Os sete - andre vianco

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logo, antes que mude de idéia sobre o destino de tudo isto aqui. Ajuda-me com o barco e vamos embora. Tiago obedeceu sem mais demora. Em poucos minutos, arrastaram a lancha para fora do iceberg. Enquanto Miguel a segurava junto ao costado de gelo, Tiago retornou para buscar Eliana. Após observar todos os congelados naquele quadro tridimensional, ficou com uma dúvida que só o vampiro poderia sanar. Subia uma marola congelada com Eliana às costas e, quando chegou ao topo, escorregou, indo ao chão, descendo velozmente pelo gelo. Parou somente onde iniciava outra marola. O tempo havia parado, mas o frio continuava intenso. Estava cada vez mais preocupado com o estado de saúde da amiga. Miguel viu o brasileiro em dificuldade e soltou a lancha para ajudá-lo a descer o costado de gelo. Tiago agradeceu, pois o chão estava escorregadio. Se não fosse a preocupação de Gentil, cairia ao mar com a mulher. Miguel acomodou Eliana no costado, enquanto Tiago, espantado pelo fato da lancha não ter se afastado mar adentro, embarcava. Acionaram o pequeno motor da lancha e partiram sobre o mar monótono. Parecia que até o oceano havia sido paralisado. Aos poucos, abandonavam a gigantesca placa de gelo criada pelo dom maldito do vampiro que fazia tudo congelar. Olhando para a enorme pedra de gelo, Tiago lembrou-se de Guilherme caindo sobre ele e depois paralisado no meio da queda, em pleno ar. Lembrou-se também do rosto petrificado dos demais vampiros. E então voltou à mente aquela dúvida que apenas Miguel poderia elucidar. — Por que somente eu e Eliana nos movemos enquanto o tempo e os demais estão parados? — Porque eu quero. — respondeu em voz baixa o vampiro, que parecia perdido em seus próprios pensamentos. Tiago olhou para o céu e notou que até mesmo as nuvens estavam lá, paradas, como grandes almofadas de algodão-doce. A resposta do vampiro fora curta demais, pouco explicativa para o rapaz. — Só isso? Só porque você quer? — Ora, pois! Estou te dizendo que é só porque eu quero e pronto! — respondeu novamente Miguel, demonstrando um pouco de irritação. Enquanto utilizava uma lata para retirar a água do barco para fora, percebeu que Miguel se tornara sisudo nos últimos minutos; um pouco acabrunhado, irritado. A lancha continuou com o roncar monótono do motor, cruzando as águas e transformando o grande iceberg em um pontinho distante, fincado no horizonte. Depois de vinte minutos, o motor apagou. Tiago parou com o trabalho de jogar água para fora e passou a lata a Miguel, que começou a executá-lo rapidamente. A água entrava lentamente, gelatinosa, mas em grande quantidade, devido aos buracos arranjados pelos fuzis dos soldados. O rapaz foi verificar o que sucedera ao motor. O problema era simples. Não havia nenhum combustível no reservatório.


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