na vida! — de ligar o despertador do relógio. Pretendia cuidar de tudo durante o fim de semana. Compraria o café no Zabar's, um secador de cabelos na Macy's, a máscara para cílios na Sack's, lavaria sua roupa de baixo... Mas passara o fim de semana ocupando-se com coisas que não precisava. Limpara os armários da cozinha, o closet, o chão e os móveis com tanto cuidado que parecia que alguém do departamento de Saúde iria inspecioná-los. A noite, assistira a reprise de Sex and the City pela centésima vez, enchendo-se de pipoca de baixa caloria, livre de gordura e com gosto de nada, apesar de não ter fome. — E por quê? — perguntou ao seu reflexo no espelho. Porque não conseguira tirar da cabeça o miserável, o estranho que quase a seduzira. Porque a simples lembrança do que acontecera a deixava humilhada. Porque, no fundo, sabia que culpá-lo de tudo era a mais deslavada mentira. Ele não a forçara. Simplesmente a beijara. Sua libido fizera o resto, transformando-a em alguém que ela não conhecia, uma mulher que permitira que um estranho fizesse com ela coisas que a faziam corar e que, só de pensar, ainda lhe amoleciam os ossos. Maldição! De que adiantava remoer tudo aquilo? O que fizera, estava feito. Um profundo suspiro, mais uma olhada no espelho, erguer a cabeça... — Pare de se lamentar — disse Madison a si mesma. Quem se importava com a noite de sexta-feira? Hoje era segunda. A segunda-feira. O primeiro dia do resto de sua vida, o dia em que ela esperava conceber um bebê. A expressão de Madison se suavizou. Um bebê. Uma criança para amar, para cuidar. A noite de sexta-feira, o homem — nada valiam. O importante era seu compromisso daquela tarde e a doce e luminosa promessa de uma gravidez. Ela foi até o closet e o abriu. Era loucura que ela, entre tantas pessoas, pudesse se deixar levar não por um príncipe — como Barb prometera, brincando —, mas pelo tipo de dom Juan que sempre entrara e saíra da vida de sua mãe. Claro que ele era atraente, mas dom Juans sempre são. Alto, moreno, lindo e com uma postura e um jeito de falar que beiravam o exótico. Madison fungou. Era provável que ele tivesse nascido no Brooklyn. Por que ainda perdia tempo com ele? Ela se vestiu rapidamente, com uma roupa simples e sapatos confortáveis. Não se maquiou. Aplicou apenas um pouco de brilho nos lábios e passou um gel nos cabelos. O dia não começara bem, mas terminaria radiante. Quando tudo acabasse e sua gravidez fosse confirmada, ela contaria a Barb sobre a "Grande Lição" da sexta-feira: quando se comparam os benefícios de um homem e os de um tubo de ensaio, o tubo de ensaio sempre ganha. Na FutureBorn ninguém sabia que aquele não era um dia comum. Exceto Madison, claro. Como ela poderia se concentrar no trabalho quando algo tão importante iria acontecer às 14h? O tempo se arrastava. Ao meio-dia ela abriu um pote de iogurte, fechou a porta da sala, pegou a pasta com os dados do doador que escolhera e começou a ler. Sim, escolhera o homem certo: educado, saudável, bonito. Polido, gentil e modesto. O formulário só continha informações sobre educação e saúde, mas ela sabia que o resto deveria ser verdade. Ótimas qualidades para um pai. O estranho era o oposto. Ele era um anúncio ambulante de arrogante egoísmo, impulsividade e Projeto Revisoras

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machismo. Ou seja: era extremamente sexy. Madison deu de ombros, jogou o pote de iogurte no lixo e soltou a pasta. — Você está louca? — murmurou. Era provável. Que importava, se estar nos braços dele fora a melhor experiência de sua vida? Seu toque, seus beijos, seu desejo... E, ah, o desejo que a incendiara. Ela o queria, precisava dele. Alguns segundos a mais e ela se entregaria ali mesmo, no jardim. Deixaria que ele rasgasse sua calcinha. Afinal, por que não vestira as meias de seda? Ótimo, porque as meias teriam adiado o maravilhoso momento em que ele a tocaria... Madison levantou. Ainda eram 13h. O consultório da ginecologista ficava a alguns minutos de táxi, mas não faria mal chegar mais cedo. Estava nervosa e tensa. Não admira que tivesse pensamentos absurdos. — A caminho, garota — disse ela. E saiu. Era curioso como algo que provocara medo num homem podia se transformar em algo que lhe devolvia o equilíbrio. Às 19h, Tariq entrou em casa, jogou as chaves sobre uma mesa e tirou o paletó. Estivera tão descontente com o que fizera pela manhã que quase esquecera o motivo para fazê-lo. Sim, ele ainda precisava encontrar uma esposa, mas agora teria tempo. Escolher uma mulher requeria planejamento. Tariq tirou a gravata e entrou no quarto. Faria uma lista de qualidades que gostaria de encontrar em uma esposa e uma lista das mulheres que conhecia, e cruzaria as duas. Só agora a idéia lhe ocorrera. Para se resolver um problema é preciso seguir um método que resulte em alguma solução. Era assim que ele dirigia seus negócios. Por que não percebera que esta seria a maneira de procurar uma esposa adequada? Mas não naquela noite. Ele sorriu enquanto se despia. Esta noite ele esqueceria sua missão. Um banho, uma bebida, uma refeição. E uma mulher. Ele entrou no banho e deixou que a água escorresse por seu corpo. Positivamente, uma mulher. Consultaria a agenda de telefones e ligaria... Madison Whitney não estava em sua agenda. Ainda bem! Que homem, em sã consciência, iria querer uma mulher que ligava e desligava como uma lâmpada? Ela era fria como o gelo... Exceto, que ela se incendiara de paixão quando ele a abraçara e beijara, ardera de paixão quando ele sonhara com ela, e naquela manhã, quando ele a invocara, imaginara possuí-la, entrar em seu corpo, ouvi-la gritar de prazer... Inferno! Tariq abriu a água fria e estremeceu sob as alfinetadas geladas. Estaria louco ao se excitar com uma lembrança? Com uma mulher que o provocara quase ao ponto de deixá-lo sem saída? Não. Estava apenas frustrado. Um homem sadio que ficasse tanto tempo sem sexo estava à procura de confusão, e ninguém poderia chamar de "sexo" o procedimento médico daquela manhã. Ótimo, ele resolveria o problema... O telefone tocou quando ele se vestia. Tariq praguejou e atendeu. — Alô — ele rosnou. — É bom que seja algo importante... — Alteza! Projeto Revisoras

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Tariq suspirou. Era o advogado. — O que foi, Strickland? Você arranjou outras 50 páginas para eu assinar? — Não, Alteza... Eu soube, há 20 minutos... Ninguém sabe explicar... Aconteceu algo de errado com sua amostra — disse Strickland. Tariq sentou na cama. — Não me diga que vou ter que fazer tudo de novo. — Não, senhor. Nada disso. O problema não foi com a coleta. — Então, o que houve? — Silêncio. Ele escutava a respiração de Strickland do outro lado. — Maldição, homem. Fale! — O material foi enviado ao laboratório da Future-Born, como planejado, e... deveria ser estocado, mas, em vez disso... foi despachado. Despachado? Tariq imaginou o maldito recipiente de vidro passeando pela cidade. Ridículo, exceto pelo arrepio que desceu por sua espinha. — Despachado para onde? — ele disse, preocupado. — Para um consultório médico. — Bem, pegue de volta! — Receio que seja impossível, Alteza. Ele foi... ele foi utilizado. Foi colocado em uma... uma receptora. — Você quer dizer... — disse Tariq devagar — que uma mulher qualquer foi engravidada com o meu esperma? — Inseminada, senhor. Seria prematuro dizer que ela está... — Como diabos, isso aconteceu? — Não sei, Alteza. A cabeça de Tariq rodava. Em algum lugar da cidade uma parte dele estava no útero de uma mulher estranha. Se ela engravidasse, se ela... — Quem é ela, Strickland? — Alteza, existe uma questão de privacidade. Até que eu possa averiguar... — Privacidade? — urrou Tariq, levantando-se. — Uma mulher que eu nem conheço está carregando meu sêmen e você se preocupa com a privacidade dela! Diga quem é ela ou irá se arrepender. Strickland pigarreou. — O nome dela é Madison Whitney. Tariq já ouvira dizer que a raiva coloria tudo de vermelho. Era mentira. Sua visão ficou clara como o dia. Ele via Madison Whitney como se ela estivesse à sua frente. O rosto lindo e frio, os olhos cheios de desprezo por ele... Impossível. Strickland pegara o nome errado, ou havia outra Madison Whitney em Nova York. O advogado descartou estas possibilidades. O sêmen de Tariq fora "despachado e utilizado" na mesma mulher cuja imagem tornara possível a "coleta" do material. A ironia era evidente, e, além disso, outra hipótese sombria lhe pareceu inevitável. — Ela é uma das diretoras da FutureBorn — disse Tariq secamente. — Talvez tenha feito de propósito. Se ela sabia o que eu pretendia fazer... Ela também devia saber quem eu sou, que sou um homem muito rico e... Projeto Revisoras

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— E o que, senhor? Que benefício ela teria? Mesmo que a inseminação dê certo — e não há garantias de que dê — ter um filho para conseguir seu dinheiro seria meio duvidoso... Se me perdoa a franqueza. Tariq massageou a testa. Havia uma bateria tocando em sua cabeça. — Além disso, Alteza, parece que a jovem planejou tudo há algum tempo. Ela já escolhera um doador. — Um homem conhecido? — perguntou Tariq secamente, apesar de não entender por que se importaria. — Ela escolheu um doador anônimo, senhor. Tariq fechou os olhos, enquanto Strickland continuava a falar. — Vou verificar os precedentes para um processo e... — É esse seu conselho profissional? Que eu entre com um processo e me sujeite a ser motivo de piada? — Pode ser que ela entre com um processo, mesmo que o senhor não o faça. — O pesadelo ainda poderia ser pior? — Até agora, ninguém falou no seu nome. Pode ser que ela não goste, tanto quanto o senhor. Penso que, por enquanto, a melhor opção seria esperar. — E se a srta. Whitney engravidar? Você está sugerindo que eu a deixe criar um príncipe de Dubaac como se fosse um... um menino de rua? — Seria improvável — disse Strickland secamente. — Ela é bem educada, tem um cargo importante. Ela... — Não importa que ela seja a encarnação da Madre Teresa — cortou Tariq, e suspirou. — Está bem. Por enquanto, não faça nada. Certifique-se de que quem sabe desse... "engano de endereço" fique calado. Fui claro? — Tariq sentou na beirada da cama e colocou a mão na cabeça. Seu plano inteligente ruíra. — Em quanto tempo vamos saber se ela está grávida? — Um mês, senhor. — Como vamos conseguir essa informação? Strickland pigarreou. — Tenho meus métodos, senhor. Garanto que saberá, assim que ela souber. Um mês. Quatro semanas intermináveis... — Vamos aguardar um mês — disse Tariq com calma. — Enquanto isso, mantenhaa sob vigilância. Sei algumas coisas sobre essa mulher — disse Tariq com frieza. — Ah, eu não sabia... — Sua vida sexual deixa muito a desejar. Se ela dormir com outro homem durante o próximo mês... — Claro. Eu deveria ter pensado... — Mas não pensou — respondeu Tariq asperamente. — Eu pensei. — Ele tentou se controlar. — Um mês. Depois, se for preciso tomar uma atitude... — Alguns séculos atrás, a expressão de seu rosto seria a última visão que um inimigo teria antes de morrer. — Você irá visitá-la e deixará claro que ela deve levar a gestação até o fim, ter meu filho... e entregá-lo a mim.

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CAPÍTULO QUATRO Trinta dias eram uma eternidade quando um homem esperava para saber se criara vida no ventre de uma estranha. Tariq mergulhou no trabalho, em reuniões, em uma mulher depois da outra... E acabava por deixar cada uma à porta de casa, olhandoo, perplexa. Ele sempre arranjava uma desculpa: uma viagem, trabalho... Uma vez se surpreendera ao alegar que estava com dor de cabeça. Era patético. Na verdade, mais que em qualquer outra ocasião de sua vida, o sexo perdera seu apelo. Tudo por culpa dela, ele pensara, insone nas madrugadas. Madison Whitney. O embaraçoso incidente no jardim, e, agora, a incrível realidade de que ela carregava seu sêmen... Ela era responsável por ele não sentir desejo sexual. Que homem não teria a mesma reação? Entretanto, seu inconsciente parecia discordar. Ele continuava a ter sonhos inadequados para um homem maduro, e todos com a mesma imagem loura. A culpa também era dela. Passaram-se 30 dias. Trinta e um. No trigésimo segundo dia, ele se sentia aliviado. Talvez nada acontecesse com o "engano de endereço". Naquela tarde, um mensageiro lhe entregou um envelope. Tariq inspirou fundo, abriu o envelope... e soltou o ar ruidosamente. Madison Whitney estava grávida. Seu pior medo se concretizava. Uma estranha, uma mulher que ele tinha todos os motivos para desprezar, estava grávida de um filho seu. Ligue para mim quando estiver preparado, Alteza, dizia a mensagem de Strickland, e discutiremos como o senhor deseja que eu comunique a ela sua participação no caso. Sua participação. Tariq ferveu de raiva. Era uma expressão bem irônica para descrever seu papel naquele desastre. Pela primeira vez ele pensou em como ela reagiria ao saber que carregava um filho seu. Ela o entregaria a ele, sem dúvida. Ele era o que era, e isso fazia toda a diferença. Tinha um nome a perpetuar, um trono a garantir. Ele ficou intrigado. Por que Madison Whitney quisera ter um filho? Era solteira, tinha uma carreira de sucesso e, ainda assim, decidira ter um filho. O que a levara a recorrer ao método artificial? Com certeza, ela poderia escolher um candidato. Os investigadores que Strickland contratara não haviam encontrado indícios de haver um homem na vida dela, mas, com certeza, se ela desejava engravidar... Tariq releu a mensagem de Strickland. Ligue para mim quando estiver preparado. Estava pronto, mas não para ligar para o advogado. Ele tinha perguntas, Whitney tinha respostas, e ele desejava ouvi-las sem passar pelas infindáveis explicações do advogado. Tariq ligou para o porteiro. Quando chegou à entrada do edifício, seu Porsche já o esperava na porta. O endereço de Madison Whitney estava no relatório do laboratório. Ela morava num arranha-céu, numa rua típica do East Side. Não havia porteiro, e a porta estava trancada. Tariq olhou a lista de moradores, colada ao interfone: M. Whitney, ap. 609. E agora? Se fosse um filme, ele fingiria ser um mensageiro, mas não daria certo às 20h30. Maldição. O que ele fazia ali? Por que não deixar seu advogado resolver a Projeto Revisoras

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situação? Ele ia desistir quando a porta abriu e saiu uma senhora carregando um terrier. Ela sorriu, o terrier latiu, e ela teve a gentileza de segurar a porta para Tariq. Bem, por que não? Eleja estava ali... Ele sorriu para a senhora. — Obrigado. — E entrou. O apartamento 609 ficava no final do corredor. Ao chegar diante da porta, Tariq hesitou. Talvez aquele fosse assunto para um advogado. Talvez fosse melhor ele parar de adiar, pensou com amargura. E apertou a campainha. Por que tudo sempre acontecia ao mesmo tempo? Lei de Murphy, pensou Madison ao ouvir a campainha quando saía do chuveiro. O Torino's não teria registrado sua chamada? Ela pedira uma pizza e depois cancelara. Só de pensar em todo aquele queijo derretido ficava enjoada. Era bobagem, com certeza. Ainda era muito cedo para sentir enjôo, apesar de naquela mesma manhã... A campainha tocou de novo. — Um momento — ela gritou. Certo, comeria a pizza ou a jogaria no lixo. Não teria tempo de se enxugar, mas não ficaria aborrecida com o Torino's pelo engano. Não naquela noite, ao final de um dia maravilhoso e mágico.

Riiing!

Madison levantou os olhos para o teto, enfiou-se num roupão, afastou os cabelos molhados do rosto e caminhou descalça até a porta. — Calma — disse ela ao destrancar a porta. — Eu ouvi da primeira... — O resto da frase morreu em sua garganta. — Boa noite, srta. Whitney. A voz era exatamente como ela recordava. Profunda, rouca e com algum tipo de sotaque. O corpo alto e forte também era como ela se lembrava: esguio, másculo e firme. E o rosto... o rosto de um anjo decaído: cruel, perigoso, fascinantemente belo. Madison reagiu instantaneamente. Tentou fechar a porta, mas ele foi mais rápido que ela, e a impediu. — Isso é maneira de tratar uma visita? — As palavras eram cheias de alegre ironia, mas os olhos dele brilhavam friamente ao fitá-la. Madison sentiu o coração disparar. Estava nua sob o roupão, sozinha com um homem de olhar implacável. O que ele queria? Como a encontrara? Excelentes perguntas, mas, sem importância, diante da urgência de se livrar dele. — Afaste-se — disse ela, fingindo calma — ou eu vou gritar. — Um antigo conhecido vem visitá-la e você grita? — Ele riu. — Você não é muito hospitaleira, habiba... — O que você quer? A expressão divertida desapareceu. — Quero falar com você. — Não temos nada para conversar. — Infelizmente, temos. — Ele passou por Madison com um ar insolente, demonstrando indiferença. — Eu não o convidei para entrar!

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— Não convidou, mas o que tenho a lhe dizer requer privacidade. — Ele olhou para ela, que corou, arrepiou-se e cruzou os braços. — Se você pensa que... se você acha que... — Acho, habiba. — A voz dele estava rouca. — O que aconteceu na noite em que nos conhecemos ficou profundamente gravado na minha cabeça. Não. Ela não permitiria que ele a convencesse a falar sobre aquela noite. Não iria se defender, porque não precisava. — Não sei como você me encontrou, ou por que veio até aqui, mas... — Eu lhe disse, vim para conversar. — Ele correu os olhos pelo corpo dela. — Apesar de eu ter que admitir que acabar o que começamos é tentador. O coração de Madison batia tão forte que ela temia que ele pudesse escutar. — Saia. — Creia, habiba, eu gostaria de poder ir embora. — Ouça, moço... — Alteza. — O quê? — Sou chamado de Alteza, não de "moço". Ela o olhou como se ele fosse louco. Talvez fosse. Que diferença fazia seu título? Ele esperara uma reação diferente. Surpresa, sim. E também um certo temor. E ali estava: ela o olhava muito pálida, trêmula e com os olhos arregalados de medo. Mesmo assim, ela o desafiava. Desafiadora e linda. Acabara de sair do banho. Os cabelos molhados tinham o tom de cobre e caíam sobre suas costas. O roupão velho nada tinha de sexy, exceto que se colava ao corpo úmido: aos mamilos salientes de seus seios, à curva da cintura, ao contorno dos quadris e às longas pernas. O sangue de Tariq ferveu. Ele amaldiçoou a si mesmo. Desejo sexual não tinha nada a ver com o assunto. Que ela lhe provocasse aquele tipo de reação deixava-o mais furioso. — Espere um pouco... — A voz dela estava diferente. Falava com uma segurança que condizia com o ar de desafio. — Você é um príncipe? Enfim, acontecera. Ela era linda, desafiadora, mas, como todas as mulheres, uma vez que soubera que ele era da realeza, tudo mudara. — É verdade. Eu sou Sua Alteza Real, Príncipe Tariq ai Sayf, de Dubaac. — Um príncipe — Madison repetiu, e soltou uma gargalhada. —Ah... meu... Deus! Um príncipe! Agora entendi. Barb o mandou! Ela não sabe que nós... nos conhecemos. Ela deve achar que você é um presente dos deuses para as mulheres. É óbvio que você acha e... Num átimo de segundo ele estava ao lado dela, levantava-a pelos cotovelos e a fazia ficar na ponta dos pés. — Não ria de mim! — disse ele trincando os dentes. Mas ela ria, continuava rindo, e, quanto mais ela ria, mais o sangue dele fervia. — Pare! — ele ordenou, sacudindo-a. — Você me ouviu, mulher? Pare imediatamente! — Não posso — disse ela, engasgada. — Se Barb soubesse a verdade sobre você...

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— Eis a verdade sobre mim — Tariq disse, esmagando os lábios contra os dela. No momento em que ele sentiu seu sabor, compreendeu o que o impedira de dormir com outra mulher nas últimas quatro semanas. Madison não o afastara do sexo. Acontecera o oposto. O que ele queria era aquela mulher em seus braços, os seios macios e firmes contra seu peito. O corpo dela comprimiu sua carne ereta. Ela lutava. Ele não se importava: teria o que desejava, o que ela lhe devia. Ele a possuiria várias vezes, até que... Madison deu um gemido desesperado, pendurou-se no pescoço de Tariq e entreabriu os lábios para ele... Da mesma forma que fizera ao provocá-lo na noite em que o humilhara. Ele não deixaria que acontecesse de novo. Desvencilhou-se dos braços dela e segurou-a pelos pulsos. Um homem só comete um erro uma vez. Repeti-lo seria tolice. Madison abriu os olhos, espantada, mas ele não se abalou. — Você acha que pode me enganar de novo? — disse ele em tom ameaçador. — Enganar? — ela gemeu, tentando soltar os pulsos. — Não pense que pode brincar comigo, habiba, você vai se arrepender. Madison corou. Sua boca tremia, e por um momento Tariq desejou agarrá-la de novo e beijá-la até que o tremor se transformasse em doce submissão. O rosto dele se contraiu: ela era boa no que fazia — ele deveria se lembrar. — Solte-me! — Com todo prazer. — Ele a soltou. — Se alguém vai se arrepender é você, príncipe "sei lá o quê", se não sair da minha casa agora mesmo. — Não me provoque, senhora — disse ele friamente. — Não me subestime, senhor — disse ela no mesmo tom. — Você entrou aqui sem ser convidado. Eu lhe pedi para sair. Se não sair, vou chamar a polícia. Creia, não é uma ameaça, é uma promessa. — Você não vai chamar a polícia. — Ele percebeu que ela se recompunha. A cabeça erguida e o sorriso frio o demonstravam. — Você acha que seu título me impressiona? Estamos nos Estados Unidos. Existem leis... — Você quer fazer um discurso? — Tariq cruzou os braços. — Ou prefere saber por que eu estou aqui? Madison deu uma risada desagradável. — Acredite, Alteza. Sei exatamente por que você está aqui. — Acha que vim à procura de sexo? — Ele deu um leve sorriso. — Se fosse isso, você já estaria deitada e eu estaria dentro de você. Ou acha que vou esquecer o que acabou de acontecer? — Madison avançou para dar uma bofetada nele, que a agarrou pelo braço com força, e ela gemeu. — Da última vez que jogamos esse jogo, estávamos num lugar público. Agora estamos sozinhos. Se eu quisesse ir até o final da partida, já teria ido. Entendeu? — Você está me machucando!

