Boletim do Kaos #9

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ONDE PEGAR O SEU EXEMPLAR SÃO PAULO - CAPITAL Região Central DGT Filmes Rua 13 de Maio, 70 Ação Educativa Rua General Jardim, 660 Sebo 264 Rua Rua Álvares Machado, 42 Liberdade - (11) 3105-8217 Restaurante Santa Madalena Rua Sta Madalena, 27 - Bela Vista Conduta Galeria 24 de Maio Porte Ilegal - Galeria 24 de Maio Espaço Matilha Rua Rêgo Freitas, 542 Zona Leste Loja Suburbano Convicto Rua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Pta (11) 2569-9151 Locadora New Holiday Rua Nogueira Vioti (11) 2572-2000 Casa de Cultura do Itaim Paulista Pça Lions Clube, s/nº - Itaim Pta. Sebo Mutante Rua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Paulista Zona Sul Itaú Cultural (Na Biblioteca/Midiateca) Av. Paulista, 149 - 2º Mezanino Bar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dos Santos, 797 - Chácara Santana Loja 1 da Sul Rua Comendador Santana, 138 - Capão Redondo Loja 1 da Sul Av Adolfo Pinheiro, 384 Loja 31 - Galeria Borba Gato Estudio 1 da Sul Rua Grissom, 80-a - Metrô Capão Sarau da Cooperifa (Toda quarta as 20h30) Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana Sarau do Binho Rua Avelino Lemos Jr., 60 Campo Limpo (11) 5844-6521 Sarau da Ademar Rua Pablo Pimentel, 65 Cidade Ademar (11) 5622-4410 Zona Oeste Bar do Santista/Sarau Elo da Corrente Rua Jurubim, 788-a Pirituba Zona Norte CCJ - Vila Nova Cachoeirinha Av Dep. Emílio Carlos, 3641 Banca de Jornal Alt. Nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr. Sarau da Brasa - Bar da Carlita Rua Prof.Viveiros Raposo, 234 Suzano Centro Cultural de Suzano Rua Benjamin Constant, 682 - Centro Santos DULIXO no Marapé tubarao013@hotmail.com www.boletimdokaos.blogspot.com Peça pelo email: boletimdokaos@hotmail.com

O ano de 2009 foi maravilhoso. Conseguimos vitórias em alguns projetos de grande importância. Além, é claro, do Boletim do KAOS. No começo do ano, o Natale (Itaú Cultural) ouviu minha proposta de lançar um jornal mensal de literatura e encaminhou para a Roberta Felinto, da área de Marketing, que desde sempre curtiu e apoiou a ideia. Apresentamos o projeto e o Itaú Cultural patrocinou o custo gráfico das 3 primeiras edições (Abril, Maio e Junho de 2009) para ver como o jornal seria, sua repercussão, importância, etc. Ao final dos três primeiros meses, renovamos o apoio por mais seis meses, de julho a dezembro de 2009. Independente de seguirmos com a parceria em 2010, queria antes agradecer por 2009. O Itaú Cultural nos proporcionou a chance de fazer um veículo novo de literatura, de graça, com 10 mil exemplares por mês nas ruas, de qualidade e que preza o conteúdo. Continuemos ou não, foi importante cada matéria, cada entrevista, cada dica literária. Nomes como Marcelino Freire, Seu Jorge, GOG, Xico Sá, Gilberto Dimenstein, Sacolinha, José Junior, Sérgio Vaz, Fernando Bonassi, Mauricio de Souza, Paulo Lins, Ferréz, Marçal Aquino, Cláudia Canto e tantos outros passaram em nove meses de KAOS pelas nossas páginas. O futuro a Deus pertence, mas acreditamos na renovação de contrato de apoio, para seguir em 2010 fazendo a diferença na informação que corre nas ruas de São Paulo. E o melhor de tudo: 80% da nossa distribuição é pelas periferias, inclusive com representantes em 9 estados e diversas cidades. O KAOS se tornou referência e a Litera Rua promete muita coisa para 2010. Fique ligado no nosso blog (www.boletimdokaos.blogspot.com) que lá postaremos as novidades para o próximo ano. Ainda existem centenas de pessoas para passar por nossas páginas e outras milhares que irão ler. Alessandro Buzo - Editor

Se você quer ajudar, e quer que esse jornal continue no ano que vem mande um depoimento para o nosso blog. O que você acha do KAOS e por que ele deve continuar nas ruas? boletimdokaos@hotmail.com

besouro

Capa da revista Litera Rua (2007), projeto embrião que deu origem ao Jornal Boletim do Kaos. A ideia era que a publicação viesse com CD de poesias.


Por Alexandre De Maio Em abril de 2009 foi para as ruas, ou melhor, para as periferias o Boletim do KAOS número 1. O jornal nasceu com a proposta de falar, divulgar e incentivar a literatura, principalmente aquela, classificada como marginal. Nessa jornada não estávamos a sós. A cada edição fomos acompanhados por grandes nomes que iam de Ferréz, Sérgio Vaz e Buzo, até Plínio Marcos e Gorki. E assim fomos criando um perfil que fala de literatura com o rapper GOG ou com Seu Jorge e no mesmo espaço fala de Lima Barreto e Herman Hesse como na segunda edição. Presenciamos os escritores dominando os meios de produção, como as Edições Toró e o Sarau da Brasa. Além da Suburbano Convicto, Coleção Global e a recém-inaugurada Selo Povo. Nomes de notoriedade nacional como Paulo Lins dividiram capa com escritores estreantes como Toni C. e Esmeralda, sempre acompanhados de clássicos como Gustave Flaubert e João Antonio. Provando que boa literatura atravessa gerações. Também misturamos quadrinhos entrevistando Mauricio de Souza na mesma edição em que falamos de Bukowski a Sacolinha. O ex-presidiário e atual gênio literário Edward Bunker atraiu os leitores mais velhos, enquanto Xico Sá trouxe sua irreverência e Cláudia Canto representou as mulheres. A cada edição, matérias intituladas como “Antes e Depois” trouxeram nomes como Paulo Leminski sobre o lema: Tempos diferentes, estilos diferentes. O mesmo vício, a literatura. Acho que nos destacamos pela ousadia. Criar um veículo que fale de literatura, direcionado para periferia. “Uma loucura!”, pensaria o mais sensato dos editores. Mas conhecíamos essa cultura de dentro e sempre colocamos na mesma estante nomes da literatura mundial como Dostoiévski e manos da zona sul como Sérgio Vaz, Márcio Batista e Rodrigo Ciriaco.

As poesias negras de Solano Trindade abençoavam os textos de Fernando Bonassi e pediam benção a mestres como Machado de Assis, Patativa de Assaré a Léopoldo Sédar Sengher. Abríamos espaço para falar do polêmico Fela Kuti e mostrar a realidade intelectual do rapper/poeta Crônica Mendes. Mostramos exemplos de como é possível um Brasil diferente conversando com Gilberto Dimenstein, do Bairro Escola Aprendiz, e com José Junior, do Afroreggae. Em outro mês, o escritor Jorge Amado dividiu a capa com Alessandro Buzo, que lançava um filme. A II Mostra da Cooperifa ferveu a zona sul. Uma entrevista mostra a história do agitador cultura Eleilson, nome forte por trás da ONG Ação Educativa e da imprescindível Agenda da Periferia, pilar dessa nova cena cultural paulista. Nessa edição Ferréz dá mais um passo na história da Literatura Marginal e lança a Selo Povo contrariando a lógica do mercado, vendendo livros a R$ 5 ao mesmo tempo em que inaugura um ponto de distribuição no centro da cidade. Ainda tem espaço para Marçal Aquino, Litera Rua, cinema, música projetos, charges e até o fim do ano tem muito mais. Imagine em 2010 quantos nomes ainda vão passar pelo Boletim do KAOS, quantas conexões são possíveis? “Quem lê enxerga zmelhor”, como diz meu parceiro Sergio Vaz e, como descreveu Gilberto Dimenstein, somos parte dessa “Mistura do KAOS urbano com a riqueza humana”. Que venha 2010. “Jogando com elegância para vencer o time da Ignorância”, cantou Wesley Noóg. Um ano decisivo.


Nosso projeto começou com base na Litera Rua e na primeira edição contamos a história dessa cena, focando em nomes fortes como Ferréz, Alessandro Buzo e Sérgio Vaz. Em vez de tentar definir o que era a Litera Rua, mostramos a produção cultural de cada um, delineando as várias faces deste novo movimento literário. Uma matéria com Allan da Rosa e a história das Edições Toró mostrou que os escritores começavam a dominar os meios de produção. Investigamos como andava a lei que criava uma editora pública, enquanto uma matéria contava a história de Gorki. Mostramos nessa edição os lançamentos de livros, cinema e música e na sessão “ONG Q Representa” falamos sobre a Casa do Zezinho. O destaque da edição é a entrevista com o diretor/ escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli. Direto de Portugal, a jornalista Juliana Penha fala sobre os livros de Paulinho da Viola, que fazem sucesso tanto lá como no Brasil.

