Os sete - andre vianco

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corda. — Ora, perdeste tua força? Olha como ela é fina! Por que não a arrebentas? — Eu tentei. Mas esta corda azul parece diferente. Sei lá do que é feita. Manuel não discutiu, deixando o amigo com o velho. Inverno afastou-se dois passos e apagou a luz do quarto. No escuro, parou observando o velho se remexer, tentando se libertar. — Olha, ó verme, se tu continuares a te revirar, vou ter de quebrar minha palavra. Serei obrigado a tomar tua vida. Se tu fícares quieto durante este dia, quando chegar a noite estarás liberto para continuar a viver. O homem parou de se contorcer. — Como é teu nome, ó verme? — Batista. — respondeu uma voz esganiçada. — Ora, pois, tu tens o mesmo nome de um amigo meu. O homem voltou ao silêncio. — Se tudo correr bem, amanhã à noitinha vamos sair de tua casa para encontrá-lo. Manuel voltou com a faca, entregando-a a Inverno. — Estava contando aqui ao Batista que temos um irmão com o mesmo nome. — Ele está perdido na floresta? — Não. Ele estava lá próximo da praia, onde uns bichos que voam carregando poderosas luzes ficam zanzando. Tu conheces esse lugar? — Conheço as praias, a Lagoa dos Patos, mas aqui tem tantas. Pelo jeito, nem daqui vocês são. São portugueses? — Olha, Batista, até que para um verme tu és bem inteligente. Somos de Portugal. — Inverno partiu a corda e começou a trabalhar com o pedaço restante. — Aqui não é Portugal? — perguntou Acordador. O velho apenas abanou a cabeça em sinal negativo. Inverno dividiu o restante de corda em três pedaços de aproximadamente três metros cada. Com um deles fez um laço firme e passou pela cabeça de Batista. Fechou-o, apertando seu pescoço. Batista tossiu desesperado, sufocado. — Acalma-te, homem. Vou afrouxar num instante. Inverno passou a outra ponta pela madeira mais grossa da cabeceira da cama e puxou-a até quase enforcar o pobre velho. Só depois de fixá-la com firmeza, com um nó bem armado, preocupou-se em aliviar o pescoço de Batista, que respirava de forma rouca. Os dois pedaços restantes usou para prender as pernas do homem, um em cada torno2elo, separando as pernas do velho e amarrando cada uma em uma ponta do pé da cama. — Olha, Batista, tu podes até tentar te libertar, mas eu já amarrei muita gente desse jeito e


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