BOletim do Kaos #3

Page 1

Distribuição Gratuita JUNHO/2009 SUA DOSE MENSAL DE (R) EVOLUÇÃO cult ur ahiphop .uol.c om.br/bolet imdok aos cultur urahiphop ahiphop.uol.c .uol.com.br/bolet om.br/boletimdok imdokaos

LANÇAMENTOS

EDIÇÕES TORÓ

EDITORA DA RUA Pág.09

tudo de interessante antes que o mundo acabe!

FAVELA TOMA CONTA! CINEMA SEM VERBA Q REPRESENTA

PÁG.10 A PONTE PÁG. 11 ESPAÇO VIP SÉRGIO VAZ GUIA PÁG.12 REVOLUÇÃO DAS CATRACAS

ESTÚDIO 1 DA SUL PONTOS DE DISTRIBUIÇÃO PÁG. 13 CANTO DA POESIA PÁG. 14

Pág.04

Pág.06

PR AZER EM PRAZER APRENDER

Pág.08

JOÃO ANTÔNIO MV Bill Paula Lima à FERRÉZ Caco Barcellos PÁG.14 PÁG.15

MULHERES N A ESCRI TA NA ESCRIT PÁG.07

Gustave Flaubert Grandes nomes da Litera-Rua PÁG.08



OS EDITORES Alexandre De Maio é editor de publicações de hip-hop pela editora Escala e Minuano, colaborador da Revista Raça e do site Catraca Livre, além de fazer história em quadrinhos. alexandre.de.maio@hotmail.com.

FOTO:WANDERLEY COSTA/SECOM

Alessandro Buzo é autor de vários livros, blogueiro nato e apresentador do quadro “Buzão Circular Periférico”, na TV Cultura. alessandrobuzo@terra.com.br.

A palavra é "Conhecimento" Salve amigos (as) leitores (as). Dividir conhecimento, informação e despertar o interesse pela leitura. Foi com essa meta que nasceu o Jornal Boletim do Kaos. As nossas informações com a contribuição dos colunistas, entrevistados, escritores e poetas, levam para mais de 10 mil leitores espalhados por 13 estados, literatura, cinema, música e quadrinhos. Nossa luta em levar do centro a quebrada, um veículo com conteúdo, uma alternativa a informação pasteurizada que predomina atualmente, é reforçada na distribuição em massa nas periferias, sempre muito carente de informação de qualidade. Juntamos pessoas influentes, formadores de opinião, imprensa, universitários, cineastas, atores, diretores, atrizes, cantores, escritores, poetas, estudantes, professores, mostrando que a gente não quer só comida, a gente quer cultura também. Nessa terceira edição falamos com Paulo Lins, o escritor do sucesso mun-

dial “Cidade de Deus”, um marco da literatura atual, que no cinema ganhou ainda mais força e conquistou o mundo. Essa cultura efervescente atual mistura várias linguagens, do cinema, a literatura, da poesia, as HQ’s; é a coluna vertebral dessa publicação. Nas páginas também trouxemos a ex-menina de rua, Esmeralda que hoje escritora e mostra que, na vida, superação das mais difíceis situações é possível. A literatura militante de Toni C também é destaque junto com a matéria especial sobre as mulheres, um panorama das Edições Toró, o grande exemplo de trabalho coletivo da literatura periférica atual. Boletim do Kaos é isso, sua dose mensal de (R)Evolução.

“Para se ter talento é necessário estarmos convencidos de que o temos”. Uma das muitas frases do pensador Gustave Flaubert que costuram a leitura desse exemplar.

Truuty lê Boletim do Kaos Foto:Marilda Borges


FOTO:WANDERLEY COSTA/SECOM

“NINGUÉM VIRA BANDIDO DE UMA HORA PARA OUTRA, POIS O PROCESSO É LENTO E DOLOROSO E O ESTADO E SOCIEDADE, RACISTA E EGOÍSTA, CONTRIBUI E MUITO NESSE PROCESSO.”

Ele nasceu 1958, no Rio de Janeiro, mas foi nos anos 80 que se inicou como poeta do grupo Cooperativa de Poetas. Seis anos depois lançou seu primeiro livro de poesia, publicado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Sobre o sol (1986). Toda essa trajetória vivida como morador da Cidade de Deus, na periferia da cidade, se tornava o credenciando para no futuro ser base do seu maior sucesso literário. Enquanto dedicava-se ao magistério e às pesquisas antropológicas sobre a criminalidade e as classes populares ele foi contemplado com a Bolsa Vitae de Literatura. No meio dos anos 90 acompanhando o crescimento da sua comunidade escreveu o livro que seria um marco da literatura contemporânea. Com a delicadeza, a firmeza e o saber de só quem vive dentro da situação, Paulo Lins mostrou no livro Cidade de Deus a criação de uma comunidade que vive sob o terror do tráfico de drogas e sua guerra interna e atuação corrupta da policia. Mas seu livro ganhou fama mundial quando, em 1997, foi dirigido por Fernando Meirelles, recebendo quatro indicações ao Oscar 2004 (melhor diretor, melhor fotografia, melhor montagem e melhor roteiro adaptado) e foi indicado para o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Depois, Paulo Lins se tornou um dos roteiristas mais solicitados pelo cinema e pela TV. Assinou os episódios de Cidade dos Homens, da TV Globo, e o roteiro do longametragem Quase Dois Irmãos (2004), de Lúcia Murat, que recebeu o prêmio de melhor roteiro da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), em 2005.

“O livro é muito mais violento, mas a violência maior é o descaso e o abandono que grande parte dos brasileiros recebem do Estado e da sociedade em geral.” Paulo Lins

Todas as bandeiras se encheram tanto de sangue que é tempo de as banirmos por completo.


Entrevista: Alessandro Buzo

Boletim do Kaos: Em primeiro lugar, o que você achou da ocupação policial na Cidade de Deus (CDD) que diz ter acabado com o trafico na região? Paulo Lins: SE O GOVERNO E A SOCIEDADE EM GERAL TIVESSE DADO CONDIÇÕES SOCIAIS MÍNIMAS, ESSA OCUPAÇÃO NÃO SERIA PRECISO. O ESTADO DIZ QUE ACABOU COM O TRÁFICO NA REGIÃO COMO SE O TRÁFICO FOSSE SOMENTE ESSES MENINOS SEMIANALFABETOS QUE VIVEM NA FAVELA MORRENDO, NA MÃO DA POLÍCIA QUE É A QUE MAIS MATA NO MUNDO. Eu pergunto para onde foram os distribuidores de drogas da Cidade de Deus? Que ação social fazem com nossos detentos para que eles se reintegrem à sociedade? Por que não se fala em tráfico de armas no Brasil? Quem leva droga para as favelas? Aqui no Rio se adotou a polícia de confronto com os grupos armados dos morros e favelas como se o Brasil tivesse pena de morte. Enquanto o Brasil não acabar com a fome, manter uma boa escola e um grande sistema de saúde esse tipo de crime, feitos por jovens da periferia, sempre vão existir. Ninguém vira bandido de uma hora para outra, pois o processo é lento e doloroso e o Estado e sociedade, racista e egoísta, contribui e muito nesse processo.

BK: Como vê a cena literária periférica ? Paulo Lins: Como sempre, a diferença é que agora se publica mais, os artistas se comunicam. Porém sempre existiram poetas e prosadores na periferia.

BK: O livro Cidade de Deus mudou sua vida? Paulo Lins: Minha vida, não! Mudou o meu trabalho, pois eu parei de dar aulas e vivo de escrever.

Um ator e uma atriz? Paulo Lins: Leandro Firmino e Mary Sheila.

BK: O filme é violento ou a sociedade é violenta e o filme só retratou? Paulo Lins: O livro é muito mais violento, mas a violência maior é o descaso e o abandono que grande parte dos brasileiros recebem do Estado e da sociedade em geral. BK: Projetos literários, o que vem por aí? Paulo Lins: Estou escrevendo um livro que fala do samba, da capoeira e da Umbanda aqui no Rio. BK: Você ainda tem amigos e parentes na CDD, com que frequencia costuma ir à comunidade? Paulo Lins: Não vou muito porque vários amigos também se mudaram de lá. Eu saí há 15 anos. Tenho três afilhados e muitos conhecidos. Sempre que rola uma festa eu tô lá.

