Revista Amazônia Viva ed. 37 / setembro de 2014

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METRÓPOLE ARBORIZADA BELÉM DO PARÁ, UMA URBE VERDE

SETEMBRO 2O14 | EDIÇÃO NO 37 ANO 4 | ISSN 2237-2962

O CANTO QUE VEM DAS RUAS

REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

MC BRUNO B.O. E A SOCIEDADE

INVISÍVEIS CIDADÃOS AMAZÔNIDAS NA BIENAL DE SP

GASTRONOMIA REGIONAL EM ALTA

SABOR DE AMAZÔNIA O CHEF THIAGO CASTANHO SE JUNTA A OUTROS NOMES CONSAGRADOS DA COZINHA DO ESTADO PARA MOSTRAR AO BRASIL E AO MUNDO O QUE É QUE O PARAENSE TEM

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s s s s



DA EDITORIA REPRODUÇÃO

PUBLICAÇÃO MENSAL DELTA PUBLICIDADE - RM GRAPH EDITORA SETEMBRO 2014 / EDIÇÃO Nº 37 ANO 4 ISSN 2237-2962 Presidente LUCIDÉA BATISTA MAIORANA Presidente Executivo ROMULO MAIORANA JR.

DEGUSTAÇÃO

No filme dinamarquês “A Festa de Babette”, de Gabriel Axel, os moradores de uma apática vila redescobrem o sentido da vida e da amizade ao participarem de um inesperado banquete

PARA SABOREAR DA PRIMEIRA À ÚLTIMA PÁGINA Tenho uma amiga paraense que,

mesmo magrinha, sempre foi boa

gastronomia amazônica.

de garfo desde criança. Ela conta

Conto essa história para mostrar

que sempre gostou de comer uma

como a comida tem esse poder de

boa pratada de feijão preto e ovo frito,

aproximar as pessoas, de criar elos

frango assado com salada de maio-

entre realidades tão diferentes, de

nese e churrasco com farofa. Eram

aquecer os corações, de marcar a

as comidas que fizeram parte da sua

memória para sempre.

infância no Rio de Janeiro, onde morou dos seis aos 15 anos.

E como banquete, em qualquer cultura, seja ocidental ou oriental,

Mas sentia grande alegria quando

é sinônimo de confraternização,

vinha passar as férias de fim de ano

queremos inaugurar o quarto ano

em Belém, porque eram naqueles

da revista Amazônia Viva com um

dois meses que ela matava a sauda-

cardápio editorial cheio de novos

de do açaí com pirarucu, da maniço-

conteúdos e seções para serem de-

ba, do tacacá, da unha de carangue-

gustados do início ao fim. O prato

jo. Era um dos grandes prazeres que

principal desta edição é a rica culi-

sentia àquela época: sentar-se à mesa

nária regional que vem unindo o

para celebrar a amizade e o amor em

Pará ao Brasil e ao mundo. Ouvi-

família apreciando os sabores que a

mos renomados chefs paraenses

faziam se sentir parte da Amazônia.

sobre a (re)descoberta e o futuro dos

Se ela fosse criança hoje no Rio

FELIPE JORGE DE MELO Editor-chefe

colegas de profissão o potencial da

Como no livro/filme “A Festa de

seu paladar pudessem ser diferen-

Babette”, queremos neste novo ano

tes, pois a culinária paraense já está

servir o que de melhor temos para

presente em quase todo o Brasil e se

dar aos nossos convidados/leitores,

populariza graças aos chefs locais

e como resultado oferecer a renova-

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

SETEMBRO 2014

Diretora Administrativa ROSÂNGELA MAIORANA KZAN Diretora Comercial ROSEMARY MAIORANA Diretor Industrial JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO Diretor Corporativo de Jornalismo WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA Diretor de Novos Negócios RIBAMAR GOMES Diretor de Marketing GUARANY JÚNIOR Diretores JOSÉ EDSON SALAME JOSÉ LUIZ SÁ PEREIRA Conselho editorial RONALDO MAIORANA JOÃO POJUCAM DE MORAES FILHO WALMIR BOTELHO D’OLIVEIRA GUARANY JÚNIOR LÁZARO MORAES REDAÇÃO Jornalista responsável e editor chefe FELIPE JORGE DE MELO (SRTE-PA 1769) Coordenação geral LUCIANA SARMANHO Editor de arte FILIPE ALVES SANCHES (SRTE-PA 2196) Pesquisador e consultor técnico INOCÊNCIO GORAYEB Colaboraram para esta edição O Liberal, Vale, Agência Pará de Notícias, Agência Brasil, Museu Paraense Emílio Goeldi, Universidade Federal do Pará, Fundação Curro Velho (acervo); Camila Machado, Fabrício Queiroz, Victor Furtado, Anderson Araújo, Moisés Sarraf, Abílio Dantas, Brenda Pantoja, Bruno Rocha, Natália Mello, Dominik Giusti, Fernanda Martins, Alan Bordallo, Sávio Oliveira (reportagem); Moisés Sarraf, Fabrício Queiroz, Janine Bargas (produção); Hely Pamplona, Fernando Sette, Carlos Borges, Roberta Brandão, Igor Mota (fotos); Thiago Barros (artigo) André Abreu, Leonardo Nunes, Jocelyn Alencar, Sávio Oliveira, Márcio Euclides (ilustrações); Alexsandro Santos (tratamento de imagem). FOTO DA CAPA Thiago Castanho por Carlos Borges AMAZÔNIA VIVA é editada por Delta Publicidade/ RM Graph Ltda. CNPJ (MF) 03.547.690/0001-91. Nire: 15.2.007.1152-3 Inscrição estadual: 158.028-9. Avenida Romulo Maiorana, 2473, Marco - Belém - Pará. amazoniaviva@orm.com.br PRODUÇÃO

nossos sabores.

de Janeiro talvez as lembranças do

que aperfeiçoam e apresentam aos

Diretor Jurídico RONALDO MAIORANA

ção e a informação. Bon appetit!

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REVISTA IMPRESSA COM O PAPEL CERTIFICADO PELO FSC - FOREST STEWARDSHIP COUNCIL


SETEMBRO 2O14

NESTA EDIÇÃO

EDIÇÃO Nº 37 / ANO 4

IGOR MOTA

TÍPICO GOSTO DE AMAZÔNIA

Pratos como o “Haddock Paraense”, à base de gurijuba, ganham apreciadores dentro e fora do Brasil e mostram o potencial da culinária regional no cenário gastronômico. ASSUNTO DO MÊS

CARLOS BORGES

36 16

CARLOS BORGES

ROBERTA BRANDÃO

ROBERTA BRANDÃO

54

58

MARAJÓ

BIENAL

Para o doutor em História

Em São Paulo, os artistas

SOCIEDADE

Social Agenor Sarraf Pa-

HIP HOP

plásticos Armando

A pesquisadora Ivanilde

checo, a região marajoa-

O MC Bruno B.O. usa

Queiroz e Eder Oliveira

Apoluceno desenvolve,

ra precisa ser entendida a

a cultura nascida na

apresentam as questões

no Núcleo de Educação

partir de suas particulari-

periferia das cidades

sobre o homem que não

Popular Paulo Freire, um

dades histórica e cultural.

para incentivar iniciativas

existe, mas está lá. Na

trabalho em que o mais

A população também

educativas sobre o papel

mostra internacional de

importante é o respeito

não pode ser vista como

social do hip hop nas

arte, eles vão expressar a

pelas diferenças.

“ribeirinhos ilhados”.

comunidades carentes.

invisibilidade social.

QUEM É?

OUTRAS CABEÇAS

DEDO DE PROSA

ARTE REGIONAL

4 6 11 13 15 17 17 18 19 19 20 20 21 21 22 24 46 49 49 50 60 62 63 65 66

E MAIS

38

EDITORIAL AS MAIS CURTIDAS TRÊS QUESTÕES AMAZÔNIA CONNECTION PERGUNTA-SE EU DISSE APPLICATIVOS COMO FUNCIONA FATO REGISTRADO DEU N’O LIBERAL CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE ELES SE ACHAM DESENHOS NATURALISTAS CONCEITOS AMAZÔNICOS EM NÚMEROS OLHARES NATIVOS COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL BONS EXEMPLOS MUDANÇA DE ATITUDE VIDA EM COMUNIDADE MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS AGENDA FAÇA VOCÊ MESMO BOA HISTÓRIA NOVOS CAMINHOS

SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5


ASMAISCURTIDAS DESTAQUES DAS EDIÇÕES ANTERIORES

CARLOS BORGES

ALGAS Sou leitora assídua da Amazônia Viva e quero parabenizar toda a equipe da revista pela matéria sobre a invasão de algas na praia do Atalaia, em Salinópolis, Pará (“O mistério das algas de Salinas”, Curiosidades da Biodiversidade, julho de 2014, edição nº 35). Hermínia Pamplona Salinópolis - Pará JOVENS TALENTOS MUSICAIS DO PARÁ

A reportagem “Acordes dos ensinamentos”, da seção Vida em Comunidade, sobre os alunos do Programa Vale Música foi a que teve o maior número de curtidas em nossa página do Facebook, na edição nº 36, de agosto de 2014. Parabéns a essa garotada cheia de sucesso.

EDUCAÇÃO

LEONARDO MAGNO

Parabéns pelo trabalho a todos que fazem a revista Amazônia Viva. Sou professor em Igarapé-Açu e tenho usado as edições em minhas aulas para ilustrar o conhecimento e difundir as informações da nossa região. Tem sido muito bom trabalhar com esse material, pois isso valoriza nosso trabalho. Gustavo Barros Igarapé-Açu – Pará

COMPOSTEIRA Muito boa a dica de como se usar a composteira em casa (“Compostagem do lixo em casa”, Mudança de Atitude, agosto de 2014, edição nº 36). Isso nos ajuda a preservar mais o meio ambiente. Acélia Fernandes Belém - Pará

CARTÃO-POSTAL AMAZÔNICO

PADRE GALLO

No Instagram, a foto da Praça do Relógio, em Belém, de Leonardo Magno, foi a que teve mais acessos na rede social da revista. A imagem foi publicada na seção “Olhares Nativos” da edição passada. O relógio de ferro, que fica próximo ao Ver-o-Peso, foi trazido da Inglaterra e inaugurado em 1931.

A Amazônia Viva sempre nos saúda com a história de grandes personalidades de nossa região. Parabéns pela matéria sobre o padre Giovanni Gallo (“Um italiano no Marajó”, Memórias Biográficas, agosto de 2014, edição nº 36), que nos fez lembrar o grande legado desse homem de Deus. Heloísa Cabral Belém - Pará

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SETEMBRO 2014

AGOSTO 2O14 | EDIÇÃO NO 36 ANO 3 | ISSN 2237-2962

Para se corresponder com a redação REVISTA ENCARTADA NO JORNAL O LIBERAL. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE.

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da Amazônia Viva envie comentários, dúvidas, críticas e sugestões para o email amazoniaviva@orm.com.br ou escreva A ORIGEM DA AMAZÔNIA NA REGIÃO DO

RIO XINGU Pesquisas arqueológicas na área onde está sendo construída a Usina Hidrelétrica de Belo Monte desvendam detalhes inéditos da pré-história amazônica

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para o endereço: Avenida Romulo USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR A EDIÇÃO DIGITAL DE AGOSTO

Maiorana, 2473, Marco, Belém - Pará, CEP 66 093-000 ou FAX: 3216-1143.


O QUE É NOTÍCIA PARA A AMAZÔNIA SALVIANO MACHADO / ARQUIVO VALE

PRIMEIROFOCO

IRMÃOS, APESAR DAS DIFERENÇAS

DOIS FILHOTES DE ONÇA NASCERAM NO PARQUE ZOOBOTÂNICO VALE, EM PARAUAPEBAS, NO SUDESTE DO PARÁ. ESSA É A SEGUNDA VEZ, EM 12 ANOS, QUE A ESPÉCIE CONSEGUE SE REPRODUZIR EM CATIVEIRO. PÁGINA 8

INVESTIMENTOS Produtores de energia solar e eólica no Brasil participam de leilão em busca de financiamento do BNDES. PÁG.10

ENSINO SUPERIOR Vale entrega campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará em Parauapebas. PÁG.12

TÁ NERVOSINHO? Saiba o que é verdadeiro e falso no tradicional copo de água com açúcar, tido como um eficiente calmante caseiro. PÁG.15

SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •


PRIMEIRO FOCO

PZV ABRIGA FILHOTE RARO DE ONÇA-PRETA

O

SALVIANO MACHADO / ARQUIVO VALE

Parque Zoobotânico Vale (PZV), em Parauapebas, sudeste do Pará, tem dois filhotes de onça como novos integrantes. Esta é a segunda vez, em 12 anos, que a espécie, ameaçada de extinção, consegue se reproduzir no parque. Os animais recém-nascidos, uma fêmea preta e um macho pintado, estão em local reservado onde recebem cuidados especiais dos tratadores. Os pais são um casal de onças, sendo uma pintada e uma preta, que vivem no local há três anos desde que foram entregues pelo Ibama. “O nascimento dos filhotes no Parque da Vale aumenta a expectativa de conservação da espécie já que a reprodução de indivíduos pretos (melânicos) é raríssima. Para se ter uma ideia, na natureza a população de onça-preta é estimada em apenas 10% do total”, explica o biólogo do PZV, Leandro Maioli. A onça-pintada encontra-

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SETEMBRO 2014

se nas listas estadual (Secretaria de Meio Ambiente do Pará), nacional (Ministério do Meio Ambiente/Ibama) e internacional (IUCN - International Union for Conservation of Nature) de espécies ameaçadas de extinção e, por isso, há um grande incentivo às iniciativas de reprodução no mundo inteiro. A conservação da biodiversidade da fauna e da flora é feita a partir da manutenção de exemplares no parque, preferencialmente da região amazônica.

ESPÉCIES

Além da onça-pintada e da onça-preta, o PZV mantém casais de espécies para serem reproduzidos em cativeiro, como as aves. Hoje, há um programa que protege duas espécies ameaçadas de extinção: a arara-azul-grande e a ararajuba, que no ano passado se reproduziram com sucesso. “A adaptação delas é lenta, pois não depende da

ação humana. Além disso, outros investimentos foram feitos, como a instalação de uma incubadora para facilitar o desenvolvimento de filhotes”, explica o veterinário do parque, André Mourão. Mais de 260 animais compõem o plantel do PZV, que ocupa uma área de 30 hectares na Floresta Nacional de Carajás, uma Unidade de Conservação Federal administrada, protegida e fiscalizada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com o apoio da Vale. Do espaço ocupado, 30% foram utilizados para a construção de recintos e área de apoio. Entre as espécies ameaçadas de extinção que vivem no parque também estão o macaco-aranha-datesta-branca e macaco-cuxiú. Além de dar suporte como estoque genético, o PZV contribui, ainda, como com a formação de profissionais para trabalharem na conservação da fauna e flora amazônicas.

EM CASA

Os animais recém-nascidos em Parauapebas estão em um local reservado para receberem cuidados especiais dos biólogos do parque

30

HECTARES É A ÁREA TOTAL OCUPADA pelo Parque Zoobotânico Vale dentro da Floresta Nacional de Carajás


SIMINERAL APOSTA NO CRECIMENTO RECORDE DO PARÁ

O Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral) reelegeu o executivo José Fernando Gomes Júnior para a diretoria pelos próximos quatro anos. Em seu discurso de posse, Fernando enfatizou a meta da entidade de tornar o Pará o maior produtor mineral do Brasil até 2018. “Somos hoje o segundo maior produtor mineral do País, mas pretendemos chegar a ser o primeiro Estado em produção mineral em 2018, sempre aprendendo com Minas Gerais que possui 300 anos de experiência nessa área”, disse.

Para atingir o objetivo, o presidente afirmou que o Simineral já atua informando a sociedade sobre o setor. “Até 2018, serão investidos US$ 47 bilhões e 99 mil pessoas precisam ser treinadas para atuar na descoberta, abertura e expansão de minas”, observou. Dentre as conquistas da sua gestão passada, Fernando destacou o Anuário Mineral do Pará, além da criação do Dia Estadual da Mineração, em 14 de março, da Frente Parlamentar de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Mineração e da Casa da Mineração.

ESPORTE

INDÍGENAS Neste ano, os Jogos Tradicionais Indígenas chegaram à quarta edição, reunindo cerca de 600 indígenas de 15 etnias do Pará,

47 I

A

Bahia e Tocantins. O evento ocorreu no início deste mês em Marudá, distrito de Marapanim, no nordeste paraense. Para o representante dos povos indí-

V M

ser investidos, até 2018, no setor mineral do Estado, segundo perspectivas do Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará

genas brasileiros junto à Organização das Nações Unidas (ONU), Marcos Terena, as tradições se renovam a cada edição dos Jogos, cujo caráter não é competitivo e, sim, de celebração. “O que vemos aqui são tradições que se renovam a cada edição dos Jogos, como essa aqui. Vemos a força e a garra de

M

cada etnia”, disse. O princípio da celebração

A

está presente na forma como os indígenas

Reeleito para o segundo mandato, Fernando Gomes Júnior pretende colocar o Pará em primeiro lugar no ranking nacional da produção mineral, nos próximos quatro anos

foram premiados no evento. Todos os atletas receberam os mesmos tipos de medalhas e troféus, sem distinção de primeiro, segundo ou terceiro lugar. MARCELO SEABRA / ARQUIVO O LIBERAL

BIOCOSMÉTICOS

PROJETOS

A Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração (Seicom) participou do encontro de consolidação do Arranjo Produtivo Local (APL) voltado ao setor de biocosméticos, em Belém. A ideia do Núcleo Estadual de APL é fomentar os projetos de APLs existentes no Pará. “O importante é integrar o setor para fortalecer e consolidar o APL de biocosméticos, que já tem dados reais de comercialização”, destacou a titular da Seicom, Maria Amélia Enríquez. A secretaria pretende realizar uma pesquisa e um seminário sobre o tema no Estado.

