#13 Programados para acabar

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! OVA N A O! CAR V O ON N A

HENRY MINTZBERG Um dos mais importantes nomes da Administração estreia coluna nesta edição

MEMES Desenhos toscos, piadas criativas e uma nova linguagem da web

UFC FEVEREIRO/março de 2012 – ano 2 – no 13 www.administradores.com

O combate que virou espetáculo para o público e para o marketing

ENTREVISTA Peter Senge e o poder da quinta disciplina na Administração

Programados para acabar TVs que quebram rapidamente, impressoras que parecem ser descartáveis e celulares fora de linha em um ano de uso. A corrida pelo consumo e pelos lucros criou uma manobra comercial cada vez mais comum em diversos segmentos: a obsolescência programada.

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EDITORIAL

Seja bem-vindo, Mintzberg Não faz muito tempo. Em abril de 2011, fizemos uma reportagem de capa para descobrir quem eram os estudiosos pelo mundo que mais estão contribuindo com a Administração. Claro que não poderíamos escolher nomes pelo mero acaso. Tínhamos que consultar fontes confiáveis e que realmente tivessem contato com diversos trabalhos desses pesquisadores. E fomos atrás. Colhemos depoimentos de mais de 100 professores universitários de Administração e áreas correlacionadas de todo o país. Entre os nomes indicados como Jim Colins, Michael Porter e Tom Peters, um deles reinou absoluto na maioria das escolhas dos acadêmicos brasileiros: Henry Mintzberg. O canadense, com teorias e estudos que o acompanham por quase 30 anos, conversou conosco um tempo depois, transformando-se numa entrevista memorável que pode ser relembrada em adm.to/entrevista_henry. Mas o melhor de tudo ainda estava por vir e em forma de presente para todos nós que fazemos a Administradores, equipe e leitores. A partir de 2012, Mintzberg será o novo colunista da revista que você lê nesse exato momento, e promete demonstrar todo seu posicionamento crítico e investigativo que o tornou tão admirado na área. Os artigos do canadense vão se juntar a outros quatro colunistas fixos da Administradores: o norte-americano Seth Godin, referência no marketing mundial; Stephen Kanitz, um dos mais lúcidos e pragmáticos nomes da Administração brasileira; Leandro Vieira, criador do www.administradores. com.br; e você, que, em nosso espaço “Artigo do leitor”, tem a possibilidade de contribuir com textos em todas as edições. Nesse mês trazemos também um assunto mais do que polêmico na capa: a obsolescência programada. Através de um trabalho de pesquisa, entrevistas e apuração de fatos – que durou cerca de quatro meses – descobrimos algumas manobras mercadológicas que não fazem o produto durar muito em nossas mãos, seja pelo seu mau funcionamento ou pelo desejo de substituirmos por um novo rapidamente. Mas não para por aí. A Administradores vai falar dos memes, do UFC, do carnaval, de sustentabilidade e até de persuasão - quando convidamos o jornalista Ícaro Allande para sentir na pele por um dia como os pedintes se viram nas ruas. Ah, ano novo cara nova! Fizemos uma transformação (para melhor) no layout também. E lembre-se que você faz a revista conosco e pode interagir a qualquer hora com sugestões, críticas e elogios através do revista@administradores.com.br. Boa leitura! Fábio Bandeira de Mello editor

índice

05

AGENDA

06

ambiente externo

07

ONLINE

08

entrevista

Peter Senge e o poder da quinta disciplina na Administração

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PEI, BUF!

Como escrever e publicar um livro eletrônico no Brasil

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insight

Os problemas do MBA na formação dos líderes | Henry Mintzberg

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carreira

Administrando a diversidade nas empresas

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SUSTENTABILIDADE

Dinheiro que dá em árvore

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NEGÓCIOS

Carnaval: por trás das máscaras e das fantasias

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MARKETING

UFC: o combate que virou espetáculo

23

QUIZ

Você sabe trabalhar em equipe?

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MENTE ABERTA

Somente um mito | Por Seth Godin

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TENDÊNCIA

Memes criam novas linguagens na web com bastante sucesso

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INFOGRÁFICO

A lógica de consumo e do comércio da cauda longa

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ENTENDA MAIS

A cauda longa em quadrinhos (livro)

38 capa

Produtos programados para acabar

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JORNALISMO GONZO

Cinco fundamentais segredos da arte da mendicância

47

artigo

- Aprenda a dar ordens com Zuleica | Por Kelly Cavalcanti - Novas tecnologias, velhas manias | Por Leandro Vieira

49

ADMINISTRADORES NA HISTÓRIA

Walt Disney: o homem que fez da fantasia um negócio

50

PAPO COM YODA

As dúvidas dos leitores tiradas pelo Mestre Jedi

51

ADMINISTRADOR DO FUTURO O perfil empreendedor do estudante Guilherme Caires

52

FORA DO QUADRADO

54

ENTRETENIMENTO

- Curiosidades e humor - Ações para um mundo melhor - Leitura: O fim do marketing como nós conhecemos - Cinema: O palhaço

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ponto final

A função mais importante do administrador | Stephen Kanitz

Fevereiro/Março 2012

administradores.com

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expediente & CARTAS

facebook

CONTATOS

FABRICIO ALEX Fiquei fascinado com o meu presente de natal, o calendário. Muito bom saber que você é importante. Amo essa revista! Minha mãe ao ver o dia 21/12 como o fim, disse: “Tá faltando o resto!”

Assinaturas www.administradores. com.br/revista PUBLICIDADE comercial@administradores.com.br +55 (83) 3247 8441 correspondência Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 415 / 304 Tambaú - João Pessoa - Paraíba CEP 58039-110 redação revista@administradores. com.br

SAMUEL FREITAS Adorei ler o artigo de estreia do Seth Godin na edição desse mês. Mais uma vez fiquei surpreso com as novidades que a revista tem, desde a edição zero. Fico muito feliz em ler textos tão eloquentes! Parabéns por tudo! CLAUDIO CAVALCANTE Não sou administrador (não faço curso da área), mas estou curtindo as postagens, o site, a revista... Muito bom!

TWITTER

@Fabrother Preciso assinar com urgência. rs RT @admnews Orgulhosamente anunciamos que a partir de fevereiro o grande Henry Mintzberg terá uma coluna... @_inepad Parabéns pela coluna! Com certeza será de grande aproveitamento para gestores e pessoas ligadas à área de negócios! @LeoCarvalhoBr enviou a foto da sua revista e do seu novo calendário:

thinkstock

HECTOR THYSO Vocês se superam a cada edição... Caraca!

Publisher Leandro Vieira leandro@administradores.com.br Redação Editor Fábio Bandeira de Mello fabio@administradores.com.br Repórteres Eber Freitas

E-MAILS

eberfreitas@administradores.com.

ATRAÇÃO Acho as informações importantes e super atrativas para atualização e sugestões para nós administradores. Rosana Simões

br, Fábio Bandeira de Mello, Ícaro Allande, Mayara Emmily mayara@ administradores.com.br e Simão Mairins simao@administradores. com.br Revisão Allana Dilene COLABORADORES

TAMANHO NÃO É DOCUMENTO Confesso que, de primeira, achei que a revista continha mais páginas, mas foi só começar a ler que vi que tamanho não é tudo, o conteúdo é excelente e inspirador. Vocês estão de parabéns! Já vejo que a revista acrescentará muito na minha vida, principalmente profissional e acadêmica.

Henry Mintzberg, Hugo Cruz, Kelly Cavalcanti, Marcos Hiller, Mestre Yoda, Michael Yaziji, Nelson Gonçalves, Nuria Chinchilla, Seth Godin, Stephen Kanitz. ARTE DIREçÃO João Faissal | Imaginária Design design@imaginaria.cc Design e ilustração Thiago

Fabrícia ferreira

Castor thiago@administradores.

PRÊMIO Por que a revista Administradores não cria um prêmio para os administradores? Por exemplo, concurso de artigos e monografias. Como a revista é nova, um aninho, seria bom para divulgar ainda entre os profissionais e estudantes. Imagine daqui a 10 anos a revista lançando, por exemplo, seu 10º Prêmio Adm? Com várias empresas parceiras e temas possíveis.

com.br COMERCIAL Diretor Comercial Diogo Lins diogo@administradores. com.br Atendimento ao Leitor Anna Valéria Vita annavaleria@ administradores.com.br Impressão Gráfica Moura Ramos www.mouraramos.com.br

Rubens Teles

SUGESTÃO Parabéns pela excelente revista e também pelo site. Tenho uma sugestão: um espaço para trata de assuntos ligados à meditação e ioga ou algo do gênero. Luciano Troczinski

O papel ultilizado

nessa revista possui PARABÉNS certificado internacional FSC - nossa prova de responsabiliQuero parabenizar a vocês pela revista que estão editando. Realdade ambiental mente estou muito satisfeito com a mesma e, mesmo atuando como advogado, me interesso por Administração, até porque a minha atividade envolve inevitavelmente a Mande também O seu recado administração de negócios. Sempre encontro ideias para a Administradores inovadoras e motivadoras na revista.

André Roberto Mallmann

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administradores.com

Fevereiro/Março 2012

através do revista@administradores.com.br


INFORMATIZE SUA EMPRESA COM UM

EVENTOS | CAPACITE-SE

De 349,00

Agenda 09 FEV 2012

27 MAR 2012

20 MAI 2012

22 MAI 2012

18 JUN 2012

11 FEV 2012

Formação e Certificação Internacional Professional & Self Coaching Responsável: IBC Coaching Local: Brasília – DF Info: adm.to/coaching_12

Fórum Gestão e Liderança Responsável: HSM Local: Vitória – ES Info: adm.to/gestaoelideranca

Encontro de Marketing Anpad Responsável: Anpad Local: Curitiba – PR Info: adm.to/ema_2012

29 FEV 2012

17 ABR 2012

30 MAI 2012

Formação de Consultores Responsável: Cegente Local: São Paulo – SP Info: adm.to/ formacao_consultores

Rio Content Market Responsável: ABPI-TV Local: Rio de Janeiro – RJ Info: adm.to/riomarket12

Family Business 2012 Responsável: HSM Local: São Paulo – SP Info: adm.to/business_12

Seminário HSM – Philip Kotler

9º Contecsi

Responsável: HSM Local: Recife – PE Info: adm.to/seminario_hsm

Fevereiro/Março 2012

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AMBIENTE EXTERNO | RÁPIDAS

A ver navios

SOPA neles

O navio de cruzeiro Concordia bateu em uma rocha nas proximidades da ilha de Giglio, na costa da Itália, e naufragou na noite de sexta-feira (13 de janeiro). O incidente, que deixou mais de 10 mortes, aconteceu após um erro de cálculo do capitão Francesco Schettino. A embarcação era o símbolo da empresa italiana Costa Cruzeiros, que o fez um verdadeiro palácio flutuante, com dezessete andares e 290 metros de comprimento por 38 de largura. Ao todo, 4.229 pessoas viajavam no navio, que levava 3.209 passageiros de 62 países.

Não é de hoje que tentativas internacionais obscuras, que visam pôr uma catraca na internet, são tramadas entre nações e corporações. Recentemente, dois projetos de lei apresentados no Congresso norte-americano, apoiados pela indústria da música e dos filmes, renderam reações furiosas de internautas e de companhias de internet: o Stop Online Piracy Act (SOPA) e o Protect IP Act (PIPA). Com a justificativa de proteção de direitos autorais, mas preveem medidas abusivas contra usuários e empresas, ambos projetos foram adiados.

Irã e Israel acendem sinal amarelo para conflito nuclear 2011 terminou sob a tensão das revoltas populares que se espalharam por todo o planeta. Mas 2012 começa ainda mais nervoso diante da iminente guerra entre Israel e Irã, que pode acabar envolvendo também as maiores potências do mundo num conflito em que as armas nucleares são a grande ameaça. O governo israelense, que havia planejado reduzir seu orçamento de Defesa, aumentou-o em US$ 700 milhões. Já os iranianos intensificaram as manobras militares. Para piorar, o governo dos EUA – aliado histórico do estado judeu – ameaçou atacar o regime de Ahmadinejad caso o transporte de petróleo no Oriente Médio seja bloqueado pelo exército israelense.

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administradores.com

Novos smartphones, tablets, relógios de pulso, máquinas fotográficas, televisores, players de música e outros aparelhos eletrônicos que devem ditar a moda dos gadgets em 2012 foram apresentados na última edição da Electronic Consumers Show (CES), que aconteceu entre os dias 9 e 13 de janeiro, em Las Vegas. As principais novidades ficaram por conta das novas tecnologias de Smart TVs apresentadas pela Samsung e LG: as telas OLED conferem maior contraste e realismo às imagens. Já os ultrabooks, evolução programada dos notebooks para enfrentar o formato tablet, devem garantir o mercado dos computadores portáteis e acabar de vez com os netbooks.

Smartphone Lenovo S2

FRASES O nosso relacionamento de longo prazo com a Motorola Mobility ajudará a acelerar a arquitetura da Intel para novos segmentos de mercado de mobilidade

Muitos perigos nos ameaçam, mas dois deles, a guerra nuclear e a mudança climática, são decisivos e ambos estão cada vez mais longe de aproximar-se de uma solução

É por isso que eu fiz questão de reunir toda minha família, menos Luiza que está no Canadá

Faturei US$ 1,3 bilhão em seis anos

Paul Otellini CEO da Intel comentando a parceria

Fidel Castro ex-líder cubano no artigo “A marcha

gerardo rabello colunista social paraibano em um

Paris Hilton socialight norte-americana ao

junto à Motorola Mobility para desenvolvimento de chips em smartphones e tablets.

Fevereiro/Março 2012

para o abismo”, publicado na internet.

comercial que virou hit na internet e tornou-se um dos temas mais comentados nas redes sociais.

afirmar que é uma mulher de negócios. Ela possui 35 lojas e uma série de produtos licenciados.

divulgação

CES mostra inovações tecnológicas para 2012


ONLINE | www.administradores.com

ARTIGOS

ENQUETE

#FICADICA

Você já teve algum produto que parou de funcionar com menos de dois anos de uso?

Quem mexeu nos meus consumidores?

CALL TRACK Através do aplicativo, você consegue verificar todos os status das suas ligações, como horários, datas e quem ligou. O programa é integrado com a agenda do Google.

68.74% Sim, um eletrônico (computador, celular, aparelho de som etc.)

SCAN TO PDF Ideal para quem necessita enviar diferentes documentos e não quer que eles sejam modificados. Com o Scan to PDF você gera o arquivo em PDF e envia sem preocupação.

16.31% Sim, um eletrodoméstico (geladeira, microondas, liquidificador etc.)

Ricardo Pomeranz mostra como a revolução digital mudou hábitos e transformou os antigos clientes em agentes ainda mais decisivos nos negócios.

INFORMAçÃO

14.95%

Participe dos fóruns de discussão e leia as entrevistas feitas com os executivos.

Não

> adm.to/mudanca_cliente

APP

Comunidade Administração Comunidade de alto desempenho voltada a discussões e debates em torno da Administração. > adm.to/comu_administracao

Ricardo Voltolini destaca que coragem e persistência são dois atributos importantes dos líderes.

ENTREVISTA

thinkstock

Liderança para a sustentabilidade, um recurso renovável

TWITTER

Orkut

FACEBOOK

LINKEDIN

@admnews

adm.to/ orkutadm

adm.to/ facebookadm

adm.to/ linkedinadm

> adm.to/lider_sustentavel

FOI DESTAQUE NA WEB

“Se uma empresa entrar 100% na sustentabilidade, ela quebra”, diz o especialista em marketing Albélio Dias, vice-presidente de sustentabilidade da Academia Mineira de Marketing. > adm.to/lideranca_sustentavel

5 dicas para fazer o seu negócio bombar na web

O que não escrever no currículo

Os males do perfeccionismo

Uma boa estratégia de marketing em plataformas como Facebook e Twitter gera ainda mais oportunidades para empresas

Confira nove excessos cometidos pelos candidatos. E fuja deles!

O perfeccionista precisa compreender que, diante de suas expectativas, o ótimo geralmente será inimigo do bom

> adm.to/5dicasweb

> adm.to/curriculoerrado

> adm.to/perfeccionismo

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administradores.com

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ENTREVISTA | PETER SENGE

Todos podem ser líderes no seu espaço de trAbalho

Peter Senge, um dos mais renomados estudiosos da Administração, conversou com a Administradores na última edição da HSM ExpoManagement

Para o autor de A quinta disciplina, é possível que todos os níveis de uma organização trabalhem com o mesmo grau de engajamento, desde que os administradores estejam comprometidos com isso. por

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administradores.com

Fevereiro/Março 2012

simão mairins

|

foto

divulgação


E

xpressões como “vantagem competitiva”, “domínio pessoal” e

Você costuma dizer que os líderes devem ser “idealistas pragmáticos”. Na prática, o que isso significa?

Em primeiro lugar, quando diz líderes, você se refere aos chefes?

Sim, a eles, principalmente.

É sempre bom tentar esclarecer isso, porque há muitos tipos de líderes. E muitos deles não são chefes de ninguém. Se estamos falando sobre negócios, é importante você estar atento ao desempenho da empresa. Mas você tem que prestar atenção também a um mundo mais amplo. E o que acontece nesse mundo? Qual é a minha visão pessoal? Tenho que entender como eu quero que minha empresa, minha organização, contribua para esse mundo mais amplo. É bastante simples.

Você é reconhecido no mundo todo como um dos principais nomes do pensamento estratégico, pela relevância dos seus estudos e a aplicabilidade de suas teorias. Entretanto, colocar em prática, por exemplo, a sua quinta disciplina é algo ainda um tanto difícil para algumas empresas, principalmente em mercados menores, onde o pragmatismo fala mais alto. Como você avalia o nível de aprendizado das empresas hoje, principalmente nos mercados emergentes?

Eu não passo muito tempo em países como o Brasil. Então não tenho tanta experiência para falar sobre eles. Eu acho que há mais oportunidades em mercados emergentes, porque há muito espaço para experimentação. Uma das empresas que eu conheço bastante no Brasil é a Natura, uma empresa grande hoje. Mas há 20 anos não era assim. E eles tinham uma visão muito clara do impacto social que desejavam ter, vendendo com uma rede grande de pessoas que, talvez, seriam muito pobres se não tivessem esse emprego de consultoras da Natura. E buscando comprar produtos que fossem realmente naturais e que fossem consumidos de uma forma sustentável. Então acabou surgindo um espaço muito grande para a inovação. Em primeiro lugar, eu não acho que a quinta disciplina seja tanto uma teoria, é mais prática, uma prática que nós aprendemos das outras empresas. Uma empresa como a Natura tem descoberto, sozinha, uma série desses princípios básicos, olhando o sistema mais amplo do qual eles fazem parte, uma visão forte daquilo que eles querem criar e tendo um compromisso com o desenvolvimento pessoal dos seus funcionários. Embora esses movimentos sejam naturais, não significa que sejam fáceis. Tudo que aprendemos, aprendemos de empresas que aplicaram esses conceitos de forma bem sucedida numa inovação de longo prazo.