BK: O que achou da Lei Rouanet que não contempla a literatura? Paulo Lins: Ainda não li sobre isso. Vou começar a acompanhar agora essa semana, inclusive que entender as propostas no nosso Ministro. De cara eu acho um erro não contemplar a mãe das artes. Isso não pode ser.

BK: Gosta de São Paulo, o que faz quando está por aqui? Paulo Lins: Eu tenho vários amigos em Sampa e um filho meu carioca, meio paulista. Quando estou em sampa estou sempre com um amigo para ir a um show os exposição, enfim, entro na cena cultural que essa cidade oferece que é muito boa por sinal. Um filme? Paulo Lins: O Invasor Um diretor? Paulo Lins: René Sampaio

Um livro? Paulo Lins: Fogo Morto

Um escritor? Paulo Lins: Ferréz BK: Seu livro, assim como "Meu nome não é Johnny" por exemplo, estouraram de vender depois do cinema, isso é bom ou ruim. Depender do cinema para vender livro? Paulo Lins: É ruim, queria vender mesmo sem filme. BK: Gosta de eventos como a Bienal do Livro (SP, RJ e outras)? Paulo Lins: Gosto de todos. BK: O povo não lê porque? Paulo Lins: Porque não tem incentivo. BK: Você acha que as empresas dando um "Vale Livro" de R$ 50,00 por mês por exemplo, ajudaria a mudar essa cena? Paulo Lins: Talvez, não levo muita fé, não. BK: Considerações finais? Paulo Lins: Eu gosto de pessoas legais.

O que o dinheiro faz por nós não compensa o que fazemos por ele.

Foto:www.ferrez.com.br

BK: E o filme, o que pode nos dizer sobre ele? Paulo Lins: Ele guarda o espírito do livro e todos os profissionais que trabalharam no filme tiveram muita paixão pelo próprio tema que abordava. Pensávamos que o impacto social e questões como racismo, desigualdade social, ensino, saúde pública fossem mais discutidos pela mídia e pela sociedade.

BK: O que mais te agrada e o que menos te agrada no Rio de Janeiro? Paulo Lins: O povo é muito legal, mas se mata muito. Eu estou achando muito ruim o governo do Sérgio Cabral. Votei nele e me arrependi. Participei até de um protesto contra a política de segurança.


Por: Alessandro Buzo Fotos: Marilda Borges

Ela nasceu Esmeralda do Carmo Ortiz, em 04 de agosto de 1979, cresceu até os 8 anos pedindo esmola com a mãe e os irmãos.

ontem, se ficar muito aqui é perigoso eu roubar um tiozinho, dá vontade de usar droga”.

A partir de 1987, ganhou de vez as ruas e passa a ser uma menor abandona na Praça da Sé, no centro de São Paulo, conhece cedo as drogas, o crack.

Mas como exemplo de superação ela luta dia após dia, pelos seus sonhos e projetos atuais que livram sua mente de pensamentos ruins, ela atualmente mora em Pirituba, onde organiza o “Samba da Quebrada”, uma vez por mês.

Em 1989 foi para prisão (antiga Febem) pela primeira vez, ao todo foram mais de 50 prisões, fugas e recaídas. Até que depois de muitas tentativas, passagens por projetos como o Travessia, recebeu apoio de Gilberto Dimenstein para escrever sua história em livro e enfim, mudar o final que parecia trágico. O livro foi um grande sucesso, deu visibilidade e foi lido em universidades, nas cadeias e nas ruas, sucesso de vendas e mais que isso “Esmeralda. Por Que Não Dancei” (Editora Senac – 208 páginas) virou um clássico. De superação, de denúncia, de luta. Logo no primeiro capítulo ela diz: - COMO É

GOSTOSO UM CHUVEIRO. O CHUVEIRO VAI LIMPANDO A GENTE POR DENTRO E POR FORA. NUNCA TIVE UM CHUVEIRO. NUNCA TIVE UMA CAMA E UMA CASA DE VERDADE. AGORA SIM, TENHO O MEU CHUVEIRO, TENHO A MINHA CAMA, TENHO A MINHA CASA. Pra quem cresceu nas ruas, sofreu todo tipo de violência, ter um teto, uma cama e um chuveiro é ter muito, mas ela buscou e hoje tem muito mais. Formou-se em jornalismo, teve um filho e se orgulha de ser boa mãe, de não ter enlouquecido com toda droga que usou. Faz mais de 10 anos que não usa, confessa ainda ter vontade “Hoje sei que se eu usar viro minha vida de pernas pro ar”. Em seguida descontraí: “Também tenho vontade de ganhar na loteria.” Recentemente gravou o quadro “Buzão – Circular Periférico” junto com o Délcio Teobaldo (Pivetim/2009Editopra SM) que disse “Pivetim é ficção, a Esmeralda é o Pivetim da vida real”, Esmeralda ainda confessa “É dificil pra mim estar aqui. Parece que foi

Ser estúpido, egoísta e ter boa saúde, eis as condições ideais para se ser feliz. Mas se a primeira vos falta, tudo está perdido.

Esmeralda Ortiz é uma guerreira, saiu do descaso e da invisibilidade, para uma vida de sonhos e futuro através da literatura. Se você não leu seu livro, procure e leia, porque a voz de Esmeralda precisa ser ouvida. Quantas Esmeraldas não existem pelas ruas, seu próprio irmão ainda

“POR OPÇÃO DELE, AQUI É A CASA DELE, NUNCA TEVE OUTRA. O GOVERNO E A SOCIEDADE POUCO FAZ. E UM JOVEM ABANDONADO NAS RUAS DO CENTRO DE SÃO PAULO, SÓ É VISTO QUANDO COMETE UM ATO INFRACIONAL, TRADUZINDO, VOCÊ SÓ ENXERGA ELE QUANDO ESTE TE ROUBA, FAZER ALGUMA COISA ANTES É QUE POUCOS FAZEM”. vive na Sê

Esmeralda Ortiz é um exemplo vivo de que é possivel recuperar, mas a pessoa também precisa querer, e ela quis.


Por: Alessandro Buzo

las estão por toda parte e não seria diferente na literatura produzida nas periferias, as mulheres estão sim presentes e tem muito a nos dizer, muito a somar. Algumas lançaram suas obras, outras ainda não, mas todas elas sabem onde querem chegar. Não dá para falar de mulheres na periferia, sem antes lembrar que muitas vezes são elas que seguram os B.O’s sozinhas, muitas se vêem só quando ficam grávidas e mãe não abandona, as guerreiras da periferia muitas vezes fazem o papel de mãe e de pai. Mas voltemos à escrita, vamos falar um pouco das mulheres que colocam no papel suas expectativas e sonhos.

Mary do Rap

Dinha

Soninha

Elizandra Souza Ela é poeta, co-autora do Livro “PUNGA” (Edições Toró), junto com Akins Kinte. Há muito tempo corre pela escrita, antes da onda de saraus, fazia parte do time de fanzineiros, com o seu MJIBA. Passou a frequentar a Cooperifa e outros saraus da cidade, hoje trabalha na Ação Educativa, com a “Agenda da Periferia”, é militante do hip hop linha de frente.

Dinha Vinda do Parque Bristol, zona sul de São Paulo, é a única representante feminina, na Coleção Literatura Periférica da Global Editora, onde seu livro “De Passagem Mas Não À Passeio” foi relançado, está nas melhores livrarias do país. Uma das organizadoras do Espaço Maloca, no Bristol, costuma promover roda de leitura para crianças.

Raquel Almeida e Soninha M.A.Z.O. Duas guerreiras de Pirituba, ambas são do Sarau Elo da Corrente, Raquel Almeida é esposa do poeta Michel da Silva, Soninha é cabeleireira, juntas lançaram o Livro “Duas Gerações Sobrevivendo no Gueto” (Elo da Corrente Edições), Raquel é responsável junto do marido, pelo Sarau e pelo Blog (www.eloda-corrente.blogspot.com). Raquel esteve nas coletâneas “Caderno Negro” e “Pelas Periferias do Brasil”.

