#26 Planejamento Estratégico Pessoal

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+ entrevista Ana Paula Padrão: da telinha ao mundo dos negócios

+ ACADÊMICO pós-graduação no exterior vale a pena? setembro de 2014 – ano 3 – no 26 www.administradores.com



Diante de tantos desafios e escolhas, como trilhar uma jornada de sucesso? O êxito que você irá obter no futuro será consequência das escolhas de hoje.

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sumário

Planejamento estratégico pessoal Evitar estabelecer direção, sentido e propósito para a vida é trilhar um caminho incerto e nocivo na busca de suas realizações pessoais. Se você se esquiva dessas responsabilidades, está na hora de rever e planejar sua vida com estratégias que tragam resultados

7 | feedback 8 | online

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9 | pei, buf! Como elaborar um pitch fantástico?

entrevista Ana Paula Padrão: da telinha ao mundo dos negócios

10 14 | insight O grande líder na imprensa popular | por Henry Mintzberg

17 | cases Conhecendo o DNA dos consumidores

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22 | carreira

24 | carreira

Fraude no trabalho: como combater essa prática

Você é um executivo completo?

acadêmico To leave or not to leave, eis a questão!

18 setembro 2014

26 | negócios O papel da confiança entre diretores e empregados


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infográfico O poder dos números

34 | marketing Gente que vira marca: o que aprender com o marketing das celebridades

44 | conta aí

37 | O QUE DRUCKER FARIA

O que aprendi sobre Administração em uma mesa de pôquer

As dúvidas dos leitores tiradas com os conceitos do pai da Administração

48 | ADM NA HISTÓRIA Francisco Olympio de Oliveira: marketing e empreendedorismo nos anos 1930

49 | geração de valor Empreendedor ou empregado? | por Flávio Augusto

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50 | MENTE ABERTA O que é spam? | por Seth Godin

51 | ARTIGO DO LEITOR Guru da fórmula mágica | por Bruno Teixeira

52 | FORA DO QUADRADO 54 | ENTRETENIMENTO - Curiosidades e humor - Ações para um mundo melhor - Leitura: Super apresentações - Cinema: Getúlio

58 | ponto final Negócios Quando risadas se tornam negócios

setembro 2014

Administrador, protagonista de mudanças na sociedade | por Walter Sigollo administradores.com

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EDITORIAL

Expediente

CONTATOS

A maldita falta de tempo “Não deu tempo”. “Estou sem tempo no momento”. Eu já parei de contar quantas vezes escutei essas duas frases nos últimos meses. Talvez seja a fala preferida entre os brasileiros nos dias atuais. E isso não é a toa. Muitas vezes vivemos sobrecarregados de tarefas e atividades. É tanta coisa para resolver que se existisse na vendinha um produto para fornecer mais algumas horas no dia seria sucesso na certa. O mundo dos negócios viveria com hordas de “executivos-zumbis” entupidos de doses excessivas desse misterioso produto e se você não quisesse comprar, não se rendesse a ele, tudo bem, seu chefe certamente compraria para você. Brincadeiras a parte, administrar 24 horas do dia para produzir tudo que gostaríamos nunca foi tão complicado – inclusive com o nosso dinheiro. E aí, aprender um outro idioma fica para depois, pensar em fazer aquela viagem desejada passa para o próximo ano, começar um curso ou pós-graduação que tinha tanta vontade é adiado mais uma vez. Afinal, falta tempo, certo?! Falta mesmo? A verdade é que nos acomodamos em colocar a culpa no tempo, na falta de dinheiro momentânea, mas não buscamos a solução. Esperamos aquele sinal divino, aquela luz no fim do túnel que faça as coisas acontecerem por si só. E aí, o problema está armado. É por isso que na matéria de capa desta edição você verá um guia sobre planejamento estratégico pessoal e como poderá dar os próximos passos para resolver seus obstáculos e fazer tudo que gostaria. Já adianto: isso requer organização, foco, estabelecimento de metas específicas e mudança de postura. Você verá que ainda não dá para comprar tempo, mas podemos fazer com que ele seja bem melhor aproveitado. Esta edição conta também com uma entrevista muito interessante com Ana Paula Padrão, que 6

