Boletim do Kaos #4

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ONDE PEGAR O SEU EXEMPLAR SÃO PAULO - CAPITAL Região Central DGT Filmes Rua 13 de Maio, 70 Ação Educativa Rua General Jardim, 660 Sebo 264 Rua Rua Álvares Machado, 42 Liberdade - F (11) 3105-8217 Restaurante Santa Madalena Rua Sta Madalena, 27 - Bela Vista Conduta Galeria 24 de Maio Porte Ilegal (Galeria 24 de Maio) Zona Leste Loja Suburbano Convicto Rua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Pta (11) 2569-9151 Locadora New Holiday Rua Nogueira Vioti (11) 2572-2000 Casa de Cultura do Itaim Paulista Pça Lions Clube, s/n - Itaim Pta. Sebo Mutante Rua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Pta) Zona Sul Bar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dos Santos, 797 - Chácara Santana Loja 1 da Sul Rua Comendador Santana, 138 - Capão Redondo Loja 1 da Sul Av Adolfo Pinheiro, 384 Loja 31 - Galeria Borba Gato Estudio 1 da Sul Rua Grissom, 80-A - Metrô Capão Sarau da Cooperifa - Toda quarta 20h30 Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana Sarau do Binho Rua Avelino Lemos Jr, 60 Campo Limpo (11) 5844-6521 Sarau da Ademar Rua Pablo Pimentel, 65 Cidade Ademar (11) 5622-4410. Zona Oeste Bar do Santista/Sarau Elo da Corrente Rua Jurubim, 788-A Pirituba Zona Norte CCJ - Vila Nova Cachoeirinha Av Dep. Emílio Carlos, 3641 Banca de Jornal alt. Nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr) Sarau da Brasa - Bar da Carlita Rua Prof.Viveiros Raposo, 234 Suzano Centro Cultural de Suzano Rua Benjamin Constant, 682 - Centro Santos DULIXO no Marapé tubarao013@hotmail.com www.boletimdokaos.blogspot.com Peça pelo email: boletimdokaos@hotmail.com

Não poderíamos deixar de dividir com nossos leitores a renovação de parceria do Itaú Cultural, a princípio fechado por 3 meses nossa segunda vitória foi consolidar o projeto até o final do ano. Com tudo isso a responsabilidade só aumenta, e em meio as novas mídias, fizemos barulho com um jornal, no auge da crise mundial firmamos o Boletim, assim como disse o poeta “Não sabia que era impossível, então foi lá e fez”. Num país onde os realities shows fazem tanto sucesso, e pouco se lê, não é fácil fazer uma publicação dedicada a literatura. Mas estamos acostumados a remar contra a maré, levando cultura e entretenimento para periferia onde 80% dos nossos 10 mil exemplares são distribuídos atualmente. Nossa segunda vitória é se manter em pé! Contamos com vocês, os nossos leitores, que dão sentido ao nosso trabalho. Nessa edição trouxemos na capa dois grandes nomes, o primeiro é o escritor Sacolinha, que venceu as estatísticas e hoje tem suas publicações como material de estudo em várias universidades do Brasil e da Europa. Mostrando outras vertentes da literatura, entrevistamos o Maurício de Sousa, um dos brasileiros mais bem sucedidos

na área de história em quadrinhos, que prova que o talento brasileiro pode ser exportado. Também trouxemos a história de Bukowski, o velho safado, um dos ícones da literatura marginal, na sequência falamos sobre o Samba da Vela e o Poeta Augusto, da Cooperifa. Nos lançamentos do mês, temos estudos sobre a literatura marginal, livro de reflexões e mais um lançamento do Capão Redondo. Também temos uma especial reportagem sobre o Sarau do Binho e sobre o a ONG Afroreggae. Nosso parceiro Paulo Lins traz o texto “Destino de artista”, no espaço VIP das palavras. Uma matéria especial sobre fanzine, muito especial para nós, afinal essa publicação nasceu assim. E você ainda confere na agenda do mês uma entrevista com Edson Natale sobre o evento Antídoto, do Itaú Cultural. E para finalizar, no Antes e Depois temos Marcos Rey e Alessandro Buzo, estilos diferentes mais com a literatura em comum. Incentivo a educação e a literatura, a nossa proposta para uma sociedade mais ativa. Como diria o rapper GOG “O estudo é oescudo”.


BK - Abujamra, Jô Soares e Chico Pinheiro. Qual foi o entrevistador mais embaçado? Sacolinha: O Jô. Foi embaçado porque não teve um contato legal, uma conversa. Tudo muito rápido e global. Os 17 minutos de entrevista que foi ao ar foi o único contato que tive com ele. Saí do camarim, entrei no estúdio e já fui gravando, depois da entrevista me

tiraram de lá e colocaram na Van direto pra casa. Foi algo seco. Mas foi bom porque pude falar de literatura durante toda a entrevista, diferente de outros lugares que chamam a gente pra falar de violência na periferia. Eu não vou, não sou especialista. O Abujamra foi mais tranqüilo porque a gente conversou antes e depois da gravação, até ficamos amigos. E eu já conhecia o estilo do programa dele, gostei das perguntas inteligentes. Penso que ele poderia ter sido mais provocativo.

Ele trabalhou 12 anos como cobrador de lotação, na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, mas hoje suas obras literárias são estudadas em faculdades. Sacolinha colocou todas as dificuldades a seu favor e se tornou uma referência na literatura atual. E foi no trem, na periferia do extremo leste da cidade que ele descobriu a leitura e se tornou um escritor. Seu apelido veio do sarro que ele tirava de um ambulante que tinha esse mesmo pseudônimo, enquanto morava em Suzano, pra onde se mudou em 1998. E de empacotador de supermercado a cobrador viu nos livros sua saída. Logo estava atuando em movimentos sociais, coordenando um programa de rap numa rádio comunitária, começou a escrever e criou o projeto cultural “Literatura no Brasil”. Em 2003, foi premiado no 2° Concurso “ARTEZ”, com o conto urbano “Um dia comum” e começou a escrever o seu primeiro livro, o romance “Graduado em Marginalidade”, em seguida participou da revista Caros Amigos "especial" ato III e assumiu a presidência do Centro de Pesquisas e

Desenvolvimento Sócio Cultural Negro Sim. Começou a ter contos adaptados para teatro e participou de antologias poéticas: “O Rastilho da Pólvora” do Projeto Cooperifa, Cooperativa Cultural da Periferia. Em 2005 assumiu a Coordenadoria Literária na Secretaria Municipal de Cultura de Suzano, no interior de São Paulo e lançou seu primeiro livro pela editora Scortecci o “Graduado em Marginalidade”. Em parceria com a Prefeitura de Suzano, lançou a revista “Trajetória Literária”, que reúne 20 escritores inéditos. Participou do livro Cadernos Negros vol. 28 – Contos Afro-Brasileiros e recebeu o “1º Prêmio Cooperifa” e no mesmo período começou a estudar Letras, na Universidade de Mogi das Cruzes e escreveu a peça de teatro “Toque de recolher”. Iniciou uma série de palestras em escolas públicas e presídios, com o objetivo de incentivar à leitura. Em 2006 lançou a sua segunda obra, “85 Letras e um Disparo” livro de contos, pela editora Ilustra, em Suzano, São Paulo.

Sacolinha começou a aumentar o ritmo de suas ações e produziu um documentário em parceria com a TV Globo sobre o incentivo à leitura. Foi jurado do 1º Concurso Literário de Contos e poesias da Fundação CASA. Em 2007, criou o projeto “Sarau nas escolas”, lançou antologia “Novos Talentos da Literatura Brasileira” e o I Concurso de Literatura Erótica da Região do Alto Tietê. Esse foi o ano de consagração do Sacolinha dando entrevista ao Jô Soares, CBN, Band News e seus projetos literários começaram a ser estudados na Universidade Mackenzie e na USP, em São Paulo. Junto com a ONG Ação Educativa e a Fundação Itaú Social, lançou outra antologia “Literatura no Brasil” e suas obras passaram a ser tema de estudo na University of Utrecht, e na Holanda, na Faculty of Social Sciences. No ano passado ministrou oficinas de incentivo à leitura para professores e lançou a revista “Trajetória Literária III”, levou para

Suzano nomes como Ariano Suassuna e Paulo Lins. E lançou o livro “Amor Lúbrico – Textos para serem lidos na cama” que reúne 22 autores de todo o Estado de São Paulo, assumiu a coordenação do Centro Cultural Boa Vista e se formou no Curso de Letras. Esse ano o inquieto escritor, junto com o poeta e amigo Denivaldo Araújo, navegou no Rio Tietê numa jangada feita de madeirite e garrafas pet e escreveu o romance ecológico “O Homem que não mexia com a natureza”, casou-se com Irlandia Freitas e está prestes a ser pai.