Raquel Almeida

Elizandra Souza

Aninha Atitude Feminina Aninha é de Brasília-DF, vocalista do grupo Atitude Feminina, esteve na coletânea “Pelas Periferias do Brasil – VOL II” é esposa do DJ Raffa que lançou o livro “Trajetória de Um Guerreiro”.

Mary do Rap Participou do Livro “Suburbano Convicto – Pelas Periferias do Brasil”, é colunista do blog “Literatura Periférica” Há dois anos (www.literaturaperiferica.blogger.com.br), pretende juntar seus textos publicados no blog e lançar seu primeiro livro.

Aninha

Essas são algumas das nossas representantes, mas têm muitas outras na luta, frequentando os sarais e mandando sua mensagem, como a Prof.Lú, Rose Dorea, De Lourdes, Ana Paula Risos entre outras. Elas não se intimidam com nada e fazem literatura da melhor qualidade, mas sem perder a ternura jamais.

Aos incapazes de gratidão nunca faltam pretextos para não a ter.


Gustave Flaubert nasceu 1821, em Ruão, na França e morreu em 1880, na cidade de Croisset. Um dos maiores escritores franceses, cresceu no hospital onde seu pai era cirurgião-chefe. Sua reprovação na provas de direito na Universidade de Paris foi o estopim para o começo da sua carreira 1843. Seu primeiros livros foram “Salambô”, uma reconstituição da civilização Cartaginense, e assim sua carreira cresceu com “A Tentação de Sto. Antonio” (1874), “A Educação Sentimental” (1869) e “Três Contos”, entre outros. Mas nada foi fácil, em 1844, sofreu epilepsia e fugiu para um sitio, depois de cinco anos de trabalho, publicou “Madame Bovary”, o livro que coloca ele definitivamente entre os grandes. Um livro forte que carregado de critica, rompe os padrões da época. Ele chegou a ser acusado pelo governo francês de ter escrito uma "obra execrável sob o ponto de vista moral". Mas foi absolvido pela Sexta Corte Correcional do Tribunal do Sena, em Paris, em fevereiro de 1857. Flaubert, no livro, ridicularizava até sua própria condição social. Em 1840, por ter se formado ganhou uma viagem. Passando por Marselha, onde viveu um namoro com Eulália Foucaud de Langlade que deu origem a obra “A Educação Sentimental”. Para escrever “Salambô” viajou para a África, Flaubert foi um dos mestres do Realismo, movimento estético de reação ao Romantismo europeu. O ideal era retratar a realidade com a arte, e Flaubert conseguiu mais do que isso se destacando pelo seu estilo, vocabulário e estrutura de suas obras. Mas o escritor para evitar a falência de um parente vendeu tudo que tinha um pouco antes de morrer e seus últimos dias sobreviveu com o salário de conservador da Biblioteca Mazarine.

“SALVO SE FORMOS CRETINOS, MORREMOS SEMPRE NA INCERTEZA DO NOSSO PRÓPRIO VALOR E DO DA NOSSA OBRA.” foi uma de suas frases que marcaram.

Um povo de ateus não poderia subsistir. Pode fazer-se tudo, salvo fazer sofrer os outros: eis a minha moral. O coração é uma riqueza que não se vende nem se compra. Presenteia-se. Talento é paciência sem fim.

oni C. é escritor, produtor, autor do vídeo documentário “É Tudo Nosso! O Hip-Hop Fazendo História”. Organizador do “Hip-Hop a Lápis”, uma seção semanal de artigos de hip-hop no portal de notícias Vermelho que se tornou livro em 2004, e Ponto de Cultura, em 2006. É membro da Nação Hip-Hop Brasil, entidade nacional do movimento hip-hop do qual ajudou a construir. Escreve na revista Juventude.br, revisou e prefaciou o livro “A Trajetória de um Guerreiro”, autobiografia de DJ Raffa, assina texto na contra-capa do livro “Colecionador de Pedras”, do poeta Sergio Vaz. Orientou a construção do programa de TV “Periferia”, produzido pela TV Aperipê-SE. Morador de Carapicuíba, zona oeste de São Paulo, produtor do CD “Revolução no Caos”. Toni C é ganhador de prêmios como o Escola Viva promovido pelo Ministério da Cultura e o prêmio Cooperifa nas suas três edições. Tem artigos e reportagens publicados nos principais jornais, revistas e programas televisivos. Está neste momento finalizando a produção do livro “Hip-Hop a Lápis 2”, e coordena a construção da TV Vermelho. Seus artigos de hip-hop se tornaram um livro em 2004, um ponto de cultura em 2006 Chamado Hip-Hop a Lapis. Você também é autor do documentário É Tudo Nosso! O Hip-Hop Fazendo História em 2007. Qual foi a idéia que originou tudo isso? Se eu disser que foi ouvindo Pânico na Zona Sul, não estarei sendo original, né? Mas na real foi por ai... Aprendi a escrever fazendo fanzine, a trabalhar coletivamente jogando basquete, a fazer filme filmando pra fazer trabalho escolar. Mas aprendi a me indignar, buscar informação e me conscientizei com as letras de rap. Hoje um comunicador, um artista , um ativista contemporânea tem que usar varias ferramentas. Como você vê essa evolução de linguagens? E qual o futuro que você vê na comunicação digital, blogs, twitters. Qual o futuro dessa mistura de arte e comunicação?

TRUTA SOU UM AMANTE DA TECNOLOGIA. PROGRAMO, DIAGRAMO, DISCOTECO, EDITO, ESCREVO. COMO DIZIA MALCOLM X TEMOS QUE UTILIZAR TODOS OS MEIOS NECESSÁRIOS. O hip-hop revolucionou todas as linguagens a 30 anos, fez dos tocadiscos instrumentos musicais, das paredes, painéis, das ruas, academia de dança, das calçadas, palco. Mas estamos devagar, precisamos utilizar essas tecnologias a nosso favor. Eu atuo nessa fronteira entre a arte e comunicação, e precisamos de mais guerreiros, por que aqui tá descampado, só tem monstrão contra. Como você se define, produtor, escritor, repórter, ativista? Dependendo do ponto de vista sou tudo isso. Eu me defino como sendo multi-media, no sentido que topo as pessoas me interpretarem da maneira que quiserem. Sou fundamentalmente

um ativista político, mas até sobre isso há controvérsias. Voce trabalha dentro de um site que se define como “Esquerda bem informada”. O que é ser de esquerda hoje? Boa pergunta! Porque as pessoas acham que tem a ver com ser destro ou canhoto, ou confundem ser de esquerda com ser de oposição. Exemplo é o Lula que era de esquerda e era oposição, ai ele se torna presidente, ou seja situação, e nem por isso deixa de ser necessariamente de

Nada é mais humilhante do que ver os tolos vencer naquilo em que fracassamos.


esquerda. O termo vem da época da revolução francesa, quando quem queria que se mantivesse a monarquia, se sentava a direita do rei, e quem propunha mudança ficou a esquerda. Dês de então esquerda é sinônimo de ser progressista, de lutar pela maioria, defender proposta a favor do povo. Até que ponto o pensamento político está nas suas obras artísticas? O poeta chileno Pablo Neruda, foi duramente boicotado pela CIA, eles diziam que em Neruda era impossível separar a arte da política. Agora minha convicção política se reflete em minha ações artística tanto quanto qualquer outro artista. A arte é a representação de um pensamento, mesmo que seja uma arte abstrata, basta dizer que o FBI patrocionou fortemente o abstracionismo durante a guerra fria. A única diferença é que eu tenho um posicionamento político, tenho consciência política do papel destas ações. Não faço arte pela arte. Qual foi o melhor momento do documentario? Num sei, é muita idéia. Gosto bastante, por exemplo do Lotto, um graffiteiro de recife que é cego. Foi um dos inspiradores pra esse projeto, quando o conheci falei; "o hip-hop precisa conhecer, isso!". Agora pode ser assistido pela internet, estamos publicando um capítulo por semana, tem gente acompanhado que nem novela. www.youtube.com/ h2lapis Adiante um pouco do Livro Hip-Hop a Lapis 2? Terá mais autores, de muito mais quebradas, e é mais malandriado, os escritores se tornaram mais maduros, estão mais forgados, mais ligeiros. Transformar um monte de analfabetos em autores de livros, foi um grande feito do Hip-Hop a Lápis, para muitas pessoas este foi o primeiro livro que leram em suas vidas. Agora isso só não basta, é necessário que o conteúdo esteja mais próximo com aqueles que não gostam de ler, que os temas sejam mais variados, que a linguagem seja mais simples. Sem ser bobo, sem ser vazio, sem ser mais do mesmo. Se um PHD de qualquer curso da melhor universidade ler, vai pagar um pau, porque o cabeça dus muleque é zica memu. Se um cara guardado ler, vai se identificar, saber dus corris do mundão. E se ele for lido daqui a 100 anos, vão saber o que a primeira geração de jovens do século 21 tava aprontando. É Tudo Nosso!