Um guia cultural destaca as atividades do mês e Ferréz publica a crônica “Assistindo e sendo humilhado”. Há também uma entrevista com Tata Amaral e o ativista Carlos Moore e uma matéria sobre o Slam. O Movimento Mundial dos Saraus completou a edição que encerrou passando por Rappin Hood e pelo filme “O homem que virou suco”. Na dica de site nascia a parceria com o site Catraca Livre e a sessão “Antes e Depois” estreava em grande estilo com Plinio Marcos e Sacolinha. Tudo isso só foi possível porque nesse sonho acreditaram parceiros como Itaú Cultural, Editora Global, Ação Educativa, Estúdio 1 Da Sul, Cooperifa, DGT e Agenda da Periferia. Em abril de 2009 estava lançada a ideia que foi concretizada com festa de lança-mento na DGT, na Cooperifa e na Ação educativa.

O elegante grupo dos escritores marginais só crescia. No KAOS número cinco, no mês do cachorro louco, Xico Sá, Cláudia Canto, Edward Bunker, Lobão, Paulo Leminksi, Sérgio Vaz e Claudio Portela se juntavam com os coletivos Sarau da Brasa, 1 Da Sul, Cooperifa e Elo da Corrente. Para finalizar o time, o cineasta Ricardo Elias fechava o grupo que levava suas ideias, estilos e sonhos para mais de 10 mil leitores espalhados pelas periferias de São Paulo e do Brasil. Porque, além de distribuirmos em saraus e pontos culturais de São Paulo, ainda separamos uma grana para mandar jornal para vários pontos do Brasil, assim recebendo cartas de Salvador, Minas Gerias e outros estados. Voltando de uma viagem pela Europa, o rapper Dudu falava sobre seus planos de lançar um livro, enquanto Luis Melodia e seu filho Mahal comemoravam o dia dos pais em show gratuito. Xico Sá declarou:

O segundo número da sua dose mensal de ®evolução saiu em maio e trouxe muita gente interessante. Numa viagem a Brasília, Buzo entrevistou o rapper GOG, que começava a integrar o conselho nacional de cultura. Na mesma edição, o ganhador do Prêmio Jabuti, Marcelino Freire, declarava “Não nego a importância do prêmio, mas não posso me sentir um Jabuti, entende?” E com certeza ele não é. No mesmo mês um projeto seu levava autores para os palcos num evento que reuniu Sérgio Vaz e Ferréz. Continuando nossa investigação pela editora pública, fomos até a Assembléia Legislativa e tomamos conhecimento de que o projeto foi derrubado pelo atual governador José Serra. Nesse mês, Délcio Teobaldo lançava o livro Pivetim e, simbolicamente, Afro-X terminava de cumprir sua pena de 14 anos lançando um livro se no Itaú Cultural. Ainda falamos de Marcio Batista a Herman Hesse,

“[O Boletim do KAOS é] mais um meio de comunicação democrático no nosso cenário” (GOG)

“O estouro, a ruptura está em acontecimentos como o Boletim do KAOS, entre outras fontes marginais que vão comendo pelas beiradas.” Nessa edição surgiu o Espaço Vip da Poesia, com Roberto Ferreira Lima e sua poesia “Tudo Bacana”. Outro espaço também foi inaugurado e chamado de Ideias Cruzadas, testando o conhecimento marginal dos leitores. Falamos sobre o projeto baiano Blackitude e sobre a literatura do jornalista, preso, Mumia Abu Jamal. Uma matéria também falou sobre a Flip e Fernando Bonassi trouxe o texto “Os profissionais”. A Selo Povo nascia oficialmente e falava sobre seus projetos e o espaço de anúncio do Itaú Cultural tomava forma de informativo e mostrava a Biblioteca e a Videoteca da Instituição.

tivemos entrevista com Seu Jorge e mostramos a ONG Ação Educativa . No Espaço Vip das palavras, Eliane Brum trazia o texto “O dia em que Tião ameaçou a moralidade do sistema”. Ainda Sérgio Gag falava sobre os bastidores da gravação do quadro “Buzão, circular periférico”, da TV Cultura, produzido pela DGT. Ainda sobrou página para debater as mudanças da Lei Rouanet, falar sobre o site Jornalirismo, a coluna da Juliana Penha direto de Portugal, o lançamento do estúdio 1 Da Sul e mostrar que, se antes tínhamos o Lima Barreto, hoje temos Rodrigo Ciriaco.

Agradando desde o adolescente até o mais experiente, o Boletim do KAOS seguia sua linha editorial trazendo nomes de peso e, nessa edição, entrevistamos Sérgio Vaz, o mentor da Cooperifa, coração dessa nova cena cultural. Dividindo a capa com ele, Fernando Bonassi, roteirista da Rede Globo, declarava: “A entrada

da periferia na Cultura é um dos grandes acontecimentos sociais de nossa experiência democrática recente, sem dúvida”. Nomes internacionais como Dostoievski dividiam a

página com poetas contemporâneos como Raquel Almeida. No Perfil do Poeta, Jairo falava das sua influências. Na zona norte de São Paulo, visitamos o Sarau da Brasa e na sessão Q Representa falamos da ONG Interferência, do Ferréz. Juliana Penha, de Lisboa, escreveu o texto que falava sobre o livro Vendidas, que relatava o tráfico de seres humanos no mundo. A Agenda Cultural crescia a cada edição e Buzo trazia o texto “Favela não tem Heliporto” enquanto entrevistamos Wesley Nóog sobre sua viagem à França. Falamos sobre projetos culturais interessantes como Matilha Cultural e Eletrocooperativa. Numa matéria sobre o filme “Profissão MC”, Criolo Doido falava: “Vejo hoje nos sarais

de poesias, nas quebradas, o mesmo empenho do hip hop que conheci há 20 anos. Parabéns a todos os poetas”. Nessa mesma edição, a família de Solano Trindade era homenageada na sessão Antes e Depois. Na dica de cultura divulgamos o projeto “Em ritmo de aventura – O cinema da jovem guarda”, do Itaú Cultural.


Essa terceira edição marcava o fim da primeira fase do projeto e a renovação da parceria com o Itaú Cultural, que possibilitou que o jornal fosse feito até o final do ano. Com tanta coisa em jogo a publicação veio recheada. Falamos sobre as Edições Toró, entrevistamos Paulo Lins, Esmeralda e Toni C. Tivemos ainda uma matéria especial que falava sobre o destaque das mulheres na literatura marginal e a Selo Povo já anunciava sua existência. A história de Gustave Flaubert dividia a edição sobre o filme “Profissão MC”, que já estava sendo gravado. Na sessão Q Representa, a ONG Enraizados, do Rio de janeiro, foi o destaque. Enquanto isso, direto da Europa, Juliana Penha fala sobre a xenofobia. Uma foto com Marcelino Freire na feira de livros, em Lisboa, com o Boletim do KAOS na mão nos encheu de orgulho, pois já começávamos a sentir a repercussão nacional do nosso jornal. No Espaço Vip das palavras Sérgio Vaz, o Poeta da periferia, trazia o texto “O riso do palhaço sem alegria”. Uma história em quadrinhos diferente começava a nascer em parceria com o site Catraca Livre, uma construção online. No canto da poesia tivemos Michel, do Elo da Corrente, e no Antes e Depois mostramos de João Antonio a Ferréz. Também tivemos matérias com MV Bill, Caco Barcelos e Paula Lima falando do prazer em aprender.

Na edição de número 7 mostramos como o Brasil pode ser diferente dando exemplos de projetos e entrevistando seus idealizadores. Falamos com Gilberto Dimenstein, do projeto Bairro Escola cartunista Xandão assumia as Apren-diz, e com José Tiras, o Sarau do Ademar dava Júnior, do AfroReg- apoio e a DGT filmes era a gae. “Começamos as oficinas de estrutura, para vencermos. O exérforma amadora, a gente tirou a fa- cito é forte e conta também com vela das páginas policiais e a colo- nossos ancestrais africanos como cou nas páginas culturais” , disse com Léopold Sédar Senghor, do Senegal, e Fela Kuti, da José Júnior. Matérias como “Do Concretis- Nigéria. Nossas armas podem ser mo ao Twitter” ou mesmo a divulgação papel e caneta, mas nossas ações da II Mostra Cultural da Cooperifa também são práticas como o 20º mostravam que o movimento da Litera Rua Favela Toma Conta ou o espaço crescia a cada dia e nosso papel educa- Quebrada Digital, que fortificam cional também ficava cada vez mais claro. nossas ações. Na coluna de fotos da Éramos, na essência, um incenti-vador da literatura nas periferias. “A luta pela Marilda Borges, Seu Lorival, educação é o mais atual e urgente Thaide, GOG e Zinho Trindade são soldados nessa luta. No Antes abolicionismo porque a pior escra- e Depois, vemos que Patativa de vidão é a ignorância. A falta de Assaré nos deixou, mas seu educação”, falou Gilberto Dimenstein. espírito vive em parceiros contemPara vencer essa guerra, nomes porâneos como João do Nascido passado como Machado de Assis e mento. poetas do presente como Lu Souza e E como temos que formar Crônica Mendes eram imprescindíveis novos guerreiros, na dica de a cada batalha. cultura falamos sobre o Novo Site Tomando partido da batalha, o do Itaú Cultural, dedicado às crianças.