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Tariq largou-a e se afastou. Aquela mulher provocava o que ele tinha de pior. Talvez fosse de propósito, para que ele perdesse o controle. Fora até ali por um motivo, e estava na hora de esclarecê-lo. Ele respirou profundamente e olhou para Madison. — Acho que está na hora de ouvir o que tenho a dizer. Ela respondeu abrindo a porta. — Adeus, Alteza. — Madison! Maldição, eu disse... — Ouvi o que você disse. Agora, escute você! — ela disse friamente. — Se você se aproximar de mim outra vez... — Você está grávida. Ela ficou boquiaberta. Ótimo, ele pensou. Afinal chamara sua atenção. — O que foi que você disse? — Você soube hoje, através de sua médica. — Como... como é que você sabe? — Feche a porta e eu lhe direi. A não ser que você prefira que seus vizinhos participem... Depois de algum tempo ela fechou a porta e cruzou os braços. A atitude era de desafio, mas seus olhos estavam assustados. — Como sabe que estou grávida? — Não é difícil conseguir informações quando se conhece as pessoas certas. — Maldição. O que está acontecendo? Você está espionando minha vida particular? — Estou. Sua vida particular e minha também. — Não sei do que está falando! — Você engravidou através de inseminação artificial. — O que é isso? — Ela apertou os olhos. — Se acha que vai me chantagear... — Tariq riu. Madison se aproximou e ele não pôde deixar de admirar sua coragem. — Quero respostas! — Ela cutucou o peito dele. — Como é que você sabe da minha vida? Por que invadiu minha privacidade? Tariq agarrou a mão dela e ficou sério. — Você entendeu errado — disse friamente. — Foi você que invadiu minha privacidade. — Eu nem sabia seu nome até cinco minutos atrás! — Não — disse ele com calma. — Mas foi meu esperma que a engravidou. — Ela chegou a rir e o olhou como se ele fosse louco. Tariq não esperava aquela reação. — Diabos, mulher — ele rosnou. — Isso não é piada. Estou dizendo a verdade. Houve uma confusão em algum lugar. Eu... eu colhi uma amostra do meu sêmen... — Maldição. Não era hora de titubear. — Meu médico a mandou para ser preservada e ela acabou no consultório da sua médica. Madison ficou muito pálida. — Não acredito em você. — A voz dela era inexpressiva. Ótimo, ele pensou friamente. Pelo menos ele não era o único a estar chocado. — A FutureBorn jamais cometeria um erro desses! E impossível! Projeto Revisoras

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— Eu disse a mesma coisa, mas parece que nós dois nos enganamos. Você foi inseminada com meu sêmen. O filho que você carrega... —As palavras não saíam. Pensar já fora difícil, falar seria impossível. — Esse filho... Essa criança que eu carrego é... É sua? — A voz dela saiu num sussurro. — É. — Madison abriu e fechou a boca. Perfeito, pensou Tariq com cruel satisfação. Pelo menos por uma vez ele a deixara sem fala. — Apesar de você não ser o tipo de mulher que eu escolheria para ter um filho meu, a situação é facilmente remediável. — Madison o olhava sem expressão. Maravilha! Ela aceitara bem a notícia. Afinal, era uma mulher de negócios e, com certeza, aceitaria a proposta que ele tinha a fazer. Ele acertara ao falar pessoalmente com ela. Se fosse Strickland, ainda estaria tentando entrar no apartamento. — Seu filho — ela disse. — Seu filho... — Ela começou a rir. Tariq achou estranho, depois de ela ter aceitado com tanta calma o que ele lhe contara... Mas ela não estava rindo, lutava para respirar. — Madison? — Estou bem — disse ela, revirando os olhos. Tariq só teve tempo de praguejar e de ampará-la nos braços quando ela caiu desmaiada.

CAPÍTULO CINCO Se fosse um filme, Madison teria acordado do desmaio graciosamente: encostaria a mão na testa e bateria as pestanas ao fitar o herói moreno que a segurava em seus braços. Porém, não se tratava de um filme e sim da realidade. Ela voltou a si sentada no chão, nos braços do homem que não queria ver novamente. — Que... o que aconteceu? — disse ela em voz trêmula. — Você desmaiou, habiba. — Eu nunca... — Mas desmaiou. Ele falara em tom seco, mas Madison poderia jurar que havia preocupação em seus olhos. Ficou confusa, até se lembrar que qualquer homem ficaria preocupado ao ver uma mulher desmaiar. Ainda mais depois que ele lhe dissera que ela estava grávida de um filho seu. O choque a atingiu pela segunda vez. A sala começou a rodar e ela gemeu. Tariq praguejou, mas encostou a cabeça dela em seu ombro com delicadeza. — Calma. Respire fundo e solte o ar devagar. Isso. De novo. Levante, ela disse a si mesma. Maldição, afaste-o e fique de pé... Porém, a sala ainda balançava, e, a despeito de tudo, os braços dele lhe pareciam seguros como o céu. O ombro dele era firme, mas lhe parecia mais macio que qualquer travesseiro. Os braços fortes, mas gentis ao abraçá-la. Até mesmo seu perfume era reconfortante, masculino e natural. Madison ouvia o coração dele bater calmo, compassado e... Projeto Revisoras

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— Habiba. — Ele pegou o rosto dela e a fez olhar para ele. — Ótimo — ele murmurou. — Seu rosto já readquiriu alguma cor. Como você se sente? — Melhor, obrigada. Obrigada? Ela enlouquecera? Por que agradeceria? Ele acabara de lhe contar uma enorme mentira. O que ele dissera era impossível. A FutureBorn se orgulhava da perfeição de seus procedimentos. Jamais cometeria aquele erro, e aquele homem, todo ego e arrogância, jamais seria um doador. Ela trabalhava na FutureBorn e conhecia o perfil dos doadores: estudantes de medicina que lutavam para pagar a faculdade; cientistas e artistas que acreditavam que seu DNA deveria ser preservado para o futuro. Alguns eram homens comuns que compreendiam o desespero das mulheres que desejavam engravidar e que doavam seu esperma como um ato de altruísmo. Tariq ai Sayf não era um estudante pobre. Não era cientista ou artista, e seria uma piada imaginá-lo como alguém altruísta que se preocupasse com o futuro da humanidade. Ele era o príncipe rico e egoísta de algum país que ainda deveria viver na idade das trevas. Se é que ele era um príncipe. Nova York estava repleta de pessoas que alardeavam títulos falsos. Ela não acreditava. Ele mentira, apesar de ela não saber a razão. Por que ainda estava nos braços dele, usando apenas um roupão tão fino quanto um lencinho? — Obrigada por me ajudar — disse ela, secamente. — Agora estou bem. — Você não parece bem — ele disse, franzindo a testa. — Ainda está pálida. — Eu disse... Ele a soltou. — Eu ouvi o que você disse. Levante, se é o que quer. Madison levantou-se. Foi um erro, porque o movimento repentino fez a sala girar, mas ela não fraquejaria. Tomaria conta de si mesma, como fazia desde a infância. No momento, aquilo significava saber por que ele mentira e, depois, colocá-lo para fora do apartamento e de sua vida. — Qual é o telefone da sua médica? — ele disse, pegando o celular. — Quero que você seja examinada. — Não é preciso. Ele ficou de pé. Era bem mais alto que ela. Madison não gostou da sensação. Era como se ele a lembrasse de seu poder. — Você desmaiou — ele disse, asperamente. — Está grávida, precisa consultar um médico. — Desmaiei porque você me disse algo que é obviamente impossível. — Impossível, mas verdadeiro — ele respondeu com calma. — Isso é você quem diz. O rosto de Tariq ficou sombrio. — Está me chamando de mentiroso? — Não entendo por que diria algo assim sobre você, sobre mim e meu bebê. — Eu disse porque é verdade, e porque precisamos resolver como lidar com a situação. A situação: sua gravidez, seu bebê e a insistência dele em ser a causa de... Projeto Revisoras

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— Você já jantou? Ela riu. — Do médico para o jantar. Você é rápido, não é? — É apenas uma pergunta. Você comeu alguma coisa? — Você entrou como um raio antes que... Não é da sua conta. — Talvez seja por isso que você desmaiou. — Ele a examinou dos pés à cabeça com uma naturalidade que beirava a insolência. — Você sempre pula refeições? É por isso que está tão magra? Deus! Que audácia! — Escute, moço... — Alteza... — ele sorriu. — Porém, dadas as circunstâncias, pode me chamar de Tariq. — Eu não sou magra, não estou com fome e não existem circunstâncias, Alteza. Tariq franziu a testa. Ela transformara a palavra em insulto. Normalmente, ele não a culparia. Títulos de nobreza são arcaicos e ele não os apreciava nem os utilizava, a não ser em casa, onde seu povo insistia em manter a tradição. O desprezo de Madison o surpreendia: os norte-americanos adoravam títulos, em particular, as mulheres. Ele ficou preocupado. Madison Whitney não era como ele esperava. Mulheres lindas e sensuais não deveriam ser feitas de aço. Não se espera que elas ridicularizem o título de um príncipe, nem que o chamem de mentiroso. Talvez ela fosse mais difícil de lidar do que ele pensava. Parecia uma piada do destino: com tantos milhões de mulheres no país, ele engravidara justamente aquela. — Eu lhe dou dois minutos para se explicar — ela disse secamente. — Depois disso, acabou. — Ela ergueu o queixo de modo beligerante. Estava sem maquiagem. Seu roupão era uma tristeza, seus pés estavam descalços e seus cabelos haviam secado ao natural... Apesar de tudo, ela era magnífica. Por Ishtar, ele sentia nos ossos que ela era não apenas linda, mas também corajosa e orgulhosa. Ela lhe daria muito trabalho. — Você já desperdiçou um minuto. — Eu lhe disse por que estou aqui, habiba. Você se recusou a acreditar. — Aquela história maluca? — Ela fungou. — Tente outra vez, senhor príncipe! Tariq contraiu o rosto. Que insolência! Queria agarrá-la e sacudi-la... Ou beijá-la, silenciá-la da mesma forma que fizera no jardim, ou um pouco antes, quando a levara a suspirar de paixão. Ele a carregaria para o quarto, depositaria seu sêmen dentro dela da maneira que deveria ser e... Ele soltou um palavrão, virou-se e entrou na cozinha. — Ei! Ei! O que acha que está fazendo? — Vou fazer um chá com torradas para você. Vamos conversar depois de você comer. — Não quero chá com torradas, não quero conversar e, muito menos, quero vê-lo na minha cozinha. Foi o mesmo que falar com a parede. Madison o viu abrir os armários. — Onde você guarda o chá? — Ele a olhou. — Chá de ervas. Mulheres grávidas não devem ingerir cafeína.

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O que ele sabia sobre mulheres grávidas? Seria casado? Não lhe importava que ele tivesse um harém... — Fascinante — disse ela, alegremente. — Vejo que você é especialista em mulheres grávidas. — Você está perguntando se sou casado? — Ele a viu corar. — Por que eu me importaria? — Para sua informação, não sou casado. Não tenho filhos. Tenho primas e amigas. É por isso que sei essas coisas. Então, onde está o chá? Maldito miserável de nariz empinado! De que adiantava argumentar? Ela não se livraria dele daquele jeito. Seria melhor deixar que ele fizesse seu papel de cozinheiro amador, e, depois, dar-lhe um chute no régio traseiro. — Prateleira de baixo, sob a pia — ela disse, a voz fria. — Gosto da minha torrada com pouca manteiga. — Para sua surpresa, ele riu. — Sim, madame. Resmungando, Madison sentou na banqueta diante do balcão e observou-o se movimentar pela cozinha, pegar o pão na geladeira, o saquinho de chá na lata... Ela reparou que ele não lhe perguntara qual sabor preferia. Por que perguntaria, se ele achava que sabia de tudo? Deus, ela o desprezava! E pensar que ele, entre todos os doadores da FutureBorn, seria o pai de seu bebê... Pai, não, reprodutor, como um garanhão. Havia uma grande diferença. Além disso, não era verdade. Ele não precisava de dinheiro e não tinha um pingo de altruísmo naquele corpo firme e bonito. Afinal, por que ele lhe dissera ser o pai do bebê? — Por quê? — ela soltou a pergunta, apesar de ter decidido esperar. — O que faz aqui? Por que essa história absurda? Que razão você teria para... Tariq colocou um prato diante dela: torradas com manteiga, e, ao lado, uma gota de geléia de morango. — Coma. Madison observou o queixo firme e os olhos frios e resolveu que seria melhor obedecer. Estava mesmo com fome, sentia-se até um pouco tonta. Afinal, agora comeria por dois. Pegou uma torrada, lambuzou-a com geléia e comeu. O príncipe que virará cozinheiro colocou um bule de chá quente ao lado do prato. — Você não tem mel — disse ele em tom de acusação. — Só tem açúcar refinado, que não é bom nem para você, nem para o bebê. Madison piscou exageradamente. — Que beleza — ela disse em voz macia. — Um príncipe, um cozinheiro e um médico especialista. Que sorte eu tenho por você estar por perto! Provavelmente, ele se via como uma dádiva para as mulheres, seu DNA, um presente para o mundo. Sua pose, encostado ao balcão, de braços cruzados, demonstrava extrema segurança. Era absurdo que ele afirmasse ter doado seu esperma, mas, se fosse verdade, a mulher que o utilizasse teria sorte, presumindo que acreditasse em aparências. Desprezar o sheik de Dubaac não significava ser cega. As mulheres deveriam cair aos seus pés. Ela mesma, antes de conhece-lo, fizera papel de Projeto Revisoras

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tola. Deixara que ele a beijasse e a tocasse, até que tudo que importava era a sensação das mãos dele e o sabor de sua boca. A única "contribuição" que um homem daqueles faria seria na cama com uma mulher que implorasse para ser possuída. — Em que está pensando, habiba? Se Madison não fosse esperta, poderia jurar que ele adivinhara seus pensamentos. Os olhos dele brilhavam. O ar que os envolvia parecia pesado. Ela queria desviar os olhos, mas não conseguia. — Você está com o lábio sujo de geléia — ele disse em voz rouca. — Onde? — ela perguntou, sussurrando. — Bem aqui — ele disse, limpando-lhe a boca com a língua. Ela fechou os olhos e suspirou... Os dois se separaram de repente. Ele se virou e se afastou, mas não depressa o suficiente para impedir que ela percebesse o volume que crescia dentro da calça jeans. Ele não era o único. Ela também sentia o calor entre as suas coxas, o quase doloroso intumescimento de seus mamilos contra o tecido do roupão. Será que ele notara? Como podia um beijo provocar tal reação? Ela esperou que seu coração se acalmasse. Quando levantou os olhos de novo, Tariq estava diante da pia e lavava a louça com a maior naturalidade. — Está bem - disse ela secamente. — Você já praticou seu ato de caridade do dia, e eu já me sinto melhor. Obrigada... Agora, vá embora. Tariq secou as mãos e se virou para ela como se nada tivesse acontecido. — Você quer dizer que agora vamos conversar. — Certo — disse Madison. — Fale, mas não leve muito tempo para me dar uma explicação convincente para sua presença. — Eu já lhe disse. Madison suspirou. De repente, estava exausta. O dia fora longo. Começara com a excitante notícia da gravidez e terminava com a intrusão de Tariq ai Sayf em sua vida. — Vou lhe explicar por que o que você alega é impossível, presumindo que você seja mesmo um doador da FutureBorn. — Eu não diria dessa maneira. — Eu diria que selecionei um doador com muito cuidado. E esse homem não era você, Alteza. Ele deu um sorriso sem graça. — Eu não pretendia ser. — Minha escolha foi... Atende perfeitamente aos meus requisitos. Seus requisitos. Interessante, pensou Tariq. Ela selecionara o pai de seu filho da mesma maneira que ele pensara em escolher uma mulher que lhe desse um herdeiro. — Escolhi um homem gentil, agradável. Um intelectual com tendências criativas. Mais um sorriso, rápido e perigoso. — E aqui estou eu. Um bárbaro, de um país que você nunca ouviu falar. Cruel, insensível. Tão intelectual quanto um jogo de futebol. É isso que você pensa? Por que mentiria? Madison deu de ombros.

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— Foi você que disse, não eu. Além disso, não posso imaginá-lo como doa... — Ela franziu a testa ao vê-lo tirar um envelope do bolso e jogá-lo sobre o balcão. — O que é isso? — Abra. Ela olhou do envelope para ele. A expressão de Tariq era impenetrável. Sua ausência de emoção era mais expressiva do que tudo o que ele dissera. — Isso não vai mordê-la, habiba. É uma carta do meu advogado. Sugiro que leia, antes de dizer algo mais. Madison não queria ler. Tinha a sensação de que, se abrisse o envelope, abriria as portas do inferno. — Leia — disse Tariq. Seria impossível ignorar aquela ordem. O envelope era macio e cor de marfim. A folha de dentro também. O papel timbrado fez o coração de Madison bater mais forte. Strickland, Forbes, DiGennaro & Lustig, Advogados. O escritório era conhecido em Nova York por sua tradição, sua reputação ilibada e por seus clientes terem o sangue mais azul dos azuis. Eles não representariam um falso príncipe e não assumiriam um caso de brincadeira. Ela sentiu um nó na garganta. — Quer que eu leia para você? Madison ergueu a cabeça. O príncipe olhava para ela como um gato para o rato. — Não — disse ela. — Pode ser surpresa para você, mas sou perfeitamente capaz de ler sozinha — acrescentou, com um sorriso de fingida indiferença. No princípio as letras lhe pareciam borradas. Aos poucos, elas se tornaram mais nítidas.

À Sua Excelência, Príncipe Tariq ai Sayf, Príncipe de Dubaac, herdeiro do trono do Falcão Dourado. Saudações. Certo, ele tinha um título real. Ela não ligava para títulos... referente à nossa conversa anterior... O jargão legal enchia o parágrafo.

Madison sentiu a tensão diminuir. O excesso de termos legais, em geral, resultava no excesso de bobagens. Infelizmente, devo confirmar sua preocupação. Apesar de nossos procedimentos legais, alguns erros de significante dimensão... A visão de Madison ficou embaçada de novo. Ela respirou fundo, esperou um pouco e continuou a ler. A FutureBorn reconhece que o sêmen de Vossa Alteza, príncipe Tariq ai Sayf, que

deveria ser preservado para uso pessoal, ou de acordo com a devida autorização, foi inadvertidamente encaminhado à Dra. Jennifer Thomas, e introduzido no útero da srta. Madison Whitney, que reside na... A carta flutuou até o balcão. Introduzido, pensou Madison ao sentir uma gargalhada histérica morrer na garganta. O esperma dele fora introduzido em seu útero. Ela olhou para Tariq. Ele a observava com fria curiosidade. Sem sentir, Madison colocou a mão no ventre. — Eu disse a verdade, habiba. Não tenho o costume de mentir. Maldito hipócrita! Sua única preocupação era que ela duvidara dele. E quanto às preocupações dela? Ela fora enganada. Ele era apenas o doador, ela, a mulher que desejava ter um filho... Entretanto, a carta dizia outra coisa. Ela releu o parágrafo referente à preservação do esperma para uso próprio. Projeto Revisoras

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— O que significa isso? Aqui diz que você não pretendia doar seu... — Ela não conseguia pronunciar a palavra. — Você não pretendia que sua doação fosse anônima? — Eu faço doações para os escoteiros, para a conservação do ambiente... Não para bancos de esperma — ele disse, com um sorriso desagradável. — Então, por que... A expressão de Tariq se tornou inescrutável. — Isso é problema meu. — Seu problema? — Afinal, ela soltou a gargalhada histérica que estava presa na garganta. — Seu problema, príncipe Tariq, está dentro do meu corpo! Isso o torna meu problema também. Para disfarçar, Tariq se serviu de um pouco de chá, que não desejava beber. Precisava de tempo para pensar. Devia admitir que a situação era difícil para ela, mas não tão grave como para ele, claro. Ela não tentava salvaguardar o futuro de um país, mas, mesmo assim, escolhera um determinado tipo de homem para conceber uma criança, e acabara com quem? Com ele. Algumas mulheres dariam a vida para estar no lugar de Madison, mas ele sabia que ela iria rir se ele lhe disse isso. Ela era corajosa, linda e radiante. Por que recorrera a um banco de esperma? Poderia ter o homem que quisesse. Por que não casara? Por que não pedira o sêmen a um namorado? — Eu também tenho perguntas — disse ele. — Por que você não é casada? Por que preferiu usar o esperma de um estranho? Ela corou, mas não se mexeu. — Eu poderia lhe dar a resposta que você me deu: não é problema seu. De que adiantaria? Não sou casada pelo mesmo motivo que recorri a um banco de esperma: não acredito em casamento ou em relacionamentos. Ele não entendia. Uma mulher que se incendiava nos braços de um homem era feita para o sexo, não para tubos de ensaio... Mas nada disse: queria que ela cooperasse, não podia provocá-la. — Agora é sua vez, Alteza. Por que procurou a FutureBorn? Tariq ficou muito sério. Talvez ela tivesse direito a uma explicação. — Por causa do meu povo. Sou filho do sultão de Dubaac. Meu pai teve dois filhos. Meu irmão, Sharif, e eu. — Ele fez uma pausa. Ainda lhe doía falar do assunto. — Sharif morreu em um acidente há alguns meses. Ele não era casado, e não tinha filhos. Não deixou um herdeiro, o que significa que, agora, eu sou o herdeiro do trono do Falcão Dourado. Apesar de procurar, não consegui encontrar uma esposa adequada — algo que preciso fazer depressa. Meu pai tem boa saúde, mas ninguém conhece o futuro, e se algo acontecesse com ele e depois comigo... — Por que ele lhe contava tudo? A pergunta dela fora simples, a resposta também deveria ser. — Preservar minha semente me pareceu apropriado. — Ele apertou os lábios. — Mas a FutureBorn cometeu um engano. Vim aqui para tentar remediar esse erro. Ela o olhou com interesse. — Como pretende fazê-lo? — Sua expressão era fria. — Se você pensa que vou fazer alguma coisa para interromper a gravidez... Projeto Revisoras

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— Eu jamais pediria que você fizesse isso! — Ótimo, porque... — Ela viu que ele tirava outro envelope do bolso. — Outra carta? — ela disse com cautela. Ele sorriu. — A solução do nosso problema. — Ele colocou um papel sobre o balcão. — Vou pagar suas despesas médicas. — O quê? Não é preciso. Eu não quero! Esse bebê é... — E suas outras despesas. Você não vai trabalhar durante a gravidez. Assim que meu herdeiro nascer, você cuidará dele... — Ele olhou em volta como se visse o apartamento pela primeira vez. — Seu apartamento é razoável, mas eu preferiria instalá-la num lugar maior... — Você está louco? — Um lugar que tenha espaço para uma babá, apesar de esperar que você cuide da criança. — Madison riu, e ele ficou furioso. — Você acha divertido? — Divertido? É assustador. Você é tão bobo quanto parece? — Ela levantou da banqueta, aproximou-se de Tariq e o olhou com ar de desafio. — Escute bem, porque só vou dizer uma vez: esse bebê é meu, não seu. Você não tem nada a dizer sobre minha gravidez, onde moro, o que faço, ou sobre o que vai acontecer depois que meu filho nascer. Entendeu, Alteza? Saia! Saia da minha casa e da minha vida. Você é um homem terrível, impossível. Não quero vê-lo de novo! — Sou o príncipe herdeiro de Dubaac — Tariq disse friamente. — Você carrega meu herdeiro. — Duvido! — Dez milhões de dólares. — Madison olhou para ele sem entender. — Está bem — ele disse de maneira implacável. — Vinte milhões. — Pelo quê? — É o que pretendo lhe pagar no primeiro aniversário da criança, que então terá idade suficiente para se separar da mãe. É claro que você terá o direito de visitá-la... — Tariq pressentiu o golpe quando ela avançou, mas não teve tempo de se esquivar. Ela o acertou no olho, e para sua surpresa tirou-lhe o equilíbrio. — Seu... seu maldito, miserável, seu desgraçado pomposo! — Madison avançou de novo. Tariq a pegou pelos pulsos, o que não foi fácil, porque seu olho latejava. Maldição! Como poderia um fiapo de mulher dar um soco daqueles? Ela se contorcia, lutando para se soltar. Ele estava meio cego, e para evitar um novo ataque abraçou-se a ela como fazem os lutadores de boxe, prendendo-a contra o corpo. — Esse bebê é meu, seu miserável patético! Não é seu herdeiro. Não é algo que... se vende! Se você tentar me tirar essa criança, garanto que vai apodrecer na prisão. — Você é uma mulher inteligente. — Ele tentou pela última vez. — Pense um pouco. Você é jovem, fértil, poderá ter outro filho. — Que tal você arranjar outro cérebro? Eu quero esta criança. Eu amo meu bebê. Ouviu, sua baixeza! Eu-amo-o-meu-bebê!

