Revista PORT.COM março 2016

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w w w. r e v i s t a p o r t . c o m

2016 . Nº 16 . MARÇO . REVISTA MENSAL . PREÇO: 3,50€

A PÁSCO ES

TRADIÇÕ GUESAS U T R O P O IT U M

GRANDE GUERRA

CALÇADO

QUIM BARREIROS

100 anos da entrada de Portugal

Sapatos portugueses percorrem o mundo

Nem o plágio lhe perturba o bom humor

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V i s i t e o s i t e w w w. r e v i s t a p o r t . c o m e f i q u e m a i s p e r t o d e P o r t u g a l


APOIE OS BOMBEIROS DE PORTUGAL PORQUE PROTEGEM OS SEUS BENS EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL Entre o próximo mês de abril e até 10 de setembro, a Revista PORT.COM, com a colaboração da Liga dos Bombeiros Portugueses, vai promover em todas as comunidades portuguesas uma campanha internacional para a angariação de fundos destinados à compra de materiais e equipamentos, para oferecer às Corporações de Bombeiros mais carenciadas, que exercem, voluntaria e diariamente, uma ação humanitária na defesa e salvaguarda dos bens e vidas de todos no território nacional. Os equipamentos e materiais obtidos com os fundos desta angariação internacional serão entregues aos Bombeiros num evento a ter lugar em Lisboa no mês de outubro.

UMA INICIATIVA

COM O APOIO

Saiba mais em www.revistaport.com


SUMÁRIO 4 EDITORIAL COMUNIDADES

6. Entrevista a José Luís Carneiro, Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas 14. A Sardinha que se lê em Português e Esloveno

HISTÓRIA

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Centenário I Grande Guerra

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Entrevista a Quim Barreiros

16. A tarde em que Portugal entrou na Grande Guerra 18. A importância de recordar a participação portuguesa na Grande Guerra 20. A vida do Padre Américo merecia um Óscar

22 NEGÓCIOS

Semana Santa

DESTAQUE

Exportações de calçado aumentaram mais de 600 milhões em seis anos

DESTAQUE

PÁSCOA 26. As tradições da Páscoa em Portugal 29. A manhã em que Jesus bate à porta dos portugueses 30. Páscoa, a festa à volta da mesa 32. Sugestões de “Folares” de Páscoa

TURISMO

33. Visitar Freixo de Espada à Cinta pela Páscoa

CULTURA

38. “Foi entre a emigração portuguesa que nasceu o Quim Barreiros” 42. Seis anos de recortes resultam em retrato de Cristiano Ronaldo

DESPORTO

44. Selecionador em dose dupla no Bahrein 49. Portugueses pelo mundo querem Sporting campeão

50 DISCURSO DIRETO Cinco motivos para viver na Holanda

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Sugestão de passeio: Freixo de Espada à Cinta P33

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Calçado português


EDITORIAL

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REVISTA DE PORTUGAL E DAS COMUNIDADES

hegou o mês de uma das épocas do ano que motivam mais portugueses pelo mundo a regressar ao país para um período de férias, seja apenas um fim de semana ou durante mais dias. A Páscoa em 2016 surge apontada no calendário no dia 27 de março, o que faz com que a equipa da Revista PORT.COM lhe dedique várias páginas e tema de capa.

Edição Mensal - Março 2016 www.revistaport.com Nº de registo na ERC: 126526 Rua João de Ruão, nº 12 – 8º 3000-299 Coimbra (Portugal) Tel: (+351) 239 820 688 geral@revistaport.com www.revistaport.com ESTATUTO EDITORIAL www.revistaport.com/estatuto-editorial

LUÍS CARLOS SOARES Coordenador Editorial

As tradições típicas da época pascal portuguesa, como o compasso, as procissões, o benzer do ramo e a oferenda do folar, surgem explicadas nas páginas desta revista, para que os portugueses em 108 países as possam recordar e, nalguns casos, até recriar. A Páscoa convida à confeção de diversas iguarias caraterísticas das diferentes regiões portuguesas, algumas das quais são identificadas nas próximas páginas. Para nos deixar a salivar com o borrego, o pão-de-ló ou os bolinhos de amêndoa, publicamos um artigo exclusivo de Isabel Zibaia Rafael, que através da RTP Internacional está habituada a partilhar receitas com todo o mundo onde haja portugueses. Sugerimos ainda uma viagem dentro do território português durante esta época, concretamente a Freixo de Espada à Cinta, onde os Sete Passos já têm atormentado as noites de sexta-feira, antes da realização de procissões menos sinistras. Contar a história do nosso apreciado país também continua a ser um objetivo da Revista PORT.COM. Recordamos a entrada de Portugal na I.ª Grande Guerra Mundial, efeméride que este mês assinala o seu primeiro centenário. Este ano marca ainda os 60 anos da morte do Padre Américo, icónico benfeitor português também recordado nesta edição. Quando virar a próxima página vai encontrar a nossa primeira entrevista ao novo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, ao qual desejamos sucesso na missão de ser o principal interlocutor entre o governo e os portugueses espalhados pelo mundo. Termino a desejar a todos os nossos compatriotas, em nome da equipa da revista PORT.COM, uma santa e feliz Páscoa.

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FICHA TÉCNICA

PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES

DIREÇÃO Abílio Bebiano direcao@revistaport.com COORDENAÇÃO EDITORIAL Luís Carlos Soares (CP-9959) luis.soares@revistaport.com REDAÇÃO Luís Carlos Soares, Márcia de Oliveira, Filipa Marques Colaboradores: Ricardo Valadas PLATAFORMA ONLINE Márcia de Oliveira - Edição de conteúdos marcia.oliveira@revistaport.com DESIGN E PAGINAÇÃO NAVEGA VALE, LDA Tlm: 914 106 764 ASSINATURAS assinaturas@revistaport.com PUBLICIDADE AJBB Network Rua João de Ruão, 12 – 1º 3000-229 Coimbra (Portugal) (+351) 967 583 072 publicidade@ajbbnetwork.com EDIÇÃO PAPEL: Março 2016 Tiragem: 30.000 Exemplares Impressão: Studioprint Depósito Legal: 376930/14 Distrib. nacional e internacional: CTT EDITOR E PROPRIETÁRIO

geral@ajbbnetwork.com www.ajbbnetwork.com NIF: 510 475 353 A AJBB Network não é responsável pelo conteúdo dos anúncios nem pela exatidão das características e propriedades dos produtos e/ou bens anunciados. A respetiva veracidade e conformidade com a realidade são da integral e exclusiva responsabilidade dos anunciantes e agências ou empresas publicitárias. Interdita a reprodução, mesmo parcial, de textos, fotografias ou ilustrações, - sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais.


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OMUNIDADES

REVISTA PORT.COM EM PARCERIA COM O JORNAL MAIS LIDO DO MUNDO

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AJBB Network, empresa portuguesa que detém a Revista PORT. COM, estabeleceu um protocolo com o Diário do Povo, o órgão de comunicação social chinês que detém o jornal com maior tiragem diária em todo o mundo (superior a 2,5 milhões de exemplares). O principal resultado desta parceria estabelece uma troca de conteúdos entre ambos os organismos, que teve início no dia 1 de fevereiro. Desde 2014 que a Revista PORT.COM publica “a informação que interessa a todos os portugueses que vivem e trabalham no estrangeiro”, através de um site de atualização diária – www.revistaport.com – e de uma revista que através das suas versões impressa e digital é lida em mais de 108 países. Desde o início de 2015 que o site do Diário do Povo conta com uma versão em português – www.portuguese. people.com.cn -, para aproximar esta publicação dos mais de 200 milhões de cidadãos lusófonos. O site do histórico jornal ligado ao Partido Comunista Chinês soma 300 milhões de visualizações diárias, distribuídas pelas versões

Edifício do Diário do Povo, em Pequim

em dez idiomas: mandarim, português, inglês, russo, espanhol, francês, japonês, árabe, alemão e coreano. Com esta parceria, a Revista PORT.COM passou a reproduzir artigos do Diário do Povo que interessem aos portugueses a residir nas comunidades, assim como o Diário do Povo tem reproduzido artigos da Revista PORT.COM para os seus leitores lusófonos.

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A parceria estende-se ainda à disponibilização de um banner no Diário do Povo que encaminha os leitores para o site da Revista PORT.COM, com o site www.revistaport. com a partilhar também uma ligação para a versão lusófona do portal chinês. Está assim criado mais um elo de ligação entre Portugal, China, os países lusófonos e todos os locais do mundo onde vivem e trabalham portugueses.

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COMUNIDADES

ENTREVISTA A JOSÉ LUÍS CARNEIRO – SECRETÁRIO DE ESTADO DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS

“TEMOS QUE REPOR OS NÍVEIS DE ATENDIMENTO NA REDE CONSULAR QUE FOMOS PERDENDO AO LONGO DOS ANOS” ENTREVISTA: LUÍS CARLOS SOARES

Aumentar a presença da língua portuguesa no ensino no estrangeiro, dinamizar os diferentes gabinetes de apoio, potenciar a participação nos atos eleitorais portugueses e dos países de acolhimento, criar sinergias com autoridades estrangeiras, capacitar os postos consulares de mais recursos. O novo secretário de Estado das Comunidades explica, em entrevista, alguns dos objetivos a cumprir nos próximos quatro anos.

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o final de novembro chegou ao Largo do Rilvas, em Lisboa, um governante que durante mais de uma década se habituou a deslocar-se diariamente para a Praça Heróis do Ultramar, em Baião. Quer isto dizer que o novo detentor de uma das pastas do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi presidente do município no distrito do Porto. A experiência no cargo é um dos motivos que justificam a escolha para o cargo. Mas há outros, que contou à Revista PORT. COM, poucos dias após ter regressado da primeira visita oficial às comunidades portugueses pelo mundo.

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Quais foram as competências ou caraterísticas que lhe valeram o convite de António Costa para secretário de Estado das Comunidades? Diria que há três dimensões que contribuíram para o convite que me foi formulado. Primeiro tem a ver com a minha área académica originária. Eu estudei Relações Internacionais, fiz mestrado em Estudos Africanos. Ou seja, toda a minha formação académica me vocaciona para funções ligadas à vida internacional. A segunda terá sido o desempenho do papel de autarca, que permite uma relação de proximidade e afeto com as comunidades territoriais locais espalhadas pelo mundo. Ser autarca também me possibilitou

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integrar durante uma década o Comité de Regiões [assembleia consultiva dos representantes locais e regionais da União Europeia], dentro do qual presidi à Comissão de Recursos Naturais. Quais são os primeiros objetivos que se propõe a alcançar neste novo cargo? A primeira grande preocupação da Secretaria de Estado das Comunidades é cuidar da salvaguarda dos portugueses espalhados pelo mundo, em diálogo e em trabalho institucional com os serviços consulares por todo o mundo. A segunda preocupação tem a ver com o bem-estar social e económico destes cidadãos. É neste âmbito que queremos


sendo que atualmente são 101. Também queremos valorizá-los em termos de conteúdo, com novas responsabilidades no âmbito da economia e das empresas. Desta forma, procuraremos integrar no âmbito de atuação dos gabinetes de apoio ao emigrante o Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora (GAID), tendo em vista determinar em cada território local as micro e pequenas empresas de emigrantes que estejam estabelecidas no exterior de Portugal e que possam fazer investimentos no nosso país, assim como as empresas que estejam em território nacional e queiram fazer investimentos no estrangeiro. Queremos ainda atribuir aos gabinetes de apoio ao emigrante um âmbito relacionado com o Turismo de Portugal, para que possam proporcionar programas de oferta turística capazes de mostrar aos emigrantes o Portugal contemporâneo, tornandoos autênticos embaixadores deste novo país, deste país de futuro. Rescaldo da primeira visita à diáspora Regressou recentemente da primeira viagem às comunidades. O que é que os portugueses em França mais lhe perguntaram e mais lhe pediram?

dinamizar em Portugal os gabinetes de apoio ao emigrante. Há ainda a dimensão da promoção do bem-estar e da qualidade de vida, na qual pretendemos a redinamização dos dois instrumentos de apoio às famílias emigrantes carenciadas economicamente e que vivem fora do espaço da União Europeia. Falo do ASIC [Apoio Social a Idosos Carenciados das Comunidades Portuguesas], um instrumento de apoio a cidadãos com mais de 65 anos de idade e comprovada

carência económica, e do ASEC [Apoio Social a Emigrantes Carenciados das Comunidades Portuguesas], que presta apoio económico temporário para famílias que estão privadas de condições de vida minimamente dignas. No que assenta essa dinamização dos gabinetes de apoio ao emigrante? Queremos que sejam tantos quanto o número de municípios portugueses,

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Devo dizer que me senti acolhido de braços abertos pela nossa comunidade em França. Apenas pude visitar três consulados, Paris, Lyon e Bordéus, ainda não tive oportunidade de visitar Marselha e Estrasburgo. Quero fazê-lo o mais rapidamente possível. Tive sobretudo duas preocupações nesta visita: sensibilizar as autoridades governativas francesas para a importância da língua portuguesa enquanto ativo estratégico de nível global, ou seja, não apenas para Portugal, mas também para os

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COMUNIDADES

“PRETENDEMOS TRANSFORMAR A LÍNGUA PORTUGUESA NUMA LÍNGUA ABERTA NÃO APENAS AOS PORTUGUESES, MAS A TODOS QUE TENHAM VONTADE DE A APRENDER, SEJA QUAL FOR A SUA ORIGEM” interesses da França. A segunda grande preocupação desta visita teve a ver com a vontade expressa às autoridades locais, regionais e nacionais, para a possibilidade de também abrirmos nessas autarquias, e nesses poderes locais e regionais, serviços de proximidade que proporcionem aos cidadãos portugueses outras condições de acesso aos bens e serviços públicos da administração portuguesa, salvaguardando aquilo que são atribuições, competências e responsabilidades dos nossos serviços consulares.

passam do 1.º ciclo para o 2.º ciclo, para o 3.º ciclo e secundário, têm condições de desenvolver a aprendizagem da língua portuguesa. Pretendemos assim transformar a língua portuguesa numa língua aberta não apenas aos portugueses, mas a todos que tenham vontade de a aprender, seja qual for a sua origem.

O que pode ser feito para essa valorização da língua portuguesa enquanto “ativo estratégico de nível global”?

Existe alguma prioridade na pretensão de abertura de serviços públicos da administração portuguesa em instalações de entidades francesas?