Com a parceria garantida até o final do ano, trouxemos uma entrevista com o mestre dos quadrinhos, Mauricio de Souza, e também com o escritor/ agitador cultural Sacolinha. Mantendo a linha de trazer nomes que foram bases da literatura marginal, Bukowski foi o nome seguido da sessão Perfil do Poeta, com Augusto, da Cooperifa. Divulgamos a 9º Semana da Cultura hip hop e uma matéria com o Samba da Vela. As tiras da 1 Da Sul também começaram a ter espaço no jornal. Na mesma edição, falamos do exemplo que é o AfroReggae e do Sarau do Binho. Juliana trouxe a triste história da escritora africana Fauziya Kassindja. A coluna de lançamento o mês estava cheia e Paulo Lins nos presenteava com o texto “Destino de Artista”. Uma matéria sobre Fanzine contava um pouco da nossa história e uma entrevista com Edson Natale, do Itaú Cultural, falava sobre os projetos da Instituição. Contamos com a coluna de fotos da Marilda Borges, que esteve presente em todas as edições com nomes como MV Bill e Heloisa Buarque de Holanda. E na sessão Antes e Depois, íamos de Marcos Rey a Alessandro Buzo.

Mês passado a nossa luta pela valorização da literatura se manteve e foram recrutados nomes como Alessandro Buzo que, além da caneta, agora usa as telas de cinema como arma. Mostramos a história de vida surpreendente (para muitos) de Eleilson, o cérebro por trás da Ação Educativa, o QG da periferia no Centro. Em entrevista, ele declarou: “Editorialmente acho brilhante. Quando vi, logo pensei: é a imprensa alterna-tiva dos anos 70 com o frescor da cultura da periferia atual. É um trampo de heróis. Pouquíssimas pessoas botando um jornal com essa qualidade na rua todo mês é a prova de que é possível dar vida aos nossos sonhos”. Jorge Amado foi chamado para essa batalha diária junto com os cartunistas Xandão e Mauricio Pestana. Falamos sobre projetos como o Imagens Periféricas, que fazem sua parte no fundão na zona norte. Uma das grandes batalhas desse mês foi reunir todo o exército na II Mostra da Cooperifa, que levou milhares de pessoas a consumir teatro, música, dança, artes plásticas, cinema e literatura de qualidade. A virada cultural da periferia que o Estado não fez.

Projetos interessantes como o Urbanias são aliados nessa luta, assim como a poesia de Berimba de Jesus ou o livro de Érica Peçanha. Nessa missão também relatamos as lutas e a trajetória da Poesia Maloqueirista e a importância do Itaú Cultural. No Mês da Consciência Negra levamos centenas de eventos às ruas e tivemos vários lançamentos de livro inclusive o livro de crônicas de Ferréz, que inaugurou a Selo Povo, que tem a filosofia de vender livros a R$ 5, quebrando a lógica do mercado enfraquecendo o inimigo. No Espaço Vip a munição veio com o texto do Sacolinha, “Cheiro de pão”, junto com o evento a “Invenção do Mundo”. Até aqui já se somavam 80 mil jornais nas ruas, isso sem contar com os acessos ao nosso blog, feito em parceria com a Uol e o site cultura Hip hop. Se cada jornal passar, no mês, por três pessoas, aí já vamos para 240 mil atingidos por cultura, arte e informação. Uma dura batalha contra centenas de mídias que disseminam o nada, a futilidade e a desvalorização do próximo. Continuamos firmes nessa luta e nosso exército cresce a cada dia.


Não vou perguntar de favela, nem de crime, tá bom? Hehe. Agradeço o diferencial em relação a todas as entrevistas. A sua história, com o lançamento do livro “Capão Pecado”, em 1999 e com a coleção Literatura Marginal, da Caros Amigos, serviu de incentivo para muita gente e uma nova cena literária explodiu, depois embalada pelos saraus. Agora você dá um novo passo, lança a Selo Povo e a loja 1 Da Sul, no centro. Fale sobre esses dois novos projetos e quais os planos da literatura marginal para 2010? Você esperava que essa cena crescesse tanto? Acho que tudo que é plantado com respeito e dignidade acaba crescendo, a Literatura Marginal plantou isso, foi humilde, educada e soube trabalhar, está na hora de colhermos os primeiros frutos, mas ainda temos uma safra inteira para criar, a cena crescer está sendo o começo de uma verdadeira revolução. A 1 Da Sul no centro é um processo de crescimento da marca e de distribuição dos nossos produtos, para não ficarmos sendo vítimas dos comerciantes, que não entendem a nossa cultura e nossa motivação, acho que começa um novo marco para a cultura de rua. O livro “Cronista de um Tempo Ruim” mostra como são vários pensamentos seus. Você ainda me parece um cara revoltado com situação geral do país. Você sente uma mudança real nas ruas, você acha que ganharemos essa guerra? Sou revoltado com a covardia, com o preconceito, com a falta de atenção ao nosso povo e acho que vamos ganhar essa guerra pelo diferencial de esforço e talento, que a periferia tem tanto. O sistema se aposenta, muda de profissão, foge do país. A periferia está onde sempre esteve, só que agora está sabendo o que quer.

“A 1 DA SUL NO CENTRO É UM PROCESSO DE CRESCIMENTO DA MARCA E DE DISTRIBUIÇÃO DOS NOSSOS PRODUTOS, PARA NÃO FICARMOS SENDO VÍTIMAS DOS COMERCIANTES, QUE NÃO ENTENDEM A NOSSA CULTURA E NOSSA MOTIVAÇÃO, ACHO QUE COMEÇA UM NOVO MARCO PARA A CULTURA DE RUA” momento, acho que o país está indo para um rumo diferente, parar esse rumo ou mudar vai de quem votar, muita coisa ainda vai rolar para a campanha presidencial. Agora temos a Marina Silva na jogada e isso muda muito. “Os pequenos olhos azuis mudavam de cor com a ação do filme, e o cine Dom Bosco nunca foi tão luxuoso, ninguém acreditaria que aqueles olhos ficariam mais apagados, e depois seriam cobertos com lentes de vidros, e que em alguns anos eles fariam brotar tanta água sentimental, que faria a bochecha hoje aveludada da pequena ser mais a frente um duto profundo de transição para a descida das lágrimas.” Trecho do novo romance do Ferréz Fale sobre o novo romance que você está escrevendo. Chama-se “Deus foi almoçar”, estou trabalhando desde 2004 nele. Estou muito contente com o clima do livro e com o personagem que criei. É tudo em volta de um só homem de meia idade e de seu interesse por uma mulher que vive lavando o quintal. É um texto bem psicológico e, provavelmente, sai no começo de 2010.

Literatura, quadrinhos, televisão, blogs, saraus, shows. Em qual espaço você é mais Ferréz? Tento ser eu (e é difícil) em todos eles, mas me identifico na escrita, amo escrever, sangro pelos dedos, me exponho, é onde me completo.

Como você vê a Literatura Marginal em 2010? Quais os novos talentos que você vê na cena? Tem muita gente boa. Eu citaria o Ridson Du gueto, o Allan da Rosa, o rapper Gaspar, que podia vir para a literatura tranquilamente, assim como muitos nomes do rap que fazem literatura e não aprofundam. Tem muito autor que está fazendo tanta coisa que deixou o lirismo ir embora. Está na hora de trazer ele de volta, tem de ter qualidade, tem de ler muito, temos que nos dedicar, saber sim dos outros autores, das obras clássicas e também das não clássicas, pois a linguagem é nossa ferramenta. Temos que saber dos assuntos, estudar muito, ninguém vive só da palavra "periferia". Falando dela ou não, o que vale é o talento para narrar, para contar grandes histórias, e disso não podemos nos esquecer.

Hoje já existe algum incentivo do governo para a cultura, para projetos e estamos chegando ao final do segundo mandato do Lula. Você acha que o Serra ganha as próximas eleições? Política é jogo, jogo muda a todo o

Buzo lançou um filme e jornal, você uma editora e mais uma loja, Sérgio Vaz fez uma semana inesquecível de eventos, seus livros são lançados em outros países. Qual o próximo passo para a literatura marginal em termos estéticos e de conteúdo?

Quais os próximos lançamentos da Selo Povo? Cernov, uma grande escritora de Rondônia e também a Cidinha da Silva, escritora que está em Minas Gerais. Tem também Lima Barreto. Depois desses é segredo, mas estamos montando um time muito bom. Tem muito trabalho ainda por vir.