ANDRÉ ABREU

OLHA O CARANGUEJO!

No mês passado, uma equipe da diretoria de Desenvolvimento da Indústria e Atração

O transporte de caranguejos em basquetas foi reconhecido como prática

de Investimentos da Seicom participou, na

sustentável durante o I Seminário de Práticas Inovadoras na Gestão de

Colômbia, do evento Beleza Y Salud 2014,

Unidades de Conservação. O modelo foi adotado pela Secretaria Estadual de

uma feira especializada em biocosméticos

Pesca e Aquicultura do Estado do Pará (Sepaq) desde 2011 e o uso das caixas

com produtos da Amazônia.

plásticas reduziu a mortalidade do crustáceo de 50% para 4%.

FOTOS: CRISTINO MARTINS E EUNICE PINTO / AGÊNCIA PARÁ

SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •


PRIMEIRO FOCO

SUSTENTABILIDADE Levantamento do Portal Imprensa classificou a Vale como a “empresa mais sustentável segundo a mídia”, no setor mineração. A pesquisa aponta as empresas que mais se destacaram nos veículos de comunicação de todo o país ao divulgarem suas ações sustentáveis. Foram analisadas matérias publicadas no período de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2013 nas revistas América Economia, Amanhã, Carta Capital, Exame, Época, Época Negócios, Você S.A, Veja, IstoÉ e IstoÉ Dinheiro, e nos jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Zero Hora e Correio Braziliense. O levantamento de auditoria de imagem foi realizado pela PR Newswire, empresa especializada em distribuição de notícias, monitoramento e soluções de marketing. No total, 30 setores foram avaliados. O Portal Imprensa considerou quesitos como transparência, consciência ambiental e bem-estar dos empregados.

PAÍS INVESTE EM PRODUÇÃO DE ENERGIA LIMPA

O leilão de geração de energia renovável, como a solar e a eólica, está marcado para o dia 31 de outubro e os vencedores do pregão terão uma linha financeira especial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). As empresas que já utilizam um maior número de equipamentos nacionais serão prioridade. Uma das exigências para incluir

fornecedores no cadastro da Finame, linha de financiamento para bens de capital, é a nacionalização progressiva de componentes e processos. O BNDES usará recursos do Fundo Clima, do Ministério do Meio Ambiente, para financiar até 15% dos investimentos em equipamentos. As possibilidades de uso energia renovável no país têm atraído investidores para o Brasil.

DIVULGAÇÃO / ELETROSUL

RANKING

8%

deve ser o salto da matriz energética brasileira em quatro anos. Hoje, está em torno de 3%.

181 usinas eólicas, que transformam a força dos ventos em energia útil, estão instaladas, atualmente, no Brasil

PRÊMIO

CERVEJA Cervejas artesanais com autênticos ingredientes amazônicos tiveram destaque no “International Beer Challenge 2014”, em Londres. A cerveja Forest Pilsen ganhou medalha de ouro e a Forest Bacuri foi premiada com o bronze, ambas produzidas pela Amazon Beer, no Pará. A distribuição já alcançou, através de uma parceria com DIVULGAÇÃO

a distribuidora World Beers, países como Inglaterra, França e Alemanha. A expectativa é que nos próximos meses os europeus conheçam a Witbier Taperebá.

FONTE: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA EÓLICA

TELA VERDE

Professores e alunos de escolas ribeirinhas em

Brasil e Itália atuam em parceria pela sustentabili-

Barcarena, no Pará, reuniram 46 histórias inéditas,

dade com o projeto “5° Circuito Tela Verde”. Curtas-

entre lendas, mitos e contos de assombração da

metragens e documentários sobre temas ambientais

região amazônica no livro “Contando as Histórias

foram exibidos em mais de mil salas nacionais entre

que nos Contaram”. A publicação está disponível

maio e agosto deste ano. Em Belém, o São José

para download gratuito no site da Paka-Tatu (www.

Liberto e o Museu Paraense Emílio Goeldi foram os

editorapakatatu.com.br) e na loja da Apple. A

espaços escolhidos para a mostra. Também houve a

iniciativa faz parte do projeto Catavento, da Alubar,

apresentação do projeto “Árvores Gêmeas Toscana-

fabricante de vergalhões de liga e cabos elétricos

Amazônia”, que consiste no plantio de uma árvore

de alumínio, que já tem mais de quatro anos de

na região amazônica para cada nova árvore plantada

atividades com alunos que vão da alfabetização ao

no centro-oeste da Itália. O idealizador do projeto,

quinto ano do Ensino Fundamental.

Luca Amerighi, participou do evento em Belém.

DOWNLOAD

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

DOCUMENTÁRIOS

SETEMBRO 2014

DIVULGAÇÃO

CONTOS


MARCELO SEABRA / ARQUIVO O LIBERAL

TRÊSQUESTÕES

REGISTRO DE LÍNGUAS NA AMAZÔNIA

CARAMUJO CARREGA UMA NOVA FORMA DE MENINGITE

O caramujo-gigante-africano é um dos transmissores de uma nova forma de meningite, que está se espalhando pelo país, segundo o Instituto Oswaldo Cruz. A forma eosinofílica da doença (com alergias e inflamações) é causada pelo verme Angiostrongylus cantonensis e o contágio ocorre pelo contato com o muco liberado pelo molusco. A bióloga Silvana Thiengo, do Instituto Oswaldo Cruz, ressalta que hábitos simples como lavar as mãos frequentemente e deixar as hortaliças e frutas de

molho por meia hora, em um litro de água com uma colher de sopa de água sanitária, são medidas eficazes para evitar a transmissão. Os pesquisadores querem alertar os profissionais de saúde, uma vez que se trata de um parasita recente, identificado no Brasil há oito anos. Por enquanto, só há casos confirmados da doença em São Paulo, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul, mas já houve incidências dessa espécie de caramujogigante-africano em estados como o Pará e o Amazonas.

PEGAJOSO

A transmissão da doença é causada pelo contato com o muco liberado pelo caramujo-giganteafricano

De que forma o trabalho é realizado? A documentação é feita através de registros em áudio e vídeo, nos quais registramos diversos aspectos da língua e da cultura do povo. A análise e descrição das línguas são feitas com base no material coletado, em campo, diretamente nas aldeias indígenas onde as línguas são faladas e também em etapas de trabalho no Museu Goeldi.

Como a pesquisa chega à comunidade? Nós realizamos as gravações, que resultam em produtos de documentação, em CDs e DVDs, e esses produtos são devolvidos para

4

ESTADOS JÁ REGISTRARAM casos de meningite eosinofílica desde 2006 até hoje

as comunidades para seu uso. Também oferecemos treinamentos e capacitação para os próprios indígenas aprenderem as tecnologias de gravação e edição de áudio e vídeo, e realizarem eles mesmos a documentação de suas línguas e culturas.

Qual o valor desse trabalho para a sociedade? Estudar e documentar essas línguas têm uma função para ampliar a produção de

ANDRÉ ABREU

FUNGOS X DINOS

conhecimento sobre as línguas específicas e a linguagem humana, como um todo. O

Este ano, durante a 66ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ci-

registro de cada língua também valoriza e

ência (SBPC), no Acre, a pesquisadora Sarah Gonçalves, do setor de Micologia da

fortalece o meio de comunicação no seu

Universidade Federal de São Paulo, levantou a teoria, somada a um conjunto de

grupo, contribuindo a médio e longo prazo a

causas, de que os dinossauros foram extintos graças à ação de fungos patagêni-

preservação da sua cultura.

cos, 300 mil anos após a queda de um meteoro há 65 milhões de anos na Terra. SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

ARQUIVO PESSOAL

Há quase trinta anos, o Museu Paraense Emílio Goeldi trabalha na documentação, descrição e reconstrução de línguas indígenas na região. A pesquisadora Ana Vilacy, uma das participantes do estudo, afirma que o trabalho de conhecimento, registro e estímulo ao fortalecimento ajuda a preservar a nossa cultura.


PRIMEIRO FOCO ARQUIVO VALE

PTEROSSAURO

DESCOBERTA Um conjunto de fósseis de 47 pterossauros foi encontrado no Paraná por pesquisadores brasileiros. Os animais eram répteis voadores pré-históricos de uma espécie ainda desconhecida e viveram há cerca de 80 milhões de anos no sul do país. A espécie foi batizada de Caiuajara dobruskii. A alta concentração de indivíduos identificados ajudará a responder importantes questões sobre a evolução da população, uma vez que eles são uma espécie de elo perdido entre os vertebrados terrestres e os voadores, acredita um dos autores do estudo, Alexander Kellner. “Pudemos concluir, por exemplo, que esses pterossauros voavam

VALE CONCLUI OBRAS DO IFPA EM PARAUAPEBAS Um edifício composto por bloco administrativo com biblioteca; bloco de ensino, com auditório, lanchonete, refeitório, banheiros e 10 salas de aula; oito laboratórios; além de área de vivência, estacionamento e bicicletário. Assim é o campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará (IFPA) de Parauapebas, entregue no dia 19 de agosto pela Vale ao município. Os investimentos da mineradora na obra somaram mais de R$ 46 milhões e compreendem doação do terreno, construção de toda a infraestrutura do prédio, compra de mobiliário e implantação de laboratórios e equipamentos. Representantes da empresa, do instituto, do Ministério Público do • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

SETEMBRO 2014

Trabalho e da Prefeitura Municipal de Paraupebas participaram da cerimônia que oficializou a entrega do campus. Os convidados conheceram as instalações e laboratórios, entregues completamente montados com equipamentos de última geração, pela Vale, para os cursos técnicos de mecânica e eletroeletrônica. O prédio, com área construída de cerca de 2,8 mil metros quadrados, está localizado próximo à portaria da Floresta Nacional de Carajás. Atendendo a um acordo firmado com o Ministério Público do Trabalho, a construção de um campus do IFPA em Parauapebas está alinhada com a estratégia da empresa de fomentar o desenvolvimento dos territórios onde está

MODERNIDADE

O campus Parauapebas tem cerca de 2,8 mil m2 e está localizado próximo à portaria da Floresta Nacional de Carajás

muito precocemente, já que não havia grandes diferenças morfológicas nas proporções dos ossos, exceto na cabeça”, disse.

CLIMA

CONFERÊNCIA O Peru vai sediar, em dezembro, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas. É a primeira vez que o evento será

presente. “Esta entrega é tão importante para a Vale, quanto é para cidade, porque além de trazer novas oportunidades de capacitação para a comunidade local, principalmente os jovens, o campus de Parauapebas conta com equipamentos de ponta e tem tudo para ser uma referência no Pará e no Brasil”, explica o diretor de ferrosos norte da Vale, Paulo Horta. Para o reitor do IFPA, prof. Élio Cordeiro, “a parceria com a Vale veio para trazer desenvolvimento para o município, impedindo que os jovens migrem em busca de oportunidades educacionais”. “Toda a região tem a ganhar com essa nova escola, diferenciada e de alta qualidade, especialmente Parauapebas”, afirma o prefeito, Valmir Mariano.

realizado em um dos países do bioma Amazônia. No começo deste mês, Lima, a capital do país, recebeu o 3º Encontro Pan-Amazônico “A Amazônia e as Mudanças Climáticas – atuação da sociedade civil na COP 20”, para montar a agenda prioritária e direcionar discussões sobre desmatamento, mudanças climáticas e sustentabilidade da Amazônia. No evento, o PhD e pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Antônio Donato Nobre, apresentou o estudo “O Futuro Climático da Amazônia”.

BALÕES

TELECOMUNICAÇÕES Para coletar dados ambientais e ampliar o sistema de telecomunicação em áreas remotas, será utilizado um balão mais leve que o ar, inflado por gás hélio e ancorado por um sistema de cabeamento, chamado de aeróstato. Ele será instalado em áreas de atuação do Instituto Mamirauá, no estado do Amazonas e a iniciativa faz parte dos projetos Aeróstato Remoto de Telecomunicação e Sensoriamento (Artes) e Aplicação no Campo de Plataformas Avançadas de Sensoriamento Remoto (Acampar).


NORTE ENERGIA / DIVULGAÇÃO

AMAZÔNIACONNECTION

DA ALEMANHA PARA UATUMÃ Os governos do Brasil e Alemanha terminarão ainda este ano a instalação de um grande observatório climático no Amazonas. A construção de 325 metros de altura será a primeira desse tipo na América do Sul, com PRESERVAÇÃO

Os acari-zebras são considerados vulneráveis à extinção pelo ICMBio. Programa de reprodução permite a conservação do patrimônio genético da espécie na região.

14

É O NÚMERO DE FILHOTES QUE

nasceram no laboratório do Centro de Estudos Ambientais da Norte Energia, no Pará

ACARI-ZEBRA SE REPRODUZ NA AMAZÔNIA

Pela primeira vez, 14 filhotes de peixe acari-zebra se reproduziram em cativeiro. Os animais da espécie Hypancistrus zebra nasceram no laboratório do Centro de Estudos Ambientais (CEA) da Norte Energia, que fica em Vitória do Xingu, no sudoeste do Pará, e possibilita a reprodução de outras espécies de acari através da conservação do patrimônio genético. Esses peixes são considerados vulneráveis à extinção pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e habitam águas rasas da região do Xingu. A reprodução em cativeiro está inserida na segunda etapa

do Projeto de Aquicultura de Peixes Ornamentais, desenvolvido pela Norte Energia como parte do Projeto Básico Ambiental (PBA) da Usina Hidrelétrica Belo Monte. A primeira foi direcionada ao desenvolvimento de ambientes adequados para manter o bem-estar dos peixes em aquários e a identificação de casais. Agora, o trabalho também será dedicado a acompanhar o desenvolvimento dos fi lhotes recém-nascidos. Os estudos e programas de reprodução e proteção do CEA minimizam a pressão sobre as populações desses peixes e contribuem para a preservação da espécie na Amazônia.

altura quatro vezes maior que a atual torre de observação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), de 80 metros. Com orçamento de R$ 7,5 milhões, a Torre Atto (sigla em inglês para Amazon Tall Tower Observatory) funcionará na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, a 150 quilômetros de Manaus, e tem como objetivo calcular os impactos das mudanças climáticas globais nas florestas de terra firme da Amazônia, medindo a interação da floresta com a atmosfera. A torre também servirá para pesquisas inéditas de química da atmosfera, como trocas gasosas, reações químicas e aerossóis, processos de transporte de massa e energia. Segundo informações do Inpa, o local de instalação da torre, uma área de terra firme na floresta - ambiente mais comum na variada paisagem amazônica, foi escolhido após uma série de estudos.

MEDIÇÃO

O observatório funcionará 24 horas por dia e terá vida útil estimada entre 20 a 30 anos. Serão construídas também quatro torres menores, com 80 metros de altura, cada, em volta da Torre Atto, com o objetivo de medir fluxos e transportes horizontais, dando auxílio na obtenção de dados da

ANDRÉ ABREU

AERODINÂMICA SINGELA

torre principal. A estrutura de observação climática é uma iniciativa conjunta, liderada

Algumas espécies de beija-flores são 20% mais eficientes do que um dos mais

pelo Inpa, Instituto Max Planck e pela Uni-

avançados micro-helicópteros do mundo, o Black Hornet, que pesa 16g e é usa-

versidade do Estado do Amazonas (UEA),

do em operações de vigilância no Afeganistão. O estudo comparou a energia

e com participação de outras instituições.

usada por ambos para se manter em voo e foi coordenado pelo professor David

(Com informações da Agência Brasil).

Lentink, da Universidade de Stanford, na Califórnia. SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •


PRIMEIRO FOCO

TEMAS AMBIENTAIS FARÃO DIFERENÇA NA ELEIÇÃO DE 2014 ARTE

NATUREZA A fauna amazônica retratada nas pinturas de Eládio Lima impressiona até hoje, 70 anos após a morte do artista. Foram incorporadas 42 pranchas pintadas por ele ao acervo de Obras Raras da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). Nelas, cerca de 50 espécies de mamíferos da região foram registradas. A publicação que apresenta o trabalho dele, “Primatas da Amazônia”, está disponível no acervo, em português e inglês.

Atualmente, a sociedade brasileira possui mais conhecimentos sobre as causas ambientais do que no passado. Segundo a revista Eco21, uma das principais publicações sobre meio ambiente no país, 96% das pessoas consultadas em pesquisa recente já ouviram falar do termo “diversidade biológica” e 56% destas foram capazes de definir corretamente o conceito. De acordo com a pesquisa, realizada pela União para o Bioco-

POLÍTICA DE ENERGIAS RENOVÁVEIS

mércio Ético, os brasileiros não consideram a preocupação com o meio ambiente no Brasil exagerada e não estão dispostos a ter mais progresso à custa da depredação dos recursos naturais. De qualquer forma, os candidatos das eleições deste ano deverão incluir em seus programas de governo as questões ambientais se quiserem dialogar com a sociedade. Confira, ao lado, os principais temas que devem ser abordados.

SANEAMENTO BÁSICO

LEIS SOBRE ALIMENTOS TRANSGÊNICOS

LEIS SOBRE O USO DE AGROTÓXICOS

MANEJO DE RECURSOS HÍDRICOS (FONTE: ENVOLVERDE E REVISTA ECO21)

ILUSTRAÇÃO: ELÁDIO LIMA / REPRODUÇÃO

HELY PAMPLONA

O atendimento móvel de urgência do

AMAZÔNIA VAI GANHAR NOVA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

município de Marabá recebeu reforço na

Uma nova unidade

frota, com três ambulâncias entregues

de conservação (UC)

pela Vale. Também foram firmados três

será criada na Ama-

convênios com a prefeitura. Um contem-

zônia até o fim do

pla a reforma do Hospital Municipal, que

ano, de acordo com

receberá novas instalações no centro

a ministra do Meio

cirúrgico. Além disso, outro convênio

Ambiente, Izabella

garante reformas em mais cinco unida-

Teixeira. Atualmen-

des básicas de saúde e o terceiro prevê a

te, 5,4 milhões de

aquisição de mobiliários e equipamentos

hectares em UCs

para o funcionamento de dois Centros

estão nas mãos de

MARABÁ

AMBULÂNCIAS

de Atendimento Psicossocial (CAPS) e

BORBOLETÁRIO DO MANGAL VIRA

pessoas físicas e

de Centro de Especialidades Médicas.