“visão compartilhada”

são cotidiana e exaustivamente repetidas nas organizações, seja pelos diretores e gerentes, seja pelos empenhados colaboradores. Compreendê-las na prática, entretanto, é o que de fato faz a grande diferença. Pelo menos é o que pensa o norte-americano Peter Senge. PhD em Management pelo MIT – Massachusetts Institute of Technology, ele é autor do prestigiado livro A quinta disciplina, em que apresenta as cinco competências que considera fundamentais para o sucesso de um modelo administrativo, sendo a última delas – visão ampla ou raciocínio sistêmico – a mais importante. Para o estudioso, o administrador precisa compreender o mundo como um grande corpo do qual ele e a organização que dirige fazem parte. “Tenho que entender como eu quero que minha empresa contribua para esse mundo mais amplo”, afirma Senge, para quem o desempenho de um negócio está diretamente relacionado a essa capacidade de percepção sistêmica daqueles que o comandam. Senge destaca ainda que a liderança dentro das organizações não precisa estar restrita aos diretores e gerentes. Para ele, na verdade, a possibilidade de cada profissional agir como líder no exercício do seu trabalho é um dos fatores que podem garantir que todos atuem com o mesmo grau de engajamento, colocando em prática outra das suas disciplinas, a “visão compartilhada”. E faz uma importante observação: nem todos os líderes comandam alguma coisa.

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ENTREVISTA | PETER SENGE

Acerca das iniciativas da chamada wikieconomia ou economia colaborativa, elas podem ser consideradas como um instrumento de aprendizado contínuo entre empresas?

Não é função da empresa convencer ninguém. Os bons gestores criam espaço e oportunidades para que as pessoas trabalhem juntas de forma eficaz.

Sobre a sua disciplina que trata do aprendizado nas empresas, é importante que os colaboradores entendam que aprender coletivamente é a melhor maneira de todos, inclusive a companhia, crescerem. Como as empresas podem provar aos seus funcionários que isso será de fato bom para todos? Como atestar que o todo pode ser maior que a soma das partes?

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administradores.com

Quando você tem uma economia, creio eu, que requer colaboração, essa é a circunstância ideal para analisar como todos funcionam juntos. Por exemplo, se você olhar comunidades rurais tradicionais ou estruturas tribais mais antigas, lá as pessoas têm que trabalhar juntas. Quando há crescimento, as empresas estão se desenvolvendo, muita gente acaba lutando individualmente. Mas aprender a ter eficácia na colaboração é fundamental para a sobrevivência das economias de hoje. Isso pode ser tão simples quanto, por exemplo, você trabalhar com seus fornecedores chave. Que tipo de relação queremos criar? Confiança é uma coisa complicada. Porque, por um lado, pode parecer que basta parecer simpático com o outro. Mas quando há uma relação de confiança real, nós podemos questionar um ao outro e levá-lo a aprender. Então, na verdade, as relações baseadas em colaboração mútua e na confiança são relações básicas para o desenvolvimento das pessoas. Em momentos econômicos difíceis é ainda mais importante desenvolver essas competências em colaboração.

Outra das cinco disciplinas que você elenca em seus estudos sobre aprendizado nas empresas é a visão ampla, que na prática significa justamente conseguir das equipes compromisso e engajamento em vez de mera aceitação do trabalho. Você não acha um tanto utópico querer o mesmo nível de engajamento em todos os níveis de um sistema hierárquico onde cada parte desfruta de forma diferenciada dos resultados?

Não acho que seja utópico, acho que é uma visão. Depende do que você quer dizer com utópico. Muitas vezes, utópico pode querer dizer “não impossível”. Eu vi isso acontecer muitas vezes e vejo que isso não é impossível, mas requer um certo comprometimento por parte dos gestores, no sentido de criar oportunidades para as pessoas descobrirem seus próprios compromissos. Voltando àquilo de que estávamos falando antes, você tem que acreditar que as pessoas, independente do trabalho ou da função que exercem, prefeririam estar comprometidas com o seu trabalho. Essa é uma premissa muito importante. Se você não tem essa premissa, tudo isso não serve para nada. Você precisa realmente acreditar que há algo desejado pelas pessoas, e deve ser um gestor que crie essas condições. Eu acho que é bem diferente da forma como a maioria das empresas funcionaram historicamente.

Eu acho que as pessoas têm que provar para elas mesmas. Não é função da empresa convencer ninguém. Os bons gestores criam espaço e oportunidades para que as pessoas trabalhem juntas de forma eficaz. E aí as pessoas descobrem sozinhas. O que é muito importante aqui é perceber o seguinte: isso faz parte da natureza humana. Os seres humanos são seres sociais. Naturalmente, somos indivíduos também. Mas todo mundo tem a percepção de que o seu bem estar depende das suas redes e da colaboração. Se você perguntar o que é mais importante para as pessoas no ambiente de trabalho, a maioria dirá que gosta de fazer parte de equipes onde possa aprender, onde o trabalho seja realmente interessante, que tenha um significado, que faça sentido, e que permita estabelecer relações de importância real. Então os gestores não têm que convencer as pessoas disso, eles só precisam parar de dificultar essas relações.

E qual é essa diferença?

Elas crescem e os gestores acham que o trabalho deles é simplesmente dar ordens para as pessoas, e não ouvir, tratar todos como líderes. No exército norte-americano eles dizem que o seu primeiro dia como líder é o primeiro dia no trabalho. Então o interessante é acreditar que todos podem ser líderes no seu espaço de trabalho. Eu uso esse exemplo porque o exército é um arquétipo claro do que é a hierarquia. Então essa disciplina é perfeitamente compatível com a hierarquia, se os gestores realmente estiverem comprometidos com isso. Então, não acho que seja algo utópico. Pelo contrário, acredito que seja muito prático. Porém difícil.

Fevereiro/Março 2012

No exército norte-americano eles dizem que o seu primeiro dia como líder é o primeiro dia no trabalho.


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PEI, BUF! Como – e por que – publicar um livro digital no Brasil? por

O

eber freitas

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mercado é imaturo, pouco lucrativo e quase inexplorado. Então, por que um autor se arriscaria a publicar um livro digital no Brasil? A resposta é simples: para não ser ultrapassa-

do pela onda das tendências que começa a ganhar força. Livros digitais não apresentam risco de encalhe, não necessitam de um sistema logístico para distribuição – que representa 50% do custo dos livros –, são produzidos de maneira distinta e são igualmente isentos de impostos. A Amazon – que está prestes

Desde o “renascimento editorial” do começo do século 20, autores e editores cultivam um relacionamento que vai além da impessoalidade cliente/serviço. São colegas próximos, que vão compartilhar o mesmo sucesso ou a mesma desgraça de uma publicação. Apesar de o autor ganhar autonomia no mercado de livros digitais, o trabalho editorial está se reconfigurando e continua sendo uma peça importante na cadeia de produção. Portanto, escolha uma editora com perfil arrojado, confiável e que já tenha experiência com livros digitais.

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popularização de tablets e dispositivos de leitura (e-readers) deve estimular mais o comércio de publicações nesse formato. Claro que ainda existe uma profunda insegurança do ramo, e a primeira questão decorre da incapacidade do mercado brasileiro de definir uma precificação dos produtos. No entanto, o livro digital mostra ter um campo fértil para novos negócios. Com a ajuda do publisher Marcos Torrigo e do consultor editorial Alexandre Linares, elaboramos um pequeno guia com cinco passos para você publicar o seu livro digital.

Negocie

Os ganhos do autor na publicação dos livros físicos é de 5% a 10% do preço de capa. Verifique a prática de precificação e remuneração da editora - se você tem o interesse de obter algum ganho -, lembrando sempre que lucrar com a venda de livros, sobretudo digitais, não é para qualquer escritor, e cobrir os custos de produção já é considerado um bom resultado. Cerca de 50% da composição do preço nos livros físicos é destinada ao processo de distribuição, o que não ocorre, logicamente, com os digitais. Por conta dessa indefinição, é bom que o autor participe da elaboração de estratégias de marketing e vendas.

a iniciar suas atividades no Brasil – já admitiu que suas vendas de livros em formato digital ultrapassaram os impressos, e a

Escolha uma editora ou editor de confiança

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Analise os melhores pontos de venda na web

O Brasil já conta com algumas e-bookstores, e a chegada da Amazon no país vai estimular esse mercado com outras livrarias digitais. Além disso, possivelmente outras grandes redes, como a Barnes & Noble, devem desembarcar nessas terras brevemente. Geralmente as editoras também vendem os livros

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diretamente, e nada impede que o autor crie a sua própria página para divulgar suas obras e interagir com os leitores.

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Conquiste e articule leitores

Uma das grandes oportunidades na internet é a possibilidade de interação com um grande número de pessoas. Autores podem se tornar populares se souberem usar boas estratégias para conquistar leitores com um estilo textual único ou ideias inovadoras disseminadas através de blogs, por exemplo. E o propósito de um livro é chegar até os seus interessados. Se um autor conseguir algumas centenas de fãs no Facebook e alguns milhares de seguidores no Twitter, vai conseguir emplacar boas vendas.

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Estude a possibilidade de impressão sob demanda

A versão digital do livro emplacou e vendeu cinco mil “cópias”? É possível que alguns leitores queiram uma versão física, com um acabamento tradicional, para poder guardar na estante e folhear nas horas de folga. Se a quantidade de pedidos for compatível com os custos de impressão e distribuição, não há motivos para relutar em produzir uma versão física do livro. Se não deu certo da primeira vez, tente novamente. É bom lembrar que o mercado de livros digitais no Brasil é incipiente e requer tentativas arriscadas, de autores e editoras de vanguarda.

?

Ainda tem alguma dúvida?

Entre em contato conosco através do e-mail revista@ administradores.com.br e envie sua pergunta. As dúvidas serão respondidas por especialistas na área e publicadas na Coluna da Redação, no Portal Administradores.

administradores.com

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INSIGHT MBA

Educação da Administração em movimento por

henry mintzberg

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thinkstock

Ensinar técnicas de gestão desassociadas da experiência de trabalho produziu toda uma geração de gestores ruins. Existe uma maneira melhor. Henry Mintzberg é um dos autores mais produtivos da Administração na atualidade – com 16 livros publicados (quase todos considerados referências na área). Ele é professor na McGill University, co-fundador do International Master’s Program in Practicing Management, usado por institutos de ensino em Administração no Canadá, Inglaterra, Índia, China e Brasil, e da empresa de desenvolvimento de gestão CoachingOurselves. > >

www.impm.org www.coachingourselves.com

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Q

uem nos colocou nessa situação? Os responsáveis pela crise financeira não são somente economistas irresponsáveis e credores gananciosos. Os líderes também

tiveram o seu papel, afastando-se da administração de suas companhias e dos seus eventos do dia-a-dia. E por trás disso está um processo educacional que encoraja esse comportamento.

Como eu explico detalhadamente no meu livro, Managers not MBAs (MBA? Não, obrigado!, no Brasil), o MBA é uma educação mais refinada – mas sobre funções de finanças, não no exercício de gestão. Gestão é uma prática que deve ser aprendida no ambiente de trabalho: nenhum gestor, muito menos líder, foi formado em uma sala de aula. Na verdade, programas de MBA que dizem fazê-lo deixam a impressão que os seus graduados podem gerir em qualquer contexto profissional. Isso é uma falácia e um perigo. Então qual é o objetivo da educação de gestão? Resumindo, ela deve mesclar-se ao desenvolvimento organizacional e de gestão. Para começo de história, precisa ser restrita àqueles que já exercem funções de gestão no ambiente de trabalho. Ao invés de retirá-los para a sala de aula, eles deveriam

administradores.com

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permanecer em suas posições, alternando entre discussões no curso e aplicações práticas. Dessa forma, intercalando o aprendizado com a ação, essa educação pode conectar-se mais eficientemente à experiência de trabalho.

seu trabalho para refletir sobre as suas experiências. No programa International Masters in Practicing Management, que está funcionando desde 1996, os gestores participantes sentam-se em mesas redondas de uma sala de aula comum para que possam refletir sobre as suas experiências e partilhar insights entre si. Tudo que nós educadores ensinamos é carregado para essas mesas e conectado ao contexto. Esta se provou uma forma poderosa de aprendizado. O nosso desafio, contudo, vem sendo carregá-la para o ambiente de trabalho onde ela pode ter um impacto real. Ultimamente nós utilizamos duas maneiras criativas de alcançar esse objetivo: uma que agrega o aprendizado da sala de aula ao lugar de trabalho e uma que traz o aprendizado diretamente ao local de trabalho. Nós acreditamos que essas duas ideias podem formar uma revolução no desenvolvimento de gestão e educação.

Duas soluções

Nenhum gestor, muito menos líder, foi formado em uma sala de aula. É fácil falar, mas como fazer? Estivemos trabalhando há 15 anos em um conjunto de programas incomuns, criados com a ideia de que gestores aprendem melhor recuando um passo das pressões do

Nunca mande uma pessoa alterada para uma organização inalterada. Todos nós já ouvimos isso, e mesmo assim é o que fazemos. Nos programas, nós podemos encorajar os gestores a utilizar o seu aprendizado, seja transmitindo-o a seus colegas de trabalho ou usando o que eles aprenderam para transformar as suas organizações. Muitos gestores fazem ambos, mas dificilmente de uma forma suficientemente coordenada e metódica. O problema é que o grupo de alunos na sala de aula se divide depois em gestores sozinhos em seu ambiente de trabalho. Nós discutimos o assunto em um workshop com representantes de duas das companhias envolvidas com o IMPM desde a sua criação, Lufthansa e Rio


Tinto, e chegamos a uma intrigante solução: reforçar cada gestor na sala de aula com um “time de impacto” em sua empresa composto de subordinados diretos ou colegas de mesmo nível. Essas pessoas participam efetivamente do programa, mas virtualmente: um aluno efetivo alavanca cinco outros em seu trabalho. Juntos, eles podem tornar-se um time entusiasmado para implementar mudanças. A segunda ideia, trazer o aprendizado ao lugar de trabalho, veio de um gerente familiar com o nosso programa IMPM. Ele sentiu a necessidade de desenvolver os

seus próprios gerentes, mas não tinha orçamento para mandá-los todos a algum programa. Então sugeriu que nós trouxéssemos esse tipo de aprendizado ao seu lugar de trabalho: periodicamente reunir os seus gerentes ao redor de uma mesa para que possam refletir sobre as suas experiências e partilhar as suas preocupações e insights. Ele fez exatamente isso, de maneira informal em almoços a cada semana, usando parte do material do IMPM para iniciar as discussões. Essa ação foi tão bem-sucedida, tanto promovendo mudanças no ambiente de trabalho quanto desen-

volvendo os gerentes, que continuou por dois anos. Essa experiência nos levou a incorporar a ideia na forma do CoachingOurselves.com, permitindo assim que outros grupos de gerentes façam o mesmo. Hoje, as companhias se juntam ao programa, formam pequenos times de gestores e fazem o download de materiais sobre vários tópicos de gestão (por exemplo, Desenvolvendo a Nossa Organização como uma Comunidade, Reconhecendo a Gestão Média) para aperfeiçoamento pessoal e organizacional. Algumas companhias estão usando o Coaching Ourselves para trazer mudanças verdadeira-

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mente efetivas em seus negócios. Essas são duas ideias simples: ligar o aprendizado na sala de aula ao ambiente de trabalho e trazer o aprendizado em si para esse ambiente. Em ambos os casos, os gerentes usam o conhecimento adquirido para implementar mudanças. Mas a grande diferença da educação de gestão convencional é o fortalecimento da ligação entre os gestores e as suas organizações. E essa pode ser uma boa forma de ajudar a prevenir outra confusão administrativa.

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CARREIRA | COMPORTAMENTOS DIFERENTES

Administrando a diversidade nas empresas

Diversas práticas empresariais de sucesso mostram que ter profissionais com pensamentos e ideologias variadas pode se tornar um diferencial competitivo fora de série. O desafio, então, está em gerenciar essa diversidade. por

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nuria chinchilla albiol e hugo cruz*

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o ambiente atual das empresas, a diversidade não é apenas uma realidade diária para as organizações: é uma necessidade funda-

mental do negócio. Para competir em um mercado global altamente dinâmico, as empresas precisam atrair e reter talentos de um espectro bem amplo de países, grupos de idade e culturas. Dessa forma, o gerenciamento de diversidades tornou-se um imperativo estratégico, cujo impacto vai muito além das políticas de recrutamento e contratação. Mesmo assim, para muitas empresas, o gerenciamento de diversidades é encarado apenas como o preenchimento de certas quotas para a incorporação de minorias e mulheres. No entanto, esta abordagem carrega um problema sério: o simples alcance da diversidade atual.

A diversidade da diversidade O alcance dos critérios de diversidade usados hoje pelas organizações tornou-se tão amplo que é praticamente ingovernável no nível prático. Isso ocorre porque a diversidade passou a incluir diferenças não só de raça, gênero e credo, mas também de idade, experiência, educação, papéis e mesmo de personalidade. Muitos desses fatores são de gerenciamento difícil. Com isso, o gerenciamento corporativo das diversidades foca as circunstâncias que são administráveis e podem ajudar a obter unidade dentro da organização. Há duas áreas para as quais a alta administração pode voltar-se: as motivações das pessoas para agir ou suas competências profissionais e capacidades de liderança.

Força multinacional Seja qual for o perfil ou a cultura, as motivações que levam as pessoas a realizar ações podem

enquadrar-se em três tipos: extrínseco, intrínseco e transcendente. Motivações extrínsecas são as que dizem respeito à satisfação de uma série de necessidades tangíveis. O dinheiro é considerado a motivação universal predominante. Existem também algumas necessidades intangíveis no nível individual, como prêmios e reconhecimento. Em contraste, pessoas com motivações intrínsecas participam com boa vontade de tarefas com o objetivo de aprender e melhorar suas competências e capacidades. Assim, sua satisfação vem do próprio trabalho. Finalmente, se as pessoas são guiadas por motivações transcendentes, elas entendem que seus atos afetam outros e podem levar em consideração as necessidades dessas pessoas. Para elas, a satisfação vem do fato de serem úteis para outros. A força da motivação de uma pessoa depende do grau com que cada tipo de motivação determina sua conduta. Alguém que é orientado primariamente por fatores externos é considerado como tendo uma motivação relativamente fraca, pois assim estará preparado para agir em troca de um ganho máximo e frequentemente de curto prazo. Se suas motivações forem mais intrínsecas, elas deixarão de contribuir para a organização logo que tiverem atendido suas necessidades ou quando um desafio for

inferior às suas expectativas. Se suas motivações forem transcendentes, elas só cessarão de agir quando tiverem superado todos os seus desafios ou tiverem atendidas as necessidades de outras pessoas dentro e fora da organização.