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Tariq ficou preocupado. Pensara em tudo, menos nesta possibilidade. Ele queria um filho por dedicação ao seu povo. Ela queria um filho por instinto maternal. Não lhe ocorrera acrescentar o amor à equação. Sua mãe fora uma visão perfumada, que entrava e saía da vida dele e do irmão, que parecia contente com eles, mas... amor...? — Ama? — ele perguntou. — Amo — Madison disse com firmeza. Tariq franziu a testa. Se estivesse em seu país, exigiria que ela obedecesse, mas estavam nos Estados Unidos e ela tinha uma visão sentimental da realidade. Strickland o avisara de que não havia precedentes legais que fundamentassem um processo em que doador e receptora de esperma disputassem a custódia de um nascituro. E agora? Uma longa, penosa e escandalosa batalha legal? A embaraçosa confusão estampada nos jornais? Os abutres da imprensa se alimentariam com o caso durante meses. Sua reputação seria arruinada. Pior: seu pai, seu povo, seu país, seriam humilhados. Não importa como o caso acabasse, seu herdeiro seria motivo de eternas piadas. Madison ainda se contorcia em seus braços. Ele estava cônscio da maciez de seus seios, do contato de seus quadris, de seu perfume sensual e feminino... A despeito de tudo — da raiva, da intransigência de Madison, da armadilha legal em que se metera — o corpo de Tariq reagiu. Ele começou a ficar excitado. Começou? Ele estava com ereção, e ela sabia. De repente, ela parou e olhou para o rosto dele. Tariq tentou interpretar o misto de ira e de medo nos olhos dela, mas foi impossível, porque havia algo mais em seus olhos: desejo. Tariq gemeu, abaixou a mão dela e a fez sentir o estado em que o deixara. Madison deu um gemido abafado e ele a beijou com intensidade. Ela ronronou como um gato e mordeu-lhe o lábio. Ele sentiu o gosto de sangue, de raiva, de algo mais obscuro e primitivo, e logo a língua de Madison dançava contra a sua, ela o puxava pelos cabelos e retribuía o beijo, agarrando-se a ele. Tariq deslizou as mãos sob o roupão de Madison, envolveu-lhe um dos seios e perdeu o fôlego ao sentir o mamilo que se enrijecia ao toque de seus dedos. Ela gritou baixinho e se apertou contra ele. — Sim — ela disse em voz rouca. — Sim... A mão de Tariq desceu pelo corpo de Madison, tocou seu ventre e acariciou o vértice entre suas coxas. Ela gemeu alto de novo enquanto ele a beijava e lhe abria o roupão. De repente, ela enlouqueceu. Empurrou Tariq e bateu em seu peito com os punhos. — Não — disse com voz trêmula. — Não, não! — Ele não ouviu. Não podia ouvir. Sempre obtinha o que queria... — Não! — Ele se afastou com a respiração ofegante. Ela já jogara aquele jogo com ele. — Vá embora! — ela sussurrou. Sua voz tremia. — Você me ouviu? Saia! Tariq olhou para ela e pensou em como seria fácil acabar o que começara. Poderia carregá-la para a cama e mostrar-lhe o que acontecia quando se provocava um homem até muito além do limite. Entretanto, o preço seria alto demais. Havia uma nova peça no jogo: a criança que haviam concebido juntos sem fazer sexo, sem sentir qualquer Projeto Revisoras

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emoção. A criança que Madison não lhe entregaria e que ele não poderia deixar com ela. Tariq afastou-se, passou as mãos pela cabeça e se acalmou. Quando se virou para ela, seu rosto era uma máscara. — Eu não vou tirar a criança de você — disse ele em tom rouco e brusco. — Não — disse ela com convicção. — Claro que não vai! — O que vou fazer — disse Tariq com segurança — é me casar com você.

CAPÍTULO SEIS Nas primeiras horas da madrugada a estrada através das altas montanhas que cercam o vale do rio Hudson estava quase deserta. Apesar de estar apenas a uma hora de Manhattan, Tariq imaginou que dirigia seu Porsche através das altas colinas de Dubaac e pisou mais fundo. A última vez em que consultara o velocímetro ele marcava mais de 120 uma velocidade arriscada, numa estrada perigosa, o ideal para um homem dominado por uma fúria incontrolável. Ele oferecera se casar com Madison Whitney, e ela rira em sua cara. Tariq apertou o volante. De início, ele pensara que ela ficara chocada. Não poderia culpá-la. Também ficara chocado, mas não vira outra saída. Ele esperava tudo, menos uma gargalhada. — Eu? — ela dissera. — Casar com você? Quem ela pensava ser? Por Ishtar, ela não transformava palha em ouro! Ele não era nenhum Rumpelstiltskin1. Era um sheik, um príncipe, e lhe propusera casamento! A raiva o descontrolara. Tariq queria agarrá-la e sacudi-la até que seus dentes batessem... Ou fazer algo mais primitivo: levá-la para a cama, rasgar-lhe o roupão, possuí-la várias vezes, até que aquela gargalhada se transformasse em gemidos de paixão, até que ela entendesse as conseqüências de provocar um homem a ponto de fazê-lo perder a cabeça. Mas não! Conseguira manter sanidade suficiente para se perguntar se não era exatamente o que ela queria: transformá-lo em animal. Ele a insultara, empurrara-a para longe e saíra. Agora, aliviava a raiva e a frustração na estrada. O carro correspondia ao seu toque, assim como ela correspondera... Que importava? Ele jamais escolheria uma mulher como Madison Whitney. E daí se ela era linda? O mundo estava cheio de mulheres lindas. E daí se ela o enredara num nó sexual? Conhecia várias mulheres que se encantariam em satisfazê-lo. Por que iria querer uma esposa que apreciava joguinhos sexuais, que o provocava e zombava dele? Uma mulher que, num segundo, passava de gata sensual a gata selvagem...

Personagem de conto de fadas dos Irmãos Grimm, em que uma jovem transforma palha em ouro e é ajudada por um duende que em troca exige que ela lhe entregue o primeiro filho. (N. da T.) 1

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A estrada fez uma curva fechada. Tariq não diminuiu a velocidade. Ficou satisfeito quando os pneus cantaram e a adrenalina se espalhou em suas veias. Tinha controle suficiente do carro para impedir que ele se lançasse pela beira do abismo. Se ao menos pudesse controlar aquela maldita mulher da mesma maneira! Ele tentara resolver o problema, apesar de ela não ser o que ele queria, mas não tinha escolha, queria a criança. Talvez ele fizesse Madison mudar. Adestrara cavalos, cães e falcões. Claro que treinar uma mulher seria diferente. Ele era um homem moderno, cônscio da igualdade de direitos, mas o método seria o mesmo: regras, objetivos, recompensas e penalidades. Ela protestaria, mas era inteligente e aprenderia rapidamente. Todos se beneficiariam. O trono teria um sucessor, a criança teria seus direitos e Madison teria um marido. Era o que ela precisava: um marido, para domá-la. Que ela pensasse em ter um filho sem ser casada revelava muito sobre sua teimosia e obstinação. Tariq diminuiu a velocidade e parou. Abriu a janela e deixou que a brisa o refrescasse. Madison carregava seu herdeiro, e ele não seria afastado da vida daquela criança. O que poderia fazer? Não adiantaria pedir o conselho de Strickland, que não saberia o que dizer. Além disso, não pretendia contar ao advogado que pedira Madison em casamento, e que ela rira de sua proposta. Tariq suspirou. Era um homem moderno, em todos os sentidos: viajava em seu jato particular, organizava a vida numa agenda eletrônica, não imaginava a vida sem computadores e celulares. Entretanto, havia momentos em que ele via as vantagens de alguns antigos costumes. Alguns séculos antes, quando um homem de seu povo desejava uma mulher que o rejeitava, tudo o que precisava fazer era seqüestrá-la, dormir com ela e declarar publicamente que estavam casados. Ainda hoje se encontravam vestígios da antiga tradição. Algumas vezes, os noivos encenavam um rapto no fim da festa de casamento, para alegria dos convidados. Entre alguns grupos mais ligados à tradição, aquele comportamento ainda era o suficiente para tornar um casamento legítimo... Tariq apertou o volante. Ele enlouquecera... Mas era a única opção que lhe restava. Voltou para casa e deu vários telefonemas, sem se importar que já passasse de 1h. Um príncipe tinha privilégios, e ele jamais se prevalecera dos seus, apesar do que Madison pensava. Agora ele os usaria a seu favor. Uma hora depois, estava tudo preparado: o piloto, o avião, a florista... Todos haviam concordado em ajudá-lo. A florista chegara a declarar que jamais vira algo tão romântico. Realmente, era romântico, pensou Tariq ao desligar. Madison que risse à vontade. Quando ele mergulhou na cama, dormiu com a tranqüilidade de alguém que fizera a coisa certa — talvez forçado, mas fizera. Madison mal dormira. Revirara-se na cama a noite toda, pensando no arrogante, insolente, vil, orgulhoso príncipe, Ele realmente acreditara que seu título a impressionaria, que ela faria uma reverência, bateria as pestanas e diria: Ah, sim, majestade, claro. Eu lhe vendo meu bebê. Quando ela fizera o contrário — surpresa! — ele lhe propusera casamento. Como se ela fosse um objeto à venda!

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— Pense um pouco — ela murmurou na escuridão. Ele estava transtornado. E daí? Ela também estava. Fizera planos, escolhera o perfeito doador, e acabara com o quê? Com o insuportável príncipe. Ele ficara transtornado ao saber que ela estava grávida de um filho seu, mas não era filho dele. Ela fizera a inseminação, ela carregaria e nutriria aquela vida em seu ventre durante os próximos oito meses. A participação dele acabara. Além disso, ele não tinha direitos legais, dizia o contrato da FutureBorn. O doador ficaria anônimo... Mas o príncipe não era um doador. Ele coletara o esperma para usar no futuro... Por que um homem tão bonito precisava preservar seu sêmen num tubo de ensaio, quando qualquer mulher que ele desejasse... Maldição! Madison sentou na cama e acendeu o abajur. Ela jamais lhe entregaria o filho. Jamais se casaria com ele. Se ele se comportasse como um ser humano, não como um tirano, ela faria algumas concessões. Permitiria que ele mantivesse contato com a criança. Quatro visitas por ano. Não, seis, se ele se comportasse, se apenas visitasse o bebê, se não a beijasse... Se não tocasse nela, em seus seios, entre as suas coxas... Ela estremeceu, apagou a luz e enfiou o rosto no travesseiro. Resolveria o assunto no dia seguinte. O dia começou bem para Madison. Tudo funcionou com perfeição. Enquanto ela se vestia, pensava no que fazer a respeito do príncipe. Quando chegou ao escritório, ainda não resolvera. Ao entrar, foi recebida por funcionários radiantes de satisfação. Tão excitante. Incrível. Conte os detalhes. Madison se espantou. O mundo inteiro saberia que ela estava grávida? Não. Eram as flores. AS FLORES, em letras maiúsculas, ela pensou, intrigada. Vasos e vasos. Rosas de todas as cores, tulipas. Cestas de violetas, crisântemos, orquídeas delicadas e lindas. Estava cercada de flores. Junto, viera um cartão lacrado:

Prezada Madison. Espero que você possa me perdoar pelo comportamento da noite passada. Eu fui rude e insensível, e a única desculpa que posso dar é o choque que sofri ao descobrir o engano que nos afetou de maneira tão profunda. Ficaria agradecido se você aceitasse almoçar comigo. Poderíamos discutir a situação com calma. Compreendo perfeitamente que você tenha recusado o pedido que lhe fiz de maneira tão impulsiva, e espero encontrar uma solução mais razoável, que seja satisfatória para nós dois, e, mais importante, para a criança. Mandarei o carro para pegá-la ao meio-dia. Mais uma vez, por favor, perdoe-me. Sinceramente, Tariq. Madison olhou ao redor. Todos sorriam. Achavam que ela tinha um novo namorado. Ela não se importava. Quanto às desculpas do príncipe... ela as aceitaria. Colocara-se no lugar dele ao receber a notícia da gravidez. Era razoável. Almoçariam e conversariam, ela lhe garantiria o direito de visita... Mais tarde, ela teria que contar ao filho que seu pai era um príncipe, o que não seria tão difícil quanto explicar como ele fora concebido. Na hora marcada, Madison entrou numa confortável limusine. O motorista lhe entregou um envelope. Projeto Revisoras

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O carro partiu e ela leu a mensagem. Era uma curta desculpa. Tariq lamentava, mas tivera uma emergência de trabalho e precisava voar para Boston. Esperava que ela mantivesse o compromisso para o almoço, já que ele deveria ficar algumas semanas fora da cidade. Gostaria de resolver a situação. O motorista a levaria até o aeroporto e almoçariam no avião. Ela poderia passar a tarde em Boston ou voar de volta para casa logo depois. Desculpava-se pela mudança de planos. Madison estremeceu. Eram muitas desculpas para quem — ela poderia jurar — jamais se desculpava... Sentiu um arrepio de medo, mas o que havia a temer? No mundo do príncipe, almoçar no avião deveria ser comum. O avião de Tariq a esperava numa pista secundária do aeroporto de Nova York. Na fuselagem havia a imagem de um falcão dourado e a inscrição: Reino de Dubaac. Madison percebeu que era o brasão real e ficou perturbada. Ridículo, um avião particular é apenas um avião: que diferença fazia se pertencia a uma empresa ou a um rei? Ela hesitou quando o motorista abriu a porta. Não vá, disse uma voz dentro dela, mas ela a ignorou e saiu do carro. Um comissário a esperava ao pé da escada. — Srta. Whitney — ele disse com gentileza. — Como vai? Outro comissário cumprimentou-a na entrada do avião. Tanta gentileza! Tanta suntuosidade!, pensou Madison, perdendo o fôlego. Já voara muitas vezes na primeira classe, mas aquilo era outro mundo: carpete azul-escuro, poltronas de couro claro, vários ambientes. Uma mesa estava posta entre duas poltronas. Flores, guardanapos de linho, porcelana chinesa, talheres de prata... — Madison. — Tariq veio recebê-la. Usava um terno cinza, camisa branca, gravata marrom... e, Deus, estava lindo. — Alteza. — Podemos dispensar as formalidades. Chame-me de Tariq. — Ele sorriu e pegou a mão de Madison. — Tariq — disse ela, com o coração acelerado. Ele estava muito diferente. Risonho, educado, charmoso. Madison corou e recolheu a mão rapidamente. — Obrigada pelas flores. Eram lindas. — Fico contente que tenha gostado. Foi gentileza sua aceitar minhas desculpas. —Acho que nós dois estávamos muito perturbados ontem. — Concordo. — O avião começou a se movimentar. Tariq a pegou pelo braço. — Vamos sentar? — Ele a levou até a mesa. — Pedi a Yusuf para nos servir quando o avião estabilizar. Você deseja beber alguma coisa? Suco, água, chá? — Não, obrigada. — O avião entrou na pista de decolagem. Madison sentiu uma nova pontada de medo. — Sabe... estive pensando sobre este almoço... — Você acha que deveria ter recusado — disse ele sério e com um ar impenetrável. O coração de Madison se apertou, mas então ele sorriu. — Fico feliz que tenha vindo — ele comentou, gentilmente. — Podemos conversar o tempo que quisermos, e nos conhecer melhor. — O vôo para Boston dura menos de uma hora. — Ela sorriu. Projeto Revisoras

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— Eu lhe prometo, Madison, teremos o tempo que for necessário. Agora vamos almoçar. Água Perrier, copos de cristal, um caldo, escalopes com aspargos, framboesas com creme. Chá de menta para ela, café para ele... Tariq foi atencioso e charmoso. Não parecia o mesmo homem que ela conhecera na festa, nem o homem grosseiro que forçara a entrada em sua casa. Apesar disso... algo estava errado. Havia alguma coisa sob a superfície educada, algo obscuro e perigoso, e, sim, extremamente excitante... E por que ele precisara congelar seu esperma... — No que está pensando? — A voz dele era rouca e baixa. Madison sentiu que corava e meneou a cabeça. — Nada em particular... — Você está imaginando por que resolvi entregar meu esperma à FutureBorn? — Era um assunto que já tinham discutido. Não era isso que a fazia corar. Ela corava diante da figura sexy, ardente... — Foi como lhe contei. Meu irmão seria o sultão após a morte de meu pai, mas ele morreu antes de casar, sem deixar um herdeiro. — Ele contraiu o rosto e fez um gesto de comando. Yusuf correu para tirar a mesa e desapareceu. — E por que você não casou? — Até aquele momento eu não queria me casar — disse Tariq simplesmente. — Tudo mudou com a morte de Sharif. Comecei a procurar uma esposa. — Ele deu uma risada seca. — Creia, eu tentei. Não deu certo. Talvez houvesse muita pressão, ou talvez fosse carma. Seja como for, o tempo passou e eu ainda não encontrei uma esposa. — Mas você ainda é jovem. — O destino não respeita idade — disse ele com calma. — A prova foi o que aconteceu com Sharif. Eu pensei: e se algo acontecer comigo? — Os olhos dos dois se encontraram. — Então eu vi o programa da FutureBorn. — O programa em que eu estava? — No início, só vi sua beleza. Depois, conheci você e... — Eu não quero falar sobre aquela noite. Foi um erro. — O único erro — disse Tariq roucamente — foi deixá-la ir embora. — Não, foi a coisa certa a fazer. Eu não queria me envolver. Quero ter minha própria vida, uma carreira, um filho. — Mas não um marido. — Não. — Uma criança precisa de pai. — Alteza... Tariq... — Vou ser mais explícito: meu filho precisa de um pai. Madison sentiu uma pontada de alarme. — Olhe, eu vim até aqui de boa-fé. Você disse que iríamos conversar... — Estamos conversando. — Ele se levantou, pegou a mão dela e a ajudou a levantar. — Essa criança pertence a nós dois. Projeto Revisoras

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— Não. Sim — Ele a confundia. Estava muito perto. Precisava levantar a cabeça para encará-lo e ficava tonta, ou talvez fosse a presença dele que a deixava estonteada. — Nós criamos essa vida, mas eu a desejava. — Eu também — disse ele secamente. — A única diferença é que eu queria escolher a mãe do meu filho. — Eu compreendo, e não há nada que eu possa fazer, mas estou disposta a lhe garantir certos direitos. — É mesmo, habiba? — ele sorriu. — Você poderá vê-lo seis vezes por ano. — Quanta generosidade — A voz era fria. Madison queria se afastar, mas ele a segurava pelos cotovelos. — Você sabe que eu não precisaria lhe conceder tantas visitas. Na verdade, não precisaria lhe conceder nenhuma. Então, agradeça por eu... — Agradecer? — ele grunhiu. — Eu não deveria ter falado dessa maneira, mas... — Você não ouviu uma palavra do que eu disse? A criança que você carrega, meu bebê, será herdeiro do trono de Dubaac. — Isso é ridículo! — Estou cansado de discutir sobre algo que não é negociável, Madison. Eu lhe ofereci uma saída ontem à noite. Agora, ofereço de novo. Eu me caso com você. — Basta! Diga ao piloto para voltar. Não vou para Boston. Não vou a lugar algum. Não vou conversar com um... maluco! — É isso que eu sou? — Ele apertou os cotovelos de Madison. Ela ficou na ponta dos pés. — É isso que você sente quando coloco minhas mãos nos seus seios, minha língua em sua boca? — Você é desprezível! Faça este avião voltar agora mesmo — ela disse, indignada. — É tarde demais. — Assim que aterrissarmos em Boston seu piloto me levará de volta para casa. Exijo que ele me leve de volta a Nova York! — Você não está em posição de exigir. Ela fora muito tola em concordar com o almoço! Madison se contorceu freneticamente, tentando se soltar das mãos de Tariq. Ele riu e a puxou até que ficasse encostada em seu corpo esguio e firme. — Repartir o pão é um antigo costume do meu povo, habiba. É uma forma de transformar inimigos em amigos. — Nós nunca seremos amigos. Eu o desprezo! E pensar... pensar que eu recebi seu esperma... — Você quer dizer que o recebeu de um tubo de ensaio. — Ele a pegou pelo queixo e admirou seus lábios. — De um vidro frio, em vez da carne quente — sussurrou. — Deitada numa mesa de exame, não na cama, nos meus braços, com as pernas em torno da minha cintura, com os lábios ardentes e úmidos colados aos meus...