“Temos que saber dos assuntos, estudar muito, ninguém vive só da palavra "periferia". Falando dela ou não, o que vale é o talento para narrar, para contar grandes histórias, e d isso não podemos nos esquecer.” Precisamos de mais romances, tem muita poesia, crônica, mas pouco romance. Precisamos plantar isso, e ampliar a cultura, fazer ela ficar viável para os manos e minas virem para a arte de uma vez, e não ficar na corda bamba. Temos uma grande coisa para construir, que é a estrutura do movimento, acho que o Buzo, Vaz, Sacolinha, Allan, Binho são as pilastras para isso, com uma infinidade de talentos que esperam o próximo passo. O que você fala para aqueles que dizem que o termo “Literatura Marginal” estereotipa a literatura feita na periferia? Se eu ligasse para o que dizem estaria vendendo pão até hoje, faço literatura divergente, provocativa, com linguagem própria, que privilegia a margem, a perifa, então é L.M. mesmo. Você experimentou atuar fazendo um papel no seriado 9MM da Fox. Como foi a experiência? Estranho. Atuar é difícil, foi só uma brincadeira do roteirista que escrevia comigo, o Marc Bechar, e esse ano tem mais umas incursões na nova temporada, onde eu volto com esse personagem. É legal fazer coisas diferentes, experimentar, nos outros países isso é comum. Veja a cena do rap gringa, onde os caras estão fazendo várias coisas, o importante é não perder o foco e se divertir no final. O que você tem lido ultimamente? Toda a obra de Alan Moore, que eu estou tentando há 10 anos ler e agora estou conseguindo, pois montei a coleção. Paralelamente, leio Dalton Trumbo e Norman Mailer, que foi uma indicação do Henry. Estou terminado o Pablo Neruda. Como gosto muito de desenho, estou acompanhando os trabalhos iniciais de Frank Miller e também estou acompanhando a carreira de Brian Azzarelo, que escreve muito, além de terminar a trilogia de John Fante, o 1933. Fora isso, acabei de ler Dee Brown, mais uma seleção do Manuel Bandeira e estou estudando os livros que abordam a obra de Gorki, como o do Cadinho. O que é ser conselheiro editorial do jornal Le Monde Diplomatique Brasil? É uma responsabilidade sobre os temas, matérias, muita coisa de perifa que sai lá a gente planta no conselho. Você tem três lojas da 1 Da Sul e isso te dá um contato direto com público consumidor na periferia. O perfil mudou nesse anos? O que a periferia quer consumir? Mudou muito. O funk veio e, ao contrário do que muitos dizem, não foi embora. Não gosto desse som, mas ele pegou os moleques que antes ouviam todas as músicas, inclusive rap. Ainda tem muita resistência do rap, mas o funk fez o perfil do público mudar, fora isso as marcas de surf ficaram mais fortes, a nova geração é um pouco mais inconsequente. Acho que mudou bastante coisa, mudou não, está

mudando ainda. A gente acompanha isso nas lojas, é uma realidade, mas a verdade é que o rap não está em crise, está passando por um processo natural de mudança e, para sobreviver, vai ter de voltar a trabalhar com respeito ao público e a si mesmo. Em um de seus livros você fala sobre o Capitalismo e suas maze-las. Como você separa o escritor do empresário? Tento não ser um Lex Luthor, tento ser o cara que coliga, que monta a estrutura, mas não se lambuza com ela. Estou trilhando meu caminho na caneta, escrevendo e trabalhando muito, é difícil, mas tento ter o que para mim é importante, e não mais que isso. Tenho uma casa, um carro, não preciso de três, o bom de ser empresário é que dá para ajudar muita gente se você for bem intencionado. Registrar um cara sem experiência, dar oportunidade, lançar algum autor que uma grande nem atenderia, dar a um grupo que nunca gravou um par de roupas, isso é bom demais. A felicidade existe cara, eu a conheço quando faço algo assim. Você tem um coleção enorme com várias raridades, quais são os 5 destaques da sua coleção? Puts, essa é difícil. Vamos lá. 1)Autógrafo do Herman Hesse num original do autor comprado na Áustria, de 1949. 2)Livro da editora Nova Fronteira que prova que Walt Disney roubou a ideia do Zé Carioca do desenhista J. Carlos. 3)Quadro com os frames originais do seriado Arquivo X. 4)A coleção dos Super Heróis Shell lançados pela editora Ebal (a primeira aparição dos heróis americanos no Brasil). 5)Toda a obra original de Carolina Maria de Jesus, incluindo o primeiro livro publicado em agosto de 1960 (a primeira escritora de favela a lançar um livro no Brasil). Qual foi seu maior obstáculo? Ler para as pessoas. Ninguém parava para eu poder ler um trecho e assim ver se eu escrevia algo que fosse bom. Qual foi seu maior erro? Não achar uma resposta decente para essa pergunta é meu maior erro. Qual é sua melhor distração? Ler quadrinhos e brincar com minha filha. Qual sua primeira necessidade? Amizade. Gosto de estar rodeado de amigos.

O que mais te faz feliz? Um show do GOG, ver o Gaspar falar de Zumbi, o Ridson declamar sobre Palmares, o Marcelino ler um conto, o Sérgio Vaz apresentar o sarau, o Buzo e suas mil pernas, ouvir uma música do Arnaldo Antunes, ver um quadro original do Mutarelli, ver a biblioteca Êxodus cheia de crianças, ver um menino encher o balcão da 1 Da Sul de moedas de 10 centavos para comprar um boné, ter a honra de ser abordado num beco na vila missionária por um menino de 10 anos perguntando se eu tenho uma história para contar. Essas coisas são demais. Qual o maior mistério? Natureza. Qual seu pior defeito? Ser simpático. As pessoas confundem com falsidade, mas não é. Qual a coisa mais perigosa? As cobranças. Ter de provar que você é o cara às vezes te leva aonde não quer ir.

“A PERIFERIA ESTÁ ONDE SEMPRE ESTEVE, SÓ QUE AGORA ESTÁ SABENDO O QUE QUER”

Qual o pior sentimento? Inveja, esse sentimento é terrível, principalmente quando a gente não quer enxergá-la em volta. O que a periferia tem, que o centro não tem? Garra, determinação, postura, firmeza nas palavras, nos atos. A periferia não foi criada para dar certo, e está dando. O que a Literatura Marginal faz que a literatura não consegue? Cativar, provar que é louco, que é gostoso ler, interpretar, escrever, que o bagulho é vida, que é nosso, que é de todo mundo e que você faz parte também.

“CATIVAR, PROVAR QUE É LOUCO, QUE É GOSTOSO LER, INTERPRETAR, ESCREVER, QUE O BAGULHO É VIDA, QUE É NOSSO, QUE É DE TODO MUNDO E QUE VOCÊ FAZ PARTE TAMBÉM”

“TENTO NÃO SER UM LEX LUTHOR, TENTO SER O CARA QUE COLIGA, QUE MONTA A ESTRUTURA, MAS NÃO SE LAMBUZA COM ELA”


Li que você acha curioso o porquê o pessoal vai muito ao cinema e sai do filme dizendo: “o livro era melhor”. O pessoal vai ver teatro baseado em litera-tura e ninguém sai da peça dizendo que o livro era melhor. É só no cinema que isso acontece. Por quê? Nunca entendi por que as pessoas só falam do livro-matriz quando saem do cinema, em geral para falar mal do filme. No teatro, isso não acontece. Idiossincrasias, acho. Você também disse que só escreve à mão, em caderno. Ainda hoje é assim? Sim, só escrevo literatura em cadernos. É um vício, uma cachaça. Não vejo graça em escrever direto no computador; já tentei, não gostei do resultado. Bom, depois de todos esses anos, no mínimo melhorei minha letra. Você nasceu em Amparo, no interior paulista, em 1958. Quando, como e por que veio para a cidade grande? Cheguei a São Paulo no começo da década de 80. Vim porque queria trabalhar como jornalista e escrever literatura.

Marçal Aquino lançou 13 livros e fez roteiros de alguns filmes. Hoje trabalha com roteiros para a TV, faz (com Fernando Bonassi) o “Força Tarefa”, da Rede Globo. Atualmente escreve a segunda temporada que vai para o ar em 2010. Sua maior ligação com a periferia foi o livro “O Invasor”, que escreveu. Depois fez o roteiro para cinema e, no filme, conheceu o rapper Sabotage. Ele o define assim: “Foi muito legal ter feito ‘O Invasor’, ter convivido com o Sabotage, um puta artista. Talvez a inteligência artística mais afiada que eu vi na vida.” Marçal Aquino se mostra uma pessoa tranquila, de hábitos simples e bastante focado no trabalho, que demonstra trabalhar por prazer, um cara que fez e apostou em outras coisas, mesmo quando financeiramente falando não eram viáveis. Um sonhador, na minha opinião como entrevistador, mas leia e tire suas próprias conclusões. Quem é Marçal Aquino? Nasci em Amparo, no interior paulista, há 51 anos. Sou jornalista, escritor e roteirista de cinema e de televisão. Gosto muito de livros, mas muito mesmo. Tenho uma filha de 17 anos que mora comigo e com milhares de volumes. Escrevo porque tenho uma inesgotável curiosidade pelas pessoas, e escrever, para mim, é falar de pessoas que a gente gostaria que existissem. Comente essa sua afirmação: “Em cinema você depende de muita gente. O cinema necessariamente é coletivo”. Enquanto a literatura é uma reserva de solidão, cinema é, necessariamente, coletivo. É uma frase autoexplicativa: ninguém faz cinema sozinho. É impossível fazer o filme de cada pessoa. O que o diretor faz é o que de perto mais agrada a ele. Digo “mais perto” porque ele também está sujeito a uma série de injunções, porque é coletivo, não depende só dele. Depende do fotógrafo, depende dos autores, do maquiador. Esse é mesmo o limite de um diretor? O cineasta sempre é limitado pelas circunstâncias, a maioria delas de ordem material.