Diversidade de competências Se as organizações desenvolverem uma melhor compreensão das forças motivacionais que agem sobre os diferentes profissionais, terão maior capacidade para gerenciar a integração e o desenvolvimento de cada um. Quando as motivações para agir de uma pessoa forem predominantemente extrínsecas, elas terão primariamente necessidade de competências de negócios, como conhecimento do mercado ou capacidade de análise. Dito isso, deve ser lembrado que focar exclusivamente nesse tipo de competência cria um gerenciamento mecânico, onde o único objetivo é o retorno positivo. Quando uma pessoa é orientada por motivações intrínsecas, precisa complementar suas competências de negócios com talentos interpessoais, como comunicação, administração de conflitos, carisma e trabalho de equipe. Esta abordagem de gerenciamento dá origem a um paradigma psicossocial, dentro do qual a organização procura ser efetiva e também atrativa para os funcionários e para toda a sociedade. Por último, pessoas cujas ações são orientadas por motivações transcendentes exigem um estilo de liderança bem mais pessoal, além de líderes que atingem a excelência não só em termos de competências interpessoais e de negócios, mas também no nível intrapessoal. Existem oito competências básicas necessárias para este tipo de liderança: gerenciamento de estresse, autocrítica, autoconscientização, capacidade de aprendizado,

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tomada de decisões, autocontrole, equilíbrio emocional e integridade. Empresas que buscam desenvolver este tipo de talento devem ser gerenciadas com um paradigma antropológico, que busca obter não só a eficiência e a atratividade, mas também a unidade organizacional.

Unidade em face da diversidade Recrutar e manter funcionários com perfis diversos pode ser uma fonte de vantagens competitivas. Entretanto, o objetivo último da empresa não deve ser apenas o de aumentar sua diversidade. Em vez disso, ela deve esforçar-se para obter a unidade dentro da organização, construindo um alto nível de compromisso entre seus funcionários apesar de suas diferenças. O compromisso é obtido quando a força motivacional está em alta, baseada primariamente em motivações transcendentes. Para fazer com que isso aconteça, as políticas de gerenciamento de diversidades devem estar de acordo com um paradigma antropológico que valoriza a dignidade de cada pessoa como única, que não pode ser discriminado por causa de diferenças externas ou internas. Para chegar a isso, as empresas devem fazer do gerenciamento de diversidades uma parte integral de sua declaração de missão, além de torná-lo compatível com as motivações de seus funcionários.

*Nuria Chinchilla Albiol é consultora sobre alta gerência em diversas empresas europeias e professora PhD em Administração pela Escola de Negócios IESE – eleita uma entre as dez melhores escolas de negócios do mundo. >

www.ieseinsight.com

*Hugo Cruz é pesquisador na Escola de Negócios IESE.

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NEGÓCIOS | SUSTENTABILIDADE

Dinheiro que dá em árvore por

michael yaziji*

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É chegada a hora de rejeitar a “sustentabilidade por redução” para fomentar a “sustentabilidade lucrativa”. E não se espante: há muitas oportunidades de negócios nesse mundo com recursos naturais cada vez mais limitados.

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ealizar previsões é um jogo perigoso. Entretanto, farei uma: nos próximos cinco anos o setor financeiro nos Estados Unidos e na

Europa irá dobrar o total de ativos de gestão que usam critérios socialmente responsáveis em relação ao meio ambiente, impactos sociais e governança.

O mercado financeiro está se submetendo a uma micro-revolução em sua maneira de fazer negócios, já que as próprias indústrias nas quais investe estão passando por revoluções. Há dez anos, investi16

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mentos socialmente responsáveis no mercado financeiro correspondiam a um nicho pequeno. Atualmente, eles se incorporam rapidamente e, num futuro próximo, serão tidos como pré-requisito no mercado. Fevereiro/Março 2012

Se direcionarmos nossos olhares para o coração da Europa, poderemos notar que entre 2009 e 2010 a Suíça apresentou um aumento de 23%, atingindo $48 bilhões de ativos de gestão que usam critérios de sustentabilidade em suas estratégias de investimento. Esse tipo de crescimento se reflete de forma similar em mercados mais amplos. Entre 2008 e 2009, o crescimento desse tipo de ativos foi de 87% na Europa, totalizando $7 trilhões. Nos EUA, os ativos socialmente responsáveis aumentaram em 380% de 1995 para 2010 com $33 trilhões, representando 1/8 do total dos ati-

vos sob administração profissional. Investimentos socialmente responsáveis são considerados a “bola da vez” simplesmente porque fazem sentido. Os riscos por não se levar em conta os impactos ambientais, sociais e a governança vêm crescendo e continuarão a crescer. Se você é um administrador de ativos, os riscos e oportunidades perdidas por não considerar os fatores mencionados acima incluem: »» Investimentos em produtos ou serviços cujas demandas estão em declínio e sofrem expectativas de mudança. Não é conside-


rado sábio, por exemplo, um investimento de 20 anos em óleo de palma não-sustentável. »» Investimentos em capitais que precisam ser reequipados, substituídos ou abandonados diante de nova regulamentação. »» Investimentos cujos custos de produção possam mudar com essa nova regulamentação. Em diversos países, CO2 custa dinheiro, e certamente custará muito mais no futuro. Empresas que geram monóxido de carbono produzem mercadorias que possuem risco significativo de se desvalorizarem nos próximos cinco anos. Além dos riscos apresentados por tais investimentos, não levar em conta esses pilares pode causar danos a uma marca. É cada vez mais comum, por exemplo, que ONGs vejam as companhias financeiras como alvos em potencial, e acabem incluindo-as em suas reivindicações por associá-las às grandes marcas. Apesar de todas as armadilhas que circundam empresas que não possuem políticas voltadas para o lado ambiental, social e de governança corporativa, é importante não negligenciar as oportunidades imensas que essas empresas podem oferecer.

Os dilemas sustentáveis Para entender como tirar proveito dessas oportunidades, os gestores de ativos devem obter percepções mais dinâmicas e focadas em tendências a longo prazo, principalmente no que se refere ao meio ambiente. Existe o interesse de começar a pensar em sustentabilidade com base em maior ou menor viabilidade. Obviamente, a redução da população mundial, do consumo e da poluição fariam do planeta um lugar melhor, mas a redução sozinha não é suficiente.

Gestores de ativos devem ser capazes de analisar os múltiplos significados de sustentabilidade. Companhias que se orgulham de utilizarem práticas sustentáveis em voga há anos atrás, embora não deixem de ser bem-intencionadas, representam investimentos de risco. Isso acontece em parte porque qualquer ideia de redução populacional já foi condenada com base em estimativas. A ONU, por exemplo, estima que a população mundial salte dos 6,9 bilhões para 9,2 bilhões de pessoas em 2075, quantia espantosa se considerarmos que mesmo com a população atual, já estamos operando muito além dos limites naturais do planeta. Enquanto alguns índices de poluição diminuem com a prosperidade, outros, como a poluição causada por CO2, aumentam com ela. Isso

redução de 15% de emissão desse ou daquele poluente. No entanto, dado o dilema dos aumentos inquestionáveis tanto em relação à população quanto ao consumo, ouso dizer que esta abordagem simplesmente não será suficiente. É chegada a hora dos investidores estarem cautelosos com os ganhos e economias em potencial proporcionados pelos esforços realizados no sentido de, por exemplo, reduzir o desperdício em X por cento por ano – mesmo que esses ganhos possam parecer verossímeis e substanciais.

Um mundo verde de possibilidades Infelizmente a maioria das práticas de “sustentabilidade através da redução” é, no fim das contas, simplesmente mais cara, principal-

Investimentos socialmente responsáveis são considerados a “bola da vez” simplesmente porque fazem sentido. sem falar que o uso de recursos geralmente aumenta com a riqueza. Os estilos de vida não sustentáveis de 430 milhões de pessoas nos países desenvolvidos serão acrescidos pelos de 600 milhões de habitantes dos países subdesenvolvidos até 2030, de acordo com o Banco Mundial. De forma similar ao que acontece com a tecnologia, o conceito de sustentabilidade é centrado na relação redução de dano/unidade de produção econômica, como através de redução da produção de CO2 por unidade de produto, redução de embalagens etc. Esta tem sido a linha de pensamento por trás das dos relatórios de sustentabilidade de diversas empresas quando apresentam orgulhosamente uma redução de 10% de sua utilização de determinada matéria-prima ou uma

mente se feitas com os pré-requisitos exigidos por nós para serem verdadeiramente sustentáveis; e, no atual ambiente de negócios, esta é uma responsabilidade estratégica. Empresas geralmente são projetadas para a maximização do lucro, e se as despesas não aumentaram e os custos sim, tais práticas podem ser vistas com maus olhos pelos investidores. No lugar de torcer por uma redução populacional improvável, ou por uma onda de consumo sustentável, devemos nos utilizar desses crescimentos para promover melhoras ambientais. Seria mais ou menos como transformar cimento, por exemplo, que possui uma pegada de carbono negativa, em diferentes materiais de construção. Outra alternativa Fevereiro/Março 2012

viável consistiria no desenvolvimento de um sistema industrial isento de desperdício ou, ainda melhor, que se utilizasse dos resíduos ou poluentes do sistema e os transformasse em produtos e serviços. Uma companhia inteligente em que trabalhei recolhe os detritos de municípios (e é paga para isso), usa uma parte deles como matéria prima para materiais de construção (pelos quais ela também é paga) e vende o restante como combustível para incineradores (obtendo assim uma terceira fonte de renda). As organizações precisam ser criativas e explorarem modelos lucrativos de negócios que se utilizem de fluxos de resíduos como insumos, de forma a obterem impactos ambientais positivos (e não apenas menos negativos). Os gestores de ativos que compreenderem essa dinâmica ecológica mais profunda, bem como os riscos e oportunidades que acompanham o mundo com recursos limitados em que habitamos, serão os vencedores nessa busca por competitividade. Então, mantenho aquela previsão sobre o dobro dos investimentos em “investimentos socialmente responsáveis” nos próximos cinco anos. E, se querem saber, até mesmo me arriscarei a fazer uma pequena aposta. Afinal, eu certamente gosto de investimentos com retorno certo tanto quanto qualquer outra pessoa!

*Michael Yaziji é professor de Estratégia e Organização no IMD, uma das principais escolas de negócios do mundo, sediada em Lausanne, Suíça. Ele também é diretor do programa IMD’s One Planet Leaders (OLP), administrado em parceria com o WWF.

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NEGÓCIOS | CARNAVAL

Por trás das máscaras e das fantasias por

mayara emmily

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As oportunidades de negócios e a preparação de uma das maiores festas do Brasil.

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arnaval. Sinônimo de alegria, brincadeira e liberdade para muitos brasileiros, é símbolo do folclore nacional, do paganismo e até mesmo da religiosidade. Com a proximidade da festa, muita gente já se imagina aproveitando o feriado pro-

longado para cair na folia, participando de blocos e assistindo a desfiles carnavalescos. Para outras, não adeptas às diversões da época, esses dias livres são uma oportunidade de “fuga” da música alta e da multidão que a segue.

Durante esse período dos festejos é até possível se ter a falsa ilusão de que o Brasil para diante das comemorações por tanta gente deixar de trabalhar. No entanto, para diversos setores, esse é um pensamento não condizente com a realidade. Muitos empreendimentos, desde grandes indústrias até pequenos negócios informais, não param, pelo contrário, têm um aumento significativo em termos de produção e lucratividade. “Hoje existe uma dinâmica mais completa e as atividades das empresas se mantêm. A indústria e o turismo se beneficiam, principalmente porque o Brasil tem uma economia mais forte, por isso a atividade não diminui”, destaca o presidente e fundador da Höft Consultoria, Renato Bernhoeft.

Mesmo a folia tem um planejamento Por trás da festa existe, na verdade, uma preparação que começa antes e continua durante e após o carnaval. Assim, a estrutura econômica dessa festividade não é algo simples. Ela demanda uma cadeia de profissionais e empresas que contribuem para que os negócios sejam bem sucedidos no período, englobando, entre outros setores, 18

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turismo, comércio e serviços. Além da própria indústria de confecção, com a produção de fantasias e ornamentos, o consultor do Sebrae na área de empreendedorismo Egnaldo Paulino explica que setores como o cervejeiro, televisivo, fonográfico, editorial e gráfico são alguns dos outros grandes beneficiados com a festa. “Durante o carnaval as pessoas consomem mais bebida alcoólica, compram abadás e ingressos para conferirem de perto suas bandas ou cantores preferidos, além de poderem assistir à transmissão televisiva de desfiles carnavalescos, como os do Rio de Janeiro e São Paulo”, destaca o consultor. O nordeste também é palco de sucesso entre os foliões de todo o país, em especial a capital baiana. Para o professor e coordenador da pós-graduação em Cultura e Sociedade da UFBA, Paulo Miguez, essa região envolve escalas bastante


diferenciadas. “Ela [a festa] marca a presença dos milhares de vendedores ambulantes, ‘cordeiros’, catadores de lata, pequenos prestadores de serviços, e dos blocos carnavalescos e cadeias hoteleiras”, explica. Para o professor, “o carnaval alcança, inclusive, o que podemos chamar de uma ‘economia do não-carnaval’, o conjunto de empresas que atendem aqueles que não participam da festa, os que viajam ou mesmo os que ficam em Salvador”, destaca.

O aprendizado é essencial A festa também estimula a capacitação para muitos. Exemplo disso foi um curso desenvolvido pelo Sebrae-BA, em novembro passado, com o intuito de qualificar e licenciar ambulantes para vender no carnaval deste ano. Entre os temas discutidos nas palestras estavam atendimento à clientela, higiene e direitos e deveres do trabalhador. Já na cidade do Rio de Janeiro, a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) vai lançar neste ano um curso voltado para a gestão das escolas de samba. O movimento de profissionalização do carnaval é inevitável, de acordo com Marcelo Guedes, diretor do curso de Administração com ênfase em gestão do entretenimento da ESPM-RJ. Ele ainda afirma que são diversos os segmentos da indústria criativa que lucram com a festividade, entre os quais música, arte cênica e publicidade. “O carnaval está se profissionalizando e envolvendo cada vez mais adeptos. Dessa forma, a lucratividade aumenta. Um exemplo simples é

a participação de músicos em blocos e shows por toda a cidade nos cinco dias de folia. Nesse sentido, o carnaval se materializa através da mobilização de símbolos, recursos e aspectos da cultura e de várias indústrias criativas”, explica Rodrigo.

E quem lucra no fim Apesar da escassez de dados totais sobre a lucratividade no carnaval, as informações oficiais dão uma ideia sobre o porquê de as grandes e pequenas empresas investirem no período. Um exemplo foi o balanço realizado pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro do carnaval em 2011, que constatou a vinda de um milhão de foliões para a festa, responsáveis por injetar cerca de R$ 1,2 bilhão na economia da cidade. Outro exemplo é o estado de Pernambuco, onde um milhão de pessoas foram recebidas no carnaval do ano passado, gerando R$ 570 milhões. Apesar disso, não são todos os negócios que funcionam no período carnavalesco. Alguns setores como o bancário, indústria e outras áreas do setor de serviços realmente param durante a festa. No entanto, a lucratividade dos negócios, em geral, contrabalanceia os empreendimentos que ficaram de fora, de acordo com Paulo Miguez, que cita o exemplo da economia da cidade de Salvador. “A questão deve ser posta na perspectiva dos impactos do carnaval na economia da cidade como um todo. E aí creio que os resultados são positivos, ou seja, os prejuízos registrados por alguns setores são mais do que compensados

se analisado o conjunto da economia soteropolitana”, explica o professor.

O outro lado da festa “Já tem muito feriado por aqui e agora suspendem tudo de útil por cinco dias, apenas para ficar dançando e pulando pelas ruas”. Certamente você já escutou alguma frase parecida, que volta e meia ronda parte da opinião pública sobre os festejos carnavalescos. Até porque nem todo mundo concorda que os lucros do carnaval compensam e realmente impulsionam a economia. Inclusive, não é de hoje que parte da população condena veementemente o carnaval. Na década de 1940, já havia discursos polêmicos sobre o tema. Em 1949, por exemplo, o vereador Camilo Ashcar proferiu de forma contundente na Câmara Municipal de São Paulo o repúdio pelas consequências da festa: “Causou-me estranheza a iniciativa de alguns membros desta edilidade, objetivando levar a Prefeitura a despender a elevada soma de quase um milhão de cruzeiros para estimular as comemorações pagãs do carnaval, cujas consequências, desde a saúde física até à alma, são sobejamente conhecidas. [...]. É lamentável o erro estimular em nome do poder público, e à custa de seus cofres, as mais reprováveis manifestações de incultura, licença, luxúria e corrupção, vividas no carnaval. Todos conhecem o grande número de crimes contra a honra, contra os costumes e contra a vida que, infelizmente, se verificam durante as festas carna-

valescas”, destacou o vereador. Ano passado, o tema sobre a influência positiva e negativa do carnaval voltou à tona de forma intensa após um vídeo da jornalista Rachel Sheherazade, no programa Tambaú Notícias, da TV afiliada ao SBT na Paraíba, ter sido divulgado no Youtube. O vídeo, que ultrapassou um milhão de acessos na internet, ganhou visibilidade e alimentou um forte debate entre internautas ao criticar de forma contundente algumas características do carnaval. Em sua análise, Rachel afirmou que atualmente o carnaval não é uma festa popular e sim para quem tem poder aquisitivo. Ela também ressaltou que o prejuízo para o poder público é astronômico durante e depois da festa, especialmente no setor da saúde.“Dizem até que faz girar a economia. Que os pequenos comerciantes conseguem vender suas latinhas, seu churrasquinho. Se esses pais de família dependessem do carnaval para vender e viver, passariam o resto do ano à míngua. [...]. Carnaval só dá lucro para donos de cervejaria, para proprietários de trios elétricos e uns poucos artistas baianos. No mais, é só prejuízo”, ressalta a jornalista no vídeo. Entre polêmicas, festividades e gastos acima da média, indiscutivelmente, o carnaval está enraizado e presente na vida dos brasileiros. E, você gostando ou não, o período da folia já tem data marcada para começar esse ano: dia 18 deste mês, prosseguindo até o dia 21. Resta saber se ele será de festa, de descanso ou de trabalho. Já escolheu sua opção?

A origem do carnaval Surgido na Grécia, entre os anos 600 e 520 a.C., adotado como festa da Igreja Católica em 590 d.C., o carnaval só veio para o Brasil por volta de 1723. No século XIX, surgiram os carros alegóricos e as pessoas passaram a se fantasiar, além de ter sido composta a primeira marchinha referente ao carnaval: Ô abre alas! da compositora Chiquinha Gonzaga.

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MARKETING | MMA

UFC

o combate que virou espetáculo por

fábio bandeira de mello

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imagens

divulgação

A nova sensação do esporte mundial está conquistando muito mais do que fãs. Está se transformando em uma verdadeira vitrine para diversas marcas.

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lutador Anderson Silva (Spider) entra no octógono. Do outro lado, outro brasileiro, Vitor Belfort. A luta é cheia de expectativa, afinal,

os dois possuem uma série de títulos, vitórias históricas na modalidade e decidem o cinturão dos médios no UFC 126 em um duelo apelidado de “luta do século”. Mais do que isso, eles entram com a missão de aproximar o esporte do público. E o resultado do duelo naquele dia 6 de fevereiro de 2011 foi além do esperado.