REFERÊNCIA NACIONAL

A Vale também se comprometeu com a

O borboletário do Mangal das Garças, em Belém, reproduz mais de cinco mil

situação o governo

prefeitura de Marabá a reformar e ampliar

borboletas adultas mensalmente e é o maior da América Latina. Os índices

terá de pagar R$ 6,4

três escolas públicas, realizar melhorias

reprodutivos inspiraram a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) a montar o “Jardim

bilhões em indeniza-

no aterro sanitário do município e apoiar

das Borboletas”, no campus de Manguinhos (RJ). As primeiras borboletas já

ções. “O Ministério

financeiramente a adequação do antigo

foram doadas pelo Mangal e um funcionário foi enviado para promover capaci-

está encerrando um

prédio da Câmara de Vereadores em

tação sobre a criação dos insetos.

ciclo de estudos”,

Centro Cultural. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

para regularizar essa

adiantou Izabella. SETEMBRO 2014


ARQUIVO VALE

PERGUNTA-SE

ÁGUA COM AÇÚCAR ACALMA OS NERVOS? Dar um copo de água com açúcar para uma pessoa assustada já é quase um ritual que faz parte no socorro a alguém com abalo emocional. Mas qual o segredo por trás dessa fórmula-calmante tão antiga quanto suco de maracujá e chá de camomila? Nutricionistas garantem: nenhum. Trata-se apenas de um efeito placebo, estímulo psicológico, no

FUNDO VALE LEVA PRÊMIO NA CATEGORIA “HUMANIDADES” alinhado ao conceito de sustentabilidade. Criado em 2009 como parte da estratégia de sustentabilidade da Vale, o Fundo Vale, que iniciou sua atuação no Pará, atua por meio de uma inteligência de redes envolvendo organizações da sociedade civil de referência na área socioambiental. Hoje, é reconhecido com uma importante instituição que articula ações e conhecimento no bioma. O Prêmio von Martius de Sustentabilidade recebe, de todo o país, projetos que promovam o desenvolvimento socioeconômico, cultural e sustentável.

INI IA IVA

Em São Felix do Xingu (PA), o Fundo Vale apoia o fortalecimento da sociedade local, com foco na agricultura familiar.

bem ao ingerir determinada substância. Porém, há pelo menos um pingo de verdade nessa história. O açúcar é uma fonte de energia para o corpo, assim como a água é um líquido essencial para hidratar e manter em boas condições de diversas funções do organismo. Se a pessoa estiver chorando, por exemplo, dependendo da intensidade, vai perder líquido e pode se cansar com os soluços. Nesse caso, é bom repor água, ensina a a nutricionista Juliana Tomandl, do Centro Universitário São Camilo (SP). Já o açúcar favorece a liberação de serotonina, um neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar e prazer. “Mas, como placebo, o efeito da água com açúcar é unicamente emocional”, explica Juliana.

1

HELY PAMPLONA

O Fundo Vale foi o primeiro colocado do Prêmio von Martius de Sustentabilidade na categoria “Humanidades”. A vitória foi garantida com o case “Mapeando sinergias pela sustentabilidade da PanAmazônia”, um estudo realizado em 2012. A iniciativa mapeou o potencial de colaboração entre as organizações que atuam pela conservação e desenvolvimento sustentável da Amazônia com o objetivo de melhorar a efetividade das ações. O prêmio contempla projetos de todo o país que promovam o desenvolvimento socioeconômico e cultural,

qual a pessoa acredita que está se sentindo

O

A IA N I A

obtida pelo Fundo Vale no Prêmio von Martius de Sustentabilidade

MORCEGO DE MIDAS O morcego da espécie Myotis midastactus foi descoberto na savana amazônica

ANDRÉ ABREU

da Bolívia pelo pesquisador brasileiro Ricardo Moratelli. O animal havia sido erroneamente identificado na América do Sul como um Myotis simus. Com uma curta pelagem amarelo-dourada, ele se alimenta de pequenos insetos, dormin-

MAN

A

A

Envie perguntas instigantes sobre hábitos, costumes e fenômenos da região amazônica para o e-mail: amazoniaviva@orm.com.br

do durante o dia em tocas no chão, em árvores ocas ou telhados de palha. SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA • 5


QUEM É?

IVANILDE APOLUCENO

EDUCADORA ENSINA QUE É NECESSÁRIO CONHECER E RESPEITAR A DIVERSIDADE SOCIAL

A

NOME

Ivanilde Apoluceno de Oliveira

IDADE 63 anos

FORMAÇÃO

Filosofia com pós-doutorado em Educação

TEXTO BRUNO ROCHA FOTO ROBERTA BRANDÃO

TEMPO DE PROFISSÃO

educação é parte fundamental para garantir a cidadania de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Esse conceito, que o célebre educador e filósofo Paulo Freire chamava de “pedagogia da esperança”, nada mais é que possibilitar o acesso e a permanência do cidadão em espaços educativos. Assim, a professora e pesquisadora Ivanilde Apoluceno desenvolve seu trabalho no Núcleo de Educação Popular Paulo Freire (NEP), ligado à Universidade do Estado do Pará. “No NEP, no início, nós desenvolvíamos o trabalho de Al• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

SETEMBRO 2014

fabetização de Jovens e Adultos e as atividades de educação popular com crianças e jovens. Depois passamos a alfabetizar em comunidades ribeirinhas. Agora já ampliamos isso e também desenvolvemos trabalho em alguns hospitais de Belém”, elenca a pesquisadora. Hoje, o núcleo é estruturado de forma interdisciplinar, e, além dos alunos de graduação em pedagogia da Uepa, conta com estudantes e pesquisadores do curso de letras, ciências da religião, filosofia e psicologia da universidade. Para Ivanilde, a educação popular envolve não só a população pobre, mas também deficientes,

negros e demais segmentos sociais historicamente excluídos. “A educação popular dá esse respaldo para se expandir. Mas para nós interferirmos com cada um desses segmentos, precisamos conhecer o outro”, explica, demonstrando um dos aspectos principais das suas pesquisas que é o de considerar o conhecimento prévio que cada um traz das suas diferentes vivências. Segundo Ivanilde, outra questão importante é “perspectiva humanizadora” da educação popular. “Colocamos em prática a afetividade, o respeito ao outro, para levar isso para nossas vidas”, ensina a professora.

30 anos


EU DISSE

APPLICATIVOS

“Uma região como essa é um paraíso para quem deseja pesquisar”

BOAS IDEIAS NUM TOQUE DE DEDOS

Paulo Sérgio Bernarde, biólogo da Universidade Federal do Acre (UFAC), sobre a diversidade de animais a ser pesquisada em seu Estado. (Portal G1 Acre)

GREEN GENIE Esse app oferece um apanhado de livros, sites e informações sobre reciclagem, sustentabilidade e meio ambiente. Com as dicas, é

FOTO: EMBRAPAEDU

“A Amazônia é o reino vegetal por excelência”

possível economizar dinheiro, como no uso do combustível, energia elétrica, água, gás e até alimentação. Todas as informações são fundamentas por especialistas. Plataforma: iOS

EVARISTO DE MIRANDA, ecólogo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), sobre a estimativa de que a floresta amazônica tem de 500 a 700 toneladas de matéria verde viva por hectare, incluindo caules, troncos e raízes. (Revista Superinteressante)

Preço: Gratuito

“A rádio-escola na Amazônia é a comunicação de transformação da sociedade através da educação”

TECNONUTRI Famoso aplicativo de auxílio nas dietas e alimentação saudável. Todas as informações são baseadas no Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, e nas diretrizes internacionais da Organização

Daniel Nardin, Secretário de Comunicação do Estado do Pará, sobre o projeto de rádio-escolas desenvolvido junto à Secretaria de Educação (Seduc). (Agência Pará de Notícias)

Mundial da Saúde (OMS). Com alarmes programáveis e construção de perfis de usuário, é possível saber a hora certa de comer bem. EUNICE PINTO / AGÊNCIA PARÁ

Plataformas: Android e iOS Preço: Gratuito

FIT BRAINS TRAINER Desenvolvido pelo neurologista americano Paul Nussbaum, da Universidade de Pittsburg, esse app visa ao estímulo de várias

“Até pouco tempo atrás achavam que o carimbó era uma bobagem, mas agora ganhou o mundo” DONA ONETE, cantora e compositora paraense, que gravou um programa na Rádio BBC, em Londres. (Site do Estadão)

regiões do cérebro e exercitar a memória, raciocínio e concentração, garantindo a saúde cerebral e qualidade de vida, além de melhor desempenho no trabalho e nos estudos. Há vários exercícios diferentes em forma de minijogos para usuários de todas as idades. Plataformas: iOS e Android Preço: Gratuito FONTES: PLAY STORE E ITUNES

SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •


COMO FUNCIONA

O cadastro biométrico nas eleições TEXTO E ILUSTRAÇÃO SÁVIO OLIVEIRA

Para evitar que pessoas mal-intenciona-

aumentar a segurança no processo de

Castanhal, Curuçá, Paragominas e Terra

quele ano. Em todo país, a expectativa

das votem no lugar de outras no dia das

verificação da identidade do votante por

Alta com 631.430 eleitores. Em 2012, os

é de que mais de 22 milhões de eleitores

eleições, o Tribunal Superior Eleitoral

meio de impressões digitais. No Pará,

moradores de Capanema, no nordeste

identificados por assinaturas digitais

(TSE) coloca em prática no Brasil, desde

o cadastro biométrico já foi realizado,

paraense, foram os primeiros do Estado

estejam aptos a votação neste ano para

2008, uma forma de identificação bio-

este ano, nos municípios de Peixe-Boi,

a terem os dados biométricos captura-

presidente da República, senadores, de-

métrica dos eleitores com o objetivo de

Ananindeua, Barcarena, Capitão-Poço,

dos já para as eleições municipais da-

putados federais e estaduais.

O PODER DO DEDO

Veja como ocorre o processamento da biometria para as eleições

1

O TSE autoriza a coleta de dados de cada eleitor dos municípios e o recadastramento eleitoral é feito. As informações biométricas são capturadas por um sistema de sensor, scanner e câmera chamado “kitbio”.

Impressões digitais, rosto, íris, assinatura ou voz podem ser coletados com objetivo de identificar e verificar identidade de cada pessoa. No caso das eleições, as digitais dos eleitores são registradas no TSE.

6

3

Após a confirmação do cadastro no banco de dados AFIS do TSE, os mesários encaminham o eleitor para a urna eletrônica, que está liberada para votação!

O processamento gera um template, uma espécie de modelo do registro. Cada eleitor possui um template único e totalmente seguro.

4

5

Os dados biométricos são transformados em arquivos digitais e processados em templates. Após as duas etapas iniciais, os registros são armazenados no banco de dados AFIS (Sistema Automatizado de Identificação por Impressões Digitais, em inglês) da Justiça Federal.

No dia das eleições, a digital do eleitor é comparada com o template no momento de apresentação na seção eleitoral. A verificação biométrica é feita pelos mesários e autorizada pelo sistema. 8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

2

SETEMBRO 2014

FONTE: FELIPE BRITO, SECRETÁRIO DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO PARÁ (TRE-PA) E SITE DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL


ARQUIVO / MUSEU GOELDI

FATO REGISTRADO

Uma câmera na mão e uma excursão pela frente do então Museu Paraense de História Natural e Ethnographia em direção à Taboca Grande, no alto rio Purus, no Amazonas. Ernest Lohse (18731930) era alemão e trabalhou no Museu entre anos de 1897 e 1911, além de um novo período no final da década de 1920. Ele era responsável pelas ilustrações científicas, mas também fez o desenho de prédios e recintos de animais do parque. Um trabalho que ainda pode ser visto no Arquivo da Coleção Fotográ-

O litógrafo-desenhista Ernest Lohse posa com sua câmera antes de seguir viagem para o alto rio Purus, no Amazonas

fica do Museu Goeldi. Já naquela época, os pesquisadores desbravavam A Amazônia em busca de conhecimento sobre a fauna e a flora, vestígios arqueológicos e sociedades da região. Os resultados dessas expedições pioneiras estão disponíveis em coleções de museus da Europa e no próprio Goeldi. O nome “Ernest Lohse”, na livraria do Museu, é uma homenagem. Era lá que funcionava o laboratório fotográfico em que o alemão trabalhou.

AS MISTERIOSAS PINTURAS DE MONTE ALEGRE

No dia 3 de janeiro de 1970, na edição de nº 5.684, o jornal O LIBERAL lançou nove cadernos especiais sobre a Amazônia, mostrando os diversos aspectos da região com reportagens e artigos sobre o setor empresarial, as ações do governo e os hábitos de quem vivia na maior floresta do planeta. A matéria “Segredos Indecifráveis da Serra de Monte Alegre Desafiando Pesquisadores” iniciava o suplemento falando sobre as pinturas rupestres no município de Monte Alegre, na região do Baixo Amazonas. O desenho de animais e contornos de mãos de ancestrais dos amazônidas nos interiores de cavernas chamavam a atenção e levantavam muitas hipóteses. Na época, foi um desafio para a equipe de reportagem chegar ao local sendo necessário superar atoleiros de areia, floresta e uma íngreme subida à serra. Graças às descobertas na caverna da Pedra Pintada, com cerca de 11,2 mil anos, a teoria sobre a ocupação da Amazônia afirma que o Homo sapiens chegou à região há 2 mil anos antes do que se pensava. REPRODUÇÃO / HELY PAMPLONA

O litógrafo-desenhista alemão “Ernest Lohse” hoje dá nome à livraria do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, mas já foi uma espécie de aventureiro na Amazônia no início do século XX. A foto de 1903 tem Lohse ao centro, ao lado de dois auxiliares e, ainda, o equipamento fotográfico, naquela época com um tamanho avantajado e operado em negativos de vidro. O registro, feito em uma plantação de palmeiras, é de uma excursão científica

LÁ VEM O ALEMÃO

DEU N’O LIBERAL

SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •


CURIOSIDADES DA BIODIVERSIDADE

Os “soldadinhos”, pequenos insetos voadores da família Membraciedae, costumam encantar e atrair olhares para o formato pouco comum das asas. Não há uma explicação oficial para o porquê do apelido, mas há quem acredita que o formato das asas do inseto lembra um capacete de soldado. Como são insetos dóceis e inofensivos se tornam, muitas vezes, uma diversão para crianças. Mas, para algumas pessoas, esses soldadinhos não estão sendo mais vistos com tanta frequên-

cia por aí. Conforme a arborização nas cidades vai diminuindo, fica mais difícil encontrar um soldadinho de plantão. Pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi, o entomólogo Fernando Carvalho Filho explica que ainda não se pode afirmar que as populações desses insetos estão desaparecendo do meio urbano. “Seria necessário um estudo para comprovar essa hipótese. No entanto, os soldadinhos, geralmente, são encontrados onde há as espécies de plantas das

CÉSAR FAVACHO

Soldadinho que não marcha só no quartel quais eles se alimentam, tais como castanholeira e matapasto. Portanto, se não houver a planta, não haverá o soldadinho”, diz Fernando. Ele conta que em outras regiões brasileiras, os insetos são chamados de “viuvinhas”, devido à cor preta e branca, e “papai-noel”, dado o formato da protuberância nas costas semelhante ao saco carregado pelo bom velhinho. De acordo com o pesquisador, os Membracidae são os únicos insetos

DE PLANTÃO

Os soldadinhos possuem uma protuberância sobre as costas, o que levou ao nome vulgar na Amazônia. Em outros lugares, também é chamado de “viuvinha” e “papai-noel”.

que possuem essa projeção sobre o corpo. Esses bichinhos são parentes próximos das cigarras e cigarrinhas. Mas diferente delas, não emitem nenhum ruído parecido. Encontram-se em várias regiões brasileiras e também em outros países das Américas.

ELES SE ACHAM INOCÊNCIO GORAYEB

LAGARTA COM JEITO DE FLOR Existe uma máxima na natureza:

parecem chamas e são em cores vi-

quando um animal é muito colorido

vas. Ela também é conhecida como

e com cores muito vivas em áreas

“taturana-gatinho”, pela aparência

tropicais - principalmente amarelo e

com a pelugem de um gato persa bem

preto -, está avisando que se trata de

felpudo. Para os especialistas, esses

um ser potencialmente perigoso aos

bichos também são confundidos com

seus predadores por ter algum me-

flores e pedaços de algodão.

canismo de defesa. Esse é o caso de

Essas lagartas depois se transformam

lagartas de duas famílias de Lepidop-

em mariposas. Seus pelos ou cerdas

tera que existem no Brasil: Megapygi-

contêm toxinas que queimam a pele,

dae e Saturniidae.

principalmente de crianças. Em caso

Uma das espécies é do gênero Poda-

de queimaduras, a área afetada deve

lia sp. (Megapygidae), chamada de

ser lavada com água corrente fria e

“lagarta-de-fogo”, já que as cerdas

procurar o atendimento médico.