Você é jornalista, atuou como revisor, repórter e redator, com passagens pelos jornais O Estado de S.Paulo e Jornal da Tarde. Atualmente, trabalha como jornalista free-lancer. Como é trabalhar na grande mídia impressa? A experiência como jornalista da grande imprensa, sobretudo o trabalho como repórter, foi fundamental para a minha literatura. Tive o privilégio de trabalhar no Jornal da Tarde, um reduto de escritores. Era um jornal que dava muito valor ao texto literário. Foi um baita aprendizado. Saí quando consegui criar condições para viver como free-lancer, visando a ter mais tempo para escrever meus livros. Um sonho, claro. O Prêmio Jabuti em 2000 foi importante, em qual sentido? Só pelo reconhecimento? O Prêmio Jabuti foi muito importante para minha consolidação como escritor. É um prêmio que, inegavelmente, tem altos respeito e reconhecimento. Bom, todo prêmio é importante porque, em alguma medida, representa distin-ção e reconhecimento de um trabalho. Que outros prêmios você ganhou e destaca? Destaco também o prêmio na Bienal Nestlé de Literatura, em 1990, que permitiu que eu, finalmente, publicasse o livro de contos “As fomes de setembro”, que estava pronto havia quase uma década, mas não tinha espaço nas editoras – o conto, depois de uma década de ouro nos anos 70, anda meio maldito entre os editores. Quantos livros você publicou e de quais gosta mais? Publiquei 13 livros até hoje. Não tenho um preferido, gosto de todos, pois, com eles,

compreendo o momento da minha vida em que foram feitos. “O Invasor”, no cinema, trouxe o rapper Sabotage e isso aproximou o filme do público periférico, como vê essa ligação? A ambição de qualquer artista é falar com todas as camadas sociais, sem nenhum tipo de exclusão. E a gente sabe que o pessoal da periferia é deixado meio de lado, meio segregado. Foi muito legal ter feito “O Invasor”, ter convivido com o Sabotage, um puta artista, talvez a inteligência artística mais afiada que eu vi na vida. E ter dialogado com um público inteiramente novo para nós todos que participamos do filme. Foi lindo. Conhece a cena literária periférica? O que destaca? Impossível conhecer tudo que se produz atualmente, tanto no centro quanto na periferia. Falta tempo para tanta coisa. Então a gente vai lendo os caras do jeito que dá. Mas conheço e procuro acompanhar o trabalho do Ferréz, do Sacolinha e do Sérgio Vaz, que são grandes batalhadores. Você faz roteiros de textos de sua autoria (“Os Matadores”, “Ação entre Amigos”, “O Invasor” e “O amor e outros objetos pontiagudos”). É mais fácil ou mais complicado? Em se tratando de adaptação, confesso que não vejo muita diferença em trabalhar com um livro meu ou de outro autor. Afinal, quem quer fazer o filme – e tem uma visão desse livro – é o diretor. Meu trabalho é auxiliar tentando botar no papel essas ideias dele combinadas com as minhas. Quais roteiros originais já você fez. Lembro de “Nina”. “Nina” é o único roteiro original que escrevi até hoje, em parceria com o Heitor Dhalia. Todo os outros roteiros com os quais me envolvi, com exceção do seriado “ForçaTarefa”, que escrevo com o Bonassi, têm matriz literária. Voltando à literatura, comente seu primeiro livro: "Por bares nunca dantes naufragados". “Por bares nunca dantes naufragados”, publicado em Campinas, em 1985, dá conta do período em que pensei que poderia escrever poesia. O problema é que, aquilo que eu chamava de poemas, tinha trama, personagens, situações. Era prosa presa num certo formato poético. Então, logo depois desse livro, vivi uma "crise", deixei de lado qualquer veleidade poética e passei a dedicar todo meu esforço à prosa, o que, como sabe qualquer pessoa que escreve, já é uma façanha. Você é boêmio?


Já fui boêmio, há alguns anos, até por ter trabalhado na noite, como jornalista. Hoje em dia vivo mais recluso. Saio muito pouco, mais pra ver os amigos. Atualmente, o único bar que frequento é a Mercearia São Pedro, na Vila Madalena. Você disse que literatura nasce na rua, da observação das grandezas e indigências de que é capaz a maravilhosa espécie humana. Sempre é isso, algo do real? Observação? Faulkner dizia que literatura é “observação, imaginação e experiência”. Acredito nisso. Acho que cada um desses itens tem seu peso naquilo que escrevo. A observação é muito importante. Vários textos meus nasceram de algo que vi, ouvi ou presenciei no dia a dia. Mas a imaginação tem também um papel fundamental no negócio. E também a experiência vivida. Você se entrega à prosa. Por que não escreve poesias? Não escrevo poesia por três razões: a) não sou poeta; b) por higiene; c) por respeito aos poetas verdadeiros que leio, gente como Drummond, Bandeira, Murilo Mendes e Jorge de Lima. “Textos encomendados”, de assuntos que estão em evidência, te atraem? Eu nem chego a ter drama nenhum com os convites que recebo para textos de encomenda, porque sequer posso pensar em aceitá-los, já que trabalho absolutamente concentrado nos roteiros do “Força-Tarefa”. Você tem vários livros publicados e faz roteiros de filmes. Vive disso ou do trabalho de jornalista free-lancer? Literatura raramente dá dinheiro, ou dá muito pouco para poucos. Mas é impossível viver sem fazer. O cinema também é meio economicamente inviável. Vivo hoje do meu trabalho como roteirista de televisão, assim como já vivi do meu trabalho como redator free-lancer. Nunca vivi de literatura ou cinema. E isso não me deixou infeliz nem me fez abandonar qualquer uma dessas atividades. Você trabalha em “Força Tarefa”, da Globo. O que acha da série? Neste momento, escrevo com o Bonassi os episódios da segunda temporada, que irá ao ar no ano que vem. Tem sido uma experiência maravilhosa e um dos maiores desafios que já enfrentei na vida. Com o livro "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos

lábios", você comemorou 20 anos desde a primeira publica-ção. Comente essas duas décadas de carreira. O que se des-taca, o que não queria nem lembrar? Eu não me arrependo de nada que escrevi. E algumas das coisas que escrevi me deram muitas alegrias. Acho que é um saldo e tanto. Li o livro citado na pergunta anterior. De onde surgiu a ideia da história de Lavinia e Cauby? Surgiu daquele lugar misterioso de onde surgem todas as minhas histórias. Eu também não sabia nada daquilo enquanto ia escrevendo. Escrever, para mim, é descobrir. Foi uma grande experiência ter contado essa história de amor, que era uma coisa que eu queria fazer fazia tempo e nunca dava certo – comecei o “Cabeça a prêmio” achando que era uma história de amor, imagine. Cite três filmes nacionais de que você gosta muito. Gosto muito do “Assalto ao trem pagador”, do Roberto Farias, que é um filme esplêndido na rara filmografia policial brasileira. Gosto do “Toda nudez será castigada”, do Jabor; e também gosto do “Copacabana me engana”, do Antonio Carlos Fontoura. Pena que você só me pediu três; há centenas de filmes brasileiros que amo com paixão. Indique três livros. “São Bernardo”, do Graciliano Ramos; “O cobrador”, do Rubem Fonseca; “Um copo de cólera”, do Raduan Nassar. Três autores essenciais. Wander Piroli, Domingos Pellegrini e Luiz Vilela. Três cineastas. Stanley Kubrick; Michael Haneke e Martins Scorsese. Diga um sonho a realizar e outro realizado. Realizo meu sonho todos os dias quando escrevo.

Como é seu dia a dia? Meu cotidiano é bem comum. Acordo cedo, minha filha vai para o colégio, preparo meu café, chega o Bonassi, começamos a trabalhar e vamos até a tarde, parando para um almoço rápido. À noite, cuido de outros assuntos que me envolvem. Ou então gosto de ler ou de assistir a um filme com a Lorena, minha namorada. É mais ou menos essa a minha rotina.

“EU NÃO ME ARREPENDO DE NADA QUE ESCREVI”

“FAULKNER DIZIA QUE LITERATURA É OBSERVAÇÃO, IMAGINAÇÃO E EXPERIÊNCIA” “ESCREVO PORQUE TENHO UMA INESGOTÁVEL CURIOSIDADE PELAS PESSOAS, E ESCREVER, PARA MIM, É FALAR DE PESSOAS QUE A GENTE GOSTARIA QUE EXISTISSEM” “A EXPERIÊNCIA COMO JORNALISTA DA GRANDE IMPRENSA, SOBRETUDO O TRABALHO COMO REPÓRTER, FOI FUNDAMENTAL PARA A MINHA LITERATURA”

“REALIZO MEU SONHO TODOS OS DIAS QUANDO ESCREVO.”