“A luta entre Anderson Silva e Vitor Belfort foi a primeira real mobilização popular em torno do MMA (Artes Marciais Mistas) no Brasil. Todos queriam ver o duelo entre o número um do país e o lutador brasileiro mais popular entre as pessoas que não eram fãs do esporte”, afirma Alexandre Matos, editor do MMA Brasil, portal referência na modalidade. Segundo ele, esse foi o grande estopim para a alavancada do MMA e das competições do UFC (Ultimate Fighting Championship), que hoje está se transformando na nova “menina dos olhos” dos amantes de esporte e também do marketing. E os números são impressionantes no Brasil e no mundo. De acordo com a empresa de marketing esportivo Turnkey Sports, o UFC transformou-se na marca esportiva mais valiosa dos Estados Unidos em 2011. Com a renda média de 70 milhões de reais por noite, o evento superou ligas como NBA (de basquete), NFL (de futebol americano) e X-Games (de esportes radicais). Aqui, tivemos duas competições UFC Rio, recordes na compra das lutas pelo sistema de pay-per-view, inaugurações de dezenas de academias de artes marciais - inclusive para crianças - e mais de US$ 130 milhões em faturamento através de produtos licenciados pela marca na América Latina. Inclusive, na rede social do Facebook, o UFC foi o

tema mais citado pelos 30 milhões de usuários no Brasil ano passado. A aceitação do esporte, principalmente entre o público jovem, e as fortes estratégias de marketing adotadas pelos organizadores do evento estão ocasionando uma revisão de diversas marcas. Se antigamente pensar em associar a imagem da empresa a esportes violentos era uma grande heresia, hoje, transforma-se em uma chance real de visibilidade.

It’s time O bordão adotado pelo apresentador do UFC Bruce Buffer na hora das lutas e utilizado como intertítulo logo acima cabe como uma luva para falar sobre o momento desse esporte e das marcas que começaram a investir nele. A justificativa, inclusive, está na ponta da língua do manager de atletas, Bruno Mendonça: “isso se deve, sobretudo, ao perfil do público que consome este esporte. As marcas se interessaram em associar seu nome pela possibilidade de se relacionar com o consumidor do UFC, seja através

de ações pontuais, ativações in loco, ou somente pela exposição que a competição gera. Se existe consumidor potencial acompanhando lutas de MMA, então, este esporte é uma ferramenta interessante”. Dentro dessa linha, as expectativas apontam para um crescente investimento nesta modalidade. De acordo com recente pesquisa da Deloitte, a taxa de crescimento de adeptos e fãs do esporte, que há alguns anos era praticamente desconhecido no Brasil, já o transformou no 8º esporte favorito entre os brasileiros. O resultado é a valorização em termos econômicos e a atração de consumidores e novos patrocínios. E atualmente não faltam marcas buscando seu espaço nesse território. Há patrocínios de empresas de materiais esportivos, montadoras de automóveis, redes fast food, laboratórios de tecnologia e até de livraria. A Burger King, por exemplo, fez uma campanha com o Anderson Silva desmistificando o mito dos lutadores terem que ser sempre valentões e maus. A Ford aproveitou o mesmo atleta e a atriz Deborah Secco para propagandas da sua linha Fiesta RoCam. Já no primeiro UFC Rio, realizado em agosto de 2011, a emissora RedeTV!, que transmitiu a luta, comercializou cotas com Gillette (P&G), Cachaça 51, Betboo e Integralmédica. Até tradicionais times de futebol estão investindo no universo do UFC, como o Corinthians e o Flamengo. Inclusive, o time paulista já prevê o lançamento de uma linha de produtos ligada à modalidade. Para a professora Clarisse

Na rede social do Facebook, o UFC foi o tema mais citado pelos 30 milhões de usuários no Brasil ano passado.

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Setyon, coordenadora do curso Gestão do Entretenimento na pós-graduação da ESPM, “se o público-alvo de uma marca está assistindo MMA, a empresa tem que estar com ele. Porque não temos mais o consumidor sentado atrás da televisão esperando comerciais para tomar uma decisão de compras”. Clarisse fala que a visibilidade do esporte desperta o interesse até em públicos indesejáveis. “Outro dia estive em uma loja de suplementos alimentares e eles estavam vendendo uma coleção enorme de camisetas dessas que os lutadores se apresentam na entrada do ringue. Hoje, o maior problema da loja é o roubo dessas camisetas. Os ladrões não querem mais os suplementos nutricionais e sim as camisas do MMA”, relata a professora.

Da reformulação ao sucesso no Brasil Muita gente não sabe, mas as competições do UFC nasceram por brasileiros em 1993. A família Grace, especialista no jiu-jitsu, foi a responsável pela organização das primeiras competições, justamente para provar a eficiência de seu estilo de luta. Por sinal, através do lutador brasileiro Royce Gracie, foram conquistados três das quatro primeiras edições do evento. No entanto, o nível de rejeição pela modalidade foi muito alto pelos não praticantes de artes marciais. Como não havia regras, juiz, diferenciação de categorias ou limite de tempo, a competição ficou marcada pelo excesso de violência e brutalidade. Só depois da sua reformulação - ocorrida ao longo das edições - que a competição passou a ganhar simpatizantes. “O esporte, de fato, evoluiu do antigo vale-tudo no início da década de 90. Houve um trabalho importante dos organizadores e dos atletas nos últimos 10 anos para aproximar a prática de algo mais relacionado administradores.com

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MARKETING | MMA

ao esporte e menos à luta livre, ou luta de rua. A definição de regras para amenizar essa característica mais selvagem do MMA, como uso de luvas e atuação mais incisiva do árbitro para evitar o desfalecimento do lutador, contribuíram para melhorar a imagem do esporte e alcançar mais adeptos”, destaca Fernando Trevisan, professor de marketing esportivo e diretor geral da Trevisan Escola de Negócios. Outro ponto importante deve-se à clara mudança de atitude dos lutadores, que entenderam a importância de seus atos dentro e fora do octógono para a imagem do esporte. Alexandre Matos, do portal MMA Brasil, acredita que “a exposição dos atletas, mostrando que são pessoas comuns, sem o rótulo maldito dos pitboys, ajudou muito para melhorar a imagem do MMA”. E nessa linha de frente, muitos brasileiros se destacaram. Atualmente trinta e sete lutadores nacionais estão contratados pelo Ultimate Fighting Championship e distribuídos em sete categorias de peso, dos quais três são campeões: José Aldo Jr [peso pena], Anderson

Silva [peso médio] e Júnior “Cigano” dos Santos [peso pesado]. Para Bruno Mendonça, o desempenho dos brasucas é determinante para o sucesso no país. “Sem dúvida, o fato de lutadores brasileiros participarem da competição cria um laço de identidade entre o torneio e o público, fazendo-o acompanhar cada luta. Mas a questão relevante é termos tantos brasileiros bem-sucedidos em diferentes categorias”, destaca.

Expectativas e consolidação E o negócio do MMA não para. Já tem filme sendo preparado sobre o tema. Vale tudo – uma história de luta (nome provisório) deve estrear em breve contando a vida do lutador José Aldo. A rede Globo, além das lutas no Brasil, vai transmitir a partir de março o reality show The Ultimate Fighter (TUF). Até a escola de samba Beija-Flor entrou no clima e sediou o primeiro evento de MMA da cidade de Nilópolis: O Beija-Flor Fight Combat. “O recente contrato e transmissão realizadas pela TV Globo

colocará o esporte em outro patamar no país. Antes restrito a um público praticante ou já familiarizado com a modalidade, agora o UFC chegará a outras classes sociais, o que permitirá a criação de uma demanda maior por produtos, academias, competições regionais, patrocínios locais e muito mais”, relata Bruno Mendonça. Mas não é só isso, afirma o professor Fernando Trevisan. Ele acredita que o esporte ajuda a consolidar a imagem do Brasil como um excelente organizador de grandes eventos. “O esporte é parte da indústria do entretenimento, uma das que mais crescem no mundo. E a realização do UFC no Brasil é mais um indicador de que o país está definitivamente na rota dos megaeventos, sejam os esportivos, sejam os grandes shows de música. Sabiamente, os gestores da marca acompanharam essa tendência e perceberam o potencial de crescimento do Brasil”, explica Fernando. No entanto, apesar do clima de otimismo, todos entrevistados para essa matéria foram unânimes em dizer que ainda existem algumas

barreiras a serem vencidas. Apesar da aceitação do esporte por parcela da população, o índice de rejeição ainda é alto. Mas esse parece ser um desafio que organizadores, lutadores e admiradores estão dispostos a enfrentar de frente e nocauteá-lo com o tempo.

Anderson Silva em campanha do sanduíche Mega BK™ Stacker da Burger King.

Se o público-alvo de uma marca está assistindo MMA, a empresa tem que estar com ele.

Não confunda!

MMA Mixed Martial Arts

São as Artes Marciais Mistas que incluem tanto golpes de luta em pé quanto técnicas de luta no chão. O MMA é considerado o esporte.

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UFC

vs.

Ultimate Fighting Championship Uma das organizações que instituem torneios das Artes Marciais Mistas. Hoje, o UFC domina 90% do mercado de MMA no mundo, e sua marca foi avaliada em R$ 2 bilhões pela revista Forbes.


QUIZ Você sabe trabalhar em equipe? imagem

thinkstock

O

que para alguns é um tédio, para outros é a grande “fórmula do

5

sucesso”. Trabalhar em equipe, re-

SIM {Some 1 PONTO}

almente, tem seus lados positivos e

NÃO {Some 2 PONTOS}

negativos e cada um lida de uma maneira quando deve compartilhar com outro profissional algum tipo de tarefa. Mas e você? Acredita que consegue trabalhar bem com outras pessoas? Então responda às pergun-

Prefere trabalhar sozinho, pois suas ideias não batem com as dos colegas?

6

Gosta de receber elogios individuais. Por isso, num cargo de liderança, prefere desenvolver suas tarefas sem delegar?

tas abaixo, some as respostas e veja o resultado. Ah,

SIM {Some 1 PONTO}

não esqueça: só vai dar certo se você for 100% sincero.

NÃO {Some 2 PONTOS}

1

2

3

4

Quando está cheio de trabalho e lhe pedem mais alguma tarefa, você logo diz que pode fazer, mesmo sabendo que não dará conta de tudo no prazo?

7

Você recebe críticas com facilidade e gosta de receber feedback de superiores e colegas sobre suas atividades.

SIM {Some 1 PONTO}

SIM {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 1 PONTO}

Você gosta de trabalhar com pessoas que têm opiniões diferentes da sua, pois discussões são sempre saudáveis e dão bons resultados?

8

Gosta sempre de ter o controle da situação, por isso não divide opiniões, resultados, nem problemas?

SIM {Some 2 PONTOS}

SIM {Some 1 PONTO}

NÃO {Some 1 PONTO}

NÃO {Some 2 PONTOS}

Você se sente vigiado quando outras pessoas perguntam sobre seu trabalho?

9

Você tem o espírito competitivo e busca resultados e reconhecimento sobre o seu trabalho, sem cooperar com os demais?

SIM {Some 1 PONTO}

SIM {Some 1 PONTO}

NÃO {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 2 PONTOS}

Você escuta opiniões de colegas antes de tomar certas decisões?

10

Você sabe reconhecer quando a ideia de um colega é melhor do que a sua.

SIM {Some 2 PONTOS}

SIM {Some 2 PONTOS}

NÃO {Some 1 PONTO}

NÃO {Some 1 PONTO}

RESULTADOS Até 14 pontos {Individualista} Você gosta de trabalhar sozinho, prefere não dividir ideias e evita críticas ao seu trabalho. Para ter sucesso no mundo corporativo, será necessário rever seus conceitos, já que a habilidade de trabalhar em equipe é uma das mais procuradas hoje pelas grandes empresas. É importante estar mais aberto para ouvir a opinião dos colegas. Este hábito pode agregar aos seus projetos.

15 a 17 pontos {Moderado} Você procura dividir responsabilidades e ouvir colegas, mas ainda acha que suas ideias são melhores que as outras. Com um pouco mais de esforço conseguirá perceber que, para um melhor resultado, trabalhar em equipe é uma boa opção. O espírito competitivo pode até ser saudável, pois incentiva a busca por resultados. No entanto, esse espírito deve ser compartilhado por todos da equipe, pois o resultado conjunto geralmente é mais significativo que o individual.

18 a 20 pontos {Agregador} Você está afinado com os colegas e sabe dividir tanto o sucesso quanto os problemas, considerando que, para um melhor resultado, é importante que o grupo trabalhe em conjunto. Compreende que o retorno de colegas e superiores é importante para saber se o trabalho está de acordo com o esperado pela empresa. Afinal, críticas são construtivas e colaboram para a melhoria das atividades.

{Teste elaborado pelo portal Finanças Práticas, que faz parte da estratégia de responsabilidade social corporativa da Visa International - www.financaspraticas.com.br }

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MENTE ABERTA MARCAS

Somente um mito por

seth godin

|

ilustração

thiago castor

Por que somente? Que tal: “surpreendentemente, eles criaram um mito...”. Esse não é o sonho de qualquer profissional de marketing? Criar um mito? Seth Godin escreveu treze livros que foram traduzidos em mais de trinta línguas. Cada um tem sido um bestseller. Ele escreve sobre a revolução pós-industrial, a forma como difundir ideias, marketing, parar de fumar, liderança e, acima de tudo, como mudar tudo.

*Steve Wynn é um magnata no ramo de resorts em Las Vegas; suas companhias reformaram ou construíram alguns dos mais conhecidos da cidade. Sua coleção pessoal de arte está exposta no Bellagio, e o centro dessa coleção é Le Rêve, um quadro de Picasso comprado por $48.4 milhões.

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O

s herdeiros de L. Frank Baum não têm nenhum direito de proteção sobre o Mágico de Oz. Dessa forma existem musicais

da Broadway, histórias anteriores, sequências e muito mais. Tudo isso cria um universo rico e emocionante (e torna o filme licenciado ainda mais valioso).

Muitos de nós lembramos das histórias de mitologia que ouvimos na escola (Zeus, Thor e outros heróis). Os mitos permitem nos projetar nas histórias, a criação de interações que nunca aconteceram, além de ceder a liberdade de pegar o que é importante e vivenciarmos através deles. Há dúzias, se não centenas de marcas mitológicas na indústria do entretenimento, como James Bond e Barbie. Mas o mito vai bem além disso. Existe claramente uma mitologia Google e uma mitologia Starbucks. Nós temos impressões diferentes dessas marcas do que as que temos de Maxwell House (marca de café norte-americana) ou Random House (editora de livros), por exemplo. Por que o Papai Noel e o Ronald McDonald têm uma mitologia, mas não o Dave da cadeia de fast-food Wendy’s, ou o Burger King?

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Vamos tentar a Wikipédia: mitos são narrativas sobre seres divinos ou heroicos, arranjados em um sistema coerente, transmitidos como tradições e ligados à vida espiritual ou religiosa de uma comunidade, além de serem aprovados por governantes ou sacerdotes. Então se eu estiver tentando inventar uma marca mítica, me assegurarei de criar uma história, não somente um produto ou uma pilha de fatos. Essa história irá prometer um desfecho heroico, e cumprir essa promessa. E também precisa contar com crescimento e mistério, para que o usuário possa preencher suas lacunas. Aprovação de um governante respeitado ou sacerdote também ajuda. A palavra-chave, eu acredito, é espiritual. Marcas mitológicas criam uma conexão espiritual com o usuário, fornecendo algo que ele não conseguiria encontrar sozinho...

ou, ao menos, oferecendo algo em que possamos escrever a nossa própria espiritualidade. As pessoas usam um Dell. Elas são Apple. Isso pode acontecer acidentalmente, mas geralmente é de propósito. Uma marca pode ser deliberadamente mitológica, criada intencionalmente para desfrutar dos benefícios de um mito. Cassinos de Las Vegas vêm tentando fazer isso há décadas (e geralmente fracassando). Mas fale com um motorista de táxi de Vegas sobre Steve Wynn* e você vai ver que já foi feito ao menos uma vez. Existe uma mitologia sobre Digg e sobre a Wikipédia, mas não sobre o about.com (portal e guia de pesquisa sobre música na Internet). A combinação misteriosa de rankings, visitas e comunidade pode garantir isso, mas principalmente o fato de que as duas primeiras têm figuras públicas no seu comando... heróis. É fácil confundir publicidade com mitologia, mas as duas não são iguais. Não existe mitologia sobre o Zune, por exemplo. Também é fácil pensar que mitologia vai garantir o sucesso financeiro, mas isso não funcionou para a General Magic, uma companhia que conseguiu usar das reputações heroicas de seus fundadores, criou uma oferta pública inicial bastante popular, mas falhou em atender as necessidades do mercado. Porém, a mitologia funcionou para o Andersen’s, uma venda de sorvetes em Buffalo (reconhecida pelo seu clima frio) que tem filas todo santo dia, mesmo em janeiro (mês mais crítico do inverno). Complicado de explicar, difícil de conseguir, mas provavelmente vale o esforço para alcançar.


Profissionais e Empreendedores de Alto Impacto têm um padrão de comportamento que os faz crescer rápido e com cautela. Eles pensam grande, transformam criatividade em produtos e serviços de alta escalabilidade, investem muito em inovação e diferenciais competitivos, são cobiçados pelo mercado e têm a remuneração cada vez maior.

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TENDÊNCIAS | MEMES

Novas linguagens: vocês estão fazendo isso certo por

eber freitas

|

imagens

internet

Desenhos toscos, piadas criativas e vídeos virais podem parecer apenas uma forma de distração (durante o trabalho), mas também representam o surgimento de novas linguagens e formas de comunicação em um mundo onde as fronteiras e tabus são motivo de riso.

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N

a escola você inventou um método de trapacear na prova colocando as respostas em uma pasta transparente ou no caniço da caneta e

achou que era um gênio por isso? Chegou a achar que foi o único no mundo que queria ser algo mais do que um melhor amigo para uma certa pessoa? Ou ainda se sente deslocado por achar mulheres (ou homens) comuns mais atraentes do que modelos? Bem, se você ainda não sabe, essas situações são comuns no mundo todo e compartilhadas diariamente, enquanto um usuário aleatório no Facebook observa e comenta: “caramba, pensei que isso só acontecia comigo”. E rapidamente aquele relato construído através de desenhos inusitados, músicas remixadas ou vídeos vai alcançando cada vez mais usuários até atingir extremos inimagináveis. Os memes – nome dado a essas, digamos, unidades – é um conceito um pouco mais antigo e filosófico do que parece. Em 1976, o biólogo evolucionista britânico Richard Dawkins publicou o livro O gene egoísta, no qual propõe um elemento ligado ao conceito de cultura, relativo à transmissão de memória e conhecimento: o meme – adaptação do grego mimeme (imitação) e aproximação do francês même (mesmo) – é um replicador da cultura humana. Assim como os genes na reprodução sexuada, o seu propósito é a proliferação. A metáfora é válida para os hits diários que povoam a web, os slogans que caem no gosto dos cidadãos digitais, e até para certos versos musicais indesejados. Sendo assim, as nossas mentes se transformam nos instrumentos de sobrevivência e replicação dos memes.