“Truta sou um amante da tecnologia. Programo, diagramo, discoteco, edito, escrevo. Como dizia Malcolm X temos que utilizar todos os meios necessários.” Toni C.

Você precisa de literatura, poesia, artes-plásticas?

Quer ver e ouvir? Então acesse o sitio, leia um conto, baixe um livro ou ouça uma poesia, Edições Toró, a prova do impossível! A concretização do olhar poético transformou Edições do Toró na mais complexa ação cultural da literatura periférica. A editora conta com 15 títulos de diversos autores, já foram mais de 7 mil exemplares vendidos. Na net, o sitio é muito completo, que além de divulgar e disponibilizar as obras,abre espaços para novos textos, divulga o programa de rádio “Nas Ruas da Literatura”, mantém uma agenda cultural, indicando eventos além de mudar a cena cultural de São Paulo nas horas vagas.. Gingando nas ladeiras, vielas, feiras, saraus e centros comunitários famintos de poesia e prosa, Edições Toró é um exemplo da pluralidade e da fusão das artes contemporâneas.

Nessa matéria vamos destacar quatro obras , a começar pelo livro homônimo do artista Conde-Quadros, esculturas e murais. Conde marcou os bairros do Jd.João XXIII, Jd.Uirapuru, Jd.Arpoador e Cohab Educandário, onde cresceu órfão de pai e de mãe, mas foi nesses lugares que deixou sua arte de quadros, murais e esculturas. Pintor e ativista foi fundador da Associação dos Artistas e Artesãos do Jardim Arpoador e fez dos barracos onde morou ateliês abertos, e recebia a juventude pra tintar, musicar e modelar. Nos livros escritos, obras, poemas e reflexões do artista

“Seja bem vindo se não trouxer má vontade má intenção com nossas crianças discórdia com nossos jovens, desunião, energia negativa fofoca, olho gordo, inveja, cobiça preguiça, “não sei”, “não dá”, “não tá”, “ cabô de saí”

Outro livro é “De passagem, mas não a passeio” de Dinha. A obra de estréia da adolescente paulista que se destacou gravando um documentário para a BBC World, sobre a desigualdade social no Brasil, a partir do olhar de jovens do movimento hip hop. Dinha cresceu numa favela, no Parque Bristol, zona sul de São Paulo, mas venceu as barreiras e estudou na USP. A guerreira mostra tudo nesse livro, uma obra imperdível. Outra publicação é essa fusão de arte que é “Morada”, de Guma e Allan da Rosa. Nesse livro de fotos o texto é mero convidado. A nutrição do livro é a luz natural, o equilíbrio gigante da lente do Guma. Sua sutileza objetiva, nada interessada em mostrar miséria e fome, bem ligeira com uma tradição de coitadinho que se encarrapatou aqui no Brasil. Um ensaio poético fotográfico, uma reflexão forte sobre a questão da propriedade, do viver nas periferias. “E como eu esparramasse,/braços se abrindo em ânsia de crescença/por dentro de uma parede./ E como eu, pescoço travado querendo movimento/ vagarosa cãibra no caibro/por dentro viga. O corpo um corguinho. O olhar, ponte bamba. O passo uma/enxurrada de pertences valiosos, rachados na correnteza das tretas./ Em cactus de pau adiamos nossa sede”. Outra edição com dupla de autores é “Donde Miras”, de Binho e Serginho Poeta. Binho tem um Sarau no Campo Limpo, zona Sul de São Paulo, e foi nesse palco que surgiu a ideia do livro que tem como propósito conhecer nossa cultura latino-americana. No livro “Bilíngue” o sentimento latino mostra suas raízes e você viaja por essa emoção chamada Latinidade

Literatura no rádio? Além do site, as editoras, as palestras e saraus, outro destaque é a série “Nas Ruas da Literatura” um programa de rádio que ganhou apoio do Programa de Aceleração e Crescimento (PAC) em 2006, da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo na categoria “Programas de Áudio para Promoção da Literatura” e programa chegou à Rádio USP. Versos e contos alinhados a princípio em papel, agora nessa praia entre a beira do caderno, o mar da biblioteca e o rio do rádio.

www.edicoestoro.net

A medida de uma alma é a dimensão do seu desejo.


É possível realizar um filme sem dinheiro?

Texto: Alexandre De Maio Foto: Marilda Borges

FAVELA TOMA CONTA

Texto: Alexandre De Maio Foto: Marilda Borges

Um evento que virou livro Como um evento no extremo da zona leste de São Paulo entrou no calendário do rap nacional? O “Favela Toma Conta” organizado pela Suburbano Convicto Produções que com apoio da Ação Educativa, Centro Cultural da Espanha e DGT Filmes, promoveu em Maio de 2009, a 18ª edição, mais que um evento, uma atitude. Desde 2004, o evento sendo realizado três ou quatro vezes por ano, sem cobrar ingresso, já levou ao Itaim Paulista grandes nomes do rap como Thaíde, Realidade Cruel, Expressão Ativa, DMN, De Menos Crime, Alerta Vermelho, A286, Tribunal Mc’s, Trilha Sonora do Gueto, Periafricania, Wesley Nóog, Dudu de Morro Agudo (RJ), www.marildafoto.blogger.com.br Realistas NPN (MG) entre outros. Tradicionalmente o evento é realizado no Dia das Crianças e virou até livro. “Favela Toma Conta”, de Alessandro Buzo (Aeroplano Editora, 284 páginas) saiu em 2008, na narrativa Buzo monta sua trajetória até se envolver com a literatura e o hip hop, culminando em produzir um evento para devolver a sua quebrada um pouco de cultura, uma forma de dizer obrigado por ter sido em seus becos e vielas que Buzo passou de invisível a apresentador de quadro na TV Cultura, se tornou escritot entre outras atividades. “Favela Toma Conta” teve por duas edições patrocínio de uma empresa de telefonia celular, teve outras que foi realizado 100% na raça sempre tudo ocorreu na perfeita paz.

Por lá, além dos grupos de rap, já teve samba, reggae, rock, MPB, jazz, circo, teatro, escritores e poetas. Apesar de ser um evento de hip hop, toda forma de cultura é bem vinda. Mas para a realização de um evento como esse tem o apoio do rapper Da Antiga, Marilda Borges na produção, além de Fernando Premonição, Eduardo B.Boy, Toni Nogueira e DGT, Eleilson Leite, Vagnão, Bibiano, todo reunidos pelo ideal de levar cultura para a periferia. “Com ou sem dinheiro. Quando tem todos recebem alguma coisa, quando não tem fazemos por amor. Muitos grupos vieram 100% de graça, outros só com transporte e quando teve dinheiro pagamos pela apresentação. Enfim, uma festa da periferia para periferia, tem mais duas datas previstas esse ano, em julho com uma atração internacional, uma rapper que faz sucesso na Espanha, ainda não estamos divulgando seu nome, e dia 12 de Outubro, quando pela sexta vez estaremos na Favela do CDHU Itaim, porque a molecada já sabe, dia das Crianças é Dia de “Favela Toma Conta. Precisamos nos unir, nos organizar e nos profissionalizar para de fato a “Favela Tomar Conta” de ponta a ponta.” finaliza Buzo.

