Brasília Médica Nº49

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Nícolas Thiago Nunes Cayres de Souza e cols. • Colonização por S. agalactiae em gestantes

suscetibilidade antimicrobiana torna-se um fator importante para a adequada profilaxia intraparto em mulheres colonizadas pelo microrganismo patógeno, especialmente nos casos de história prévia de hipersensibilidade ou anafilaxia depois de exposição à penicilina.

submetida à pesquisa de infecção do trato genital pelo risco de abortamento trata-se de um caso à parte – foram triadas em período adequado antes do parto. No entanto, a gestante 1 teve rastreamento com 38 semanas de gestação, integrando-se aos 6% da amostra inadequadamente rastreada.

Segundo os CDC, a penicilina e a ampicilina têm boa resposta contra o estreptococo do grupo B, o que foi reproduzido no estudo vigente. A penicilina é o antibiótico de escolha, pois apresenta menor espectro de ação e, assim, oferece menor risco de resistência a outros microrganismos.24 É comum a resistência cruzada entre clindamicina e eritromicina,1 dado que não pôde ser corroborado no estudo vigente, uma vez que apenas duas pacientes foram resistentes ao primeiro, uma das quais fora também resistente à eritromicina.

Os dados aqui expressos sugerem que a prevalência identificada na amostra pode ter sido subestimada em virtude de a coleta para a pesquisa de colonização materna pelo estreptococo do grupo B estar abaixo de 35 semanas de gestação em 14% dos casos, de não ter havido coleta retal em 13% da amostra e a semeadura das culturas ter ocorrido em meios não seletivos.

Em consideração ao caráter de colonização intermitente do estreptococo do grupo B e o risco aumentado de ocorrência de sepse neonatal quando presente no trato genital materno no terceiro trimestre de gestação, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças preconizam a coleta de amostras vaginal e retal a ser realizada desde a 35.ª à 37.ª semana de gestação, levando-se em conta que o valor preditivo negativo das culturas colhidas em até cinco semanas antes do parto situa-se nas estimações de 95% a 98%, com declínio progressivo quando o nascimento ocorre em intervalo de tempo superior.1 No presente estudo (tabela 2), observa-se que 14% da amostra foram submetidas a um rastreio precoce, abaixo de 35 semanas de gestação. Portanto, inadequado, quando consideradas as diretrizes dos CDC quanto ao período gestacional oportuno para a coleta retovaginal. Em 73 mulheres (86% dos casos) a coleta foi realizada em período adequado, no máximo cinco semanas, precedendo o parto. Cinco dessas gestantes (6% da amostra), porém, foram submetidas à coleta em idade gestacional superior a 37 semanas, fugindo do que preconizam os Centros de Controle e Prevenção de Doenças.1 Em relação às gestantes com colonização, a tabela 4 mostra que as quatro mulheres submetidas ao rastreio – uma vez que a gestante 5, por ter sido

Diante do exposto, acredita-se que a implementação de um protocolo sistematizado padronizado na rotina pré-natal do HUB, seguindo os moldes da literatura vigente, poderá consolidar a qualidade da estratégia pré-natal no serviço. A aplicação de medidas simples, tais como, a pesquisa do estreptococo do grupo B em idades gestacionais oportunas, a padronização de seu rastreio na região retal, tanto na sua indicação quanto na coleta de amostras do sítio anatômico mais apropriado e a detecção do patógeno em meios de cultura seletivos, poderão aumentar sobremaneira a eficácia do rastreio do S. agalactiae na gestação. Dessa forma, é possível a realização de estudos mais avançados a respeito do tema, que poderão contribuir de maneira mais efetiva na redução das taxas de morbidade e mortalidade materna e neonatal.

REFERÊNCIAS 1. Verani JR, McGlee L, Schrag SJ. Prevention of perinatal group B streptococcal disease: Revised Guidelines from CDC, 2010. MMWR Recomm Rep.2010;59(RR-10) [acesso 1 jun 2011]. Disponível em: http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/rr5910a1.htm. 2. Larsen JW, Server JL. Group B Streptococcus and pregnancy: a review. Am J Obstet Ginecol. 2008;198:440-8. 3. Montenegro CAB, Rezende Filho J. Doenças infecciosas. In: Montenegro CAB, Rezende Filho J, eds. Obstetrícia fundamental. 11.ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. p. 394-6. 4. Pogere A, Zoccoli CM, Tobouti NR, Freitas PF, d’Acampora AJ, Zunino JN. Prevalência da colonização pelo estreptococo do grupo B em gestantes atendidas em ambulatório de pré-natal. Rev Bras Ginecol Obstet. 2005;27:174-80. 5. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Projeto Diretrizes. Assistência pré-natal. AMB/CFM; 2006.

Brasília Med 2012;49(1):18-26 • 25


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