Os sete - andre vianco

Page 224

cadenciado das botas contra o assoalho. Dividiram-se em subgrupos de cinco e partiram para distintas posições: um foi pelo corredor, chegando até a escada que dava acesso ao subsolo. De lá vinha o som de disparos de rifle, onde certamente a confusão estava armada. Onde o combate estava mais ativo. Guilherme ouviu os trovões estrondando lá em cima. Os soldados estavam presos. Os cadáveres despertados por Acordador amontoavam-se em torno dos soldados assustados. Os militares passaram a acionar novamente suas armas, temendo o ataque de tão bizarras criaturas. Seus irmãos começavam a se levantar. Estavam os quatro restabelecidos. Olhavam espantados para os brasileiros tão estranhamente

uniformizados.

Não

estranharam

a

quantidade

de

cadáveres

lamentadores

perambulando. Estava claro que Manuel estivera ali. Afonso estava nu, como Miguel e Fernando. Somente Baptista conservava restos do que fora um excelente terno português, roubado direto do guarda-roupa do duque de Montesinha, Dom Augusto. Fernando diferia dos demais em apenas um aspecto: não possuía aquela palidez patente. Tinha a pele negra, com traços legitimamente africanos. Sim, havia palidez, mas somente o observador mais atento conseguiria notar aquela variação tão sutil de matiz. Era tão alto quanto Inverno, com o corpo um pouco mais musculoso. Um homem grande, de dar medo. Era hora de providenciar a fuga. A porta estava tomada pelos soldados presos, porém ainda armados. Guilherme ouviu mais passos aproximando-se da escada; logo estariam novamente cercados por humanos caçadores de vampiros. Não sabia quanto tempo seus irmãos recém-despertos poderiam suportar quando fossem atacados por armas tão superiores, poderosas e eficazes comparadas às que estavam habituados. Seus olhos captaram algo emergindo dos escombros adiante. Era a mão do baixinho. Chamou os irmãos, e juntos começaram a remover os entulhos de cima de Acordador. Tempestade puxou o braço do soterrado. Seria mais fácil arrancar o braço do que remover o irmão do amontoado de entulho. Percebeu que ainda sabia usar sua velocidade vampírica. Sabia o preço que aquilo tinha, mas era uma emergência. Guilherme acompanhou-o arrancando tijolos e mais tijolos de cima de Acordador. Percebeu que Afonso não havia se juntado ao resgate. Contorcia-se no chão, dominado por algum tipo de dor insuportável, estremecendo os músculos e revirando os olhos, que pareciam agora um par de brasas perdidas na escuridão. O som das botinas estava mais próximo. Por aquele corredor não mais conseguiriam escapar. Estavam cercados. Baptista puxou novamente o braço do companheiro. Dessa vez o corpo do vampiro deslizou para fora. Estava livre. Guilherme correu em socorro de Afonso. — Já está acontecendo, amigo? — Sim, ó gajo! — gritou Afonso, agarrando o braço de Inverno, quase cravando as unhas. Minhas entranhas estão se comendo. Ah... que dor horrível! Por que me acordaste? Ah!


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.