Uma vida agitada para um garoto de periferia que nunca teve incentivo, mas fez da dificuldade a mãe da suas vitórias.


BK - Como você começou o livro “Graduado em Marginalidade”? Sacolinha: A princípio era para ser um conto. Fiz o roteiro onde tinha o que iria acontecer no início, meio e fim. Mas foi tomando grandes proporções e entrando tantos personagens que virou romance. Dos quatro livros escritos que tenho, o “Graduado em Marginalidade” foi o mais difícil de escrever, sofri muitos acidentes no percurso, tanto que se você pegar essa obra e apertar, sai sangue.

Boletim do Kaos - Você escreve buscando um estilo literário, nesse campo qual seria sua principal característica ? Sacolinha: Busco a qualidade literária, meus escritos têm cortes cinematográficos, passa de um momento a outro como um flash, e muitas vezes deixa aquele gosto de quero mais. BK - Você se diz em crise e solitário, hoje com tanta atuação cultural, casado, com filho pra chegar, você tem tempo para a crise? Em que situação ela aparece? Sacolinha: O buraco é mais embaixo. Essa crise de que falo é do Sacolinha com o próprio Sacolinha. Sinto muito medo da minha pessoa. Procuro adiar o momento de sentar em frente ao computador porque tenho medo do que possa surgir. Nunca sei o que meus dedos vão digitar, receio que em algum momento eles possam colocar pra fora todos os meus desejos, o que eu penso de verdade e as coisas que tenho vontade de fazer. Isso causaria um caos ainda maior em minha vida e ao meu redor.

Na hora em que escrevo sempre escondo a verdade, não sei se isso é ser mentiroso ou covarde, sei que vivo enganando meus leitores. Depois que a arte passou a ser uma extensão de meu corpo, fiquei com mais medo da vida, das pessoas e de mim mesmo. Sinto saudades do tempo em que eu era criança e nem sabia o que era o mundo. Por outro lado sou muito corajoso em revelar isso tudo. BK - Qual o melhor de Suzano? Sacolinha: Temos um prefeito, negro, sensível à arte que nos deixa livre pra trabalhar e que destina 2% pra cultura, diferente de São Paulo que não chega nem a 1%. BK - Você incentiva a leitura para idosos, para molecada da periferia, qual maior dificuldade em incentivar esse hábito? Sacolinha: Todas. Primeiro a falta de vontade da própria pessoa, segundo a disputa com o mundo do orkut, da TV, vídeo-game, futebol, novela e da bebida alcoólica. Tudo isso é mais “fácil e gostoso” do que ler. Mas é uma grande armadilha, porque nada dessas coisas fáceis vão dar futuro a esse não-leitor. É tudo ilusão.

BK - Você é um cara hiperativo, sempre correndo, quando você fica calmo e relaxa, que música você ouve? Sacolinha: Ouço rap, forró, baião, mpb e sou fã de Edvaldo Santana e Zé de Riba. Estou me preparando para, nos próximos três anos, ouvir muita música clássica, tipo Carmina Burana, Mozart, Chopin e Bethoven. Porque quero beber na fonte que Tim Maia, Raul, Caetano, Chico Buarque e Luiz Gonzaga beberam. Não quero só o osso que a mídia me impõe, quero o filé também. BK - O que é escrever? Sacolinha: No meu caso é se aliviar e extravasar. Aliviar porque sei que faço algo de útil, que me salva a pele, que mostra que não estou somente fazendo peso na terra. Extravasar porque é uma válvula de escape, onde eu explodo minhas angústias. Creio que todos precisam de uma válvula de escape, a minha é a escrita. BK - Você vai virar político? Sacolinha: Não tenho essa intenção. A figura do político está em descrédito há décadas. A população não leva mais ele a sério. BK - Qual o livro que você não recomenda? Sacolinha: Nenhum. Pra mim não importa “o que” a pessoa está lendo, importa é que ela “está” lendo. Depois de ler alguns livros ela terá bagagem suficiente pra escolher o que é viável pra ela. BK - Qual livro você está lendo atualmente? Sacolinha: Acabei de ler “Memórias de Minhas Putas Tristes”, do García Marques. Estou lendo “Os Caminhos de Katmandu”, do Francês René Barjavel. E depois vou ler “Os Lusíadas”, do Camões. BK - Você faz eventos, encontros, debates, saraus, concursos, aonde você vai parar? O que você quer atingir? Sacolinha: Fazer da cidade de Suzano uma referência na área do livro e leitura. BK - Qual livro você indica? Sacolinha: Memórias do Cárcere, São Bernardo e Vidas Secas, todos do Graciliano Ramos. BK - Fales sobre o teatro, como foi sua experiência? Sacolinha: Meu primeiro contato foi com o conto que escrevi “Pacífico Homem Bomba” e que o ator Gil Ferreira adaptou para o teatro. Na seqüência muitos outros textos foram adaptados dessa forma por vários dramaturgos. Até que eu resolvi escrever a peça inteira com cenário e diálogo. Trata-se da peça “Toque de recolher”, ainda sem estréia.

BK - O que é Concurso de Literatura Erótica da Região do Alto Tietê? Sacolinha: Surgiu através do “Pavio Erótico”, um sarau que desenvolvo em Suzano, lançamos cinco mil exemplares do livro “Amor Lúbrico – Textos para serem lidos na cama”. Aí distribuímos em postos de saúde, bibliotecas e congressos sobre o tema das DST. Virou tese de mestrado de três faculdades e matéria da conceituada revista “Saúde e Sociedade”, da USP (Universidade de São Paulo). BK - Como foi o evento com Ariano Suassuna? Sacolinha: Foi um momento histórico na cidade de Suzano. Foi 1h40 de puro ensinamento, e risadas, cada frase era uma gargalhada da platéia. Todos aprenderam rindo. No final, ninguém mais queria ir embora. Tenho tudo gravado, quem quiser estou vendendo (risos). BK - Junto com o poeta e amigo Denivaldo Araújo, você navegou no Rio Tietê descendo da cidade de Mogi das Cruzes até Suzano numa canoa feita de madeirite e garrafas pet. Após essa experiência no rio, escreve o romance ecológico. Como foi isso? Sacolinha: O Denivaldo é baiano e cordelista, mora em Suzano há 20 anos e é um cara que não largou seus costumes. Descemos o Tietê de Mogi das Cruzes até Suzano. Essa viagem contribuiu para eu finalizar esse romance ecológico que a princípio estava muito superficial. E serviu também pra eu ver o quanto existe de ambientalista demagogo. BK - Em Setembro de 2005 você sofreu ameaça de morte pedindo que retirasse os livros das ruas. Quem te ameaçou e por quê? Comente esse episódio. Sacolinha: Foi por conta do livro “Graduado em Marginalidade”, lancei e depois comecei a receber umas ligações estranhas. Fui muito corajoso em relatar esse romance. Pensei muito, antes de colocar a história no papel. A consciência estava me avisando e eu não quis ouvir. Fui ameaçado diversas vezes, tanto que fiz um B.O, avisei alguns amigos e desapareci por duas semanas e meia. Os caras ligavam e avisavam: - Ô neguinho, num tá ouvindo não é? Vai morrer com os braços cortados pra não escrever nem no inferno. Após algumas articulações descobrimos tudo e fomos eu e mais alguns conhecidos resolver esse problema. Sem tiros e nem palavrões, tudo com diálogo. O que houve foi um mal entendido. Dei uma palestra em novembro do mesmo ano na Penitenciária Feminina do Tatuapé e deixei uns exemplares com algumas internas. A partir de dezembro começou a chegar um monte de cartas de vários presídios falando do meu livro. Elas leram, gostaram e começaram a discutir sobre a obra. Algumas enviaram para outros presídios e ficou esse tráfico do meu livro. fiquei analisando esses acontecimentos e acabei ficando feliz. O livro está mexendo com o sentimento das pessoas, e isso é bom. Acho que estou sabendo usar a palavra.