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abandonou a bancada dos telejornais para virar empreendedora (pág. 10). No “Conta Aí” (antiga editoria “Gonzo”), colocamos nosso repórter Ravi Freitas para jogar pôquer e tirar lições sobre Administração. Será que ele extraiu alguma coisa? A resposta começa na pág. 46. Cursar uma pós-graduação no Brasil ou no exterior? O Brasil deve legalizar a maconha? Como fazer um pitch? A reflexão e soluções para essas e outras questões você também poderá achar nesta edição. Setembro, inclusive, é um mês mais do que especial. Afinal, a regulamentação da profissão de administrador completa 49 anos. E o Administradores está preparando muitas agradáveis surpresas. A primeira é que a nossa revista voltará a ser mensal, ao invés de bimestral. Estaremos juntos, compartilhando conhecimento em um espaço menor de tempo. A outra grande novidade é o lançamento, em breve, do Administradores Premium, que oferece vantagens exclusivas como: e-mail @administradores.com, workshops com os maiores experts do mercado, destaque no portal e o melhor benefício na minha opinião: a assinatura da revista Administradores. Feliz mês do administrador! Boa leitura!

Fábio Bandeira de Mello editor

setembro 2014

Assinaturas www.administradores.com.br/revista PUBLICIDADE comercial@administradores.com.br +55 (83) 3247 8441 correspondência Av. Nossa Senhora dos Navegantes, 415 / 304 - Tambaú - João Pessoa - Paraíba CEP 58039-110 redação revista@administradores.com.br Publisher Leandro Vieira leandro@ administradores.com.br BOARD MEMBER Flávio Augusto Silva Redação Editor Fábio Bandeira de Mello fabio@ administradores.com.br Repórteres Agatha Justino agatha@ administradores.com.br, Dandara Costa dandara@administradores.com.br, Eber Freitas eberfreitas@administradores.com. br, Fábio Bandeira de Mello, Lívia Maria livia@administradores.com.br, Marcela Agra marcela@administradores.com.br, Mayara Chaves mayara@administradores. com.br, Ravi Freitas ravi@administradores. com.br, Simão Mairins simao@administradores.com.br, e Stwart Lucena stwart@ administradores.com.br. Revisão Danielle Vieira COLABORADORES Bruno Teixeira, Daslei Ribeiro, Dayvson Carvalho, Fernando Albuquerque, Flávio Augusto, Henry Mintzberg, Marcelo Santos, Michael Wade, Miguel Ángel Canela, Pablo Cardona, Paula Araújo, Raniere Rodrigues, Sebastian Reiche, Seth Godin, Walter Sigollo e Yih-teen Lee. ARTE DIREçÃO Thiago Castor thiago@administradores.com.br Design e ilustração Niandson Leocádio niandson@administradores.com.br EDITOR DE vÍDEO Daslei Ribeiro daslei@administradores.com.br COMERCIAL Diretor Comercial Diogo Lins diogo@administradores.com.br FINANCEIRO financeiro@administradores.com.br Atendimento ao Leitor Ana Carolina Alves anacarolina@administradores.com.br


PONTO FINAL | Você é o único responsável 3

Esse pensamento também pode ser aplicado em nosso trabalho, pois deveríamos nos preocupar em fazer sempre algo de excelência e não apenas nos preocuparmos com o salário do fim do mês ou reclamar que a segunda está chegando. Se pensássemos criticamente com certeza teríamos um país melhor. Jeferson Batista

INFOGRÁFICO | Dinossauros do passado

Também me lembro das bbs com parks 2400, aliás, tenho um modem de bastidor até hoje guardado como saudosismo daquela época.

capa

PERFECCIONISMO 2

Acho maravilhosa a ideia do empreendedor público. Contudo, é preciso se ter em vista que, em boa parte dos casos, o perfil do empreendedor público vai bater de frente com uma política interessada em travar a prestação do serviço. Não podemos nos iludir: o desafio é grande.

Concordo plenamente com o especialista. Vivemos em uma dinâmica onde o tempo é ponto crucial em qualquer âmbito da nossa vida. Primeiro, a maioria mente quanto a esta característica, chego a ficar enojada quando ouço isso em entrevistas. O ponto principal é que precisamos dar resultados, e estes, na maioria das vezes precisam ser pra ontem.