Na viagem procurei sensibilizar as autoridades políticas para a importância de a Língua Portuguesa ser cada vez mais integrada na estrutura curricular do sistema de ensino francês. Mas para que isso aconteça também é necessário que o Estado francês faça um esforço de contratação de novos professores de Português, uma vez que apenas 25% dos alunos que

Existe sim. Trata-se da possibilidade de contarmos com a administração local e regional francesa no esforço de recenseamento dos portugueses e no esforço de mobilização para os atos eleitorais. Porque nós temos portugueses que muitas vezes estão a centenas de quilómetros de distância das mesas de voto. Há portugueses que fazem 500

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PORT.COM PORTUGAL E AS COMUNIDADES

ou 600 km para poderem exercer um direito fundamental, que é o direito de voto. Este é um esforço que procuraremos desenvolver em diálogo com as autoridades francesas, como foi expresso na vontade de todos que se reuniram connosco. Vai tentar replicar esses esforços noutros países europeus que venha a visitar, por exemplo na Alemanha, Suíça ou Luxemburgo? Sim. Vou procurar encontrar-me com as autoridades locais, regionais e nacionais, de forma a solicitar-lhes esse apoio às comunidades portuguesas. Até porque as comunidades portuguesas nesses países tratam de muitos assuntos nas respetivas autarquias e nos poderes regionais. Portanto, um dos grandes esforços que temos de desenvolver, em articulação com as


Contrariar abstenção alta e baixo recenseamento

autoridades de acolhimento, é o de que essas autoridades se disponibilizem para que os nossos cidadãos possam tratar aí de assuntos que tenham a ver com acesso à informação e ao acompanhamento de muitas das suas questões de vida quotidiana. Eu julgo que isso é possível com o empenho de todas as partes, e da nossa parte há total empenho para que isso possa ser possível. Referiu os portugueses no estrangeiro que têm de fazer centenas de quilómetros para poderem votar nas eleições portuguesas. Raramente há consenso de opiniões sobre a melhoria ou não de condições para a participação eleitoral desses cidadãos… Por força dos cortes que foram desenvolvidos nos últimos anos na rede consular, se as condições já eram difíceis até há quatro anos, tornaramse muito mais ainda. Houve o encerramento de serviços consulares em muitas regiões, inclusivamente nalgumas das que visitei agora em França. Por exemplo, a comunidade de ClermontFerrand, que está a mais de 200 km de Lyon, ficou afastada dos seus serviços consulares em muitas das suas dimensões. E nós temos que encontrar formas inovadoras de garantir esse serviço aos nossos emigrantes. Que formas são essas? Há duas experiências que estão devidamente testadas e funcionam bem, que são as permanências consulares e as antenas consulares. Ambas são experiências que se devem consolidar e aperfeiçoar, com esta abertura das autoridades locais e regionais dos países de acolhimento.

Para potenciar a participação eleitoral por parte dos portugueses no estrangeiro já demonstrou ser defensor do voto eletrónico…

“POR FORÇA DOS CORTES QUE FORAM DESENVOLVIDOS NOS ÚLTIMOS ANOS NA REDE CONSULAR, SE AS CONDIÇÕES [DE ACESSO AO VOTO NO ESTRANGEIRO] JÁ ERAM DIFÍCEIS ATÉ HÁ QUATRO ANOS, TORNARAM-SE MUITO MAIS AINDA” As eleições que registam maiores níveis abstencionistas são as que elegem os representantes para o Conselho das Comunidades, que muitos emigrantes nem sabem que existe ou para o que serve… Em abril vai haver uma reunião plenária do Conselho das Comunidades, cá em Portugal. Iremos reunir todos os conselheiros eleitos na diáspora portuguesa, porque são vozes que interpretam os sentimentos, as expetativas e as inquietudes dos nossos emigrantes pelo mundo.

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Sim. Aliás, é do domínio público que o voto eletrónico constitui um dos compromissos do programa do governo. Apenas poderá avançar onde houver condições de segurança e de fiabilidade da infraestrutura tecnológica, todavia esse é um objetivo de legislatura. Quais são as caraterísticas gerais desse voto eletrónico? A implementação de máquinas nos postos consulares ou de forma a que o voto possa ser feito nos computadores portáteis ou até smartphones de cada cidadão? Como digo, é um trabalho que tem que ser desenvolvido no quadro desta legislatura, mas há essas duas experiências a níveis internacionais: a participação com voto eletrónico que ocorre em mesas de voto tal e qual acontece nos outros atos eleitorais, e o voto a partir de casa de cada cidadão, a partir de um terminal no seu computador. Isso são questões de natureza técnica, que terão que se colocar quando a discussão decorrer de uma forma integrada entre os ministérios que têm responsabilidades neste âmbito. Aquilo que efetivamente podemos dizer nesta altura é que trabalhamos para a facilitação quer do recenseamento, quer do ato eleitoral, o que constitui uma prioridade da minha ação política, uma prioridade do ministro dos Negócios Estrangeiros e uma prioridade do Primeiroministro de Portugal.

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COMUNIDADES

O voto eletrónico não resolve o elevado número de portugueses no estrangeiro que estão por recensear. Por exemplo, o Reino Unido tem sido o principal destino de emigração de portugueses nos últimos anos, mas só há 2 800 recenseados nos consulados de Londres e Manchester… Há sempre uma responsabilidade cívica que é de cada cidadão. Muitos dos nossos emigrantes têm que ter uma noção muito clara de que quando saem do país devem inscrever-se nos seus consulados, coisa que muitos não fazem. Devem ter ainda o cuidado de se recensearem quando vão aos postos consulares, apesar de o recenseamento da nossa emigração não ser obrigatório. Os nossos serviços consulares têm feito um esforço de sensibilização dos nossos emigrantes, mas muitas das vezes isso não acontece. O que o governo português pode fazer para aumentar o número de emigrantes recenseados no estrangeiro? Há um conjunto de pequenos obstáculos que se podem remover. Alguns com a alteração da lei eleitoral, outros com pequenas alterações. Tenho essa vontade, o governo tem essa vontade. E queremos que todos os partidos com assento no parlamento tenham a mesma vontade. Também há fatores de bloqueio que dependem da administração e é sobre esses que nós temos que trabalhar. Por exemplo, as alterações de morada. Um cidadão que emigre e que até se registe no seu posto consular, quando altera a sua morada deixa de ter as mesmas condições para a participação eleitoral. É um dos obstáculos que se resolvem com uma pequena alteração da legislação eleitoral, sendo que para isso é preciso que todos os partidos políticos estejam investidos da mesma vontade, algo que eu estou convencido que estão.

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“O ConsuladoGeral em Paris faz uma média de 500 a 600 atendimentos por dia. O cônsul-honorário em ClermontFerrand tem uma relação detalhada das chamadas telefónicas que uma única funcionária do Estado português recebe diariamente e às quais muitas vezes não pode dar resposta por falta de recursos humanos”

Mais força para cidadãos e postos consulares Para além dos atos eleitorais portugueses, também há a questão da participação nas eleições dos países de acolhimento… Exatamente. Esse foi mais um aspeto importante no qual trabalhei na minha deslocação a França, alertando as autoridades francesas para a importância de eles também olharem para os portugueses como cidadãos eleitores dos seus países. Isso vai proporcionar aos nossos cidadãos ganharem uma força política e democrática que os tornará verdadeiramente importantes no processo de tomada de decisão e das opções políticas desses mesmos países. Há cada vez mais notícias que dão conta de portugueses ou lusodescendentes eleitos para cargos políticos de relevo no estrangeiro… Sim, nós temos luso-eleitos desde os poderes locais até às mais altas funções de

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Estado um pouco por todo o mundo. Está a ser desenvolvido a nível consular um trabalho de identificação e de trabalho em rede com os mesmos. Esse trabalho abrange tudo aquilo que são as dimensões de segurança e bem-estar, e ao mesmo tempo de dinamização de Portugal no mundo. Fazer uma comunicação mais continuada para com os emigrantes portugueses, de forma a incentivá-los a terem uma participação mais ativa nas decisões políticas, também é um objetivo? Efetivamente não tem havido uma campanha de informação e de comunicação continuada para aquilo que são direitos sociais, direitos económicos e direitos políticos fundamentais. Este trabalho que vocês da Revista PORT.COM fazem de divulgação e sensibilização é um trabalho que também se inscreve no quadro das preocupações da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. A própria RTP Internacional está agora num processo de transformação, modernização e


O PI N IÃO

adaptação às novas exigências, para por um lado fazermos face às exigências dos fluxos migratórios do passado, aos filhos e netos dessas gerações, mas também a uma nova vaga migratória que se iniciou há quatro anos com a crise económica e financeira por que passou o país. Nós temos que ser capazes de dialogar com essa multiplicidade de entendimentos, de sentimentos, de afetos e ao mesmo tempo de interesses. É preciso desenvolvermos um trabalho sistemático de comunicação e informação, em articulação com os nossos serviços consulares, que têm feito um trabalho imenso. Noto que faz questão de vincar os elogios aos serviços consulares… Os últimos quatro anos não só foram muito significativos nos cortes na administração de bens e serviços públicos essenciais em Portugal, como também foram também muito significativos no impacto que tiveram na nossa rede consular e na nossa rede diplomática. Mesmo assim, um esforço extraordinário dos nossos funcionários consulares e dos nossos diplomatas permitiu ultrapassar essa exiguidade crescente de recursos da nossa administração. Para se ter uma ideia, o nosso Consulado-Geral em Paris faz uma média de 500 a 600 atendimentos por dia. Em Lyon e Bordéus vi o mesmo esforço. O cônsul-honorário em Clermont-Ferrand tem uma relação detalhada das chamadas telefónicas que uma única funcionária do Estado português recebe diariamente e às quais muitas vezes não pode dar resposta por falta de recursos humanos e de meios logísticos. Por isso, gradualmente temos que repor os níveis de atendimento na rede consular que fomos perdendo ao longo dos anos, o que tem efeitos muito negativos na sensibilização e informação aos nossos emigrantes.

POR UM CCP CONSTRUTIVO E CONSENSUAL Rogério de Oliveira Conselheiro eleito pelo Luxemburgo para Conselho das Comunidades Portuguesas

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omo sempre afirmei na minha campanha para a eleição de conselheiro do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP), durante a qual não prometi basicamente nada, eu tive sempre a impressão que o CCP, órgão de consulta do Governo de Portugal para as problemáticas da diáspora Portuguesa, mais parecia ser um órgão sindical do “bota-abaixo”, como se costuma dizer. Neste contexto, no papel de conselheiro defenderei sempre, e nomeadamente na próxima reunião plenária, que o CCP passe a ser um elemento-chave de consulta construtiva no diálogo, e consensual nas decisões que eventualmente venham a ser apresentadas a respeito dos problemas dos emigrantes Portugueses espalhados pelo mundo. Este é um dos objetivos principais dos conselheiros eleitos pelo Luxemburgo. Na primeira reunião plenária procurarei ainda sugerir ao Sr. Secretário de Estado das Comunidades que possa continuar com as políticas do seu antecessor em certas áreas.

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Refiro alguns exemplos, considerando que estas matérias são de uma grande importância para as comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo: - Continuar com as permanências consulares; - Colocar funcionários não em quantidade, mas sim em qualidade; - Olhar para a diáspora como uma potencialidade económica para Portugal e não como simples cidadãos que saíram do país na procura de uma vida mais digna; - Continuar a preocupar-se com o ensino de língua e cultura Portuguesa, porque apesar de uma melhoria significativa, ainda existem algumas lacunas; - Rever o que se poderá fazer para que os portugueses espalhados pelo mundo tenham a possibilidade de se inscreverem nos cadernos eleitorais; - Continuar a apoiar a comunicação social da diáspora; - Apoiar o movimento associativo; - Continuar a informar os portugueses que pretendem emigrar, que são livres de o fazer, mas com cautela, pois como todos nós sabemos a crise é mundial e que ontem era, hoje já não é...

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COMUNIDADES

Macau quer médicos portugueses na futura Academia de Medicina

Newark prepara monumento de homenagem aos emigrantes

O governo macaense pretende contratar “médicos portugueses e chineses com grande experiência clínica para a orientação dos formandos” da futura Academia de Medicina de Macau, a julgar por palavras proferidas por Alexis Tam, secretário local para os Assuntos Sociais e Cultura, na respetiva assembleia legislativa. O fim da construção da Academia de Medicina de Macau está previsto para este ano. A média salarial dos médicos neste território de administração chinesa é de 43 000 patacas, cerca de 4 900 euros.

Motoristas portugueses de pesados reúnem-se em Londres O grupo português “Motoristas do Asfalto” organiza pela primeira vez um encontro no estrangeiro. Londres é a localidade escolhida para receber camionistas portugueses provenientes de diversos pontos da Europa, no dia 12 deste mês. Na capital britânica vivem cerca de meia centena dos mais de 40 000 membros deste grupo, que tem como alguns dos objetivos a partilha de conhecimentos e o apoio perante alguma eventualidade que aconteça na estrada.

O bairro do Ironbound, na cidade nos arredores de Nova Iorque onde reside uma populosa comunidade portuguesa, vai ter um monumento em homenagem aos milhares de emigrantes que, a partir da década de 30 do século passado, contribuíram para a sua

construção. A obra será inaugurada em setembro deste ano e representará um barco com emigrantes, de acordo com o esboço desenhado por Augusto Amador, um português natural de Murtosa que é vereador na autarquia de Newark.

Ylidio Abreu, o madeirense da oposição a Maduro Desde o início deste ano, quando tomaram posse os representantes escolhidos nas eleições de dezembro de 2015, que o parlamento venezuelano conta com um deputado originário da vila madeirense da Ribeira Brava. Ylidio Abreu ocupa um lugar de destaque na assembleia nacional da Venezuela, para a qual foi eleito como o número um da lista do partido Mesa de la Unidad Democrática (MUD) no estado de Carabobo, o 3.º mais populoso do país. O

MUD é o mais representativo dos partidos da oposição ao governo de Nicolás Maduro. A principal ação política que Abreu tem reivindicado passa pela melhoria do fornecimento de água pública em vários estados do país. Ylidio Abreu

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Marcelo toma posse a 9 de março Cavaco Silva abandona o Palácio de Belém ao fim de uma década. A percentagem de votos alcançada por Marcelo nas comunidades foi ainda superior à que lhe deu maioria em território nacional.

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arcelo Rebelo de Sousa substitui Aníbal Cavaco Silva como Presidente da República a 9 de março. O antigo líder do PSD e comentador televisivo da TVI venceu as eleições presidenciais à primeira volta, logo a 24 de janeiro, mas apenas 12 dias depois, a 5 de fevereiro, foram confirmados os resultados definitivos no estrangeiro, onde também foi o mais votado dos candidatos a Belém. Os eleitores que votaram nos 73 consulados até atribuíram a Marcelo uma percentagem de votos superior à registada no território nacional: 57,3% contra 51,99%. Mas os votos somados no estrangeiro (7 993) são em número bem mais reduzido do que os contabilizados em Portugal (2 403 932).

Tal como no território nacional, Sampaio de Nóvoa e Marisa Matias foram os 2.º e 3.º candidatos mais votados, respetivamente. A Revista PORT.COM reuniu um conjunto de curiosidades sobre os resultados no estrangeiro das eleições presidências portuguesas.