Maurício de Sousa está completando 50 anos de carreira e muito sucesso, para se ter uma ideia do tamanho desse sucesso, no Brasil os gibis da Turma da Mônica vendem mais do que os da Disney. Maurício nasceu em 27 de outubro de 1935, em Santa Isabel, São Paulo, ainda criança mudou-se para Mogi das Cruzes, e foi na Rua Ipiranga que passou sua infância. Seu pai, Sr. Mauricio, era poeta, desenhista e foi sua grande influência, frequentemente presenteava o filho com gibis, o que iria ser decisivo para sua vida. Aos 19 anos, Maurício de Sousa veio para a capital tentar uma vaga de ilustrador no jornal diário a Folha de São Paulo, mas arrumou um emprego de repórter policial, mesmo a contra-gosto aceitou a ocupação, porém a mudança veio em 1959, quando convenceu um editor da Folha a publicar uma tirinha de sua criação, nasciam os primeiros personagens, o cachorrinho Bidú e seu dono Franjinha. Esse foi o início da turma da Mônica, as tirinhas em jornais. A demanda cresceu muito e as tirinhas passaram a ser publicadas em diversos jornais do país e para atender a tudo isso ele foi criando novos personagens e mais adiante contratou desenhistas auxiliares, apesar das críticas dos que achavam que o autor devia ser fiel e se manter sozinho desenvolvendo as criações, mas Maurício não concordou: - Com isso não iríamos crescer e tínhamos planos maiores. Disse ele. O Cebolinha e o Cascão foram inspirados em amigos de infância de Mogi das Cruzes, e seu maior personagem, a Mônica, foi inspirado na filha Mônica Spada e Sousa, hoje

diretora comercial da Maurício de Sousa Produções. Mas segundo ela: - Ele fez um trabalho de dizer a toda hora que a Mônica não era eu que até hoje acho que não é. Declaração dada pela filha de Mauricio numa entrevista coletiva que o Boletim do Kaos conferiu no dia 26 de junho, no MuBe, em SP, por lá toda a imprensa escrita e televisiva, afinal Maurício de Sousa, está comemorando 50 anos de carreira. Ele que é uma das pessoas mais bem sucedida do nosso país no ramo de história em quadrinhos com a Turma da Mônica que é sucesso dentro e fora do Brasil. Vamos a coletiva ver o que disse o simpático Mauricio de Sousa sobre a influência de seus gibis no início da alfabetização das crianças na periferia: - Criança é tudo igual independente da classe social, do país onde nasceu, tendo amor e carinho, criança é igual no mundo todo, por isso acho bacana as crianças começarem a ler com meus gibis, independente da classe social. A “Turminha” está em diversos produtos, só as fraldas da Mônica vendem 100 milhões de unidades por mês, sobre o critério para licenciar um produto com a sua marca ele disse: - A pergunta chave para liberar é: meu filho usaria esse produto? Se a resposta for sim pode licenciar, se tiver a mínima dúvida é melhor não fazer. Hoje os gibis são feitos pela Panini e o seu grande lançamento é a Turma da Mônica Jovem, perguntado o porque desse novo projeto ele explicou:


- Dei ao meu filho mais novo dois gibis, um da Mônica e outro um mangá do Naruto, ele não sabia qual pegava primeiro, então criamos um gibi com a turminha jovem, que junta a Mônica com traços parecidos com o Mangá. E ele garante que já é um sucesso de vendas. Sobre ele ainda desenhar alguma coisa ou não ele afirma: - Só desenho o Horácio que é mais parecido comigo, atemporal. Por isso não tem tanto Horácio por aí ultimamente. Para conseguir atender os gibis e as tirinhas que saem no Brasil e no exterior, ele tem um time de 200 funcionários e a meta é se aproximar cada vez mais da educação: - Por isso lançamos os personagens Dorinha (uma menina cega) e o Luca (um cadeirante).

Além de termos projetos voltados pro áudio-visual, fazendo filmes com a qualidade digital de hoje. Então chegou uma notícia em primeira mão, um representante do ministro Juca Ferreira anuciou aos jornalistas presentes que a Mônica foi nomeada Embaixadora da Cultura no Brasil, além do anúncio ele agradeceu a doação de 3,5 milhões de gibis da turminha que serão espalhados em escolas e bibliotecas públicas do país. Esse é o Maurício de Sousa e a Turma da Mônica, grandes números, sucessos: - Mas em 50 anos tivemos muitos tropeços. Lembrou ele. E completou: - A próxima década será da educação.


Seus livros viraram filmes, mas ele mesmo confessava não gostar muito de cinema. Seus mais de 50 livros, e seus milhares de textos, e contos em publicações baratas, ainda davam espaço para uma de suas principais atividades, que era a leitura de suas poesias em universidades e eventos culturais. Só faltou ele colar na Cooperifa.

Ele viveu até os 74 anos, morrendo em 9 de março de 1994. Um dos nomes mais fortes da tal literatura marginal. Inspiração para muitos escritores, Charles teve sua obra baseada em uma linguagem coloquial, sem pudor, onde suas histórias pessoais, se confundiam com a dos personagens. Nascido na Alemanha, Bukowski é filho de um soldado americano, que cresceu na periferia de Los Angeles atormentado por um pai autoritário que o agredia, isso somado com sua doença que trazia inflamações para toda parte superior do seu corpo o forçando-o a tratamentos médicos intensos. A vida não sorria para Bukowski, na escola não tinha amigos, e entre os estudos e os primeiros empregos temporários, como carteiro, frentista e motorista de caminhão, o escritor não conseguia exercer o jornalismo, que estudou, mas sem nunca se formar. Nesse processo adquiriu dois vícios; os livros e o alcoolismo. Suas primeiras poesias vieram aos 15 anos, mas seu primeiro livro somente foi publicado 20 anos depois em 1955. Ele estreou na prosa escancarando

sua vida pessoal, que virou sua marca registrada. Alguns de seus livros de destaque são "Mulheres", "Hollywood" e "Cartas na Rua". Sempre bebendo em excesso e escrevendo compulsivamente, Bukowski mandava seus trabalhos para muitas publicações literárias independentes dos Estados Unidos, mas quase sempre recusados. Nessas cartas conheceu a editora da revista Harlequin, Barbara Frye, que se convenceu que Bukowski era um gênio, mais tarde se casaram, e mais rápido ainda se separaram. Com quase 40 anos o escritor ainda era um poeta iniciante, mas depois de sua separação que surgiu seu famoso alter ego Henry Chinaski. Tendo Ernest Hemingway e Fiódor Dostoiévski como principais influências, Bukowski criou um estilo próprio e ficou conhecido como "Velho Safado", e tudo isso você pode ler na biografia "Charles Bukowski - Vida e loucuras de um Velho Safado" (Ed. Conrad).

Ele foi funcionário dos Correios até os 49 anos, Bukowski sentava na sua máquina de escrever acompanhado de uma garrafa de bebidas e dava luz a textos que rompiam com os padrões da época, sem medo de revelar que na maioria das vezes eram textos autobiográficos. O “Velho Safado” não tinha receios, e nos seu textos citava nomes e lugares de situações que o levaram a perda de muitas amizades.