Segundo Moura

capa 2

Todo mundo vai falar agora que é empreendedor público. Marcos Dc

Marcos Roberto Danilo

ENTREVISTA | EX-agente da CIA

Estou lendo o livro e testando as técnicas. Muito divertido e eficaz. Roger Coutinho

ENTREVISTA | EX-agente da CIA 2

O mesmo que um ex-agente da KGB pode ensinar como governar um país.

Joisa Melo

Geraldo Amaral

PERFECCIONISMO 3

COMO VENDER QUALQUER COISA EM TRÊS SEGUNDOS

Caiu como uma luva, ou um tapa na cara pra me fazer abrir os olhos...

capa 3

Renan Sciola

A grande transformação que nosso país necessita será feita através destes – empreendedores no setor público!

PONTO FINAL | Você é o único responsável

Carlos Pécora

Um dos melhores artigos que já li.

Vender bem é fundamental para qualquer negócio que queira influenciar os clientes indecisos de forma positiva, com o objetivo de tirá-los da indecisão para que comprem o produto/serviço oferecido.

Fernanda Cristina

Leonardo Costa Fiorini

PERFECCIONISMO

O perfeccionismo, neste texto, está sendo tratado de uma forma doentia, e é claro que é prejudicial a todos. Porém, não vejo o perfeccionismo que há em mim, por exemplo, como algo que pode vir a prejudicar a mim e ao meu desempenho, pois “estar buscando sempre resultados melhores da melhor forma possível” não pode ser tão ruim assim.

PONTO FINAL | Você é o único responsável 2

Excelente! O pessoal que está entrando para a faculdade deveria ler esse artigo! Alessandra Oliveira

Mande também O seu recado para a Administradores através do revista@administradores.com.br

Walter Junior

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ONLINE | www.administradores.com

ARTIGOS

ENQUETE

#FICADICA

Reprodução/ TED.com

Em sua opinião, qual o melhor momento para o estudante de graduação começar a estagiar? (%)

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O aplicativo seleciona e resume automaticamente as notícias dos maiores portais brasileiros.

Lockdown Pro

Por que devemos dialogar com quem odiamos

É uma ótima opção de segurança para seu Android. Nele, você pode bloquear o acesso a qualquer aplicativo do sistema operacional.

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O jornalista Eber Freitas destaca que mesmo não sendo aproveitado, apenas o ato de se dispor ao diálogo revela uma mudança radical de caráter.

ENTREVISTA

Thinkstock

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VÍDEOS

Cinco lições sobre gestão de crise com o Papa Francisco

adm.to/odiar_debate

Dicas: crescimento pessoal e profissional

APP

O apresentador Renato de Castro mostra as lições que o Papa nos ensinou sobre como tirar sua organização da crise. adm.to/licoes_papa

LEgenda

A consultora Débora Martins relata que há algumas mudanças que podem alterar o curso da história de cada um.

Após concluir metade do curso

A partir do segundo período

A partir do terceiro período

TWITTER

g+

FACEBOOK

LINKEDIN

@admnews

adm.to/ orkutadm

adm.to/ facebookadm

adm.to/ linkedinadm

O que uma aceleradora pode fazer por sua startup A empreendedora Fabiany Lima compartilha a sua experiência de passar pelo processo de aceleração de startups. adm.to/aceleradoras

FOI DESTAQUE NA WEB Thinkstock

Thinkstock

Thinkstock

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Desde o início do curso

Oito hábitos que vão lhe ajudar a ser rico com um pequeno salário

Os caminhos para o financiamento imobiliário

Três dicas para aprender a ler 300% mais rápido em 20 minutos

Saiba quais mudanças podem lhe direcionar para um futuro mais próspero.

Série especial desvenda tudo que você precisa analisar na hora de comprar um imóvel.

Falantes de cinco idiomas, incluindo disléxicos, foram testados e, ao final do projeto, eram capazes de ler mais de três mil palavras por minuto.

