Os sete - andre vianco

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mudanças. Imprestável e vagabundo era o Eustáquio. — Eustáquio, você tá de fogo. Tá até me agredindo. Vai curar essa bebedeira; amanhã a gente conversa sobre o que aconteceu... — Eu quero conversar hoje, porra! — explodiu o homem, com violência. Vladimir chegou a assustar-se com o grito violento de Taqui, sentindo o corpo estremecer. Virou-se para alcançar o interruptor. — Não acende a luz! Vamos conversar assim mesmo, seu viado! — Por quê? Vladimir deu mais um passo em direção ao sócio, perto da porta e do interruptor. — Vamos resolver! Vamos resolver! — gritou Taqui. Vladimir assustou-se. Não entendia a violência e os gritos do amigo. — Pára aí, eu tô te avisando para não acender a merda da luz. Vladimir não parou. Estava na sua casa e ia acender a maldita luz. — Taqui, você está na minha casa. Faz favor de respeitar! Pára de falar alto comigo e vamos sentar para... — a mão de Vladimir chegou perto do interruptor. Taqui jogo o cigarro no chão. — Vamos conversar porcaria nenhuma. Cansei de dividir o que é meu com você. Vladimir tocou o interruptor, mas antes de acioná-lo foi impedido pela mão forte do sócio. Ensaiou um sopapo contra Taqui, sem sucesso. Foi empurrado para trás e quando voltou para cima de Eustáquio foi impedido. Vladimir parou de lutar. Taqui empurrou-o mais uma vez, fazendo-o cair sentado na velha poltrona. — Você nunca me ouve mesmo. Agora tu vai aprender. Vladimir não conseguiu pronunciar nenhuma palavra de protesto. Tentou levantar para se proteger, mas em vão. Tentou inspirar mais ar, porém os pulmões não responderam. Havia algo errado com seu corpo. Nada provocado pelo empurrão feroz e pela queda repentina na poltrona, mas provavelmente por uma investida anterior. Levou a mão ao abdome sentindo o líquido espesso ensopar sua camiseta. Tossiu, sufocando, sem ar. Fez um esforço inumano para puxar oxigênio para dentro do peito. Uma dor dilacerante cresceu na parte alta do abdome, permitindo que uma parcela pequenina de ar entrasse para os pulmões. Havia algo errado. Percebendo que o sócio vinha para cima com a faca, levantou-se mais uma vez e tombou para a frente. Queria fugir, correr para fora de casa e gritar. Entretanto, não tinha força suficiente. O corpo pendeu para a frente, caindo no chão de taco, sentindo o sangue esvair pelo corte profundo. O diafragma estava ferido e inutilizado, interrompendo a função pulmonar. Sua voz não saía, seu grito estava enclausurado. O pânico invadia suas células com a vinda da morte certa. Não conseguiu se virar ou lutar quando sentiu a lâmina penetrando sua carne mais uma


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