Nos anos 80, Bukowski desfrutava de certa fama, morrendo de leucemia aos 73 anos influenciando também a música com letras de banda como Bad Radio (uma das bandas de começo de carreira de Eddie Vedder, vocalista da banda Pearl Jam), Red Hot Chili Peppers, entre outras


O Samba da Vela surgiu em 2000 com o intuito de celebrar o autêntico samba de terreiro, enaltecer compositores da velha guarda e revelar novos autores. As apresentações seguem um ritual próprio, com uma vela no centro da roda que indica o começo do samba que só termina quando a luz se apaga. Essa reunião de bambas acontece há nove anos todas as segundas-feiras, na Casa de Cultura de Santo Amaro. O melhor é ir conferir pessoalmente, uns podem até estranhar, afinal no local, não existe bebida alcoólica e nem cigarro, só o samba. Ao final é servido uma sopa, feita com doações. Os autores apresentam seus sambas, com todo um respeito pelo samba de autor. Um lugar fantástico que mostra que ainda é possível levar cultura de qualidade na periferia, mesmo com todo lixo que a mídia descarrega em nossas cabeças. Porque samba é cultura e ali, Chapinha e seus amigos, fazem um evento que com certeza inspirou alguns dos vários sambas de comunidades existentes hoje na cidade. As rodas de Samba são muitas, se você não sabe desse movimento fique ligado, destacaremos um por mês nas páginas do Boletim do Kaos, ou acesse o site da Agenda da Periferia: www.agendadaperiferia.org.br. Lá você encontra algumas das opções, tem samba de segunda à domingo. Para mais informações acesse também: www.sambadavela.com.br

Nome, idade, religião: Augusto, 31 anos, espírita Time: Seleção Brasileira Familia: Muitas. Tem parente que não vale um amigo. Literatura pra você: Sustento. Um Livro: Os Irmãos Karamázov Um escritor: Charles Bukowski Um poeta: Alvares de Azevedo Um filme: O Iluminado Um ator: Nicolas Cage Uma atriz: Maria Flor O que te dá prazer? Ir pra rua O que você não suporta? Beligerância 3 lugares que frequenta: Meu trabalho, meus bares, minhas amadas. Um sonho: Ir morar na Bahia Uma personalidade: Chris McCandless Um artista: Sergio Carozzi Complete a frase: - Sem poesia minha vida seria...um processo correndo à revelia


Como sempre fui conferir ao vivo, dessa vez na periferia do Rio de Janeiro; os guerreiros do AFROREGGAE. Marquei com o José Junior, um dos fundadores da ONG, de visitar Vigário Geral e conhecer a ONG, aí pintou uma viagem dele pra SP e ele me disse: Queria que você fosse mesmo assim. Encontramos Bóris na Central do Brasil, com ele, fomos de “Buzão” até lá, descemos na entrada da Comunidade Parada de Lucas, no caminho já ficamos sabendo da história do local, uma mega favela plana que se divide em 2 nomes. O Afroreggae nasceu depois do Massacre de Vigário Geral, quando justiceiros ligados a PM mataram diversos moradores inocentes. O lugar é incrível e acreditem, por 25 anos cada uma das favelas era comandada por uma facção, de um lado Comando Vermelho, do outro Terceiro Comando. Por isso que a divisa se chama “Faixa de Gaza”, são ruínas de casas destruídas por tiros, cada buraco que você não acredita, por 25 anos não se pode atravessar a faixa de gaza nem para visitar parente. Bóris nos mostrou a sede do Afroreggae, em Parada de Lucas. Um prédio de 2 andares cheios de atividades, telecentro, biblioteca, música, ali já vimos a mostra os tambores e rolava uma oficina. Saímos de lá e seguimos para Vigário Geral, o rapaz que nos acompanhava parou na Faixa de Gaza e disse:- Fico por aqui.

Acredite: - Poesia. Mais a cerveja é bem gelada, os petiscos são servidos em telhas em forma de bandeja. O Sarau do Binho acontece no Bar do Binho, um poeta autor de dois livros, “Poetesia” e “Donde Miras”, que escreveu em co-autoria com o Serginho Poeta. O bar não é pequeno, mas mesmo assim é complicado se locomover, as mesas estão lotadas no dia de nossa visita. Comigo a fotógrafa Marilda Borges e o amigo Eleílson Leite da Ação Educativa, encontramos lá o escritor Marcelino Freire (Prêmio Jabuti por “Contos Negreiros”), ele pegava o Boletim do Kaos II com ele na capa, que inclusive fez a ponte e levou para feira do livro de Lisboa, em Portugal. Amigos que não via há algum tempo como o poeta Marco Pezão, mais um monte de gente bacana. O Sarau é descontraído e informal e nesse clima vai até meia noite. O astral dos frequentadores é alto e a paz reina entre as várias tribos, tem manos de várias periferias e universitários de uma faculdade que fica na esquina. www.marildafoto.blogger.com.br São Paulo oferece os mais variados tipos de saraus, os talentos são muitos e em muitos lugares. Binho é ainda idealizador da “Expedição Donde Miras”, caminhada cultural pela América Latina. A ideia do seu sarau é microfone aberto para qualquer expressão artística como poesia, música, encenação teatral, entre outras, para promover um intercâmbio entre os frequentadores. Todo mês o Boletim do Kaos vai destacar um sarau, fique ligado que cada dica vale uma poesia. ONDE: Bar do Binho Rua Avelino Lemos Jr, 60 Campo Limpo (Zona sul de SP) Entrada franca www.saraudobinho.blogspot.com toda segunda (21h) Inf: (11) 5844-6521

Pavio da Cultura Dia 11 - 20h 2º sábado do mês, escritores, poetas se reúnem dessa vez o homenageado é o escritor Luiz Vilela. Local: Centro Cultural de Suzano - Rua Benjamin Constant, 682 Centro - Suzano – SP Informações: (11) 4747-4180

Periferia Invisível Dia 11- 18h30 Salão externo dentro das dependências da paróquia Santa Luzia, localizada na Rua Barra de

Santa Rosa, 4405 – Ermelino Matarazzo (próximo à estação USP Leste da CPTM). (11) 9545-4743 renatoadrianorosa@hotmail.com www.periferiainvisivel.com.br

Trocando Ideias Dia 28 - 20h Livro do mês: Os Lusíadas - Luis Vaz de Camões Local: Centro Cultural de Suzano, Rua Benjamin Constant, 682 Centro - Suzano - SP Informações: (11) 4749-7556

E vinha chegando outro pra nos guiar do lado de lá. O cenário ao redor na “Gaza Brasileira” era de filme de guerra, só neles ou nos telejornais tinha visto locais totalmente destruídos por tiros. Desse lado vimos várias vezes soldados armados do tráfico. A sede atual de Vigário é parecida com a de Parada, junto da gente uma comitiva da África, monitoradas por uma mulher do Afroreggae. Da sede atual fomos conhecer as obras da nova sede, ainda inacabada. Num certo local pediram que não fotografasse pois poderíamos ter problema, vi uns cara carre+gando fuzil como se fosse guarda chuva.

Sarau da Cooperifa

Sarau Poesia na Brasa

Sarau do Binho

Todas as quartas, a partir das 20h. Local: Bar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana. Zona Sul. Informações: (11) 5891-7403

Local: Bar do Carlita Rua Professor Viveiros Raposo, 234 Brasilândia. Zona Norte. Informação: (11) 9169-9690 . brasasarau.blogspot.com

Sarau da Ademar

Sarau Elo da Corrente

As segundas - 21H Local: Rua Avelino Lemos Jr., 60 (em frente à Uniban) Campo Limpo. Zona Sul. Entrada Franca. Informações: (11) 5844-652 5844-4532 / 3535- 6463

Local: NaKasa Bar Rua Públio Pimental, 65 (alt.do nº 3.800 da Av. Cupecê) Cidade Ademar. Entrada Franca. Informações: (11) 5622-4410 saraudaademar.blogspot.com

As quintas-feiras - 20H Local: Bar do Cláudio Santista Rua Jurubim, 788-A. Pirituba Zona oeste. Entrada franca. Informações: (11) 3906-6081 elo-da-corrente.blogspot.com

Quem quiser divulgar seu evento na próxima edição entre em contato pelo email boletimdokaos@hotmail.com

Por isso que não é de ouvir falar, eu fui conferir e garanto, a ONG Afroreggae representa.