Certa vez, um amigo emprestou-me um livro chamado “Pepitas de Ouro” e disse-me que era algo para meditar. Fiquei meio naquelas e aceitei com todo o preconceito de quem ignora a filosofia e literatura indiana. Nunca havia lido nenhum autor oriental e ele apresentou-me Osho. Foi uma grande descoberta, uma leitura que não tem volta. Palavras que entraram no coração. Osho (nascido na Índia em 11 de Dezembro de 1931, morreu em 19 de Janeiro de 1990) foi um filósofo indiano que desde muito jovem decidiu não seguir as convenções do mundo à sua volta. Ele nunca escreveu nenhum livro, mas centenas foram publicados por transcrições de seus discursos e palestras. Foi professor de filosofia na Universidade de Jabalpur, na Índia, e ao mesmo tempo viajava pelo país proferindo palestras, desafiando líderes religiosos ortodoxos, em debates públicos e encontrando pessoas de todas as posições sociais. Ele leu extensivamente tudo o que pôde encontrar para expandir sua compreensão dos sistemas de crença e da psicologia do homem contemporâneo. Libertar-se do ego, conhe-cer e respeitar a si próprio e deixar o coração orientar suas ações e não a mente, são algumas lições. Fica aqui uma ideia que ele deixa sobre a Poesia.

Crença na Poesia O amor é a única poesia que existe. Todas as outras poesias são apenas um reflexo dele. A poesia pode estar no som, pode estar na pedra, pode estar na arquitetura, mas basicamente esses são todos reflexos do amor, captados em diferentes veículos. Mas a alma da poesia é o amor, e aqueles que vivem o amor são os poetas reais. Eles podem nunca escrever poemas, podem nunca compor uma música, podem nunca fazer algo que normalmente as pessoas consideram como arte, mas aqueles que vivem o amor, que amam completa e totalmente, esses são os poetas reais. A religião é verdadeira se ela criar o poeta em você. Se ela matar o poeta e criar o pretenso santo, ela não é religião: é patologia, um tipo de neurose vestida com termos religiosos. A verdadeira religião sempre libera a poesia, o amor, a arte, a criatividade em você, ela o deixa mais sensível. Você pulsa mais, seu coração tem uma nova batida, sua vida não é mais um fenômeno monótono e trivial. Ela é uma constante surpresa, cada momento abre novos mistérios. A vida é um tesouro inesgotável, mas somente o coração do poeta pode conhecê-la. Não acredito em filosofia, não acredito em teologia, mas acredito na poesia. Osho, em "Osho Todos os Dias - 365 Meditações Diárias"

Ancestral que hoje sou eu Ouço as minhas ancestrais: Cantando – cantar Dançando – dançar Sorrindo – sorrir Retribuo: Recitando poesias Sonhando melodias Construindo amanhãs Piso na terra, piso no mar Enfrento serpentes e armadilhas Entro dentro de mim Reconheço a ela o que hoje sou eu Danço seus ritmos meus Peneiro o deserto, encontro tesouros Mesmo que besouros rondem meu lar Pétalas finas e cheirosas Rosas vermelhas a quem possa me interessar. Corro e percorro de sapatos vermelhos Trilhas, trilhos, engrenagens Roupas coloridas na vida cinza Arco íris aonde quer que eu vá. Acompanhada parecendo sozinha Ancestral minha que hoje sou eu. Paz e Resistência

Elizandra Acesse:mjiba.blogspot.com

Foto:Maíra Soares.


Time: Elo em Brasa Família: Só quem é Literatura: Armamento Um Livro: A Sociedade do Código de Barras Quem disse que na luta não se faz poesia? E que na poesia não se luta? Charles Trocate, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST, sempre encontra um tempo para pôr no papel seus escritos, mesmo em tempos mais acirrados na luta pela terra. No último dia 6, ele teve seu mandado de prisão expedido. As acusações são sempre as mesmas. Mas muito nos alegra receber notícias suas em 12 de novembro, quando ele enviou mais uma bela poesia. Charles é paraense. Tem em seu coração e alma a cultura amazonense. Nasceu na beira do rio Apéu, Castanhal e começou a militar muito cedo quando entrou no MST em 1986. Escreveu, em 2002, o livro “Poemas de Barricada” e, em 2007, lançou os dois livros de poesias “Ato Primavera” e “Bernardo, poemas de combate!” Hoje, com 29 anos, não dá trégua. Luta, escreve, ama. Por Nina Fideles

Para Quem Quiser... Se é agosto A concepção vai torta Tudo anda avesso e daí? Quem governa não sabe de mim, Nem dos camaradas afáveis. Mas meu amor É um plano invicto e tem dorso Beija a outra margem do sol, É um ato sem nome [perambulando! A vida não é apenas isso. Mas o que fazer se a política endoideceu as palavras Não sabe nada de coisas passadas. O que torno dizer É indivisível Não pode ser paradoxal A geografia de tudo não cabe [no coração. Se me escapo O riso é de pura aventura O fio da razão sequela ainda mais a imperfeição, O que fazer? Entre o fervo E a palavra toda aflição Que a lucidez implora. Não há consenso A pedra é pedra e fura o desespero

Um escritor: João Antonio Um poeta: Carlos de Assumpção Um filme: Quanto Vale ou é Por Quilo? Um ator: Divino – Elo da Corrente Uma atriz: Samanta Biotti O que te dá prazer: Ver os putos mais putos

É inútil tanto palácio! Meu silêncio tem um estômago Confronta sem amizade, Seu equilíbrio É música que danço sem [fim! Nessa distância Só posso me inventar. O medo tem sua estratégia Arrogante se joga no ar! Aqui entre as rugas do poder Só há destinos tímidos Fantasmas letrados? Pelas ruas de mim Não passará o hipócrita! O cuscuz das horas beira a [intimidade Resmunga Um sabor de tão futuro, O que querem vocês com os muros? Se o mundo é pequeno saio de dentro dele, e daí? A luta como meio O poema como fim! A carícia é apenas slogan. Em todos os cantos O cartaz do passado devora e etc... E o olhar deixou de ser A fronteira da dor. Quem quer essas rimas, quase infames? Só peço, meu sobrenome Não é panfleto Seu uso é apenas da classe. Quem é mesmo esse obeso Hiroshi? A fala não entende nada de mim O superficial já esgotou-se Tem bolso O delírio que se faz assim? Entendam, o mapa quer outro mapa. Mesmo uma felicidade! E os lobos, mil estepes Como não quer o covarde. Como sangra O presente e seus bajuladores! A ordem, sinto muito... Ficará sem meu amém! A luta como meio O poema como fim! A carícia é apenas slogan. Charles Trocate Novembro de 2009 De algum lugar desse país, de notícia de jornal.

O que você não suporta: Humilhação Três lugares que frequenta: Saraus, botecos e Sebos Um sonho: Ver a Favela tomar conta Uma personalidade: Bezerra da Silva Um artista: Guayasamín

Chegou a décima e última edição do Prêmio Hutúz que consolidou os melhores da cultura Hip Hop numa noite de muita emoção no Canecão, tradicional casa noturna do Rio de Janeiro. Confira os vencedores de melhores da década. Melhores grupos ou artistas solo Gospel da década Ao Cubo / Dj Alpiste / Apocalipse 16 Melhores produtores Musicais da década Erick 12 / DJ Raffa / KL Jay Melhores Crew's de Break da década Die Hard Crew / DF Zulu Crew / Athos Crew Melhores DJ's da década DJ CIA / DJ Hum / KL Jay Melhores Grupos ou Artistas Solo Feminino da década Visão de Rua (Dina Di) / Nega Gizza / Negra Li Melhores do Graffiti Ment / Anarkia / Graphis Melhores Demos Masculino da década OBando / ADikto / Rafuagi Melhor Grupo Norte Nordeste Costa e Costa / Comunidade da Rima / Rapadura Melhores Revelações da década Atitude Feminina / Inquérito / Sabotage (em memoria) Melhores Demos Feminino da década Lívia Cruz / Nega Gizza / Afro Nordestinas Melhores Álbuns da década Dos barracos de madeira aos palácios de platina (Realidade Cruel) Provérbios 13 (509-E) / Declaração de Guerra (Mv Bill) Nada como um dia após o outro dia (Racionais Mc’s) Melhores vídeo clipes da década Suburbano (Rappin Hood) / Brasil com P (GOG) Soldado do morro (Mv Bill ) / Vida Loka parte 2 (Racionais Mc’s) Melhores Músicas da década É o terror (GOG) / H Aço (DMN) / Soldado do morro (MV Bill) Negro Dama (Racionais Mc’s) Melhores Grupos ou artistas solo da década Facção Central / Mv Bill / Racionais Mcs / Sabotage (em memória)


Reduto de bamba Estivemos no Berço do Samba de São Matheus, um daqueles lugares que você nunca esquece e já sai pensando em voltar. Essa roda de samba iniciada há mais ou menos 20 anos tem o propósito de mostrar, revelar e trazer ao grande público suas composições e seus intérpretes, cantando suas crônicas, poesias e exaltações em forma de samba de terreiro, partido alto, calango, samba de roda, sincopado e outros. O “berço” fica no Boteco do Timaia, uma pessoa muito comunicativa e fácil de se gostar. Por lá aparecem sempre grandes sambistas, sem contar a prata da casa que é de primeira linha, entre eles o pessoal do grupo Quinteto em Branco e Preto, um dos maiores grupos de samba do país, dois de seus integrantes são de São Matheus e cria do “Berço do Samba”. Acaba de sair o CD do “Berço do Samba” com apoio do SESC. É uma obra prima, muito bem produzido. Não faz muito tempo que 17 sambistas do “Berço” foram se apresentar em Nova York, perguntei ao Timaia como 17 periféricos se viraram nos States, ele respondeu: “Hot dog é universal, aprendemos aqui”. Mas não é só pelo samba (de primeira qualidade, diga-se de passagem) que o Boteco do Timaia é conhecido e apreciado, a cerveja (de 600 ml ou 1 litro) é super gelada e são feitos na hora, na churrasqueira, peixe (comemos um salmão que nem te conto), e outros especialidades, como espetinho de camarão. Tem ainda cachaça da boa e a batidinha de milho do Timaia, mais uma a ser provada antes de se morrer. Além da raiz do projeto que é o Boteco do Timaia, tem ainda eventos no Espaço Brasileirinho - Av. Aricanduva, 13.000. São Mateus, Zona Leste. Eu pretendo voltar em breve e indico a todos, conheça o Berço do Samba de São Matheus que é nota 10.