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— Não. — Madison gritou, mas ele já a beijava sem piedade, até que ela jogasse a cabeça para trás... Até que as mãos que pretendiam afastá-lo agarrassem seu pescoço. Com um suspiro de rendição, os lábios de Madison se abriram, ávidos para receber a língua de Tariq. Ele cruzou o avião com Madison no colo, mas foi ela quem fechou a porta e os trancou na cabine particular, no fundo do corredor. — Tariq — ela sussurrou. — Tariq... Ele lutou com os botões da blusa branca de seda, até que praguejou e a rasgou. Madison não usava sutiã. Dissera a si mesma que o dia estava quente, mas agora, sentindo os lábios de Tariq em torno de seu mamilo, ouvindo o próprio grito de paixão, sabia que não o vestira porque era isso que desejava. — Madison. — A voz dele estava rouca e arrastada. — Sim — ela sussurrou. — Sim, sim... Caíram juntos na cama. Ela levantou os quadris e ele puxou sua saia. Ela tentou despi-lo, mas, quando viu, ele já estava nu, e tão excitado que por um instante ela teve medo de seu tamanho. — Me toque — ele gemeu, e fez com que ela o tocasse. Sua carne pulsou sob os dedos de Madison. Ela tinha razão, ele era enorme, ela não conseguia fechar a mão em torno dele. — Olhe — ele disse, com voz rouca. Ele a levantou pelos quadris, moveu-se para a frente e entrou no corpo de Madison com um longo e firme movimento. Ela gemeu o nome dele, gritou de prazer ao senti-lo dentro dela, completando-a... Tariq se inclinou e a beijou profunda e sequiosamente. Madison o enlaçou em seus braços. Sentia a leve tensão no corpo dele, que tremia sob suas mãos. Ele se conteve, esperando que ela se acostumasse ao seu volume. Madison não agüentou esperar. Começou a se contorcer... — Habiba — disse ele, em tom de advertência. — Sim — ela respondeu, levantando o corpo, encontrando o ritmo e juntando-se a ele... Um segundo depois, aconteceu. Eles estavam numa onda infinita e vibrante de paixão. Tariq jogou a cabeça para trás, mergulhou no corpo dela mais profundamente e explodiu. Caiu sobre Madison e afundou o rosto em seu ombro. A respiração dele estava ofegante, o peso de seu corpo a esmagava contra o colchão, mas ela estava adorando sentir o corpo dele contra o dela, seu perfume, seu suor, seu sexo e toda a sua gloriosa masculinidade... Tudo fazia sentido. Os últimos vestígios de paixão arrefeceram. A fria realidade prevaleceu. Deus, o que ela fizera? Ele a possuíra apenas para enfraquecê-la, para provar sua fragilidade diante de seu poder. Ele era um homem que sempre conseguia o que queria... E ele queria o seu bebê —Afaste-se de mim! — A voz dela estava tão fraca quanto ela. Quando ele não se mexeu, ela bateu com os punhos no ombro dele. — Maldição. Saia! Tariq levantou a cabeça, rolou para o lado dela e colocou a mão sobre seus quadris, segurando-a no lugar. — Que conversa de travesseiro mais agradável, habiba. — Seu tom era preguiçoso, seu olhar, esgazeado. — Você tem sempre esse bom humor após o sexo? — Projeto Revisoras

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Ela não respondeu e ele se dedicou a observá-la. Estava mais linda que nunca, os cabelos louros espalhados no travesseiro, os lábios e os mamilos rosados por causa dos beijos, os seios intumescidos de êxtase. A única coisa que estragava era seu olhar. Ela se entregara a ele e agora se odiava. Ele não planejara tudo aquilo. Seqüestrá-la? Sim. Levá-la para Dubaac, para o Palácio Dourado? Sim. Chegando lá, imaginara seduzi-la com fria deliberação. Mas isso... a incontrolável e ardente paixão que o consumira, o desejo avassalador, a necessidade de possuí-la, ele não previra, assim como não esperava querer tomá-la nos braços agora, beijá-la, recuperar a expressão que ela tivera no rosto há alguns momentos — um misto de desejo, necessidade e algo que transcendia a submissão... Tariq rolou para fora da cama e se vestiu. — Qual o problema, habiba? Você nunca perdeu um jogo? Madison se cobriu com o edredom. — Isso é um jogo para você? — Que mais poderia ser? Um jogo que você joga muito bem. A sedutora e o sapo. A sedutora e o príncipe. — Seu sorriso era frio. — Mas você tem razão. Não é hora de jogar. Tudo o que importa é a criança. As lágrimas ardiam nos olhos de Madison. Seu orgulho estava em frangalhos. Sua roupa estava destruída. Quando saísse do quarto, todos saberiam o que haviam feito. — Eu estava certa sobre você — disse ela, arrasada. — Você é um ser humano desprezível! Tudo isso, só para... me levar para a cama... — Você me subestima, Madison. — O que quer dizer? — Quanto tempo você acha que leva para ir até Boston? — A mudança de assunto a pegou desprevenida. Tariq quase podia vê-la calcular o tempo de vôo. — Estamos voando há quase três horas. — Então, por que ainda não aterrissamos? Ele se moveu rapidamente e a agarrou pelos ombros. Ela ajoelhou no meio da cama. O edredom caiu e a deixou exposta. — Você sabe algo sobre o meu país, habiba? — Ele sorriu. O olhar dela respondeu o que ele queria. — Em alguns aspectos, somos modernos. Em outros, ainda estamos no passado. Por exemplo: um homem que queira casar com uma mulher que o rejeita pode recorrer aos antigos métodos. Ele a carrega, leva-a para a cama e ela será sua para sempre. — Ele viu a cor fugir do rosto dela. — Isso é ridículo. É bárbaro. E uma piada. — Não é piada, querida. O mundo não se limita aos Estados Unidos. — Você está tentando me amedrontar? Não vai dar certo, Alteza. Por sorte, estamos nos Estados Unidos, não em Dubaac. Tariq pegou o rosto dela e a beijou, e beijou, e de novo, até sentir que os lábios dela amoleciam sob os dele. Saber que ela ainda o queria, apesar de tudo, fez com que ele desejasse levá-la de volta para a cama e possuí-la até deixá-la suspirando por ele como se nada mais importasse. Ele era um tolo. Madison sabia usar sua sexualidade, e ele não sucumbiria. Afastou-se, acariciou-lhe o rosto e sorriu. Projeto Revisoras

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— Estamos sobre o Atlântico, habiba. Apesar de você achar meu título um anacronismo divertido, eu lhe garanto que ele é bem real e poderoso. Isso significa que este avião é solo dubaaquiano — Os olhos de Madison se arregalaram. Ele sorriu. — É verdade, habiba. Para todos os efeitos, você já está em Dubaac, e por causa do que acabou de acontecer em minha cama, você agora é minha esposa. — Ele a soltou tão de repente que ela caiu nos travesseiros. — E eu — o sorriso desaparecera, seus olhos estavam frios como o gelo — sou seu marido e senhor.

CAPÍTULO SETE Tariq fechou a porta ao sair. Se ele a tivesse batido, demonstrando sua ira, seria amedrontador. Fechá-la com fria calma era aterrorizante. Madison correu e virou a chave, apesar de ser inútil. Uma fechadura não o impediria de entrar. Ele a trouxera até ali, carregara-a para a cama e a forçara a... Madison engoliu um gemido. Tariq não a forçara. Ela correspondera a cada carícia, suplicara por mais, pedira que ele a possuísse... Não. Não seguiria aquele caminho. Seu momento de fraqueza passara. Fizera sexo com ele. Não era o fim do mundo. Tinha 30 anos, já fizera sexo antes. Mas não daquela maneira! Não como se o mundo pudesse acabar, contanto que ele a abraçasse e estivesse dentro dela, bem no fundo de seu corpo... Madison caminhou pelo quarto. O que ele fizera fora pura demonstração de poder masculino. O que ela fizera fora uma desgraça, mas não adiantava se atormentar. Pensar sobre a história absurda de raptos e de casamentos forçados também não fazia sentido. Deveria ser mentira. Nem mesmo o senhor dos infernos pensaria em enganá-la com tais absurdos... Tariq tentara amedrontá-la e conseguira, mas ela se recuperaria. O importante era suportar as próximas horas, até que ele se cansasse daquele jogo. Ela precisava sair dali e enfrentá-lo de cabeça erguida, mas antes necessitava de um banho: o perfume dele estava em sua pele. Madison abriu uma porta e encontrou um banheiro completo. Entrou no chuveiro e pegou o sabonete. O sabonete de Tariq. Ele deslizara sobre o corpo musculoso, sobre a parte de aço coberta de seda que penetrara em seu corpo... Perdeu o fôlego e ficou sob o chuveiro até se acalmar. Depois do banho, penteou os cabelos com os dedos, voltou ao quarto, abriu as gavetas e encontrou alguns jeans e camisas. Ela odiou a idéia de usar as roupas de Tariq, mas o que poderia fazer? Vestiu-se rapidamente. Enrolou as pernas das calças, franziu o cós com um cinto e pegou uma camisa de algodão macio que ficou enorme. Madison fez um nó na cintura e enrolou as mangas. Voltou ao banheiro e olhou-se no espelho. Entrara no avião trajada de executiva. A mulher que viu no espelho era uma piada. Sem maquiagem, cabelos embaraçados. Estava ridícula com as roupas de Tariq, e não havia como os tripulantes não saberem por que as vestira. Não importava. Tudo o que importava era descobrir o que ele pretendia, porque, com certeza, ele não a tiraria dos Estados Unidos. Tariq não era bobo. Príncipe ou não, deveria saber que ela prestaria queixa contra ele. Projeto Revisoras

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Madison tomou coragem, abriu a porta e saiu. Alguém diminuíra as luzes do avião. Um spot iluminava Tariq, sentado numa poltrona dupla, com um laptop no colo, ao lado de uma mesa onde havia um copo com gelo. Ele parecia calmo e contido. Estava penteado e suas roupas não tinham uma prega. Aquilo a deixou furiosa. — Tariq. Ele a olhou dos pés à cabeça, com um ar impenetrável. A raiva de Madison começou a ferver. — Vejo que encontrou algo para vestir — ele disse. — Não é a última moda, mas serve. — Finalmente estamos nos tratando pelo primeiro nome. — Eu desejo uma explicação. — Deseja? — Ele deu um leve sorriso. — Terei prazer em atendê-la, habiba, mas acho que o que aconteceu na minha cama foi bastante evidente. Ele a deixou embaraçada, mas ela tentou disfarçar. Deus! Que homem terrível! — Quanto tempo vai levar até chegarmos em casa? — Sente, Madison. — Quero saber quanto tempo vai levar até... — Seis horas. — Seis? — Ela se surpreendeu. — Estamos voando há quatro horas. Mais seis e chegaremos a Dubaac. — Eu falei em Nova York. Se acha que vai me amedrontar fingindo que... — Por que eu iria amedrontá-la, habiba! Minha casa é em Dubaac. É para lá que estamos indo. — Você quer dizer... Quando disse... O rosto dela ficou tão pálido que ele pensou que ela iria desmaiar. Tariq levantouse. Ele já lhe causara um desmaio, não deixaria que acontecesse de novo. Já era bastante ruim ter feito amor com ela sem perguntar se prejudicaria o bebê, mas pelo menos ele tinha uma desculpa: a parte do corpo que o controlava não tinha a menor racionalidade. Deveria tratá-la com mais gentileza, mas ela o enlouquecia quando tinha aquele ar etéreo... — Sente-se — ele interrompeu. Antes que ela pudesse reagir, ele a agarrou e a fez sentar-se junto dele. — Você vai desmaiar? — Não — ela murmurou. Não iria mesmo, ele pensou, irritado. — Abaixe a cabeça. — Eu estou bem. — Não perguntei sua opinião, habiba. Incline-se para a frente. Encoste-se em mim. Madison queria argumentar, ignorar suas ordens, mas ele puxou sua cabeça com cuidado. Com um suspiro, ela encostou a testa no ombro dele. Na verdade, estava

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tonta. O médico lhe dissera que sua saúde estava excelente, mas que no início da gravidez algumas mulheres se sentiam daquela maneira... — Ah! — Ela fechou os olhos ao sentir a agradável sensação de gelo sobre a nuca. — Está bom? É... é o bebê? Você está... — Não, não é nada disso. O bebê está bem. — Talvez não devêssemos ter... — Ele hesitou. — Talvez não devêssemos ter feito amor. Madison ergueu a cabeça e olhou para ele. — O que fizemos foi sexo. — Encoste a cabeça no meu ombro! — O cubo de gelo deslizou suavemente pela pele de Madison. — Talvez você deva comer alguma coisa. — Nós acabamos de almoçar... — Isso foi horas atrás — disse ele, severamente. — Além disso, você está comendo por dois, lembra? Yusuf! Yusuf apareceu como se saísse da lâmpada de Aladim. — Senhor? — Traga algo para beber. Água, suco. Algo gelado. — Certamente, Alteza. — Yusuf inclinou a cabeça e começou a se afastar, mas um grunhido de Tariq o deteve. — Senhor? — Traga algo doce também. Bolo, chocolate. Depressa! — Sim, senhor. Madison deu uma risada, com o rosto enfiado no ombro de Tariq. — Ele sabe que se demorar pode ser preso e executado? — Muito engraçado. Você se sente melhor? — Sim. Já posso levantar. — Não pode. — Ele jogou o gelo no copo. — Você pode levantar a cabeça devagar. Ótimo. — Apertou os braços em torno dela. — Sente-se direito e respire fundo. — As palavras "por favor" e "obrigado" não estão no seu vocabulário? Yusuf voltou carregando uma bandeja. Tariq pegou um copo de suco de laranja e levou-o aos lábios de Madison. — Beba. — Ah, por favor! — Ela olhou para Yusuf, cujo rosto estava impassível. — Estou grávida, não doente — sussurrou para Tariq. — Não precisa segurar o copo para mim. Ele franziu a testa, mas lhe entregou o copo e observou com cuidado enquanto ela bebia. — Obrigada. — De nada. — Eu estava falando com Yusuf. — Ela sorriu para o empregado que pareceu horrorizado ao pegar o copo e sumir. Tariq olhou para Madison. — Você acha que vai conseguir aliados me insultando? — Quando é que vai me levar para casa? — Eu lhe fiz uma pergunta. Projeto Revisoras

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— Responda a minha primeiro. Por Ishtar, a mulher era impossível! Não tinha senso de conveniência? Teriam que discutir o comportamento dela, e rápido. — Não até você me dizer que está bem. — Eu já lhe disse. — Não é isso que eu quis dizer. — O queixo dele se enrijeceu. —Antes. O que fizemos... — Droga, ele estava gaguejando. — Quando fizemos amor. Eu machuquei você? — Nós não fizemos amor, fizemos... — Madison, por favor. Eu machuquei você? Por favor? Aquele era o primeiro. — Não — disse. — Você não me machucou. — Ótimo, porque não pensei... — É tarde demais para se desculpar. Tariq a pegou pelo queixo. — Não estou me desculpando. Um homem seria idiota por se desculpar pelo que aconteceu naquela cama. — Ele fez uma pausa. — Mas eu deveria ter pensado no seu estado, deveria ter pensado na criança. — Você disse "a criança". Você sempre fala assim, exceto quando chama meu bebê de seu herdeiro. — Não quero brigar com você, Madison. Só perguntei se a criança... o bebê está bem. — O meu bebê está bem. — Ela corou. — Sexo não faz mal, mesmo quando um homem força uma mulher. — É dessa maneira que você desculpa a si mesma por ter gemido em meus braços? — disse ele em voz rouca. — Você me colocou nessa situação. Se não tivesse... — Nós iríamos acabar na cama de qualquer jeito. — É mentira! — É verdade, e você sabe disso. Nós desejamos um ao outro, desde o início. Foi uma ironia do destino você ter acabado com meu sêmen no ventre através de uma seringa, e não como manda a natureza. Madison percebeu nos olhos acinzentados o brilho prateado que indicava que ele estava excitado. Era inacreditável, mas ela também estava. Como é que ele levara a conversa para tão longe do assunto inicial? — Não sei por que estamos falando desse assunto. A única coisa que eu desejo discutir é... — Tomei a liberdade de trazer algo mais que chocolate e bolo, Alteza. — Yusuf parou ao lado deles, empurrando um carrinho. — Devo... Tariq o dispensou com um gesto. — Nós nos serviremos sozinhos. — Ele abriu as travessas de chocolate, bolos, biscoitos, vários tipos de pão e frutas. Tudo parecia delicioso. Encheu um prato e ofereceu a Madison. — Coma — ordenou. Projeto Revisoras

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Ela pensou em recusar, em dizer que não era treinada para obedecer, mas seu estômago roncou. Tariq riu, ela o olhou friamente e esvaziou o prato. Quando olhou avidamente para o café de Tariq, Yusuf apareceu com uma xícara de chá de hortelã. — Obrigada — disse ela. — De nada, senhora. — Yusuf corou. — Princesa. — Madison e Yusuf olharam para Tariq. Este sorriu e pegou na mão dela com um olhar de advertência. — A senhora me deu a honra de se tornar minha esposa. — Não. — Madison disse depressa e se encolheu ao sentir que ele lhe apertava a mão. — Minha esposa queria manter segredo o maior tempo possível — disse ele beijando a mão dela — mas já que vamos aterrissar em meu país — nosso país — dentro de poucas horas achei que estava na hora de espalhar a notícia. Você é o primeiro a saber, Yusuf. Yusuf inclinou-se diante de ambos. — É maravilhoso, senhor. Estou honrado por ter me contado. Desejo que os dois tenham uma vida longa e feliz. — Obrigado. — Tariq sorriu. — Agora, se puder nos dar privacidade pelo resto da viagem... Madison se controlou até ficarem a sós. Livrou a mão do aperto de Tariq e se levantou, furiosa. — Você pode dizer as mentiras ridículas que quiser... — Não é mentira — ele respondeu calmamente — ou você esqueceu o que eu disse sobre o antigo costume do meu povo? — Não é costume do meu povo! Não é costume do mundo civilizado! — Cuidado com o que me diz, esposa. — Não me chame assim! Só porque você tem essa espécie de... de folclore bárbaro que deve encantar os antropólogos não significa que... Tariq levantou-se e agarrou-a pelos ombros. — Não fale comigo nesse tom! — Você disse ao seu escravo que somos casados e se preocupa em como falo com você? Não sei se você é apenas teimoso ou se está tão fora da realidade que... Ele a beijou. Era aquilo ou silenciá-la de outra forma, e ele jamais usara de violência com uma mulher... Além disso, ele apreciava o sabor de Madison. Ela lutou o quanto pôde. Ele a manteve submissa ao seu beijo e sentiu um arrepio de alegria ao perceber que os lábios dela amoleciam. — Você pode me odiar o quanto quiser — ele disse roucamente — mas vai me obedecer. Vai me respeitar. E quando eu levá-la para a cama, você vai corresponder à minha paixão com a sua, porque é isso que você deseja, habiba, é isso que você sempre vai querer, mesmo que me odeie de todo o coração. — Ele a beijou de novo, e enquanto ela se derretia ele sentiu uma emoção muito mais perigosa que o desejo em suas veias,

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e hesitou. Quando Madison se agarrou a ele, Tariq esqueceu de tudo, exceto de seu desejo por ela. Carregou-a para o quarto e colocou-a sobre a cama. — Eu odeio você — ela sussurrou, puxando-o para mais um beijo. O sangue dele ferveu, mas Tariq resolveu ir devagar enquanto a despia. Ele beijou-lhe os seios, admirando sua textura de seda, o doce sabor de seus mamilos. Acariciou-lhe as nádegas e o espaço entre elas. Madison gemeu alto. Tariq colheu o gemido em sua boca e tentou manter a sanidade. — Por favor. — Ela puxou a camisa de Tariq. Ele se livrou da camisa e gemeu ao sentir as mãos dela explorando seu corpo, tocando seu peito, os ombros, o ventre firme. Quando ela encontrou o que queria, agarrou-o através do jeans. Tariq trincou os dentes e se entregou ao delicioso prazer por um momento. Depois, agarrou-a pelos pulsos, antes que fosse tarde demais, e a abraçou. Madison tremia e ele estava mais excitado que nunca, mas sabia que seria errado possuí-la de novo. Ela estava grávida e exausta. Dividia-se entre odiá-lo e desejá-lo... E ele... ele queria mais que sexo, algo que não conseguia definir... O quarto estava escuro. O ar estava fresco. Tariq puxou o edredom e aconchegou a cabeça de Madison em seu ombro. Ela suspirou contra sua pele quando ele colocou com cuidado a mão em seu ventre, onde a criança — o bebê deles — dormia. — Durma um pouco, habiba — disse ele carinhosamente. Madison se irritou, como ele previra. — Não me diga o que fazer, Tariq. Não estou nem um pouco... — Ela bocejou e ele sorriu. Um segundo depois ela adormecera.