Maiores informações e muito mais opções acesse nossos parceiros e informe-se no site da Ação Educativa que tem uma agenda sobre os vários eventos no mês www.acaoeducativa.org.br/ agendadaperiferia No site Catraca Livre você tem uma agenda que tem eventos, cursos, cinema, teatro, exposições, palestras e encontros www.catracalivre.com.br


Fauziya tinha 16 anos, estudava e já planejava seu futuro, pensando na universidade. Tinha o apoio do pai, um homem muçulmano a frente de seu tempo e de sua tribo, localizada no Togo, África Ocidental. Ele acreditava nas tradições, mas não aceitava práticas que violavam as mulheres. A “kakia”, como é chamada a mutilação genital feminina nessa região, era para a família algo muito próximo e a tia de Fauziya, que morreu de tétano depois de ser mutilada, era uma lembrança triste. Fauziya tem irmãs mais velhas, todas são casadas e não foram mutiladas, com o apoio de seu pai. Ele queria que as filhas fossem mulheres com conhecimento e acreditava que nem por isso deixariam de ser fiéis as leis do Alcorão. O terror começa quando o pai de Fauzyia morre. Seus

tios, pela “lei” local, automaticamente são seus tutores legais e não a sua mãe, que é expulsa de casa. Logo se apoderam dos bens de seu pai, tiram Fauzyia da escola e a obrigam a casarse com um homem 35 anos mais velho, já com três mulheres, todas mutiladas. Fauziya sabe o que a espera. Nunca viu, mas sabe que é cruel: uma mulher virá, abrirá suas pernas e com uma faca ou gilete (que não está esterilizada) corta uma parte de sua vagina e depois faz uma costura, deixando apenas espaço para a passagem da urina e do sangue. Finalmente a atam das ancas até as coxas, por quarenta dias. Pronto! Está pura para o marido! Com a ajuda de sua irmã, ela foge e chega na Alemanha sozinha. Graças ao inglês que aprendeu na escola, incentivada pelo pai, consegue se comunicar e uma mulher solidária a deixa viver em sua casa. Passa pouco tempo na

Jardim das Rosas: Diário de um mano de Ivone Lopes de Lana O livro retrata a vida de um jovem chamado Cassiano, nascido e criado na periferia do Jardim das Rosas, bairro situado na região do Capão Redondo, relata em seu diário os grandes acontecimentos de sua vida, relembrando sua infância, adolescência e entrada no mundo dos adultos. O Capão Redondo teve sua fama destacada pelos jornais e pelas redes de TV, principalmente, na década de 1990, época em que muitos crimes e fatos da adolescência de Cassiano também são relatados. “Jardim das Rosas” é o grito de um jovem que acorda no pesadelo da vida real e utiliza uma linguagem poética para descrever acontecimentos trágicos.

Alemanha até que conhece um jovem africano que a orienta a pedir asilo aos Estados Unidos. Lembrando que tem parentes vivendo no país, a ideia se torna a sua saída. Então, sem saber o que a espera, com um passaporte falso, comprado desse jovem chega aos Estados Unidos. Mas não passa do Serviço de Imigração do Aeroporto. Explica ingenuamente que veio pedir asilo e imediatamente é presa. Conhece a realidade do sistema prisional norteamericano e se vê em meio a outras imigrantes, de diversas partes do mundo, com muitas realidades, a maioria “fugitiva”. Mas essas estão fugindo da dor, da escravidão, da humilhação, da violência, da mutilação genital feminina. A partir daí, com o apoio de organizações que estão no mesmo barco, inicia uma luta contra uma prática cruel que viola os direitos das mulheres: a mutilação genital. E luta também contra as prisões,

"Identidade e Alteridade: conceitos relações e práticas literárias" de Susi Frankl Sperber Um dos primeiros títulos da Coleção Work in Progress do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL), da Unicamp. O objetivo da coleção é divulgar e facilitar a publicação de trabalhos em processo de desenvolvimento “É uma oportunidade de o professor começar a utilizar suas pesquisas em estágio avançado em salas de aula, cursos e conferências, sem precisar passar pelo processo burocrático de uma editora”, explica o coordenador da coleção, Carlos Eduardo Ornelas Berriel. E Alteridade e Identidade – O livro estuda algumas manifestações literárias como a literatura marginal, ou periférica, a autora procura os índices de concepção libertários e igualitários. Uma análise dos poemas e romances propostos permite saber como são caracterizados pessoas que vivem supostamente a margem da sociedade.

A escritora Fauziya Kassindja

onde descobriu sociedade.

o

lado

desumano

da

Esse livro é o relato de uma jovem africana, muçulmana, que valoriza suas origens, sente a maior ligação com sua tribo, sua história e religião, mas é contra uma desnecessária e cruel prática que mata muitas mulheres e as que sobrevivem, vivem a sombra do “marido”.

Pequeno calendário colorido para os que sabem ler o tempo de Edson Natale com ilustrações Carlos Barmak Uma publicação com textos que fazem uma reflexão sobre o tempo e as nossas ações pessoais. O livro fala sobre o despertar do nosso olhar e de como compreender a vida e nós mesmos. Edson Natale é conhecido pelo sua carreira musical e também pelos seus livros que desde 1994 lança como o Guia Brasileiro de Produção Musical 1994/1995, o Anuário Brasileiro de Músicos, Produtores e Estúdios 1996 e o Guia Brasileiro de Produção Cultural 1999, 2001, 2004 e 2007. Em 2004 escreveu “A História do Incrível Peixe-Orelha”, obra que obteve o apoio oficial da ONU também com ilustrações do Carlos Barmak.

Zona de Guerra de Marcos Lopes Mais um periférico que contratia as estastísticas. A obra é um relato sobre sua vida. Passa por histórias sobre o tráfico, até o momento em que ele conhece a literatura. O livro, dividido em quase 20 partes, conta com o depoimento de personalidades, entre ela a Tia Dag, fundadora da Casa do Zezinho. O autor militou no crime, viu a morte quase que diariamente, enterrou muitos dos seus conhecidos e conseguiu romper barreiras para se tornar um escritor. Na obra, Lopes conta um pouco sobre a vida de meninos pobres do Parque Santo Antônio, na zona sul da capital. Na vida real, Marcos está dando aula na mesma escola em que estudou no passado. É ainda educador do Instituto Rukha. Lá, trabalha com famílias que tiveram filhos expostos ao trabalho infantil.


Para Jorge Duarte e Tânia Pinto No dia em que o enredo foi distribuído na reunião da ala de compositores, Azeitona saiu radiante: seu filho havia feito um trabalho escolar sobre a Transamazônica, exatamente o enredo daquele ano. - Pra mim vai ser mole, é só pegar o trabalho da escola do meu filho e dar uma garibada. - Repetia Azeitona entre goles de cerveja. Empadinha saiu da reunião apreensivo. Depois daquele dia, rodava pelos cantos, brigava com Valdirene por besteira, passou a ter insônia, enfiou-se na cachaça, porque achou o enredo muito difícil, ruim de se fazer refrão. Arriscava uma melodia ou um verso, e mandava a Transamazônica para a puta que o pariu. Tudo porque não sabia nada sobre a estrada que o diabo do governo estava fazendo no Amazonas. Não iria sair de biblioteca em biblioteca lendo sobre o assunto. Não gostava de ler e muito menos de ir à biblioteca, lugar de silêncio, coisa que ele odiava. Optou pelas notícias de jornais, pelas revistas da barbearia, das biroscas e de casa, mas o samba não saía... O enredo estava mal escrito, com pouca informação sobre a infeliz da estrada. Num domingo, viu um grupo de amigos tocando instrumentos e Azeitona cantando o seu samba num churrasco organizado na porta do bar do Tom Zé. Fingiu que não viu e saiu de fininho deprimido até o pescoço com a possibilidade de não fazer samba naquele ano. Subiu rápido o morro e foi golpeado duas vezes quando viu Caramba e Brasão cantando os seus sambas em biroscas e os amigos ouvindo-os atentamente. Imaginou que todos os compositores da escola já estavam com o samba pronto, mostrando a criação aos amigos, distribuindo a letra do samba mimeografada pelo morro, e ele nada sobre a Transamazônica. - Se o enredo fosse a Bahia, esses putos iam ter que me engolir! - dizia pra si mesmo. Era verdade. Apesar de nunca ter sido vencedor, sempre chegava à disputa final quando o enredo era a Bahia, porque seus pais eram baianos e contavam das festas populares de lá, falavam dos costumes, do candomblé, das histórias de pescadores e de tudo mais. Não era como essa Transamazônica, da qual só ouvira falar algumas vezes. E o que mais o afligia era que, nesse ano, a disputa seria honesta, porque Amendoim havia morrido e sempre era ele quem ganhava com qualquer samba, não porque comprasse os jurados, mas pela violência. Amendoim já havia matado noventa e cinco pessoas e duas delas eram compositores de samba vencedor. Daí em diante, ganhou todas as disputas, até morrer com quatro tiros numa quebrada do morro. Empadinha via a possibilidade de comprar um terreno em Lídice, lugarejo da Costa Verde do Estado do