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Como elaborar um pitch fantástico? por simão mairins

C

| ilustração thinkstock

aso você esteja inserido no universo do empreendedorismo, já deve ter escutado uma centena de vezes o termo pitch. Caso não, calma, explicaremos o que significa e alguns bons motivos para você ter um bem preparado na manga. Afinal, cedo ou tarde, de forma inesperada ou calculada, você possivelmente precisará usá-lo. O pitch nada mais é do que uma apresentação curta de um produto. A grande diferença é que ele adota uma metodologia para facilitar a comunicação e entendimento entre quem tem algo a oferecer e as pessoas interessadas

I - Responda às perguntas chaves

Quais são as oportunidades e o mercado que irá atuar? Qual é a sua solução? Quais são os diferenciais em relação ao concorrente? Essas são algumas perguntas que todo o pitch deve responder. Por isso, na apresentação, é importante saber descrever bem o produto ou serviço. Caso seja uma tecnologia complexa, é preciso deixá-lo simples e compreensível. Esse não é o momento para detalhes técnicos do desenvolvimento. “O ponto fundamental é deixar claro o problema através de um dado real e relevante. Quando você não deixa claro o que quer resolver, a apresentação se perde”, indica Luiz Fernando Gomes, organizador e mentor do Startup Weekend.

II – Conte uma boa história

Uma das principais dificuldades em uma apresentação é conseguir manter a atenção do ouvinte todo o tempo. São muitos fatores que podem levar o receptor a se distrair, isso inclui apresentações chatas. Uma boa forma de prender a atenção é contar histórias. Relatar os apuros passados por um consumidor — para, em seguida, contar como sua solução melhorou a vida dele — é um formato eficiente. Mas cuidado: “não divague, lembre-se que seu tempo é limitado. Escolha os fatos que gerem impacto positivo”, indica Luiz Fernando. Outra boa estratégia é utilizar frases de efeito e impactantes no início da apresentação e que sintetizem bem o negócio.

(geralmente investidores ou compradores). Na maioria das vezes, o pitch é o primeiro contato marcante, pode durar um pouco mais de 30 segundos (pitch elevator) ou até 15 minutos (em apresentações formais), e que o leva posteriormente a novos patamares de negociação e entrosamento. Como forma de construir um pitch fantástico, o apresentador deve ter um discurso conciso, objetivo e claro. Preferencialmente, com uma história envolvente, expondo seus diferenciais em relação aos concorrentes e projeções do que aquele negócio pode trazer. Separamos quatro pontos essenciais para você fazer o seu pitch fantástico.

III – Alerta aos slides

Cuidado, mas muito cuidado mesmo com os slides. Eles podem fazer com que apresentações fiquem maravilhosas ou horrorosas. Excessos de textos, efeitos exagerados e bonequinhos do clip-art devem ser providencialmente evitados. O ditado: “uma imagem vale mais que mil palavras” também é real em apresentações. Por isso, sempre que possível, substitua uma frase ou um parágrafo por uma imagem. Outra dica é criar um esboço no papel antes de começar a trabalhar no computador. Tente estruturar onde estarão imagens e texto em seus slides - isso pode lhe dar novas ideias e evitar desperdício de tempo.

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IV - Tenha mais de um pitch na cabeça “Cada investidor e público tem um interesse distinto, assim, é preciso pensar em diferentes formas de atrair o seu ouvinte do momento”, indica o empreendedor Edson Mackeenzy. Por isso, ter duas, três ou até mais versões do mesmo pitch é o ideal. Antes da apresentação em si, descubra qual é o nível de conhecimento do público para adaptar o seu pitch com informações mais avançadas ou básicas. E lembre-se: treino muito. Para encantar em um pitch é preciso mostrar segurança e que você domina bem o assunto.

Edson Mackeenzy, um dos principais experts do Brasil em pitch, mostra outras dicas.

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ENTREVISTA | ana paula padrão

Ana Paula Padrão: da telinha ao mundo dos negócios por paula araújo e lívia maria

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|

imagens divulgação


N

atural de Brasília, Ana Paula Padrão teve

como âncora foi no Jornal da Record, no qual ficou por quatro

uma infância pobre e sem mimos. Pensou em

anos antes de abandonar de vez a telinha em busca de novos

ser bailarina, mas escolheu tentar o sucesso

ares. Como empresária, fundou a agência de comunicação cor-

em algo que se sentisse mais completa. Já

porativa Touareg e o portal Tempo de Mulher – plataforma de

na carreira de jornalista, ouviu muitos “nãos” antes de iniciar sua

comunicação focada no universo feminino. Em abril deste ano,

trilha de sucesso como repórter e correspondente internacional

lançou pela Editora Paralela o livro O amor chegou tarde em

da Rede Globo em Londres e Nova York. Logo depois, faria par-

minha vida, que conta as dificuldades da mulher brasileira no

te da equipe de comentaristas e apresentadores dos telejornais

mercado de trabalho, especialmente na década de 1980, e utili-

Jornal Nacional, Bom Dia Brasil e Jornal Hoje, para depois assu-

za a sua trajetória como pano de fundo.