CAPÍTULO OITO Madison acordou assustada. Estava deitada numa cama do tamanho de um campo de futebol, num enorme quarto de pé-direito muito alto. Finas cortinas filtravam o sol que entrava por uma parede de vidro. Os lençóis da cama eram macios e frescos sobre sua pele nua. Ela afundou nos travesseiros e cobriu os seios. Onde estou? ela pensou, e apesar da desorientação momentânea sentiu vontade de rir do clichê tão patético. Suas lembranças da noite pareciam fragmentos de sonhos. A última coisa que se recordava era de Tariq carregando-a para a cama do avião, despindo-a, acariciando-a, abraçandoa... Madison fechou os olhos. Caíra realmente no sono nos braços dele? Com a cabeça sobre seu ombro nu, seu hálito morno contra a testa? Depois, o quê? Tudo estava confuso. O avião, a aterrissagem. Tariq envolvendo-a numa manta, carregando-a para o carro que correu pela estrada sob um céu prateado... — Senhora? — Madison abriu os olhos. Uma mulher sorria à porta. — Desculpe, my lady, eu bati, mas não houve resposta. — Tudo bem. — Madison retribuiu o sorriso. — Quem é você? — Sou Sahar, sua serva. Serva? O que é que se diz a isso? Projeto Revisoras

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— Eu lhe trouxe chá de hortelã. — Chá de hortelã — disse Madison alegremente. — Isso é... ótimo. — A senhora quer que sirva na cama ou devo colocá-lo perto da janela? — Ah, perto da janela. — Madison deu um profundo suspiro. — Sahar? — Senhora? — Onde... estou exatamente? — A mulher levantou as sobrancelhas. Madison acrescentou, depressa: — Digo, qual é o nome deste lugar? Sahar a olhou surpresa. — É o Palácio Dourado, claro. — Claro — disse Madison. —Ah, e a cidade é...? A expressão de Sahar foi de intrigada a alarmada. — Estamos em Dubaac, senhora. — Certo. Dubaac, no país... — A cidade e o país são a mesma coisa — disse uma voz masculina. Tariq entrou no quarto e fez um gesto com a mão. — Isto é tudo, Sahar. — A empregada fez uma reverência e saiu. Tariq fechou a porta. O coração de Madison pulava no peito. Ele parecia ainda mais alto, mais imponente. E, sim, lindo, numa camisa creme, jeans e botas de montaria. — Bom dia, habiba. Dormiu bem? — Faz diferença? — Vejo que começamos bem. — Ele sorriu. — Não começamos nada. Você não é bem-vindo neste quarto, Tariq, e... onde estão minhas roupas? O sorriso dele brilhou. — Você não quer dizer "quem me despiu e me colocou na cama"? Por que ele sempre conseguia fazê-la corar? — É uma excelente pergunta, e eu tenho uma série delas, mas só vou fazê-las depois que sair da cama e me vestir. — Ninguém a está impedindo. — Você está. — É meio tarde para se preocupar em ficar envergonhada — ele disse, numa voz macia. — Você não acha? — Vá para o inferno, Tariq... — Sahar a despiu e colocou-a na cama. — Ele viu que não era a resposta que ela esperava. O rosto, adorável à luz do dia, encheu-se de surpresa. — Seria inadequado que eu o fizesse. — Mas eu pensei que... Quer dizer... Se somos mesmo... — Marido e mulher, habiba, são as palavras que você está procurando. — Não comece com esse jogo. Ele se perguntara como ela estaria naquela manhã. Submissa, dissera a si mesmo, e esperava que sim, porque facilitaria tudo o que viria a seguir. Mas Madison não estava submissa. Temerosa, sim. O tremor em sua voz o revelava, mas ela o enfrentava Projeto Revisoras

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como sempre, de cabeça erguida, olhos firmes. Um tigre pronto para a luta, apesar de ele ter virado sua vida de cabeça para baixo, de tê-la levado para longe de tudo que conhecia e de tê-la levado para a cama... A boca de Tariq ficou seca. Ela se derretera sob ele, ansiosa, retribuíra cada beijo, cada carícia. Maldição! Ele se afastou assustado e furioso com a reação imediata do próprio corpo. Entrou no quarto de vestir, decidido a não deixar que ela visse a prova de seu poder sobre ele, e voltou carregando um roupão de seda que jogou na cama. — Levante-se — disse ele secamente. — Vista-se de maneira apresentável. — Apresentável como? Eu não tenho nada para... — Há roupas para você no quarto de vestir. — Roupas que você comprou para a última mulher que seqüestrou e trouxe aqui? O rosto dele endureceu. Ela de fato pensava que ele concordaria em discutir... Ou que lhe diria que jamais trouxera uma mulher ao Palácio Dourado? Ela não precisava saber. Ele já tinha muita coisa a lhe dizer. Precisava prepará-la para aceitar. — Escolha algo apropriado — ele disse friamente. — Depois vamos tomar café e conversar. — Apropriado para quê? Ele a olhou, sentada na cama, encostada nos travesseiros, segurando o roupão de seda sobre os seios. Tariq ainda lembrava seu sabor doce, fresco, delicado. E seu perfume de mulher — flores do campo numa manhã de junho... Pensou se estaria louco. Dentro de alguns minutos ficariam frente a frente com seu pai, receberiam a aprovação necessária para o casamento. Ele nada dissera a Madison, e, ainda por cima, estava excitado como um colegial. Aquilo o deixou mais zangado. A culpa era dela, não dele, com certeza! — Eu lhe fiz uma pergunta, Tariq. Apropriado para quê? — Sua boca tremia. — E eu lhe disse para levantar-se — ele respondeu. — Faça o que lhe mandam e tudo será mais fácil para você. E antes que você se dê ao trabalho de dizer que me odeia... odiar é prerrogativa de uma esposa. Madison resmungou uma palavra que Tariq ignorou. Ele virou de costas, cruzou os braços, deixou que a maldita imaginação o dominasse, enquanto ouvia o ruído de seda, de passos de pés descalços, de água correndo no chuveiro, e gemeu. Por que não se juntava a ela no banho? Ela protestaria, porque o odiava. Mas odiá-lo não a impedia de desejá-lo. Assim que ele a tocasse e a fizesse sentir a intensidade de seu desejo, ela suspiraria seu nome e encostaria a cabeça em seu ombro, enquanto ele lhe acariciava os seios e deslizava a mão por seu corpo. Então, ela lhe ofereceria os lábios, agarraria seu pescoço e ele a levantaria pelas nádegas. Ela o envolveria com as pernas, e ele entraria no calor de seu corpo... Tariq gemeu de novo. Sofria o mais doce tipo de dor. Uma mulher que ele não queria o estava matando, e sua sanidade dependia de imaginar as longas noites em que a faria pagar por isso. Madison ficou no chuveiro, esperando. Conhecia o jogo de Tariq. A qualquer momento ele abriria a porta e entraria no chuveiro com ela. Ele achava que podia Projeto Revisoras

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gritar, dar-lhe ordens e, depois, tomá-la nos braços e estonteá-la com sua perícia sexual. Dessa vez não funcionaria, ela pensou. Os minutos passaram. Não iria funcionar, porque não iria acontecer. A porta continuava fechada. Ele a deixara sozinha. Ótimo, ela pensou com um sorriso. A última coisa que desejava era que ele a forçasse de novo, que a acariciasse, que a beijasse. Um suspiro quase inaudível saiu de seus lábios. O que estava acontecendo, que ela mal se reconhecia? Dormira pouco: este era o problema. E a mudança de fuso horário... Madison deixou que a água escorresse pelo rosto e tentou se esquecer de tudo, a não ser de sobreviver. O quarto de vestir era do tamanho da sala do apartamento dela em Manhattan, e estava repleto de roupas e sapatos. Também havia roupas de baixo, em tons claros, feitas à mão. Ela escolheu um sutiã, uma calcinha, elegante calça branca de algodão e uma blusa de seda branca. Tudo lhe coube perfeitamente. Madison mordeu o lábio. Era claro que Tariq tinha preferência por mulheres como ela. Com certeza, tudo fora preparado para a amante de um príncipe. A amante de Tariq. Não que ela se importasse. Madison se vestiu rapidamente e calçou um belo par de sandálias brancas, de saltos muito altos. O quarto de vestir era espelhado. Ela olhou seu reflexo, passou as mãos nos cabelos ainda molhados e entrou no quarto. — Aqui estou — disse ela bruscamente. O quarto estava vazio. Tariq abrira as cortinas e uma porta na parede de vidro. Ele estava na varanda, sentado ao lado de uma mesa posta para o café. Bebia algo enquanto admirava o mar azul. Madison perdeu o fôlego. O lugar era lindo. Tariq era lindo. Se ao menos ele a tivesse trazido até ali porque a queria, porque precisava dela, porque se importava com ela, não como uma espécie de prisioneira... Ele pareceu sentir sua presença, porque se voltou, levantou-se e olhou-a de cima a baixo. Madison sentiu o coração parar ao ver o brilho nos olhos dele. — Você está linda, habiba. Ela quase retribuiu o elogio, mas se conteve a tempo. — Fico feliz que você tenha aprovado — disse ela com frieza. — Venha — disse ele, indicando a mesa. — Sente-se comigo e tome café. A palavra a fez salivar. — Não estou com fome — ela mentiu. — E não sou Sahar. Não recebo ordens de você. Ele a observou de cima a baixo novamente. — Não — ele disse docemente — você não é. — Sorriu e lhe ofereceu a mão. — Acompanhe-me, por favor. Madison imaginou o quanto a palavra lhe custara. O bastante para valer a pena satisfazê-lo? Ela resolveu que sim. Primeiro, porque seria tolice não comer, e, depois, porque precisaria de todas as forças para impedir que ele continuasse brincando com ela. Ignorou a mão que ele lhe estendia, puxou uma cadeira e sentou-se. Tariq deu de ombros e sentou-se na frente dela. Ele a serviu de suco, crepes com creme e amoras, Projeto Revisoras

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e uma xícara de chá. Madison estava constrangida porque ele a observava comer. Afinal, ele rompeu o silêncio. — Você está bem? O bebê... — O bebê está bem. Eu também... A não ser por estar morrendo de fome! — Ela soltou o garfo, limpou a boca no guardanapo e decidiu que aquele era o momento perfeito. — Tariq, quero que esse absurdo se acabe. Cansei. Quero ir para casa. — Você está em casa — disse ele simplesmente. — Pensei que tinha entendido. — Você disse que... o que você fez me tornou sua esposa. — Carregando você? Fazendo amor com você? Ela corou. — Me seqüestrando e depois... apossando-se de mim. Um pequeno sorriso rápido e sexy atravessou o rosto dele. — Posso tê-la raptado, habiba, mas não me apossei de você. Nós fizemos amor. — Não vou discutir esse assunto. O fato é que você disse que isso me tornava sua mulher. — E torna. Madison deu um profundo suspiro. — Hoje de manhã você disse que não seria apropriado me colocar na cama ontem à noite, nem dormir comigo. — Creia, habiba — ele disse em voz baixa. — Eu lastimo tanto quanto você por não ter podido fazer as duas coisas. — Eu não lastimo! Essa não é a questão! — Então, qual é a questão, Madison? — Se fosse verdade, se eu fosse sua esposa... — Você é. — Tariq jogou o guardanapo na mesa e levantou-se. — Mas eu quero que meu pai reconheça o fato. Reconheça formalmente. — Que comovente! O rosto dele ficou sombrio. — Você leva na brincadeira. Garanto que isso não é uma piada. Essa criança... — Minha criança. — Nossa criança — disse ele friamente — um dia vai herdar o trono de um reino antigo e honrado. Pela segurança de seu futuro, pela segurança do futuro do meu povo, nossa união deve ser abençoada pelo rei. — Meu filho diz a verdade, minha jovem. A minha aprovação é vital para o futuro de Dubaac. Madison levantou-se rapidamente. Um homem baixinho, de cabeça branca e encurvado, estava na porta. Espantado, Tariq correu até ele. — Pai, eu não esperava... — Não, claro que não. — O sultão olhou Madison com uma expressão impenetrável. — E esta é sua esposa. — Sim, pai. Eu disse ao primeiro-ministro que a levaria até você, ao meio-dia.

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— Você acha que eu esperaria tanto tempo para conhecer a mulher que carrega o meu neto? — O sultão franziu a testa. — Ela podia ter um pouco mais de carne sobre os ossos. — Concordo, pai, e... — Desculpe — disse Madison em tom de desafio, apesar de seu coração bater como um tambor. — Eu não preciso de mais carne nos ossos. Não gosto que falem de mim como se eu não estivesse presente, e não sou esposa de seu filho. A expressão do sultão se iluminou. — Ela é exatamente como você disse, Tariq. — Ele franziu a testa ao ver o olhar espantado de Madison. — Meu filho me contou tudo sobre você. Ela ficou surpresa. — Contou? — Ontem à noite, depois que vocês chegaram. Admito que não fiquei satisfeito. Um aliado? Madison cruzou os dedos mentalmente. — Não, claro que não ficou. Quer dizer, por que ficaria... — Meu filho é um príncipe, é meu herdeiro. O casamento dele deveria ser celebrado de maneira adequada, pelo conjunto das Nações. — O rosto do sultão se suavizou. — Mas ele me explicou como vocês se conheceram e se apaixonaram loucamente. — É mesmo? Explicou? — E eu compreendi. — O velho torceu os lábios. — Eu sei que pretendiam ter minha bênção, mas o destino e a natureza se adiantaram. Afinal, eu também já fui jovem. Recordo bem como o sangue pode ferver. — Não — disse Madison depressa. — Não foi assim... — Pai. — Tariq abraçou Madison pela cintura. Parecia um gesto de ternura, mas sua mão a apertava como o aço. — Você está deixando minha noiva confusa. — Não é verdade. Eu não sou... — Claro que é, habiba. — A voz de Tariq era macia, mas seu olhar era de advertência. — E natural que você considere nossa história pessoal demais para compartilhar. — Eu também sou humano — continuou o sultão. — Passei a noite acordado, pensando. — Sua voz se enterneceu. — Resolvi ficar feliz por vocês, e, em particular, pelo bebê que meu filho colocou em seu ventre, mesmo que tenha sido de um jeito moderno. Tariq sentiu que Madison ficara surpresa e apertou o braço em torno dela. — Ele quer dizer sem nos casarmos, habiba — ele falou, com cuidado. — Na verdade, devo admitir que estou muito feliz por vocês terem adotado o antigo costume de se unir de corpo, alma e coração. Assim, ninguém poderá chamar seu bebê de ilegítimo. Madison ignorou a pressão do braço de Tariq. — O senhor não compreen... — ela tentou dizer.

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— Não precisa me agradecer, querida. Eu amo meu filho. Amo meu povo. Por que não estaria disposto a amar a mulher que ele ama e a criança que ela carrega? — O sultão sorriu. — Seja bem-vinda à nossa família, princesa. Madison viu os olhos iluminados de esperança, mas opacos de velhice. O que ela poderia dizer sem destruir a esperança do velho? Se ela lhe contasse a verdade — que não concordava, que queria abandonar o país e Tariq — partiria seu coração. Resolveu nada dizer. Tariq criara aquela confusão, ele que a consertasse. O sultão estendeu os braços para Madison, que sorriu e se deixou abraçar. Ele a beijou em ambas as faces e segurou-a pelos braços, dando uma risada. — Meu filho me trouxe uma bela surpresa! — Seu rosto se contorceu. — Tariq lhe contou sobre a morte do irmão? — Sim, ele disse algo sobre... — Pela primeira vez, desde aquele dia terrível, eu me sinto feliz. Uma mulher adorável, com meu primeiro neto no ventre... Quem diria que uma tragédia faria com que eu fosse duas vezes abençoado? O rosto de Madison ficou vermelho. Tariq notou, e sabia que ela corava não por causa do cumprimento, mas pela extensão da mentira dos dois. Ele sentiu uma pontada no coração. Sua noiva era honrada, íntegra. E ele? — Esta noite — disse o sultão bruscamente — vamos celebrar. Convidei todos os amigos e a família. Foi um pouco em cima da hora, mas todos garantiram que estarão aqui para compartilhar nossa felicidade, e para ouvi-lo anunciar o casamento e torná-lo oficial. — Ele sorriu. — Meu filho, você se saiu bem. O queixo de Tariq tremeu. — Pai, espere um pouco. Preciso falar com você... — Amanhã teremos tempo para conversar. — O velho soltou Madison e bateu no ombro de Tariq. — Você fez a coisa certa — disse tranqüilamente. — Muito bem. Seu irmão poderá descansar em paz. Esteja onde estiver, ele deve estar tão orgulhoso de você quanto eu. O sultão abraçou Tariq, beijou Madison de novo e entrou em casa. Tariq não se mexeu. A cena fora exatamente como esperara, e ele se desprezava por isso. O pai estava errado: seu irmão não teria orgulho dele, ninguém teria. Ele envolvera a todos numa monstruosa mentira: seu pai, seu povo, o falecido irmão e, principalmente, a mulher que carregava seu fruto... Ele desonrara a todos. Claro que também desonrara a criança que ainda não nascera. — Tariq? Ele sentiu a mão de Madison em seu ombro. Ele ansiava por seu toque, por seu perdão, mas sabia que não merecia. Voltou-se e a pegou pelos pulsos. — Eu estava errado — disse ele, asperamente. — Quanto a tudo. Estava tão obcecado com a necessidade de um herdeiro que não enxerguei mais nada. Esqueci algo tão simples quanto a honra. Madison fitou o estranho que era seu marido. Momentos antes, tudo o que ela desejava era acabar com aquela farsa odiosa. Então, ela conhecera um homem velho que lutava contra a devastação do tempo, a perda de um filho e o peso da liderança. Ao Projeto Revisoras

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olhar o rosto abatido de Tariq, seu coração se condoeu. Ele nascera para enfrentar uma enorme responsabilidade. Perdera o irmão, e, pelo visto, logo perderia o pai. Ele fizera o que precisava fazer, o que qualquer homem honrado faria. Como é que ela não percebera isso antes? — Habiba, eu fui desleal com você. Eu... Madison sacudiu a cabeça. — Você fez o que o destino mandava. — Sharif não teria orgulho de mim. — Acho que teria. — Eu menti para meu pai. Forcei você a se casar comigo... — Você amava seu irmão, ama seu pai, seu país e seu povo. — Ela balançou a cabeça. — Eu não tinha compreendido. — O que há para entender? Eu me coloquei acima de tudo. Acima de você, do nosso bebê, da verdade. Isso é algo imperdoável. — Você estava preocupado — disse ela com carinho — com o futuro do seu povo e do seu filho. — Você está sendo bondosa, habiba. Eu não pensei no nosso bebê, pensei no meu herdeiro. — Talvez... Mas em algum lugar do caminho seu herdeiro se tornou seu filho. — Ela deu um sorriso. — Veja só o que aconteceu. Você acaba de dizer que estava errado. Você se desculpou, Tariq. Este é um dia para ser lembrado. Tariq olhou para a esposa. Ela era muito bondosa. Como ele pudera enxergá-la apenas como um instrumento para satisfazer suas necessidades? Ele enrolou o dedo num cacho dos cabelos de Madison, adiando o que precisava fazer. — Madison, vou levá-la para casa, em Nova York. Vamos nos encontrar com meu advogado e tentar fazer alguma espécie de acordo. E claro que vou sustentar nosso filho. Só peço que me deixe fazer parte da vida dele e que o ensine a ter orgulho de suas origens. — Não precisa me pedir isso, Tariq. Somos casados. Ainda não, pensou Tariq. Ele anunciara o casamento ao pessoal de bordo, ao pai, mas, até que se apresentasse diante de seu povo com Madison ao seu lado... — Somos, não somos, Tariq? Tariq observou a mulher impossível, difícil, indomável, que carregava seu filho. Seus olhos ficaram mais escuros, sua respiração acelerou. Ela não era o que ele procurava. Exceto pela beleza, ela não possuía nenhum dos traços que ele acreditava querer numa esposa. Entretanto, ao pensar em perdê-la, sofria. — Se não fizéssemos parte da nobreza, seríamos — ele disse calmamente. — Mas eu sou um príncipe, habiba. Até que meu pai anuncie publicamente... Madison colocou a mão sobre os lábios dele. — Eu não tenho pai, Tariq. Eu disse a mim mesma que meu filho também não precisaria de pai. Então, você apareceu na minha porta. O doador anônimo que me engravidara. — Os olhos dos dois se encontraram. —Agora você não é mais anônimo, é um homem. Um bom homem. Como posso negar seu direito em relação a essa criança, e Projeto Revisoras

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negar a ela o direito de ter você? — Ela engoliu em seco. — Deixe que seu pai faça o comunicado esta noite. Eles se olharam por um longo tempo. Tariq gemeu e a abraçou. — Você me dá uma grande honra — ele disse com carinho. — Serei um bom marido, e um bom pai. Juro, habiba. Farei tudo para que você seja feliz. É uma promessa. Madison sabia que era verdade... Mas ele jamais a amaria. Estava certo, não estava? O amor não fazia parte do acordo. Por que ela gostaria que sim. Ela não o amava. Claro que não... — Habiba? Madison parou de pensar, ergueu o rosto e selou o acordo deles com um beijo.

CAPÍTULO NOVE Tariq disse que a veria mais tarde. Passaria o dia ocupado com reuniões. — Você ficará bem, habiba? Madison respondera que sim. Estava acostumada a ficar sozinha: o que haveria de diferente? A resposta veio em alguns segundos. Assim que ela fechou a porta, avistou um telefone ao lado da cama. Lembrou que não entrara em contato com seu escritório. Mesmo que ela tivesse tempo, seu celular não fazia ligações internacionais. Poderia telefonar agora. Sua secretária deveria estar desesperada sem saber o que lhe acontecera. A realidade a atingiu: iria se casar. Seus colegas de trabalho ficariam surpresos. Ela sorriu e pegou o telefone, aguardou o sinal de discar e digitou o número... A linha ficou muda. Claro, deveria ter digitado o código de chamada internacional e o código de Manhattan. Ligou novamente e... nada. O telefone estava mudo. Talvez ela tivesse digitado os códigos errados, ou talvez fosse preciso aguardar uma linha externa. Sahar deveria saber, ou chamaria alguém que soubesse, mas onde estava ela? Madison não sabia como convocá-la... E que palavra horrível para usar em relação a uma pessoa! Alguém arranhou a porta. Madison deu um suspiro de alívio. — Sahar, entre, por favor. Eu estava pensando... — Senhora. — Não era Sahar. Era um homem ainda mais velho que o sultão. — Senhora — disse ele num murmúrio trêmulo, inclinando-se tanto que Madison chegou a ouvir seus ossos estalarem. — Por favor — disse ela depressa — fique de pé. O senhor não precisa... — Eu sou Fouad, guardião do Palácio Dourado. Sou o que se poderia chamar de mordomo. Sua Alteza, o príncipe, pensou que a senhora gostaria de conhecer o palácio. — Sim, obrigada, mas primeiro... Este telefone não está funcionando. — Para quem a senhora desejava telefonar? Madison levantou a sobrancelha. Não era da conta dele — seria a típica reação nova-iorquina — mas Fouad era bem velho para ser seu avô. Projeto Revisoras

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— Meu escritório — ela disse polidamente. — Em... —Ah, isso já foi feito, senhora. O senhor telefonou. Madison franziu a testa. — O príncipe? — Sim, ele cuidou desse assunto. — Bem, foi muito gentil da parte dele, mas, de qualquer forma, eu quero telefonar. Se você me disser como se usa este... — A senhora precisa conhecer o palácio. Foi uma ordem do príncipe. O príncipe dera um telefonema que ela não lhe pedira. Também ordenara que ela conhecesse o palácio, ou será que o inglês do velho o fizera usar as palavras erradas? — My lady? Não adiantaria perguntar a Fouad. Ela guardaria suas questões para Tariq. — Terei prazer em conhecer o palácio — disse ela alegremente. O velho inclinou-se mais uma vez e acenou na direção da porta. — Se a senhora me acompanhar, por favor... Madison deu um sorriso educado e o acompanhou. Andar pelo palácio era como caminhar num sonho. Altos tetos decorados, afrescos nas paredes, pisos de mármore. Quadros raros e sem preço, que iam de Michelangelo a Jasper Johns. Esculturas de Praxitales, Rodin e Brancusi. Salas de estar elegantes, e, outras, repletas de computadores. O palácio possuía objetos tão antigos quanto o deserto e tão modernos quanto Manhattan, numa mistura estonteante que revelava que, nele, o tempo era tão fluido quanto as águas das fontes dos maravilhosos jardins. Ou seria ilusão? Apesar dos sinais de modernidade, o Palácio Dourado tinha raízes no passado. Os empregados se inclinavam quando Madison passava. Se ela os saudava ou perguntava seus nomes, respondiam polidamente, mas de cabeça baixa e sem fitá-la. Era o costume, dissera Fouad, como se não acreditasse que ela não compreendia. Também era costume que todas as conversas cessassem assim que Madison entrava, que as mulheres lhe fizessem reverência. O costume... Uma lembrança constante de quão diferente aquele mundo era do seu. O pensamento era preocupante. Também era preocupante que, apesar de muito belo, o palácio mais parecesse um museu que uma casa. Será que Tariq pretendia que vivessem ali? A idéia não agradava Madison. E quanto a Nova York, onde ele deveria ter um apartamento onde poderiam morar...? Na verdade, ela ainda não pensara no assunto. Tudo acontecera muito rápido... Até mesmo o fato de ela concordar... O passeio pareceu levar horas. Ao final, Fouad fez outra reverência deprimente. — Por favor — disse Madison depressa. — Você não precisa fazer isso! — É o costume, senhora. Aquela resposta serviria para tudo em Dubaac? Tudo era costume? Que outros costumes eles teriam? Ela queria perguntar a Fouad ou, quando ele se foi, a Sahar, mas uma jovem anunciou que o almoço estava servido no terraço. A mulher, que não falava inglês, fez uma reverência, abaixou a cabeça, corou e a seguiu pelo quarto.