• Na Guiné-Bissau e na Suécia, Sampaio da Nóvoa superou Marcelo por apenas um voto • Nos consulados de Manchester (Reino Unido) e São Francisco (Estados Unidos) houve um empate entre Marcelo e Sampaio da Nóvoa, com exatamente o mesmo número de votos para cada candidato • Apenas Marcelo e Sampaio da Nóvoa receberam votos no Zimbabwe e na cidade brasileira do Recife

• África do Sul é o país onde o domínio de Marcelo foi mais esmagador, com uma percentagem de 93,6% no somatório dos consulados de Cidade do Cabo, Pretória e Joanesburgo

• Paris e São Paulo são as duas únicas cidades onde foi registado mais de um milhar de votos. Marcelo ficou em 1.º em ambas

• A Finlândia é o país onde Marcelo ficou mais abaixo na tabela classificativa, sendo apenas o 3.º candidato mais votado, depois de Sampaio da Nóvoa e Marisa Matias

• A Índia é o país em que se registou maior abstenção, com uma percentagem de 99,09%. Votaram apenas 15 dos 1 649 cidadãos recenseados

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COMUNIDADES

A Sardinha que se lê em Português e Esloveno

Dijana Cerovski e João Costa, os fundadores da Sardinha

Em Ljubljana não há Embaixada de Portugal, mas há quem desenvolva uma revista digital focada na redação de artigos sobre o nosso país. A atividade cultural portuguesa é a temática mais retratada em www.sardinha.org.

L

isboa e Ljubljana estão separadas por mais de 2 500 quilómetros, mas na internet há uma página que coloca Portugal e a Eslovénia lado a lado. Trata-se da Sardinha (disponível em www.sardinha.org), uma página online que disponibiliza uma revista em formato digital, na qual todos os artigos são escritos em português e esloveno.

Desde então o público-alvo já foi alargado. Para além dos “portugueses na Eslovénia, dos eslovenos em Portugal, dos eslovenos na Eslovénia interessados na língua e cultura portuguesa, e de outros cidadãos pelo mundo fora que viveram num dos dois países e falam assim pelo menos um dos idiomas”, os autores do portal têm-se esforçado por “atrair também os leitores brasileiros e lusófonos no geral”.

Criado em 2013 pelo português João Costa e pela eslovena Dijana Cerovski, o objetivo estipulado na altura pelo casal passava por “trazer aos leitores uma sensação de comunidade que tinha sido afastada com o encerramento das embaixadas da Eslovénia em Lisboa e de Portugal em Ljubljana”, explica Dijana.

Os artigos desenvolvidos são sobretudo de cariz cultural, tendo já entrevistado alguns músicos portugueses de nomeada, como Carlos Bica e Gisela João. “Queremos ser uma boa revista com temas interessantes e entrevistas com pessoas inspiradoras. Há muitos fãs da cultura e da língua portuguesa por cá, e os pontos comuns entre eslo-

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Exemplos de páginas da revista digital escrita em português e esloveno


venos e portugueses são surpreendentemente variados e isso é muito interessante”, justifica Dijana, a partir de Ljubljana. A título de exemplo, indica que “a Eslovénia sendo um país de pequenas dimensões também dá uma grande importância à identidade nacional pela língua materna e também tem o seu Camões, de nome France Prešeren, poeta com direito a estátua na praça central da capital. Para além disso há interseções duradouras na área do cinema de animação, da música jazz contemporânea, entre outros, como a recente colaboração na música entre a portuguesa Susana Santos Silva e a eslovena Kaja Draksler”. O desejo de entrevistar Joana Vasconcelos ou Mariza A atividade da Sardinha faz com que Dijana e João tenham uma “longa lista” de personalidades portuguesas que gostariam de entrevistar. Na impossibilidade de poderem questionar José Saramago e Eusébio, colocam Joana Vasconcelos e Mariza no topo das preferências: “Vimos o seu cacilheiro na bienal de Veneza e foi muito impressionante”, referem em alusão à artista plástica. A fadista atua a 19 de abril na imponente sala Cankarjev Dom, em Ljubljana, pelo que o objetivo de a entrevistar pode ser cumprido em breve. Mais difícil será “perguntar ao Sr. Presidente da República se sabe onde é a Eslovénia”, por resi-

direm na capital eslovena e terem poucos colaboradores em Portugal. A Revista PORT.COM é uma das publicações portuguesas que Dijana e João consultam assiduamente para ficarem mais perto do país, por considerarem que “sabem bem o que o leitor que mora fora de Portugal gosta de ler que não encontra nas revistas e jornais usuais”. Do lado de cá, retribui-se o elogio à Sardinha, pela sua originalidade e pertinência, que tornam 2 500 quilómetros num obstáculo ultrapassável em poucos cliques.

Joana Vasconcelos, uma das entrevistadas que o Sardinha gostava de “pescar”

Cankarjev Dom, a sala que vai receber o fado de Mariza

Língua portuguesa vai ser ensinada em nova escola pública no Luxemburgo Pela primeira vez o Português vai integrar o programa do ensino público no Luxemburgo. O feito inédito vai ter lugar na Escola Internacional de Differdange, que vai abrir em setembro na 3.ª maior cidade luxemburguesa, com alunos do ensino básico ao secundário. Desde o primeiro ano de escolaridade que os alunos da nova escola aprenderão o Luxemburguês como língua obrigatória, podendo escolher como segunda opção entre o Francês, o Alemão, o Inglês e o Português.

Escola no Massachusetts lança programa inédito de imersão no Português Uma escola primária de Brockton, no estado norte-americano do Mas-

Estátua de France Prešeren, o “Camões esloveno”

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sachusetts, será a primeira a experimentar um programa de imersão em Português, com disciplinas lecionadas tanto em Inglês como na “língua de Camões”. Depois de um sorteio a realizar em maio, 50 crianças com família de países de expressão portuguesa, e cujos pais tenham concordado com a sua inclusão, serão divididas em duas turmas e vão fazer parte do projeto até ao quinto ano. O programa segue o exemplo do que já acontece com o Espanhol numa outra escola primária de Brockton, onde existe neste momento uma lista de espera com 100 alunos.

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H

ISTÓRIA

A TARDE EM QUE PORTUGAL ENTROU NA GRANDE GUERRA Quando a 9 de março de 1916 um diplomata alemão em Lisboa entregou uma comunicação urgente ao governo português, confirmou-se o que já se adivinhava desde 1914. Acontecimentos em África levaram milhares a partirem para as trincheiras europeias. TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

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Primeira Guerra Mundial eclodiu em 1914, mas é este mês que se assinala um século desde que Portugal entrou oficialmente na hecatombe internacional, que teve vários significados para o país, uns louváveis e outros bastante lamentáveis. Entre a data em que a Alemanha declarou guerra a Portugal e o fim da Grande Guerra, em 1918, ano da infame Batalha de La Lys, as tropas portuguesas viveram mais de 700 dias no inferno das trincheiras. A declaração de guerra “deu entrada” ao final da tarde chuvosa de 9 de março de 1916, quando o alemão Friedrich Rosen, que liderava a diplomacia alemã em Lisboa, entregou uma comunicação urgente do seu imperador ao ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Soares. Os jornalistas que aguardavam pormenores do encontro, que tinha lugar no Terreiro do Paço, não tiveram dificuldade em antecipar ao que Rosen ia. Nas

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redações dos jornais lisboetas circulava a informação de que o diplomata passara parte do dia a queimar papelada na delegação germânica, instalada num palácio da Rua do Século. A isso juntava-se um historial de quase dois anos de atritos entre Lisboa e Berlim, como a 25 de agosto de 1914,

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NO DIA SEGUINTE À DECLARAÇÃO DE GUERRA, O EDITORIAL DE UM JORNAL ALEMÃO DESCREVE PORTUGAL COMO “O 11.º INIMIGO”


Friedrich Rosen, o alemão que “declarou” guerra a Portugal

Saiba mais Tradução da declaração de guerra, na íntegra, em www.revistaport.com

quando forças alemãs saídas da colónia do Tanganica (atual Tanzânia) atacaram o posto português em Maziua, no norte de Moçambique.

Prisioneiros portugueses num campo alemão, após a derrota de La Lys

No dia 12 de dezembro do mesmo ano, forças alemãs da colónia do Sudoeste Africano, localizadas na atual Namíbia, invadiram o sul de Angola, o que levou a que, seis dias depois, os portugueses fossem obrigados a retirar da cidade angolana de Naulila, lamentando 70 mortos entre oficiais e praças. No início de 1915, a 27 de janeiro, a Alemanha pediu argumentos junto do governo português pela expulsão do seu cônsul em Luanda. O primeiro de vários protestos germânicos desse ano, como o que reclamava por Portugal ter autorizado a passagem de forças britânicas através de Moçambique, nos primeiros dias de maio. Esta cronologia justifica que a declaração de guerra entregue por Rosen alegasse “procedimentos reveladores de que o governo português se considera um vassalo da Inglaterra e que subordina todas as considerações e desejos da Inglaterra”. No dia seguinte, o editorial do jornal alemão Frankfurter Zeitung descreve Portugal como “o 11.º primeiro inimigo”. No final da Grande Guerra, as colónias portuguesas foram mantidas, a imagem internacional da ainda jovem República foi consolidada e o equilíbrio com o “velho aliado” inglês foi reposto. Mas à custa de mais de oito mil mortos, maioritariamente camponeses analfabetos que desconheciam a razão pela qual lutavam. Agravava-se ainda uma crise económico-financeira que abriria as portas à ditadura.

O “Português” nascido nas trincheiras Sabia que os soldados do Corpo Expedicionário Português (CEP) foram os primeiros a chamar “bifes” aos ingleses? Conheça algumas expressões desenvolvidas entre 1916 e 1918 que ainda hoje fazem parte do quotidiano dos portugueses. Tropas portuguesas treinam com máscaras de gás, já na Frente Ocidental

Fotografia icónica que regista o momento da despedida de um combatente português, num cais de Lisboa

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Balázio – Bala de espingarda ou metralhadora Bife – Alcunha dos ingleses aos olhos dos portugueses. Proveniente de BEF (British Expedicionary Force) Camone – Outra alcunha dos ingleses, por utilizarem a expressão “come on” para chamar os portugueses Cavar – Foi nas trincheiras, quando os soldados se encontravam sob bombardeamento incontrolável, que o verbo utilizado em referência a “romper a terra” passou também a significar “afastar-se” Gosma – Simular doença ou outra qualquer vigarice com o objetivo de evitar uma tarefa Ir aos arames – Missão ingrata e perigosa de ir cortar o arame farpado em terreno de guerra Lãzudo – Camponeses transformados em soldados sem saberem porquê Luísa – Metralhadora Lewis Sola – Carne dura “como a sola do sapato” Toupeiras – Soldados das primeiras linhas, por viverem em abrigos subterrâneos

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HISTÓRIA

A IMPORTÂNCIA DE RECORDAR

A PARTICIPAÇÃO PORTUGUESA NA GRANDE GUERRA O assinalar dos 100 anos de um dos momentos mais marcantes da história do século XX originou a criação da Comissão Coordenadora das Evocações do Centenário da I Guerra Mundial. Um dos eventos que organiza é o Congresso Internacional Portugal na Grande Guerra*. O presidente da comissão, Tenente General Mário de Oliveira Cardoso, retrata a origem da participação portuguesa no conflito. TEXTO: TENENTE GENERAL MÁRIO DE OLIVEIRA CARDOSO PRESIDENTE DA COMISSÃO COORDENADORA DAS EVOCAÇÕES DO CENTENÁRIO DA I GUERRA MUNDIAL

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alvez só agora, passados 100 anos sobre a tragédia mundial que foi a Grande Guerra, tenham existido, em Portugal, as condições necessárias para uma discussão histórica, com rigor científico, livre e isenta, sobre a participação de Portugal naquele conflito. Até então tivemos relatos pessoais que nos dão conta das terríveis condições que os Soldados tiveram de suportar, e relatos oficiais de natureza descritiva, mas todos, quase sempre, alheios a todo um contexto politico e social, que é de facto importante recordar e considerar para que os portugueses de hoje conheçam as razões das decisões tomadas e para que assumam como sua, também, uma memória coletiva que, para que seja saudável como se quer, tem de ser esclarecida e descomplexada.

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Esta Comissão assumiu como tarefa inerente à sua missão incentivar a investigação e a produção de conhecimento, que vai disponibilizando através do seu sítio www.portugalgrandeguerra.defesa.pt e, principalmente, evocar o sacrifício dos cerca de 105 000 mobilizados para combater em África, no Mar e na Europa. Esse sacrifício, que tem a sua expressão mais cruel nos 7 760 mortos e nos 8 935 incapazes, foi também exigido a toda uma população que não ultrapassava, na altura, os seis milhões de portugueses, confundidos com o que se passava no mundo e em particular em Portugal, com a mudança de um regime monárquico multisecular para um republicano, revolução essa que foi violenta, ao ponto de muitos dos atuais historiadores a considerarem “guerra civil intermitente”. Julgo ser importante recordar que:

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- O Governo Republicano tinha dificuldade em ser reconhecido pelos seus pares europeus, todos eles monárquicos ou imperiais, à exceção da França, da Suíça e do nosso próprio país; - Portugal, sendo uma pequena potência europeia, era um grande império ultramarino, e que as suas colónias, em particular Angola e Moçambique, eram cobiçadas quer pela Alemanha quer pela velha aliada, a Inglaterra, tendo havido acordo entre eles para a sua parcial partilha; - A desordem social em Portugal continental, de cariz ideológica, era tida em Espanha, o nosso único vizinho, como preocupante por poder ter repercussões naquele país, o que por outro lado dava espaço de manobra para uma intervenção que, com o pretexto de restabelecer a ordem, permitia alcançar o velho desígnio de hegemonia na Península Ibérica, que contava com


a tolerância, mesmo que não explicita, tanto da Inglaterra como da Alemanha, embora por interesses diferentes; - Portugal via na assunção plena das suas responsabilidades, no cumprimento do Tratado da Aliança LusoBritânica, a forma de comprometer a Inglaterra na defesa da sua soberania e no reconhecimento do regime. Se a guerra em África não merecia contestação interna, mau grado a deficiente preparação sanitária e logística dos contingentes, começou logo em 1914 e determinou o envio de sucessivas expedições para aqueles Teatros de Operações mesmo sem declaração formal de guerra, já a decisão de participar no Teatro de Operações Europeu, com o Corpo Expedicionário Português (CEP), dividiu quase todos os partidos políticos existentes, dando origem à designação de “guerristas” e “não guerristas”, inclusive dentro da estrutura militar. Para uns a manutenção da soberania de Portugal, quer na Europa quer em África, passava por uma intervenção direta no conflito europeu; para outros tal não era necessário. O resultado é conhecido. Se as forças expedicionárias para África foram deficientemente preparadas, pior foi ainda com o CEP, que teve de enfrentar a desconhecida “guerra das

Tenente General Mário de Oliveira Cardoso

trincheiras” e que se foi vendo isolado, sem apoio da retaguarda, sujeito às contraditórias decisões dos sucessivos governos (47 entre 1910 e 1926), fatal para o sentimento de abandono a que se viram votados os Soldados de Portugal enviados para zonas de combate e praticamente abandonados à sua sorte pelo próprio País. À questão que me foi colocada pela Direção da Revista PORT.COM sobre a importância de recordar a participação de Portugal na GG, a melhor resposta que posso dar é transcrever esta frase de um poeta e filósofo espanhol, George Santayana – “Quem não se lembra do passado está condenado a repeti-lo”.