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

SETEMBRO 2014

CHEIA DE NÃO ME TOQUES

Taturanas-de-fogo são confundidas com flores por animais e crianças


REPRODUÇÃO / ÁLBUM DE AVES AMAZÔNICAS

DESENHOS NATURALISTAS

CONCEITOSAMAZÔNICOS

AH, UMA UNHA DE CARANGUEJO NESSA HORA... Ingrediente principal de petiscos, de onde saem as “patolas” e o famoso “toc-toc”, o caranguejo-uçá, de nome científico Ucides cordatus, é um alimento típico dos almoços de fim de semana nos lares paraenses. Geralmente servida com o clássico arroz e feijão e, ainda, com vinagrete e farinha baguda para acompanhar, a carne do crustáceo também é bastante utilizada em uma iguaria que é típica da região: a unha de caranguejo, um salgado com recheio do crustáceo. Prepara-se a massa, em geral, de trigo, que vai envolver a carne do caranguejo, refogada e temperadinha. E, para completar, uma pata do caranguejo por cima,

Arapaçus sob a ótica dos antigos ilustradores da ciência descritas mais de 50 espécies de arapaçus com uma ampla distribuição: do sul mexicano à zona central da Argentina. A maior parte dessas aves ocorre na bacia do rio Amazonas, mas, em todo o Brasil, são 41 espécies. Dessa família, o pássaro mais recentemente descrito foi o arapaçude-carajás ( Xiphocolaptes carajaensis, Silva, Novaes & Oren, 2002). Essa espécie foi encontrada na serra dos Carajás, em Parauapebas, no Estado do Pará. Uma achado importante, já que quase todas as espécies brasileiras dessa família foram descritas entre 1783 e 1909, à exceção do arapaçuferrugem (Dendroplex kie-

BEM NO QUADRO

As primeiras famílias de arapaçus registradas na Amazônia estão no livro “Álbum de Aves Amazônicas”, de 1900

nerii, Zimmer, 1934). Habitantes das florestas tropicais, os arapaçus possuem patas fortes e garras próprias para subir nos troncos das árvores. A cauda evoluiu conforme a vida arborícola, se tornando um trio de penas rígidas com pequenos ganchos. Os ninhos ficam nas cavidades das árvores; na dieta, insetos, pequenos anfíbios e répteis, e ainda frutos e sementes, em caso de escassez de alimentos. Essas aves também estão em detalhes na obra “Aves do Brasil: Uma Visão Artística”, em que o pesquisador Tomas Sigrist opta pela antiga tradição de pintores naturalistas para retratar a natureza.

Belém, é fácil encontrar o salgado em restaurantes, bares, lanchonetes e, também, vendidos por ambulantes nas esquinas da cidade. Sem falar que faz o maior sucesso nas praias. Patas pra que te quero! E o curioso é que o termo, que designa a “coxinha de caranguejo”, é endêmico da Amazônia, igual pitiú e égua: não se encontra fora daqui. A unha é uma iguaria tão versátil ao paladar, que pode ser degustada com café preto, refrigerante, suco ou a seco. Para uns, o molho de pimenta é indispensável.O salgado, que já deu abertura para outras experiências gastronômicas, como a “unha de camarão”, é tão popular por aqui que “a gente só come se vier do caranguejo”.

SÁVIO OLIVEIRA

A arte na ciência era responsabilidade de profissionais, como os litógrafo alemão Ernest Lohse, que assina as ilustrações da prancha 21 do “Álbum de Aves Amazônicas”, organizado pelo naturalista e zoólogo Emílio Goeldi, em versões bilíngues: alemão e português. O álbum foi publicado entre 1900 e 1906, pelo então Museu Paraense de História Natural e Ethnografia, hoje Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG). E as musas da pintura são os arapaçus, pertencentes à família Dendrocapaptidae, hoje chamada família Furnariidae, sub Dendrocapatinae. Já foram

que nem cereja de bolo. Aí é só fritar. Em

SETEMBRO 2014

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •


EM NÚMEROS

É DIA DE FEIRA

O MERCADO GRANDE EM TUDO TEXTO VICTOR FURTADO FOTOS MÁRCIO EUCLIDES

O Ver-o-Peso é o maior mercado livre da América

produtos, que vão de alimentos a artesanatos,

Latina e um dos mais icônicos e conhecidos pontos

a preços ao gosto do freguês. O Ver-o-Peso é um

turísticos do Pará. Tem 387 anos de existência,

ponto de encontro de trabalhadores, turistas e

tendo surgido, ainda como uma simples feira, 13

feirantes com a cultura local. Negócios são gerados

anos após a fundação de Belém, em 1616.

e que fortalecem a economia da cidade, integram

Ele é uma referência devido à quantidade de

ribeirinhos e apertam os laços com os visitantes.

VALE QUANTO PESA

Veja os números que movimentam a maior feira a céu aberto da América Latina

10 8 50 MIL

MIL

pessoas passam todos os dias pelo local

1.232 feirantes trabalham no Ver-o-Peso

• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

empregos diretos e indiretos

MIL

fregueses fazem compras diariamente no mercado

500 TONELADAS

de produtos são vendidas todos os dias

1,3 MILHÃO

é injetado todos os dias na economia

do Estado graças ao Ver-o-Peso

SETEMBRO 2014


30

PARA VER O PESO

Inaugurado em 1901, o mercado é um dos mais antigos do Brasil em atividade

5

1

Feira do Ver-o-Peso: É a feira principal e com a maior variedade

2

ONDE SE VENDE DE TUDO

MIL M2 DE ÁREA

setores dividem o Ver-o-Peso Mercado de Carne Francisco Bolonha: Reforma do antigo

3

Mercado de Peixe: Tem esse nome apenas por ser o princi-

4

pal ponto de

Feira

Saiba com o que trabalham os feirantes da feira

334

do Açaí: Principal

com hortifrutigranjeiros

entreposto

225

de venda do fruto

de produtos, entre horti-

mercado, com arqui-

venda de peixes frescos,

açaí puro em paneiros.

frutigranjeiros, artesa-

tetura renovada e hoje

resfriados e congelados.

De lá saem toneladas de

nato, lanches, refeições,

abrigando açougueiros

Há também camarão e

açaí para toda a Região

açaí batido, animais,

que vendem carnes de

alguns mariscos. Porém,

Metropolitana de Belém

produtos para animais,

primeira e segunda den-

apesar do pescado, ao

e para o próprio Ver-o-

artigos de jardinagem,

tro dos padrões exigidos

redor havia boxes de

Peso no atacado. Há ou-

polpas de frutas e bares

pelas autoridades de

produtos de umbanda,

tras frutas fornecidas no

e abriga um complexo

saúde e vigilância sani-

mercearias, armarinhos

atacado para feirantes,

turístico, com bancos e

tária. Há também boxes,

e bares. A maioria foi

mas o açaí é o principal

vista para o rio. É lá tam-

dentro e fora, de venda

transferida para o chalé,

produto comercializado.

bém que encontram-se

de antiguidade, lanches,

antigo Museu do Índio.

as típicas vendedoras de

armarinhos, mercearias e

ervas, as erveiras.

restaurantes.

com refeições

158 com frutas

153

com industrializados

80

com produtos medicinais

65

com mercearia

5

46

Pedra do Peixe: Local

com camarão

37

de venda de peixe

com farinha

fresco, carne

25

e outros produtos trazidos por ribeirinhos, pescadores

com maniva

e pequenos produtores.

16

Contudo, o pescado é o principal, vendido no

com artesanato

12

atacado e distribuídos para feirantes, restaurantes e supermercados.

com raízes

12

com peixe seco

10

com polpas e congelados

6

com jardinagem

6

com tucupi

2

com artigos para pássaros FONTE: SECRETARIA MUNICIPAL DE ECONOMIA DE BELÉM (SECON), DEPARTAMENTO INTERSINDICAL DE ESTATÍSTICA E ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS (DIEESE), INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN) E UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ (UFPA) SETEMBRO 2014

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OLHARES NATIVOS

窶「 REVISTA AMAZテ年IA VIVA 窶「

SETEMBRO 2014


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O caminho dourado na estrada de Vigia Quando amanhece em outro lugar nunca é igual ao começo do dia dentro da própria casa. A viagem pinta a manhã de outra cor, o ar que é sempre mais fresco e perfumado. Se é azul é muito mais azul do que na memória recente de onde se estava. O amarelo é ouro em pó flutuando pelo vento, o que jamais se vê na rotina da janela do quarto de dormir. Fora da repetição diária de acordar sob o mesmo teto, o verde da árvore ideal se apresenta, o verde que está nos sonhos, nos desenhos das crianças, de quando pensamos na cor das folhas sem vê-las. A realidade só vai tomar conta do cenário de novo quando o sol estiver alto o suficiente para senti-lo na pele. Então, o lusco-fusco das primeiras horas se dissolve para que a estrada torne a poeira incômoda novamente aos olhos e as cores de verdade entrem na paleta comum que pinta a repetição dos dias. Na imagem, o flagrante preciso da cor e textura da alvorada no caminho de Vigia de Nazaré, na região nordeste do Pará. FOTO FERNANDO SETTE

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OLHARES NATIVOS

Será que dois bicudos não se beijam mesmo?

A natureza conforma aos bicudos variadas formas de demonstração de afeto. Mesmo que desajeitados, eles quebram as impossibilidades do jeito que dá, seja no alimento ou no afeto que até parece briga de casal. Os sabiás encontraram uma forma espantada de darem de comer um ao outro. Já os maguaris do Mangal das Garças, de forma desengonçada, trocam carícias à beira da lagoa. FOTOS HELY PAMPLONA

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A inocência no olhar do garoto O olhar enigmático, a camisa anacrônica, o microfone de miriti nas mãos. A imaginação não tem limite nem hora. Ninguém pode negar ao menino, morador de umas das comunidades à beira da estrada de Bragança, que ele não é um cantor nem segurar o canto quando sua voz se expandir livre e potente. Basta que ele queira e será. FOTO CARLOS BORGES

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OLHARES NATIVOS WWW.EXPEDICAOPARA.COM.BR

A harmonia se reveste da cor azul A geleira da solidão encontra seu oposto na dimensão azulada da manhã que anuncia mais um dia. Entre a escuridão e a luz, a cor contorna o cenário da baía de Guajará transformando o rio em imensa lâmina de cobalto adornado pela cidade ao fundo. FOTO FERNANDO SETTE

A felicidade pode bater a sua porta Símbolos de evolução ou de dificuldades dependendo dos que nelas batem ou com elas se deparam. Diante de tanto simbolismo uma porta azul no bairro da Cidade Velha, em Belém, pode dizer muito sobre o que está por vir. É mansidão e felicidade juntas na mesma batida. FOTO CARLOS BORGES 8 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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O dom criador do artífice As mãos calejadas, vívidas, hábeis, cruas na massa disforme é prenúncio do novo. Ásperas, maciças, inteligentes, delas nascerá qualquer coisa. Nada será como antes depois do toque das ferramentas que aproximam o homem da divindade através da possibilidade sacrohumana da criação. Na imagem, um ceramista de Icoaraci trabalhando a pleno vapor. FOTO FERNANDO SETTE

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OLHARES NATIVOS

Torcedores do Brasil na natureza Como não se alegrar quando a natureza força os olhos para lembranças e referências tão nossas. Como não se surpreender com uma raridade da entomológica que parece torcer para o Brasil? Pequeninos besouros, autênticos torcedores, em carapaças verdeamarelas, quem diria. FOTO HELY PAMPLONA

Envie as suas fotos para a seção Olhares Nativos • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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Para participar da seção “Olhares Nativos” da revista Amazônia Viva basta enviar fotos com temática amazônica para o email amazoniaviva@orm.com.br acompanhadas pelo nome do fotógrafo, número de identidade e uma breve informação sobre o contexto da obra. As fotografias devem ser autorais e com resolução de no mínimo 300 dpi. A publicação das imagens tem fins meramente de divulgação, não implicando em qualquer tipo de remuneração aos fotógrafos. Participe!






OPINIÕES, INICIATIVAS E SOLUÇÕES ROBERTA BRANDÃO

IDEIASVERDES

DE CARA PINTADA

UMA CURIOSA E DIVERTIDA TRADIÇÃO SE MANTÉM VIVA NO NORDESTE PARAENSE. OS PRETINHOS DE SANTARÉM NOVO LEVAM PARA AS RUAS DA CIDADE A DISCUSSÃO SOBRE O RESPEITO E A ATENÇÃO À INFÂNCIA. PÁGINA 50

LÁ DO MARAJÓ O historiador Agenor Sarraf Pacheco defende a criação de novas política públicas para os marajoaras. PÁG.36

BOM APETITE Chefs paraenses divulgam e aperfeiçoam a gastronomia amazônica, que cada vez mais seduz o Brasil e o mundo. PÁG.38

METRÓPOLE VERDE Belém é conhecida por ser uma cidade arborizada, mas nem todas as árvores são tipicamente regionais. PÁG.46

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OUTRAS CABEÇAS

A

região marajoara é uma das áreas mais famosas e emblemáticas dentro do território amazônico, seja por sua presença em roteiros turísticos quanto pelo baixo índice de desenvolvimento humano (IDH) registrado em alguns municípios e divulgado pela imprensa e órgãos oficiais nos últimos anos. No entanto, esses dois aspectos são insuficientes para compreendermos a complexidade do lugar. Para o pesquisador e educador Agenor Sarraf Pacheco, doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e professor do primeiro Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará (UFPA) localizado no Marajó, a região, a qual denomina “Amazônia Marajoara”, precisa ser entendida a partir de suas particularidades histórica e cultural. Segundo ele, que é natural de São Miguel dos Macacos, a 12 horas de viagem de Breves, essa é a única forma de se alcançar um desenvolvimento pleno para a população. Quais são as questões sobre a região do Marajó que precisam ser mais discutidas e conhecidas? É importante compreendermos o que é a região marajoara, esse grande arquipélago. Historicamente, se construiu uma ideia de “Ilha do Marajó”, o que, para mim, não foi benéfica para as representações que se estabeleceram sobre a região. A palavra “ilha” traz a ideia de “ilhamento”. Mas quando estudamos a História da Amazônia, e discutimos o desenvolvimento da região, notamos que o Marajó é sempre muito importante, pois por dentro dele passaram pessoas, embarcações, equipamentos, ideias. Tudo isso transformou esse arquipélago em uma grande zona de contato que conecta a Amazônia ao Atlântico, à Europa, à África, à Ásia e também ao Maranhão, Belém, Cametá, Gurupá, Macapá e Guiana Francesa. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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“O MARAJÓ É UMA ZONA DE CONTATO” O HISTORIADOR AGENOR SARRAF PACHECO DEFENDE UM MODELO DE DESENVOLVIMENTO QUE VALORIZA A POPULAÇÃO MARAJOARA, PARA QUE ELA NÃO SEJA VISTA APENAS COMO UMA COMUNIDADE DE RIBEIRINHOS ILHADOS EM UMA VASTA REGIÃO


Como a relação entre esses lugares está presente na história do Marajó? Ao longo da história, houve grande contato com o arquipélago, seja pela navegação por dentro do rio Pará, do estreito de Breves, ou por fora, pelo oceano Atlântico ou o rio Amazonas. Esse fluxo de pessoas e embarcações sempre foi intenso. Por isso, é necessário implodir a ideia de “ilha ilhada”. A região deve ser pensada como um local estratégico, que tem um potencial turístico, patrimonial e uma grande diversidade de paisagens, de histórias de colonização e de pessoas. É preciso olhar para o lado mais exótico, mas também para os aspectos mais internos da região. Nos seus 16 municípios, nas suas 16 diversidades, que têm pontos semelhantes e pontos diferentes. Quais são as diferenças entre os municípios que devem ser consideradas? Não podemos comparar, por exemplo, a geografia, a história e a constituição da população do lado de campos com o lado de florestas. Enquanto no lado campestre predominou uma cultura bovina, dos búfalos, da presença dos negros, de pesqueiros em alto-mar, do lado florestal predominaram as drogas do sertão, a borracha, a extração da madeira, do palmito, da pesca de água doce. A composição populacional dessa região é muito diversa. Quais as são as consequências da ideia de ilhamento para a região? Essa representação causou a impressão de que a região marajoara é uma terra distante e paradisíaca. Esse discurso serviu para a criação de justificativas a cerca de uma suposta dificuldade de se implantar políticas públicas, de conceder ao marajoara o direito de acessar recursos do governo federal e estadual. Penso que, com vontade política, você supera qualquer determinismo geográfico, qualquer barreira física. Um exemplo: o município de Breves acabou de receber, na Amazônia marajoara, o primeiro programa de pósgraduação, de doutorado em Antropologia. O discurso da dificuldade geográfica como desculpa deve ser superado.

“É necessário implodir a ideia de ‘ilha ilhada’. A região deve ser pensada como um local estratégico, que tem um potencial turístico, patrimonial e uma grande diversidade de paisagens” Qual é o principal erro do modelo de desenvolvimento cobrado para a Amazônia? Geralmente, quando se pensa em desenvolvimento, se parte de três princípios: renda, longevidade e educação. O aspecto cultural é silenciado e negligenciado. Isso resulta em um padrão internacional de desenvolvimento humano que não leva em consideração as diferentes realidades. O ribeirinho marajoara que mora no interior do município de Melgaço ou do município de Santa Cruz do Arari, por exemplo, que tem sua roça, sua área de pesca, o seu remo, para o IDH ele é simplesmente um analfabeto. Mas até que ponto as letras são importantes para um homem que lida cotidianamente com a floresta? Ele é um sábio da floresta. Ele tem uma sabedoria transmitida oralmente de pai para filho. É claro que é importante que ele seja alfabetizado para conhecer seus direitos no mundo de hoje. Mas, muitas vezes, a educação que chega até ele desconsidera a sua formação cultural. E acaba o taxando de incivilizado e de subdesenvolvido, o desqualificando.