Desafio aceito Pierre Lévy, o filósofo da cibercultura, defende a existência de quatro espaços: a Terra, o Ter-

ritório, a Mercadoria e o Saber. Os processos “mêmicos” se dão, evidentemente, no espaço do Saber, não-territorial e tão etéreo ao ponto de quase inexistir. É por aqui que os inteligentes coletivos – chamemos de internautas – configuram-se e reconfiguram, criando novas linguagens, artes, formas e dispositivos comunicacionais, potencializados pela ubiquidade da web. Quer uma boa desculpa para dar ao seu chefe ou professor quando for flagrado vendo bobagens no computador? Lá vai uma do próprio Pierre Lévy: “Cada vez que um ser humano organiza ou reorganiza sua relação consigo mesmo, com seus semelhantes, com as coisas, com os signos, com o cosmo, ele se envolve em uma atividade de conhecimento e de aprendizado”. Depois é só acrescentar uma cara de troll (tabela 1) no final. No contexto da World Wide Web e sua cultura múltipla, sem fronteiras e sem forma, um bebê fazendo pose de quem obteve sucesso em uma empreitada (tabela 2) é o background de histórias comuns que acontecem com várias pessoas em várias partes do mundo. E a mesma imagem é utilizada em diferentes relatos, de forma completamente ametódica, porém engraçada e interessante em sua simplicidade, de forma que a replicação é intensa – em alguns casos duradoura, até passar a moda. Não é preciso ser um internauta

viciado para lembrar da – perdoem a terminologia – cantora mirim Rebecca Black e sua ode à sexta-feira; toda prévia de fim de semana tinha que ter a Friday nos trending topics das redes sociais, até que os usuários cansaram disso. Pessoas solitárias se transformam no forever alone (3), quem executa uma tarefa com perícia ganha o like a boss (4) e um dinossauro coçando o queixo (5) é quem faz os questionamentos sobre a vida, a morte e outros assuntos dos quais se ocupa a filosofia (ou não). Dessa forma, avacalhando com a cátedra, profanando o sacro, é que as coisas se tornam tão somente engraçadas. Até temas sérios como a pedofilia ganharam versões em memes.

Esse processo de construção de novas estruturas de linguagem com a participação de usuários proativos demonstra que a internet é bem mais do que o caos informacional apregoado por muitos acadêmicos de alta estirpe.

De onde vêm? Sabia que o primeiro emoticon de que se tem registro foi criado em 1982 por Scott E. Fahlman, pouco tempo após a publicação de Burning chrome – conto ciberpunk de William Gibson onde é cunhado o termo “cibercultura”? No começo da

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história dos memes ainda era fácil determinar a autoria e a verdadeira origem das ideias antes de elas se propagarem desordenadamente. Hoje é quase impossível: é como encontrar dinheiro no chão da sala de aula e perguntar de quem é. A coisa toda só funciona assim, ninguém registra direitos de cópia após “inventar” um meme, por isso, muitas vezes é impraticável rastrear a sua origem e até o seu criador – embora alguns traços denunciem sua origem ou, pelo menos, sua inspiração. Barack Obama, Yao Ming, Jackie Chan e até o astrofísico Neil deGrasse Tyson esboçaram reações que se transformaram em memes famosos. A proliferação dos memes acontece principalmente em sites como o 4chan, Reddit e 9gag, além de blogs hospedados no Tumblr. Boa parte deles saiu desses redutos obscuros da web, que detêm uma quantidade de acessos surpreendentemente alta e geralmente aceitam contribuições livres de qualquer usuário gratuitamente, submetendo a qualidade dos memes às votações dos outros usuários. Esse processo de construção de novas estruturas de linguagem com a participação de usuários proativos demonstra que a internet é bem mais do que o caos informacional apregoado por muitos acadêmicos de alta estirpe. Na verdade esse advento foi uma alternativa mais do que válida e aprovada pela sociedade aos modelos tradicionais e desgastados de acesso à informação, como a televisão, o rádio, as bibliotecas e jornais, tanto é que os próprios estão sendo obrigados a se reinventar em um ritmo de urgência para evitar a própria obsolescência. Além disso, ao ignorar o “politicamente correto” das plataformas tradicionais, as pessoas articuladas pela web recuperaram uma capacidade que começava a se tornar rara: a de rir. .

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TENDÊNCIAS | MEMES

Memes de sucesso

(1) Trollface

(2) Success kid

(3) Forever alone

(4) Like a boss

Foi criada por Carlos Ramirez (Whynne), um usuário do DeviantArt (site onde artistas de todo o mundo divulgam seus trabalhos) em 2008 e se tornou popular no 4chan. A expressão irônica com o sorriso largo, olhos estreitos e traços grosseiros indica a satisfação ante a irritação de outra pessoa.

Sammy tinha apenas 11 meses quando foi tirada essa foto na praia, em 2007. A boca e a mão cerradas, salpicadas de areia, lembram uma expressão de vitória, o que foi suficiente para que a imagem se espalhasse pela rede com diversas histórias apenas pela hilária expressão. Hoje Sammy tem 4 anos... será que ele vai fazer essa mesma cara quando tiver idade para saber que sua foto percorreu a internet?

Quem nunca se sentiu só nessa vida, às vezes por períodos tão prolongados que a sensação é de uma eternidade de solidão? Sua origem é desconhecida, mas a postagem mais antiga com o forever alone data de abril de 2010, no 4chan. Às vezes a nomenclatura é alterada para se adaptar melhor à situação (forever a kraken, ou forever a scone).

Às vezes conseguimos fazer uma coisa tão bem feita que nos enchemos de orgulho por um momento. Por vezes essa emoção é descrita por uma rage comic – de nome indecoroso –, outras por fotografias de situações características, como beijar a namorada durante uma manobra na motocicleta.

(5) Philosoraptor Era para ser apenas a estampa de uma camiseta, mas a imagem do velociraptor em pose de questionamento caiu nas graças dos usuários do 4chan. Foi desenhado em 2008 pela loja online Lonely Dinosaur e se espalhou rapidamente pela web junto a questionamentos metafísicos e filosóficos acerca da existência, tais como: “se uma pessoa com múltiplas personalidades ameaça se suicidar, essa é uma situação de sequestro?”

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Por que não pesquisar mais?

Pierre Lévy A inteligência coletiva - por uma antropologia do ciberespaço Richard Dawkins O gene egoísta

(6) Bad Ass

(7) Yao Ming

Uma entrevista de dois minutos foi o suficiente para que o astrofísico Neil deGrasse Tyson virasse um meme dos mais hilários. O depoimento, onde ele homenageia Isaac Newton, foi gravado para o fórum online Big Think. Hoje, é utilizado em excesso pelos internautas e fãs de memes para ironizar supostos “grandes feitos” declarados por outras pessoas.

A cara do jogador de basquete chinês Yao Ming é hilária. Durante uma coletiva em 2009, ele exibiu seu largo e enrugado sorriso, e um usuário do Reddit captou o momento. Resultado: sucesso instantâneo. Qualquer história com uma deixa para réplicas irônicas ou situações de desleixo e embaraço ficam mais engraçadas com a gargalhada do chinês. O seu uso normalmente inclui termos impublicáveis.

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ESPECIAL

ENTENDA MAIS

Depois de você ter acompanhado o infográfico nas páginas anteriores sobre a Cauda Longa, está na hora do próprio autor da teoria, Cris Anderson, explicar com suas palavras o significado desse movimento do e-commerce – que transformou o mercado de massa em um mercado de nicho. 32

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Através de um formato bem diferente dos livros tradicionais de negócios, em quadrinhos, Anderson lançou uma segunda versão do livro, na qual, você pode conferir algumas páginas a seguir:


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CAPA | obsolescência programada

Programados para acabar

por

fábio bandeira de mello

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imagens

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TVs que quebram rapidamente, impressoras que parecem ser descartáveis e celulares fora de linha um ano após sua fabricação. A corrida pelo consumo e pelos lucros está formatando uma manobra comercial cada vez mais comum em diversos segmentos: a obsolescência programada.

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V

ocê já reparou que há algumas décadas, nos tempos de nossos pais e avós, os produtos geralmente duravam bem mais, se comparar-

mos com os de hoje? TVs, eletrodomésticos em geral e até brinquedos permaneciam em pleno funcionamento por pelo menos uns 20 anos. Era comum, inclusive, assistir às empresas desses setores se digladiarem através das propagandas para anunciar quem possuía a maior garantia em seus produtos. Mas parece que essa realidade está se alterando e aqueles com durabilidade elevada estão em processo de extinção.

Não é difícil encontrar baterias que acabam após 18 meses de uso, impressoras que bloqueiam ao atingir um número de cópias e eletrodomésticos semi-novos que precisam de reparo. “Eu não troco de jeito nenhum a minha máquina de lavar. Ela funciona diretinha até hoje”, diz Dona Antônia sobre sua Brastemp comprada ainda na década de 80. Ela conta que comprou para sua filha uma máquina novinha há quatro anos, sendo que já a jogaram fora depois de ter sido enviada três vezes para o conserto exigindo manutenção. “Parece que elas quebram de propósito para a gente gastar mais”, reclama a dona de casa. E a revolta da Dona Antônia tem justificativa, de acordo com os produtores do documentário espanhol Comprar, descartar, comprar. Eles questionaram o porquê dos produtos de consumo durarem cada vez menos, apesar dos avanços tecnológicos. “Muitas lendas urbanas circulam sobre produtos eternos que desaparecem após inventores criarem algo que funciona muito bem. Quase todo mundo já ouviu as pessoas mais velhas falarem que as coisas duravam muito mais. Queríamos saber se isso é verdade. E com um trabalho de mais de três anos, encontramos provas de que empresas projetam produtos de forma que sua durabilidade ou funcionamento se dê apenas por um período reduzido”, relatou Cosima Dannoritzer, diretora do documentário ao jornal catalão Diário de Mallorca. A prática, aliás, tem um nome pouco escutado pelo consumidor, mas que é apontado como um fenômeno industrial e mercadológico presente em diferentes setores: a obsolescência programada.

O fim em 1000 horas Desde o inicio do século XX, muitas organizações começaram a ver que nem sempre era vantajoso fabricar produtos duráveis, e que poderiam intervir nisso. O caso mais emblemático quando o tema remonta produtos programados para deixarem de funcionar são as lâmpadas que se fundem às mil horas. O documentário Comprar, descartar, comprar aponta a criação de um cartel nomeado Phoebus, na década de 1930, pelos fabricantes de lâmpadas do mundo inteiro. Eles perceberam que as pessoas consumiriam cada vez menos se o produto durasse mais, o que prejudicaria os lucros e o avanço das empresas. Então, o objetivo do cartel era simples: diminuir e padronizar a durabilidade das lâmpadas em 1000 horas para

estimular o consumo constante – motor do capitalismo moderno. A impressora também é o destaque da linha dos produtos com data de validade de funcionamento. “Existe uma espécie de chip dentro da impressora onde se guarda um contador de impressões e quando se chega a um número determinado, a impressora bloqueia e deixa de imprimir”, destaca o técnico de informática Marcos Lópes no documentário espanhol. E por incrível que pareça, sai muitas vezes mais barato substituir do que consertar um produto. Para o analista de sistemas Nicodemos Cruz, “quase nunca vale a pena

e um novo é melhor, né?!”. Na realidade, apurando as reais mudanças de um veículo para o outro, o novo sofre apenas pequenas alterações no farol, além de alguns filetes e bordas cromadas. No entanto, algo parece bem claro: o carro atual não o satisfaz mais como antes e ele sente a necessidade do modelo mais recente. A atitude de Rafael e de tantos outros consumidores na hora de trocar o veículo por um mais novo é outra vertente da obsolescência programada e que, aliás, já estava enraizada na sociedade muito antes de nascermos. Na década de 1920, o presidente da General Motors

Desde o início do século XX, muitas organizações começaram a ver que nem sempre era vantajoso fabricar produtos duráveis, e que poderiam intervir nisso. consertar uma impressora ou um estabilizador. Eles são, geralmente, mais caros para reparar e às vezes é difícil encontrar peças”. Até esse jornalista que vos escreve passou por situação semelhante com um bebedouro gelágua. Dois anos após a compra, ele simplesmente parou de gelar a água. O conserto mais caro do que o produto fez com que não restasse alternativa: adquiri outro.

Alfred Sloan já buscava atrair os consumidores a trocar de carro por causa da mudança anual de modelos e acessórios, mesmo que as alterações fossem mínimas. A estratégia mercadológica mostrou-se muito eficiente ao tornar os automóveis velhos ou fora de linha em um curto espaço de tempo, tendo que ser substituídos por outros mais “modernos” rapidamente.

Compram-se carros

A persuasão do novo

O bancário Rafael Vasconcelos está vendendo o seu carro. O veículo é completo: ar condicionado, direção hidráulica, vidros elétricos e ano de fabricação 2010. O objetivo da venda pelo Rafael é simples: comprar um novo da mesma marca sendo, agora, o modelo 2012. Ao perguntá-lo o motivo da troca, a resposta foi rápida e simples: “esse tem bem mais detalhes

O segmento automotivo é apenas um entre tantos outros setores que despertam no consumidor um interesse contínuo da troca de algo por um novo – numa espécie de obsolescência ideológica. Basta olhar a quantidade de celulares e computadores que chegam ao mercado todos os meses – aqueles que ontem eram “top de linha” e hoje já estão ultrapassados. São produtos que ainda

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CAPA | obsolescência programada

poderiam ser usados naturalmente (claro, com algumas limitações de recursos), mas que viram descarte fácil entre os consumidores. Só para você ter ideia, LG, Samsung e Nokia, juntas, fazem mais de 100 modelos de celulares/ smartphones por ano. E o resultado disso são novos recordes de vendas na indústria tecnológica. De acordo com a consultoria Gartner, em 2011, houve um aumento de 5,6% nas vendas de celulares e 42% nos de smartphones, em comparação a 2010. A expectativa do setor para o ano é uma nova elevação nesse índice. “Todo ano surge um produto que inspira um desejo no consumidor e isso parece criar um novo modelo de consumo imediato. É só imaginar se usaríamos hoje o celular que tínhamos há cinco anos. Atenderíamos na rua com vergonha”, comenta Marcos Hiller, professor de Marketing em diversas pós-graduações como FGV, Trevisan e BSP. E até a Apple, que dita a vanguarda tecnológica mundial, não foge à regra da obsolescência de seus produtos de acordo com o professor. Para Marcos, o iPad 1 poderia muito bem ter câmera, mas se tivesse não despertaria o desejo nas pessoas de comprar a segunda versão. “O próximo iPad com certeza vai trazer funcionalidades que poderiam existir já no primeiro, mas que não estavam – entre outras coisas – por questões comerciais. É um movimento que a indústria cria para girar produto e fazer com que a gente consuma cada vez mais. Sob a ótica financeira da empresa, não é interessante um produto durar décadas sem substitutos”, afirma. Mas não ache que apenas produtos tecnológicos, eletrônicos e automóveis participam do seleto grupo da obsolescência programada. A própria moda é um exemplo claro dessa tendência. Você nunca se perguntou por que os estilos de camisas mudam tanto nas lojas? 40

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Uma hora, o bacana é usar a gola em V de malha. Na próxima estação a tendência são as pólos, em outra, camisas sociais dobradas, e assim por diante, num ciclo sem fim.

É assim que a banda toca Se você chegou à leitura dessa reportagem até aqui, já deve concordar comigo que, ao longo das décadas, a obsolescência programada (ou a ideológica) tem se tornado cada vez mais constante e presente nos momentos de consumo da população. Desde que a publicidade ganhou força após as guerras mundiais e com a chegada da mídia televisiva, somos bombardeados por anúncios e campanhas todos os dias, tendo como consequência achar algo absolutamente natural o ato de consumir intensamente. O papel do marketing, da publicidade, das linhas de crédito facilitadas aos consumidores e até das táticas comerciais das empresas está pautado em construir essa “necessidade do novo”. Mas não ache que essa situação possui apenas o seu lado negativo. Afinal, a obsolescência programada colabora para o desenvolvimento e inovação de diversos setores e ela pode estar garantindo o seu emprego. “Toda a sociedade é baseada na atividade econômica. Isso produz empregos e gera renda”, relata Leonardo Araújo, professor de Marketing e pesquisador do Núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral. No entanto, para o professor, isso só acontece a partir das empresas que são verdadeiramente proativas, que antecipam as tendências de consumo e dirigem o mercado. “Veja o que a Danone fez com o Activa, criando uma necessidade de consumo para um determinado público. Antes, as pessoas não consideravam em sua decisão a possibilidade de escolher um iogurte funcional. Mas se a Danone fizesse isso com um produto ruim ou que não funcionasFevereiro/Março 2012

se, ela não venceria o jogo. Então a ideia de trabalhar a obsolescência de um produto é a partir de uma melhoria de algo que já existe e dar benefícios reais para quem está comprando”, destaca o professor. Humberto Mendes, vice-presidente da Federação Nacional das Agências de Propaganda, também defende essa tese. “Já pensou se a Ford ainda estivesse fabricando seus carros com base no primeiro projeto do chamado Ford Bigode? Seria a tragédia da vida da montadora e de qualquer outra empresa que não tomasse a atitude correta, ou seja, de se atualizar, modernizar e seguir a tendência dos novos tempos, adequando-se às exigências do mercado”, destaca. Se a publicidade e as estratégias

Todas essas novidades eletro-eletrônicas e a velocidade de consumo colocam em xeque uma das bandeiras mais discutíveis no século 21 pelas grandes empresas e pela sociedade: a sustentabilidade. mercadológicas colaboram para a obsolescência existir, há, também, um fator ainda mais determinante na hora de despertar o consumo. Como já dizia o poeta inglês John Donne, no século 16, “nenhum homem é uma ilha”, ou seja, ninguém

consegue viver sozinho. É nesse panorama que as pessoas se formam em grupos sociais, a partir de suas características, comportamentos e, claro, das escolhas de consumo. O simples ato de optarmos por determinados produtos – estilo de roupa, música e carro – enuncia diversas características a respeito de quem somos e em que grupo social estamos inseridos. O célebre pensador David Émile Durkheim, um dos estudiosos pilares da Sociologia, manteve em seus textos a base desse conceito de que nosso comportamento está relacionado com aquilo que nos cerca. “A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios - sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento - que baliza a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela”, descreveu.

Efeito colateral Todas essas novidades eletro-eletrônicas e a velocidade de consumo colocam em xeque uma das bandeiras mais discutidas no século 21 pelas grandes empresas e pela sociedade: a sustentabilidade. Quando as pessoas optam por adquirir um novo aparelho, o antigo, geralmente, é descartado em lixos comuns sem que haja um destino correto para a seleção e possível reciclagem. Além disso, são poucas empresas e municípios que possuem algum projeto que se preocupe com a coleta ecologicamente correta. A estimativa do Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma) é de que, no mundo, 40 milhões de toneladas de lixo eletrônico são geradas por ano. Grande parte ocorre nos países ricos, sendo a Europa responsável por um quarto desse lixo. No entanto, países emergentes como Brasil, Índia e China já devem ficar preocupados. Impulsionados pela estabilidade


Rapidamente obsoletos Existem alguns produtos que chamam a atenção pela sua rápida vida útil, seja por danos ao aparelho ou pela troca por um modelo mais novo. E os campeões são:

O que fazer com o lixo eletrônico?

Telefone celular Geralmente tem vida útil de 18 meses. Como a concorrência é bastante acirrada no setor, dezenas de modelos com novas funcionalidades e preços mais acessíveis são lançadas todos os anos – incentivando, assim, a mudança dos aparelhos com certa frequência.