*O congresso está marcado para os dias 8, 9 e 10 deste mês, em Coimbra, no auditório do Quartel General da Brigada de Intervenção. Resulta de uma organização conjunta entre a Comissão Coordenadora da Evocação do Centenário da I Guerra Mundial e do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra (CEIS20)

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“NO NOSSO ÍNTIMO PARECE QUE NOS SENTIMOS COMO DERROTADOS! PARA QUE ASSIM NÃO SEJA É QUE ESTA COMISSÃO PROCURA COLABORAR, ATRAVÉS DA HOMENAGEM AOS QUE TUDO DERAM EM NOME DE PORTUGAL E PROMOVENDO O CONHECIMENTO DA NOSSA HISTÓRIA, PARA QUE A MEMÓRIA SEJA COLETIVA E SAUDÁVEL” Mas eu permitir-me-ia acrescentar que, quando o que está em causa é a segurança e a soberania de Portugal, e se torna necessário a participação de Forças Militares fora das nossas fronteiras, então não pode haver divergências no essencial, da parte de todos e em particular dos governantes. Portugal, quando o Armistício foi assinado em 11 de novembro de 1918, fê-lo e justamente como vencedor, tendo visto a Bandeira Nacional passar sob o Arco do Triunfo. Mas no nosso íntimo parece que nos sentimos como derrotados! Para que assim não seja é que esta Comissão procura colaborar, através da homenagem aos que tudo deram em nome de Portugal e promovendo o conhecimento da nossa história, para que a memória seja coletiva e saudável.

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HISTÓRIA

A VIDA DO PADRE AMÉRICO MERECIA UM ÓSCAR O legado do benfeitor, pela melhoria das condições de vida de rapazes desfavorecidos, continua bem presente em três países, particularmente em Portugal. Por mais do que uma vez, a obra social já valeu enredos cinematográficos premiados internacionalmente.

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TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

vida do Padre Américo dava um filme, daqueles que todos os anos concorrem aos prémios mais desejados do mundo do cinema, os Óscares. O legado que deixou garante o cenário, com destaque para as Casas do Gaiato, as casas que acolhem rapazes indefesos com o objetivo de formar homens preparados para resistir e vencer perante os desafios da vida. Os próprios responsáveis de algumas destas casas parecem acreditar que o percurso de dedicação à melhoria das condições de vida dos mais desfavorecidos propicia um bom guião cinematográfico.

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No ano em que se assinalam os 60 anos da morte do notável filantropo, somam-se ruas, escolas e até um hospital com o nome do Padre Américo. Do legado subsistem quatro Casas do Gaiato em Portugal Paço de Sousa, Beire (Paredes), Miranda do Corvo e Setúbal -, duas em Angola – Malanje e Benguela – e outra em Moçambique, na capital Maputo. Prevalece ainda o Calvário, em Beire, espaço que acolhe doentes pobres e incuráveis. Tudo isto obra de quem um dia escreveu, num dos vários livros por si publicados, que “a vida que vale a pena é viver totalmente para o nosso semelhante, a chorar e a rir as suas tristezas e alegrias”. Esta e outras frases inspiradoras continuam a ser partilhadas ao mundo n’O Gaiato, o jornal fundado

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Cartaz do filme de 1948, entretanto desaparecido

Em 2016 assinalam-se os 60 anos da morte do distinto filantropo

por Padre Américo. Apesar da distribuição gratuita, ainda hoje ajuda a recolher fundos para as casas, que não beneficiam de quaisquer subsídios estatais. Um filme desaparecido e dois documentários Defender que a obra social do Padre Américo dava um filme não é uma ideia pioneira. O realizador espanhol Eduardo Garcia Maroto lançou, a 22 de dezembro de 1948, um filme sobre a vida e obra do benemérito, chamado “Não Há Rapazes Maus”, que rodaria em salas de Lisboa e do Porto. Do elenco faziam parte atores que, na altura, integravam a primeira linha do cinema português, como Raul de Carvalho, Maria Lalande, Maria Matos e até Vasco Santana. Mas, entretanto, o filme perdeu-se para sempre.


“The Cider House Rules”, cuja versão portuguesa tem o título “Regras da Casa”, que no ano 2000 ganhou dois Óscares.

Interpretar o papel do Dr. Wilbur Larch valeu um Óscar ao ator Michael Caine

Por todo o país há várias estátuas do Padre Américo, como na cidade do Porto, na Praça da República

Nem mesmo a Cinemateca Portuguesa guarda uma cópia desse trabalho, mas segundo o Padre Manuel Mendes, responsável pela Casa do Gaiato de Miranda do Corvo, “preserva um [outro] documentário que foi feito em 1987, ano em que se assinalava o centenário do nascimento de Padre Américo”. O benfeitor veio ao mundo a 23 de outubro de 1887 em Galegos, uma freguesia de Penafiel. Mais recentemente, em 2012, a Casa do Gaiato de Setúbal foi palco das gravações de um documentário sobre a mesma. O produto final são 51 minutos sobre os princípios que a estruturam, “muito mais do que um espaço onde vivem rapazes, uma casa de família com as suas rotinas, repleta de verdadeiras histórias de vida”, como se lê na descrição do mesmo.

Durante este documentário, chamado “Casa do Gaiato”, as imagens transparecem diversos processos que permitem “fazer de cada rapaz um homem”, como defendia o Padre Américo. Assiste-se assim a momentos em que os rapazes vão à escola, aprendem ofícios como carpintaria e tipografia, cultivam e colhem alguns dos alimentos utilizados nas refeições, vão à missa, aprendem a tocar instrumentos musicais, ensaiam coreografias de dança, jogam futebol, entre outros momentos de estímulo de capacidades intelectuais, morais e sensitivas. Contactado pela Revista PORT.COM, o responsável pela Casa do Gaiato de Setúbal, Padre Acílio, acredita que este trabalho “pode ser inspirador de um outro mais alargado, sobre o Padre Américo”. Filmes premiados sobre obra social Tanto o Padre Manuel Mendes como o Padre Acílio acreditam que a vida do Padre Américo oferece matéria-prima para um guião de um filme capaz de cativar as mais diferentes audiências. A obra social praticada na Casa do Gaiato em nada fica a dever à relatada no filme norte-americano

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Uma das estatuetas ganhas foi a de Melhor Argumento Adaptado. O filme é baseado num livro de 1985, do romancista norte-americano John Irving, que retrata um orfanato no estado do Maine, dirigido pelo generoso Dr. Wilbur Larch, que trata todos os órfãos como se fossem seus filhos biológicos. Este papel valeu ao filme o outro Óscar, o de Melhor Ator Secundário, para o reputado ator Michael Caine. Existem alguns ilustres portugueses cuja vida transposta em filme provavelmente resultaria na conquista de prémios cinematográficos. Na Segunda Guerra Mundial, Aristides de Sousa Mendes teve um papel de solidariedade social semelhante ao de Oskar Schindler, mas só a história do alemão deu origem a um filme que ganhou um número impressionante de sete Óscares, também entre os quais o de Melhor Argumento Adaptado. Quem está minimamente familiarizado com a vida e obra do fundador da Casa do Gaiato, sem dúvida um dos mais dedicados filantropos da História de Portugal e cujo processo de beatificação está em curso na Congregação para a Causa dos Santos, não terá dúvidas em concordar que o enredo da vida do Padre Américo merecia um Óscar. O documentário “Casa do Gaiato” foi gentilmente enviado à Revista PORT.COM pelo Sr. Padre Acílio, da Casa do Gaiato de Setúbal

Capa do documentário de 2012 gravado na Casa do Gaiato de Setúbal

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N

EGÓCIOS

EXPORTAÇÕES DE CALÇADO AUMENTARAM MAIS DE 600 MILHÕES EM SEIS ANOS O ano 2015 significou um novo máximo histórico nas exportações portuguesas de calçado. Para as empresas nacionais deste setor, França é o mercado mais importante, Alemanha um dos que mais cresceram e Canadá um dos que bateram recordes.

O

calçado português terminou mais um ano em alta. Há seis anos que bate o tacão nas exportações, que aumentaram mais de 50% desde 2009. No ano passado, Portugal exportou 79 milhões de pares de calçado no valor de 1 865 milhões de euros, mais 1% relativamente ao ano anterior. “Fruto de uma aposta sem precedentes nos mercados internacionais, Portugal passou a exportar anualmente mais 600 milhões de euros do que há seis anos, alargando ainda a geografia das exportações a mais de 20 novos destinos”, indicou a associação dos industriais do setor (APICCAPS), num comunicado prévio à participação na MICAM, a mais importante feira do calçado à escala mundial, que se realizou em Milão entre 14 e 17 de fevereiro.

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A MICAM, a mais importante feira do calçado à escala mundial, que se realiza em Milão

O calçado português é atualmente comercializado em 152 países, nos cinco continentes. “O ano que terminou foi particularmente exigente para as empresas de calçado, com o registo de perdas importantes, mas esperadas face à conjuntura atual”, em países como Angola (queda de 15% para 24 milhões

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de euros) e Rússia (menos 52% para 21 milhões de euros). Acresce que o mercado francês, o mais importante para as empresas portuguesas, “viveu uma situação conjuntural profundamente adversa, com as importações de calçado em geral a recuarem


OS NÚMEROS QUE MAIS ORGULHAM O SETOR Milhões de pares de sapatos exportados, milhares de trabalhadores empregues e centenas de novas marcas. O calçado está cheio de números que potenciam a economia portuguesa.

2,7%”. Nos primeiros dez meses de 2015, França comprou ao exterior menos 11 milhões de pares de calçado face ao ano anterior para um total de 433 milhões de pares. Nesse cenário, as vendas de calçado português para o mercado francês também recuaram para um total de 16 milhões de pares, no valor de 411 milhões de euros (menos 3,6%).

1 865 000 000 Valor das exportações de calçado português em 2015

79 000 000

Pares de sapatos exportados por Portugal no ano passado

16 000 000 Pares de sapatos exportados para França

Destaques positivos em 2015 foram os crescimentos relevantes registados em vários mercados europeus, como na Alemanha, Dinamarca, Espanha e Holanda, assim como recordes das vendas na Austrália, Canadá, China e Emirados Árabes Unidos.

37 700

De realçar o desempenho do calçado português nos Estados Unidos, onde as vendas aumentaram 48% para 67 milhões de euros.

300

As vendas de calçado para fora da União Europeia representam 14% do total exportado. A APICCAPS quer que este valor chegue aos 20% nos próximos cinco anos. As exportações da fileira do calçado como um todo (artigos de pele, componentes e calçado) ultrapassaram os dois mil milhões de euros (2,057 mil milhões) em 2015, mais 1,2% do que no ano anterior.

Trabalhadores empregues pelo setor do calçado em Portugal

1 430

Empresas portuguesas, a maior parte das quais no norte do país

Novas marcas de calçado criadas em Portugal nos últimos seis anos

152

Países que recebem e comercializam calçado fabricado em Portugal

95

Empresas portuguesas presentes na maior feira de calçado, a MICAM, em Milão

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Sessões fotográficas sobre calçado português na Vogue Itália

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NEGÓCIOS

Breves

Delta Cafés reforça presença na Suíça

Frankfurt recebeu 12 empresas nacionais de artigos para papelaria… A Paperworld, maior feira internacional de artigos para papelaria, escritório e material escolar, decorreu em Frankfurt entre 30 de janeiro e 2 de fevereiro, com a presença de 12 empresas portuguesas: Altoinfor, Ambar Passion, Ancor, Bi – Silque, Cartonex, Clipouro, DKT Representações, Firmo, Make Notes, Moinho de Chuva, Olmar e Portucel Soporcel. Estas empresas aproveitaram a ocasião para o lançamento de novas coleções e a troca de contactos com clientes provenientes de todo o mundo.

…Berlim quatro marcas de moda amiga do ambiente Quatro empresas portuguesas estiveram presentes na Ethical Fashion Show, a única feira europeia exclusivamente dedicada à moda ecológica e sustentável, que decorreu no final de janeiro no salão Postbahnof, em Berlim. A Elizab’Hats apresentou chapéus, a Vintage for a Cause roupas e acessórios, a Ultrashoes e a NAE – Vegan Shoes sapatos. Tudo peças amigas do ambiente.

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A Loja dos Pastéis de Chaves chega a Paris Duas lojas no Por to, duas em Gaia, uma em Braga, outra em Guimarães e agora a primeira no estrangeiro. A Loja dos Pastéis de Chaves prepara a instalação de uma loja em Paris , cidade de onde até agora chegava a

A empresa de torrefação e comercialização de café adquiriu a carteira de clientes do seu antigo distribuidor e parceiro na Suíça, com o objetivo de reforçar a presença no país helvético. Com esta aquisição foi criada a empresa Novadelta Suisse, que passa a contar com uma carteira de 350 clientes, na sua maioria restaurantes, cafés e similares. A Delta Cafés reforça assim a presença internacional na Europa Ocidental, onde também conta com operações diretas em Espanha, França e no Luxemburgo.

Worten celebra 20 anos com nova identidade

maioria das encomendas internacionais de, claro está, pastéis de Chaves . Curiosamente, na cidade flaviense esta empresa conta apenas com a unidade de produção. Para assinalar o 20.º aniversário, a Worten apresentou um novo logótipo e um novo ícone, identidade que está a ser introduzida em todas as lojas e em todas as campanhas publicitárias. Para além da presença por todo o território português, atualmente a marca de produtos eletrónicos conta com cerca de 50 lojas em Espanha.

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DESTAQUE

AS TRADIÇÕES DA

PÁSCOA EM PORTUGAL

Fazer jejum de carne nas sextasfeiras da Quaresma, benzer o ramo do domingo de ramos, acompanhar as procissões da Semana Santa, entregar o folar. Numa das épocas em que mais portugueses a residir no estrangeiro optam por voltar ao país, são várias as tradições seguidas religiosamente um pouco por todo o território nacional.