Qual seria o desenvolvimento apropriado para a população marajoara? É preciso primeiro conhecer a formação da região e suas diversidades socioculturais. Entender suas práticas religiosas, econômicas. Toda política pública não pode ser pensada de cima pra baixo. O segundo ponto é dialogar com a população e debater sobre os seus interesses e necessidades. É preciso promover um “desenvolvimento” que não condene mais uma vez essas pessoas, ao dizer que elas são atrasadas e subdesenvolvidas. É preciso valorizar o patrimônio e os conhecimentos locais. Eu penso que é dessa maneira que o desenvolvimento local vai acontecer. Para o senhor, quais são as particularidades mais importantes? Hoje se fala muito de desenvolvimento com sustentabilidade. Esse desenvolvimento depende muito dos saberes locais. O que essa população sabe, por exemplo, sobre o regime das águas, o tempo de plantar e colher, o tempo de descanso é muito importante. São essas pessoas que conhecem toda a geografia e dinâmicas sociais da região. Hoje, ainda se tem uma visão muito economicista e muito apartada dessa realidade. Além de pesquisador, o senhor também é professor. Quais são as características que um educador deve ter para contribuir com o desenvolvimento do Marajó? Hoje, no Marajó, os estudantes terminam apenas o Ensino Médio. Então, o jovem que mora na cidade, para que ele possa ter um emprego, geralmente recorre aos setores de educação dos municípios para dar aula no campo. O problema é que quando ele chega, ainda não possui uma formação pedagógica para ensinar, embora as secretarias lhe repassem informações técnicas. Ele precisa possuir uma formação sensível a esse mundo rural para não fazer com que os seus alunos se desestimulem e ser capaz de fazer a transposição entre o conteúdo do livro didático e a realidade social. Precisa, também, trazer as tradições orais locais para a sala de aula. SETEMBRO 2014

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ASSUNTO DO MÊS

A ESSÊNCIA DO SABOR AMAZÔNICO

A GASTRONOMIA À BASE DE ERVAS, FRUTOS E CARNES DA REGIÃO GANHA UM CRESCENTE NÚMERO DE APRECIADORES E PROFISSIONAIS DA ALTA CULINÁRIA. A COZINHA PARAENSE TAMBÉM NUNCA ESTEVE TÃO BADALADA NO PRÓPRIO ESTADO. TEXTO FERNANDA MARTINS FOTOS IGOR MOTA

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TÍPICOS INGREDIENTES

Produtos regionais como o mel silvestre, o cumaru, flores de hibisco amazônico e a batatinha ariá estão chegando à mesa do Brasil e do mundo

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ASSUNTO DO MÊS

“Q

uem vai ao Pará, p a r o u .To m o u açaí, ficou”, canta o mestre do carimbó Pinduca desde 1979. O refrão é um dos mais populares da região e não é o único a fazer referência à atrativa alimentação local. A gastronomia de qualquer lugar é um fator importante da cultura, mas no Pará essa relação ganha força com sua culinária cheia de cores, aromas e sabores e que conquista cada vez mais apreciadores de fora do Estado. O reconhecimento de renomados chefs do Brasil e do mundo levou a culinária paraense a uma redescoberta do potencial de paladares que a Amazônia já oferece há séculos. Hoje, ingredientes e preparos regionais saem da mesa do caboclo diretamente para a alta cozinha internacional, em misturas trazidas à tona ou reinventadas em uma nova estética, que revelam o Pará como uma rica e excitante rota do turismo • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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gastronômico internacional. Com o trabalho dos jovens e criativos chefs paraenses, que, constantemente, divulgam a culinária regional, produtos, como açaí, cupuaçu, tucupi e dezenas de variedades de farinhas de mandioca, foram incorporados aos menus de restaurantes conceituados dentro e fora do Brasil. E não é apenas o sabor que destaca o ingrediente amazônico dos demais. “A gastronomia do Norte é muito bela e não é parecida com nada que se tenha visto. Não é o produto, mas toda a cadeia de produção. Cada item tem uma história, uma técnica própria, artesanal e sustentável”, opina Felipe Castanho, que, com o irmão Thiago Castanho, comanda o restaurante Remanso do Bosque. Para eles, no processo de criação gastronômica local nada é desprezado. Flores, folhas, raízes e essências são testadas, misturadas e incorporadas em novas composições que pareciam impossíveis ou impensáveis, diante de sua elegante simplicidade. Como, por exemplo, o

ariá, um tubérculo amazônico que faz parte da alimentação de quem mora no interior do Estado. Com o exterior semelhante a um inhame, a batatinha regional reúne o sabor do milho e a textura da castanha-dopará. Ela também foi acrescentada ao menu do Remanso do Bosque, onde é servida tanto em sobremesas, acompanhados de caldas doces, quanto em pratos principais. O ariá possui composição nutricional comparada à batatinha portuguesa, embora a qualidade da sua proteína seja muito superior, considerando os níveis de aminoácidos essenciais que a compõem. “O ária, no interior, é muito comum, mas em Belém quase ninguém conhece. Infelizmente, na capital, a batata que vem de fora é mais acessível do que essa que é natural da região”, observa Thiago Castanho. “Para tentar mudar isso, fazemos um trabalho de pesquisa da tradição nos municípios do Pará. Coisas antigas, que vemos que estão se perdendo, tentamos trazer de volta”, completa. Ele

IRMÃOS NA COZINHA

Conhecidos por pratos regionais saborosos e criativos, os chefs Thiago e Felipe Castanho pesquisam as tradições culinárias do interior do Estado para reinventar os sabores da Amazônia


destaca também o chocolate que é produzido na ilha do Combu, a 15 minutos de Belém. Ali, o produtor usa tanto o cacau para fazer o chocolate tradicional, quanto o cupuaçu, que produz uma espécie de chocolate de sabor delicado e que também já possui muitos apreciadores do gostinho regional. A baunilha, ingrediente chave para o preparo de doces refinados, também tem sua versão amazônica: o cumaru. Assim como a noz-moscada, se utilizado em grande quantidade, pode apresentar um nível de toxidade, porém, apenas uma pitada é suficiente para adicionar novas nuances a uma preparação. “O cumaru virou febre em São Paulo. Lá, a semente é comercializada por até R$ 150 o quilo. Aqui, direto com o produtor, conseguimos a mesma quantidade por cerca de R$ 15”, compara o chef Eduardo Leão, que junto com o pai, Sérgio Leão, comanda a cozinha do restaurante Benjamin. Para aqueles mais puristas, a orquídea Vanilla planifolia também possui uma subespécie radicada em terras paraenses. No município de Tomé-Açu já existe produção considerável das favas de baunilha, toda voltada para a exportação. “O sabor não deixa em nada a desejar para as favas produzidas em regiões tradicionais como México e Madagascar”, garante o chef Thiago Castanho. O acesso aos diversos incentivos oferecidos por programas federais e estaduais à agricultura familiar é a chave para que a produção de ingredientes amazônicos atinja o nível necessário para atender a demanda crescente. “Os programas já existem, mas quando você conversa com o fornecedor, que é um agricultor familiar, você percebe que aquilo parece muito distante dele. Acredito que ter isso mais próximo, ao invés de informações em campanhas de divulgação, pode ser muito mais positivo para o setor”, opina Eduardo Leão. No entanto, a falta de pesquisa científica sobre os itens usados na Amazônia ainda é um entrave para uma ampliação maior da gama de produtos culinários. “Por que temos que usar azeite de oliva na Amazônia? Temos óleos maravilhosos, como o de pacauá, de tucumã ou de cupuaçu. Nossas universidades pesquisam pouco isso”, argumenta Joana Martins, do restaurante

DE COMER COM OS OLHOS

Pratos, como a sobremesa de bacuri com sagu de hibisco e raspas de chocolate do Combu, valorizam os sabores regionais. O ariá, que substitui a batatinha inglesa, é usado tanto em doces quanto em outros tipos de pratos.

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ASSUNTO DO MÊS

COM ÁGUA NA BOCA

VEJA COMO ALGUNS DOS MAIORES CHEFS DO BRASIL E DO MUNDO VALORIZAM OS INGREDIENTES DA CULINÁRIA PARAENSE DIVULGAÇÃO

HENRIQUE FELICIO / ARQUIVO O LIBERAL

ALEX ATALA

JUAN MARI ARZAK

Conhecido como o chef número 1 do Brasil, é

O espanhol chefia a cozinha do Arzak, eleito 8º

considerado o maior divulgador da gastronomia

melhor restaurante do mundo em 2013 na lista da

amazônica no cenário mundial. Em seu restaurante

tradicional revista britânica Restaurant e é inspiração

em São Paulo, o D.O.M., Atala serve diversos pratos

de muitos novos nomes da gastronomia mundial. Ele

com ingredientes da Amazônia. Em um banquete

também se derrete pelos ingredientes amazônicos.

servido em seu restaurante, durante um encontro

Já esteve em Belém e ficou muito entusiasmado com

com os maiores nomes da cozinha no mundo, ele

o processo de manufatura artesanal da farinha de

decidiu inovar com um prato à base de turu, molusco

mandioca. O sabor, a textura e o perfume das frutas

típico dos mangues de Vigia, município do nordeste

locais foram cuidadosamente registrados pelo chef

paraense.

em seu caderninho de anotações. EL BULLIS / DIVULGAÇÃO

IGOR MOTA / ARQUIVO O LIBERAL

CLAUDE TROISGOS

FERRAN ADRIÀ

Há 32 anos, o chef francês iniciou a investigação de

Maior nome da cozinha mundial na atualidade, o

produtos brasileiros, até então não utilizados pela alta

chef espanhol veio a Belém pela primeira vez em

gastronomia, como principal fonte de criação para

2008 e ficou impressionado com a qualidade dos

suas receitas. Desde aí, ingredientes como o cupuaçu,

pratos e com os sabores locais. Ele encontrou uma

o açaí e a mandioca entraram para o menu de seu res-

afinidade especial com as frutas amazônicas. Em

taurante Olympe, no Rio de Janeiro. No cardápio, tem

especial o muruci e o taperebá. O jambu, apre-

pratos como o salmonete crisp com pirão de tucupi e

sentando a Adrià por Paulo Martins anos antes

dedo-de-moça ou as vieiras grelhadas, acompanha-

daquela visita, já era classificado pelo espanhol

das de carpaccio de palmito, doce de leite e farofa

como algo inédito no mundo pela sensação única

de pupunha. Em seu programa de televisão, o Menu

que causa na boca. O chef também levou para a

Confiança, no canal a cabo GNT, o francês já ensinou a

Europa a mandioca fresca para fazer experimenta-

receita de uma paella de carnes e camarões com açaí.

ções com os processos de criação da farinha.

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Lá em Casa. Ela e a irmã Daniela, filhas do chef Paulo Martins, morto em 2010, estão em parceria com uma indústria que atua na produção de óleos amazônicos. “Muitos já estão em uso na indústria de cosméticos, como o óleo de cupuaçu ou de buriti. Queremos conhecer as possibilidades culinárias e a segurança alimentar deles, para isso, o auxílio da pesquisa é fundamental”, completa Daniela. Por meio do Instituto Paulo Martins, outros produtos regionais também passam por análises e estudos de viabilidade. Diante das novas possibilidades, o tradicional também passa pela reinvenção e reaplicação culinária. A mandioca faz parte dessas experimentações. Matéria-prima do tucupi, da maniva, da goma e de diferentes farinhas, a raiz teve antigos usos resgatados. Exemplo disso é o arubé, um molho cremoso com textura que lembra a mostarda e um sabor acentuado de tucupi. Na última edição do evento gastronômico Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, o molho dourado encantou os chefs convidados e integrou diversos pratos elaborados por eles. As experiências com o pajuaru, bebida alcoólica feita a partir do beiju torrado da mandioca brava, também ressurgiram à mesa regional. Todos esses processos, desenvolvidos e aperfeiçoados pelos indígenas há centenas de anos, ganham ajustes e retoques das modernas técnicas culinárias, tornando o produto final ainda mais marcante.

MUDANÇA DE HÁBITO

O peixe gordo assado na brasa para o domingo. O açaí para terminar o almoço. O creme de cupuaçu de sobremesa. A pupunha cozida e café preto no final da tarde. Esses hábitos gastronômicos são parte da rotina de qualquer paraense que se preze, mesmo os que dizem não gostar de tacacá ou que a maniçoba “não enche os olhos”. No entanto, essas “joias da


PARA POR A MÃO NA MASSA

Herdeiras do famoso chef Paulo Martins, Joana e Daniela incentivam pesquisas acadêmicas sobre a culinária paraense. É das mãos delas que surgem pratos como a castanhada, uma espécie de cocada à base de castanha-do-pará, e o “haddock paraense”, feito com gurijuba da região do nordeste do Estado. Para as irmãs, frutos regionais e peixes amazônicos têm um grande potencial à mesa dos restaurantes locais se convertidos em novas receitas.

culinária” permaneceram como “coisa nossa” durante séculos. Até que um “chef desbravador” percebeu o ineditismo e o potencial dos sabores da Amazônia. Paulo Martins foi o responsável por reapresentar a culinária local não só ao mundo, mas aos próprios paraenses, ficando conhecido como o “embaixador da cozinha do Pará”. “O conceito de gastronomia paraense surgiu no trabalho dele por uma demanda dos turistas que frequentavam o nosso restaurante. Sua proposta original era oferecer uma comida caseira, mas quem vinha de fora acabava perguntando pelas coisas mais típicas da região”, conta Joana Martins, que com a irmã Daniela, dá seguimento ao trabalho iniciado pelo pai no restaurante Lá em Casa. Foi então que o chef começou a se aventurar nas criações de pratos, fazendo algo diferente do tradicional e dando uma roupagem moderna ao preparo e à apresentação das comidas. O primeiro “invencionismo” dele foi o arroz com jambu, ainda nos anos 80. Simples como todas as coisas geniais, a mistura do arroz comum com a peculiar “erva que faz tremer a boca” de cara conquistou o paladar dos visitantes. As produções, entretanto, sempre foram focadas no público de fora. Os paraenses só começaram a perceber a riqueza da culinária local quando essas receitas receberam um tratamento internacionalizado e reconhecimento dos chefs badalados. As filhas de Paulo Martins contam um exemplo emblemático desse comportamento local: Nos anos 90, o chef decidiu adicionar ao cardápio um prato à base de gurijuba defumada, considerado por ele uma de suas melhores criações. Apesar disso, a iguaria foi um fiasco de vendas. Um dia, um amigo de Paulo observou a semelhança no sabor e textura do pescado amazônico defumado com o haddock, peixe europeu bastante utilizado na alta gastronomia. Irritado com a resistência dos consumidores locais, o chef decidiu rebatizar o prato, que ganhou um nome SETEMBRO 2014

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ASSUNTO DO MÊS

mais glamoroso: “Haddock Paraense”. “Na descrição constava apenas o nome do prato. Depois disso, começou a vender bastante. Foi quando ele percebeu que, de fato, existia uma espécie de preconceito local com as comidas consideradas populares”, lembra Joana Martins. Esse comportamento do consumidor também é observado pelos irmãos Thiago e Felipe Castanho. “Parece que as pessoas resistem muito em provar o que é tido como popular, que alimenta as classes mais baixas”, analisa Thiago. Em seu Menu Degustação, há alguns meses existe um prato à base de mapará, outro peixe relativamente barato e bastante consumido pelo caboclo paraense. “As pessoas dizem coisas do tipo ‘ouvi falar que é um peixe pitiú’ ou ‘me disseram que esse peixe é ruim’. Porém, quando provam, percebem que não é nada disso. Nunca recebi uma reclamação desse prato”, conta Thiago Castanho. No Benjamin, Eduardo Leão também percebe a resistência, que ele atribui ainda a uma espécie de receio aos novos sabores. “Muitas pessoas se fixam aos paladares mais familiares. Por isso, eu costumo observar os clientes e sempre ofereço algo que possa ‘desafiar’ esse gosto ou ideia pré-concebida sobre algum ingrediente. Geralmente, o prato oferecido ganha um novo adepto”, diz.

PECULIARIDADE

Quem trabalha no ramo da gastronomia acredita que há limites para a globalização da comida amazônica. “Muitos ingredientes têm uma durabilidade pequena, como é o caso da castanha-do-pará fresca e do fruto da pupunha. Hoje, ainda não é possível driblar esse problema, então, esses itens acabam sendo uma grata surpresa para o visitante”, conta Joana Martins. Esse agradável espanto no consumo da castanha fresca levou Daniela Martins a desenvolver um prato que hoje faz sucesso em seu restaurante: a castanhada. “É basicamente uma cocada, mas ao invés do coco, usamos a castanha-do-pará”, diz. A enorme variedade de espécies de peixes da Amazônia, ainda pouco conhecidas fora do Estado, à exceção do filhote, tam• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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GOSTINHO BEM PARAENSE

O filé de filhote com farofa de piracuí e banana-da-terra com velouté de tucupi é um dos principais pratos com sabor regional preparados por Eduardo Leão. “Os peixes daqui são diferenciados”, afirma o chef


ARQUIVO PESSOAL

bém esbarra em problemas para sua popularização fora da região. “Os peixes daqui são diferenciados, mas, por enquanto, não vejo como a produção local poderia exportar essas espécies mantendo um padrão de qualidade. Já existem excelentes empresas atuando no mercado do peixe e no futuro poderá ser possível, hoje, não há escala suficiente para isso”, avalia Eduardo Leão. Também existe, entre os especialistas, o receio de que a exportação dos produtos paraenses de forma inadequada possa estragar a experiência do consumidor local. “A produção em larga escala pode descaracterizar um produto. Um exemplo disso é o açaí. Quem vem de fora acredita que ele é aquele xarope doce vendido lá fora. As pessoas precisam conhecer o alimento de verdade, o que ele significa para aquela população e como ele é de fato”, opina o chef Felipe Castanho. Para Joana Martins, tanto governos quanto o empresariado precisam se mobilizar mais para ajudar o setor a crescer no Estado. “O momento é agora. Amazonas, Amapá e Acre já estão trabalhando fortemente nisso. Vamos fazer um esforço em plantar agora para que possamos colher depois”, afirma a chef. Os chefs paraenses que atuam com frequência fora do Estado têm uma visão mais nítida do quanto a gastronomia paraense está em alta. “Praticamente todos os restaurantes de chefs renomados no Brasil já utilizam algum ingrediente amazônico em seus menus. Também acredito que a hora é agora. O Pará está na crista da onda da gastronomia e precisamos aproveitar esse momento”, diz Eduardo Leão, ao saborear o futuro da culinária da região.

