Os sete - andre vianco

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caminho do vampiro, que foi ao chão, esborrachando-se e espalhando lama para todos os lados. Inverno perdeu o equilíbrio. Aquele homem não era mais humano. Havia conseguido enxergá-lo na corrida sobrenatural. Sua raiva aumentou ainda mais quando o corpo se espatifou contra o chão, escorregando demoradamente, tamanha era sua velocidade. Levantou-se e virou-se em direção ao exmortal. Iria invocar o frio. Iria trazer a tormenta novamente para aquela pequena cidade. Nem mesmo o velho sangue de Miguel salvaria o maldito brasileiro. Olavo havia aguardado o suficiente. Tiago avisara. Qualquer coisa. Qualquer coisa estranha que pudesse insinuar a presença das criaturas despertadas. Qualquer coisa. Primeiro, aquela tempestade repentina, trazendo dúzias e dúzias de relâmpagos. Quase tomara a iniciativa, mas resolveu aguardar uns minutos. Então veio o frio. O frio patente. O frio sobrenatural. Aquele, sim, era um sinal contundente da presença dos desalmados. Sua deixa. Era hora de cumprir sua parte, seu papel naquele espetáculo macabro, e era bom que Tiago estivesse certo, senão enfrentaria perigo gigante nos próximos minutos. Olavo foi para o andar superior do IML. Os soldados de guarda no andar de baixo estavam entretidos com VTs das partidas de futebol da noite passada. Talvez nem tivessem notado o frio sorrateiro possuindo a madrugada, infiltrando-se nos prédios de Amarração. Um frio que dizia sutilmente: Estou aqui... Olavo agarrou firmemente a estaca e puxou-a com força, fazendo-a deslizar com leveza, até ser removida por completo do peito de Miguel. A mão do vampiro, agarrada à estaca, caiu pesadamente sobre a maça metálica. Olavo chegou a assustar-se, dando um passo ligeiro para trás. Gentil permaneceu imóvel. O vampiro estava morto. Tiago disparou a pistola assim que o pequeno demônio se levantou. O tiro fez Inverno inclinarse. O vampiro levou uma das mãos ao ferimento. — Tu não aprendeste ainda, não é, menino? Essas armas não detêm este corpo inumano. — bradou o vampiro. A tempestade diminuía sensivelmente, até se tornar um mero garoar sobre a cabeça dos dois. Inverno transformou-se num vulto e partiu para cima de Tiago. O rapaz disparou três vezes, em vão. Inverno desapareceu. Um riso macabro preencheu a rua deserta. — Tu ainda tens muitas lições para aprender, menino. E hoje eu vou te ensinar a pior delas. A voz do vampiro parecia vir de todos os lados. Tiago, no meio da rua, apontava a pistola para todas as direções, girando com o braço estendido. Abriu os olhos o máximo que pôde. O medo passava longe de sua mente. Estava com raiva de Guilherme. Sim, era isso. Raiva. O vampiro estava sozinho. Os outros estavam com Eliana. Estavam escapando. Tinha que ser rápido. Acertar suas contas com Inverno e partir dali. Afinal, os portugueses não eram tão burros assim. Guilherme o havia enganado.


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