Brasília Médica Nº49

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prática médica

A primeira parte do checklist é realizada antes da indução anestésica e preenchida por membro do corpo de enfermagem ou por alguém designado para tal. Participam nesse momento a enfermeira de sala e o anestesista. A primeira pergunta é a confirmação pelo paciente do seu nome, do local a ser operado e de sua permissão. Aparentemente óbvia essa pergunta, mas sua importância é considerável, principalmente, em hospitais de grande atividade cirúrgica, em que uma troca de paciente não é impossível. A segunda pergunta, que supõe a marcação prévia do local ou lado a ser operado, evita um dos erros, lamentavelmente frequente, de mudança do lado da operação. Esse tipo de erro é inadmissível por parte do doente, da sociedade, da imprensa e da justiça. As outras perguntas dizem respeito à anestesia, contemplam a verificação de equipamentos e questionam sobre os três grandes perigos das operações: alergias do paciente, dificuldade de intubação de via aérea e possibilidade de grande perda de sangue. A segunda parte do checklist conta com a participação do cirurgião e da equipe cirúrgica – a enfermeira da sala e o anestesiologista –, e é preenchida pelo responsável antes da incisão cirúrgica. A identificação com a respectiva função de cada membro de toda a equipe poderia ser dispensável em épocas passadas quando a equipe de cirurgiões, o anestesista e a enfermeira sempre trabalhavam juntos no mesmo hospital. Atualmente, nos grandes hospitais, cada dia os protagonistas das equipes são diferentes, de modo que essa identificação inicial, que inclui o nome do doente e do procedimento, em muito contribui para atenuar os erros de comunicação que, conforme já discutido, podem ser causas de sérios erros no período transoperatório.8 O item em que se questiona o uso de antibioticoprofilaxia nos últimos sessenta minutos, visa a corrigir o uso inadequado de antibióticos na prevenção de infecções do sítio cirúrgico. Em que pese o conhecimento já estabelecido há décadas dos fundamentos da antibioticoprofilaxia, seu uso inadequado ainda

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é muito comum, sendo o início tardio da medicação o erro mais cometido. As outras questões são direcionadas à prevenção de surpresas durante o procedimento cirúrgico e para evitar perda de tempo no decorrer da operação. A terceira seção do checklist, em que participam cirurgião, enfermeira e anestesiologista, antes de o paciente sair da sala, visa a uma nova verificação pela enfermeira, de rotinas que não podem ser negligenciadas ao término do procedimento, e, finalmente, a identificação e o registro por parte da equipe, de problemas passíveis de ocorrerem no período pós-operatório. Diante dos inequívocos resultados positivos da utilização do checklist, observa-se que a maioria das instituições e dos profissionais aceita sem discussão sua implantação. Entretanto, sua aplicação correta enfrenta dificuldades na prática, seja pelos profissionais a considerarem óbvia, seja porque seu uso não foi ainda estabelecido de maneira compulsória. O que se vê nos hospitais são arremedos de checklist, sem que se considerem de fato a pertinência e a responsabilidade de quem responde aos quesitos no momento da intervenção cirúrgica. A aplicação do checklist na maioria das instituições limita-se a uma folha, que é preenchida por auxiliar de enfermagem e assinada, ou não, por algum componente da equipe cirúrgica, fato que a torna totalmente sem efeito. A maneira correta de aplicar o checklist está amplamente divulgada na internet, basta acessar www.safesurg.org/how-to.html.

PERÍODO PÓS-OPERATÓRIO Nos hospitais de médio e grande porte, os pacientes submetidos a operações de vulto são encaminhados à unidade de medicina intensiva e acompanhados por médicos intensivistas ou cardiologistas. A ausência do cirurgião assistente no período pós-operatório é causa de três problemas frequentes, principalmente em cirurgia geral. O primeiro diz respeito à reposição hidroeletrolítica pós-operatória. É sabido que o anestesiologista no momento da operação empenha-se, com toda a razão, em manter a hemodinâmica normal do paciente, repondo vigorosamente a volemia e


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