mir a bancada do Jornal da Globo durante cinco anos. Ana Paula também comandou o telejornal SBT Brasil e o programa de reportagens SBT Realidade. Sua última atuação

O que a fez tomar a decisão de sair da bancada de um dos telejornais mais importantes do país e se dedicar à militância da causa feminista e ao empreendedorismo?

À causa feminina, eu diria. O feminismo foi um movimento muito importante, mas ele foi substituído por outros. As portas hoje estão muito mais abertas para as mulheres do que jamais estiveram e agora é muito mais a questão. É nos sentirmos conhecedoras de todo o poder que já temos e usá-lo de forma inteligente para alcançar aquilo que se quer. Eu já queria ter saído há mais tempo, ainda fiz mais quatro anos de bancada na Record, antes de sair há um ano, porque basicamente eu sou uma pessoa que sempre está procurando alguma coisa nova para fazer, um desafio novo. Eu acho que jornal com hora marcada é um negócio que não existe mais. Se você considerar que você pode ver notícia na hora que você quiser, do jeito e na plataforma que quiser, o jornal com hora marcada ficou velho, foi ultrapassado. E eu me sentia em uma coisa que não fazia mais sentido e eu queria fazer coisas com mais sentido. Desde que eu comecei o portal Tempo de Mulher, que em termos de acesso e de ligação com a mulher média brasileira é um sucesso, eu vi quantas possibilidades você tem no mundo digital e como eu poderia usá-lo de uma maneira diferente. Então, eu resolvi empreender de novo e me senti liberada desse tempo de telejornal. De fato, é sair da zona de conforto sempre. Era muito confortável estar ali sentada, ganhando bem para isso e eu não sou exatamente uma pes-

Nessa entrevista exclusiva, Ana Paula revela por que abandonou uma carreira de sucesso para seguir novos caminhos e fala da importância do empreendedorismo feminino.

soa que vive na zona de conforto. Eu sempre fui assim, mudo muito o tempo todo, inclusive quem eu sou, com muita frequência.

No que consiste o projeto Tempo de Mulher?

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O Tempo de Mulher é uma empresa de comunicação com a mulher, em diferentes plataformas. A primeira que lançamos foi o portal, que fala com a mulher média brasileira. Ela tem, desde o início, há quase três anos, uma média de 30 milhões de page views por mês – que é muito para o Brasil, um país desse tamanho. Estudamos muito o que ela quer, como ela aprende, conhecimento, layout, o que ela gosta de ver, como, quais cores, quais fotos, e acho que por isso desde o início foi um sucesso; ela está muito baseada em pesquisa. Além disso, fazemos eventos para a mulher executiva. A mulher AB e AA que trabalha nas corporações, que precisa de programas para tornar esse trabalho mais confortável, com iniciativas como day-off, licenças maternidade estendidas, mentoria, programas que tornem o fato de ser mulher e ter que administrar vários universos ao mesmo tempo – que é uma coisa típica feminina, que a gente chama de tripla jornada – sejam mais simples. A gente não precisa fazer igual nos anos 1980, trabalhar 16 horas por dia imitando os homens e abandonar uma série de outros universos que são muito importantes para nós.

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ENTREVISTA | ana paula padrão

Qual é o perfil dessa mulher média?

Praticamente a chefe da casa...

