Os sete - andre vianco

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queimando por dentro! Manuel encolheu os ombros. — Agora sabes o que te acontece, não sabes? Ficarás frouxo por três dias. Logo agora que tanto precisávamos de ti. Eliana corria sem olhar para trás. Percebeu que o ônibus voltara a acelerar, mas sem sair do lugar. Era o sinal de que estava pronto para partir. Se o alcançasse, talvez vivesse mais um dia. Mas... e Tiago? Ah, meu Deus! Como ele escaparia daquelas criaturas? Sentiu uma pontada no abdome. Não agüentava mais correr, mas precisava. Uma voz a fez estremecer. — Eliana! Espera! Parecia a voz de Tiago. Virou-se e viu o amado amigo se aproximando, mancando, machucado. — Estou ferido. Acho que é minha perna... Eliana diminuiu a marcha. Virou-se para trás. Se o ajudasse, perderiam o ônibus. Parou e foi ao encontro do amigo. O ônibus que partisse sem eles. Se tivessem de morrer, morreriam juntos; se tivessem de viver, viveriam juntos. Aproximou-se de Tiago. O amigo tinha caído junto a um canteiro de flores. Parecia muito mal. Estava abaixado, tocando o chão com um dos joelhos. — Tiago, não desista agora, temos de fugir daqui! Vamos seguir nesta rua, pois acho que vi um táxi ali na frente. — encorajou a mulher, afagando seu cabelo. Eliana sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha. Não foi a cabeça gelada de Tiago que a assustou; afinal, era natural que embaixo daquela neve ela ficasse fria, mas seu cabelo áspero, duro, que sempre fora liso e sedoso. Isso, sim, a assustou por um instante e a fez recuar a mão, interrompendo sua demonstração de afeto. — Tiago... — Meu nome não é Tiago, mulher... — disse a voz de sotaque lusitano daquele corpo acuado ao chão. O vampiro levantou-se como uma sombra, tampando toda a visão frontal de Eliana com seu tórax espesso. Tiago não era tão alto. Ela ergueu os olhos lentamente até chegar ao rosto daquele corpo assombrado. Era o homem negro, com o furo de bala na testa. Ele sorria, como uma criança após se sair bem de uma traquinagem. — ... meu nome é Espelho. Eliana levou as mãos à boca, sufocando um grito desesperado prestes a explodir em sua garganta, mas antes que gritasse um punho potente acertou-lhe a testa, fazendo-a desfalecer. Fernando atirou a mulher no ombro e pôs-se a caminhar de volta à praça, onde deixara os companheiros lidando com o pobre mortal, que a este tempo já deveria estar morto, e Inverno, vitorioso após a peleja.


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