Rio de Janeiro, onde passaria a velhice criando galinha, colhendo a salada de cada dia em sua própria horta e tomando banho de rio à hora que bem quisesse. Faltando três dias para os com-positores entregarem a fita cassete para a diretoria escolher as dez composições que disputariam o prêmio de melhor samba, Empadinha teve a idéia de ir à escola do filho de Azeitona com a intenção de achar um estudante que também tivesse feito um trabalho sobre a Transamazônica. - Caralho, como não pensei nisso antes? Ainda eram nove horas. Queria que o tempo passasse rápido para encontrar o estudante e fazer logo o samba. Não tinha sono, resolveu ir à birosca beber alguma coisa. Tomou duas doses de Parati, bebeu uma cerveja e, por fim, mandou para dentro um rabo de galo. Voltou cambaleando para casa e se jogou na cama de roupa e sapatos. Não eram nem sete horas quando ele esperava que as turmas formassem para localizar a do filho de Azeitona. Marcou bem o rosto de dois meninos e de três meninas. Quando deu a hora da saída, o compositor se precipitou para o primeiro estudante de quem guardara a fisionomia: - Você também fez trabalho sobre a Transamazônica? - Fiz. - Você pode me emprestar? - Olha, eu sei muito bem pra que o senhor quer o meu trabalho... - Como assim? - O senhor não é compositor da escola? - Isso. - Então, todos os compositores vieram aqui pedir trabalho pros alunos, e esses otários aí deram. - Você não vai me dar, não? - Lógico que não, se quiser vai ter que comprar. - Comprar? E quanto é o trabalho? - Cinqüenta cruzeiros. - Ah, tá muito caro, vou achar outro aluno... - Olha, eu tirei dez, hein? E tá todo mundo vendendo agora. E o meu preço é o melhor. - Tá a fim de me enganar, rapaz, tá pensando que eu nasci ontem? - Tudo bem, mas depois não vem atrás de mim, que eu não vou vender, não. Empadinha caminhou um pouco e se voltou para o menino. - Tá bom, tá bom, toma aqui o dinheiro. - Vamos lá em casa que eu te dou o trabalho. Era esplêndido o trabalho do menino. Empadinha ficou maravilhado com a Transamazônica que lhe aparecia descrita em letras juvenis em folhas de papel almaço: a extensão, o objetivo de ser criada, o dinheiro investido, os lugares por onde a estrada passaria, os conflitos e também a cultura do Estado de Amazonas, como a lenda da mãe d’água, da serpente Boitatá; a vida dos seringueiros, dos índios, as cachoeiras, os rios e as cascatas. Enfim, o trabalho tinha tudo o que faltava ao enredo. - O moleque é bom, rapaz! Tem habilidade! Fez um trabalho de mestre, tem um monte de coisa aqui que não tinha no enredo. Agora não tem pra ninguém - disse Empadinha a Valdirene. - Você vai fazer o samba quando? - Já terminei, já terminei, olha só – e cantou feliz:

Vejam que beleza A história que vamos contar Sobre a Amazônia distante Esse sertão fascinante Terra igual essa não há Contam que a mãe d’água Dentro de sua lenda e tradição Ao ver o pescador se aproximar Cantava uma linda canção Refrão No barulho das águas Surge uma serpente É o boitatá Apavorando gente Índio guerreiro, caçador Seringueiro extraía a borracha Vaqueiro cantava canções de amor Hoje o progresso chegou Dentro da cultura e expansão Surge a Transamazônica Orgulho de nossa nação. - Mas fala muito pouco sobre a estrada... - Mas na reunião, o carnavalesco falou que era importante também falar sobre a Amazônia, mais importante do que a estrada. - Por quê? - Pra fazer as fantasias, é bom falar dos índios, dos seringueiros, vaqueiros, sabe qualé? O importante é que o samba tá pronto e agora é só gravar e mandar a fita pro corte. Empadinha deixou a esposa, foi procurar Jorge do Cavaco, Dirceu do Repique e Celso do Tamborim para gravar o samba e mandar a fita para a diretoria avaliar. Quarenta sambas foram cortados. Entre os dez que competiriam na quadra estavam o samba de Azeitona e o de Empadinha. Empadinha chorou no dia do resultado, nenhum samba havia sido mais difícil de se fazer do que aquele. Ficou tão feliz por não ter sido cortado que, no dia seguinte, foi à porta da escola procurar por Mauricinho para lhe mostrar o samba e agradecer por lhe ter vendido o trabalho escolar. Mauricinho escutou o samba atentamente e disse: -Esse samba é de rima fácil, rima serpente com gente, distante com fascinante... A pesquisa foi mal usada, tá cheio de jargão! Samba exaltação digno do golpe de sessenta e quatro, samba pra emudecer a razão. Muito fraco! E pra que cantar a Transamazônica? Pra que cantar? Onde está a novidade das estradas, tirando a fuga, a esperança da partida e o inesperado do destino? Sempre numa estrada vai ser melhor a certeza da volta do que a esperança da partida, e, no entanto, criamos caminhos sem volta.... Sabemos que a utopia é o fraco do humano e é ela que nos faz criar caminhos, que são tantos, que se cruzam, que se chocam... Caminhos que sempre fazem um humano querer voltar para casa, enquanto um outro quer sair... Caminhos que nos envelhecem, que matam nosso tempo! Caminhos que nos fazem abandonar o

chão da infância... Deus me livre de ser um viajante, pois o viajante é aquele que chega anunciando a partida: tem pés que batem num chão, enquanto o coração, no chão de outro lugar. Empadinha ficou surpreso com as observações de Mauricinho. Tentou argumentar alguma coisa, mas ficou sem palavras diante do rapazola que continuava: - Não fica assim, não. Eu tô brincando. Viajar é muito bom, a gente conhece gente nova, os pratos típicos de cada região, os costumes. Imagine a gente dentro da floresta amazônica, vendo os animais, os índios, o rio Amazonas e os seus afluentes, né? Viajar é bom. - Não tô entendendo! Primeiro você me diz que viajar é ruim, agora diz que é bom. - Eu só coloquei dois pontos de vista, mas na verdade eu estou mesmo é muito puto com essa estrada... - Por quê? - Essa estrada está sendo criada pelo presidente Médici, esse assassino... Ééé... É mais um projeto-impacto dele... Eles acham que vão tentar integrar o Brasil abrindo estradas, que ela vai ser um modelo de assentamento do trabalhador rural, mas na verdade eles vão foder com tudo, porque a condição sócio-econômica da população tá a pior possível! Tá uma violência danada pela posse de terra, entre os grileiros a serviço de poderosos interesses econômicos, posseiros e índios! E, além do mais, eles estão depredando tudo, não têm a mínima preocupação com o meio ambiente, e a escola de samba cantando como se fosse a melhor coisa do mundo. Um monte de alienado tecendo elogios pra uma coisa horrível dessas! Meu trabalho falava disso tudo, mas o senhor nem ligou e fez esse samba alienado. - Que que é alienado? - Sem nenhuma reflexão política, sem saber o que está por trás das coisas. Ficam um monte de bobões fazendo samba exaltação pra esse governo corrupto, assassino, enganador. Eu tenho vergonha de vocês. Empadinha ficou com cara de palhaço triste vendo Mauricinho se afastar com um monte de livro amarrado num cinto. Realmente o moleque tinha razão. Era o mais infeliz dos idiotas em cada passo que o levava de volta para casa. Um garoto... Um garoto que poderia ser seu filho estava mais por dentro das coisas do que ele. Sentiu a força do conhecimento, do estudo, sentiu também vontade de não desfilar, de retirar o samba da competição. “Será que poderia voltar a estudar?” “Teria cabeça para encarar os livros?” Não. Mas não iria bater palmas para maluco dançar, não iria dar mole para o governo que quer que a escola venda uma boa imagem da porra da estrada. Entrou em casa e Valdirene foi logo perguntando: - E aí, falou com o menino? - Falei e não vou mais disputar o samba, não. - Tá maluco? O que aconteceu? - Eu não sou alienado! - Que troço é esse de alienado, Empada? Você não trabalha, vive de biscate e do dinheiro que eu ganho... Vive em função de ganhar um samba enredo pra gente sair desta merda, sofreu que nem uma vaca no matadouro pra fazer o samba, e agora que passou na eliminação da fita me diz que não vai mais disputar! Que que esse menino te disse? - Ele me disse que eu sou burro, que o meu samba só tem mentiras, que a Amazônia tá acabando, e o governo tá contribuindo com isso e que...