Quem quiser se livrar do computador velhinho ou de qualquer outro aparelho eletrônico e não quer esperar o Plano Nacional de Resíduos Sólidos pode procurar algumas saídas. Uma delas é contatar a empresa responsável pela fabricação do produto e verificar se ela possui algum programa de coleta e reciclagem. Se não tiver, a opção é buscar instituições que atuam na reciclagem de material eletrônico em sua região. Algumas prefeituras, inclusive, possuem convênios com essas cooperativas.

Hardware Problemas nas peças do seu computador ou de seu eletro-eletrônico? É... Muitas peças e hardwares têm datas praticamente fixas de funcionamento. Um relatório recente da SquareTrade, provedora de serviços de garantia estendida, feito com 30 mil computadores portáteis, mostra que um entre três netbooks começa a falhar nos três primeiros anos de uso.

Impressoras Os preços de uma nova encantam na loja. No entanto, em caso de manutenção, elas não costumam dar alegrias ao consumidor. Ambos os gastos são equivalentes. E não ache que quebrar é algo difícil de acontecer com as impressoras. Você provavelmente deve conhecer pelo menos um indivíduo que já teve problemas com o seu funcionamento e essa pessoa deve conhecer outro que também já penou na mão de uma.

Baterias Muitos eletrônicos possuem baterias recarregáveis, mas depois de certo ponto não mantêm a carga e precisam ser substituídas. No entanto, às vezes, é uma verdadeira odisseia tentar substituir essas baterias. Este é o ponto em que algumas pessoas simplesmente passam para um novo produto. Especialmente falando de MP4, iPods, tablets e outros gadgets da moda.

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Veículos Sim, eles continuam a funcionar normalmente, mas o desejo de possuir o modelo mais novo está enraizado na maioria dos donos de automóveis e motos. É só você reparar as ruas de sua cidade. Já não é comum encontrar aqueles veículos com mais de 10 anos de fabricação.

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CAPA | obsolescência programada

econômica e uma classe média cada vez mais forte, o crescimento do consumo doméstico e a troca de produtos antigos pelos novos aumenta em escala acentuada. No caso dos PCs, nosso país abandona 96,8 mil toneladas métricas por ano. O volume só é inferior ao da China, com 300 mil toneladas. Nos segmentos de geladeiras e celulares que terminam no lixo, o Brasil também é um dos líderes, com cerca de 115 mil toneladas e 2,2 mil toneladas por ano, respectivamente. Em comunicado, Achim Steiner, diretor executivo do Pnuma, declarou que os países em ascensão serão os mais afetados pelo lixo no futuro, enfrentando “crescentes danos ambientais e problemas de saúde pública”. E a afirmação do porta-voz da Pnuma faz muito sentido de acordo com o toxicólogo Marcus Oliveira, que já atuou como pesquisador na School of Biochemistry and Immunology e recentemente dá consultoria para empresas sobre o tema através da Recicloambiental. “Cerca de 95% do que é produzido tem sido jogado nos lixões de forma inadequada. A maioria desses eletro-eletrônicos possui metais extremamente tóxicos, como mercúrio e chumbo. Através do processo de degradação desses produtos ao longo do tempo, seus componentes tóxicos podem contaminar os lençóis freáticos e causar a contaminação de pessoas e alimentos”, explica o pesquisador. Entre as doenças possíveis estão os distúrbios no sistema nervoso, problemas nos rins, pulmões, cérebro e até envenenamento. Para Marcus, além do peso desse material que está sendo jogado de forma inadequada, há também a questão de extrair novamente mais recursos da natureza para produzir os novos produtos. “Existe não só

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o impacto do lixo que está poluindo o meio ambiente, mas também o impacto da nova extração. E esse é outro grande problema”, destaca.

Soluções? Elas existem Mesmo que as informações sobre o que fazer com o lixo eletrônico sejam escassas, existem algumas iniciativas que mostram possíveis caminhos para uma solução mais ativa do problema. Uma atitude interessante que vem mobilizando milhares de pessoas pelo mundo é o Electronics TakeBack Coalition. Ele exige dos fabricantes de eletrônicos e proprietários da marca que assumam a responsabilidade total do ciclo de vida de seus produtos. O movimento ganhou tanta força que já fez com que grandes empresas fossem a público anunciar mudanças em alguns dos materiais utilizados, além de programas de devolução e manutenção de suas mercadorias. E até novos mercados vêm surgindo com um olho na sustentabilidade e contrapondo qualquer característica da obsolescência programada intencional. As lâmpadas de LED, por exemplo, não possuem a substância tóxica do mercúrio e têm 25 mil horas em média de vida útil. “Os LEDs vão transformar a estrutura do mercado de iluminação de maneira substancial. O mercado de reposição de lâmpadas deve diminuir à medida que esta tecnologia

evoluir. Elas têm maior eficiência energética, consumindo até 80% menos quando comparadas às lâmpadas incandescentes”, explica Sérgio Binda, diretor de Marketing de Iluminação da Philips para a América Latina, umas das empresas pioneiras a disponibilizar esse produto. No entanto, a maior novidade no Brasil fica por conta da aprovação do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que, após duas décadas de discussões, mudará a forma como o país trata o lixo. O plano prevê a implementação da logística reversa pelas empresas. Trata-se de um conjunto de ações que garantem a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial. Com isso, quem tiver um eletro-eletrônico em seu fim de vida útil ou algum produto de setores inclusos no plano (como os de pilhas, baterias e pneus) deve entrar em contato com o fabricante, que será responsável pela coleta. Mas não dá para esperar o projeto entrar em absoluto vigor para começar a pensar no problema do lixo eletrônico. Apesar de poucas, existem iniciativas pelo país que já promovem a reciclagem desses materiais. O Cedir (Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática) – organizado pela USP – é um dos mais atuantes. O Cedir recupera equipamentos, reaproveitando as partes que funcionam, e os destina a instituições sem fins lucrativos, com a condição de que esses equipamentos, ao serem descarta-

Todo ano surge um produto que inspira um desejo no consumidor e isso parece criar um novo modelo de consumo imediato.

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dos, sejam devolvidos ao centro para a destinação final correta. A MetaReciclagem também atua intensamente nesse objetivo. Iniciada em 2002 como um grupo interessado em dar outro uso ao lixo eletrônico, a rede agrega cada vez mais pessoas e organizações de todo o país que promovem e influenciam iniciativas para diminuir o impacto ambiental do lixo. Uma dessas ações são as oficinas de reaproveitamento da tecnologia e transformação de computadores velhos para montar máquinas recicladas. Outra ação vem da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo e do Instituto Sergio Motta. A parceria criou o E-lixo maps [www.e-lixo.org], onde os moradores da capital paulista podem ver quais são os pontos de coleta de lixo eletrônico mais próximos de sua residência. E só inserir o CEP no site e os locais de coleta cadastrados são apontados no Google Maps. E realmente é bom estar preparado para o que vem por aí. A estimativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente é de que, até 2030, o Brasil produza 680 mil toneladas/ano de resíduos eletrônicos, sendo cada brasileiro responsável pela geração de 3,4 quilos desse lixo digital. De acordo com o toxicólogo Marcus, a grande solução é encarar os problemas de frente e contar com a participação de todos: “A obsolescência programada é uma estratégia de mercado que deve continuar existindo. Então, o objetivo é minimizarmos os impactos dessa prática, como a construção dos novos produtos a partir da matéria prima de seus anteriores. E se cada um fizer sua parte – governo, empresas e indivíduos dentro de suas casas – teremos um bom motivo para nos orgulhar quando chegarmos ao futuro”.


A lâmpada que dura Você consegue imaginar uma lâmpada acesa sem desligar por 11 anos consecutivos? Não? E que tal 111? O caso surpreendente vem da cidade de Livermore, Califórnia, mais precisamente na central de bombeiros local. Acesa em 1901, ela só foi apagada por alguns cortes de energia e quando o prédio mudou no ano de 1976. Uma das justificativas para tal fenômeno é a corrente baixa que alimenta a lâmpada e o fato dela ter sido feita à mão com peças diferentes. A lâmpada - que definitivamente não conheceu a obsolescência programada – está registrada no livro Guinness World Record, virou atração turística na cidade e possui até página no Facebook: adm.to/111anos_lampada

MAIS + Assista ao documentário Comprar, descartar, comprar em adm.to/video_espanhol + Veja o contato de diversas cooperativas de lixo eletrônico em adm.to/saida_lixo

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JORNALISMO GONZO | PERSUASÃO

Em um dia de aventura por uma capital do nordeste brasileiro foi possível testemunhar que pedir, negociar e persuadir têm mais coisas incomuns do que se pode imaginar. E o resultado dessa empreitada foi a criação dos “5 fundamentais segredos da arte da mendicância”. por

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ícaro allande

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imagem

thinkstock


‘‘B

endita hora que aceitei fazer esta reportagem! Eu poderia estar matando, roubando, mas tinha que aceitar fazer esta matéria?!”, reneguei assim mais de 10 vezes

esta revista, ultrapassando em número até Pedro, o Santo Pedro, que fez o mesmo com seu amado mestre Jesus três vezes, mas que, concordemos, em grau de importância, foi bem mais feio. Que ideia a do meu editor, hein? Sentir na pele como funciona o ato da persuasão com as pessoas que trabalham com isso todos os dias por completa necessidade: os pedintes.

Devo confessar que vestir-me como um mendicante até que foi fácil, até mesmo porque minha vó vive repetindo: “Pra onde vais, menino? Vestindo assim pareces um mendigo!” Mas esmolar por comida e esbarrar na indiferença de vidros e olhos fechados foi muito difícil. Como dirá, em sua autobiografia, um mendigo desses que mudam de vida todos os dias: é a indiferença, a prova cabal de que o homem descende do animal. Todavia, aprendi bastante com essa magnífica experiência de vida. Os pedintes têm muito a nos ensinar, de forma que todos precisam aprender, inclusive os administradores, que no seu trabalho precisam convencer várias pessoas, em diferentes situações, dos seus pontos de vista. Pedir é uma arte assim como negociar, só que mais arriscada, pois na maioria das vezes o que está em jogo é a sua vida. E foi a partir desta incrível descoberta que achei de grandessíssima relevância sussurrar nos ouvidos do leitor os 5 fundamentais segredos da arte da mendicância. Quer ser um grande mendigo, digo, um grande negociador? Continue lendo o texto.

1 – Vença pelo cansaço 6h da manhã quando o “despertador” toca. Há mais de um ano que

não acordo por essas horas. Levanto irritado, solto uns palavrões, lavo o rosto, tomo banho, a cara de “morto de sono” desce pelo ralo. É quando começa a nascer o mais novo

dicas estão baseadas, o ser humano comum fica mais propenso a aceitar tudo que lhe dizem quando está cansado. Então, queridos aprendizes, cheguem lá na frente daquele ônibus lotado, começo da manhã, meio-dia ou fim de tarde, e façam como eu fiz, com cara de fome (mesmo que sejam como eu: moreno, alto, forte e de olhos verdes) repitam: — Pessoal, um minuto da sua atenção, por favor. An-ham (uma tossida para ver se você consegue aumentar sua plateia). Estou desempregado, em busca de emprego, mas deixei uma mulher e cinco meninos pequenos em casa sem tomar café, com fome, preciso alimentá-los, PELO AMOR DE DEUS, me ajudem, qualquer dez centavos ajuda. Quem mais estava cansado, mais ajudou. Matemática do pedinte:

Pedir é uma arte assim como negociar, só que mais arriscada, pois na maioria das vezes o que está em jogo é a sua vida. pedinte de João Pessoa, na Paraíba: cabelos despenteados e barba por fazer, camisa esburacada de um candidato a vereador derrotado nas eleições passadas, bermuda azul desbotadíssima, quase branca, e um par de havaianas marrom, porque essas “todo mundo usa”. E saio assim de casa, sem ter tomado o café da manhã e só com o dinheiro do “busão” (ida e volta). Ao pisar na calçada, não pude não reclamar do calor que fazia já cedo da manhã. Mas querido leitor, preste atenção, não faça como eu faço, faça como eu digo, e não xingue o lindo sol de dezembro de João Pessoa. Fique feliz porque essa hora é perfeita para pedir. Pois, como apuraram os autores do livro 50 segredos da ciência da persuasão, no qual parte das minhas fundamentais

quanto mais bocejos, mais centavos. Café da manhã garantido!

2 – Que me perdoem os cheirosos, mas fedor é fundamental Primeira parada: terminal de integração de ônibus do Varadouro, o maior e mais movimentado da cidade. Lá decidi usar duas estratégias. Como as pessoas se sentem mais incomodadas com essa abordagem mais direta, escolhi começar com um papo mais reto – Um trocado pra eu comer, pelo amor de Deus! – e depois chegar com um mais elaborado, repetindo a história anterior do ônibus. Com um pedido mais simples arrecadei míseros R$ 1,50, a maioria das pessoas nem olham para você. Fevereiro/Março 2012

Com a súplica mais longa, faturei R$ 5,20, as poucas pessoas que me escutaram me ajudaram, contrariando o que algumas pesquisas psicológicas afirmam: “mensagens menores trazem mais resultado” uma ova! Mas uma coisa é certa, mensagens menores não trazem duas senhoras me olhando feio e me desmascarando: “Saia daqui, você é muito cheiroso para um mendigo”. Por isso, crianças, não escutem seus pais. Para ser um grande mendigo é preciso ser igual ao Cascão. Conversei com dois mendicantes do local, um velho emburrado que pedia como se negasse, e um cadeirante sorridente de bêbado. E adivinhem só, os dois fediam, e, pelo que vi, estavam se dando bem.

3 – Mais instinto menos estudos Com fome, tomei um café e comi um misto pelo desjejum tardio, menos R$ 3,00. Como já estava chegando próximo das 11h, fui pro sinal mais próximo e comecei os trabalhos. Conforme me ensinaram uns formandos do 2º grau do Colégio Estadual Lyceu Paraibano eu fiz cara de miséria e o discurso na ponta da língua. Depois de uma hora naquele inferno sem sombra, foi como diz uma música por aí: “Tentativas em vão, para poder comer um pão”. R$ 2,00 apenas, o suficiente para almoçar, mas pouco dinheiro para muito trabalho. Por que pensa o quê? Sol de meio-dia em João Pessoa só perde no mundo todo para o de Teresina, no Piauí, e para o do deserto do Saara. Então, se você quer ser um pedinte profissional, faça diferente, siga o exemplo do Francisco Rafael da Silva, vulgo “Mãozinha”, 28 anos de idade. Ele sim entende das coisas. E olhe que ele só tem o primeiro grau. Olho nele! Porque lá vai ele, na base do instinto, com sorriso na cara, gingando feliz entre os carros, olha lá, não falou nada e conseguiu uma nota de R$ 5,00, coisa rara, hein? Além do mais, administradores.com

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JORNALISMO GONZO | PERSUASÃO

nos ensinou que “se sorrirmos para o mundo, ele vai nos sorrir também”. É bom frisar que se ele tivesse ao menos uma das mãos eu apertaria efusivamente, mas, infelizmente, perdeu-as num acidente de trabalho.

4 – Apele para a Emoção Almocei um prato feito de respeito no centro da cidade. Custou caros R$ 5, mas valeu todo o esforço para consegui-lo. E em seguida, mudei para a modalidade “pedinte de rua”. Debaixo de uma sombra, encostado na parede, inicie com o velho e simples arroz com feijão: estética da fome no corpo e um pedido com uma voz arrastada, quase agonizando antes de sair da boca: “Me ajude, pelo amor de Deus”. Resultado: 50 centavos de sucesso, isso depois de duas horas em pé. Aí descontente com meu desempenho, resolvi melhorá-lo, e com uma pequena substituição, lembrando que o Natal estava próximo, virei o jogo: “É Natal, me ajude pelo amor do menino Jesus”. Saldo: 1000% de diferença.

Todos os pedintes entrevistados me falaram que nessa data do ano o faturamento dobra, eles ganham cesta básica, e um me confidenciou que, pela primeira vez na vida, viu uma nota de R$ 100,00: “Foi amor à primeira vista, rapaz, só que, você sabe, né, felicidade de pobre dura pouco”. Enfim, Natal, época de nos sentirmos culpados por não ajudarmos o próximo durante todo o restante do ano.

5 – Só mendigue se você realmente precisar Finalizei a tarde nos sinais, e apurei mais R$ 10,00, num total de lucro no dia de R$ 14,30. Como eu estava cansado e louco para comer a comida da minha mãe, chamei o grande “Mãozinha” e lhe entreguei todo o dinheiro, pois ele precisa de verdade, tem três filhos e uma mulher para sustentar. E você sabe, ele poderia estar matando, roubando, mas está ali, apenas pedindo.

identifique!

Os principais tipos de mendigos Faturamento

Persuasão

Artesãos

R$ 20 por dia Eles chegam – “Essa linda e valiosa pulseira de arame é sua”. É nós nos sentimos obrigados a retribuir “o favor”. Lei da Reciprocidade, anotem!

Deficientes Físicos

Loucões

R$ 30 por dia

R$ 5 por dia

Pena e projeção: “o coitado não pode mesmo trabalhar, já imaginou se fosse no lugar dele, fatalidades como essas acontecem com qualquer um”.

Eles falam sozinhos ou com bonecas e não dizem nada com nada. Se nós não fugimos, damos logo o dinheiro para aquela figura deprimente sair do alcance de nossas vistas.

idosos

Crianças

R$ 20 por dia (homens) R$ 28 por dia (mulheres)

R$ 40 por dia

Enxergamos nossos avós e nós mesmos futuramente naqueles pobres coitados.

Todos temos pena de criança.“Coitadas não podem trabalhar, deviam estar estudando, elas não têm culpa da vida que tem”.

músicos e circenses

mães

R$ 5 por busão e R$ 15 por dia

R$ 60 por dia

Não os ajudamos, pagamos pelo grande show que mal escutamos graça ao barulhento motor do ônibus e pela apresentação que mal vimos graça ao nosso vidro fumê.

Mães acompanhadas por uma criança de colo é um Deus nos acuda! Talvez a imagem mais triste das ruas. Emoção à flor de pele! | Levantamento realizado em João Pessoa, PB

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ARTIGO DO LEITOR LIDERANÇA

Aprenda a dar ordens com Zuleica por

Kelly Gallinari é coach, formada pela ICI (Integrated Coaching Institute). Único curso de formação de coaching em todo o Brasil credenciado pelo ICF International Coach Federation, com sede nos EUA.

Queremos o seu texto publicado na Revista Administradores Cadastre-se em administradores.com.br e publique artigos em sua conta. Os textos mais interessantes serão selecionados e poderão estar na próxima edição da Revista Administradores.

Este artigo pode ser conferido no Portal Administradores através do link > adm.to/zuleica

kelly cavalcanti gallinari

Z

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ilustração

thiago castor

uleica tem duas filhas. Uma de sete anos e outra de dois. Era tanto brinquedo espalhado pela casa que já estava impossível andar

sem pisar em alguma coisa. Zuleica precisava dar um jeito nisso. E deu.