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Madison fez sinal para que ela erguesse a cabeça, sem resultado. A mulher parecia horrorizada diante da sugestão. — Ela está aqui para servi-la, senhora — Sahar explicou. — Vai prepará-la para a noite, providenciar seu banho, fazer suas unhas, seu cabelo, como é... — Costume — disse Madison secamente. — Mas o meu costume é fazer as coisas sozinha. — Esse não é o nosso jeito. — E toda essa bobagem de se inclinar até o chão é? — Nós só seguimos o... — Não me diga essa palavra! A mulher olhou para Madison como se ela fosse louca. Madison se perguntou se ela estaria certa. Talvez. Do contrário, por que concordara em ser esposa de Tariq, sem ao menos perguntar onde morariam e o que ele esperava dela? A mulher conversou em voz baixa com Sahar. Madison as observou e sua irritação cresceu ao notar a palidez no rosto da desconhecida. — O que foi? — Ela quer saber se deve fazer seu trabalho, senhora, ou se deve comunicar a Fouad que não conseguiu agradá-la. Pelo amor de Deus! Madison caminhou até uma cadeira e sentou-se. — Diga a ela para fazer o que veio fazer — ela respondeu. Durante as horas seguintes, Madison teve de suportar a atenção da jovem, de Sahar e, depois, de meia dúzia de mulheres, enquanto ouvia o som distante de aviões que chegavam e pareciam encher o céu. Afinal, ao entardecer, Sahar a examinou, aprovou e dispensou todo o grupo. — Está na hora, senhora. Agora eu vou vesti-la. — Com o quê? Eu não tenho nada... Sahar correu para o quarto de vestir e voltou carregando um traje embrulhado em papel. — Seu vestido — disse ela alegremente. — Chegou quando a senhora estava com Fouad. — Chegou? — disse Madison admirada. — Como? De onde? Sahar sorriu enquanto desembrulhava o vestido e o enfiava pela cabeça de Madison. — Sapatos também, senhora — disse ela, abaixando-se para calçar um par de sandálias de salto alto nos pés de Madison. — Vieram de Paris, como tudo que está no seu quarto de vestir. Por favor, vire-se para que eu abotoe seu vestido. — Vieram de Paris? Todas essas roupas já não estavam aqui? — Claro que não! — disse Sahar, indignada. — O príncipe encomendou especialmente para a senhora. — Sua voz tinha um tom conspiratório. — Foi tudo em cima da hora. Meu senhor teve pouco tempo, depois da fuga de vocês. O costureiro disse que este vestido, seu vestido de casamento, chegaria tarde... Mas tudo deu certo. Afinal, o príncipe é o príncipe. Ele é mágico! Projeto Revisoras

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Madison olhava para o espelho, surpresa, sem enxergar. Mágico, sem dúvida. O marido planejara seu seqüestro, comprara milhares de dólares em roupas, um vestido de noiva, tudo com a certeza de que ela faria o que ele queria. O que mais ele providenciara? A visita do pai e os sentimentos tocantes? A repentina ternura de Tariq, sua proposta para libertá-la? Tudo uma mentira encenada com cuidado, para torná-la uma esposa dócil que não se rebelasse contra ele. Madison estremeceu. Pouco antes, ela se perguntara se estava louca. Sim, tinha que estar, para se entregar a um homem com tamanho poder e que o usava de maneira implacável. —Ah, olhe para a senhora, Está tão linda! Que bela noiva a senhora vai ser! Madison se olhou no espelho. O vestido era lindo. Uma nuvem de seda azulcobalto, bordada com pequenas pedras preciosas, como se ela usasse um pedaço de céu noturno. Pequenas orquídeas brancas adornavam-lhe os cabelos. Até seu sapato era elegante: pequenas tiras de ouro e pedras preciosas em saltos altos e finos. Era ela realmente? Aquela seria Madison Whitney, vice-presidente de uma empresa que estava entre as 500 melhores da revista Fortune? Uma mulher citada no New York Times como exemplo de sucesso das mulheres executivas? Ela se virou para Sahar, sua subserviente servidora de "costume". — Quero ver o príncipe! Agora! — Não é possível. O costume... Madison arrancou o arranjo de flores da cabeça e o jogou na parede. — Dane-se o costume! Vou ver Tariq agora! — Mas uma noiva não deve... — Como é que, de repente, você começou a me chamar de "noiva", Sahar? Eu já não estou casada? Esse... esse costume bárbaro de roubar a mulher e dormir com ela não é uma cerimônia de casamento? Porque... senão for... — Oh, senhor! — Sahar quase mergulhou de cabeça no chão ao ver a porta abrir e bater na parede, enquanto Tariq invadia o quarto. Ele vestia um uniforme composto por um paletó creme, calça preta e botas. Uma medalha de ouro cintilava como o sol, presa ao paletó. — As portas aqui são grossas, habiba — ele disse friamente —, mas não o suficiente para impedir que sua cólera seja ouvida no corredor. — Ele fez um gesto rápido e Sahar saiu do quarto. — O que está acontecendo? — Eu recuperei a razão — disse Madison. — Foi isso que aconteceu! Finalmente percebi que... que mentiroso você é! No mesmo segundo ele estava junto dela, agarrava-a pelos cotovelos e levantavaa do chão. Ela ficou na ponta dos pés, enquanto ele a encarava com um olhar furioso. — Nunca use tal palavra para me descrever! — ele murmurou, calma e friamente. — Você planejou tudo! — Claro que planejei. Você sabia. De que outra forma você me ouviria, a não ser que eu a colocasse dentro do meu avião? Eu já lhe expliquei meus motivos, e, ainda assim, você me chama de... — Você ligou para meu escritório sem eu saber. Projeto Revisoras

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— Sim, liguei. — Tariq a soltou e cruzou os braços. — Pensei que a notícia da nossa "fuga" soaria melhor se fosse dada por mim. Madison bateu o pé no chão, furiosa. — Não preciso que ninguém fale por mim! — Certo — disse ele, tentando manter a calma. — É algo que não farei no futuro. — E o quarto de vestir. As roupas, este vestido. Tudo já estava aqui, à minha espera. Você planejou tudo! A calma sumiu. — Maldição, mulher. Eu não nego! Você preferia que eu lhe desse trapos para vestir? Ele tinha razão, ela sabia. Nada mudara... Entretanto, tudo mudara! Raptá-la num impulso era diferente de planejar tudo friamente. E, claro que não era o mesmo que imaginar que parte da razão para ele seqüestrá-la — mesmo que uma pequena parte —

era ele ter percebido, de repente, o quanto a queria.

— Eu teria preferido — disse ela em tom tão frio quanto o dele — ter uma escolha entre querer ou não querer casar com você. É tão difícil assim de entender? Tariq andou pelo quarto e voltou para junto dela. — Talvez haja algo de errado com sua memória e com seu bom senso. Eu lhe dei uma escolha, habiba. Hoje de manhã. Eu me ofereci para mandá-la de volta a Nova York, para contar a verdade ao meu pai e reconhecer que você não veio comigo espontaneamente, que eu a tirei de Nova York contra a sua vontade... — Que me levou para a cama da mesma maneira! — Eu a levei para a cama porque era o que você queria. — Mentiroso! Foi tudo o que ela teve chance de dizer. Tariq cobriu sua boca com a dele. Madison lutou, resistiu, recusou ceder o que ele queria. Ela já cometera erros demais, não cometeria outro. Forçou-se a suportar o beijo de Tariq, em vez de se entregar como ansiava, forçou-se a permanecer imóvel, mesmo que seu coração a mandasse corresponder. Funcionou. Tariq ergueu a cabeça. Seu olhar estava vazio. Ela vencera, pensou Madison, mas era uma amarga vitória. 136 SANDRA MARTON —Agora, diga a verdade ao seu pai — ela disse em voz baixa. — Diga que estava errado. Diga que não era o que você pretendia, que vai me mandar para casa porque se arrepende do que fez. Tariq deu um passo para trás. — A única coisa de que me arrependo — disse ele — é de ter acreditado que você se importava com nosso bebê... E, talvez, comigo. — Você está distorcendo tudo, droga! Não fui eu quem começou tudo isso. Não fui eu que contei tantas mentiras! — Eu já lhe disse para não falar de mim desse jeito. Madison colocou as mãos nos quadris. Projeto Revisoras

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— E eu estou lhe dizendo, ó poderoso sheik, que você não pode controlar... — Ela engasgou quando ele a pegou pelo rosto. — Fouad me disse que você achou nossos costumes interessantes, habita. Bem, existe um outro costume. — Os dedos de Tariq se enroscaram nos cabelos de Madison. Ele sentiu como eram macios e, apesar de furioso, sentiu também o perfume de sua pele, um cheiro de flores e de sol. Em outra ocasião, aquilo o teria acalmado. No momento, alimentava sua raiva. — Como minha esposa, você me pertence. Você só tem os direitos que eu lhe conceder. É assim que funciona em Dubaac. — Não. — A palavra era um sussurro. — Tariq, você não faria... — Faria — ele disse secamente. — Já fiz. Quinhentos convidados estão à espera da cerimônia do nosso casamento. Se acha que vou ficar diante deles e anunciar que não haverá casamento, que resolvi deixar minha esposa norte-americana criar meu filho a milhares de quilômetros de distância, você está muito enganada. As lágrimas escorriam pelo rosto de Madison. — Você é mais baixo que a escória. Um tirano degenerado. Eu odeio você! Odeio, odeio... Tariq agarrou-a nos braços e a beijou várias vezes, desprezando-a por ter culpa do que ele se tornara... Desprezando a si mesmo por ela ter razão: era tudo sua culpa. Havia meios mais fáceis de assegurar os direitos legais daquela criança, mas nenhum que assegurasse os seus direitos sobre a mulher que a carregava no ventre, e esse pensamento partia seu coração. Quando ele a soltou, Madison limpou a boca com as costas da mão. — Você jamais vai me tocar de novo — disse ela com a voz trêmula. — Nunca mais. Tariq deu um sorriso tão confiante, tão cheio de certeza que Madison corou e seu sangue ferveu de desespero. Mesmo depois de tudo, ela ainda o desejava, e ele sabia. — Eu vou tocá-la, habiba — ele disse roucamente. — Nós dois sabemos disso. — Sexo — disse ela com desdém. — Isso é tudo que... Tariq inclinou a cabeça e a beijou. Não retribua, disse Madison a si mesma, ah, não... Ela não teria retribuído, se o beijo fosse para dominá-la. Mas não foi. Apesar das palavras ásperas, o beijo de Tariq foi delicado. — Sexo é paixão — ele murmurou. — Paixão é vida — disse ele, fitando os olhos de Madison e passando a mão por seu ventre com ternura. — E existe esta criança. Nossa criança. Você realmente gostaria que eu fosse o tipo de homem que se afastaria dela e de você? Tariq viu que Madison procurava uma resposta. Ele também procurava. Talvez ele fosse tudo aquilo que ela dissera. Mas talvez ele fosse apenas um homem que no fundo do coração desejaria aquela mulher mesmo que ela não estivesse esperando um filho dele. Talvez ele fosse apenas muito covarde para admitir isso.

CAPÍTULO DEZ Projeto Revisoras

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Afinal não tinha sentido discutir com ele. O que Tariq desejava para o filho, Madison também desejava. Uma coisa seria criar uma criança de pai desconhecido, mas agora tudo mudara: ela não poderia afastar o pai de seu bebê. Tariq chamou Sahar para ajudar Madison nos retoques finais, sorriu, fez uma reverência e saiu. — A senhora está linda, my lady — disse Sahar em voz baixa. — Que a senhora e o sheik, meu senhor, tenham uma vida longa e feliz. Madison sorriu em resposta. Uma vida feliz? Seu filho teria mãe e pai. Ela teria um marido cujo apetite sexual a excitava de uma maneira que ainda a espantava... Mas felicidade? E quanto ao amor? Ela jamais o procurara, nem imaginara encontrá-lo porque a vida lhe ensinara que o casamento não tinha nada a ver com amor... Sahar abriu a porta e sorriu para ela. — My lady? O coração de Madison disparou. Não, ela não conseguiria, pensou. Não poderia se casar com um estranho... — Habiba? — Tariq esperava por ela, os olhos cor de prata e o rosto contraído. Ora... ele também estava nervoso! Como ela, ele não esperava uma reviravolta na vida. Ele lhe ofereceu a mão. Madison olhou em seus olhos e percebeu que ele não era mais um estranho. Conheciam-se há pouco tempo, mas ela sabia mais sobre ele do que muitas noivas sabiam sobre seus noivos, graças à pressão dos dias anteriores. Ela sabia, por exemplo, que ele era um homem honrado, responsável. Bonito, alto, extremamente simpático. Terno, forte e apaixonado... — Habita — ele disse com uma voz rouca. — Prometo que farei tudo para que você seja feliz. Madison sabia que era verdade. Seus olhos se encheram de lágrimas. Ela aceitou a mão que ele lhe oferecia. Tariq pegou a mão dela e a beijou. Depois, passou o braço na cintura de Madison e a conduziu através do palácio, levando-a para a cerimônia que os uniria para sempre. O grande salão de baile parecia iluminado pelo brilho de centenas de estrelas. Lustres de cristal pendiam do teto e ofuscavam a visão. Nas mesas cobertas por elegantes toalhas havia candelabros que iluminariam suavemente o jantar. Um quarteto tocava Vivaldi. Os convidados conversavam, divididos em pequenos grupos. Alguns se vestiam de acordo com os costumes de Dubaac, outros usavam roupas do tipo que se usaria em Nova York, num baile do Waldorf. Madison soltou uma exclamação de surpresa. Tariq a apertou contra o corpo. — O que você esperava, habita? — ele sussurrou. — Homens a cavalo? Fogueiras? — Ele sorriu. — Tudo bem, querida. Na verdade, isso tudo virá, mais tarde. Até o mais sofisticado de meus súditos ainda aprecia alguns hábitos antigos. Fouad, que usava um dishdashah dourado, estava rigidamente parado no topo da escadaria de mármore que conduzia ao salão. — My lord, devo anunciá-los? Projeto Revisoras

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— Sim... Mas o que você não deve fazer — Tariq disse rapidamente, antes que o velho pudesse se contorcer — é se curvar dessa maneira absurda. — Ele percebeu a expressão de Madison. — Ah, querida, você acaba de se entregar. Pensou que eu exigia esse gesto do meu povo. — Não exige? Céus, ele adorava a franqueza de Madison. Sua coragem, sua força. Tariq gostaria de poder abraçá-la e beijá-la até que o ar de apreensão sumisse do rosto dela. Ele também se sentira inseguro. Afinal, aquele era um compromisso que ele não planejara. E, então, Madison saíra do quarto. Ele a vira e pensara: Esta mulher é minha, e seu nervosismo dera lugar a uma sensação de alegria, de inimaginável felicidade. — Não. Não exijo — ele disse. — Eu sei que nem todas as tradições são justas, mas você deveria saber que não é fácil mudar hábitos centenários. Ela o encarou por longo tempo e umedeceu os lábios. — Eu... eu serei uma boa esposa para você, Tariq — murmurou. — Prometo. Tariq sabia que um homem não deveria beijar a esposa até que a declaração formal de seu casamento fosse feita diante dos convidados. Era o que rezava o costume. Para o inferno com o costume, ele pensou, com súbita rebeldia. Tomou a esposa nos braços e a beijou. Fez-se um momento de silêncio admirado e, então a multidão aplaudiu. Os aplausos se transformaram em saudações, enquanto Madison pegava o rosto de Tariq e o beijava em retribuição, desistindo de negar o que sempre soubera: estava loucamente apaixonada pelo marido. A noite foi um sonho mágico. O sultão chegou, cumprimentou os convidados, falou sobre o futuro de Dubaac, do amor pelo filho e da alegria por ele ter se casado. Pegou as mãos de Tariq e de Madison e as uniu. — Você trouxe alegria ao nosso povo. Nós lhes desejamos toda a felicidade que temos no coração. Tariq se voltou para Madison. — Minha esposa — disse com carinho. — Meu marido — ela respondeu. Os dois se beijaram. — Um beijo oficial — ele murmurou junto aos lábios de Madison. Ela riu e se perguntou como pudera ter medo. As horas passaram depressa. Madison circulou entre os convidados. Conversou com um ator, com um primeiro-ministro estrangeiro, com um funcionário das Nações Unidas. Falou com um homem simpático e alto que se apresentou como Salim, e que declarou ser o melhor amigo de seu marido. Foram interrompidos por outro homem alto e simpático, que desmentiu o primeiro ao dizer que ele era o melhor amigo de Tariq. Os dois falaram no mesmo tom solene, com um sorriso nos olhos. Madison riu ainda mais quando o marido se aproximou, colocou o braço em torno dela e declarou que eles não eram seus amigos, mas conhecidos inoportunos, cuja presença ele tolerava por consideração. Madison foi salva pelo sogro, que a pegou pela mão e a levou para

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conhecer o embaixador norte-americano. Khalil e Salim trocaram um sorriso, agarraram Tariq pelo braço e o levaram para outra sala. — Cão sarnento — disse Khalil ao fechar a porta. — Você nos contou que procurava uma esposa, mas não nos disse que tinha encontrado. — O garanhão do Saara ataca de novo — disse Salim. Tariq pensou em lhes contar toda a história, mas era muito particular e pessoal, até mesmo para ser dividida com os amigos. Ele suspirou e declarou que os dois estavam com inveja. — Inveja? — disse Khalil. — Bem, claro que ela é linda, mas... — Ele olhou para Salim. — Ei, ajude aqui. Salim sorriu. — Ela é linda, homem... mas não temos pressa em desistir da liberdade. Uma mulher pode ser sensacional, mas isso não significa que um homem queira se amarrar para sempre. Não estamos dizendo que você não deveria — ele acrescentou depressa. — Quer dizer... — Ele quer dizer — ajudou Khalil — que nós sabemos que você não tinha escolha. Mandaram você encontrar uma esposa e você... Ah, inferno! Não foi isso que... — Está certo — disse Tariq com um leve sorriso. — Eu precisava encontrar uma esposa, mas o destino se intrometeu e... — Tariq hesitou. O destino lhe dera um presente que ele jamais imaginara ganhar: trouxera-lhe uma mulher que ele... Uma mulher que ele... — Tariq? Ele se assustou, olhou para os dois amigos e os abraçou. — Foi ótimo ver vocês, mas preciso ir. — Ir aonde? — Encontrar minha esposa — disse Tariq, sussurrando. Ele saiu correndo da sala, deixando os dois intrigados. — Você acha que ele está apaixonado por ela? — disse Salim, afinal. Kalil fungou. — Não — ele respondeu depressa. Os dois se entreolharam, deram de ombros e voltaram para a festa. Afinal, a noite estava apenas começando. Madison conversava com um pequeno grupo de norte-americanos e ria só porque todos estavam rindo, mas seus pensamentos estavam longe. Ela vira Tariq se fechar numa sala com os amigos. Sobre o que estariam falando? Tariq estaria explicando que não tivera outra opção a não ser casar com ela? —... lindo país, alteza. A senhora já teve chance de conhecê-lo? Madison tentou dar atenção à mulher que lhe falava. — Desculpe? — Eu dizia que a planície é magnífica. Vibrante, verdejante, em enorme contraste com o deserto que... Projeto Revisoras

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A porta se abriu. Tariq entrou no salão, parou e olhou ao redor... Madison sentiu um arrepio. Estaria procurando por ela? Sim. Seus olhares se encontraram. Mesmo à distância, ela sentiu o calor de seus olhos. A mulher continuava a falar enquanto Tariq atravessava o salão. Algumas pessoas falavam com ele, que respondia sem se deter, e não parou até chegar ao lado dela. — Boa noite — disse ele em tom casual, envolvendo a cintura de Madison. Ela olhou para ele e, além do sorriso polido, enxergou o fogo em seus olhos. A norteamericana fez uma reverência. — Alteza, eu estava dizendo à srta. Whit... à sua esposa, como é lindo o vale a oeste da cidade. — É lindo, de fato — disse Tariq. Ele espalmou a mão na cintura de Madison num gesto natural, mas que demonstrava posse. Madison, que jamais imaginara desejar ser possuída por qualquer homem, sentiu que seu pulso acelerava. — O senhor deve mostrar a ela como é lindo, alteza! Tariq deslizou a mão pelas costas de Madison e levou-a até sua nuca. — Existe muita coisa que preciso mostrar à minha esposa. Madison percebeu a repentina rouquidão na voz de Tariq. Ele voltou a pegá-la pela cintura e puxou-a para si. Ela estremeceu. Seus olhares se encontraram de novo, e o que Tariq viu nos olhos da esposa quase o fez ajoelhar: Madison o desejava. Ela o desejava tanto quanto ele a desejava. Ele sabia o que deveria fazer: gentilmente dizer boa noite aos convidados, comentar que fora um dia cansativo, pegar a mão de Madison e sair calmamente da sala. Não precisava ter pressa, estavam legalmente casados... — Madison — ele disse em voz baixa. — Sim — ela murmurou. Era tudo o que ele precisava. Para o inferno com o protocolo, com o decoro e a tradição. Eles se desejavam e estava na hora de fazer algo a respeito. — Habiba — disse ele, e a beijou. O grupo que os cercava engasgou, e quando Madison o abraçou e encostou o rosto em seu pescoço, os murmúrios começaram. Alguém deu uma risada abafada, alguém deu uma gargalhada. Uma das pessoas começou a bater palmas e logo foi imitada pelos demais, quando Sua Alteza, sheik Tariq... príncipe de Dubaac, carregou a esposa para fora do salão de baile. Ele a carregou através dos corredores do palácio até chegar à porta do quarto. Um guarda apareceu e fez menção de abrir a porta, mas Tariq balançou a cabeça. — Afaste-se — ele resmungou. O guarda fez uma continência e sumiu. Tariq abriu a porta e a fechou atrás deles com um chute. Afinal, estava a sós com sua mulher. O luar banhava no carpete sedoso. Ele seguiu o caminho iluminado por dentro do quarto e finalmente colocou Madison de pé no chão. — Habiba — murmurou. Ele a beijou gentilmente, com ternura, experimentando a maciez sedosa de seus lábios e de sua língua, o perfume de sua pele. Em seguida ele tirou, uma a uma, as flores dos cabelos de Madison, e as deixou cair a seus pés. Projeto Revisoras

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— Tariq! — Ela simplesmente sussurrou o nome dele, mas a ansiedade em sua voz foi mais do que ele poderia suportar. — Diga que me quer — ele murmurou. Madison lhe ofereceu os lábios, dizendo com beijos o quanto o desejava. Mesmo assim, Tariq precisava ouvir as palavras. — Diga — ele insistiu. — Eu quero você. Ah, como eu desejo você! Faça amor comigo, Tariq. Por favor, não me faça esperar... Tariq gemeu e a beijou repetidamente, cada vez com maior intensidade e paixão. Tivera muitas mulheres, sentira desejo, mas nunca daquela maneira. A intensidade de seu profundo desejo por Madison o admirava. Queria beijá-la para sempre, afogar-se em seu sabor, perder-se na doçura de sua boca. Acima de tudo, queria que aqueles momentos durassem. Na primeira vez fora muito rápido. A paixão o deixara exaurido, mas ele queria mais. Ele queria... Madison se apertou contra ele. Fazia pequenos ruídos que levariam qualquer homem à loucura. Espere, ele disse a si mesmo, vá com calma. Em vez disso, ele enfiou a mão sob o vestido de Madison. Suas pernas estavam nuas, a pele, macia e quente. Ela engasgou quando ele lhe acariciou as coxas, e quando gemeu, o corpo de Tariq se contraiu de maneira quase dolorosa. Ele tocou a calcinha de Madison. Seda e renda. Macia, mas não tanto quanto ela, quanto a parte interna de suas coxas, quanto o botão que ele procurou e encontrou sob a renda. Madison se contorceu nos braços dele. — Tariq... — Sim — ele sussurrou, numa voz estranha, ao acariciar os delicados pelos que protegiam o centro de sua feminilidade, ao sentir o calor úmido de desejo em sua mão. Ele movimentou os dedos. Madison deu um gemido selvagem e inclinou a cabeça para trás. Tariq viu os olhos cor de chocolate esgazeados e sentiu que o quarto rodava. — Madison — disse ele — habiba... — Por favor — ela disse, com a voz entrecortada. — Por favor, Tariq, por favor, por favor... E, então, ele perdeu totalmente o controle. Disse algo rude e selvagem, levantou a saia de Madison, rasgou o pedacinho de seda e renda, abriu a própria calça, levantoua nos braços e mergulhou fundo no fogo líquido que o esperava. Madison o envolveu com as pernas e teve um orgasmo: seu grito de rendição atravessou a noite como um cometa. Ela mordeu o ombro de Tariq, que sentiu a rápida e afiada mordida e ficou deliciado por compartilhar com ela a doce dor do prazer. — Sim — disse ele. — Sim, sim... Ela o beijou e agarrou-se a seus cabelos no frenesi de um novo orgasmo. Afinal, Tariq se entregou e a inundou com seu sêmen. Madison encostou a cabeça no ombro dele. Estava coberta de suor e tremia. — Tariq — ela murmurou. — Eu sei — ele disse. E sabia. Jamais acontecera algo semelhante entre eles. O universo parará no momento em que se uniram. Enquanto ele a carregava para a cama, Projeto Revisoras

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sabia que era isso o que sempre desejara: não apenas sexo, mas o que ele significava num casamento. A promessa do coração de Madison acelerando com o dele, a promessa da criança que crescia em seu ventre. Acima de tudo, ele sabia que não importava que ele fosse o sheik de Dubaac, ou o príncipe herdeiro de um reino muito antigo. O que importava é que ele era um homem, e que aquela mulher bela, forte, generosa e incrível seria sua para sempre.