Para o “Profissão MC” foi. O primeiro filme do escritor Alessandro Buzo e do experiente Toni Nogueira todo rodado no Itaim Paulista, com atores também novatos, como o rapper Criolo Doido de protagonista e nomes como Da Antiga, Dan Dan, Neto, Juju Denden entre os papeis principais e figurantes como Tubarão, Fanti, Beto Guilherme, Eduardo B.Boy, Zinho Trindade, Márcio Rodgs entre outros. As tomadas, maioria feita na Favela do D´Avó, do Itaim Paulista, molibilizou a comunidade que aplaudia ao final das cenas. O filme teve ainda participação de Rappin Hood e outras locações como a Fundação Casa, Teatro Franco Zampari e Executivo Club onde acontece a tradicional Rinha dos Mc´s. O motivo de fazer sem grana o Buzo explica, “eu tinha a ideia e não queria esperar anos para uma possível captação de grana, então convenci o Toni Nogueira a entrar comigo na empreitada, além de dividir a direção comigo, utilizar a estrutura de câmera e edição da DGT Filmes (da qual ele é dono e onde eu trabalho), a DGT produz meu quadro do “Buzão”, na TV Cultura. Com o Toni na jogada, fui chamando os amigos para participar, desde que fosse sem remuneração, tipo apostando no projeto e no que ele pode nos proporcionar no futuro. Montei um time único”. Finaliza Buzo. O filme foi rodado em HD, entre novembro de 2008 e fevereiro de 2009, está em fase de edição e com lançamento previsto para agosto/2009. ”Queremos fazer um

lançamento oficial num cinema, com coquetel e debate no final, depois passar onde tiver uma tela, assim como foi feito sem grana, disponibilizar ele de graça para todas as comunidades e, se possível, disputar alguns festivais”. Fala o “aprendiz de cineasta” Alessandro Buzo, como ele mesmo se define. Perguntamos também ao Toni Nogueira como foi participar do projeto, ele apresenta um quadro no Domingão do Faustão da TV Globo e dirigiu filmes como “Osvaldinho da Cuíca – Cidadão Samba”, entre projetos em outros países como Índia, Toni disse “Na verdade não sou dire-

tor e nem quero ser, diretor tem que ser chato e eu não tenho a manha, aceitei codirigir este fantástico filme do Buzo devido a minha experiência com o cinema “Udigrudi” nos idos dos anos 70 com os diretores Júlio Bressane, Rogério Sganrzela, Neville D’Almeida e outros como câmera e fotógrafo. Naquela época, a gente fazia dois longas por semana, a mesma equipe os mesmos atores e um diretor rodava seu filme pela manhã e o outro à tarde, o mais importante é que os filmes eram rodados um pra um, quer dizer, não tinha duas tomadas para o mesmo plano, como saía ficava. E foi isso que fizemos no “Profissão MC”. Rodamos tudo com uma pequena câmera de alta definição, com planos e contra planos, câmera no tripé como manda o figurino. A mágica ficou por conta dos atores, com atuações sensacionais em que eles representam eles mesmos com nome próprio e tudo. O filme ao contrário de muitos outros que revelam as favelas, é um documentário que ressalva na ficção, seus atores contam suas es-tórias na vera”. Finaliza Toni Nogueira. Agora vamos aguardar pra ver, “Profissão MC” vem para fazer barulho. Mostrar que hoje pra se fazer cinema é mais fácil ter uma câmera na mão, mas ainda é preciso ter uma idéia na cabeça.

www.enraizados.com.br Vamos falar de um Coletivo “Q Representa”, falo do Movimento Enraizados do Rio de Janeiro. A anos nos corres do Hip Hop, indo do artístico ao social. Hoje com sede montada em Comendador Soares, Baixada Fluminense “Nova Iguaçu” o Enraizados faz projetos de oficinas, de audio visual que viram documentários e muito mais. Por todo esse corre, ganhou o 1º Lugar no Prêmio Cultura Viva do Governo

Não se faz nada de grande sem fanatismo.

Federal, é um dos “Pontos de Cultura” espalhados pelo Brasil. Seu maior nome artisticamente falando é o rapper Dudu de Morro Agudo, que lançou em SMD o albúm “Rolo Compressor” e tem lançamento agendado esse mês na França e na Holanda. Acesse o site e fique ligado que o “Enraizados” representa. Por Alessandro Buzo


Por trás de todo o “glamour” que existe no imaginário de quem não conhece a realidade da Europa, há uma frieza, bem pior que o inverno nesse continente. Em vésperas das eleições para o Parlamento Europeu ( que pretendo moldar o futuro da Europa nos próximos cinco anos), a frieza está explícita nas Políticas Europeias de Imigração, que tratam os estrangeiros que partiram em busca de melhores condições de vida como uma praga a ser combatida. A imigração é um fenómeno milenar e com diversos aspectos positivos, já que traz uma diversidade cultural para os países de acolhimento, sem contar os aspectos econômicos. Mas há na Europa uma visão mercantilista com relação a imigração: quando há necessidade de mão de obra barata os imigrantes são bemvindos e bem explorados. Nesse momento, com a crise financeira mundial, os imigrantes tornaram-se o bode expiatório, acusados injustamente de aumentar o desemprego e a violência, uma boa desculpa para dissimular o fracasso das políticas económicas e sociais. As leis aprovadas reforçaram o controle das fronteiras da “Europa Fortaleza” e, com isso, milhares de pessoas morrem tentando entrar no continente através de rotas clandestinas e tornam-se vítimas do tráfico de seres humanos.

Quando conseguem entrar na Europa, para sair da ilegalidade passam por um processo burocrático, com um custo elevado e muitas vezes sem resultado, mesmo trabalhando há anos e pagando todos os impostos. Sem documentação é muito difícil conseguir trabalho e, quando conseguem, são vítimas de diversos abusos, como não receber o salário. Em países como Portugal, os imigrantes sem documentos são privados dos serviços públicos de saúde. Após a aprovação em 2008 da Diretiva de Retorno (pelo presidente francês Nicolas Sarkozi no seu mandato na presidência da União Europeia) -que entre outras aberrações prevê prisão de até 18 meses para estrangeiros indocumentados, inclusive crianças - a xenofobia na Europa aumentou. O Pacto de Imigração e Asilo criminaliza atos como ser solidário com estrangeiros indocumentados, dando moradia ou prestando algum tipo de assistência. Na França já houve casos de pessoas presas por ter deixado pessoas dormir, tomar banho ou comer em sua casa. Existem também muitos casos de famílias inteiras presas por não terem documentação, aguardando para serem deportadas. O governo italiano tentou aprovar uma lei onde os médicos do serviço público de saúde deveriam denunciar os pacientes ilegais e uma cidade italiana criou uma linha de ônibus exclusiva para imigrantes. Além disso, o governo pretende limitar a percentagem de alunos estrangeiros em salas de aula. Em Portugal, há casos de pessoas que estiveram durante anos fazendo descontos para a Segurança Social (obrigatório para o trabalhador que quer se legalizar) e quando recebeu o chamado do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para regularizar sua situação, recebeu uma carta de expulsão, tendo dez dias para deixar o país. Nesse momento, há milhares de pessoas perdidas no deserto, passando por situações difíceis de imaginar. Fugiram da fome e da guerra, buscando ajuda para sua família e, quando chegam nas fronteiras da Europa, nem sequer são levados para o seu país, são jogados a própria sorte. Em meio a todas essas crueldades existem pessoas que utilizam a arte para fazer denúncias, como é o caso do documentário Bab Sebta, de Frederico Lobo e Pedro Pinho, onde podemos conhecer, através de alguns depoimentos, a realidade de quem ficou no meio do nada, só com o sonho: entrar na Europa e trazer melhores condições de vida para a família. “Eles (europeus) vieram até a África pelo mar. Agora que nós queremos ir por mar até lá, eles não permitem? Agora eles estão desenvolvidos e querem que nós permanecemos pobres". depoimento de um dos entrevistados no documentário.