- Eu tô pouco me lixando com o diabo da Amazônia, eu quero uma casa em Lídice, eu quero sair desse morro! - Desiste, mulher, eu não vou mais disputar. - Então ruma logo um emprego, que eu não vou te sustentar mais, não! Empadinha passou a tarde com a cabeça em profunda confusão. Se o enredo fosse a Bahia, tudo estaria resolvido, mas o carnavalesco de merda inventou um enredo de merda pra um governo de merda se beneficiar. A noite foi de insônia. O descobrimento de que era um alienado o maltratava, mas se tirasse o samba da competição teria que encarar um emprego, acabaria a boa vida de acordar a hora que bem entendesse, de não ter que aturar patrão, daria adeus ao jogo de futebol das três e meia da tarde, a sinuca das manhãs, o baseado de depois do almoço. Tinha uma mulher que o sustentava simplesmente pelo fato de ser artista, e, exatamente por isso, possuía a oportunidade de virar a vida de uma vez, mandando a miséria para a casa do chapéu, se seu samba fosse campeão. Às cinco da manhã resolveu esquecer o diabo da alienação e seguir em frente na disputa. Saiu cedo e comprou mil folhas de papel para rodar a letra no mimeógrafo. Passou a semana cantando o samba nas biroscas do morro, foi à casa dos amigos, dizendo que pagaria a cerveja se eles cantassem o samba na hora do vamos ver. Prometeu dinheiro ao mestre da bateria para que ele a comandasse com mais afinco na hora de sua apresentação. Tudo isso contava muito na decisão do júri: bateria afinada e empolgação na quadra. E, assim, o samba de Empadinha foi passando nas eliminatórias até chegar à final, justamente com o samba de Azeitona. Empadinha e Azeitona eram amigos de infância, andavam sempre juntos e por isso ganharam esse apelido. Azeitona o levou a compor e com ele fez os seus primeiros sambas, mas por causa de brigas no futebol estavam de relações cortadas há mais de seis meses e, além do mais, sempre houve certa rivalidade entre os dois. O pior era que sentia que o samba de Azeitona vinha empolgando mais os componentes da escola, porque realmente era melhor, mais bem acabado, mais ritmado e com letra mais profunda. Não havia jeito de ganhar. Teria de arrumar um jeito para derrubar o rival, que na certa olharia para ele, dizendo com os olhos: “Tá vendo, seu otário? Sou melhor que você.” Isso lhe doeria mais do que perder a grana que receberia caso fosse campeão. No dia antes da disputa final, foi bem cedinho à casa de Azeitona. - Que que você quer? - Olha aqui, Azeitona, a gente sempre foi irmão, sempre compôs juntos, e agora a gente tá aí, disputando uma final de samba enredo brigados, sem se falar. Eu vim aqui dizer que eu gosto tanto de você que se eu perder vai ser uma honra... Se você ganhar, eu também vou me sentir campeão. Queria te dizer que eu tenho sentido muito a sua falta. E agora que a gente vai competir aí, eu queria fazer as pazes contigo. Eu quero retomar a amizade, antes da gente ir para a quadra de samba. - Que bom, Empadinha, eu queria te falar a mesma coisa, tava era sem coragem, pensando que você iria me virar a cara. Os dois se abraçaram longamente e depois Empadinha convidou: - Então é o seguinte: vamos almoçar lá em casa amanhã. Vou mandar a mulher fazer uma buchada de bode. - Pode mandar fazer que eu vou lá. O povo da escola ficou surpreso quando Azeitona disse que estava indo para a casa de Empadinha pegar a bóia. - Que espírito esportivo, espírito de competição! Que coisa bonita! Que demonstração de amizade! – falavam. Por volta das treze horas, Azeitona chegou para o almoço. Beberam cerveja e batida de limão, cantaram os seus velhos sambas. Valdirene serviu a comida e teve que insistir para os dois sentarem para comer, eles não paravam de cantar, de se abraçar e de brindar a amizade a todo instante. Por fim, começaram a comer com muito apetite, mas logo depois Azeitona começou a passar mal e, em seguida, Empadinha. Os dois tiveram o mesmo tipo de convulsão. Valdirene chamou os vizinhos para ajudar a levar os dois para o hospital, onde chegaram mortos. Depois da autópsia, o pessoal ficou surpreso com a causa mortis de ambos: parada cardíaca por envenenamento. Mas tudo ficou esclarecido quando o enfermeiro trouxe dois vidros de ratofudex que encontrara no bolso de cada um: veneno fulminante para ratos.

* Originalmente publicado na Revista Caros Amigos/Literatura Marginal - ATO I

Um veículo de comunicacão que resiste ao tempo, mesmo aos trancos e barrancos, assim pode ser definido um FANZINE ou simplesmente ZINE. Não é facil produzir um, o editor, além de saber escrever e se expressar, deve reunir textos de poetas e amigos, fotos e dicas culturais. Mas essa é a parte mais fácil, complicado mesmo é reproduzir, quase que 100% dos Zines são bancados exclusivamente pelo editor e isso faz com que alguns parem em pouco tempo. Mas os fanzineiros de coração não desistem nunca. Um Zine é um jornal feito em fotocópia e distribuído gratuitamente. Primeiro vem o trabalho de montar, depois as despesas com as cópias e por fim a distribuição e custos com correio, para fazer o Zine chegar na mão de vários manos e não ficar apenas restrito ao seu local de origem. Por questões financeiras, muitos Zines demoram algum tempo de um número para outro, mas os fanzineiros resistem a todas as dificuldades para fazer a informação e a leitura chegar a quem precisa: o povo da periferia. Eu mesmo atualizando meus Blogs, twitters e mailings diariamente (www.suburbanoconvicto.blogger.com.br), sempre continuei a rodar meus Zines, chegando a surpreendente marca de 150 números, eles são lidos por muitos que não têm Internet. Como zine não conheço outros que tenham tido tantos números. Faço a distribuição nas quebradas, nos trens e mando para várias pessoas pelo correio. O Zine Boletim do Kaos se tornou hoje o jornal que você tem em mãos. Existem centenas de Zines espalhados pelo Brasil, alguns são de ONGs e Posses, outros particulares. Só para citar alguns, existe “O Propagandista” do Magu (Itaim Paulista-SP), “Aliados Zine da Landi” (Barueri-SP), “Voz da Resistência” da Posse H2PM (Embu-SP), “Papo Reto do Bylla” (Penapolis-SP), “Poezine” da Dinha (Pq.Bristol-SP), “Folhas de Atitude” do Walter Limonada (São Bernardo do Campo-SP), “Vozes de Rua” do Oliveira (GuaratinguetáSP), “Traficando Informação” da Giggia (Suzano-SP), “MJIBA” da Elizandra (São Paulo-SP), “Jornal da ADAB” da Maria Rivanilda (Rio de Janeiro-RJ), “Olhos Abertos” da Posse Nova República (João Pessoa-PB), “ZINE Sertão” do Junior Baladeira (Ouricuri-CE) e por aí vai. São centenas de títulos e editores que amam produzir, reproduzir e distribuir seus Zines. Perguntamos a alguns fanzineiros: O que é Zine para você? Veja os depoimentos a seguir.


Na sua quarta edição, o Antídoto ocupou o mês de junho com música, teatro, debates, e lançamento de DVD’s. A abertura ficou com lançamento do documentário “Literatura e resistência”, do escritor Ferréz. O evento é uma parceria do Itaú Cultural com o Grupo Cultural AfroReggae “O Antídoto nasceu a partir de uma conversa com José Junior, do AfroReggae. Nos questionamos como seriam os projetos similares aos do AfroReggae, CUFA, Cooperifa, por exemplo, em outras regiões do mundo. Essa pequena curiosidade evoluiu para transformar-se em um projeto depois que a idéia foi apresentada para a presidente do Itaú Cultural, Milú Villela, que enxergou longe...” fala Edson Natale que começou a trabalhar no Itaú Cultural como curador do Projeto Rumos, em 2000 e está na Instituição até hoje. Essa edição também trouxe o documentário de Preto Zezé (CUFA), além de shows musicais, teatro, e o ciclo de debates Antídoto – Seminário Internacional de Ações Culturais em Zonas de Conflito, com convidados internacionais da Nigéria, Afeganistão, Líbano, Palestina, Sudão, Canadá além do Brasil. Tudo ocorreu entre 4 e 28 de junho e envolveu as comunidades de Heliópolis e Paraisópolis, em São Paulo; Alagados, em Salvador; e outras comunidades do Rio de Janeiro, como a Vigário Geral onde foi criado o AfroReggae, no teatro – com grupos vindos de Pernambuco e de Maputo, capital de Moçambique “O que mais impressiona

“O que mais impressiona é como, às vezes, uma única pessoa faz realmente a diferença se acreditar em si mesma e se acreditar que pode transformar positivamente a vida das pessoas; seja no Afeganistão, Palestina, Sudão, Bolívia, França ou Brasil.” Edson Natale

A abertura ficou com lançamento do documentário “Literatura e resistência”, do escritor Ferréz.