Por que a Cooperifa representa ? Essa é fáci de responder

Informações: (11) 9828.8256 c/ Timaia.

Para mim o principal motivo é mesmo estar há 8 anos seguidos, todas as quartas-feiras à noite (e em todas elas futebol na TV, novela das 8), fazendo um sarau de poesia, num bar na periferia. Sem faltar nenhuma quarta, fazer desse dia um marco na cena literária dos becos e vilas. É de tudo quanto é quebrada que na sagrada quarta surgem homens e mulheres, de crianças a pessoas da melhor idade, muitos jovens, do hip hop, do samba, do maracatu, da capoeira, do batente no pesado, professores, motoristas, autônomos, todos pelo mesmo ideal e objetivo; falar e ouvir, declamar uma poesia ou simplesmente se maravilhar com os poetas, que fazem rir e chorar, às vezes chorar de rir. Emociona, as pernas tremem na hora de encarar o microfone e a comunidade. Por trás, na estrutura, encontramos na linha de frente o poeta Sérgio Vaz, quarenta e poucos anos, comemorou 20 anos de poesia com o lançamento do livro “Colecionador de Pedras” (Global Editora), depois narrou sua

tragetória e do Sarau no “Cooperifa – Antropologia Periférica” (Aeroplano Editora). Mas Vaz não está sozinho, parece até os Racionais: Apoiados por mais de 50 mil manos. Na estrutura do barato vemos pessoas sérias como Marcio Batista (Meninos do Brasil, independente), Rose Dorea, Cocão e Will (Versão Popular), Professora Lú, Jairo (Periafricania), Sales e outros tantos de punhos serrados. Só por isso, 8 anos de Sarau já representa, mas tem ainda a Chuva de Livros, Prêmio Cooperifa, Poesia no ar, CD de Poesias, Livro Rastilho de Polvorá e tantos outros motivos para afirmar que a Cooperifa representa. Lá se tornou um quilombo cultural. Vai quarta, vem quarta, mesmo com jogo da seleção, libertadores, novela A, B e C. Eles estão no Bar do Zé Batidão, na Chácara Santana, zona sul de São Paulo. E o Sérgio Vaz inicia sempre assim:Povo Lindo, Povo inteligente!

Sarau da Brasa lança o livro do poeta Carlos Assumpção O autor de 82 anos veio para o lançamento do “Tambores da Noite”, uma obra que reúne diversos dos seus poemas. Uma referência na literatura negra brasileira, o autor participou de vários encontros em homenagem no Mês da Consciência Negra. O livro é uma antologia poética, organizado pelo Coletivo Cultural Poesia na Brasa, Elo da Corrente, Ciclo Continuo e Projeto Espremedor. Carlos é autor dos livros "Protesto" e "Quilombo", coautor do CD "Quilombo de Palavras" com Cuti e participou de diversas antologias como "Cadernos Negros" – Quilombhoje- e "Negro Escrito" – Org. Oswaldo de Camargo. Ele foi frequentador assíduo da Associação Cultural do Negro, no centro de São Paulo nos anos 50, onde se encontrava com ativistas da extinta Frente Negra Brasileira e com escritores e intelectuais de grande importância como Solano Trindade, Aristides Barbosa e Oswaldo. Membro da Academia Francana de Letras, formado em Letras e Direito, escolheu a cidade de Franca/SP para estudar e lecionar nos anos 80 e nos últimos anos não participou ativamente da cena literária, pois está com a saúde sensível. Em 1982 Carlos de Assumpção ficou em 1° lugar no II Concurso de Poesia Falada de Araraquara/ SP com o poema “Protesto”. Em 1958, por ocasião do 70° aniversário da Abolição, recebeu o título de Personalidade Negra, conferido pela Associação Cultural do Negro, em São Paulo/SP.

CAPA FEITA PELA ARTISTA CAROLZINHA


Por Heloisa Buarque de Holanda

Nos anos 70 do século passado, surgiu, com força total no Rio de Janeiro, um movimento literário chamado poesia marginal. No século XXI, vemos em São Paulo a consolidação de um outro movimento chamado Literatura Marginal. Coincidência? Existe algum parentesco entre os dois movimentos chamados marginais? À primeira vista, eu diria que não. Os poetas marginais cariocas eram, em sua quase totalidade, universitários, pertencentes à classe média, digamos uma classe média mais para alta do que para baixa, pregavam a alegria e a irreverência, e eram claramente contraculturais. Ou seja: contra a literatura estabelecida, contra o mercado, contra o sistema. Produziam seus livrinhos descartáveis domesticamente no regime de cooperativas e enfrentavam o momento pesado e ameaçador da ditadura militar, com leveza e bom humor. O nome marginal vinha por conta de uma posição contra o sistema fosse ele político, religioso, educacional, inclusive o literário. Aparentemente, não se queriam escritores e, como diziam, escreviam “ao acaso”, tentando fundir vida e obra. Marginais, portanto por vontade própria, por decisão e opção ideológica e literária. Já os escritores que compõem a literatura marginal, cujo quartel general são as periferias de São Paulo, são de classe baixa ou média baixa, moram em comunidades desassistidas pelo Estado, com problemas sérios de infraestrutura, saúde e educação. Sem falar na violência gerada pelos embates contínuos do tráfico de droga nessas quebradas. Pregam a escrita como arma, a ação em prol de suas comunidades, a guerrilha de informação com a qual desafiam a invisibilidade que lhes foi imposta e, sobretudo, pregam o compromisso com a educação e o domínio da palavra como legítimos instrumentos de poder. Não são exatamente contra o “sistema”, como seus antecessores cariocas, mas exigem, com garra, ingerência neste sistema. Não são contra a cultura nem contra a instituição literária, mas exigem o direito de acesso à cultura como leitores e como criadores. Final-mente, não são como seus colegas dos anos 70, marginais por opção, mas sim marginais por exclusão involuntária. E, pela rapidez e firmeza do movimento, estão na direção certa para, mais cedo do que se imagina, deixarem de ser marginais. Entretanto, se chegarmos mais perto dos dois fenômenos marginais em pauta aqui, podemos começar a identificar algumas semelhanças que não são de se desprezar. Ambos são estratégias de enfrentamento de contextos ou situações

adversas. O primeiro fazendo frente à situação de arbitrariedade e violência da ditadura militar; o segundo à situação de desigualdade e exclusão a que o estado e a sociedade os relegaram. Em ambos, ainda que com fortes diferenças, mas nunca divergências, a palavra e a poesia tornamse recursos e mesmo armas na luta contra a invisibilidade, o silêncio, a violência. Ou, para usar um termo dos anos 70, ao “sufoco” de uma situação adversa. Em ambos, vemos a experiência de novas formas de fazer política. Nos poetas marginais, o uso do humor e do vitalismo como instrumento de transformação e enfrentamento político; nos autores da literatura marginal, o compromisso não mais com a resistência nem com o enfrentamento, mas com uma política proativa, de ação pragmática, na qual a cultura é arma e moeda para a inclusão social e a transformação de suas quebradas. Em ambos, a articulação produtiva entre música, ritmo e palavra. Se os marginais dos anos 70 tinham uma ligação visceral com o rock, seu estilo e comportamento revolucionários, nos anos 90, a literatura marginal já nasce comprometida com a estética e com o impulso transformador do rap. Nas apresentações - Artimanhas no primeiro caso, e Saraus no segundo a afinidade profunda entre música e literatura se mostra não apenas visceral mas sobretudo funcional em termos de tradução do potencial transgressor de sua época. Nos dois projetos de criação literária marginal, o sistema editorial, um tanto perverso e viciado nos quesitos preço e raio de alcance da distribuição, se mostra pouco adequado ou suficiente para o propósito libertário marginal. O resultado é, ainda em ambos os casos, o investimento criativo em novas políticas editoriais mais independentes, eficazes e afetivas em relação ao livro e à palavra. A prova disso são as atividades desenvolvidas nos anos 70 pelos selos cariocas Nuvem Cigana, Capricho, Vida de Artista e muitos outros, e agora nos selos paulistas Toró e Selo Povo. E, finalmente, em ambas, a bandeira de uma bandeira valiosa: a defesa do direito de invenção da linguagem como instrumento próprio de expressão, desafiando a norma culta e o preconceito linguístico. Tanto na poesia marginal dos anos 70 quanto na literatura marginal de hoje, o que há de mais importante é a firme-za de uma experiência inovadora com a oralidade, com a musicalidade, com os recursos expressivos de seu próprio CEP.

