Os sete - andre vianco

Page 372

Depois de muita luta, escalou de novo a coluna, voltando à viga. A água agora estava muito mais fria, e a possibilidade de um afogamento, muito mais próxima. Tinha que extrair daquela situação cada segundo de vida possível. Agarrou-se à viga, mas o ronco feroz da água entrando lhe dizia que restavam poucos segundos até que o porão estivesse completamente tomado. Eliana começou a chorar desesperada. Tremia e soluçava. Seu pranto era tamanho que ela nem notou que o ronco estava diminuindo, diminuindo e diminuindo. Em determinado momento, o único som que ouvia era o de seu próprio choro. A água, inexplicavelmente, havia sido detida. Eliana respirava prolongadamente, aliviada. Um problema tinha sido resolvido, mas agora precisava sair dali. Ficou em silêncio. Ouvia os vampiros caminhando no convés e também suas vozes com o inconfundível sotaque português. Um deles gargalhava com toda a força dos pulmões. Havia algo errado. Alguma coisa muito, mas muito séria tinha acontecido para que a água parasse de entrar pelo casco. Por mais que tentasse, não conseguia ouvir sequer o som da água batendo contra a caravela. Coisa estranha. Lá fora, em vez da água, ouvia mais vozes, como se alguém estivesse de pé, ao lado do casco. Seu corpo arrepiou-se completamente. Aquela voz... aquela voz era de Tiago! — Sargento, retorne agora! A carga está a caminho! — gritava a voz rouca do tenente, enviada do continente à lancha de patrulha através do rádio. O sargento ainda estava na porta de acesso ao convés, perplexo, agora com toda a tripulação junto à amurada, sem medo das marolas gigantes e da água invadindo o convés, porque agora isso não existia mais. Era passado. Todos estavam perplexos. Os holofotes varriam o mar, dos barcos da Marinha até a caravela, porém o mar não mais existia. O que viam em toda a extensão era uma enorme placa de gelo aprisionando cinco das oito lanchas de patrulha enviadas à missão. O sargento veio para dentro; enfim, voltara a prestar atenção no rádio. — Escute aqui, seu miserável... — gritava o tenente. — volte agora para cá, a todo vapor. É uma ordem, seu imbecil! — É... é... não sei como lhe dizer isso, tenente, mas e impossível voltar, senhor. A revelação do sargento em alto-mar irritou ainda mais o tenente. Como não poderia voltar? Estaria o sargento se rebelando? — Seu pateta, idiota! Dê meia-volta e volte! — Não posso, senhor. Os vampiros... eles... meu Deus, senhor. O senhor não vai acreditar! Eliana precisava sair dali. Precisava avisar Tiago que estava presa naquele porão escuro. Talvez se gritasse ele a ouvisse, como ela podia ouvi-lo. Saltou da viga para a água que infestara a caravela. Teve medo de que não desse pé, já que estava fraca demais para esforços demorados. Seu corpo caiu cerca de meio metro e bateu contra o chão duro. Surpresa. Não havia água no fundo do porão. O líquido, em quantidade suficiente para encobri-la, havia se transformado em gelo. Se ficasse de pé, talvez alcançasse a portinhola de acesso ao convés, uma vez que sua cabeça estava quase batendo


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.