CAPÍTULO ONZE Madison estava deitada nos braços do marido. Ao puxar as cobertas, ele precisara soltá-la. Ela pensara que ele a estava deixando e reagira com instintivo orgulho, afastando-se dele... Tariq não permitira. — Ei — ele dissera gentilmente — aonde você vai? — Ele a abraçara. — Tudo bem? — Sim — ela respondeu. Devia haver outra forma de descrever a sensação que era estar colada ao corpo dele, sentindo as batidas de seu coração sob a mão, seu perfume — uma deliciosa mistura de masculinidade, suor e sexo. Ele a beijou. "Tudo bem" estava longe de corresponder à verdade. Fazer amor com ele fora maravilhoso. Madison sorriu e acariciou os lábios de Tariq com a ponta do dedo. — Foi maravilhoso. Você foi maravilhoso. — Não estou querendo elogios. — Ele deu um sorriso sensual. — Mas fico contente em recebê-los. — Os dois riram. Quem imaginaria que rir fazia parte do que acontecia na cama? A mãe de Madison sempre fizera o sexo parecer uma série de negociações, e sua própria experiência, muito limitada, deixara muito a desejar. Seria esta a diferença entre fazer sexo com alguém de quem se gosta e fazer sexo com alguém a quem se adora? — O que foi? — ele perguntou ao vê-la corar. — Eu estava pensando que... que fazer amor com você foi... foi... Tariq a beijou carinhosamente. — Para mim também — ele resmungou. — Foi diferente de tudo o que eu conhecia. — Ele a apertou contra si e afagou-lhe o corpo, deliciado ao senti-la junto dele. — Não havia ninguém na sua vida quando nos conhecemos? — Não. Há muito tempo que não havia ninguém. Tariq exultou. — Ótimo. Perfeito — disse ele, beijando-a. A princípio o beijo foi gentil, mas ao sentir os lábios de Madison derretendo sob os dele seu desejo por ela voltou. Ele a desejava com uma intensidade que lhe causava surpresa. E se lhe dissesse: Madison, sei que a forcei a se casar, mas preciso lhe dizer que eu... Ele o quê? Que havia algo em seu coração que ele não conseguia definir, um sentimento, uma emoção... Casar era seu dever. Ele fora educado para algo que se tornara ainda mais importante após a morte de Sharif. Compreendia que casar era uma obrigação, não esse sentimento de satisfação cada vez que olhava para Madison; não a onda de Projeto Revisoras

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felicidade em seu coração; nem a sensação de que estava à beira do abismo e que bastaria uma palavra, um gesto involuntário para cair no precipício. E, com certeza, não a consciência de que, se pronunciasse as palavras que jamais pensara em dizer, ele se tornaria totalmente vulnerável, porque não sabia o que ela sentia por ele. — Tariq? Em que você está pensando? — Madison o fitava. Ele olhou em seus olhos e sentiu-se invadir de novo pelo desejo, pela necessidade de possuí-la. Mas não agora, não até ter explorado cada pedacinho do corpo dela. — Estou pensando — disse ele carinhoso — em quanto você é bonita, habiba. — O que quer dizer habiba! — Quer dizer querida. — É bonito — ela sorriu. — E você também é bonito. Tariq fez uma careta. — Homens não são... — Você é. — Ela acariciou o rosto dele, adorando a aspereza da barba que despontava. — Seu rosto, seu corpo. São muito bonitos. Tariq beijou os dedos e a palma da mão de Madison. — O crédito não é meu. Eu tenho os traços de minha mãe. — Ela... — Sim, ela morreu quando eu e Sharif éramos meninos. — Sinto muito, Tariq. — Eu também, mas, na verdade, ela não fazia parte de nossas vidas. Nossos pais nos educaram de acordo com... — A tradição — disse Madison suspirando. — O costume. Ele concordou. — Tivemos babás, governantas e depois fomos mandados para escolas particulares nos Estados Unidos — Ele a beijou. — Não é isso que quero para nosso bebê, habiba. Nós iremos educá-lo, não pessoas que são pagas para isso. — Talvez não seja "ele", Tariq. Talvez seja uma menina, e se for, existe algum costume em relação às meninas como herdeiras do trono do pai? — Existe. — Ele a beijou de novo. — Nesse caso, habiba, vamos romper outra tradição e criar nossa filha da mesma maneira que criaríamos um filho. — Ótimo, porque, apesar de entender a necessidade da tradição... — Algumas tradições não precisam ser mudadas — ele murmurou, dando-lhe um longo beijo. — Como esta — disse Madison docemente. — Eu concordo. — Existem outras, querida. — Tariq a beijou no pescoço e sentiu que o coração dela acelerava. — Mostre-me — ela pediu. Tariq cobriu os seios de Madison com as mãos e viu que os olhos dela escureciam sob o toque delicado de seus dedos nos mamilos enrijecidos. Quando ele os cobriu com a boca, ela gritou, e ele ficou exultante. — Você gostou? — ele murmurou. Projeto Revisoras

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Madison respondeu com um soluço, e mais outro quando ele beijou seu umbigo e seu ventre. Quando ele roçou os lábios no vértice de suas coxas, ela estremeceu. — Relaxe — disse ele em voz arrastada. —Assim. Quero ver você, querida. Quero ver... Aqui, bem aqui, esse botão perfeito que floresce só para mim. Madison gritou quando ele abaixou a cabeça e começou a acariciá-la com a língua, a sorvê-la gentilmente, até que ela soluçou seu nome e implorou que ele fizesse amor com ela. Tariq se ajoelhou entre as suas coxas. — Olhe para mim, Madison — ele pediu. Ela olhou para o rosto dele. Lentamente, tão devagar que ele pensou que iria matá-los, ele entrou nó corpo dela e começou a se movimentar. Madison chorou e ele secou-lhe as lágrimas. Ela soluçou o nome dele e ele abafou os soluços com beijos. Ela contorceu o corpo sob o dele, envolveu-o com as pernas, e, dessa vez, quando atingiram o êxtase, quando chegaram ao ponto onde almas e corações se fundiam, Tariq sentiu que era o homem mais feliz do mundo. Mais tarde Madison acordou de um sono profundo. Fora despertada pelo barulho, por surdas vibrações que pareciam ecoar em suas veias. — Fogos de artifício — murmurou Tariq. — Você pode vê-los da janela. Ela se levantou e se arrastou até a beirada da cama enquanto o céu se iluminava de cores. — Ah, Tariq! Que lindo! Ela era linda, pensou Tariq tentando agarrá-la, mas Madison já havia se enrolado numa manta ao pé da cama e correra até a janela. — Está bem — disse sem entusiasmo. — Vamos olhar um pouco. — Ele a seguiu e colocou os braços em torno dela. — Esse espetáculo é para você? — Para nós, habiba. Você quer ir para o terraço? Madison olhou a manta que a cobria e a nudez de Tariq. — Assim? Ele riu. — Assim mesmo. Os fogos estão na praia. Ninguém irá nos ver. A noite estava quente e o ar tinha o perfume do mar. Tariq ficou um pouco afastado e Madison foi até a beira do terraço. Outra explosão de cor iluminou o céu com tons de rosa e vermelho. — Olhe — ela disse contente — você já viu algo tão maravilhoso? Não, ele pensou, não vira. Mas não olhava para os fogos, olhava para sua mulher: os cabelos dourados espalhados sobre os ombros, a linha delicada de suas costas nuas sob o cobertor. Tariq viu mais: sua incrível vivacidade, a preocupação com os outros, seu desprendimento — primeiro, ao desejar criar um filho sozinha, depois, ao reconhecer o direito de ele exercer sua paternidade, mesmo que, por causa disso, a vida dela virasse de pernas para o ar. Acima de tudo, ele enxergou seu próprio coração. Ele a amava. Sentiu um nó na garganta. Aproximou-se e passou os braços em torno de Madison. — Habiba — disse ele com carinho. Projeto Revisoras

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Algo em sua voz ultrapassou a beleza dos fogos. Madison se virou para ele e o que viu em seus olhos fez o coração dela flutuar. — Tariq — ela sussurrou. Sem deixar de fitá-la, ele a beijou com doçura. Madison suspirou e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela o abraçou pelo pescoço e ele a carregou de volta para a cama. Tariq a beijou na garganta, nos seios, no ventre, com paixão, mas também com uma ternura que aguçava os sentidos. Dessa vez, quando ele entrou no corpo de Madison, resolveu ir devagar. Observou o adorável rosto dela, o reflexo do prazer que ele lhe dava refletido em seus olhos. Tariq se movimentou no fundo do corpo dela até que ela gritou e seu corpo se contorceu em espasmos. — Tariq — ela murmurou. Ele a beijou e continuou a se mover dentro do calor sedoso do corpo de Madison, levando-a mais uma vez ao limite, abençoando a consciência de que a amava, de que podia fazer aquilo com ela, para ela... Madison esticou a mão e o tocou. Ele estremeceu, gemeu e tentou se controlar... — Por favor — disse ela. — Por favor, acabe junto comigo... Afinal, com o corpo coberto pelo suor, Tariq a acompanhou na luz que explodia dentro da escuridão. Sahar os acordou, na manhã seguinte, ao entrar no quarto. Trazia uma bandeja com o café-da-manhã. Tariq se espreguiçou e sentou-se na cama. Madison engoliu em seco, virou de bruços e se escondeu sob as cobertas. Quando Sahar saiu, ele riu. — É assim que você começa o dia, habiba? Escondida sob o cobertor? — Ela já saiu? Tariq puxou as cobertas. Madison deu um gritinho. — Sim, ela já saiu — Ele se inclinou e deu-lhe um beijo na nuca. — Está na hora de levantar e brilhar. — Ela sempre faz isso? Entra direto no seu quarto, mesmo quando você... — Você quer saber — disse ele, beijando-a ao longo das costas — se é um dos nossos costumes? Bem, alguém sempre trás o meu café-da-manhã. Mas não há "quando você", querida. — Ele virou o corpo de Madison. — Eu nunca trouxe uma mulher até aqui. — Não? — Ela ficou feliz com a declaração. — Não. E pare de parecer tão contente. — Não estou contente. Estou... — Satisfeita — ele disse com ternura. Madison sorriu. — Estou. — E feliz. — Muito. Agora, ele pensou. Abrace-a e diga: Espera, eu amo você. Eu adoro você. Deus! Era um risco muito grande. Quando um homem diz algo assim, quer ouvir as mesmas palavras. Não que fosse o que ele esperava de um casamento. Para ele, casamento

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sempre fora um assunto de Estado. Quem diria que seu casamento seria um assunto do coração? Quem diria que ele era um covarde? Aos 15 anos, pilotava um monomotor. Aos 18, tirara o breve. Aos 20, pilotara seu primeiro jato. Praticara todo tipo de esportes radicais: alpinismo, paraquedismo, atravessara as mais perigosas corredeiras, cruzara a pé o deserto de Alahandra com Sharif, Khalil e Salim, apenas com meia dúzia de cantis, só porque diziam que seria impossível. Vivera uma vida arriscada, mas estava diante do maior risco de sua vida e temia assumi-lo, porque, se a esposa não o amasse... se Madison não o amasse, ele a amaria o bastante para deixá-la livre? Seria o certo a fazer. Não, tinha que pensar na criança. Haviam concordado que a criança precisava dos dois... A criança viria primeiro, nada mais importava. Além disso, Madison dissera estar feliz... — Tariq? Há alguma coisa errada? Ele olhou para ela, recostada nos travesseiros, com ar de preocupação. — Não, não há nada — disse. Ele a abraçou e beijou seus cabelos. — Eu estava pensando... que também estou feliz. Madison fechou os olhos e se aconchegou nos braços dele. Se ao menos ele dissesse que a amava! Mas ela não deveria ser ambiciosa. O destino já lhe dera um homem a quem adorava e cujo filho carregava no ventre. Existe um limite para os milagres que uma mulher pode esperar da vida. A manhã passou depressa. Café na cama, almoço no terraço. No início da tarde, Tariq lhe perguntou se desejava conhecer a cidade. — Eu adoraria! — disse ela. Ele vestiu calças jeans e uma camisa azul com as mangas enroladas. Ela escolheu calças capri bege e uma blusa de seda branca. — Estou bem assim? Se nos virem, vão pensar que estou desafiando algum tipo de costume? Tariq sorriu e a abraçou. — Pensarão que sou um homem de sorte, habiba. Uma Ferrari vermelha os esperava diante da porta. Tariq sentou-se ao volante. — Você precisa me avisar, se ficar cansada, querida. — Ele lhe acariciou o ventre com carinho. — Certo? — Certo — disse ela, e imaginou se a preocupação seria por ela ou pelo bebê. Imediatamente se reprovou: aquele era um pensamento terrível. Ele amava o bebê e se preocupava com ela. Que importava que as duas coisas fossem diferentes? Ela também amava o bebê... Dubaac era muito diferente do que ela esperava. Era uma cidade bonita, moderna, repleta de arranha-céus, hotéis famosos e elegantes lojas de grifes conhecidas em Nova York. Tariq estacionou numa rua cheia de butiques caras. Caminharam de mãos dadas pelas calçadas. As pessoas sorriam para eles, e algumas se inclinavam respeitoProjeto Revisoras

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samente. Ele a levou a uma joalheria. O proprietário convidou Madison a escolher uma jóia. — Qualquer coisa que for do agrado da princesa — ele disse. — Qualquer coisa. Tariq sussurrou no ouvido de Madison. — Tudo certo, habiba. Eu vou pagar. Vá em frente, escolha alguma coisa. Talvez aquela esmeralda, ou o pingente de diamante amarelo. Combina com seus cabelos e com seus olhos. Madison nada escolheu. Tudo era muito caro, ela sussurrou para Tariq, que teve vontade de rir. Talvez ela achasse que ele não poderia pagar jóias como aquelas. Afinal, ele comprou o pingente de diamante e o colocou no pescoço de Madison. Ela segurou o pingente e disse que era lindo. Tariq pensou: Não tão lindo quanto você. Mais adiante a rua se transformava e tinha o mistério do passado. Eles entraram em um souk, um antigo mercado repleto de lojas e de barracas. Dessa vez foi Madison que puxou Tariq até uma barraca de enfeites artesanais. Ela pegou um colar com uma minúscula pedra polida e uma pena delicada penduradas numa fina trança de fibra macia e brilhante. — Que lindo — disse Madison. Tariq sorriu. Ele teria feito a mesma escolha. A pedra vinha do rio que cortava as montanhas do deserto. A pena caíra de um falcão. A trança era de crina de cavalo. — É um amuleto de amor — ele disse. — Algo que se oferece à mulher amada. Algumas tribos ainda acreditam nessas superstições. Você gostou, habiba? Ela disse que sim. Tariq comprou o colar e o entregou a Madison. Um sorriso iluminou o rosto dela e o coração de Tariq. De volta ao carro, eles subiram a montanha que se erguia ao lado da cidade. O petróleo trouxera uma incrível riqueza a Dubaac, Tariq explicou. Durante os últimos anos, seu irmão convencera o pai de que seria bom para o povo misturar os antigos costumes com os novos. — Você concordava com Sharif? — Totalmente. Na verdade, eu queria fazer mudanças mais radicais. Ainda existem vilarejos sem saneamento ou eletricidade, ainda existem velhos antiquados que não acreditam que as mulheres devam estudar. Tudo isso precisa mudar e... — Ele sorriu com humildade. — Desculpe, você fez uma pergunta e eu respondi com um discurso. — Não — ela disse docemente. — Você respondeu com o coração e... ai... — Ela soltou o ar devagar. Tariq ergueu a cabeça. — Madison? — Não foi nada. Verdade. Eu só... estou sentindo uma pontada nas costas. — Maldição, eu deveria ter percebido... Este carro não foi feito para mulheres grávidas. — Ele ligou o motor. — Vamos voltar. — Não, não é isso. Eu... — Habiba. O que foi? — Uma câimbra. Uma pontada... Ah, Deus! Tariq! Acho que estou com uma hemorragia... Projeto Revisoras

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Tariq agarrou a mão dela com tanta força que quase a esmagou, e a Ferrari deu um pulo para a frente. — Você vai ficar bem, habiba — ele disse com fervor. — Eu juro. No final, ele não pôde cumprir o juramento. Era o príncipe herdeiro, o sheik de um rico e importante país. O mercado financeiro seguia seus investimentos seu povo se agarrava às suas palavras. Apesar de tudo, ele não pôde ajudar a esposa. Tariq telefonara para o novo hospital que seu irmão construíra, enquanto levava Madison. Ao chegarem, foram recebidos por um médico particular — formado em Paris, chefe da obstetrícia e que fizera residência em Nova York — e por uma equipe de enfermagem. Madison fora colocada numa maça e se agarrara à mão de Tariq enquanto a levavam para a sala de exame. O médico teve que separar as mãos dos dois, antes que ele a soltasse. Madison foi levada para dentro e a enfermeira fechou a porta. Tariq, sempre forte, poderoso, sempre com o controle de tudo, lutou para não desmoronar. Madison, sua esposa, sozinha, do outro lado da porta, apavorada, sofrendo. — Por favor — ele sussurrou. — Por favor, salve-a. — Ele andou de um lado para outro, e, mais tarde, afundou num banco e cobriu o rosto com as mãos. Os minutos se transformaram em horas e o tempo se arrastava... Afinal, o médico apareceu. Tariq levantou num pulo. — Sinto muito, alteza — disse o médico com calma. O mundo começou a rodar. — Minha esposa...? — Ela está bem, senhor. Mas o bebê... Ela teve um aborto espontâneo, sheik Tariq — disse o obstetra. Tariq fechou os olhos. — A culpa é minha — ele disse em voz baixa e angustiada. — Nós discutimos. Eu a fiz passar pelo inferno. Fiz com que voasse por horas e fiz amor com ela. — My lord, garanto que nada disso prejudicou a gravidez. É um caso em que o embrião simplesmente não se desenvolve. Posso lhe dar maiores detalhes médicos... — Não. Por favor, doutor. Agradeço, mas... não agora. — O importante é que o que aconteceu não foi culpa de ninguém. Não há motivo para acontecer de novo. O senhor e sua esposa podem esperar uma gravidez normal no futuro. — A voz do médico ficou mais calma. — Apenas dê tempo para ela se recuperar do trauma da perda. Se ela parecer meio distante, é normal. — Sim, sim, claro. O médico pigarreou. — Pode ser que ela não se interesse por sexo por algum tempo, senhor. Tariq ergueu a cabeça. — Garanto, doutor, sexo é a última coisa que passaria pela minha cabeça nesse momento. Só quero ter certeza de que minha mulher vai ficar boa. — Vamos transferi-la para um quarto particular por esta noite, e, sim, ela vai ficar boa. Por que não verifica pessoalmente, Alteza? Tenho certeza de que a princesa ficará feliz ao vê-lo. Projeto Revisoras

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Tariq concordou e deu o passo mais difícil de sua vida: abriu a porta do quarto e entrou. Ah, Deus! O coração dele se apertou diante do que viu. Sua forte e corajosa esposa, deitada numa cama estreita, com o rosto virado para a parede e um tubo enfiado no braço. — Habiba — disse ele com ternura. Ela não se mexeu. Ele se aproximou e afastou os cabelos molhados de suor da testa de Madison. — Querida, sinto muito... — Eu sei. — A voz dela estava fraca e encheu a alma de Tariq de tamanha angústia que ele teve que lutar para encontrar palavras de consolo. — Não havia nada que alguém pudesse fazer. — Eles me disseram. Tariq beijou-a na têmpora e sentiu seu pulso sob a pele delicada. — Eles querem que você fique aqui esta noite, habiba. Eu vou ficar com você. — Não. — Mas, querida... — Não preciso de você, Tariq. As palavras o magoaram, mas ele compreendia. Era o jeito de Madison lutar contra o sofrimento da perda. — Está bem. Se é assim que você quer... — É. Ele concordou. Parecia estar concordando com muita coisa. Talvez fosse tudo o que ele conseguia fazer naquele momento. — Está bem. Vou me certificar de que a coloquem num quarto sossegado, e quando eu vier buscá-la de manhã... Madison estava de olhos fechados. Teria adormecido ou simplesmente não queria vê-lo? Ele deu um passo para trás, controlando uma pontada de revolta. O bebê estava no ventre de Madison, mas era seu filho também. Ele não sentira a dor física, mas sentira a dor emocional, que também era real. Que tipo de crápula diria aquilo para a esposa naquele momento? Claro que era mais difícil para ela do que para ele. Ele compreendia. Depois de levá-la para casa na manhã seguinte, faria tudo para mostrar a Madison que haviam perdido o bebê, mas não haviam perdido tudo: ainda tinham um ao outro. Mas não tinham. Os dias se passaram. Os médicos deram alta a Madison. Ela estava bem, poderia retomar sua vida normal, fazer o que desejasse. Sua primeira tarefa parecia ser evitar Tariq. Ele se sentia desconfortável ao lado dela, mas, inferno, o que um homem pode dizer a uma mulher que acaba de perder o filho que desejava tanto, que chegara a extremos para conceber?