A mãe pensou em recompensar suas filhas com algo que as agradasse caso elas passassem a ajudá-la a organizar a bagunça em casa. Pensou em levá-las uma vez por semana ao parque caso as meninas, após brincarem, guardassem os brinquedos nos baús e caixas rosas. Ao fim do dia, a casa não poderia ter brinquedos espalhados pelos corredores e cômodos. Tudo pensado, chamou suas adoráveis, amadas e bagunceiras filhas para uma conversa. Sentou as duas no sofá, desligou a televisão e disse que tinha uma história para contar. A maior desconfiou, mas ficou a escutar. A menor já se agitou. Quando falava-se em contar histórias, ela logo se animava porque adorava palpitar e acrescentar fatos novos. Depois de contar a proposta, a filha maior já tinha entendido e disse que queria ir ao parque. Faria o que fosse preciso. A menor repetia que queria brincar, brincar e brincar, além de gritar “eba” toda vez que a mamãe apontava os brinquedos no chão. Mamãe Zuleica não desistiu

e fazia questão de, diariamente, relembrar o que tinham combinado. Para a maior dizia: “Filha, já acabou de brincar? Se sim, guarde tudo”. Tirando os momentos da preguiça, a maior entendia o código e fazia sua parte. Não queria ficar sem parque. Sabia o que era brinquedo, tinha noção de tempo e o que era “quando terminar de brincar”, sabia o que era o baú e, mais ainda, sabia o prazer de ir ao parque. Mas ainda era uma criança e era importante, mesmo tendo noção do que a mãe dizia, que fosse alertada com frequência para que não esquecesse e/ou não desconsiderasse a ordem da mamãe. Para a menor, só falar não adiantava. Mamãe Zuleica falava, pegava na mão de sua pequena filha, agachava, pegava um brinquedo e colocava no baú para mostrar como fazer. Às vezes, tinha que refazer o gesto mais de uma vez para que a pequenina começasse a repetir. Quando a pequena acertava, mamãe fazia questão de aplaudir até que ela tomasse gosto pela ação e começasse a guardar seus brinquedos. Mamãe Zuleica obteve êxito e fazia questão de contar em suas

rodas de amigas. Mas não foi fácil. Teve que lidar de forma diferente com as duas filhas. Cada uma enxergava o acordo de uma forma. A maior tinha noção do contexto, mas a pequena não. Cada uma das filhas estava em patamar de conhecimento, habilidades e expectativas diferentes. Mamãe Zuleica comunicou e zelou para que cumprissem o acordo. Com o passar dos anos, esta atividade passou a ser um hábito e Zuleica não precisava mais de tanta vigilância. A ideia aqui não é que líderes tornem-se pais de seus liderados. Isto, realmente, seria um erro. Apenas aproveitemos as boas práticas, seja onde for, para fazer-nos profissionais e humanos melhores. Voltemos. Líderes, nem sempre, têm esta habilidade nata. Então, vamos aprender com as Zuleicas. Comunicar certo é o primeiro passo para garantir a realização com sucesso. E existe um item na comunicação que, geralmente, é desprezado: contexto. Dizer o que fazer, como, onde e tudo mais sem explicar o contexto que justifica estas ações dificulta a execução. E quanto menor o grau de instrução e conhecimento das pessoas que estão ao seu redor, maior a necessidade de explicá-lo. No caso da mamãe Zuleica, para a filha menor, teve que repetir, por algumas vezes, o que eram os brinquedos e o baú. Repetiu, depois de tudo guardado, que aquilo era o certo. Contextualizou a importância de organizarem a bagunça. Nas lideranças, não podemos esquecer que as equipes são formadas por diferentes graus de maturação. Para alguns, pedir para guardar os brinquedos é suficiente, mas para outros será necessário pegar na mão e ajudar a guardar a bagunça. Terá que contextualizar, talvez, mais de uma vez. E não podemos esquecer que ainda estão em fase de formação e precisam de alguém que os ensine. No final, bom para o líder, bom para o liderado e bom para a empresa.

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ARTIGO LEITURAS

Novas tecnologias, velhas manias por

leandro vieira

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H

Leandro Vieira é publisher da revista Administradores e às vezes acha que nasceu na época errada.

divulgação jack zylkin

á algum tempo, escrevi um artigo empolgadíssimo sobre o Kindle, o leitor eletrônico de livros da Amazon que tinha acabado de rece-

ber. É interessante reler aquelas linhas para lembrar o meu entusiasmo com o pequeno e-reader capaz de armazenar milhares de livros. O único problema é que parei de utilizar o Kindle poucos meses depois. O motivo? Nem sei explicar direito. Acho que passei a encarar o Kindle como mais um desses aparelhos eletrônicos que perdem a graça depois que o efeito gracioso da novidade expira.

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No fim das contas, nem consegui deixar os livros tradicionais de lado. Aliás, nunca fui muito fã de e-books. Sou daqueles que se amarram em perder a noção do tempo em livrarias, que curtem ir à caça de raridades em sebos e que sentem verdadeiro prazer em ter um livro em suas mãos: aprecio o cheiro, o passar das páginas, rabiscar nas margens e guardá-lo na estante, junto de seus parentes mais próximos. Se empresto algum, recomendo ao sujeito que o trate com carinho e que jamais utilize as “orelhas” como marcador de páginas. É como se o livro de papel fosse o de verdade e o eletrônico um genérico barato. Não vou negar que a chegada do iPad algum tempo depois também contribuiu para deixar o Kindle no fundo da gaveta. É a velha mania dos early adopters: estamos sempre em busca do próximo lançamento e da nova versão que promete deixar a anterior lá pra trás. Entretanto, meus amigos, sendo sincero, a realidade é que sou apenas aquele tiozinho deslumbrado com novas tecnologias, mas que não perde suas velhas manias. Não chego a lamber os dedos para passar uma página, porém, confesso, tenho tanta saudade de minha máquina de escrever – dura, pesada, barulhenta – que sinto um aperto no coração sempre que penso nela. Espero que os herdeiros de Jobs (que Deus o tenha), Gates, Bezzos e seus descendentes continuem nos brindando com suas invenções maravilhosas. Mas que tenham a bondade de perdoar esse humilde balzaquiano, membro da geração limbo, aquela do final dos anos 70, que não sabe se é x, y, ou Coca-Cola. Perdoem-me, porque, ao final do dia, sempre deixarei os chinelos no pé da cama, apertarei o botão OFF de meus benditos gadgets e abrirei as páginas de um bom e velho livro. É só desse jeito que eu viajo de verdade.


ADMINISTRADOR NA HISTÓRIA | WALT DISNEY

Walt Disney

o homem QUE VIROU negócio por

simão mairins

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imagens

divulgação

LINHA DO TEMPO

“Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade” dizia Walt Elias Disney – um dos empreendedores mais bemsucedidos do século XX”

C

1901

Nasce em Chicago Walter Elias Disney

ostuma-se dizer que grandes criações só se provam realmente grandes quando conseguem mostrar que são capazes de sobreviver

à morte dos seus criadores. Concomitantemente, criadores admiráveis eternizam-se ao tornar inacabáveis suas criaturas. E, na história, poucas figuras e empreendimentos representam tão bem essas máximas quanto Walt Disney, tanto o homem quanto o negócio. Nascido em Chicago, na alvorada do século XX, Walt Elias Disney saiu de casa cedo. Aos 16 anos, durante a Primeira Guerra Mundial, tentou se alistar ao Exército norte-americano, mas foi barrado por ainda ser menor de idade. Mesmo assim, conseguiu uma vaga na Cruz Vermelha, através da qual trabalhou na França, dirigindo ambulâncias. No entanto, por incrível que pareça, a grande reviravolta da sua vida não foi deixar o lar e logo em seguida ver-se em meio a um dos conflitos mais sangrentos da história. A entrada no mundo da arte na volta aos Estados Unidos foi a mudança de percurso que, de fato, revolucionou sua vida, assim como ele mais tarde revolucionaria a indústria do entretenimento. Com a pequena produtora Laugh-O-Gram, que montou com seu irmão Roy e o amigo Ub Iwerks, Disney começou a fazer animações de contos de fada, que eram exibidas na abertura dos filmes do cinema local. Nos anos seguintes capitaneou diversas transações e, mesmo entre prejuízos e calotes que sofreu, conseguiu lançar no mercado sua mais célebre criação: o Mickey Mouse. Depois do lançamento do simpático camundongo, diversos personagens foram sendo incorporados à hoje bem extensa lista de figuras conhecidas

Casa com Lillian Bounds

Fim da II Guerra Mundial

Inaugura a Disneylândia

1925

1945

1955

1928

1932

1950

Criou Mickey Mouse

Ganha seu primeiro Oscar

Produz Cinderella

da Walt Disney Company, como a Minnie, o Pato Donald e o cachorro Pluto. Além disso, ainda em vida, o empreendedor viu pronto o seu primeiro parque temático, a Disneylândia de Anaheim, na Califórnia. Essa história de sucessos foi permeada também por diversas polêmicas, entre fatos históricos e boatos até hoje não comprovados. A mais conhecida delas é a que associa Disney à caçada anticomunista na época que ficou conhecida como macarthismo. Vários relatos dão conta de que Disney delatou artistas de Hollywood à chamada “Comissão das Atividades Antiamericanas”. Segundo o pesquisador Álvaro de Moya, autor de uma das inúmeras biografias do empreendedor, tudo começou “quando funcionários de seu estúdio entraram em greve por causa dos baixos salários”. De acordo com o pesquisador, a mobilização teria sido arquitetada por um ativista ligado a uma organização socialista, o que despertou a ódio eterno do empreendedor por tudo que tivesse

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1966

Morre em Los Angeles de cancer

a ver com os ideais marxistas. Nesse mesmo período, Walt Disney esteve no Brasil contribuindo para os esforços dos EUA no sentido de conseguir aliados durante a Segunda Guerra Mundial, o que ficou conhecido como “Política da boa vizinhança”. Foi nessa época que o malandro Zé Carioca foi criado. Entre sua ação política e a inventividade que o tornaram um dos mais aclamados gênios da nossa história, o fato é que, mesmo décadas após sua morte, Disney continua muito vivo. Na verdade, tão vivo que alguns fanáticos vão mais longe e acreditam nessa existência de forma quase literal. A lenda que ficou conhecida como “O congelamento de Walt Disney” dá conta de que o corpo do empreendedor foi congelado numa clínica de criogenia humana (técnica que mantém cadáveres intactos com o fim de ressuscitá-los um dia) à espera do momento em que a ciência será capaz de colocar sua genialidade de volta no mundo. Para a história oficial, Disney morreu em dezembro de 1966, em Los Angeles.

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DÚVIDAS | PAPO COM YODA

HORA DO TCC

EMPREGO E ESTUDOS

Quais são os itens principais que devem ser pensados para se encontrar a ideia perfeita para um TCC de graduação em Administração?

Qual a melhor forma de conciliar faculdade e ao mesmo tempo querer passar em um concurso para ganhar aquele dinheirinho inicial, mas sem baixar o rendimento na faculdade?

rafael nabuco

gustavo guimarães lemos

Valoroso Nabuco, em busca da ideia perfeita, todos estamos. A diferença é que somente alguns, como eu, alcançar este objetivo conseguem. Mas uma coisa certa é: a perfeição muito mais próxima está daquele assunto pelo qual paixão você tem, do que de outros. Que a Força com você esteja.

Muito a aprender você ainda tem.

@MESTRE_YODA

RAZÃO E EMOÇÃO

Ambicioso Gustavo, da meia-noite às seis, o que fazer você costuma? Garanto que “dormir” a resposta é. Pois bem, a dica dada está. Que a insônia com você esteja.

NO CURRÍCULO

Será que, como chefes de uma empresa, devemos realmente ultrapassar os limites em nossas escolhas que exigem 100% de profissionalismo e 0% de emoções? leandro campos

Grande Campos, o 0% de emoção nem no R2-D2 possível é. Então, isto buscar você não deve, nem salutar seria. A razão predominar deve, com certeza, mas a emoção parte dos grandes líderes faz. Que a Força da emoção em sua razão esteja.

Os ensinamentos do Mestre

Yoda

PRESSÃO NO TRABALHO

Graduei-me em Fisioterapia na tentativa de ajudar meu pai que é portador de Mal de Parkinson, inclusive cheguei a fazer uma especialização na área. Contudo, me “aposentei” muito cedo e logo abandonei a profissão. Hoje estou terminando o curso de Administração, que sou apaixonada e pretendo continuar nessa área. Mas tenho uma dúvida: o fato de ter outro curso e até especialização numa área completamente diferente da Administração deve ser mencionado na elaboração do currículo ou omitido? lorenna cabral de oliveira

Como é possível motivar colaboradores que trabalham em um ambiente onde se tem processo criativo, mas que estão sob constante pressão de entregas rápidas? A pressão não inibe a criatividade? rodrigo prates

Sim, perspicaz Prates, a princípio, pressa e pressão inimigas aliadas contra a criatividade são. Por outro lado, o mundo cada vez mais rápido gira e prazos folgados só voltarão quando sangue o morcego doar. Então, adaptar-se preciso é. E este contexto aos colaboradores mostrar. A motivação do desafio virá. Que a velocidade com qualidade com vocês esteja.

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Dúvidas, perguntas ou curiosidades sobre carreira, mundo corporativo, Administração ou desempenho no trabalho? O Jedi mais sábio do cinema responde para você!

Envie sua pergunta para

mestreyoda@administradores.com.br

Fevereiro/Março 2012

Precavida Lorenna, num primeiro momento, a resposta óbvia poderia parecer: que omitido deveria ser. Porém tudo relativo é, até mesmo o absoluto. Tudo concreto é, até mesmo o abstrato. Água quente a batata amolece e o ovo endurece... então, Lorenna, o que querendo dizer estou, é que a situação diversa pode ser. Uma resposta única não há. Se o contexto for o de um cargo de administração em uma clínica de fisioterapia, omitida esta sua formação deveria ser? E se o cargo em uma indústria de plástico fosse, a ver teria? Que a sabedoria da decisão com você esteja.


Administrador

do futuro por

mayara emmily

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thinkstock e acervo pessoal

Dono de uma empresa de coffee break empresarial desde que iniciou a faculdade, voluntário em projetos de extensão e planejando abrir um site no setor de eventos, o estudante Guilherme Caires nasceu para ser administrador. Com apenas 22 anos ele já tem visão e sabe interagir com as pessoas como poucos. De acordo com a professora de Marketing Tania Christopoulos, da Universidade de São Paulo (USP), o aluno tem perspectiva de sucesso e sabe como cativar e envolver os colegas. “Ele tem perfil empreendedor, sabe se relacionar, coordenar e liderar equipes com maturidade e desenvoltura”. Entre os trabalhos dos quais Guilherme participa, está um projeto de conscientização sobre o mal de Alzheimer, numa comunidade próxima à universidade, voltado, principalmente, aos agentes comunitários de saúde. Com perspectiva de continuidade em outras localidades, a ação consiste na realização de cursos para ajudar os profissionais a identificar novos casos da doença na população.

Você se tornou empresário ainda no primeiro ano de Administração. Que negócio você montou? No primeiro ano da faculdade montei com meu irmão uma empresa de coffee break empresarial, já que não podíamos ainda estagiar. Minha tia era a cozinheira e meu pai ajudava com a parte operacional. A não ser minha tia, ninguém tinha conhecimento de nada do ramo e, entre erros e acertos, a empresa vingou e existe até hoje. Está sendo uma experiência muito edificante, sendo que no começo eu fazia quase todas as atividades, seja o contato com cliente, a negociação e até mesmo a operacionalização do serviço: colocava o avental e ia servir os nossos clientes. Assim, aos 19 anos, eu pude sentir toda a responsabilidade de ser um empreendedor e saber que meu trabalho influenciava diretamente a vida de outras pessoas que dependiam daquilo para viver.

Você entrou em uma entidade estudantil e participou de uma empresa júnior. E agora, quais são os seus projetos atuais? Em 2011 me dediquei a um projeto pessoal. Esse virou meu trabalho de conclusão de curso e trata-se da criação de uma startup, o heyfan. com.br, um site que irá trabalhar no fluxo comunicacional de eventos, principalmente das grandes cidades brasileiras. É um modelo de negócios ainda novo no Brasil e, se tudo der certo, esperamos lançar o site ainda nesse mês de fevereiro.

E o projeto com mal de Alzheimer? Como aconteceu? No último ano participei de um curso de Design Thinking na faculdade e, por meio dele, elaboramos um trabalho junto a pessoas com o mal de Alzheimer, numa comunidade bem próxima a nossa faculdade. Descobrimos que poucas pessoas tinham conhecimento da doença, incluindo os agentes de saúde, e que a porcentagem de pacientes diagnosticados era bem baixa, se comparada com a média nacional. Elaboramos então um trabalho de divulgação e conscientização da doença, principalmente com os agentes comunitários de saúde. Esperamos que assim o número de diagnósticos da doença aumente e que mais pacientes possam ter um cuidado melhor, seja por parte do Estado ou de suas famílias.

Fevereiro/Março 2012

Todas suas iniciativas fizeram a professora Tania Christopoulos apontá-lo como um administrador do futuro. Você se considera um? Tenho muita vontade de mudar, melhorar as coisas a minha volta. Sei que as coisas estão se transformando, e que vão continuar numa velocidade cada vez maior, mas isso não chega a ser algo a se temer, pelo contrário, talvez deixe o jogo até mais atrativo. Vou cometer muitos erros na minha carreira, mas também sei que o mais importante é reconhecê-los e, principalmente, me concentrar na resposta, fruto do aprendizado, que terei que dar para cada um.

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FORA dO QUADRADO Não basta ser funcional, tem que ter um design diferente e atrativo. É com esse espírito que é realizado o Prêmio IDEA/Brasil, versão nacional de um dos mais respeitados prêmios de design no mundo. O Fora do Quadrado foi atrás dos vencedores da edição 2011 e selecionou doze dos produtos que devem fazer sucesso em breve. por

eber freitas e fábio bandeira de mello

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fotos

divulgação

1 Carro smart open source Desenvolvido a partir da compilação das ideias de vários colaboradores e consumidores, o Fiat Mio foi feito para ser prático, aerodinâmico e ergonômico. O projeto de design conta com um formato limpo, com os faróis integrados e as rodas cobertas com calotas. O volante ganhou um novo conceito e passou a ser uma central de comandos. Todos os detalhes do projeto podem ser copiados e modificados, porém não patenteados... e viva o Creative Commons.

Bicicleta 6 portátil

2 2 Sem perder as chaves certas Cansado de não encontrar o chaveiro certo na hora de sair? Então o portachaves Cucampre deve solucionar os seus problemas. O produto traz ícones com indicativos para separar e organizar as chaves da casa, do trabalho e do automóvel. Ele dispõe de trilhos, encaixados na peça por meio de um pequeno pino, tornando a atividade diária de guardar e retirar as chaves uma brincadeira. O valor é de R$ 70,00.

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Uma nova ex3 periência em mexer o café Quantas etapas inúteis no processo de produção das coisas seriam descartadas se conceitos simples fossem aglutinados! Unindo a agradável experiência de degustação de café e biscoitos com a necessidade quase ritualística de mexer o açúcar na bebida, você tem... a colher-biscoito. Criada pelos designers Rodrigo Maia e Victor Lopes Mascarenhas, a Ecookie transforma o ato de tomar café em algo mais elegante e sustentável.