Por Juliana Penha, correspondente de Lisboa. No fechamento dessa edição recebemos essa foto de Marcelino Freire direto da Feira do Livro de Lisboa. “Eis a prova do crime” escreveu ele no e-mail, “O KAOS fez o maior sucesso por lá e saravá! No mais, aquelabraço sempre grato e sempre às ordens e té já,” finalizou nosso parceiro. Boletim do Kaos levando nome da Litera-Rua para Europa.

O autor, na sua obra, deve ser como Deus no universo, presente em toda a parte, mas não visível em nenhuma.


O Riso do palhaço sem alegria

Sérgio Vaz recitando na comemoração dos 2 anos de “Sarau Rap” na Ação Educativa

Por Sérgio Vaz Outro dia alguém, não sei bem porque e quando , me disse que a vida era um presente divino, e que devíamos saber aproveitá-la, e jamais esquecer de agradecê-la, quem quer que fosse o padrinho. E que por pior que se apresentasse a vida, estar vivo era um milagre dos céus. "Deus sempre sabe o que faz", enfatizou o amigo, filósofo de botequim, cheio de paz no coração e repleto de alegria artificial na cabeça. Fiquei meio assim com essa ideia de que a vida é um presente, porque outro dia também ouvi de um mendigo agradecido pela sobras de um almoço: "cavalo dado não se olha os dentes", nesse mesmo dia o viralata ficou sem o seu almoço na lata de lixo. As migalhas não escolhem os miseráveis, elas são presentes do acaso. É preciso estar no lugar certo, na hora certa, nos diz as pessoas que embrulham os presentes. Mas como os pobres e os vira-latas não têm relógio, sempre chegam atrasados. Assim como os ônibus. Não sei quem me disse que para entender a vida era preciso conhecer a palavra de Deus, mas como ele nunca apareceu pessoalmente, durante muito tempo acreditei nos mandamentos dos publicitários. Lembram daquela profecia? "O mundo trata melhor quem se veste bem". Pois é, o mundo dá crédito para quem tem crédito. E aí, se a vida é agora, vida loka ou vida besta? Descobrir tem seu preço. Na verdade acho que a vida é uma das coisas mais engraçadas que o mundo nos dá, e que por isso mesmo, muitas vezes não tem graça nenhuma. Não é que eu seja mal-agradecido, e ria menos que devia para o destino, mas é que tem umas coisas que acontecem... Vai vendo a ironia do destino, tenho um amigo que estava já algum tempo desempregado, estava vivendo de bicos, sei que tem muita gente que não sabe, mas viver de bico não tem graça nenhuma. Ele agora ele faz bico em uma loja de sapatos, e a coisa mais engraçada é que ele não é vendedor, nem gerente ou faxineiro, meu amigo é o palhaço da loja. É. Ele fica na frente da loja vestido de palhaço, fazendo graça para as pessoas que passam. Parece legal, né? Mas não é.

13/06 - 20h Pavio da Cultura Todo segundo sábado do mês, escritores, poetas, músicos, dançarinos, cineastas, cordelistas, repentistas e capoeiristas se reúnem para apresentarem um pouco da sua arte neste espaço que reúne 100 pessoas a cada encontro. O homenageado é o poeta João Cabral de Melo Neto. Realização: Associação Cultural Literatura no Brasil e Prefeitura de Suzano. Local: Centro Cultural de Suzano, Rua Benjamin Constant, 682 - Centro Suzano - SP Informações: (11) 4747-4180

13/06/2009 (das 16 às 18h) - Alessandro Buzo promove na Loja Suburbano Convicto do Itaim Pta o "Encontro com o Autor", que traz o poeta FUZZIL. Serviço: Rua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Paulista Inf: (11) 2569-9151 suburbanoconvicto@hotmail.com Sarau Elo da Corrente Toda quinta-feira, menos a ultima do mês. Bar do Santista Rua Jurubim, 788- A. Jd Monte Alegre - Pirituba. 20 horas Tel: (11) 3906-6081 c/ Michel e Raquel. elodacorrente@hotmail.com

Quando eu o vi e reconheci até que foi meio divertido, não sei se porque o patrão estava olhando, mas seus olhos e a maquiagem mal-feita, o traíram. Estava triste. Puxa! Pensei: um homem desempregado não deveria ser palhaço, ser palhaço não é uma profissão, é um estado de espírito, um dom. Taí, um presente. Que tristes tempos nós vivemos, em que os circos se foram para o nunca mais, e os palhaços-trapezistas habitam as lojas de sapatos. Também tentei fingir, e ri um riso falso de poeta que tem a boca desbotada, para que ele, talvez, se mantivesse digno em seu novo emprego, para que ele talvez se mantivesse firme na corda-bamba dessa vida, que mais parece sapato sem cadarço, para os que têm pés-de-chinelo e as pegadas miúdas que rastreiam o chão duro da felicidade que nunca vem. Despediu-se de mim com os olhos e partiu arrastando sua tristeza oculta em outra direção. Ele se aproxima de uma menininha que se afasta meio com medo. A Mãe, sem-graça, diz: "não tenha medo minha filha, é só um palhaço." "Quem dera", pensou ele. "A vida não é engraçada, um homem triste a fazer sorrir os outros?", disse a voz do destino, segurando um cartão de crédito sem-limites na mão, e um peito vazio na outra. Sem saber como chorar, ele respondeu com os olhos: "Não mãe, não é só um palhaço, é um homem sem emprego, desfrutando o presente da vida". Despedi-me com um sorriso amarelo e lembrei-me de outros desempregados, que cegos, viram atiradores de facas. Dói só de lembrar.

26/06/2009 - (19h) - SUBURBANO NO CENTRO Apresentação: Alessandro Buzo . ATRAÇÕES: Os guerreiroz, Função DNS, PercutindoMundos, Comunidade Carcerária, Impacto Verbal. * Pocket Show c/ 3 musicas. (suburbanoconvicto@hotmail.com) Ação Educativa - Rua General Jardim, 660 (Metrô Sta Cecilia) SARAU COOPERIFA Movimento literário que acontece desde 2001, todas as quartas- feiras, com recital de poesias no Bar do Zé Batidão na periferia da Zona Sul de São Paulo. Busca um novo artista, o artista-cidadão que contribui para melhorar a comunidad. Todas as quartas-feiras, a partir das 20h. Bar do Zé Batidão - Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana. Zona Sul. Entrada franca. (11) 5891-7403.

SARAU POESIA NA BRASA 06/06 e 20/06 Criado em julho de 2008 com o objetivo de produzir e divulgar arte e poesia dentro da comunidade da Zona Norte, este sarau é um movimento cultural de periferia para a periferia, uma forma de construir um outro universo baseado nas palavras como ferramenta de transformação. É também um espaço de expressão discussão e reflexão, aberto a todos que queiram comungar da palavra.

Maiores informações e muito mais opções acesse nossos parceiros e informe-se no site da Ação Educativa que tem uma agenda sobre os vários eventos no mês www.acaoeducativa.org.br/agendadaperiferia

Bar do Carlita - Rua Professor Viveiros Raposo, 234 (em frente da escola E.E. João Solimeo). Brasilândia. Zona Norte. Entrada Franca. (11) 9169-9690. http://brasasarau.blogspot.com

Quem quiser divulgar seu evento na próxima edição entre em contato pelo email boletimdokaos@hotmail.com

Show de RAP 28 de junho, das 16h às 19h Negredo-N.S.N-R.d.G-Conexão Sul-Forma de Expressão-Tr nação Ò R.Cantos do amanhecer s/n Jd.mitsutani.