Não é uma grande surpresa o fato de que os dois movimentos – ambos autodenominados marginais tenham causado irritação e gerado ácidas polêmicas na academia e entre os puristas da língua e do cânone literário. Afinal, não é sempre que se consegue colocar, em zona de risco e com eficácia, a pergunta que, há várias décadas, não quer calar:

Afinal, o que é literatura, para quê e para quem deve servir?


Um momento único na vida e na carreira, lançar o filme "Profissão MC" no Cine Odeon Texto: Alessandro Buzo Fotos: Marilda Borges

Ontem foi um dia "perfeito" em matéria de reconhecimento do meu trabalho. Acabava de dar entrevista por telefone para a Rádio CBN de São Paulo e chegou o táxi para me levar ao lançamento do filme "Profissão MC", de Alessandro Buzo e Toni Nogueira, pelo encerramento do "Hutúz Filme Festival", no Cine Odeon Petrobrás, o TOP do Rio. Cheguei ao Odeon na Cinelândia e tirava umas fotos, quando chegou para me prestigiar o amigo Guti Fraga (Nós do Morro). Ele me sequestrou por 10 minutos para tomar um chope, no bar ao lado do cinema, que tem milhares de mesas e pessoas na calçada. Colamos na mesa de um amigo dele, que o Guti fez questão de me apresentar, o ator e hoje vereador do RJ, Stepan Nercesian. Ele foi super atencioso comigo, disse que o Guti fala direto do trampo. Presenteei ele com um exemplar de "Guerreira", tomei o chope e voltei para o Odeon. Nessa, chega o Toni Nogueira, vai chegando um, outro. Rapa do Enraizados (Dudu, Dumont, Tomassin, Jane, Re.Fem), chegaram uns manos do rap, que o Criolo havia convidado. Um mano da Jamaica, umas crianças de um projeto que também chegaram. DMC, Silvia Ramos, Vera (Primeira top model internacional do Brasil, desfilou na Chanel). Não lotamos o Odeon, nem tínhamos essa pretensão, mas colaram poucas e importantes pessoas. Nem eram tão poucas assim. O Negrala do Rappa, o pessoal da CUFA, a Isabel abriu com uma fala, depois assistimos ao filme e no final, depois dos aplausos, debate com os diretores e o protagonista, (Alessandro Buzo, Toni Nogueira e Criolo Doido). A rapper Nega Gizza abriu a parte final e fez a mediação. Depois fomos tomar uma gelada que era pra comemorar e também molhar as palavras. Obrigado a todos que participaram direta ou indiretamente do meu projeto de filme, o sucesso que ele está fazendo, divido com todos. Valeu DGT Filmes por acreditar.


Invadindo cidades em busca de cultura e diversidade

levar cultura, queremos saber o que o outro vem fazendo”, comenta o idealizador da caminhada.

Biblioteca sobre rodas

A segunda edição da expedição foi percorrer aldeias indígenas do litoral paulista, o destino final era Cananéia. A terceira edição a rota caipira, o destino final foi Botucatu. Em média, o grupo costuma caminhar Por Beatriz Monteiro de 20 a 30 km, mas nem sempre juntos. “Sempre tem alguém querendo Catrac Livre conversar com algum morador que encontra”, diz Binho. Próximo Projeto idealizado por passo da expedição é, através de patrocínio, cruzar a fronteira do Brasil Robson Padial, Binho, Expedi- com o Paraguai, ou quem sabe, Argentina. ción Por Donde Miras percorre cidades do Brasil levando cul- Bicicloteca: No Meio do Caminho Tem um Livro O projeto de construir uma biblioteca itinerante nasceu quando tura e conhecendo novas a expedição estava em Mongaguá. Lá, adquiriram uma por R$ 39 e formas de arte. Do Campo Limpo à América conseguiram levantar mais de duzentos livros que ofereceram de porta Latina. Essa era a ideia inicial em porta de cada morador da cidade. O projeto “Bicicloteca: No Meio do Caminho Tem um Livro” veio de Binho, conhecido organizador do Sarau que leva seu para São Paulo e contemplado pelo programa de valorização a culturanome no Campo Limpo. “A América Latina parece uma parede, fechada para nós”, comenta o VAI, Campo Limpo, agora dispõe de duas bibliotecas sobre rodas com livros que podem ser emprestados a qualquer momento. Por ser uma escritor. Ao lado de seu amigo, Serginho Poeta, Binho decidiu começar uma caminhada cultural. O que contava apenas com duas pessoas ganhou forma e tornou-se uma expedição. região de morro, a bicicleta percorre até 3 km diários, mas tem um local Nasce, portanto, a Expedición Donde Miras - Caminhada Cultural pela América Latina. Um projeto que fixo próximo ao ponto de ônibus. Uma vez, um dos motoristas de ônibus parou em frente a uma reúne poetas, atores, músicos, dançarinos, artistas plásticos, entre outros. Que saem, a pé, percorrendo outras cidades em busca de um intercâmbio cultural preenchendo espaços públicos das bicicletas estacionadas e fez uma encomenda: que no acervo tivesse mais livros do autor Edgar Allan Poe. Binho quer colocar uma placa dizendo encontrados, realizando saraus em praças públicas. “A pé, qualquer pessoa é capaz de acompanhar e faz com que você consiga que a Bicicloteca aceita também encomendas. “O importante é ler. O livro que não voltar é lucro”, comenta Binho. O acervo de quatro mil contemplar, meditar e se tornar parte da paisagem”, define Binho. Mais de 1000 km percorridos por dois estados brasileiros. São Paulo e Paraná. Desde de livros da Bicicloteca que vai de clássicos da literatura a gibis foram 2008, a expedição já realizou três viagens: Pelo Vale do Ribeira, destino final Curitiba. Por lá, conseguidos através de doações. Mais de 700 livros já foram emprestados, ao menos quarenta por passaram por quilombos e aldeias indígenas. Essa primeira expedição durou um mês. O que Binho busca com as caminhadas é levar a arte de um grupo e conhecer a arte do outro. No dia em que dia. A Bicicloteca está localizada nos pontos de ônibus da Avenida Carlos chegam à cidade, buscam recrutar artistas e os convidam a misturar-se a eles. “Não queremos Lacerda, n° 678, e da Estrada do Campo Limpo, n° 1.600.

Wesley representando a música periférica Wesley Nóog, após o retorno da turnê pela França, toca de graça no Itaú Cultural em São Paulo, com transmissão ao vivo pelo site da Instituição. Esse show é parte do projeto Toca Brasil “É um projeto importante no contexto atual da música no Brasil, sob coordenação do meu amigo Edson Natale. Um dos objetivos é revelar novos nomes que tenham conteúdo e proposta. Ao chegar da turnê pela europa, especificamente França, tive a agradável surpresa de ser convidado pelo Edson Natale para abrir a semana do Toca Brasil. Aceitei de imediato, pois, meu novo CD "Mameluco Afro Brasileiro" tem tudo a ver com o nome Itaú, que é uma palavra em tupi, que quer dizer pedra preta. O CD é uma espécie de filme sonoro que reflete liricamente a formação do nosso povo, a beleza, feminina, os orixás, minha função na história, entre outras coisas, então, foi o casamento perfeito. O show foi transmitido ao vivo pela Internet, sendo considerado com um dos mais inusitados, mesmo porque, houve a participação dos

RAPadura, ganhador de Melhor Grupo Norte Nordeste da década, lança Fita Embolada do Engenho Ele foi apresentado pelo rapper GOG mas logo seu talento fez o rapper de chapéu de palha e sandália de couro se tornar uma grata surpresa da cena do hip hop atual. O mano de Lagoa Seca - CE, lança uma sua primeira Mixtape. "A fita embolada do engenho são músicas extraídas da nossa rica cultura nordestina, espero que possa mostrar o que é Rap Nacional de verdade, um Rap extraído das nossas terras. Faço algo com a cara do nosso país, do meu estado.” declara o rapper que vai da levada do rap ao repente com a naturalidade da nova geração. Sobre o título conquistado no prêmio Hutúz, o rapper RAPadura respondeu por MSN: “É mais que uma premiação cabra, mais que um título, é

sentir no peito que os anos de arado estão rendendo boas colheitas. É poder gritar o norte do norte nordeste no topo, poder ser um representante de todo um povo, de toda, uma cultura. Representa mais que o rap, mais que a música, representa espirito, alma. Representa a voz do povo na minha fala, nas expressões do corpo, em cada traço de suor.” myspace.com/rapadurarap

poetas criadores do Cooperifa, SÉrgio Vaz e Marcio Batista, projeto que estou envolvido, do qual tenho o maior orgulho por ser verdadeiramente original como meu trabalho. O Toca Brasil fortaleceu muito meu trabalho e minha relação com a Cooperifa, pois, houve algo inusitado, os poetas declamaram ao som de fundo(trilha sonora) da 1BANDA (UMBANDA), minha banda de apoio, causando verdadeira catarse no público presente, como também, marcando a história da música brasileira da nova geração...” declarou Wesley. www.youtube.com/wesleynoog www.myspace.com/wesleynoog



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