Essas coisas acontecem. Podemos tentar de novo.

A primeira frase era patética. A segunda soaria como uma desculpa para tê-la de volta em seus braços. Era claro como o dia que os braços dele eram o último lugar onde ela desejaria estar. Em sua primeira noite em casa, Madison dormira tão longe dele na Projeto Revisoras

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cama que bem poderiam estar em quartos separados. Tariq desejava abraçá-la, mas receou que ela pensasse que ele estava à procura de sexo. Deus, ele não queria sexo. Queria Madison, sua esposa, carinhosa e docemente em seus braços. Mas o aviso do médico queimava em sua memória e o comportamento de Madison só o reforçava. Fora da cama eles se comportavam como estranhos bem educados. Madison passeava nos jardins, sentava na beira da praia e fitava as ondas do mar. Se Tariq sugeria um almoço na cidade, ela agradecia e dizia não estar com fome. Reagira da mesma forma quando ele a convidara para um passeio pelo deserto. Madison também não usava o diamante que ele lhe dera. Até um tolo veria que ela não queria nada com ele. Depois de algum tempo, Tariq parou de convidá-la para acompanhá-lo. Ele disse a si mesmo que era para poupá-la de ter que se esquivar de seus convites, mas, na verdade, era para não se sentir rejeitado... Não, ela não queria estar casada com ele. Era disso que se tratava. Ao final de um mês, ele sabia que precisava admitir a verdade. Então, ele se manteve ocupado. Ficou longe de Madison o máximo possível. Compareceu a reuniões, criou um novo programa educacional para implementar, participou de teleconferências com Nova York. Trabalhou tanto que quase esqueceu que tinha uma vida. Agora, ele retomava tudo o que tinha a fazer, mas nada conseguia ocultar a verdade. Ele forçara Madison a casar. Ela fizera de tudo para dar certo, pela segurança do bebê. Agora não havia mais bebê. Não havia mais razão para o casamento. Ela sabia. Depois de algum tempo, ele também sabia. Tariq amava Madison. Deus, ele a amava com todo o coração e a alma. A única questão era se ele a amava o suficiente para fazer o que era certo, para deixá-la partir.

CAPÍTULO DOZE A manhã estava tão linda que era digna de um pintor. Madison, parada na beira da praia, olhava o mar. No horizonte, um navio singrava contra o céu límpido. Seria o momento perfeito para desfrutar com Tariq, ela pensou. Imediatamente, lembrou-se de que não deveria pensar daquela maneira. Nada no mundo, nem mesmo a beleza do cenário poderia mudar a realidade. Ela perdera o bebê. Isso já bastaria para partir o coração de qualquer mulher, mas ela perdera algo mais. Perdera o marido. Madison tentou conter as lágrimas. Chorava, ou tinha vontade de chorar o tempo todo, o que não tinha sentido, pois não mudaria os fatos. Tariq exigira que ela se casasse com ele porque estava grávida de seu filho. No início, ela o desprezara por forçá-la a se casar. Depois, ela percebera que tudo o que ele fazia era por motivos justos. Afinal, o bebê que ela carregava era tanto dele quanto dela. Agora, não havia mais bebê. Não havia mais razão para o casamento que nenhum dos dois planejara. Era uma questão de lógica, exceto por um pequeno detalhe inacreditável: ela se apaixonara Projeto Revisoras

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pelo marido. Ele não a amava. Ela sempre soubera, apesar de haver momentos em que, depois da chegada a Dubaac, ela quase acreditara que ele se apaixonara por ela, afinal. Madison deu uma risada amarga e começou a caminhar pela beira da praia, deixando que a água banhasse seus pés. Não era a primeira vez que se enganava. Muito tempo atrás, quando sua mãe estava entre o segundo e o terceiro casamento, um homem com quem ela saía começara a trazer pequenos presentes para Madison. Um urso de pelúcia, um livro de contos de fadas, uma rosa só para ela — trouxera uma dúzia para a mãe... — Acho que ele realmente gosta de mim, mamãe — ela dissera, envergonhada. Sua mãe sorrira, com jeito de quem conhece os segredos da vida. — Não tem nada a ver com gostar de você, Maddie — ela dissera. — Ele está apenas tentando me agradar. Você sabe, tudo para facilitar as coisas para si mesmo. Uma pequena ave correu pela areia quando uma onda recuou. Madison observou enquanto ela bicava a areia e fugia da onda seguinte. Odiara a mãe pelo que lhe dissera. Não podia ser verdade, mas quando o namoro entre os dois acabou, o homem desaparecera de sua vida. Sua mãe estava certa: ele não se importava com ela. Se ela tivesse se lembrado daquela lição... Era verdade que Tariq rira com ela, a abraçara, fizera amor com ela... Era um antigo clichê, mas ela vislumbrara o paraíso em seus braços. Mas "amor" não tinha nada a ver com aquilo: fizera tudo para facilitar as coisas para si mesmo, e, supostamente, para ela também, porque era um homem decente. Chegara até a fingir que o casamento ainda fazia sentido, mas não adiantara. Ela sabia. No dia em que ela perdera o bebê, ele demorara um tempo interminável para entrar na sala de exame. Ela sofria muito pela perda do bebê. Sinto muito, ele dissera, e lhe acariciara o rosto, beijara-lhe a testa. Ela daria tudo para sentir os lábios de Tariq sobre os seus. Um único beijo significaria tudo para ela, pois seria a confirmação de que ele se importava com ela, mesmo sem o bebê. Não que ele não tivesse sido bondoso. Falara com gentileza, oferecera-se para passar a noite no hospital... Oferecera-se, em vez de simplesmente ficar. Tariq sempre fazia a jogada certa: quando ela dissera "não" — porque não queria que ele se sentisse forçado — ele dissera que tudo bem, que a veria na manhã seguinte. Se ele realmente se preocupasse com ela, se ela fosse mais do que simplesmente a mulher que carregara seu filho, ele nem teria perguntado, ou teria ignorado o "não". Teria ficado com ela, deitado ao seu lado, abraçado, e, acima de tudo, teria murmurado:

Habiba, eu amo você. Choro por nosso filho, mas é preciso que você saiba que a amo, que estou feliz por ter casado com você, e que a desejo ao meu lado pelo resto da vida.

Nada disso acontecera. Ele chegara para buscá-la na manhã seguinte na limusine com motorista. Levara-a de volta ao palácio. Naquela noite, ela se arrastara para a cama, desesperada de vontade de abraçálo, mas sentia-se como uma impostora, uma mulher que estava na cama dele apenas por causa de uma série de circunstâncias do acaso. Projeto Revisoras

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Tariq não a tocara, nem naquela noite, nem nas seguintes. Ele não a tocara nem uma vez desde a perda do bebê. O homem que fizera amor com ela com tamanha paixão agora se mantinha à distância, como um estranho educado. O homem que fazia questão de passar todo o tempo ao lado dela agora estava ocupado demais com reuniões e telefonemas, e só a via no jantar. Por fim, nem ao jantar ele comparecia, e mandava Sahar apresentar uma desculpa. Não tinha tempo para desperdiçar... — Madison. Ela se virou e afastou os cabelos que a brisa jogava sobre seus olhos. Tariq caminhava na sua direção, alto, imponente e bonito o bastante para fazer seu coração disparar. Em outra ocasião ela teria corrido até ele. Agora, ela cruzou os braços e esperou. A expressão de Tariq era impenetrável, os olhos estavam semicerrados. Madison sentiu um nó na garganta. Instintivamente, sabia o que ele iria dizer. Por que esperar que ele desse o primeiro passo? Tudo o que lhe restava era seu orgulho. — Madison, eu estava procurando por você. — É mesmo? — Ela umedeceu os lábios. — Vim procurar um lugar sossegado, onde eu pudesse pensar. — A brisa ficou mais forte. Tariq tirou o paletó e tentou colocá-lo sobre os ombros de Madison, mas ela se esquivou. A última coisa que desejava era um substituto para os braços de Tariq, mas não seria tola de lhe dizer. — Obrigada — disse polidamente — mas estou bem. — Está? — ele perguntou calmamente. — Sim, estou. Claro que as coisas mudaram, mas já era de se esperar. — Ela hesitou. — Vamos ser francos, Tariq. Quando nós perdemos o bebê, perdemos algo mais. — Ele concordou. Ela estava sendo sincera. Doía, mas a franqueza de Madison era um traço que o levara a se apaixonar por ela. — Perdemos a razão para o nosso casamento — ela disse, e ele soube que tudo estava acabado. Ele fora até ali pela mesma razão: para dizer que a deixava livre. Mas Madison estava indo muito rápido, ele não estava preparado. Não ainda... — Você me forçou a casar porque eu estava grávida do seu filho. Agora, não estou mais. Forçara? Ela estaria louca? Talvez, no princípio, ele forçara as coisas, mas ele jamais a forçara a gemer em seus braços. Além disso, antes do casamento se tornar legítimo, ele lhe oferecera uma escolha. Fique ou vá embora, ele dissera, e ela escolhera ficar. Ficar com ele... — Nós dois sabemos a verdade, Tariq. Não há razão para ficarmos casados. Ele a encarou. Os olhos de Madison brilhavam. Ele gostaria de pensar que era por causa das lágrimas, mas talvez fosse pelo desafio. Não importava. Ele fora fazer a mesma coisa que ela estava fazendo. De repente, ele parou de pensar: agarrou-a pelos ombros e quase a levantou do chão. — É isso? — ele disse asperamente. — Isso é tudo o que você tem a dizer? — Não. Tem mais. — Ela engoliu em seco. — Quero voltar para casa. Quero retomar minha vida. Quero sair deste casamento... sem sentido.

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Tariq gemeu, puxou-a e a beijou intensamente. De início, Madison não reagiu, depois, ela deu um gemido e entreabriu os lábios, encostou-se no peito dele e deixouse invadir por seu sabor, seu perfume, pela última vez. De repente, ela o empurrou. — Sexo — ela disse em voz trêmula. — É tudo o que temos sem o bebê. Nada além de sexo... Não é o bastante. Tariq viu em seu rosto, afinal, o que ela sentia por ele. Ou o que não sentia. Não importava. Para ela, tudo não passara de um interlúdio. Para ele também. Ele não a amava. Jamais a amara. Enquanto ela carregava seu filho, ele acreditara estar apaixonado, mas a verdade é que ela era apenas uma mulher que passara por sua vida. — Tem razão — ele disse bruscamente. — Não é o bastante. — Então, você concorda com o divórcio? — Vou providenciar imediatamente. — Ele pigarreou. A raiva, nenhuma outra emoção, enrouquecera sua voz. — Meu avião irá levá-la de volta para os Estados Unidos esta tarde. Vou conversar com meu advogado. Ele irá procurá-la no início da semana. — Diga a ele que eu quero que tudo seja resolvido o mais depressa possível. — O ajuste da pensão pode demorar algum tempo. Madison abriu os braços. — Para quê? Por um casamento que jamais deveria ter ocorrido? Eu não quero pensão, droga! Só quero que tudo acabe. Tariq desejaria abraçá-la de novo, beijá-la e forçá-la a admitir que entre eles houvera muito mais que sexo e o bebê... Mas não houvera. O casamento não passara de paixão e conveniência, nada mais. — Nesse caso... Tivemos um casamento tradicional — ele disse friamente. — Só precisamos de um divórcio tradicional. — O que você quer dizer? — Quer dizer... — Ele fez um ar solene. — Eu, Tariq, príncipe de Dubaac, herdeiro do trono Dourado, sheik de meu povo, declaro que você está livre de todos os deveres e compromissos matrimoniais. Madison ficou espantada. — Só isso? — Tradição — disse ele. — Só isso. Madison riu, e antes que sua gargalhada pudesse se transformar em lágrimas, ela foi embora. Tariq cumpriu a palavra. Duas horas depois seu avião levantou vôo com Madison a bordo, e rumou para Nova York. Madison recusou-se a levar o que ele lhe comprara. Tariq queria acreditar que era por ela ser muito independente, mas pensou se não seria porque ela não desejava ter nada que a lembrasse dos dias em que fora sua esposa. Não que ele se importasse. Afinal, enfrentara a verdade. Ele não a amava, amara a idéia de amá-la porque estava grávida de seu filho. Ele mandou uma mensagem para o pai, mas nenhuma explicação e informou a Sahar que jantaria sozinho. Sahar ficou calada enquanto servia o jantar. — Obrigado — ele disse. Projeto Revisoras

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Ela não respondeu. Seus lábios estavam contraídos. Se ele não a conhecesse, diria que ela demonstrava seu descontentamento, mas ela não teria coragem, pensou Tariq. Sahar acreditava nos costumes, na tradição. Era uma empregada, e, como tal, conhecia seu lugar. Tariq estava sem fome e empurrou o prato intocado para o lado. Sahar o retirou e praticamente jogou um prato de baklava na frente dele. Um pedacinho de massa caiu no colo de Tariq. Ele olhou para Sahar, olhou para a baklava, olhou de novo para Sahar. — Desculpe — ela disse. Só um idiota acreditaria na desculpa. — Algo a preocupa? — ele perguntou com calma. — Não. Sim! Claro que algo me preocupa — ela respondeu — mas duvido que o senhor queira saber. Tariq franziu a testa. A mulher estava a serviço da família real desde que ele era um bebê, e pela primeira vez não era discreta e... maldição... servil. — O senhor a mandou embora! — Eu mandei... — O rosto dele ficou sombrio e ele se levantou. — Não abuse da sorte! Se acha que vou discutir minha vida particular com você... Sahar enfiou a mão no bolso, pegou um objeto e jogou-o sobre a mesa: era o cordão com o pingente de diamante amarelo. — Ela deixou isto. — Ela deixou tudo. E daí? — Ela não deixou tudo! — Mulher, Deus me ajude. Se você disser outra palavra... O que quer dizer com não deixou tudo? — O amuleto. O amuleto de amor. A pena e a pedra no cordão de crina que custou... o quê?... Um milésimo do preço do cordão de diamante? Ela o levou consigo. — Não vejo como isso seja da sua conta... — Não. Está certo, my lord — ela disse, com chocante sarcasmo. — O senhor não percebe nada! Tariq semicerrou os olhos. — Estou lhe avisando, Sahar... — Ela deixou o diamante, mas levou o amuleto. — Sahar cruzou os braços. — Ela colocou o amuleto. Eu sei, porque precisei ajudá-la a fechá-lo. Ela estava chorando, suas mãos tremiam. Estava transtornada demais para colocá-lo sozinha. Tariq sentiu uma pontada no coração. — E então? — Então, lord Tariq — disse Sahar devagar como se ele fosse uma criança — sua esposa... — Ela não é mais minha esposa. Eu declarei a dissolução do casamento. — Sua esposa — disse Sahar como quem encara a dissolução de um casamento através de algumas palavras como uma piada — saiu daqui chorando e usando um

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amuleto do souk, em vez de uma jóia que valeria o resgate de um rei. — Ela levantou uma espessa sobrancelha. — Até um tolo entenderia o que isso significa. Tariq ficou com a boca seca. Seria ele um tolo? Por que uma mulher escolheria uma bijuteria barata de preferência a algo que valia milhares de dólares? — Talvez ela quisesse uma lembrança. Algo para lembrá-la... de quão primitivo é este lado do mundo. — My lord — suspirou Sahar. — Se o senhor não fosse o sheik, se não fosse o príncipe herdeiro, se não tivesse poder de vida e morte... eu lhe diria que é um tolo por não perceber que sua esposa o ama. — Não ama — disse Tariq, ignorando o resto porque aquelas eram as únicas palavras que o interessavam. — E eu não a amo. — Ela o ama, my lorcfl. E o senhor também a ama. E se não for atrás dela, vai se arrepender pelo resto da vida! Silêncio. Sahar pareceu se dar conta do que acabara de dizer. Muito pálida, ela fez uma reverência tão profunda que Tariq teve de bater as mãos para que ela se levantasse. — Perdoe-me — ela balbuciou. — Não sei o que me deu... Tariq envolveu o rosto dela em suas mãos e lhe deu um grande beijo. E, então, correu para fora da sala. Madison finalmente adormecera. A constância do ruído dos motores a levara a um lugar em que ela não chorava, nem se atormentava pelo que encontrara e perdera em tão pouco tempo. O silêncio a despertou. Os motores estavam desligados, o avião não se movia. Ela se ajeitou na poltrona, puxou as cortinas e olhou pela janela. O avião estava parado numa pista, envolto no silêncio e no luar. Ela apertou o botão para chamar Yusuf. Apertou de novo, e não obteve resposta. Madison tirou o cinto de segurança, levantou-se e foi até a cabine. O compartimento estava vazio. O piloto e o copiloto tinham desaparecido. Ela estava sozinha. Sentiu um arrepio na nuca. — Alô? Tem alguém aqui? — Estou aqui, habiba — disse uma voz profunda e familiar. Madison se voltou. Tariq estava na porta, como um enorme gato. — O que... o que você está fazendo aqui? Ele deu um rápido sorriso. — Bem, eu vim para ver você, habiba. Pensei que era óbvio. — Eu não... — Ela engoliu em seco. — Não compreendo. Onde estamos? — Em Paris. É a cidade mais romântica do mundo, foi o que me disseram. — Ele deu outro daqueles sorrisos que ela achava tão sexy. — Mas eu só estive aqui a negócios. — Ele fez uma pausa. — Nunca estive aqui com minha esposa. — Eu não sou... Ele eliminou a distância entre eles. Madison notou a barba de final do dia em seu queixo. Lembrou a sensação sutil que ela lhe dava quando os dois faziam amor. Vou me barbear, ele dissera da primeira vez em que ela a mencionara, mas ela o puxara e

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sussurrara que não queria que ele se barbeasse, que adorava sentir a doce aspereza contra os seios, o ventre, as coxas... — O que você quer Tariq? Ele a agarrou nos braços. — Você — disse com ternura. — Você é tudo o que eu sempre quis, habiba. — Não. Não sou. E não quero... Ele a beijou várias vezes, até que ela teve de escolher entre retribuir ou morrer. Madison entreabriu os lábios. Seu hálito invadiu a boca de Tariq. Ele gemeu e a apertou com mais força. Lentamente, Madison passou as mãos em seu peito, em seus ombros, e as cruzou por detrás de seu pescoço. — Tariq — ela sussurrou junto aos lábios dele, enquanto as lágrimas rolavam de seus olhos. — Não faça isso, por favor. Eu lhe peço, não... — Não o quê, querida? Beijar minha esposa? Abraçá-la? — disse ele com carinho. — Isso é privilégio dos maridos, habiba. Por que você me impediria? — Você não é meu marido. Você se divorciou de mim, não se lembra? Tariq sorriu. — É mesmo? Quem garante a legalidade dos antigos costumes? — E quanto ao nosso casamento? Você disse que era válido. — Era... Mas, só para ter certeza, nós vamos nos casar de novo. Em Nova York, aqui em Paris... Onde você quiser. — Ele a apertou em seus braços. — Amo você, Madison. E você me ama. — Eu... eu perdi nosso bebê. Não é mais necessário que eu seja sua esposa... Ele a silenciou com um beijo. — Eu sempre vou precisar de você — ele disse com paixão. — Não posso pensar em viver sem você. — Ele acariciou os cabelos de Madison. — Eu deveria ter lhe dito antes. Eu deveria ter lhe dito: "Querida, eu amo você...", mas estava com medo de que você não estivesse preparada para ouvir. — Mas quando eu perdi o bebê... — Eu fiquei arrasado. Pela perda... e por você, habiba. Eu queria consolá-la, lamentar com você, mas... — Ele sacudiu a cabeça. — Mas pensei que você não me queria mais, que ao perder a criança você perdera o motivo para estar comigo. — Ah, não! Não, Tariq! Mais que nunca eu queria seu amor, mas... você estava tão distante... Pensei que não me queria, que não tinha mais motivo para ficar casado comigo... Tariq a beijou. E beijou novamente. — Amo você. — ele disse. —Adoro você. Entendeu, Madison? Amo você, com todo o meu coração. Madison puxou a cabeça dele e o beijou. Sua linda, corajosa, rebelde noiva o beijara. Tariq deu um grito de regozijo, levantou-a nos braços e riu. Depois a carregou para fora do avião. — Ela me ama — ele disse para os tripulantes que estavam ao pé da escada. — Minha mulher me ama.

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O piloto, o copiloto e o comissário o cumprimentaram. E toda Paris, Madison não tinha dúvidas.

EPÍLOGO Dois anos e meio depois — Tariq — disse Madison — não faça isso! Sharif é muito pequeno. — Um menino nunca é pequeno demais para aprender a montar — disse o marido sorrindo. — Olhe para ele, habiba. Ele nasceu para ser cavaleiro. Madison revirou os olhos. Estavam no terraço do apartamento em Nova York e o marido segurava o filho sobre o dorso de um cavalinho de pau que ganhara de presente em seu segundo aniversário. — Tem razão — ela disse rindo — ele nasceu para isso. O bebê era a imagem do pai, apesar de ter os olhos de chocolate da mãe. Como todos os bebês, era lindo, saudável, glorioso... e total e inequivocamente adorado. Madison olhou o marido e o filho por algum tempo. Depois, pegou uma câmera em cima da mesa ainda repleta de sobras da festa de aniversário de Sharif, um bolo com velinhas azuis e amarelas, cartões de Dubaac e um enorme caminhão vermelho, presente enviado pelo avô. — Sorriam — ela disse, e o marido e o filho sorriram. Madison olhou para eles, olhou para a imagem que ela havia captado e seu coração se encheu de alegria. Havia horas em que ela mal acreditava que pudesse haver tanta felicidade no mundo. — Habiba. — Tariq sorriu para ela. — No que você está pensando? Madison se aproximou, tirou o filho do cavalo de pau e o beijou. Depois, colou os lábios na boca do marido e o beijou longa e docemente. — Que amo você — ela sussurrou. — Que adoro você, que sou a mulher mais feliz do mundo. — Guarde esse pensamento... — Tariq murmurou, insinuante. O bebê bocejou e colocou o dedo na boca. Como se fosse cronometrado, Sahar entrou no terraço e tirou o bebê dos braços de Madison. — Está na hora de o pequeno príncipe dormir. — Ela cantava ao se retirar com Sharif. Tariq riu e abraçou a esposa. — Ela sempre sabe a hora certa. Madison ergueu a cabeça e olhou o marido, dando um sorriso sensual. — Você também — ela disse com ternura. Os olhos acinzentados de Tariq se tornaram cor de prata, enquanto ele a carregava para o quarto. — Eu amo você, habiba — Tariq falou ao fechar a porta. — Sempre a amarei. E ele mostrou que dizia a verdade, de corpo, alma e coração.

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