4 Lavadora para espaços pequenos Sua área de serviço não tem muito espaço? Então a lavadora Tilt Out pode ajudar um bocado. O eletrodoméstico foi focado, justamente, no problema da redução dos espaços de lavanderias ou na integração com a cozinha. Ele foi desenvolvido com um sistema de abertura de porta e cesto inclináveis para frente. Como a máquina não necessita de tampa superior, o espaço sobre ela fica livre para ser usado.

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5 Banco diferente O visual é inusitado e, justamente, é essa a ideia. O banco People, criado por designers de São Luís (MA), remete a uma multidão em movimento, ao vai-e-vem das grandes cidades. O projeto reúne aspectos de design, aliando o caráter lúdico a elementos técnicos, constituindo-se em um objeto diferenciado, leve e descontraído.

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Além de você tirar onda por onde passear com a bicicleta Rota, não terá problemas para guardá-la. De aparência robusta, ela possui um sistema de compactação prático que funciona através de movimento de rotação. É uma boa pedida para quem quer desistir de trabalhar de carro e trocar por um veículo mais sustentável. Terá espaço para guardar no escritório e o estresse por ficar horas no trânsito, certamente, acabará. O valor da bicicleta é de R$ 3.500,00.


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Sofisticada, clean e inovadora. A torneira Touch da Deca tem a abertura comandada por um leve toque em um sensor piezoelétrico, facilitando o uso por crianças ou pessoas com restrição motora. Para evitar o desperdício de água, ela ainda conta com um ajuste de tempo para a abertura de 8 segundos, que pode ser reajustado para intervalos entre 1 e 60 segundos. O produto é tão chique quanto o seu preço: R$ 1.000,00.

Reposicio11 namento da marca Alpino

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7 Torneira chique

Um chocolate bem feito

8 Geladeira funcional A Electrolux desenvolveu um aparelho integrado aos refrigeradores para servir de interface gráfica, denominado i-Kitchen. Dessa maneira é possível utilizar o display de LCD com tela sensível ao toque para comandar todas as operações do aparelho, além de executar usos tradicionais associados ao refrigerador, como o de porta-retratos, recados, contatos telefônicos, agenda e receitas.

Ferramentas 9 organizadas Parte de um conceito criado em 2010 – a linha Pictograma – o Bricolagem serve para separar e armazenar ferramentas para trabalho manual, sem perder o caráter decorativo e utilitário. Bom para evitar a bagunça em oficinas e garagens, o Bricolagem conta com espaço também para o cinto de ferramentas. Bem mais interessante do que empurrar tudo no armário ou empilhar as tralhas na estante, para nunca mais achar.

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Bebedouro 10 mais limpo e eficiente Para driblar os inconvenientes de quem usa um bebedouro convencional – como trocar, carregar, limpar, erguer e devolver garrafões de 20 litros d’água –, o estudante de Arquitetura e Urbanismo da USP William Yoshio criou um aparelho que evita boa parte desse trabalho. Como funciona: o garrafão é posicionado na base do bebedouro, e a água é conduzida através de bombeamento, evitando o contato com a superfície suja. A refrigeração é feita por compressão, mais eficiente e durável do que a termoelétrica.

sempre vai encontrar um amplo mercado consumidor à espera. Quem não gosta de chocolate? Ainda assim, a construção do conceito e o posicionamento da marca são fundamentais para que o produto encontre o seu consumidor e vice-versa. A marca Alpino, da Nestlé, conseguiu fazer isso com maestria, aliando padronização visual ao apelo sensorial e apostando na moderação para conquistar chocólatras, sob o tema: “a medida certa para transformar momentos”.

12 Semáforo multiuso Quem sabe, em um futuro próximo, ele não estará nas ruas de sua cidade? Idealizado por estudantes de Porto Alegre (RS), o semáforo solo, além de ter um

design arrojado, traz múltiplas funções de sinalização urbana. Seus encaixes permitem a sinalização de desvios, saídas de estacionamento e iluminação viária auxiliar. O projeto traz ainda um sistema de LEDs que reduz o impacto provocado pelo descarte de lâmpadas no meio ambiente e reduz gastos a longo prazo. Legal, né?!

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divulgação

ENTRETENIMENTO | curiosidades, humor e sustentabilidade

MKT de guerrilha

Os milhões de anúncios bombardeando nossa rotina nem sempre têm tanto efeito. E para chamar a atenção das pessoas nada melhor do que fugir do tradicional e mostrar a marca de forma inusitada. É assim que o Marketing de Guerrilha “mira” em seu público-alvo – buscando atingir os corações e as mentes das pessoas. Ao lado esquerdo, apesar de a revista ser uma mídia tradicional de publicidade, é possível constatar um anúncio bem criativo. A filosofia da

Ainda estamos sozinhos?

Muy amigo

loja especializada em móveis dobráveis e que ocupam pouco espaço – NHA Móveis Xinh – foi o próprio gancho para a genialidade da campanha feita com pop-ups dobráveis.

Alívio da dor sem remédios (ou com treino)

No começo de dezembro de 2011, a Nasa confirmou a

Muita gente pode dizer o contrário, mas em decisões

Dor crônica. Quem possui, precisa tomar algum me-

existência do primeiro planeta fora do sistema solar que

econômicas o ser humano pode, por natureza, contar

dicamento para ter alívio. Mas será que existe alguma

reúne as condições necessárias para a manutenção de

com a ajuda dos amigos. Pelo menos esse é um dos

alternativa além dos remédios? Segundo um estudo

organismos vivos. O Kepler 22b foi avistado pela primei-

resultados da pesquisa da psicóloga Camila Campanhã.

da Universidade de Stanford, sim. A pesquisa, realizada

ra vez em 2009, mas só recentemente foi constatado

O estudo, que teve como objetivo analisar o papel da

pelo Laboratório de Neurociência e Dor da instituição,

– após o planeta dar três voltas em torno da sua estrela

confiança na tomada de decisão social revelou que a

constatou que as reações do nosso cérebro são diferen-

– que o corpo tem condições naturais para gerar vida.

tendência comportamental das pessoas é de aceitar

tes a partir da maneira como encaramos a dor. Ainda de

O planeta está a 600 anos-luz de distância da Terra, é

as propostas feitas pelos amigos, ainda que não sejam

acordo com os cientistas, o controle da resposta à dor

2,4 vezes maior, tem mais massa e provavelmente força

equitativamente justas. Ou seja, em situações econômi-

pode ser aprendido, assim como se treina um músculo.

gravitacional superior.

cas, temos uma fé quase cega na proposta dos amigos.

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DES COM PLI CAN DO

AÇÕES PARA UM MUNDO MELHOR por

eber freitas

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ilustração

thiago castor

BRAINSTORMING Técnica utilizada em dinâmicas de grupo para aumentar a participação de todos os membros. Nela, é desenvolvida a potencialidade criativa de um grupo para criar o máximo de ideias no menor tempo possível.

ISO 14000, 14001, 14004, 14010, 14011, 14012 Certifica sistemas de Gestão Ambiental. Os “Selos Verdes” ou “Rótulos Ecológicos” são uma certificação de produtos com qualidade ambiental. No Brasil é o INMETRO quem entrega os certificados do cumprimento das exigências das normas.

Enquanto a Usina de Belo Monte é empurrada Amazônia abaixo e a Exxon Mobil volta, movida pelo

Associação de empresas, não definitiva, para explorar determinado negócio, sem que nenhuma delas perca sua personalidade jurídica.

Por enquanto ainda não é possível

devido ao custo elevado para implementação e funcionamento, ainda são pouco exploradas”, lembra o estudante.

petróleo, a ser a empresa mais valiosa do mundo, mais

mover usinas e plantas industriais a partir

fontes renováveis e baratas de energia são descober-

dessa fonte, de acordo com o formando

tas e estudadas. Um grupo de dez graduandos em

Fabio Sakamoto, um dos responsáveis

panhias que incharam os seus caixas

Engenharia Mecânica Plena da Faculdade Educacional

pelo projeto. “Devido à complexidade

explorando fontes poluidoras revertes-

Inaciana (FEI) desenvolveu um protótipo para captação de

do tema, apenas comprovamos que é

sem os seus ganhos para pesquisas

energia a partir dos movimentos das ondas no oceano.

possível melhorar o aproveitamento

em fontes renováveis, teríamos mais

Capaz de produzir até 235 watts, a energia é

da energia das ondas em até 8% em

incentivo à ciência, pesquisa e inovação e

suficiente para alimentar, de uma só vez, quatro

relação ao sistema existente que toma-

mais opções para o consumo de energia.

lâmpadas, um aparelho de televisão, uma gela-

mos como base do estudo”, explica.

deira e um ventilador durante 19 horas. O tempo

Para ser construído, o Poseidon

E o dilema continua: se as com-

Os outros integrantes da equipe são os estudantes André Cuzati, Bruno

levaria umas boas toneladas de metal,

Suzarte, Felipe Cavalheiro, Gabriel Prado,

motores, mão de obra e recursos –

Lucas Santana, Marcelo Assumpção,

consiste na implantação de um braço mecânico, de

ironicamente, para se gerar energia de

Marcelo do Carmo Carvalho, Renan Ca-

aproximadamente 30 metros, apoiado no mar por um

baixo custo são necessários grandes

valcante e William Klaus, orientados pelo

flutuador acoplado a cilindros hidráulicos em cada

investimentos. “O planeta possui fontes

professor Renato Marques de Barros.

extremidade que oscilam com o movimento das ondas,

de energia limpa suficientes para subs-

para realizar o movimento de arfagem e afundamento. A

tituir os combustíveis fósseis, porém,

para recarregar a bateria é de cinco horas.

JOINT VENTURE

outra extremidade é ligada a um gerador.

O projeto Poseidon – nome bem apropriado –

CHARGE

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ENTRETENIMENTO | Leitura e cinema

LEITURA

O fim do marketing como nós conhecemos por

marcos hiller

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divulgação

Durante anos, Zyman foi o “czar” de marketing da Coca-Cola Company, e era conhecido também como o terror das agências de publicidade da charmosa Madison Avenue em Nova York. O mexicano e marrento Sérgio Zyman morou no Brasil, começou sua carreira na Pepsi (sim, na Pepsi), viaja hoje os quatro cantos do planeta com suas palestras e provocações e carrega a fama de ser o dono de um dos maiores erros de marketing de todos os tempos: o emblemático case da New Coke. Por causa de um infantil erro de briefing de pesquisa, Zyman substituiu a Coca-Cola tradicional pela New Coke, e após 77 dias ele limou a New Coke das gôndolas e voltou com a Coke Classic. Erro que ele logicamente não admite, e declara que aquela fatídica retirada da Coca-Cola tradicional do mercado, além de deixar enfurecidos milhões de consumidores (que, revoltados, fizeram quebra-quebra em Atlanta nos anos 80), foi uma ação planejada e proposital. Zyman diz com a maior tranquilidade do mundo que a Coca-Cola é o que é hoje porque precisou passar por aquele processo, e após o fato, o consumidor passou a se conectar ainda mais com a marca. Já ouvi professores dizendo que não gostariam de ver Zyman nem pintado de ouro. Eu gosto dele. No seu livro O fim do marketing como nós conhecemos, que é um bestseller, Zyman conta, de uma forma direta, contunden-

te e às vezes ácida, inúmeros casos, acertos e erros (e que ele nunca assume, claro). Nele há detalhes desse case da New Coke, além de conceitos super interessantes de como lidar com marketing, vendas, branding, pessoas etc. São geralmente táticas de marketing contra-intuitivas e bem provocativas, mas que o fizeram aumentar o valor de mercado das empresas por onde passou. E para o “czar” algo parece bem claro no marketing: “sem estratégias você não vai a lugar nenhum”. Quer conhecer melhor Sérgio Zyman? Vá ao YouTube e escute-o um pouco falando e destilando conceitos polêmicos. Ele fala um inglês palatável. Hoje está meio difícil de achar esse livro nas livrarias do ramo, mas se encontra ainda em sites de sebo como Estante Virtual. A versão original em inglês The end of marketing as we know it se encontra mais facilmente nas melhores livrarias pela web afora. Leia o livro e tire suas conclusões. Eu li, gostei e é hoje meu livro de cabeceira.

Ed. Campus, 238p. Marcos Hiller é um curioso profissional, professor em diversas pós-graduações, um apaixonado por marcas, marketing e café expresso curto (bem tirado). Pode ser facilmente encontrado nas livrarias da Avenida Paulista e facilmente acionado pelo seu twitter @marcoshiller ou pelo blogdohiller.blogspot.com.

ESTANTE Métricas em Mídias Sociais por

jim sterne

Empreendedorismo: decolando para o futuro por

Quem matar na hora da crise? por

artur lopes

glauco cavalcanti e márcia tolitti

O livro tem como foco a medição e a importância das mídias sociais para um negócio, com orientações para tirar o máximo proveito dessa ferramenta, de maneira a valorizar uma marca e torná-la bem recebida nas comunidades.

Por meio de comparações com o voo de asa delta, que é uma atividade de risco, os autores apresentam considerações sobre o empreendedorismo e sua relação com o desenvolvimento do mundo global e competitivo.

A obra fornece ferramentas para a superação da crise corporativa e auxilia o empresário a entender não somente a natureza e a origem da dificuldade, mas também enxergar qual a melhor adequação em situações adversas.

Nobel, 240p. R$ 55,90

Campus/Elsevier, 176p. R$ 39,90

Évora, 208p. R$ 49,90

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CINEMA

O Palhaço As semelhanças entre um circo e uma empresa ou os dilemas de um palhaço e os seus podem ser maiores do que você imagina. por

nelson gonçalves

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divulgação

“O gato bebe leite, o rato come queijo e cada um deve fazer o que sabe fazer. Eu sou palhaço!” É com essa pureza e simplicidade que o palhaço Puro Sangue – vivido pelo ator Paulo José – do filme O palhaço define a natureza de cada um de nós. Uma dica para sermos felizes na nossa profissão: cada um deve fazer o sabe e o que gosta. Por analogia, isso vale pra mim e pra você. O mambembe Circo Esperança, “tocado” por Waldemar (o palhaço Puro Sangue), é uma típica micro empresa movida pelo mesmo combustível que muitos empreendimentos existentes Brasil afora: sonho, paixão, companheirismo, atitude, desprendimento, comprometimento, determinação e cumplicidade. Atributos empresariais mais que suficientes para uma trajetória empresarial de sucesso, não é mesmo?! Sim, mas também padece dos mesmos e muitos dilemas: falta de planejamento, de pesquisa, estratégia, plano de ação, foco, inovação, adequação, capital de giro e de se fazer necessário em situação adversa. Outro ponto interessante em O palhaço é a forma que o longa nos remete a um tempo de contradições socioculturais. Joga na nossa cara a insalubre e real condição de boias-frias e cortadores de cana, sacolejando nos paus-de-arara. A corrupção do delegado Justo (Moacir Franco) que se locupleta, mesmo diante da situação de penúria e total “pindaíba” dos circenses. O fiscal da prefeitura que faz vista grossa em troca de ingressos. Mas O palhaço também nos faz refletir sobre a solidariedade, coisa que abunda na trupe Esperança, tornando-se o seu principal ativo, mas tão difícil de encontrar entre colaboradores de uma mesma organização da vida real. Filmado, deliberadamente, em poeirentas

locações no interior de Minas Gerais, o filme é terno, emocional, cômico e bem realizado. Dirigido por Selton Melo – que interpreta o triste Benjamim e dá vida ao palhaço Pangaré – ele entrecorta a inquietação do palhaço que se vê diante de um dilema em sua carreira e na sua vida. Ele diverte as pessoas, mas quem o alegra? Mesmo cercado por uma trupe, ele vive só. Apaixona-se, à primeira vista, por uma espectadora e empreende uma árdua luta pela conquista de um inusitado objeto de desejo: um ventilador! Entre uma e outra cidade por onde a trupe passa, conhecemos tipos extravagantes, engraçados, rabugentos, inocentes e aproveitadores. Gente como a gente e com a cara do Brasil. O picadeiro de alegria e descontração, e muitas vezes de absoluta solidão, demonstra a determinação de uma aguerrida e brava gente, que a despeito do desconforto e situação de quase miséria, insiste em lutar pelo sonho de ser artista. Benjamim não tem RG, CPF nem nada. Apenas uma amassada certidão de nascimento, com a qual se lança no mundo, abandonando o circo e partindo em busca do que acredita ser a sua vocação. Com isso, acaba tendo que sair à procura de sua verdadeira identidade diante de uma espécie de crise existencial. Para saber onde isso vai dar, sugiro que você assista ao filme que foi visto no cinema por mais de um milhão de espectadores. Garanto que vale a pena!

Nelson Gonçalves é palestrante, mas, quando menino, queria ser palhaço. www.nelsongoncalves.com.br

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PONTO FINAL SEM REGRAS

A função mais importante do administrador:

desobedecer às regras por

Stephen Kanitz é consultor de empresas e conferencista. Vem realizando seminários em grandes empresas no Brasil e no exterior. Mestre em Administração de Empresas pela Harvard University, foi professor da USP. No Twitter, @stephenkanitz.

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stephen kanitz

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thinkstock

dministradores e engenheiros criam sistemas, procedimentos, regras, normas e rotinas para serem obedecidas, o que permite às empresas atuarem

em mais de um local, cidade e até país. São essas regras e normas que dão escala, segurança, qualidade e tranquilidade para os funcionários e clientes.

Em empresas que não possuem normas e procedimentos – como no ramo do artesanato, por exemplo – a produção é baixa e irregular, embora seja o sonho de todo artista e artesão. Esses sistemas podem se tornar de fato opressores, como no início do taylorismo, no entanto, essa fase “negativa” há muito foi superada. Tanto é que hoje a verdadeira função do administrador é determinar quando mudar ou suspender temporariamente os sistemas, procedimentos, regras, normas e rotinas. O recente caso do capitão

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da Guarda Costeira da Itália, que mandou o capitão do navio Costa Concordia voltar a bordo para ajudar a socorrer os passageiros, entre xingamentos e impropérios, é um belo exemplo. Virou herói nacional no Facebook e Twitter, ídolo de camisetas com o “volta a bordo, cazzo”. Porém, ser aclamado herói nacional por mandar o capitão voltar a bordo para comandar o salvamento das pessoas que ele próprio afundou é muito triste. Em Administração, ele seria demitido na hora e substituído, e não obrigado por um oficial do

governo italiano a assumir o posto. É a última coisa que se quer numa empresa: o próprio idiota que a afundou permanecendo no comando. O que o governo italiano e a maioria do Facebook e Twitter usaram foi a regra “capitão algum abandona o navio”. Mas essa regra foi feita durante os tempos de guerra, quando o inimigo que afundava o barco e não o capitão. Mandar o capitão “covarde” de volta ao trabalho, colocando em risco ainda mais pessoas, não era a regra a ser seguida naquele momento. Faltou um administrador para dizer quando regras devem ser quebradas, de preferência o mesmo que elaborou a regra inicial. Este é o problema destes livros de Administração de auto-ajuda, direcionados para engenheiros, técnicos de futebol e outras profissões aprenderem no saguão do aeroporto. Não são as regras que são importantes, mas sim quando elas devem ser desobedecidas que determinam o sucesso de uma empresa. Quem tem o mínimo de formação em Administração saberia que mandar o capitão voltar ao barco é um crime administrativo, algo que o representante do governo, a imprensa, a maioria dos seguidores do Twitter e Facebook não perceberam.



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