DESTAQUE

A

Páscoa é uma das épocas preferidas pelos portugueses a residir no estrangeiro para voltarem ao país de origem. Muitas são as famílias, sejam ou não católicas, que a veem como um símbolo de união. Mais do que qualquer outra celebração adotada pela generalidade dos portugueses, a Páscoa apresenta uma ampla variedade de tradições. Umas são comuns a todo o país, outras apenas a algumas regiões.

Óbidos é uma das localidades portuguesas que mais devoção colocam nas celebraçães da Semana Santa

Quase todos os portugueses estão familiarizados com o conceito da Quaresma, sobretudo no que toca ao “sacrifício” de não se comer carne nas sextas-feiras que abrangem este período. Bem menos são os que alguma vez testemunharam a cerimónia de “queimar o Judas”, dado que é um hábito praticado em apenas alguns dos concelhos do país. De resto, pode-se generalizar que é nas aldeias que os costumes relacionados com a Páscoa são praticados e acompanhados com mais interesse e devoção. Não faltam procissões de Trás-os-Montes ao Algarve, na Madeira e nos Açores, assim como crianças que se deslocam às paróquias locais para benzer os ramos a entregar à madrinha e/ou ao padrinho. Nas cidades, principalmente nas áreas urbanas de Lisboa e do Porto, são muitos os que passam ao lado de qualquer celebração pascal, preferindo dedicar este período a umas férias fora de casa. Mas também são muitos os que partem para os tais meios mais pequenos para passarem a Páscoa com os seus familiares, inseridos num ambiente repleto de tradições pascais à boa maneira portuguesa.

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Semana Santa

Procissões

A semana que antecede a Páscoa é o apogeu anual das manifestações de religiosidade para algumas localidades portuguesas, com Braga à cabeça. Por estes dias, os inúmeros santuários e igrejas da “Cidade dos Arcebispos” são engalanados a preceito, para receberem as várias manifestações de fé. Os momentos que costumam gerar mais expetativa junto dos visitantes são as procissões, que têm início no Domingo de Ramos, com a Procissão dos Ramos, e se sucedem até à Sexta-Feira Santa, data em que acontecem três, com destaque para a do “Enterro do Senhor”. Óbidos é outro exemplo de localidade em que a Semana Santa é vivida com grande intensidade.

Não é só em Braga, ou nas localidades com ativ idades que assinalam todos os dias da Semana Santa, que a Páscoa é tempo de procissões. Bem pelo contrário. De nor te a sul, sobretudo nas v ilas e aldeias, assinala-se o caminho que Cristo fez com a cr uz até ao calvário, a chamada v ia sacra, na qual são percorridas 14 estações que assinalam os 14 momentos deste percurso desde a condenação até à cr ucif icação. A Procissão das Tochas Floridas, em São Brás de A lpor tel, que no domingo de Páscoa assinala a ressurreição, é uma das mais concorridas.

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Peregrino vislumbra a Catedral de Santiago de Compostela

Procissão do Enterro do Senhor, na Semana Santa de Braga

Procissão das Pinhas na Barroca, aldeia do concelho do Fundão

Peregrinação Percorrer o Caminho Português de Santiago durante Semana Santa está a tornar-se cada vez mais um hábito entre os portugueses. Todos os anos, por esta altura, a associação Espaço Jacobeus tem distribuído centenas de credenciais para peregrinos portugueses caminharem até ao sepulcro do Santo Apóstolo Tiago, na cidade galega de Santiago de Compostela. Queimar o Judas O apóstolo que entregou Jesus às tropas de Pôncio Pilatos é “condenado” um pouco por todo o território continental português na tradição de Queimar o Judas. Na noite antes da Páscoa ou na

manhã de domingo, o traidor é recriado através de um boneco feito de trapos e palha, que surge enforcado numa corda, ao qual a população pega fogo ou até faz explodir com dinamite. O ato é praticado em localidades como Viana do Castelo, Montalegre, Freixo de Espada à Cinta, Vila do Conde, Santa Maria da Feira, Santa Comba Dão, Tondela, Palmela, Castelo de Vide e Serpa. Nalguns pontos do Brasil também se queima o Judas, tradição levada pelos colonizadores portugueses. Quaresma O período entre o Carnaval e a Páscoa em que os católicos costumam privar-se de algumas coisas materiais e fazer sacrifícios é conhecido como a

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QUASE TODOS OS PORTUGUESES ESTÃO FAMILIARIZADOS COM O CONCEITO DA QUARESMA, SOBRETUDO NO QUE TOCA AO “SACRIFÍCIO” DE NÃO SE COMER CARNE NAS SEXTASFEIRAS

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DESTAQUE

A PÁSCOA É UMA DAS ÉPOCAS PREFERIDAS PELOS PORTUGUESES A RESIDIR NO ESTRANGEIRO PARA VOLTAREM AO PAÍS DE ORIGEM Quaresma. O “sacrifício” mais recorrente dita que se deve evitar comer carne às sextas-feiras, por respeito à crucificação de Jesus Cristo, que também aconteceu neste dia da semana. Esta tradição teve início numa época em que a carne era um alimento apenas acessível aos mais ricos. Outras privações As privações da Quaresma são conhecidas e praticadas na maior parte dos países católicos, mas há outras que são exclusivas a determinadas regiões portuguesas. Durante o domingo de Ramos (domingo antes da Páscoa), os habitantes de muitas aldeias do distrito da Guarda têm como tradição não comer verduras nem irem às hortas. Benzer o ramo No domingo de Ramos, os afilhados devem levar um ramo à igreja para ser benzido pelo pároco local com água benta. No mesmo dia, este ramo é oferecido à madrinha e/ou ao padrinho. O tipo de ramo varia em várias localidades portuguesas, sendo que um dos mais comuns é o ramo de oliveira.

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Folar de Chaves, exemplo de folar oferecido aos afilhados

Oferecer o folar

Folar de Páscoa, zona de Lamego

O padrinho e a madrinha de batismo, que no domingo de ramos receberam o ramo, têm o dever especial de no próprio dia de Páscoa entregarem ao afilhado o folar de Páscoa. Este “folar” tanto pode ser a iguaria gastronómica com o mesmo nome (ex: folar de Chaves ou folar de Olhão), como uma prenda ou mesmo dinheiro. Desfazer o folar Convívio das famílias na segundafeira a seguir à Páscoa, no qual a comida que restou das celebrações do dia anterior é levada para uma zona ao ar livre (num parque de merendas ou junto a um rio), e é feito um piquenique. Esta tradição é praticada em concelhos em que este dia é feriado municipal, como Freixo de Espada à Cinta e Penamacor.

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Bolo dormido

Pão de ló


VISITA PASCAL

A MANHÃ EM QUE JESUS BATE À PORTA DOS PORTUGUESES

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ompasso ou visita pascal. Dois nomes para a mesma prática, provavelmente a mais original entre as que ocorrem em Portugal durante a Páscoa. Em centenas de localidades por todo o país, com principal incidência em aldeias nortenhas, Jesus Cristo bate à porta dos portugueses na manhã em que se assinala a ressurreição do redentor.

Crianças participam na visita pascal em Pico do Tanoeiro, aldeia madeirense no concelho de Santana

O som de uma sineta, normalmente tocada por um jovem, anuncia a chegada do pároco local, acompanhado por um conjunto de acólitos, um dos quais com um crucifixo. O itinerário a seguir por esta comitiva é ditado pelas inscrições para receber a visita. Nalguns pontos do mapa o número das inscrições comprova a desertificação da povoação, o que é mais comum nas aldeias do interior. Noutros, as inscrições são tantas, que outros católicos são chamados a replicar a tarefa do padre. Outra alternativa passa por alargar a prática do compasso à segunda-feira ou ao domingo seguinte, também conhecido como Pascoela. As provas do valor que alguns católicos dão “à visita do Senhor” exprimem-se de diferentes formas. Há quem escolha esta época do ano para pintar

o exterior da casa, como há quem encha de pétalas o chão do percurso desde o portão do jardim até à porta de casa. Algumas famílias enchem as mesas de comida e bebida, e convidam os visitantes a entrar e conviver. O padre ou um dos acólitos encarregase de benzer a casa e todos os membros da família. “Casa benzida é casa abençoada”, diz a sabedoria popular. Para alguns católicos este ritual anuncia uma etapa da sua vida, libertando-os assim de todas as angústias e preocupações anteriores.

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Terminada a bênção, os residentes beijam o cr ucif ixo, a começar pelo chefe de família, como prova da adoração a Cristo. No f inal dão o seu contributo para ajuda da Igreja, o chamado folar, que pode ser em dinheiro ou em géneros. Estes são os principais passos que retratam o compasso, a manhã em que Jesus bate à por ta dos por tug ueses. “A paz esteja nesta casa. Cristo Ressuscitou, aleluia, aleluia”.

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DESTAQUE

Páscoa, A FESTA À VOLTA DA MESA Isabel Zibaia Rafael, que assina o blogue www.cincoquartosdelaranja.com e os livros Cozinha para Dias Felizes e Delicioso Piquenique, partilha com a diáspora as práticas gastronómicas que marcam a Páscoa em diversas regiões portuguesas. A autora ensina a fazer as suas receitas no programa televisivo A Praça, transmitido para todo o mundo pela RTP Internacional.

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s tradições religiosas influenciam os desejos e as vontades à volta da mesa e mesmo os que não são praticantes, seguem os hábitos e os costumes das festas. A seguir ao Carnaval entra-se no período de Quaresma, com um adeus ao consumo de carne. Mas a Páscoa quebra o jejum e a abstinência nos repastos. A chegada da primavera inspira a uma mesa farta nesta altura do ano. E a Páscoa, que representa a ressurreição de Cristo, é sinónimo de festa em família, é tempo de pôr fim à penitência da mesa e celebrar a vida. De norte a sul do país encontramos tradições gastronómicas associadas a esta época festiva em que se destacam ingredientes como as amêndoas, o borrego, o cabrito, o galo, o leitão e um dos grandes símbolos desta quadra, o ovo, sem esquecer o pão e o bom vinho que por cá se produz. Em algumas localidades do centro e norte do país há até um enterro simulado do bacalhau, realizado sempre na Sexta-feira Santa, feito com muita animação.

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Folar de rosas com doce de gila e amêndoa

Pão-de-Ló de Alfeizerão

Bolinhos de amêndoa

Ovo, um dos símbolos da Páscoa O ovo é um dos símbolos da Páscoa. De há uns anos para cá, são muito comuns os ovos de chocolate, alguns recheados com pequenas surpresas que fazem as alegrias das crianças, assim como os coelhos, figura associada também a esta quadra. Diz a lenda que uma mulher pobre coloriu alguns ovos para oferecer aos filhos e os

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escondeu. Quando as crianças os descobriram, apareceu um coelho a correr desenfreado. E foi assim que nasceu a ideia de que o coelho tinha trazido os ovos. O ovo simboliza a fertilidade, contém em si o germe de uma nova vida, associa-se ao nascimento e à renovação. São muitas as receitas pascais em que o ovo aparece, tanto na preparação como enquanto elemento decorativo.


Saiba mais Na versão digital da revista, clique em cima das palavras sublinhadas para aceder às respetivas receitas no blogue www.cincoquartosdelaranja.com

Isabel Zibaia Rafael

Perna de borrego assada no forno com alecrim

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Ingredientes para 6 pessoas

Encontramos uma variedade de folares doces e de folares de carnes feitos para partilhar à mesa nesta época do ano. Dos folares doces gosto particularmente deste folar de rosas com doce de gila e amêndoa. E com ovos faz-se também o bolo ninho, com cobertura de doce de ovos ou chocolate e no meio um ninho recheado com fios de ovos e amêndoas.

• 1 perna de borrego (1,5 kg) • 4 dentes de alho • 2 hastes de alecrim • 500 g de batatas • 450 g de tomate • 100 ml de azeite • 100 ml de vinho branco • 1 pitada de piripiri moído • Sal e pimenta-preta q.b.

Tradicional é também o Pão-de-ló. Encontramos entre outros, os muito apreciados, Pão-de-ló de Alfeizerão e o Pão-de-ló de Margaride. Dependendo da zona marcam presença habitual na mesa portuguesa nesta altura do ano.

1. Cortar os dentes de alho em quatro. 2. Fazer pequenos cortes na perna de borrego e colocar o alho. 3. Retirar os pequenos raminhos das hastes de alecrim. Fazer pequenos cortes na carne e colocar o alecrim. 4. Temperar a carne com sal, pimenta e um pouco de piripiri. 5. Descascar e cortar as batatas ao meio.

Amêndoa, parte da tradição Um dos ingredientes mais utilizados na Páscoa é a amêndoa. Faz parte da tradição dar e receber amêndoas à família e aos amigos, num gesto de partilha e amizade. A oferta no mercado é variada, encontramos cobertas com açúcar, lisas e coloridas, com chocolate, com canela. De grande renome são as amêndoas cobertas de Torre de Moncorvo, de fabrico artesanal, e as de Portalegre feitas com amêndoa da região. Este fruto seco no cristianismo simboliza Jesus Cristo, a natureza humana oculta a sua natureza divina, assim como a casca dura esconde o fruto doce e suculento. Por isso, a amêndoa entra na confeção de muitos doces de Páscoa como estes bolinhos de amêndoa.

Preparação:

Colocá-las num tabuleiro de forno. Por cima, dispor a perna de borrego. 6. Regar com o vinho branco e de seguida com o azeite. 7. Levar ao forno pré-aquecido a 200ºC durante 1h45 minutos. 30 minutos antes, colocar o tomate cortado em gomos no tabuleiro. 8. Retirar do forno. Deixar descansar cerca de 10 minutos e servir.

Pão-de-ló Ingredientes • 6 ovos • o mesmo peso dos ovos de açúcar • metade do peso dos ovos de farinha Preparação: 1. Bater os ovos muito bem. 2. Adicionar o açúcar e bater novamente muito bem. 3. Envolver a farinha cuidadosamente. www.cincoquartosdelaranja.com/2011/03/desafio-conteme-sua-receita.html

A Páscoa é tempo de juntar a família à mesa!

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4. Untar uma forma de buraco com manteiga e levar durante 40 minutos ao forno pré-aquecido a 190ºC. 8. Retirar do forno. Deixar descansar cerca de 10 minutos e servir.

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DESTAQUE

Sugestões

Nesta Páscoa celebre Portugal Portugal é um país cheio de tradições. A celebração da Páscoa é uma delas. Se é padrinho ou madrinha deve preparar-se para esta época festiva, cuja tradição diz que deve oferecer algo aos seus afilhados no Domingo de Páscoa. A Revista PORT.COM ajuda-o nesta (difícil) escolha.

Para o afilhado saudável Para o afilhado mais novo

Azeite biológico

Esqueça as tradicionais amêndoas ou o ovo de chocolate de sempre e opte por este delicioso sortido de bonecos de chocolate de leite, da Arcádia, para surpreender os mais pequenos.