No site Catraca Livre você tem uma agenda que tem eventos, cursos, cinema, teatro, exposições, palestras e encontros www.catracalivre.com.br


Keila Baraçal ONDE PEGAR O SEU "BOLETIM DO KAOS"? São Paulo/Região Central DGT Filmes (Rua 13 de Maio, 70) Ação Educativa (Rua General Jardim, 660) Sebo 264 (Rua Rua Álvares Machado, 42 Liberdade) - (11) 3105-8217 Restaurante Santa Madalena (Rua Santa Madalena, 27 - Bela Vista) Conduta (Galeria 24 de Maio)

Quadrinhos coletivo onde o internauta é co-autor! streou a primeira História em Quadrinhos (H.Q.) interativa da internet. Ela faz parte dos materiais desenvolvidos pela equipe do site Catraca Livre (www.catracalivre.com.br). Nessa HQ o internauta participa fazendo os textos das páginas. No enredo de “Revolução das Catracas”, idéia do jornalista Gilberto Dimenstein e desenvolvida pelo quadrinhista Alexandre De Maio cada página tem um autor. A primeira história começa com um jovem casal, de diferentes classes sociais. Camila, moradora da região dos Jardins, na zona oeste, conhece Henrique, morador do bairro da Brasilândia, na zona norte da cidade. Deste encontro, surgiu o interesse de um pelo outro. A partir de então, a cada semana uma nova página entra online e os internautas vem construindo a história coletivamente.

Porte Ilegal (Galeria 24 de Maio) Zona Leste Loja Suburbano Convicto (Rua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Paulista) (11) 2569-9151 Casa de Cultura do Itaim Paulista (Pça Lions Clube, s/n - Itaim Paulista) Sebo Mutante (Rua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Pta) Zona Sul Bar do Zé Batidão (Rua Bartolomeu dos Santos, 797 - Chácara Santana) Loja 1 da Sul (Rua Comendador Santana, 138 - Capão Redondo) Loja 1 da Sul (Av. Adolfo Pinheiro, 384 - Lj. 31 - Galeria Borba Gato) Estudio 1 da Sul (Rua Grissom, 80-A - 50 metros Metrô Capão)

Participe, deixe um post, com seus palpites de como seria a história ideal para o casal. Mais que uma história de amor, essa HQ é uma reflexão sobre as diferenças da nossa sociedade. É possível encontrar uma São Paulo, onde não existam catracas? É possível quebrar as barreiras sociais numa cidade com milhões de habitantes? Quem quiser saber o que aconteceu com Henrique e Camila, acesse o site. Os dois já se encontraram na balada, já dançaram, já beberam, já ficaram e agora, ao que tudo indica, começam um relacionamento. Faça você, também, parte desta história e dê sua contribuição. www.catracalivre.com.br

Sarau Binho Sarau Ademar. Zona Oeste Bar do Santista/Sarau Elo da Corrente (Rua Jurubim, 788-A Pirituba) Zona Norte CCJ - Vila Nova Cachoeirinha (Av Dep. Emílio Carlos, 3641)

Estúdio e biblioteca sonora

Casa Verde - Banca de Jornal (altura do nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr) Sarau da Brasa - Bar da Carlita (Rua Prof.Viveiros Raposo, 234) Outros Estados Procurem os agente multiplicadores, e os colaboradores, que existe em seu estado. Espaço Enraizados (Nova Iguaçu - RJ) CUFA Madureira RJ (sede da CUFA) Afroreggae RJ (A/C José Junior) Heloisa Buarque de Hollanda (RJ) Eduardo Siqueira (Curitiba-PR) Paulo Lins (RJ) Nelson Maca/ Blackitude (Salvador-BA) Lindomar 3 L (Uberaba-MG) Tata Amaral (cineasta-SP) Casa do Zezinho (SP) Mandrake (Portal Rap Nacional) SC Livro Sonoro (SP) Estevão Paiva (DF) Darlan (DF) Marlos Nunes (DF)

Cuidado com a tristeza. Ela é um vício.

O estúdio recém inaugurado na zona sul, além de abrigar equipamentos de alta tecnologia pra gravação de audio. Também tem outro acervo de ponta: uma coleção de mais de 10 mil vinis. Um grande acervo que envolve quase toda discografia do hip hop brasileiro e muita música Black, nacional e internacional. Quem produz lá, além de ter acesso a uma gravação de qualidade, tem acesso aos vinis, na foto Maurício, o proprietário do estudio e da coleção ao lado do Dj Dr renomado produtor. Música contemporânea, com raiz no passado, tudo com selo de qualidade 1 Da Sul que completa 10 anos agora.


Versado de várzea (Pro Bola e pro Kiko) Lá vem ele... Lá vem ele com ela Costurando a imagem mais bela Das ladeiras domingueiras Criativo na ativa Ele num gela No BA-TIN-CUN-DUM!!! Nota 10 Ele é 10

Prazer em aprender Fotos: Marilda Borges Texto Erika Vieira

MV Bill aprende a língua portuguesa por meio da literatura Antes mesmo de escrever letras de rap, MV Bill descobriu na escola, durante as aulas de redação, que tinha um grande talento com as palavras. Por conta de sua imaginação fértil, as histórias criadas pelo garoto ficavam interessantes e a professora Nair acabava sempre lendo na frente da sala para todos seus colegas. “As aulas de redação foi o primeiro lugar que percebi meu dom de escrever histórias, mesmo antes de fazer o rap”, conta MV Bill. Fascinado pela palavra Bill passou a ler muito, descobrindo assim a complexidade da língua portuguesa. “A leitura foi um dos fatores fundamentais na minha vida e na minha formação, descobri que existia outro português diferente do favelês que eu falava”. Eleito pela Unesco como um dos rappers mais politizados dos últimos dez anos, MV Bill também conhecido pelo trabalho de desenvolvimento social que faz junto com os jovens da comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. Todo esse envolvimento com a causa começou justamente por causa do rap.

Craque da massa Batalha de raça Amor que ultrapassa Qualquer sofrimento Daquele que dá a vida Pela vila Pelo manto Amadores amores Nas canelas as dores Nas canchas de terra Só cola os fera Que trinca Igual na trincheira No ritmo do timbre Faz da várzea um verso Um outro universo O povo do canto Se enche de encanto Na ginga, na finta Que é firme, da firma E finda. Velha guarda só ganha Bola na gaveta abala Torcida vibra Torcida chora Duro golpe no goleiro GOOOOLAAAAAÇO!!!

Michel -Elo da Corrente

Caco Barcellos aprendeu com a igreja e com os hippies Uma escola comprometida com a realidade do seu bairro pode estimular seus alunos a encontrarem mais sentido em estudar. Um ótimo exemplo disso é o jornalista Caco Barcellos, que durante a infância, no Rio Grande do Sul, freqüentava um colégio que se importava com a realidade política de seus alunos. Foi um professor que deu a primeira chance para o jovem mostrar seu talento de repórter. O mestre de filosofia trabalhava na redação de um jornal e resolveu contratar o Caco Barcellos. Uma família contadora de histórias, a igreja e uma longa vivência em uma comunidade hippie também contribuíram para enriquecer o repertório cultural do jornalista. Até hoje Caco continua tendo novos aprendizados. Diariamente o exercício da reportagem vira sua maior escola. O contato que a profissão o proporciona de ter com diferentes tipos de pessoas faz com que Caco Barcellos seja apaixonado pelo jornalismo.

Paula Lima usa o Direito na sua carreira de cantora Paula Lima – um dos ícones da música popular negra brasileira – descobriu ainda na pré-escola, com a professora Cidinha, o gosto pelo canto. Foi ela quem incentivou a cantora a ser oradora de sua turma, na formatura. Cantora teve as primeiras aulas de piano aos seis anos “A tia Cidinha foi muito bacana, porque ela tocava sanfona. Ela era uma professora muito engraçada. Sempre achava que eu tinha um potencial a mais. Tanto que na formatura do pré ela me colocou como oradora e cantora da turma”, conta Paula. Mas foi na aula de piano, a partir dos sete anos de idade, com a professora Elga, que Paula sentiu o prazer em aprender sobre as notas musicais. “Eu tive muito contato com pessoas e culturas diferentes. Essa professora era muito correta, digna”. Quando chegou na faculdade de Direito, a cantora se deu conta de que era possível aliar os dois campos de trabalho, ou seja, o Direito e a Música. Ela explica como. “No lado prático, eu leio meus contratos de uma outra maneira”. Paula, ao longo de sua carreira de cantora, percebeu também que a música poderia oferecer inúmeras formas de aprendizado. “Conheci França, África do Sul, Angola, diversos estados, muitas pessoas iluminadas, que é caso do Jorge Ben Jor.” Além de Paula Lima , artistas como Jorge Vercillo, Fernanda Montenegro, Mariana Ximenes, Gilberto Gil e Fernando Meirelles também contam como foram suas experiências durante o tempo de escola.