é como, às vezes, uma única pessoa faz realmente a diferença se acreditar em si mesma e se acreditar que pode transformar positivamente a vida das pessoas; seja no Afeganistão, Palestina, Sudão, Bolívia, França ou Brasil.” Conclui Natale. “Com uma programação, gratuita, com múltiplas atividades culturais, cada ano temos grandes surpresas Lirinha, com o monólogo “Mercadorias & Futuro” e o monólogo “Mulher Asfalto” que trouxemos de Moçambique, com a atriz Lucrécia Paco. São duas obras primas, absolutamente maravilhosas e instigantes.” Fala Natale. Mas além da parte artística, a contribuição de um evento como esse vai muito mais adiante “Tenho que acreditar (e acredito) que as contribuições são muitas. Simbolicamente, “encurtar as distâncias” entre as pessoas (mesmo que vivam a milhares de Km de distância) é um motivo lindo para se trabalhar!” finaliza. Ainda pelo palco de evento passaram Banda AfroReggae, Leandro Sapucahy, Maurício Tizumba, Jards Macalé, Arnaldo Antunes e Stewart Sukuma. Edson Natale também tem sido peça fundamental para propagação da Litera-Rua, Literatura marginal ou simplesmente a literatura como alguns preferem “Adoro ler e também (tento) escrever. Prá mim literatura marginal é um termo, uma “sacada” inteligente, mas que no fundo é literatura, com todas as diferenças, nuances, “sabores e texturas” que temos na literatura do mundo todo. Gosto de olhar a minha estante e ver que Sérgio Vaz, Darcy Ribeiro, Milton Santos, Ferréz, Edward Said, Paulo Lins, Alexandre Dumas e Écio Salles convivem juntos, sem problemas...” Com essa visão que Natale coordena muitas ações no Itaú Cultural e nos fala um pouco sobre a proposta da instituição “O Itaú Cultural existe há 22 anos e trabalha desenvolvendo projetos nas diversas áreas (música, literatura, dança, teatro, cinema, artes visuais, ação educativa...). É bastante abrangente e tem atuação em todo território nacional. Indico uma viagem pelo site www.itaucultural.org.br e convido os leitores para virem aqui na Av. Paulista 149, a “casa” está sempre pronta e disposta para recebê-los!”. Está aí o convite, tá esperando o que?


Por Alexandre De Maio

Marcos Rey era conhecido pelo pseudônimo de Edmundo Donato, ele foi um dos grandes autores da nossa literatura, passando um pouco longe de ser um escritor marginal, mas um grande exemplo de como um escritor pode atuar em várias áreas e abordar os mais diversos temas. Ser marginal, também pode ser um estereótipo, e o talento de Marcos Rey vai além de qualquer classificação. Eleito para a Academia Paulista de Letras, em 1986, recebeu duas vezes o prêmio Jabuti, foi redator dos seriados Vila Sésamo e Sítio do Pica-Pau Amarelo, além de escrever novelas, trabalhar em rádios, ser editor, tradutor e colunista. Marcos chegou a vender mais de 5 milhões de cópias, o escritor enfrentou a lepra e chegou a ser internado num sanatório. Nascido e criado no bexiga, Marcos era boêmio, amigo de putas, grã-finos, bicheiros e banqueiros. Na sua vida foram mais de 50 livros. Ele surgiu com a publicação do conto “Ninguém entende Wiu Li” na Folha de São Paulo, em 1942. Ele começou em SP, morou no Rio de Janeiro, no bairro da Lapa, mas voltou pra São Paulo para ser redator, na Rádio Excelsior. Em 1953 publicou o primeiro livro ”Um gato no triângulo”, romance, que mereceu aplausos e elogios de Oswald de Andrade. Marcos também se aventurou pela publicidade onde ele mesmo diz ter aperfeiçoado sua literatura, aprendendo a ser mais direto e menos redundante. Abandonou a publicidade para se dedicar à literatura. Em

1967 seu livro de contos “O Enterro da Cafetina” recebeu o Prêmio Jabuti e “Memórias de um gigolô” foi adaptado para o cinema e mais tarde uma minissérie para a televisão (anos 80). “Somente ao me aproximar dos 60 anos, consegui, enfim, viver de literatura. Foi, sim, uma batalha, e tão dura que no fim estava cansado demais para comemorar.” disse certa vez. No final da sua carreira, em 1992, começou a escrever crônicas semanais para a revista Veja São Paulo. Em 1994, pela segunda vez ganha o prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, agora com “O último mamífero do Martinelli”. Em 1996, recebeu o Troféu Juca Pato como intelectual do ano. No ano de 1999, após voltar de uma viagem à Europa, Marcos Rey foi internado para uma cirurgia, e não resistindo às complicações, veio a falecer no dia 1 de abril sem recuperar a consciência. Sobre a literatura, certa vez falou “Sempre fugi de definições. Nunca satisfazem. Mas para mim a literatu-ra, como a poesia, o teatro, a música, a pintura e a arquitetura, as artes em suma, é o espelho do tempo. Um reflexo fiel e indestrutível da passagem do homem através das gerações. Até mesmo a ficção científica, voltada ao futuro, evidencia uma angústia, uma fixação atual.” Para manter seu nome vivo a Biblioteca Marcos Rey comemora 28 anos, esse ano. Situado na zona sul

Tempos diferentes, estilos diferentes, o mesmo vicío; a literatura.

no bairro do Campo Limpo, com muitas atividades e um acervo aproximado de 30 mil volumes, a biblioteca também disponibiliza fitas VHS, CD’s e DVD’s, arquivo de jornais e equipamentos de informática para pesquisas escolares. End:Rua Anacê, 92 Jd. Umarizal (11) 5845-2572 www.marcosrey.com.br

Nessa sessão sempre trazemos nomes do passado e do presente da literatura marginal. Nessa edição Marcos Rey e Alessandro Buzo, o primeiro foi um dos grandes autores brasileiros, escrevendo todo tipo de livros, novelas, propagandas. Apesar do grande sucesso só conseguiu viver da literatura no final da vida. O segundo, Alessandro Buzo, ainda não vive diretamente dos livros, mas com certeza a literatura mudou o rumo de sua vida. Buzo como muitos o conhecem, era mais um jovem da periferia que vivia sem a orientação do pai, mas com exemplo da mãe guerreira. Como muitos outros periféricos nos anos 90, Buzo se via com poucas oportunidades, um trabalho sem perspectivas e ainda o vício em cocaína. No livro “Favela Toma Conta” (editora Global) ele conta sua trajetória e de como os livros o tiraram do fundo do poço. Primeiro um fanzine, (que deu origem a essa publicação), depois livros, o primeiro, “O trem”, foi um marco denunciando as condições do transporte público em São Paulo. Tudo com muito trabalho e esforço como até hoje, o escritor foi além das linhas, e como é da sua personalidade se tornou um grande agitador cultural. Com os eventos “Favela Toma Conta” e “Suburbano no centro”, movimenta a cena do rap brasileiro, com seus blogs divulga muita gente e é referência na internet, e agora como apresentador do quadro “Buzão Circular Periférico”, na TV Cultura, amplia seus horizontes. Seguindo os passos de nomes como Marcos Rey, Buzo não para de produzir, além de toda sua correria, faz o evento “Encontro com Autor”, na sua loja no Itaim Paulista e também lança anualmente a coletânea “Pelas Periferias do Brasil” onde reúne autores de vários estados.



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