O Acushla é um azeite de Trás-osMontes, equilibrado, um pouco frutado com um amargo e picante ligeiros. Apresenta uma cor verde-amarelada e vem nesta garrafa de inox, reutilizável, e que lhe confere o estatuto de prenda gourmet.

PVP: 10,50€ http://www.arcadia.pt

PVP: 12,90€ http://loja-azeite-biologico.acushla.pt

Bonecos em chocolate

Para o afilhado desportista

Campainha made in Portugal

A Happy Bicycle tem a prenda perfeita para quem adora bicicletas: campainhas de bicicleta inspirada no tradicional galo de Barcelos. PVP: 9€ www.happybicycle.pt/

Para a afilhada apaixonada pela natureza

Cesta de piquenique

Para a afilhada na moda

Berloque Dourado Sardinha

A primavera está a chegar e, com ela, chegam os piqueniques. A pensar nas celebrações da vida ao ar livre, a marca portuguesa Anita Picnic desenvolveu cestas feitas à mão, originais e com padrões desenhados em exclusivo

Esta peça, vendida por “A Vida Portuguesa”, vem do Museu do Ouro de Travassos e tem o trancelim de lantejoulas de ouro, fabricado em Portugal há 2.000 anos. Uma marca da história da extraordinária ourivesaria minhota.

PVP: 98,50€ www.anitapicnic.com

PVP: 16€ www.avidaportuguesa.com

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T

TIAGO RENTES

URISMO

VISITAR FREIXO DE ESPADA À CINTA PELA PÁSCOA Na pequena vila do distrito de Bragança pratica-se um ritual pascal que lhe é exclusivo. Os Sete Passos fazem descer até à terra de Guerra Junqueiro um ambiente sinistro e até arrepiante. O Rebentar do Judas, os bolos dormidos e o dia da desfeita do folar são outros elementos distintivos durante a época. TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

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TURISMO

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reixo de Espada à Cinta é uma das localidades portuguesas que preservam um vasto conjunto de tradições pascais que a distinguem da generalidade do país. Não se trata apenas do compasso, que é praticado pelo pároco local, ou de um folar característico. Existem tradições que lhe são exclusivas, como é o caso da confeção de bolos dormidos e sobretudo da realização dos Sete Passos. Desenganem-se aqueles que pensem que a procissão Ecce Homo, na Semana Santa de Braga, é a mais sombria e até arrepiante das tradições pascais portuguesas. Os Sete Passos de Freixo de Espada à Cinta criam um ambiente ainda mais sinistro, tanto através da imagem como pelos sons transmitidos. Nas sete sextas-feiras da Quaresma, ou seja, entre o Carnaval e a Páscoa, a partir da meia noite são apagadas todas as luzes da vila. Ao contrário do que acontece em Braga, aqui os cidadãos não estão autorizados a circular pelas ruas. O acesso a estas torna-se limitado, com protagonismo para um conjunto de homens locais tornados irreconhecíveis por estarem encapuchados de negro. Dois destes homens arrastam pelo chão de granito, a um compasso certo de sete vezes, diversos ferros unidos por uma corrente, que causam um som estridente, para alguns até medonho. Segue-se um outro elemento também irreconhecível pelas vestes pretas, que caminha muito lentamente vergado sobre si mesmo, com uma lamparina acesa numa mão e noutra uma vara na qual se apoia. Chama-se a “Velhinha”. Ao pescoço transporta uma bota (reci-

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Igreja Matriz, ponto de partida e de chegada da procissão do domingo de Páscoa. À esquerda pode ver-se a Torre do Galo e o freixo que dá nome à vila

piente) de vinho para dar de beber aos populares que se ajoelhem e solicitem respeitosamente o sangue de Cristo.

Bolos dormidos a cozer em forno de lenha

Atrás da “Velhinha” segue um grupo de cantadores que entoa cânticos em Latim e Português alusivos à morte de Cristo. Este ambiente de mistura entre o religioso e o pagão torna-se ainda mais fúnebre devido à passagem obrigatória por todos os cruzeiros da vila. As procissões e o “traidor” a explodir

Matriz, que ainda assim demora cerca de duas horas a ser percorrido.

A Procissão dos Passos, realizada na sexta-feira santa, é bem mais concorrida do que os Sete Passos, porque assim é permitido. Os locais reúnem-se num curto trajeto inferior a 100 metros, entre a Igreja da Misericórdia e a Igreja

No domingo de Páscoa há uma outra procissão, que a meio do percurso se cruza com mais um momento característico da época em Freixo de Espada à Cinta, o Rebentar do Judas. Um boneco de palha do tamanho de um homem é

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TIAGO RENTES

A “Velhinha” dos Sete Passos

Rebentar do Judas

pendurado a uma árvore, com explosivos no seu interior. Quando a procissão passa por este local, o rastilho é acesso e o boneco explode, com a população a aplaudir por ver vingada a morte de Cristo. Terminada esta procissão matinal, os conterrâneos de Guerra Junqueiro recolhem a casa para o almoço de Páscoa. Depois do cordeiro, o prato mais comido na região durante este dia, chegam à mesa os bolos dormidos, que simbolizam o folar em Freixo. Levar os dormidos e as empadas à Congida Os dormidos, que são bolos doces cozidos em forno de lenha, devem o nome ao processo de confeção praticado nos tempos idos, quando eram amassados à mão pelas mulheres da região e que com a ajuda de fermentos caseiros levavam horas a levedar, ou seja, “demoravam a acordar”. Para além destes, da gastrono-

Empada freixenista pronta a ser levada para a desfeita do folar

mia local típica da época fazem parte as empadas de carne. As freixenistas que confecionam os dormidos e as empadas, fazem-no já a contar com o piquenique da segundafeira a seguir à Páscoa, que é feriado municipal. As famílias levam comida e bebida para o campo, preferencialmente para a praia fluvial da Congida, que é banhada pelo Douro, ou também para o Penedo Durão, um miradouro impressionante sobre o mesmo rio. A este hábito chama-se a desfeita do folar.

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Quem não tiver casa própria ou família em Freixo de Espada à Cinta, e queira passar a Páscoa à freixenista, pode ficar alojado também na Congida, concretamente nas moradias do Douro Internacional, pequenas casas com vista para o rio que mais território percorre em Portugal e para a margem da vizinha Espanha, a apenas três quilómetros do centro da vila. No regresso a casa, a paisagem encarrega-se de fazer o convite para um regresso, por exemplo em época de amendoeiras em flor. Convém guardar espaço na mala do carro para transportar as laranjas, o vinho e o azeite da região.

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SARA ALVES

Congida, a praia fluvial no Douro onde os freixenistas desfazem o folar


TURISMO

Breves

Funchal no 10.º lugar da reputação hoteleira a nível mundial No ranking do motor de busca Trivago das 100 cidades com melhor reputação hoteleira do mundo, pela primeira vez uma cidade portuguesa ficou entre os dez primeiros. O Funchal ficou precisamente no 10.º lugar. Porto e Lisboa são as outras cidades portuguesas na lista, nos 48.º e 52.º lugares, respetivamente. O ranking é liderado por Göreme, na Turquia. Destinos como Paris, Londres e Barcelona ficaram fora dos 100 primeiros.

Dois hotéis madeirenses entre os 20 melhores da Europa O portal TripAdvisor não tem qualquer ligação empresarial ao Trivago, mas os utilizadores de ambos parecem concordar na qualidade da oferta hoteleira madeirense. Na edição de 2016 dos prémios Traveller’s Choice, atribuídos de acordo com as classificações atribuídas no TripAdvisor, o Hotel Albergaria Dias, no Funchal, ficou no 12.º lugar dos melhores hotéis da Europa, poucos lugares à frente de outro hotel da capital madeirense, a Quinta Jardins do Lago.

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Britânicos e franceses são os que mais visitam os parques de Sintra Os nove parques e monumentos sob gestão da Parques de Sintra, localizados no município sintrense, receberam 87,35% estrangeiros entre os mais de dois milhões de visitas (2 233 594) em 2015. Os países com maior expressão foram o Reino Unido (19,25%), França (13,24%), Portugal (12,65%) e Espanha (11,43%). O Palácio Nacional da Pena (na foto) é o polo que recebe o maior número de entradas, sendo que no ano passado ultrapassou pela primeira vez um milhão de visitas – 1 082 736.

Companhia brasileira Azul prepara ligação a Lisboa A 3.ª maior companhia aérea do Brasil anunciou recentemente a sua primeira ligação para a Europa, entre Campinas, em São Paulo, e Lisboa. O início está marcado para 4 de maio, com uma rota de três voos por semana. A operação será realizada com aviões Airbus A330.

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Passadiços do Paiva voltam a receber turistas O passadiço sobre as escarpas do rio Paiva, em Arouca, reabriu ao público em fevereiro, com a afluência limitada a 3 500 visitantes diários, o que passou a obrigar ao controlo das entradas, que agora custam um euro. A estrutura de 8 km inaugurada em junho rapidamente se tornou uma atração turística da região, pela sua paisagem natural ao longo das margens do rio e através de áreas até então intocadas, mas cerca de 600 metros desse percurso foram destruídos em setembro num incêndio.


OS NOVOS VOOS QUE CHEGAM E PARTEM DO PORTO Com mais TAP ou menos TAP, o Aeroporto Francisco Sá Carneiro conta com novas rotas, e o reforço de outras já existentes, promovidas por companhias aéreas internacionais. Madrid, Valencia, Lyon, Dublin, Londres, Liverpool e Varsóvia são os destinos para e desde os quais aumenta a oferta.

Ryanair reforça para oito cidades

British Airways multiplica ligação a Londres

A companhia aérea de baixo custo vai reforçar a sua operação no Porto, estratégia na qual inclui três rotas suspensas pela TAP: Bruxelas, Milão e Barcelona. Passará a voar para a cidade espanhola duas vezes por dia, e para cidade italiana 11 vezes por semana. Na capital da Bélgica haverá reforços em dois aeroportos, que somarão 15 voos semanais. Madrid, Valencia, Dublin,

A British Airways tinha saído do Porto há 15 anos, regressou em 2014 com dois voos semanais para Heathrow, mas a partir de dia 26 deste mês passa a ter voos diários entre o Aeroporto Sá Carneiro e Londres/Gatwick. A companhia aérea tem publicitado na imprensa britânica os seus voos de Londres para o Porto, prova da aposta que está

Liverpool e Varsóvia são as outras cidades para as quais as rotas da Ryanair serão reforçadas.

Aigle Azur cria rota para Lyon A companhia aérea privada francesa vai reforçar a sua oferta para o Porto com o lançamento de uma nova rota de e para Lyon. A nova ligação, que se estreia dia 27 deste mês, vai contar com três voos por semana, às quintas, sextas e domingos. Portugal é o segundo destino mais importante para a Aigle Azur a seguir à Argélia.

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a fazer na cidade Invicta.

Wizz Air chega desde Varsóvia A companhia aérea polaca de baixo custo vai passar a ligar Varsóvia ao Porto, depois de já ter começado a voar de e para Lisboa. A ligação tem início a 15 de maio, com dois voos semanais, às quartas e domingos.

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ULTURA

“FOI ENTRE A EMIGRAÇÃO PORTUGUESA QUE NASCEU O QUIM BARREIROS” No ano em que comemora 45 anos de carreira, Quim Barreiros prepara um disco novo (mantendo a tradição de lançar um por ano) e tem concertos por todo o mundo onde há compatriotas. Nem o recente caso de plágio por parte de um músico holandês lhe perturba o típico bom humor.

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ENTREVISTA: MÁRCIA DE OLIVEIRA

á atuou em quase todos os países onde existem as maiores comunidades portuguesas, desde a Austrália à África do Sul, Venezuela ou Angola. Diz mesmo que nos EUA e no Canadá, onde Joaquim de Magalhães Fernandes Barreiros viu nascer o Quim Barreiros, se sente como se estivesse em casa. O autor de êxitos como “A cabritinha”, “Chupa Teresa”, “Quero cheirar teu bacalhau” e “A garagem da vizinha” sentou-se à mesa do restaurante Oxalá, em Ovar, para conversar com a Revista PORT.COM. Este ano comemora 45 anos de carreira. Quando é que começou a atuar nas comunidades portuguesas?

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Comecei a receber convites quando tocava nas casas de fado em Lisboa, tinha 22 anos. Em 1971 recebi o convite, por parte do empresário Francisco Penha, para acompanhar o fadista António Mourão aos EUA e ao Canadá, na altura em que ele tinha um grande sucesso em Portugal com uma música chamada “Ó tempo volta para trás”. Foi a minha primeira saída para a emigração. E a partir daí nunca mais parei. Na sua opinião, existem particularidades que distingam enquanto público de um concerto os portugueses no estrangeiro dos portugueses que continuam em Portugal? Não acho que existam. Há só aquela

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parte mais emotiva, mais sentimental, o estarem longe da terra. Mas também já me apercebi de uma coisa importante: via mais apego há anos atrás, mais sentimento de saudade, porque antigamente não havia nada e hoje as televisões entram na casa deles todos os dias, o que os mantém mais informados, mais junto de nós. A Internet também veio ajudar, eles agora falam com a família pelo WhatsApp e pelo Skype quase todos os dias. Portanto a saudade diminuiu um bocadinho, embora, ainda hoje corra todas as comunidades nas grandes festas portuguesas, seja nos Estados Unidos, Canadá, Venezuela, Brasil, Austrália, África do Sul, Angola e toda a Europa.


Fotografia com portugueses no Centro Cultural Português de Danbury, no Canadá

“O FACTO DE VER A ALEGRIA NA CARA DOS PORTUGUESES QUE ESTÃO EMIGRADOS QUANDO ME OUVEM A CANTAR, E DE CONSIDERAREM QUE LEVO UM POUCO DE PORTUGAL AOS SEUS PAÍSES DE ACOLHIMENTO, PARA MIM JÁ É UM BOM MOTIVO PARA TORNAR OS CONCERTOS INESQUECÍVEIS” Sempre com muita música e alegria. E a minha música serve realmente para uma grande festa da emigração. Fora do país não são só as comunidades portuguesas que apreciam a sua música. Também há, por exemplo, muitos galegos que são seus seguidores. Considera-se um embaixador da proximidade entre a língua portuguesa e a galega? Há muitos galegos que gostam do meu trabalho e da nossa música portuguesa, porque normalmente os galegos estão associados a nós e estão presentes onde há emigração nossa. Basta olhar para o Ca-

nadá, para a Venezuela ou para o Brasil. Onde há um bom restaurante português, também há um galego ao lado, onde há uma padaria portuguesa, ao lado há um supermercado onde o sócio é galego. É um povo irmão, por isso damo-nos muito bem com eles. Não me considero um embaixador, embora na Galiza me estejam sempre a convidar para ir aos programas de televisão, até porque tenho um grande sucesso lá que é a “Cabritinha”, mas não tenho muita vida para isso. Quais são os concertos que deu no estrangeiro que se tornaram inesquecíveis? Porquê?