Só através do estudo podemos transpor os obstáculos da vida e mudar a nossa realidade.


Um marginal em conflito com o sucesso oão Antônio Ferreira Filho (1937-1996) é uma das grandes referência da literatura marginal, mas ser marginal no país que vivia sobre ditadura foi difícil. Mas assim como Ferréz, João Antônio viu as dificuldades começarem dentro da sua casa. O escritor paulista filho de uma família de imigrantes portugueses de poucos recursos, que se instalou na cidade de São Paulo, em 1949 publicou seus primeiros contos. Mas seu cotidiano marginal, como assíduo frequentador os salões de sinuca, cada vez mais o aproximam da realidade das ruas da época. Em 1958, ele ganhou os concursos de contos da revista "A Cigarra" e do jornal "Tribuna da Imprensa" e iniciou o curso de jornalismo. Mas, assim como o escritor do Capão, os originais de seu livro "Malagueta, Perus e Bacanaço" foram destruídos no incêndio de sua casa, em 1960. (Os de Ferréz foram levados pela enchente.) O livro só saiu em 1963 e ganhou o Prêmio Fábio Prado e dois Prêmios Jabuti. No ano de 1964, mudou-se para o Rio de Janeiro, para trabalhar no "Jornal do Brasil". Em 1966 voltou a São Paulo, onde passou a fazer parte da equipe criadora da revista "Realidade". Teve contos publicados na Alemanha, Venezuela e, naquela época, Tchecoslováquia. De volta ao Rio, em 1968, passou a colaborar com diversos jornais. Publicou, em 1975, "Leão-dechácara" (Prêmio Paraná de 1974) e "Malhação do Judas carioca". Editou o "Livro de cabeceira do homem" e criou a expressão "imprensa nanica" no jornal "O Pasquim". Ainda nesse ano, foi agraciado com o Prêmio Ficção da APCA (SP). Em 1977, seu conto "Malagueta, Perus e Bacanaço" foi adaptado para o cinema, recebendo o nome de "O jogo da vida". Outro prêmio: em 1983, seu livro "Dedo-duro" recebe o Troféu Calango do Prêmio Brasília de Ficção. Ganhou também o Prêmio Pen Club. Premiada, sua obra é objeto de análise dos mais importantes críticos literários brasileiros. Outras obras do autor: "Casa de loucos" (1976), "Calvário e porres do pingente Afonso Henriques de lima Barreto” (1977), "Lambões de caçarola" (1977), "Ô, Copacabana" (1978), "Noel Rosa" (1988), "Meninão do caixote" (1983), "Dez contos escolhidos" (1983) e "Abraçado ao meu rancor" (1986). Seu maior sucesso "Malagueta, Perus e Bacanaço", João Antônio expôs de forma simples e lírica (mas contundente), flagrantes da vida de personagens suburbanos, registrando especialmente o drama dos jogadores de sinuca, os últimos malandros paulistas, condenados ao desaparecimento pela urbanização feroz da cidade. Contos como "Meninão do caixote", "Afinação da arte de chutar tampinhas" e o próprio conto-título do livro estão entre as melhores histórias curtas brasileiras de todos os tempos. Em 1967, casou-se com Marília Mendonça Andrade. No mesmo ano nasce seu único filho, Daniel Pedro. Mas no final dos anos de 1960 resolveu mudar radicalmente de vida. Largou seu emprego, destruiu seus cartões de crédito, vendeu seu automóvel, separou-se da mulher e passou a vestir-se de forma despojada, geralmente de bermudas e sandálias. Enfim, adota um estilo de vida próximo da marginalidade vivida por seus personagens, tudo para se dedicar inteiramente à literatura. Em 2005, Mylton Severiano publicou "Paixão de João Antônio", livro que tem sua escrita com base em cerca de 200 cartas que João Antônio enviou ao amigo jornalista. As cartas revelam a personalidade ímpar desse poeta-narrador dos panos verdes, bares e ruas que se perpetuam cada vez que corremos os olhos sobre sua escrita. É bom ir logo dizendo de sua morte solitária (outubro de 1996), apodrecendo uns quinze dias no apartamento alugado há décadas, na Praça Serzedelo Corrêa. João Antônio consolidou sua atividade de jornalista e definitivamente entrou para a classe média, que ele tanto odiava – e a que se referia como classe “mérdia”. “Desaprendi a pobreza dos pobres e aprendi a pobreza envergonhada da classe média”, escreve ele em “Abraçado ao meu rancor”, livro que narra uma de suas viagens à capital paulista, depois de sua mudança definitiva para o Rio de Janeiro. João Antônio tinha o hábito de usar o índice alfabético para anotar as gírias que ouvia nas suas andanças pelas quebradas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Com uma visão pessimista dos governantes do país e descrédito com o mundo das letras, ele sempre se recusou a participar de cerimônias oficiais e reuniões com autoridades e rodinhas literárias. Era um solitário que, decisivamente, odiava o protocolo, a gravata e os tapinhas nas costas. Se alguém queria encontrar João Antônio, não o procurasse junto à oficialidade, mas sim em bares e restaurantes populares, rodas de samba e outros lugares. Ler suas obras é conhecer melhor a nossa face, os nossos valores e também os imensos problemas que enfrentamos. Mas, sobretudo, conhecer a boa literatura produzida no país. Fica aqui nosso convite: vamos ler João Antônio?

Literatura e resistência om esse título Ferréz lança um DVD que conta sua trajetória e a criação da marca 1 Da Sul e toda sua correria pela literatura marginal. O documentário sobre a vida do escritor Ferréz, que já vendeu mais de 100.000 cópias de livros em seus 11 anos, traz as palestras, intervenções e viagens do escritor. Conhecido por obras como “Capão Pecado” e “Manuel prático do ódio”. Ferréz é um marginal multimída, além de escritor lançou disco de rap, faz eventos, é roteirista da série do canal Fox, e com sua marca tem 3 lojas que são sucesso na zona sul. Sem perder a personalidade marginal Ferréz já foi publicado e passou por diversos países como Itália, França, Alemanha, Portugal e Espanha. Ferréz resgatou o nome Literatura Marginal lançando, em parceria com a revista Caros Amigos, a publicação Literatura Marginal Ato I, que foi sucesso nas bancas do país e colocou vários nomes da literatura marginal atual em evidência. Sua marca completa 10 anos e seus trabalhos sociais mudaram a cara da quebrada, e como a sociedade paulistana vê o Capão Redondo. Sempre revolucionando, o mano acaba de lançar uma Editora Selo Povo, que vai vender livros à R$ 5,00 visando disseminação da literatura nas periferias, quebrando ciclo de preços altos dos livros. Ferréz enxerga longe e é fiel a suas convicções, às vezes é até incompreendido, mas nunca ignorado. Atualmente também acumula a função de entrevistador no quadro “Interferência” do programa “Manos e Minas”, da TV Cultura. Na literatura seus livros “Capão Pecado”, “Manual Prático do Ódio” e “Ninguém é Inocente em São Paulo” dialogam com “Malagueta, Perus e Bacanaço” mostrando que marginalidade é atemporal. Muito mais que uma condição social, é um estado de espírito.

Rap Nacional Nesse mês vamos falar do site RAP Nacional, a grande fonte de informação para quem gosta do hip hop, e se identifica com o rap brasileiro. O site que surgiu há alguns anos tomou força nos últimos e se tornou grande referência no mundo do hip hop. Focado no hip hop feito no Brasil, o site traz discos, para baixar, entrevistas, vídeos, coberturas, enfim tudo para quem quer se informar sobre o que acontece no cenário nacional. Comandado por Mandrake , o site vem crescendo a cada dia e é fonte informação exclusiva em meio a mesmice do conteúdo apresentado atualmente na internet. Acesse www.rapnacional.com.br.



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.