ANTIGA GASTRONOMIA

O CHEF OFIR OLIVEIRA LEVA À MESA A ALIMENTAÇÃO CABOCLA DOS TEMPOS DA COLONIZAÇÃO DA AMAZÔNIA Pode parecer que a rica gastronomia do Pará começou

lizo aquilo que é tradicional, secular”, explica.

a ser consumida somente no século passado. Mas

Ofir começou a colecionar as receitas e modos de

receitas, processos e ingredientes utilizados nas

preparo da época do descobrimento do Brasil, onde

modernas preparações de hoje têm raízes no período

se pode observar claramente o início da fusão entre

pré-colombiano. A miscigenação iniciada na coloniza-

costumes indígenas e portugueses, que mais tarde

ção portuguesa originou misturas inusitadas, muitas

se tornariam legitimamente paraenses. “Li relatos

dessas perdidas no decorrer da História.

de como se fazer uma ‘pescalhoada’, que nada mais

Com o objetivo de resgatar esse passado gastronômi-

era do que uma tradicional bacalhoada feita com a

co, o historiador e chef Ofir Oliveira vem colecionando

pescada, peixe abundante na nossa costa paraense.

receitas amazônicas registradas desde o tempo do

Ainda entre os pratos com peixes, também tinha o

descobrimento do Brasil. O resultado de anos de

‘maparenque’, ou seja, mapará defumado, que para

pesquisa deve resultar em um livro de receitas que se

os colonizadores lembrava o arenque”, exemplifica o

tornará mais um presente para a capital paraense em

chef, ao citar também o “foie gras de tamuatá”, que

seus 400 anos, no dia 12 de janeiro de 2016.

substituiu o fígado de pato pelo peixe, considerado,

Em suas pesquisas, Ofir fez uma jornada pela história

pelos portugueses, gordo o suficiente para uma troca

da gastronomia regional. Ele estudou centenas de es-

à altura. O arroz-dos-navegantes, com receita datada

critos antigos, do início das excursões portuguesas no

de 1489 semelhante a uma paella, é outro prato que

SAIBA MAIS

então Estado do Grão-Pará e Maranhão, e encontrou

sofreu influência da Amazônia. “As viagens duravam

Conheça o trabalho dos entrevistados

registros e descrições dos costumes culinários tanto

meses, era comum que alguns ingredientes faltassem.

para esta reportagem:

de indígenas, quanto de negros e colonizadores. As

Logo, o arroz selvagem amazônico acompanhou as

restauranteremanso.com.br

técnicas de preservação e preparo dos alimentos, bem

carnes salgadas e embutidas, comida tradicional nos

institutopaulomartins.org.br

como os ingredientes chamavam a atenção das pesso-

navios, e se transformou nesse prato muito apreciado

laemcasa.com

as encarregadas por descrever os pormenores das via-

pelos visitantes”, conta Ofir. A coleção do chef já ultra-

facebook.com/restaurantebenjamin

gens. “Meu trabalho como chef é todo fundamentado

passa 40 receitas, todas acessíveis e com ingredientes

facebook.com/sabor.selvagem

na História. Não crio receitas novas, apenas contextua-

típicos, como jambu e tucupi. SETEMBRO 2014

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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

A CIDADE DAS ÁRVORES

NO CENÁRIO ÁSPERO DE PRÉDIOS E ASFALTO DE BELÉM, ESPÉCIES NATIVAS E PLANTAS DE OUTROS PAÍSES COMPÕEM A PAISAGEM VERDE DA CAPITAL TEXTO NATÁLIA MELLO FOTOS HELY PAMPLONA

U

m levantamento da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) em 40 quilômetros das principais ruas e avenidas de Belém revelou que 37,5% das espécies arbóreas plantadas na capital são amazônicas. Contudo, o número de árvores das 30 espécies em questão corresponde a apenas 106 unidades, o que representa apenas 4,1% da soma total de árvores plantadas na urbe. As demais espécies que compõem o paisagismo local são exóticas, provenientes de países estrangeiros. O balão-chinês e a palmeirado-açaí são as únicas árvores naturais da Amazônia dentre as dez espécies mais abundantes na metrópole. “O exemplo de Belém é observado em centenas de cidades brasileiras, onde varia a composição florística (outras espécies arbóreas), mas mantém-se os quan• REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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titativos excessivos do número de árvores de poucas espécies e majoritariamente exóticas à vegetação brasileira”, explica Rafael Sampaio, da coordenação de Botânica do Museu Paraense Emílio Goeldi. Embora seja bastante famosa sob a alcunha de “Cidade das Mangueiras”, Belém possui somente 21,5% da espécie, que ocupa o terceiro posto no ranking de maior número de exemplares presentes na composição urbana. Originada na Índia, as mangueiras foram plantadas massivamente no início do século XX. A engenheira agrônoma Vera Bastos, do Setor Flora do Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, enumera algumas espécies adequadas para o plantio na capital. “Em 2014, trabalhamos com a seringueira. Essa espécie precisa ser um dos nossos principais exemplares na urbe. Ela nos deu

muito da riqueza que temos aqui. A castanha do Pará também, da qual temos uma coleção expressiva no Museu. Propomos o uso de plantas nativas com potencial ornamental no paisagismo urbano”, enfatiza Vera. A estudiosa atua no manejo da paisagem na flora do parque do Museu Goeldi. O projeto destinase a proporcionar uma paisagem mais harmônica e que mostre a biodiversidade amazônica. Entre as espécies já introduzidas estão as palmeiras imperiais e tamarineiros, plantados na avenida Portugal. O pau d’arco amarelo também foi cultivado nas praças Waldemar Henrique e Batista Campos. “Essa belíssima coleção precisa atravessar os muros do Museu e arborizar a cidade. Na Praça da República, colocamos mais duas samaumeiras, que também foram plantadas na Praça Brasil.


Lá, também plantamos pau-brasil, que está em extinção, precisamos preservá-lo. Mas, além de plantar, precisamos monitorar essas árvores. No primeiro ano, elas precisam de uma nova adubação, para que perdure pelas próximas gerações”, avalia a engenheira. NA SOMBRA

Em uma cidade de clima quente como Belém, espaços arborizados, a exemplo da praça Brasil, ajudam a reduzir a sensação térmica dos trópicos

4%

CORRESPONDEM AO TOTAL DE ÁRVORES tipicamente amazônicas plantadas em 40 km das principais ruas da capital paraense. A mangueira, por exemplo, é originária da Índia.

BENEFÍCIOS

O incentivo ao plantio de novas espécies arbóreas em Belém acarreta em diversos benefícios para o ecossistema. O ambiente se torna equilibrado, devido às plantas atraírem insetos, que fazem a polinização. “A palavra-chave é equilíbrio. Ter uma paisagem equilibrada, entre o arquitetônico, a questão do conforto térmico, e a preservação da natureza A sombra é outra contribuição das árvores”, diz Vera Bastos. Belém foi arborizada com espécies de diversas partes do mundo. Segundo a pesquisadora, a maioria se adaptou bem ao clima peculiar da cidade. Mas ela quer ir além: a ação integrada entre os órgãos pode garantir o que ela chama de paisagem amazônica pela essência. “Estamos introduzindo espécies novas. Temos a jutairana, a macacauba, o andirauxi, os buritis, a munguba, caranã. Precisamos incentivar os produtores também. Queremos proliferar as palmeiras, que são nossas. . As árvores de alto porte são excelentes para a arborização das praças, como por exemplo, o ipê amarelo”, enumera.

PLANTIO Vera Bastos incentiva a introdução de novas espécies de árvores no centro da cidade

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COMPORTAMENTO SUSTENTÁVEL

CALOR

Caracterizado por temperaturas que variam de 26 a quase 38 graus durante o verão amazônico, com início delimitado em julho até os últimos dias de novembro, o clima em Belém é conhecido por ser quente e úmido. Mas a sensação de calor na região, localizada na faixa tropical do planeta, é amenizada pelas copas das árvores, espalhadas pelas ruas da capital. Essa é a principal função da arborização urbana: proporcionar conforto térmico aos habitantes. O formato e a densidade da parte superior das árvores constituem-se em importantes características a serem analisadas em uma espécie arbórea selecionada para compor o paisagismo urbano das cidades tropicais, visto que são fundamentais para obter sucesso ao plantar árvores na área urbana. Para Rafael Sampaio, do Museu Goeldi, o bem-estar das pessoas deve ser, então, o ponto de partida para o trabalho de plantio na cidade. “Um criterioso planejamento silvicultural deve ser estabelecido para a implantação e manutenção da arborização, onde fatores como adequação de espécies à rede elétrica, espaçamento de plantio, rede de canalização de águas, calçamentos e demais limitações da cidade sejam consideradas no âmbito do planejamento e da tomada de decisão. Tudo isso aliado aos menores custos de conservação e manutenção, sobretudo no que tange a poda”, detalha. “O plantio de árvores nas vias públicas e praças é de fundamental importância para atenuar esse desconforto”, completa o pesquisador. Plantas de boa rusticidade e durabilidade conferem à paisagem uma exuberância digna da região. Pela abundância das chuvas é possível realizar um trabalho eficaz e, a longo prazo, permitir deixar Belém ainda mais amazônica.

UM PÉ DE QUÊ?

Conheça as dez espécies de árvores ornamentais mais plantadas na área urbana de Belém

CASTANHEIRA Terminalia catappa L. Acácia Senna siamea (Lam) Irwin & Barneby Mangueira Mangifera indica L. Oitizeiro Licania tomentosa (Bth.) Frit Benjaminzeiro Ficus microcarpa L. Açaizeiro Euterpe oleracea Mart. Jambeiro Eugenia malaccensis L. Tulipa africana Spathodea campanulata Beauv. Balão-chinês Calliandra surinamensis Benth. Bambu Bambusa vulgaris Schrad. FONTE: UFRA

SAIBA MAIS

Caracterização da arborização urbana: O caso de Belém. Heliana Maria Silva Brasil. Belém:FCAP. Serviço de Documentação e Informação. Manual de Orientação Técnica da Arborização Urbana de Belém. Luis Paulo Monteiro Porto, Heliana Maria Silva Brasil (Organizadores) / Manual de Orientação Técnica da Arborização Urbana de Belém: guia para planejamento, implantação e manutenção da arborização em logradouros públicos. – Belém: Ufra

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HARMONIA

Para Rafael Sampaio, o bem-estar das pessoas deve ser observado na hora de se planejar o plantio de espécies vegetais na cidade


Quem lê compartilha o conhecimento A importância da leitura na vida do ser humano pode ser percebida a partir do momento em que o indivíduo, ainda na infância, sente a necessidade de compreender e refletir sobre o mundo que o cerca. O escritor Zuenir Ventura já afirmou que “a leitura é fundamental para o desenvolvimento da educação e quando vista como prazer, pode ser ainda mais produtiva”. A última edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, em levantamento feito pelo Ibope, mostrou que o brasileiro lê em média apenas quatro livros por ano, e das cinco regiões brasileiras a região Norte ficou em último lugar. Para ajudar a mudar esse quadro nada mais eficaz do que a formação

constante de leitores através do incentivo à leitura. E é justamente esse o objetivo do grupo Contadores de Sonhos. A ideia surgiu em março deste ano, com o desejo de um grupo de jovens de ter um projeto próprio, com a finalidade principal de poder ajudar outras pessoas. Dentre as possibilidades pensadas a que melhor se apresentou foi a de um clube de livros. “Depois de muito pensar a gente optou por algo que fosse relacionado à cultura, a arte e aí então pensamos por que não doar livros?”, conta Raina Brandão, umas das integrantes do grupo. “Em julho, mês de férias escolares, foram doados 115 livros na praça da República”, conta Hélio Aguiar,

JOVENS LEITORES

Os “Contadores de Sonhos” mobilizam amigos e desconhecidos nas redes sociais por uma causa nobre: arrecadar livros para serem doados a quem precisa deles

MUDANÇADEATITUDE SXC.HU

CARLOS BORGES

BONS EXEMPLOS

TROQUE O CARRO POR UMA BOA CAMINHADA

Uma das soluções simples e saudáveis para se evitar congestionamentos no trânsito nas cidades é adotar as caminhadas. Se deslocar para o trabalho ou escola a pé também ajuda

um dos idealizadores do grupo. Toda a arrecadação para as doações é feita ainda no melhor estilo boca a boca com amigos e familiares, mas principalmente através das redes sociais e do espaço na mídia que os Contadores de Sonhos vêm ganhando. “As pessoas nos perguntam como fazem para doar livros”, diz um dos contadores, Marcos Pantoja. Além de Hélio Aguiar, fazem parte do projeto: Larissa Almeida, Paula Ferreira, Raina Brandão, Ney Soares, Marcos Pantoja, Jéssica Macedo, Giordana Rodrigues.

a reduzir a emissão de gases poluentes no meio ambiente, além de favorecer o bom funcionamento do corpo e da mente. A prática de atividade física é fundamental para a manutenção da saúde e qualidade de vida em qualquer idade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde a inatividade física é a quarta principal causa de morte no mundo, sendo um fator de risco primário para as doenças crônicas. A educadora física Ana Lorena Ferreira explica que a troca do veículo motorizado por caminhadas é uma mudança que já traz diversos benefícios para a saúde. Mestranda em Saúde e Sociedade na Amazônia pela Universidade Federal do Pará, ela diz que os impactos provocados pela caminhada podem ser considerados, em curto prazo, capazes de gerar adaptações e melhoras cardiorrespiratórias e funcionais. Muitas vezes a desculpa para o início da prática de atividade física é a falta de tempo, em função da correria do dia a dia. Mas estudos

SERVIÇO

Para fazer doações de livros é preciso entrar em contato com o grupo pelo Facebook e Instagram: contadoresdesonhos. Os telefones são (91) 8226-5489 e 8094-3764.

atuais têm demonstrado que duas a três sessões semanais de treino com a intensidade adequada podem gerar adaptações positivas e benefícios para a saúde.

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VIDA EM COMUNIDADE

AINDA É TEMPO DE BRINCAR

O GRUPO FOLCLÓRICO PRETINHOS DE SANTARÉM NOVO MOSTRA QUE A INFÂNCIA DEVE SER SEMPRE RESPEITADA TEXTO E FOTOS ROBERTA BRANDÃO

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DENTRO DA RODA

É por meio das brincadeiras inocentes, que remetem ao período da escravidão dos negros na Amazônia, que Os Pretinhos de Santarém Novo, mantém viva a tradição no município


“T

udo tem o seu tempo”. Mas, na correria do dia a dia, é possível que essa expressão esteja perdendo seu sentido diante de tantos afazeres e prazos para cumprir. Entretanto, a 180 km de Belém, na região do Salgado, o grupo folclórico Pretinhos de Santarém Novo tem mostrado ao município como respeitar e esperar o tempo das coisas. A marcação de um ciclo cunhado ao tempo da terra, do plantio, da estação, das festas, além de conhecer a própria história. Assim é o tempo vivido pelo grupo folclórico na cidade de cenário bucólico e guardiã de tradições centenárias. O movimento dos pretinhos pintados remonta o início do século XX. As crianças percorrem as ruas com os corpos pintados de preto, representando meninos e meninas descendentes de escravos. A brincadeira celebra os jovens antepassados quilombolas e mostra a importância de se respeitar a infância, um tempo próprio para brincar. O grupo, hoje com 31 integrantes, aceita crianças a partir dos sete anos de idade. Quando chega a época do cordão folclórico, principalmente em junho, Mike Mendes, de 8 anos, percorre as ruas da cidade com o figurino na mochila, acompanhado do remo, utilizado em umas das danças na brincadeira dos pretinhos. “Eu gosto de ser um pretinho. Eu gosto de brincar.”, sintetiza. Ao chegar ao quintal do coordenador do grupo, Kzam Mendes, Mike juntase aos meninos vestidos com camisa, short e gorro vermelhos, lembrando o Saci Pererê. Alguns se vestem com saia, blusa e touca, em referência às mucamas e escravas da casa-grande da época da escravidão. A garotada espera animada a pintura corporal com uma tinta tradicional feita de banha de porco e tisna, uma espécie de pó retirado do forno de fazer farinha. Com os corpos enegrecidos, os pequenos brincantes saem pelas ruas de Santarém Novo organizados em duas filas de meninos e meninas, guiados por dois

EM MEMÓRIA

Apesar das fantasias lembrarem o Saci-Pererê, os jovens do grupo homenageiam os antepassados quilombolas

A CARÁTER O coordenador dos Pretinhos, Kzam Mendes, pinta cada um dos 31 integrantes do grupo, numa espécie de “batismo”

MAIS VELHOS Os personagens Mãe Maria e Pai João encabeçam o grupo nas brincadeiras e encenações durante as apresentações

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VIDA EM COMUNIDADE

“É um rito de iniciação. Em algumas culturas, ritos chegam a ser violentos. Em Santarém Novo, essa passagem é pela brincadeira” ISAC LOUREIRO

pesquisa diversas culturas populares da Amazônia. Assim como ele, a comunidade incentiva a preservação dos elementos próprios da história local.

personagens mais velhos, o pai João e a mãe Maria, que são o fio condutor do grupo nas brincadeiras e encenações cômicas. Segundo a pesquisa da santarenense Alba de Fátima, graduada em Artes com habilitação em dança na Universidade Federal do Pará, em 2013, no trabalho de conclusão de curso intitulado “Corpos Lambuzados - Uma Brincadeira Espetacular do Grupo Folclórico Pretinhos”, a brincadeira sobre a dura realidade era uma forma de descontração de trabalhadores tão sacrificados. As canções do grupo têm letras jocosas e ritmos distintos, como o carimbó, a mazurca, a ciranda. A música é ditada pelo grupo musical que acompanha os pretinhos, formado por um tocador de curimbó, de recoreco, triângulo e maraca. Raimundo Costa, o Mestre Ticó, de 62 anos, dança carimbó desde os 12 anos e já foi um “pretinho”, chegando a coordenar o grupo. Para ele, a manutenção de culturas tradicionais como a dos Pretinhos de Santarém Novo mostra a necessidade de uma cultura de paz na sociedade e respeito às fases da vida do ser humano. “É bom que nossas 5 • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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crianças preservem a nossa cultura. Isso desperta nelas a verdadeira criança dentro de si, pois a gente sabe como esse mundo está muito mudado hoje”, diz. Já nos tempos de criança do mestre Ticó, ingressar nos Pretinhos era um tipo de rito de passagem, de iniciação. Para fazer parte do grupo era necessária a aprovação dos responsáveis. Naquele período, em Santarém Novo, assim como os pais autorizavam as meninas para brincar pássaro junino, os meninos eram incentivados a sair nas ruas como pretinhos, dançando nas portas das casas que lançavam o convite na época da quadra junina. “Os pretinhos representam o tempo de brincar. É um rito de iniciação. Em algumas culturas, ritos chegam a ser violentos, agressivos ou de humilhação. Em Santarém Novo, essa passagem é feita através da brincadeira”, explica o pesquisador de cultura popular e membro da Irmandade do Carimbó de São Benedito, Isac Loureiro, ao torcer, assim como os moradores do município, para que a tradição dos pretinhos nunca caia no tempo das vagas lembranças.