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Ando há mais de quatro décadas a fazer concertos em tudo o que é sítio, já percorri as comunidades portuguesas em todo o mundo de forma destemida. E, normalmente, sou bem-recebido em todo o lado. Por isso todos os concertos são inesquecíveis para mim. O facto de ver a alegria na cara dos portugueses que estão emigrados quando me ouvem a cantar, e de considerarem que levo um pouco de Portugal aos seus países de acolhimento, para mim já é um bom motivo para tornar os concertos inesquecíveis. Mas talvez sejam os concertos da América do Norte que me deixam mais marcas, porque é como se estivesse em casa. Afinal foi no Canadá e nos EUA, entre a emigração portuguesa, que nasceu o cantor Quim Barreiros, depois de, como já disse no início, ter sido convidado pelo Francisco Penha, que estava em New Bedford, para ir fazer os meus primeiros concertos fora de Portugal. Considera que a indústria da música portuguesa seria a mesma se não existissem os emigrantes? Todos os portugueses são importantes para divulgar a música portuguesa, estejam em Portugal ou em qualquer outra parte do mundo. Os emigrantes são os portugueses que levam a música nacional mais longe, porque é sobretudo por causa deles, para estarmos mais perto deles, que levamos as nossas músicas a todos os países onde existem comunidades portuguesas. Ensinar o Português… e a malandrice Haver muita emigração de portugueses é um ponto a favor ou contra o país?

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CULTURA

A emigração faz parte do povo português. No século XV começámos a navegar e a descobrir o mundo e nunca mais parámos. Por vezes há partidos que se servem da emigração para desculparem o facto de as pessoas terem de ir para fora de Portugal. Eu acho que até é bom que emigrem e digo isso mesmo ao meu filho: “Vai-te embora daqui para fora, vai à América, vai ao Canadá, vai ali, vai acolá”, porque é muito bom para esta gente nova abrir os olhos para o mundo que está lá fora. Assim eles podem aprender uma língua diferente como o Inglês, que hoje é fundamental, ganham dinheiro e conhecem novos amigos. Isto é muito importante para a malta nova, como era importante o serviço militar, que acabou e eu sou contra isso. Toda a gente devia cumprir um ano de serviço militar para tirar o pessoal das aldeias, para os juntar, para formarem amizades e abrirem os olhos. Se não fosse a tropa, eu não era o Quim Barreiros. O Minho, de onde é natural e onde reside, é uma região onde muitos emigrantes voltam no verão. O que lhe dizem quando se cruzam consigo na rua? Não dizem nada, querem é tirar fotografias, tirar as selfies, pedem autógrafos, admiram-me, gostam de mim. Se me admiram lá, nas comunidades, também me admiram aqui, não é? [risos] Pela sua experiência, nota diferenças no discurso e na forma de vida dos emigrantes ao longo dos tempos? Acha que agora vivem melhor do que antigamente, que a integração é mais fácil ou que a saudade não é tanta? Não acho que o discurso seja diferente, porque existe sempre a chamada

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Quim Barreiros junto do seu amigo Fernando Tavares Pereira, com parte da equipa do restaurante onde foi entrevistado pela Revista PORT.COM

“saudade” tão característica dos portugueses. No entanto, esta emigração mais recente já tem mais cultura. Hoje a malta mais nova vai, emigra e vive a vida, não é como antigamente quando iam para trabalhar e poupar para voltar para Portugal. Agora aqueles que querem comprar uma casa já compram lá, não voltam para cá, porque a ideia deles já passa por se integrarem nesses países. Considera que a música é um elemento importante para a preservação da língua portuguesa entre os lusodescendentes? De que forma? Claro que é. Eu vendo muitos discos aos lusodescendentes, que ao cantarem as minhas músicas aprendem o Português e também a malandrice [risos]. A língua é um veículo de união e a música é um elo muito importante.

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A ajuda do povo para escrever canções Onde é que se baseia para escrever letras de um humor tão genuíno e particular como as suas? Isto é uma característica que já é nossa, eu não inventei nada. Quem estudou Português sabe que na nossa literatura antiga estão as cantigas de amigos, as cantigas de maldizer, o duplo sentido… Está lá tudo. Eu só pego nisso, que não havia nas músicas, e dou-lhe outra roupagem. No panorama musical de Portugal, faltava alguém que seguisse esse caminho, e eu “agarrei” nele. Além disso, o próprio povo também me ajuda, porque me vão dando ideias quando passo pelas diversas terras onde atuo. Uma dessas ideias veio do reitor da Universidade de Vila Real, o Mascarenhas. Ele deu-me a ideia do “depois do 31 de julho entra (a) gosto” para a música “O melhor dia para


“FIQUEI MUITO CONTENTE POR UMA DAS MÚSICAS QUE LANCEI EM PORTUGAL TER SIDO TOCADA NA HOLANDA, E DEUS PERMITA QUE SEJA TOCADA POR TODO O MUNDO. ISSO É BOM PARA MIM”

casar”. E daí surgiu a canção que ainda hoje é um sucesso. E há muitos noivos neste país, que procuram essa data para casar, exatamente devido à cantiga. Alguma vez se inspirou nos portugueses que estão lá fora para fazer uma canção? Na emigração? Não, por acaso acho que não, mas é uma boa ideia para uma das próximas canções.

O Quim Barreiros tão depressa atua numa num arraial numa cidade, numa festa de aldeia, numa semana académica ou no estrangeiro para as comunidades. A sua música passa em novelas e até filmes. Considera-se o músico português capaz de chegar a mais diversos tipos de públicos? Considero, porque é como acabaste de dizer, tanto toco numa queima das fitas, como toco na aldeia mais remota de Portugal em cima de um trator. Por isso, não tenho qualquer tipo de problema em afirmar que chego a diversos públicos.

Onde tem espetáculos previstos para março e abril?

Quem foram os seus mentores?

Em março vou visitar as comunidades portuguesas no Brasil e no dia 2 de abril vou estar no sudeste de Paris, em Brie-Comte-Robert, para um grande espetáculo. Em novembro vou ainda fazer uma digressão pelas comunidades portuguesas nos EUA, que vai passar por Newark e outras cidades dos estados do Connecticut, Massachusetts, Virginia e Pensilvânia.

Eu tive a felicidade de, na minha vida, ter encontrado grandes músicos portugueses que, quando eu errava, chamavam-me à atenção. Eu gostei de trabalhar com o Fernando Ribeiro, campeão do mundo do acordeão, que me ensinou muito, Francisco José, o Tony de Matos, o guitarrista Jorge Fontes… Homens que me ensinaram a ser homem.

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Recentemente utilizou a sua página no Facebook para mostrar uma música holandesa cujo ritmo é tal e qual “Garagem da Vizinha”. Como é que encarou esta situação de plágio? Não fui eu que mostrei, até foi o meu filho que colocou lá isso, porque eu ainda sou um homem à antiga, não utilizo muito essas modernices do Facebook. Eu até acho que é uma situação bonita, e não de plágio. Fiquei muito contente por uma das músicas que lancei em Portugal ter sido tocada na Holanda, e Deus permita que seja tocada por todo o mundo. Isso é bom para mim. Disco novo nas próximas semanas Em média costuma lançar um disco por ano. O de 2016 já está pronto? Quando será lançado? Não, ainda não está pronto. Só será lançado entre abril e maio deste ano. Ainda não quero falar sobre isso, porque estou num país onde, se eu abrir a boca antes que “a festa saia”, já vem outro fazer uma cantiga parecida. Quais são os músicos portugueses que mais aprecia? Gosto muito dos autores portugueses como o Rui Veloso, o Abrunhosa, o Jorge Palma, o Paulo Gonzo, também gosto de algumas músicas do Tony Carreira, fados do Carlos do Carmo, da Ana Moura… Gosto daquilo que é bom, do que entra cá dentro. Fora da música, tem alguns projetos para o futuro ? Projetos futuros é ter saúde e umas férias ao sol [risos]. E isso é que é o meu gozo, depois o resto vem por acréscimo.

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CULTURA

SEIS ANOS DE RECORTES RESULTAM EM RETRATO DE CRISTIANO RONALDO Victor Costa guardou, durante seis anos, todos os artigos da imprensa que encontrou sobre CR7, matéria-prima que deu origem a uma das obras do seu reportório. O pintor conimbricense deseja oferecer um quadro ao futebolista.

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m Coimbra existem dois quadros de tamanho generoso que retratam Cristiano Ronaldo, sob o nome “CR7 Imprensa” e “CR7 – O horizonte é o limite”. O primeiro dos dois, ambos da autoria do conimbricense Victor Costa, foi feito com base em seis anos de recortes de imprensa alusivos ao capitão da seleção portuguesa de futebol. “Recortei e guardei tudo o que via na imprensa sobre Cristiano Ronaldo. A ideia era reconstruir a imagem dele através do que a imprensa nos relata”, recorda o artista, que tem trabalhos em exposição numa galeria no piso térreo da Torre do Arnado, na cidade dos estudantes. Feita a recolha de imprensa, foi “só” selecionar as fotografias de acordo com as tonalidades, para delinear o rosto, colar e, com recurso à técnica das aguarelas, terminar o trabalho de mestre. O segundo quadro, “CR7 – O horizonte é o limite”, foca o olhar o futebolista madeirense. Na opinião do pintor, a am-

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bição e a perseverança de CR7 são “provavelmente aquilo que mais o identifica com a comunidade portuguesa, essa força de vencer quando nos atiramos ao trabalho com objetivos, com foco, de darmos o possível e o impossível para termos sucesso”. Os quadros já justificaram a troca de contactos com elementos da Gestifute

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(a empresa de Jorge Mendes, o principal agente de CR7) e ligados ao museu itinerante sobre o futebolista. Victor Costa sabe que Cristiano Ronaldo já viu fotografias dos quadros e aguarda por uma oportunidade para lhe oferecer um. Quem sabe se não poderá fazê-lo como agradecimento à conquista do próximo Europeu de futebol.


Breves

Inscrições para concurso de novos escritores lusófonos disponíveis até ao final do mês As candidaturas para o Prémio Literário UCCLA - Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa estão disponíveis até 31 de março. Esta iniciativa da pretende estimular a produção de obras literárias em língua portuguesa por novos escritores. O autor vencedor será convidado a participar no Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, promovido anualmente pela UCCLA (União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa). O regulamento do concurso está disponível em www. uccla.pt/premio-literario-uccla

Prémio de fotografia sobre Santuário de Fátima

Jonathan, um adolescente com dificuldades de integração na escola luxemburguesa, é um dos portugueses retratados no documentário

Documentário sobre portugueses no Luxemburgo chega aos cinemas “Eldorado”, o primeiro filme sobre a imigração portuguesa no

Cristina Branco leva fado a festival literário em Macau A fadista atua a 12 de março no Centro Cultural de Macau, a convite do Festival Literário Rota das Letras, que leva ainda até à cidade chinesa uma interpretação de “Os Lusíadas”, por parte do ator António Fonseca. O poeta português Camilo Pessanha, que faleceu há 90 anos, será homenageado nesta quinta edição do festival organizado pelo jornal Ponto Final, que decorre entre os dias 5 e 19 deste mês.

Luxemburgo, chega aos cinemas luxemburgueses a partir de 16 de março. Durante três anos, os realizadores Thierry Besseling, Loïc Tanson e Rui Abreu (este último português) acompanharam a história de quatro imigrantes lusófonos (três portugueses e um caboverdiano) à procura do “Eldorado” luxemburguês. Depois da antestreia no Festival de Cinema do Luxemburgo, em fevereiro, este mês vai ter várias sessões de exibição nos cinemas Utopolis na cidade do Luxemburgo e em Belval.

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O Santuário de Fátima convida todos os fotógrafos, nacionais e estrangeiros, amadores e profissionais, a participar no prémio de fotografia que integra o programa de celebrações do Centenário das Aparições. O concurso inclui quatro categorias (“Retrato Humano”, “Paisagem”, “Espiritualidade e Mensagem: práticas e ritualidade” e “Fotonarrativa”), todas premiadas monetariamente. O melhor trabalho no conjunto das categorias também será premiado. Os autores podem concorrer com um máximo de dois trabalhos fotográficos por categoria, até 13 de outubro deste ano. O regulamento completo pode ser consultado em www.fotografia. fatima.pt.

Lisboa capital Iberoamericana da Cultura em 2017 A maior cidade portuguesa vai ser a Capital Ibero-americana da Cultura em 2017, na sequência de uma candidatura apresentada na qualidade de membro da União das Cidades Capitais IberoAmericanas (UCCI). Este acontecimento proporcionará a realização de vários eventos que associem as culturas dos países ibéricos, da América Central e do Sul.

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ESPORTO

SELECIONADOR EM DOSE DUPLA NO BAHREIN João Almeida é o treinador principal das seleções de futsal e futebol de praia de um país onde não há Ricardinhos nem Madjers, mas todos conhecem Cristiano Ronaldo e Mourinho. No pavilhão ou no areal, são vários os desafios que compõem a carreira deste conimbricense de apenas 29 anos. TEXTO: LUÍS CARLOS SOARES

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icardinho é o melhor do mundo com uma bola nos pés dentro do pavilhão, mas na areia dificilmente conseguirá igualar as performances de Madjer. O primeiro é treinado na seleção portuguesa por Jorge Braz e o segundo por Mário Narciso. Apesar das diferenças assinaláveis entre futsal e futebol de praia, um mesmo português é o selecionador nacional do Bahrein nas duas modalidades.

O preparador-físico brasileiro José Carlos Ferreira e o treinador português João Almeida com os símbolos da federação do Bahrein

Desde meados de 2014 que João Almeida acumula os dois cargos num país onde o conjunto nacional de futebol de praia já conta com algum currículo (tendo participado em três campeonatos do mundo e sido número um a nível asiático entre 2005 e 2009), mas o de futsal dá apenas os primeiros passos. Foi nesta segunda modalidade

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Selfie com a seleção de futsal num estágio na Malásia

Seleção de futebol de praia antes de uma goleada contra o Qatar, por 6-1

Diferentes modalidades, diferentes objetivos que o conimbricense de apenas 29 anos começou o seu percurso como treinador, já há 12 anos. Da sua evolução profissional até ao primeiro projeto fora do país fizeram parte momentos como a temporada em que conduziu uma equipa composta por jogadores de bairros problemáticos de Coimbra até ao vice-campeonato nacional de juvenis: “Foi um feito gigante com todos aqueles miúdos, hoje grandes amigos, que chegavam a passar dias comigo a limpar o pavilhão, a lavar os equipamentos ou simplesmente a ver futsal”, recorda o treinador. Na altura acumulava várias funções dentro de uma só equipa, o Sport Conimbricense, o clube mais antigo de Coimbra. Agora, num país onde o luxo é um modo de vida, já não tem que fazer de roupeiro, massagista ou motorista. Mas também são muitos os desafios no papel de selecionador em dose dupla.

