Os sete - andre vianco

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meio do grupo de homens. Apoiou-a nos ombros, fazendo-a enlaçar-se a ele, e conduziu-a até a porta. Apanhou um molho de chaves pendurado à maçaneta, pois o demônio poderia ter trancado a porta externa. Caminharam com dificuldade até sair do galpão. A porta estava escancarada. Afinal, o demônio em forma de homem não era tão malvado. Eliana estava quase desmaiada. Tiago, atento, olhava ao redor. Não temia que a criatura estivesse escondida nas sombras. Estava mais espantado com os flocos brancos que caíam do céu. Nevava no litoral de Amarração. Sabia que no inverno algumas vezes este fenômeno acontecia no interior do Rio Grande do Sul, mas nunca no litoral, ou melhor, nunca ouvira falar sobre isso. Ainda mais no verão! A previsão para a noite estava por volta dos vinte e seis graus, quente pra danar. Não tinha idéia de quantos graus fazia naquela hora. Não tinha idéia de quão baixo era necessário estar para cair neve. Seu corpo estremecia à mais leve movimentação do ar, à mais leve brisa. Eliana estava entorpecida; aparentemente nem notara a neve despencando. Lá fora também estava frio demais para a recuperação do grupo. Avistou a luxuosa Blazer do professor estacionada próxima ao galpão. A pintura verde cintilante estava opaca, ofuscada pela espessa camada branca de gelo espalhada por todo o capo, teto e traseira do veículo. Gentilmente, Tiago escorou Eliana à pick-up e vasculhou a chave correta no molho de Delvechio, tirado da porta da saleta. Demorou mais do que queria. Percebeu que sua cabeça estava congelando. Abriu a porta e acomodou Eliana no interior do veículo, deitando-a no banco traseiro. Colocou a chave na ignição, ligando os acessórios eletrônicos da Blazer. Ativou o aquecedor na potência máxima. Isso deveria esquentá-la o suficiente. Entrou e ocupou o assento do piloto, deu a partida, estacionando o veículo junto à porta dupla do galpão. Bateu a porta, vedando Eliana lá dentro. Limpou toda a neve que pôde da cabeça, aliviando a sensação de congelamento. Voltou, apanhou Cesão e conduziu-o até a Blazer aquecida. A exaustiva tarefa de transportar os homens fê-lo quase se esquecer do frio. Após acomodar César no veículo, quando retirava o braço do interior do carro, Eliana segurou-o pela manga de náilon. — Obrigada, Titi. Achei que ia morrer lá dentro. Tiago mostrou um sorriso tranqüilizador para a amiga. Ainda estava preocupado com os outros, que pareciam também à beira da morte. Trouxe todos. Vivos. Diaz era o mais pesado. Quase não agüentou o homem. Foi o último a ser carregado. Depois de acomodar os cinco lá dentro, voltou mais uma vez ao galpão-frigorífico. Entrou na saleta e apanhou as cintas de couro. Foi ao laboratório. As múmias estavam descobertas, mas felizmente estáticas, sem nenhuma mudança aparente. Tiago aproveitou o aquecimento de seus músculos e começou a amarrá-las com as cintas. Duvidava de que aqueles apetrechos de couro iriam segurá-las, mas deveriam ao menos atrapalhar. Também não estava certo de que elas acompanhariam o parceiro gelado na saga do ressuscitamento, mas era melhor prevenir. Cogitou até mesmo atear fogo naquele lugar maldito, mas aí estaria infringindo o contrato com a USPA. Agora, o problema com aqueles seres místicos era da conta da USPA e do Exército. Debandar era a palavra de ordem. Sem


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