Revista Amazônia Viva ed. 37 / setembro de 2014

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ARTE REGIONAL

A poética do invisível

RETRATOS

Nos muros da cidade, o olhar instigante do caboclo amazônico, comumente retratado nas páginas policiais. Para Eder Oliveira, é preciso investigar a nossa própria identidade cultural.

NA 31ª BIENAL DE SÃO PAULO, EDER OLIVEIRA E ARMANDO QUEIROZ MOSTRAM A QUESTÃO HUMANA A PARTIR DA INVISIBILIDADE SOCIAL TEXTO DOMINIK GIUSTI FOTOS CARLOS BORGES

O

distante, o marginal, o invisível. Em obras selecionadas para a 31ª Bienal Internacional de São Paulo, os artistas paraenses Armando Queiroz e Eder Oliveira apresentam questões sobre o homem que não existe, mas está lá. No cerne do debate, a questão humana. O que, afinal, nos mantém segregados? Que tipo de noções elaboramos acerca daqueles que são socialmente ocul-

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tos? Repletos de questionamentos, os artistas foram em busca de respostas. E diante do conceito, a criação artística. De acordo com Benjamin Seroussi, curador associado da 31ª Bienal, o que interessa nas obras dos artistas para este ano é a crise de representação, a crise artística e política. A seleção dos paraenses foi feita exatamente por tratarem dessa invisibilidade. Armando apresenta um vídeo com um

depoimento de um indígena da etnia Guarani; já Eder apresenta uma de suas intervenções urbanas – feita especialmente no pavilhão da Bienal para o evento – na qual pinta rostos retirados de cadernos policiais de jornais paraenses. “Eder Oliveira não retrata bandidos, mas parte das imagens veiculadas pelos cadernos para retratar o homem amazônico, o caboclo, aquele que é apenas representado nesse mesmo caderno policial, e que acaba sendo estigmatizado como bandido”, diz o curador. “Uma análise similar pode ser desenvolvida tendo em vista o trabalho de Armando Queiroz. Como o próprio indígena disse ‘aquele indígena exótico, que usa cocar, que dança, que canta”, esse existe, mas ‘aquele ser humano que passa fome, que passa sede, que é massacrado’, aquele não existe na política atual de representação”, completa. São esses tipos de imagens, que carregam a simbologia de representações que não existem, que estão expostas na 31ª Bienal, com o objetivo de trazer para a existência e tornar presente.

A QUESTÃO INDÍGENA

Na linguagem dos Guarani, “Ymá Nhandehetma” significa “antigamente fomos muitos” e esse é o título do vídeo


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