CORPO PINTADO “Mucamas” também estão na brincadeira


ARTE, CULTURA E REFLEXÃO CARLOS BORGES

PENSELIMPO

LIGADO NO MOVIMENTO

O MC BRUNO B.O. É UM DOS PRINCIPAIS NOMES DA CULTURA HIP HOP NO PARÁ. COM SUA ARTE DE RUA, ELE USA SUAS MÚSICAS PARA REVERBERAR A REALIDADE DE MUITOS JOVENS EM BUSCA DO RECONHECIMENTO SOCIAL NA AMAZÔNIA . PÁGINA 54

ALÉM DO INVISÍVEL Os artistas plásticos

MAGO DA ARTE Mestre Nato desenvolveu

AMAZÔNIA E CLIMA A região volta a

paraenses Armando Queiroz e Eder Oliveira participam da 31a Bienal de São Paulo. PÁG. 58

técnicas de pinturas e uso de cores tendo a mitologia amazônica como ferramenta. PÁG.60

ser o centro de discussão em um encontro internacional sobre mudanças climáticas. PÁG.66

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DEDO DE PROSA

Um rapper afroamazônico O COMPOSITOR E CANTOR DE RAP MC BRUNO B.O. DIFUNDE A CULTURA HIP HOP NO PARÁ COMO FORMA DE MOSTRAR A NECESSIDADE UNIVERSAL DE “FAZER TUDO PELO CERTO” TEXTO ALAN BORDALLO FOTOS CARLOS BORGES

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R

aramente as notícias relativas ao hip hop são abordadas de maneira satisfatória para quem vive de acordo com os preceitos dessa cultura. Como em uma grande e recorrente metonímia, é comum eleger um de seus quatro elementos básicos (o rap, o DJing, o break e o grafite, como sintetizou o DJ e produtor Afrika Bambaataa) para falar do todo – como se fossem a mesma coisa. Isso explica, por exemplo, porque cada vez mais as técnicas de grafite são vistas e apreciadas nas galerias de arte e figuram nas salas de estar das classes sociais emergentes; ou o

estilo do que no passado era o “gangsta rap” ser agora vendido por grifes e fazer cabeça, tronco e membros dos jovens, no embalo do funk ostentação. “O hip hop foi criado para ser uma linguagem universal, uma coisa de todos. Ele é para todos, mas é para todos entenderem, não usarem a seu bel-prazer”, ensina o MC Bruno B.O., que no Pará é um dos pioneiros no rap e um dos ativistas da cultura hip hop no Norte do Brasil. Doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Pará (UFPA), ele quase nunca se vale do título acadêmico para defender seu ponto de vista. Prefere, por outro lado, usar do próprio talento e dis-

posição para capitanear iniciativas didáticas e educativas sobre o papel social do hip hop nas comunidades carentes, onde a cultura nasceu e até hoje é alimentada. Desde 1994 ele se dedica ao rap para incentivar os outros a lutarem pelo que é seu. Neste ano, ele planeja uma turnê pelo interior do Estado para conhecer as cenas de hip hop de cidades como Marabá, Santarém e Parauapebas. “Lá, eles conhecem meu som, mas não me conhecem pessoalmente e nem viram meu show”, diz ele, agradecendo a uma ferramenta importante: a internet. “E, se tudo der certo, ainda nesse ano vou correr o Brasil”, arremata. SETEMBRO 2014

SEM RÓTULO

Doutorando em Ciências Sociais pela UFPA, Bruno B.O. usa suas músicas para falar da realidade das minorias na sociedade amazônida

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DEDO DE PROSA

QUESTÃO DE VALORES

Para MC Bruno B.O., de nada adianta o cidadão ter um quadro de grafite na parede da sala se ele não se dispõe a discutir temas, como a situação do negro no País

“Eu creio na eternidade da alma, por exemplo, e em qualquer situação que essa energia estiver, a busca é pelo certo”

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Bruno B.O. recebeu a reportagem da Amazônia Viva na sede do coletivo Casa Preta, no bairro da Terra Firme, um dos vários locais criados para atender os anseios de pessoas que não são atendidas por políticas públicas de lazer e cultura, por exemplo. “Aqui, como em vários outros lugares, a gente se divide em várias funções, na base do ‘faça você mesmo’, para tentar ajudar e dar perspectiva para alguns pontos do que defendemos”, lembra. E alguns destes pontos podem ser conferidos abaixo. Como começaste a te interessar pela cultura hip hop? Musicalmente, as bases do que viria a ser o rap, que é o elemento que faço na cultura, existiam na minha casa através do meu pai, que ouvia muita black music, música dos anos 70. E, por outro lado, sempre houve muito conhecimento crítico em casa, minha mãe é professora, meu pai, artista plástico. Nossa formação em casa foi bem diferenciada no que diz respeito a coisas como o Natal e outras datas comemorativas. A leitura foi muito estimulada. Quando a cultura hip hop veio mesmo a acontecer no Brasil, já escutava Racionais MCs. Peguei as referências que eram básicas para todos nós: alguns filmes, músicas e outros. Tinha acesso ao que ia aconte-

cendo por meio da cultura urbana em geral. Quando voltei para Belém, depois de passar a infância no Rio de Janeiro, peguei a fase do Racionais. Do meio para o fim da década de 90 comecei a tocar. Tinha uma banda de hardcore. Mas a cultura em si conheci através do M.B.G.C. (Manos da Baixada de Grosso Calibre, um dos grupos precursores no Pará). Hoje, dois integrantes fazem parte da minha equipe, o Morcegão e P-Jó. Depois criamos o NRP (Nação da Resistência Periférica) e foi que me inseri de vez nessa cultura. Os elementos da cultura foram alvo de subvalorização e discriminação por muito tempo. Como foi passar por essa época em Belém? Esse estigma ainda existe? Belém, como todo o Norte e o Nordeste, é bem complicada. Vez ou outra esse discurso de regionalismo, que às vezes é lançado pelo poder público ou pela sociedade, surge. Então, quando a cultura hip hop começou a se desenvolver o estigma foi maior pelo fato de que não era algo da cultura regional. As acusações eram do tipo “ah, ele quer ser paulista”, “quer ser do Racionais”. E junto com isso vinha o estigma agregado: se o rap era música de bandido, então a gente queria ser bandido “igual os caras de São Paulo”. E o grafite, que é um elemento


forte na nossa cultura, em Belém, era difícil de ser entendido pelo histórico violento da pichação das gangues. Até hoje vem essa discussão se grafite e pichação são diferentes, se um é a evolução do outro. Mas as discriminações eram reais e pontuais por causas diversas, não existia preconceito contra a cultura como um todo porque ninguém entendia a cultura como um todo. O hip hop é o break (dança), o grafite (arte visual), o rap (música) e o DJ. Ainda existe essa discriminação hoje. Como tudo no Brasil, o que é mais palatável, digerível, e até “fake”, é bem absorvido. Faço parte de uma geração que absorveu muito esses valores iniciais. Hoje, se consome o hip hop sem se preocupar com o histórico. Se consome a estética, a música. É uma característica da sociedade atual. Às vezes há algum convite para um mutirão de grafite autorizado em alguns locais da cidade. Sim. O que se tem hoje é o consumo. Toda a sociedade consome produtos que são resultados da cultura hip hop: boné de aba reta, as roupas, o grafite, a música. Tem até dança na academia. Mas a cultura, a vivência, que tem um valor ‘x’, não se tem. O hip hop tem uma lógica básica: foi criado por pessoas oprimidas da periferia, que não tinham acesso, e não tem até hoje, a vários espaços públicos da cidade. A cultura atendia aquele anseio. E continua sendo esse o valor da maioria das pessoas que segue. Quais foram as vantagens e desvantagens de ser um pioneiro na cena do rap do Pará? A parte chata é ter que me adequar em relação à minha carreira musical. Foi ter que se adaptar a determinadas regras do jogo. Sempre fui conhecido por ter uma carreira marcada pelo ativismo, pela contundência. Por ser chato e incomodar. Muito do que construí foi por me propor a ser isso. Só que chega um momento em que você precisa se adaptar. Mesmo não concordando muito tem que deixar algumas coisas para lá. Tive que moderar, é a verdade (risos). Às vezes me incomoda, mas, no geral, eu continuo a mesma coisa, tranquilo com as minhas convicções.

“Hoje, a sociedade aceita o grafite, mas acha que é a evolução da pichação. Quem é da cultura sabe que os dois estão no mesmo universo, com perspectivas diferentes.” Uma mensagem clara como a letra de “Sempre Pelo Certo” é uma forma de desmistificar e alcançar um público que hoje não conhece o hip hop? Isso surgiu de uma gíria comum. Uma espécie de código de conduta na comunidade, de vários lugares onde a lei do papel não necessariamente tem importância. É se fazer presente nos direitos e deveres, se não perde o sentido. A expressão é “Tudo Pelo Certo”, que prega analisar as consequências dos seus atos em pessoas dentro daquele contexto. Adaptei e fiz o Sempre Pelo Certo, porque liga outra perspectiva, de família, da espiritualidade que temos. Eu creio na eternidade da alma, por exemplo, e em qualquer situação que essa energia estiver, a busca é pelo certo. Algumas pessoas questionam a subjetividade do que é certo. Várias religiões pregam, de várias formas, o princípio de não fazer para os outros o que não queríamos que fizessem conosco. Não significa que sempre fazemos isso, mas é o que sempre buscamos. A partir disso surgiram coisas como a Batalha da Floresta, Casa do Grafite, iniciativas desse tipo. E elas passaram a demandar articulação maior. Juntamos com várias pessoas, como o pessoal do coletivo Casa Preta.

Hoje, o grafite tem uma aceitação grande, caiu no gosto de artistas plásticos e invadiu galerias. É um bom instrumento para a difusão da cultura hip hop? Vejo que tem os dois lados. Por exemplo, trabalho na Fasepa (Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará), com adolescentes infratores. Quando fazem uma oficina de hip hop, trazem alguém para dançar break. Ou seja, é um elemento só, sem trazer os valores da cultura. Hoje, a sociedade aceita o grafite, mas acha que é a evolução da pichação. Quem é da cultura sabe que os dois estão no mesmo universo, com perspectivas diferentes. É o mesmo que eu dizer que o cara que faz rap comercial não é rapper e eu sou. Não, somos os dois. Mas ele tem uma perspectiva diferente. Então, a pichação, o bomber, o grafite autorizado, o grafite em galeria, o grafite do artista plástico, cada um tem a sua visão. Não posso considerar que essa expansão venha ajudar de alguma forma se não expande os valores, se as pessoas não estão abertas a entender os valores centrais do hip hop. A sociedade está disposta a ter um quadro de grafite na parede, mas não está disposta a discutir a questão do negro no Brasil. Temo que isso vire o samba, a capoeira do hip hop. Isso, na verdade, já aconteceu com o hip hop. Hoje, estou vestido no estilo (boné de aba reta e roupas largas) e posso parecer até ridículo. O funk ostentação absorveu o visual do hip hop, não tem mais como diferenciar esteticamente. E esse processo é internacional. Por trás das divas e dos bonitinhos do pop estão produtores de rap. O hip hop foi criado e moldado como uma linguagem universal e para todos. Mas é para todo mundo entender, não para cada um pegar e fazer a seu bel-prazer. A mensagem tem que ser propagada melhor.

SAIBA MAIS

USE UM LEITOR DE QR CODE PARA OUVIR O SOM DE MC BRUNO B.O.

Conheça o trabalho do MC Bruno B.O. mcbrunobo.tnb.art.br e soundcloud.com/mcbrunobo

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ARTE REGIONAL

A poética do invisível

RETRATOS

Nos muros da cidade, o olhar instigante do caboclo amazônico, comumente retratado nas páginas policiais. Para Eder Oliveira, é preciso investigar a nossa própria identidade cultural.

NA 31ª BIENAL DE SÃO PAULO, EDER OLIVEIRA E ARMANDO QUEIROZ MOSTRAM A QUESTÃO HUMANA A PARTIR DA INVISIBILIDADE SOCIAL TEXTO DOMINIK GIUSTI FOTOS CARLOS BORGES

O

distante, o marginal, o invisível. Em obras selecionadas para a 31ª Bienal Internacional de São Paulo, os artistas paraenses Armando Queiroz e Eder Oliveira apresentam questões sobre o homem que não existe, mas está lá. No cerne do debate, a questão humana. O que, afinal, nos mantém segregados? Que tipo de noções elaboramos acerca daqueles que são socialmente ocul-

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tos? Repletos de questionamentos, os artistas foram em busca de respostas. E diante do conceito, a criação artística. De acordo com Benjamin Seroussi, curador associado da 31ª Bienal, o que interessa nas obras dos artistas para este ano é a crise de representação, a crise artística e política. A seleção dos paraenses foi feita exatamente por tratarem dessa invisibilidade. Armando apresenta um vídeo com um

depoimento de um indígena da etnia Guarani; já Eder apresenta uma de suas intervenções urbanas – feita especialmente no pavilhão da Bienal para o evento – na qual pinta rostos retirados de cadernos policiais de jornais paraenses. “Eder Oliveira não retrata bandidos, mas parte das imagens veiculadas pelos cadernos para retratar o homem amazônico, o caboclo, aquele que é apenas representado nesse mesmo caderno policial, e que acaba sendo estigmatizado como bandido”, diz o curador. “Uma análise similar pode ser desenvolvida tendo em vista o trabalho de Armando Queiroz. Como o próprio indígena disse ‘aquele indígena exótico, que usa cocar, que dança, que canta”, esse existe, mas ‘aquele ser humano que passa fome, que passa sede, que é massacrado’, aquele não existe na política atual de representação”, completa. São esses tipos de imagens, que carregam a simbologia de representações que não existem, que estão expostas na 31ª Bienal, com o objetivo de trazer para a existência e tornar presente.

A QUESTÃO INDÍGENA

Na linguagem dos Guarani, “Ymá Nhandehetma” significa “antigamente fomos muitos” e esse é o título do vídeo


de 8 minutos de autoria de Armando Queiroz, que será apresentado na Bienal. O nome é significativo quanto ao conteúdo e à estética do filme: Almires Martins, natural do Mato Grosso, pertencente à etnia Guarani, aparece falando sozinho sobre o que significa ser índio no Brasil, em seu entendimento. A realização do projeto veio após o artista paraense ter sido provocado pelo curador Paulo Herkenhoff a se aprofundar na questão indígena, que ele já vinha mostrando interesse em outras obras, como objetos. “Fiquei muito impressionado com a forma poética dele se expressar. Para o vídeo, me veio uma imagem de um rosto sendo apagado E aí fui com essa ideia na cabeça, fiz o convite e prontamente ele aceitou. Quando falei sobre o apagamento do rosto, perguntei o que significaria pra ele e me respondeu que para os Guarani seria sinal de luto. Vi uma possibilidade de diálogo entre a gente. Era algo intuitivo”, explica Armando. O vídeo está dividido em duas partes: a da fala em si e a do apagamento do rosto. A gravação foi feita durante uma madrugada, na sede da Associação Fotoativa, em Belém, por Marcelo Rodrigues, fotógrafo que atua em projetos com o artista. Armando explica que o vídeo trata de uma questão de “quase” inexistência, já os grupos indígenas passam ao largo

da sociedade. Ciente de seu território, a fala contempla ainda a geografia. “A Amazônia é tão visual, se cria uma expectativa de vê-la mas não se enxerga a experiência humana. Repleta de biodiversidade e um vazio humano. Quantas vezes a gente passa e não vê? Eu me vejo neles, somos eles também”, analisa.

DO JORNAL PARA AS RUAS

Em grandes escalas, imagens de homens pintados nos muros da capital paraense revelam olhares misteriosos, em cores contrastantes. São retratos pintados por Eder Oliveira, que iniciou o projeto em 2005, apenas com o intuito de fazer retrato de pessoas comuns, após constatar que, historicamente, o retrato pintado sempre foi algo destinado à classe que tem poder. Para o artista, é como se estivesse fazendo isso de forma contrária, para as pessoas comuns. “Fui atrás do paraense, do caboclo, do mestiço, e na busca de imagens fui parar nas páginas policiais. Me perguntei porque as pessoas retratadas têm sempre o mesmo perfil, essa mistura de negro, branco, índio, amarelo, uma mistura de raças. São geralmente pessoas que vêm do interior, que habitam a periferia e que têm traços físicos e as vezes até de comportamento muito própria. É investigação sobre a nossa identidade cultural através da imagem”, explica. Para o artista, as intervenções urbanas funcionam como uma espécie de devolver

para as ruas o conceito aprisionado nas imagens da imprensa sobre medo, grupos sociais excluídos, pessoas marginalizadas. Os homens são pintados sem algemas, sem aprisionamentos pré-conceituais, apenas como um homem amazônico, de características do povo da região. E a imagem é a única base para a feitura das obras, já que ele não chega a ler os textos. “O objetivo é fazer com que a imagem grite numa parede deteriorada. Algumas pessoas assimilam com o que percebem, a maioria identifica pelo corte de cabelo, das mechas, o próprio jeito de olhar, com medo, por conta do estereótipo que já temos criado, que é uma pessoa que cometeu um crime. Mas como são pessoas com traços muito parecidos, a ideia é que a gente se identifique e identifique o outro”, conta Eder Oliveira.

