Os sete - andre vianco

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atrás, mas não conseguiu frear e evitar o impacto, acertando o ônibus bem no meio. Tiago e Eliana atravessaram a larga avenida, indo para o calçadão do boulevard. O viaduto metálico que cruzava o céu logo à frente parecia um enfeite de Natal. A neve caía lentamente, tingindo de branco seu topo. O ar natalino aumentava quando olhavam para o gigantesco arco azul que ficava no final do calçadão, igualmente coberto pela neve branca. Tiago sentia o coração bater acelerado. Sabia que Eliana se encontrava na mesma situação. Não estava nevando por capricho da natureza. Ele já havia presenciado aquele fenômeno antes. Era diabólico, fruto de algo maligno, de bruxaria. O cartão de visitas de um monstro. Ele olhava para todos os lados. Qualquer um dos transeuntes poderia ser um deles. Eram sete. Estaria espantado com a quantidade de gente na rua se não estivesse preocupado em tirar Eliana dali. Atravessaram o vão livre sob o viaduto, voltando ao outro lado da avenida. — Pra onde a gente está indo, Tiago? — Para o centro. Eu lembro que de lá saíam alguns ônibus de viagem. Se dermos sorte, vamos encontrar mais ônibus. Tudo cresceu nesta cidade. Deve existir uma rodoviária, alguma coisa do tipo. Agora, no centro da avenida, em vez do bonito boulevard, havia um córrego fundo. Tiago imaginou que este também deveria estar congelado. Havia uma concentração grande de adolescentes algumas quadras à frente. Era melhor assim, cercado de gente. Se os vampiros aparecessem, seria bom haver algum tumulto, haver testemunhas, para que ninguém o chamasse de louco. O que mais o assustava era não conhecer suas caras. Havia visto apenas um. Inverno. E não era nada agradável ter aquelas feições impressas na mente. Até que ponto as lendas sobre vampiros eram verdadeiras? Seriam pálidos? Morreriam com estacas de madeira cravadas no coração? Tinham pavor do sol? — E se nós fôssemos a uma delegacia? — perguntou Eliana. — É? íamos dizer o que ao delegado? Que estamos fugindo de sete vampiros? Você está louca? — respondeu Tiago em tom agressivo. Eliana caminhava rapidamente, quase correndo, segurando a mão de seu protetor. Estava agradecida por ter seguido os instintos do amigo. Se tivesse ficado em Amarração, certamente os seres do mal já a teriam encontrado. Por que estavam fazendo aquilo? Vampiros sugavam sangue, não saíam correndo atrás dos outros por aí. Ele nem... Eliana sentiu um tremor percorrer o corpo, e não era por causa do frio. Acabara de descobrir a razão. — Sei por que estão atrás de mim. — disse com firmeza, fazendo Tiago parar, puxando-o pela mão. Tiago olhou-a nos olhos. — Eu o acordei. Agora ele me quer. Tiago balançou a cabeça negativamente Não sabia onde a amiga queria chegar com aquela


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