Os sete - andre vianco

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Inverno chegou até o fim da praia. A costa prosseguia para dentro do mar, fazendo desaparecer a areia e começar um perigoso rochedo. Escalou-o de um modo que nenhum humano conseguiria. Chegando ao topo, avistou o conjunto de construções onde despertara na noite anterior e de onde saíra levando um dos irmãos. Seus olhos potentes enxergaram mais homens uniformizados, como os três com que se deparara naquela noite. Havia alguns veículos estranhos, como centenas deles que pôde admirar pelo pouco tempo que ficara liberto antes do amanhecer. Uma engenhoca interessante decolou da frente do prédio, voando como um inseto gigante. Inverno estava estupefato com as novidades que seus olhos encontravam por onde passava. Como aquela gente era diferente da gente de sua terra! A pergunta que mais invadia seu cérebro era onde diabos estaria ele. Do outro lado do rochedo havia uma estrada calçada bem próxima, costeada por um alto muro de pedras, com as ondas do mar batendo à sua esquerda. Não havia maneira de um humano descer do rochedo até o muro, exceto se utilizasse um equipamento de alpinismo. Para Inverno, porém, a tarefa foi bem fácil. Precisou apenas saltar de cima das pedras na direção da murada. Seu corpo caiu de forma fantasmagórica, tocando o muro como se não tivesse peso, chegando ao chão em grande velocidade. A queda, entretanto, não causou uma centelha de dor nem provocou o menor ruído. Inverno olhou para o grupo de construções onde jaziam os corpos dos irmãos. O vento congelante trazia algum tipo de mensagem. Ele não conseguia sentir o cheiro dos irmãos. Concentrou-se de maneira sobrenatural, tentando senti-los. Para ele, alguma coisa estava errada.

hhhhhh

Nas docas, os soldados movimentavam-se pouco, mas estavam extremamente alertas. Por volta das oito horas da noite o vento morno cessou, dando lugar a uma ventania repentina e congelante. Sabiam que era uma espécie de sinal. Tiveram de recorrer a casacos grossos para se proteger do frio avassalador que se abatera sobre o litoral, novamente contrariando as previsões meteorológicas para aquela noite. Delvechio e o major Félix Mourão acompanhavam a missão de aguardo em uma base afastada um quilômetro dali, já que era desnecessário e imprudente ficar no perímetro que seria alvo do espécime fugido. Félix e sua equipe de estrategistas elaboraram um plano de ação para observar e, posteriormente, capturar a criatura. Dentro da doca, onde ficava o laboratório improvisado, a pedido de Delvechio colocaram o contêiner com o espécime ressequido, na esperança de atrair o foragido. O professor também requisitou a instalação de uma porção de câmeras de vídeo. Pediu que deixassem o foragido


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