SAIBA MAIS Site do Eder Oliveira www.ederoliveira.net/intervencoes

USE UM LEITOR DE QR CODE PARA ACESSAR O SITE DE EDER OLIVEIRA

Acesse o vídeo Ymá Nhandehetma, de Armando Queiroz em youtube.com/watch?v=Xjn5GGRVCjo

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LUTO SOCIAL No curta-metragem “Ymá Nhandehetma”, um índio guarani representa a situação de “quase” inexistência do cidadão comum na sociedade atual, a partir da ótica de Armando Queiroz

SETEMBRO 2014

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MEMÓRIAS BIOGRÁFICAS

Mestre Nato 1952-2014

Artista mitológico criador de imagens TEXTO ABÍLIO DANTAS ILUSTRAÇÕES JOCELYN ALENCAR

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SETEMBRO 2014


O

termo “mestre” possui diversos usos na língua portuguesa. Nas universidades, é um título atribuído a quem realizou curso de mestrado em determinada área da pesquisa científica. Por outro lado, para a cultura popular, mestre é não apenas aquele dotado de conhecimentos especiais, mas também uma referência de vida e sabedoria para os membros de sua comunidade. O artista plástico, figurinista, cenógrafo e alfaiate amazônida, Raimundo Nonato Silva, faz parte deste grupo seleto. Por isso, foi e será sempre conhecido como Mestre Nato. Nascido em 25 de fevereiro de 1952 no bairro do Guamá, em Belém, Mestre Nato interessou-se por arte ainda bem jovem. Segundo a designer, produtora cultural e pesquisadora, Natacha Colly Barros Martins, a cultura da região amazônica e a compreensão do que significa nascer nesse lugar sempre o instigou, aproximando-o dos festejos e imaginários da cultura popular. “Tudo do bairro do Guamá e as pessoas que o rodeavam eram muito importantes para o trabalho dele. Tudo emanava do local onde ele vivia”, afirma a pesquisadora. Aos 13 anos, o Mestre já participava das festas de boi-bumbá como o “tripa”, nome dado ao brincante que dança embaixo do boi feito de espuma, talas e panos. Aos 17, o artista resolveu sair de casa e aprimorar seus conhecimentos. Já dotado então de habilidades em costura, fixou-se no Rio de Janeiro fabricando uniformes para os operários da construção da ponte Rio-Niterói. Na capital fluminense, aproximou-se definitivamente das artes plásticas, ao frequentar cursos na Escola de Belas Artes, e dos temas amazônicos. Segundo Natacha Barros, ele construía peças de artesanato com imagens típicas da região, como rios e palafitas, e conseguiu sucesso de vendas. De volta a Belém, e contagiado pela ideia de seu pai, iniciou seus estudos em alfaiataria, incluindo, posteriormente, pintura, bordado e experimentações constantes em seu trabalho. “Na arte, ele sentia mui-

ta liberdade e alegria de viver”, explica Natacha. Essa liberdade e versatilidade o levaram a trabalhar em diversos campos da arte. Sua atuação no teatro, por exemplo, o fez conhecido como um cenógrafo e figurinista singular. Seus trabalhos mais conhecidos são os espetáculos “Iracema Voa”, concebido e encenado por Ester Sá, e o “Auto da Barca do Inferno”, com direção de Paulo Santana. No primeiro, uma grande manta surpreendia o público ao tornar-se, além de cenário, figurino para a atriz. O artista também esteve envolvido em outra grande manifestação popular de Belém: o Arrastão do Arraial do Pavulagem. Desde 2002, ele concebia e confeccionava os estandartes usados no cortejo que reúne hoje cerca de 20 mil pessoas nas ruas da capital paraense. A arte de Mestre Nato era provocadora. De acordo com Natacha Barros, o erotismo e as mitologias afro-religiosas tornaram-se, ao longo dos anos, seus elementos e temas mais recorrentes, sempre com o intuito de estimular reflexões e quebrar paradigmas. A série de estandartes “Sagrado Sincretismo”, da qual Natacha se aproximou em seu trabalho de conclusão de curso realizado na Universidade do Estado do Pará (UEPA), apresenta a mistura mitológica existente no Brasil a partir de várias entidades religiosas. Amiga da família de Mestre Nato, a pesquisadora trabalha desde o início deste ano com Alexandre Nogueira, historiador e produtor cultural, em diversos projetos que visam à divulgação e maior reconhecimento à obra do artista. Falecido em maio deste ano, Mestre Nato deixou um imenso legado a ser conhecido pela Amazônia e pesquisado por todos. No primeiro semestre deste ano, o artista também fez “contações” de histórias organizadas por Natacha e Alexandre. É pensando na preservação e manutenção da obra, que a produtora cultural faz parte da criação do Memorial do Mestre Nato, espaço que deverá funcionar onde antes era o ateliê do artista, na rua Barão de Igarapé-Miri, no Guamá. SETEMBRO 2014

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DIVULGAÇÃO

AGENDA

DIVULGAÇÃO / PETROBRAS

FAUNA AQUÁTICA Soure, na Ilha do Marajó, conta agora com o Espaço Bicho D’Água, um museu com exposição permanente sobre mamíferos aquáticos da Amazônia, pesca e cultura marajoara. A iniciativa é do projeto de mesmo nome, que recebe o patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental. Informações: www.projetobichodagua.com.br

MAURO FERNANDES / DIVULGAÇÃO

BAUHAUS

ZOOLOGIA

O fotógrafo Mauro Fernandes

O Programa de Pós-Graduação em

Segue aberta até 18 de setembro a exposição “Bauhaus.foto.filme”, promovida

faz um ensaio sobre as lendas

Zoologia, do Museu Goeldi e UFPA,

pelo Museu Histórico do Estado do Pará (MHEP), em parceria com Goethe-Institut.

tapajônicas como os muiraquitãs

inscreve para seleção do Mestrado

Belém é uma das últimas cidades brasileiras a receber a exposição, que culminam

e a cultura do Marajó na exposição

2015. Serão 15 vagas para a área de

as comemorações do ano Brasil-Alemanha. A exposição oferece uma visão abran-

“Um Olhar Amazônico – Natureza

atuação Evolução e Biodiversidade e

gente do conjunto de atividades praticadas na Bauhaus, fundada pelo artista

Exuberante”. A exposição está

mais 15 vagas para a área Conserva-

alemão Walter Gropius, e ilustra a influência recíproca entre diversas disciplinas

no Centro Cultural do Tribunal

ção e Ecologia. As inscrições termi-

aplicadas na instituição. A visitação pode ser feita das 10h às 19h, de segunda a

Regional Eleitoral do Pará, na

nam em 16 de setembro. Informa-

sexta, e das 10h às 14h, aos sábados e domingos. A exposição fica na sala Antônio

rua João Diogo nº 284, bairro da

ções: 3075-6283 e 3201-8413 ou pelo

Parreira do MHEP. Informações: museuhistoricodopara.blogspot.com.br

Campina. A entrada é franca.

www.ppgzool-ufpa.com.br.

SEM FRONTEIRAS

ORTOPEDIA

O Programa Ciência sem Fronteiras

As inscrições para o XVI Congresso

CERÂMICA A produção ceramista é um dos destaques do artesanato paraense

HELY PAMPLONA

NO MUSEU DO ESTADO

MUIRAQUITÃS

está com inscrições abertas para

Norte e Nordeste de Ortopedia e Trau-

na exposição “Memórias no Barro”,

graduação-sanduíche até o dia 30

matologia podem ser feitas no site

que segue aberta para visitação até o

de setembro. De acordo com a

www.cnnot2014.com.br. O encontro

dia 14 de setembro, na Estação das

Coordenação de Aperfeiçoamento

reunirá cerca de 500 ortopedistas de

Docas. A mostra é inspirada nas ce-

de Pessoal de Nível Superior (Capes),

todo o país para discutir temas, como

râmicas arqueológicas marajoara,

os candidatos podem escolher entre

o elevado número de ocorrências

tapajônica e a amapaense cunani.

21 países. Outras informações sobre o

de acidentes com motociclistas em

Informações: (91) 3212-5525. A

programa federal e inscrições pelo

rodovias federais. O evento será de

entrada é gratuita.

site www.cienciasemfronteiras.gov.br.

17 a 19 de outubro, no Hangar.

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FAÇA VOCÊ MESMO

CARRINHO feito COM GARRAFA PET Tudo bem que com tablets ou smartphones se pode acessar a internet, buscar em todo o mundo os mais variados games, indo do educacional aos personagens de desenhos animados ou do cinema. Não é por isso que vamos esquecer como é bom reunir uma série de materiais para, com as próprias mãos, construir o que a imaginação determinar. Até o final do século XIX, a maioria dos brinquedos era fabricada em casa artesanalmente. Lembram do Gepeto, “pai” do Pinóquio? Com o crescimento da indústria, brinquedos passaram

ra Gabriel sa

a ser, também, fabricados em linhas de produção. Então, para evitar que aquela garrafa PET se torne apenas entulho e retomando aquele passado, a Fundação Curro Velho e a revista Amazônia Viva mostram, nesta edição, como fazer um carrinho apenas com garrafas PET. Aos que quiserem mais detalhes, a fundação também oferece oficinas de brinquedos artesanais, cujo intuito é, ainda, desenvolver habilidades artísticas e artesanais nos participantes. A seguir, vai o passo a passo daquele vruuummm! sem controle remoto ou motor movido a bateria.

DO QUE VAMOS PRECISAR? •

1 garrafa PET

Tintas das cores de sua preferência

1 régua

Pincel

Estilete

Tesoura com pontas arredondadas

Fita crepe

Papelão

Caneta

5 tampinhas de garrafa PET

2 palitos de churrasco

s iva, 6 a no INSTRUTOR: MARCELO LOBATO . COLABORAÇÃO: DEUSARINA VASCONCELOS . FOTOGRAFIA: DANIEL SOUZA SETEMBRO 2014

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ATENÇÃO: Essa atividade pode ser feita por crianças, desde que acompanhadas por um adulto responsável

1 4 7 10

2

No pedaço de papelão, desenhe um aerofólio, a asa do carrinho, como aqueles de Fórmula 1;

3

Então, recorte o molde do aerofólio no papelão;

Agora, pinte o aerofólio da cor que preferir;

5

Pegue as cinco tampinhas e faça um furo no centro de cada uma delas;

6

Chegou a vez do palito de churrasco: corte-o bem ao meio.

Faça um furo na garrafa PET com o palito do churrasco de modo a atravessar as duas extremidades da garrafa. Eis o eixo do carrinho;

8

Coloque as tampinhas, montando, assim, as rodas;

9

Está quase lá: ponha uma tampinha na boca da garrafa PET;

Para começar, pegue uma garrafa PET e a pinte completamente da cor que preferir;

Com a caneta, faça o contorno do aerofólio;

11

Então, pinte a calota do pneu e o vidro do carrinho da cor que preferir;

12

O último passo: coloque o aerofólio na parte superior do carrinho e fixe com fita adesiva. Vruummmm! Agora é só brincar!

PARA SABER MAIS Quem quiser conhecer mais sobre técnicas artísticas pode se inscrever nas oficinas da Fundação Curro Velho, do governo do Estado do Pará. Crianças a partir de 12 anos podem participar. A Fundação Curro Velho fica localizada na rua Professor Nelson Ribeiro, nº 287, esquina com a travessa Djalma Dutra, bairro do Telégrafo. Telefones: (91) 3184-9100 e 3184-9109. • REVISTA AMAZÔNIA VIVA •

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RECORTE AQUI

FAÇA VOCÊ MESMO


BOA HISTÓRIA

A Belém da década de 90 estava revirada. Não por ven-

daval ou terremoto. Eram as obras que remodelavam a periferia cavoucando a terra e criando paisagens ora lunares pelas crateras, ora desérticas com as extensas camadas de piçarras aplainadas. Havia caminhões basculantes, tratores e um movimento febril de trabalhadores com pás, enxadas, marretas na pavimentação das vias e remodelação canais que virariam galerias saneadas. A expedição foi organizada nessa época. Eduardo era um líder à frente do seu tempo. Enquanto os meninos se contentavam com qualquer entretenimento mais bobo, ele planejava aventuras homéricas. O apelido era Quedel. Bom de bola, maciço, da cor da terra, olhos amarelos vivos como duas bolas de fogo. Veio dele a ideia de ir ao igarapé do Jaque, uma semana depois de ele ter achado uma taça velha nas escavações da Marquês de Herval e espalhar que era o copo do Senhor Jesus Cristo, o que traria

vida eterna a quem nele bebesse. Por três dias, tomou água nesse copinho e espalhou que estaria vivo ainda no ano 3000. Mal tinha passado a maluquice do Cálice Sagrado, surgiu com o boato de que aterrariam o Jaque, na área militar que virou balneário secreto para os meninos em tardes colossais. Quedel contou que, devido às obras, o aterro poria fim aos sonhos de desfrutar de um paraíso perdido com fama de ser moradia de papagaios falantes, macacos e jacarés e esconder uma arca com joias enterradas. Antes de tudo terminar, Quedel se apressou para visitar o lugar batizado com o primeiro nome de Costeau, o francês que aparecia em mergulhos no fundo do mar na televisão. O aventureiro mirim reuniu os três amigos mais próximos para mostrar o barco que os levaria. Na verdade, era a parte interna de uma geladeira velha com buracos tapados habilmente com durepox. O plano era entrar no casco e navegar pelo canal do final da rua até o

LEONARDO NUNES

a Expedição epicentro da diversão. Partiram na terça-feira. A primeira meia hora foi para saber que remar não era para qualquer um. Começou a juntar gente para ver a saída. A sensação era de estar numa caravela rumo ao Caminho das Índias. Conseguiram pegar jeito e avançar enquanto ouviam uns “sai daí menino” e até aplausos. Poucos metros adiante deram com um emaranhado de estivadas, tentaram passar por baixo, mas desistiram. A aventura teve que continuar por terra. O capitão Quedel sabia o caminho - Indiana Jones perdia feio para sua coragem e obstinação. O quarteto adentrou na estreita trilha de mato e levou uma saraivada de picadas de mucuins até atingir o córrego de águas escuras por volta das nove horas. Não viram micos nem répteis. Só as aves testemunharam o dia mais divertido daqueles que viram o bairro ganhar asfalto, mais carros, mais prédios maravilhados com a mudança na paisagem e imbuídos de uma imaginação imbatível. SETEMBRO 2014

ANDERSON ARAÚJO

é jornalista, escritor e blogueiro

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NOVOS CAMINHOS

Amazônia como fiel da balança climático Preocupados em chamar a mão Elmar Altvater, o aproveitaatenção para a necessidade de mento dos recursos naturais tem

THIAGO BARROS

é jornalista, mestre em Planejamento do Desenvolvimento Sustentável (NAEAUFPA) e professor da Universidade da Amazônia @thiagoabarros

regulação do clima e de colocar a Amazônia definitivamente como elemento vital para a segurança climática no Planeta, representantes de dezenas de instituições públicas, de iniciativas privadas, movimentos sociais, organizações não-governamentais e centros de pesquisas assinaram a Declaração de Lima, no início de agosto, durante o terceiro Encontro Pan-Amazônico, no Peru. O documento lista recomendações que reforçam a necessidade de políticas públicas urgentes para a valorização das florestas, rios e fauna. Segundo a declaração – que deverá ter destaque nas discussões da 20ª Conferência das Nações Unidades sobre Mudanças Climáticas (COP20), em dezembro deste ano, em Lima –, os serviços prestados à sociedade pelo ecossistema amazônico são capazes de fazer frente às mudanças climáticas. Pesquisas de vários centros e universidades do mundo comprovam a ligação do aquecimento global com o aumento do nível do mar, derretimento das calotas polares e mudança nos padrões de precipitação e dos fenômenos El Niño e La Ninã, que promovem enchentes e secas nunca antes vistas em várias regiões, o que pode se intensficar nas florestas tropicais. Assim, a Declaração de Lima defende uma rede de cooperação internacional que permita a busca pelo equilíbrio do sistema climático. De acordo com o economista ale-

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repercussões globais. Daí a necessidade de um comportamento sustentável dos países da Pan-Amazônia em relação ao uso dos serviços que a floresta oferece. Em Lima, as discussões acerca dos objetivos do documento foram enriquecidas pela apresentação do mais recente estudo do cientista brasileiro Antônio Donato Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa). Em “O Futuro Climático da Amazônia”, ele defende que o bioma abriga uma tecnologia viva e dinâmica de interação com o ambiente. Um dos poderes relacionados ao condicionamento do clima é a “bomba biótica”, que permite à floresta arrastar a umidade do oceano para dentro continente, num processo que dá origem aos rios voadores – fundamentais para a precipitação na direção sul do continente. “As florestas favorecem o clima que lhes favoreça, e com isso geram estabilidade e conforto, cujo abrigo favorece o florescimento de sociedades humanas”, explica Antônio Nobre, no estudo, no qual também defende uma visão da Amazônia com base no pensamento da ativista americana Janine Benyus: os sistemas da natureza oferecem saídas para problemas humanos; a evolução da natureza serve como critério de medida e referência para o que é apropriado; e aprender mais com a natureza e não somente “extrair” dela.

“Os serviços prestados à sociedade pelo ecossistema amazônico são capazes de fazer frente às mudanças climáticas”

LEIA MAIS

Antônio Nobre. O futuro climático da Amazônia. Articulação Regional Amazônica (ARA), 2014. Disponível em bit.ly/1pbtMke Elmar Altvater. Ilhas de Sintropia e Exportação de Entropia: Custos Globais do Fordismo Fossilístico. Cadernos do NAEA, 1993. Janine Benyus. Biomimética, a inovação inspirada pela Natureza. Harper-Colins, 1997.


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