Os sete - andre vianco

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Tornara o encontro algo pessoal. Uma pendência de homem para homem, ou de vampiro para vampiro. Um volto. Um borrão indefinido cruzou a rua. Depois veio em sua direção, trombando e derrubando-o no chão enlameado. Uma risada sinistra cruzou o céu. Um vento congelante varreu a rua. Frio demais. Frio demais para qualquer ser humano suportar. Tiago sentiu o corpo tremer enquanto se levantava. A raiva se intensificou. Seus olhos ganharam mais luz. Enxergava à noite com maior clareza. Estava irado. Sua visão cintilou e então viu novamente o borrão veloz, mas dessa vez os olhos de vampiro o acompanharam com nitidez. Inverno não o enganaria mais. Levantou o braço com velocidade de vampiro e puxou o gatilho. Guilherme assustou-se. Havia empregado o máximo de velocidade naquele ataque, e mesmo assim o novato o enxergara. Tinha muito medo de sentir-se daquele jeito. Assustado. Um vampiro poderoso, assustado! Como podia ser? Um arrepio percorreu-lhe o corpo quando percebeu os olhos do novato cintilar e passar a brilhar como duas brasas tímidas. Afinal, o novato não tinha apenas instinto. Era um vampiro. O brilho nos olhos era fraco, mas existia. Sim, era um vampiro. E tinha acertado mais um disparo, que o fez abandonar a velocidade vampírica. Tiago disparou uma segunda vez, mirando a perna de Guilherme. Acertou a coxa esquerda, fazendo-o mancar e parar de correr. Iriam brigar de igual para igual. Sem vultos, sem velocidade sobrenatural. Puxou a segunda pistola e descarregou ambas as armas, acertando repetidamente as pernas do vampiro, enchendo-as com buracos das pistolas de grosso calibre. Inverno gritou doloridamente. A dor cresceu. Sabia que não poderia correr nos próximos minutos. Levaria cerca de meia hora até seu corpo se recompor. A sorte foi ter atacado o povo daquela vila e dele ter tomado o sangue; de outra forma, seu corpo iria clamar durante horas até se recuperar das feridas. Caiu pesadamente, sem força nas pernas. Precisava ganhar tempo. Aumentou o frio sobrenatural. Iria congelar aquele rapaz antes que ele desse o próximo passo. Tiago, assaltado por um frio insuportável instantes atrás, agora, após perceber o cintilar em seus olhos, sabia de sua imunidade ao frio, que desaparecera completamente. Acabava de ver Guilherme caindo à sua frente. Era hora de terminar com aquilo e correr para sua amada, refém dos malditos restantes. Caminhou em direção a Inverno. Uma das estacas que carregava presa às costas daria fim àquele funesto episódio. O frio aumentou, e a suave garoa deu lugar a leves flocos de neve. O vampiro contorcia-se no chão, tentando se colocar de pé, sem obter sucesso. Tiago sabia que, mesmo aparentemente indefeso, o vampiro ainda era um demônio perigoso. Percebeu que o frio se intensificava ainda mais ao seu redor. Prendeu uma das pistolas na cintura e com a mão livre rateou as costas para apanhar uma das estacas. Seus olhos arregalaram-se surpresos. A fita estava solta. Largou a outra pistola no chão enlameado para confirmar com as duas mãos aquela terrível suspeita. Nenhuma das duas estacas reservadas ao confronto estava lá.


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