Quando chegou ao Bahrein nunca havia treinado uma equipa de futebol de praia. No entanto, descreve como “bastante simples” a adaptação à modalidade: “São completamente distintas, mas penso que o futebol de praia tem muito a ganhar com a introdução de algumas noções do futsal e é isso que tenho feito”, conta João Almeida. A comunicação com os atletas não é um constrangimento incontornável. Em árabe consegue “apenas pronunciar palavras específicas, ainda sem conseguir construir uma frase”, mas tem um tradutor e também transmite as suas ideias em inglês. O desafio mais moroso é o de “criar uma mentalidade competitiva nos atletas, em ambas as modalidades, o que aqui é um problema”. Mesmo assim, em pouco mais de um ano e meio, a renovação que tem imposto na equipa de futebol de praia, na qual já estreou seis jogadores, con-

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tribuiu para uma subida de 19 lugares, do 69.º para o 52.º, no ranking FIFA da modalidade, que é liderado por Portugal. A médio prazo deseja fazer com que a equipa volte a pisar o areal de um campeonato do mundo. No futsal, “que ainda é uma modalidade nova no país”, estão a ser dados passos no sentido de “a introduzir junto dos jovens através das escolas públicas, angariar mais atletas, dar-lhes mais experiência e iniciar os trabalhos da seleção sub-20”, para que se possa “profissionalizar a modalidade no espaço máximo de cinco anos”. Nomes do desporto que substituem Portugal Fora dos palcos desportivos, João Almeida também não teve dificuldades de adaptação ao Bahrein, onde “a qualidade de vida é naturalmente melhor, o tempo é sempre quente e há muita oferta em diversas atividades sociais, desde a programação cultural à animação noturna”.

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DESPORTO

Manter a barba para “não parecer uma criança” No futebol costuma apontar-se a barreira dos 30 anos como o início do declínio da generalidade dos jogadores. No futsal e no futebol de praia o “prazo de validade” dos praticantes costuma ser um pouco mais longo. Exemplo disso, o português Madjer celebrou o 39.º aniversário no final de janeiro. O atual detentor do troféu de melhor jogador de futebol de praia do mundo tem assim mais dez anos do que João Monteiro. Nos areais do Bahrein, o selecionador também treina jogadores que nasceram com uma década de antecedência. No entanto, isso nunca lhe pôs em causa a autoridade: “A mentalidade com que se aborda o trabalho e o relacionamento com os atletas, de proximidade e amizade com as devidas distâncias e regras de trabalho, permite que não existam problemas”. Porém, “uma situação engraçada” já derivou da juventude do treinador: “Uma altura desfiz a barba, ficando completamente sem ela, e no fim do treino um responsável federativo [Aref Almannai - na foto] pediu-me, de maneira bastante cómica, para a deixar sempre, de forma a não ter a aparência de uma criança”.

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Forte português Qal'at al-Bahrain, em Manama. “É um orgulho ver algo tão nosso tão longe”, considera o conimbricense

Neste arquipélago do Golfo Pérsico vivem cerca de 100 portugueses, “muitos com cargos de relevância incrível e profissões que devem orgulhar o nosso país”, sendo que aos fins de semana o número aumenta, “pois vêm vários da Arábia Saudita”. Esta comunidade portuguesa organiza esporadicamente jantares de convívio, sobretudo no dia de Portugal e no Natal. Todo um ambiente que já proporcionou que João Almeida e a esposa, também portuguesa, já tenham feito “amigos que levaremos para sempre connosco”. Dos habitantes locais, o conimbricense diz que “são pessoas bastante acessíveis, simpáticas e disponíveis”, que de Portugal conhecem sobretudo Cristiano Ronaldo e Mourinho, “nomes que por vezes substituem o do país”. No dia-a-dia do futebol de praia e do futsal, Madjer e Ricardinho são figuras “inevitáveis”.

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Também há os que ligam o nome do país aos Descobrimentos, até porque há um forte português no Bahrein, “uma obra fantástica e um dos principais pontos turísticos”. Os habitantes locais também costumam mostrar “um ar surpreso por Portugal ter sido tão grandioso no passado e hoje ser um país tão pequeno”. Regressar às origens é um plano a médio ou longo prazo para João Almeida. Antes disso há muitos objetivos a concretizar, em muitas praias e pavilhões. Tal como José Mourinho, Fernando Santos, Jorge Braz, Mário Narciso, entre tantos outros, é mais um treinador que leva o nome de Portugal às geografias mais distantes. A principal diferença é que o faz a dobrar.


Breves FUTSAL

Obras de arte de Ricardinho não passaram dos “quartos” Ricardinho deixou o mundo boquiaberto dois dos seis golos que marcou no EURO 2016 de futsal. Essas duas “obras de arte” foram alcançadas em jogos que a seleção portuguesa acabaria por perder. A equipa treinada por Jorge Braz não passou dos quartos de final, depois de ser goleada pela equipa que se tornaria campeã da Europa, a Espanha, por 2-6. Na fase de grupos, Portugal conseguiu uma vitória e uma derrota: goleou a Eslovénia, também por 6-2, e perdeu com a anfitriã Sérvia, por 3-1. O registo foi suficiente para garantir a passagem aos “quartos”. Foi no jogo contra a Sérvia que Ricardinho marcou um golo cujas imagens correram o mundo. O melhor jogador do mundo fez um drible inimaginável

A prestação da seleção portuguesa de futsal no campeonato europeu da modalidade ficou recordada por dois golos magníficos do melhor jogador do mundo

para a maioria dos humanos, com o qual passou a bola sobre um oponente sérvio, dominou com peito e terminou a jogada com um remate indefensável. No tal jogo com a Espanha voltou a fazer um golo apenas ao alcance dos predestinados, com uma “lambreta” sobre um jogador espanhol, seguido de um remate que saiu da biqueira do pé esquerdo e entrou na baliza ângulo superior direito. Os adeptos nas bancadas, de várias nacionalidades, com natural predominância de sérvios, renderamlhe uma ovação estrondosa. Como os resultados dos jogos de futsal não são ditados pela “nota artística”, mas sim pelo maior número de golos, Portugal não evitou voltar para casa a dois jogos da tão desejada final.

Nuno Dias renova com o Sporting

Padres portugueses sagram-se bicampeões europeus

A seleção nacional de futsal do clero sagrou-se campeã europeia pelo segundo ano consecutivo. Nenhuma das 12 equipas que se apresentaram na Clericus Cup, este ano disputada na Eslováquia, foi superior à portuguesa, o que permitiu a revalidação do troféu conquistado em 2015, na Áustria. Os padres lusitanos derrotaram os provenientes da Itália (2-0), Ucrânia (2-0), Bielorrússia (50, nos “quartos”), Bósnia (2-0, nas “meias”) e Polónia (2-1, na final). Os campeões são provenientes das dioceses de Vila Real, Viana do Castelo, Braga, Porto e Lamego.

Benfica conquista Troféu Padre Fontes O campeão nacional de futsal venceu a primeira edição do Troféu Padre Fontes, competição “amigável” que homenageia o pároco que se tornou célebre pela divulgação da medicina tradicional e da cultura transmontana, particularmente do Barroso. O jogo ganho pelo Benfica foi precisamente na capital desta sub-região, Montalegre, perante uma equipa do concelho, o Vilar de Perdizes. O resultado foi desnivelado, ao jeito de um famoso sketch dos Gato Fedorento: “quinze a zero”.

O treinador da equipa de futsal do Sporting estendeu o vínculo contratual que o liga ao clube por mais três épocas. Desde que chegou a Alvalade em 2012, proveniente do CSKA Moscovo, o técnico já conquistou dois campeonatos, uma Taça de Portugal, duas supertaças, e a primeira edição da Taça da Liga, já este ano, tornando-se o primeiro treinador português a vencer todas as competições nacionais.

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DESPORTO

Benfica quer abrir mais escolas de futebol na China

Assistir ao vivo a um jogo do FC Porto e passear pela cidade Invicta fazem parte do programa. Para além da viagem a Portugal, a escola organiza atividades extra em solo canadiano.

Jovens atletas Dragon Force Toronto visitam Porto

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primeira escola de futebol do FC Porto no Canadá ainda não conta um ano de existência, mas já está organizada a primeira viagem a Portugal. Uma equipa da Dragon Force Toronto - Bradford vai passar dez dias na cidade do Porto, entre 10 e 22 de março, período no qual os jovens alunos, nos quais se incluem alguns lusodescendentes, terão oportunidade de realizar um conjunto de atividades desportivas e turísticas. Os aprendizes de futebolistas terão oportunidade de treinar em instalações portuguesas do FC Porto e realizar jogos “amigáveis” contra outras equipas Dragon Force. Quando não estiverem dentro das quatro linhas, terão oportunidade de conhecer o Estádio Dragão e o museu do clube, assistir a um jogo da equipa principal (FC Porto – União

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da Madeira) e a outros da equipa B e de escalões de formação. Na componente turística estão previstas atividades como passeios pela cidade do Porto e refeições com comida tipicamente portuguesa. International Camp em Montreal Num mês particularmente ativo para a Dragon Force Toronto - Bradford, a escola também organiza uma atividade em solo canadiano que não faz parte do plano habitual de treinos. Trata-se de um International Camp na cidade de Montreal, durante as férias escolares, iniciativa que consiste numa semana de treinos intensivos (de manhã e à tarde), para crianças entre os seis e os 14 anos, distribuídas por escalões etários.

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O Sport Lisboa e Benfica assinou, em Shangai, uma parceria com o grupo económico chinês Fosun, com o objetivo de expandir o número de academias de formação de jovens futebolistas por todo o território do país mais populoso do mundo. A Gestifute, empresa de agenciamento de futebolistas liderada por Jorge Mendes, também participa no acordo. Atualmente o clube lisboeta já conta com uma escola em Hangzhou, cidade com mais de seis milhões de habitantes. Nessa academia cerca de 300 jovens praticantes de futebol, entre os oito e os 16 anos, evoluem sob o olhar atento de sete treinadores portugueses conhecedores dos processos de formação de futebolistas utilizados no Caixa Futebol Campus, no Seixal. Recorde-se que pelos escalões jovens do Benfica já passaram jovens chineses que se tornariam futebolistas profissionais, como os avançados Yu Dabao e Wang Gang.


Dubai

Astana, Cazaquistão Acra, Gana

Benguela, Angola

Sydey, Austrália Moscovo, Rússia

Portugueses pelo mundo querem o Sporting campeão

Maputo, Moçambique

São Paulo, Brasil

movimento a níComeçou por ser um ssa pa sso u a pre de e qu l, ve l na cio na tos do Sporting nos internacional. Adep neta ad eri ram à qu atro ca nto s do pla xa s qu e ma nifai de va ga de cri aç ão ver o clube lisboeta festam o desejo de de futebol. A Torcampeão português a Torre Bayterek , o re Eiffel, o Kremlin, ncia do Gana , a Esdê Arco da Indepen chel, o hotel Burj Al tátua de Samora Ma Sydney são alguns Arab e a Ópera de ticos pelo mundo dos loc ais emble má monstrações de de a que já assistiram

Paris, França

fé leonina.

Diu, Índia

sas

St. Barth, Antilhas France

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Miami, EUA


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ISCURSO DIRETO

CINCO MOTIVOS PARA VIVER NA HOLANDA Nascido e criado entre o Algarve e o Alentejo, Ricardo Valadas mudou-se para a Holanda em finais de 2014, num “período trial” de três meses. Gostou e decidiu “comprar a licença”. Vive em Amesterdão, onde é Software Developer.

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ão cada vez mais os que saem de Portugal à procura de uma vida melhor, por obrigação ou valorização pessoal/profissional. Na hora de escolher em que aeroporto aterrar, começam a surgir “motivos” para escolher determinado país ou outro. Neste contexto apresento cinco motivos pelos quais é bom viver na Holanda. 1 – Emprego Comparando com outros países europeus, a Holanda tem uma taxa de desemprego muito baixa. O salário mínimo tem números bastante diferentes aos de Portugal, ronda os 1 501,82€/ mês. De uma forma geral existe uma grande oferta de emprego em todas as áreas, mas aquela que mais posso falar é IT [tecnologias da informação], pois é onde estou. Amesterdão é um dos principais pólos de startups tecnológicas da Europa e há um mar de oportunidades gigante. 2 – Custo de vida O custo de vida na Holanda é elevado, é verdade, mas considerando o salário médio, pode compensar muito viver aqui. Amesterdão é a cidade mais cara da Holanda. Um quarto pode ficar entre os

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“TODA A CULTURA DO PAÍS, INCLUINDO OS PRÓPRIOS HOLANDESES, É RODEADA POR UM FORTE SENTIDO ORGANIZACIONAL. É POR ISSO QUE AS COISAS AQUI ACONTECEM, NÃO TENHO QUALQUER DÚVIDA” 400 e os 700€ por mês, um apartamento entre os 800 e os 1200€ por mês. A boa notícia é que, muitas vezes, estas contas já incluem despesas. Num restaurante normal as refeições podem ficar entre 30/40€ por pessoa. Porém, sei de bons restaurantes entre os 5/15€ por pessoa. Ir às compras para casa fica praticamente ao mesmo preço que em Portugal. 3 – A tal “Organização Nórdica” A “organização nórdica” foi do que mais me chamou para cá. Toda a cultura do país, incluindo os próprios holandeses, é rodeada por um forte sentido organizacional. É por isso que as coisas aqui acontecem, não tenho qualquer dúvida. Não é tanto uma questão de

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organização, mas sim de personalidade: para um holandês dizer “sim” significa “sim”, dizer “não” significa “não”. Ser direto e dizer o que se está a pensar é normal. 4 – A Língua A língua holandesa é difícil de aprender a curto prazo. No entanto cerca de 93% da população fala inglês fluentemente. Em caso de longa estadia na Holanda, é boa ideia aprender a falar holandês. Aqui dão muito valor a quem se esforça por falar a língua oficial. 5 – As Bicicletas Quando se fala na Holanda, um dos primeiros pensamentos é: bicicletas. Mas esta não é apenas uma “montra” para turista ver (na verdade essas montras são outras). É normal ver crianças, adultos, idosos, mães a levarem os filhos à escola de bicicleta. Faz parte da cultura, faça chuva ou faça neve, é sempre o meio de transporte mais utilizado. Eu moro a cerca de 6km do meu escritório e levo 15 minutos a chegar. Os benefícios são óbvios: cerca de 12km de exercício físico diários e 0€ que “gasto” em transportes. Em que capital europeia podia fazer o mesmo?




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