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A mulher média brasileira é uma mulher que está inserida num contexto muito novo e que mudou muito radicalmente esse contexto de uma hora para outra. Então, vamos pensar historicamente: nos anos 1960, a mulher tinha em média 6,3 de filhos por mulher e 1,4 de estudo por mulher. No período de cinquenta e poucos anos, se passou a ter uma mulher média brasileira com 1,4 filhos e nove anos de estudo. Então, em muito pouco tempo, passou de uma mulher basicamente dona de casa e que estudava pouquíssimo, praticamente analfabeta, para uma mulher que tem muito menos filhos e estuda muito mais. Estuda, inclusive, mais do que os homens em qualquer classe social, e ela passou a ter muito poder com isso. Ela ganhou mais tempo. Ela associa estudo diretamente com ascensão social e, portanto, quer que os filhos estudem mais do que ela, porque sabe que eles estarão inseridos em contextos mais favoráveis ao conhecimento. E é uma mulher que hoje trabalha. Ela deixou de ter tempo. Em compensação, conseguiu poder, e quando eu falo poder é dinheiro, que isso é muito importante para realizar os sonhos, que eram sonhos da família: uma TV nova, uma viagem para o exterior, escola particular e universidade para os filhos... Ela tem muito poder nesse sentido, porque põe praticamente metade da renda dentro de casa. O que ela tinha de poder acumulado nas decisões domésticas, levou para outras decisões. Ela é hoje praticamente a única decisora de tudo dentro de casa: que carro ou computador irá comprar, que plano de saúde vai fazer, planejar viagem de férias, decidir como vai ser a educação dos filhos.

Pois é, mas ela não faz como a gente nos anos 1980, de ficar mostrando que tem poder. É uma mulher muito conservadora, muito gregária e muito familiar. Então, ainda que ela tenha mais poder, ela não diz isso o tempo inteiro, ela não anuncia isso como uma vitória pessoal. A vitória pessoal é a família unida. Então, se ela

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considera um bom marido, ainda que ele ganhe menos, ela vai dar a ele status para que não se sinta inferiorizado diante dos filhos. Ela é muito poderosa, mas não diz que é muito poderosa e eu acho que é isso que engana tanta gente. Se eu fosse político, eu só conversaria com essa mulher, porque é ela que vai decidir o que será o Brasil daqui a 30 anos. Ela está decidindo nesse momento, então é importante saber o que ela pensa e conversar com ela.

Você disse que nos anos 1980 as mulheres trabalhavam 16 horas por dia. Isso acontece ainda hoje, porém de outra maneira, ou você acha que mudou?

Todo mundo trabalha muito e cada vez mais porque inclusive você pode trabalhar remotamente, que era uma coisa impossível nos anos 1980. O que mudou é que nos anos 1980 a gente não tinha modelo feminino para copiar e o universo masculino parecia muito glamouroso. Homem é muito bom em marketing e ele vendeu o mundo do trabalho como um mundo muito bonito: o poder, as grandes reuniões, as decisões, o dinheiro – tudo isso tinha um poder muito fascinante para nós e era isso que a gente queria. Então, a gente assinou um contrato que dizia o seguinte: vai sair de casa, vai trabalhar, mas ninguém vai notar que não estamos fazendo algumas das coisas. Mas não lemos as letrinhas miúdas lá no contrato que diziam: isso é pesado, não dá tempo! Tempo não é uma coisa elástica, você não pode comprar. A morte não vende tempo. Então, a mulher acabou estafada, estressadíssima. As meninas mais jovens que viram a mãe trabalhar demais, como um homem, que viram mulheres masculinizadas, sem companheiro... Produção independente era um termo dos anos 1980 que dizia: eu não preciso de um homem para ter um filho. Eu acho que isso mudou, a gente encara o feminino, os desejos, as ambições fora do trabalho de outra maneira. Trabalho não é 100% da vida, ele é uma parte muito importante, mas tem várias outras que são importantes também e têm que ser atendidas para que a gente se sinta bem. Ninguém disse: mulher você tem que cuidar da casa, você tem que ter filhos, você tem que ter um companheiro. A


partir dos anos 2000 nós olhamos para trás e dissemos: puxa, abri mão de coisa demais para ser como um homem no trabalho. As mulheres compreenderam isso, talvez as empresas ainda não perceberam que a mulher precisa de muita coisa para ser feliz. O homem “compartimentaliza” melhor – trabalho é uma coisa, casa é outra, chopp com amigo é outra e felicidade ainda é outra. Já nós não precisamos extrair felicidade de cada caixinha dessas e a empresa que não entender isso vai começar a perder talento feminino. Já está perdendo.

Como surgiu o interesse pelo empreendedorismo?

Na verdade, a primeira vez que eu empreendi não foi por desejo, mas por oportunidade. Eu trabalhava no SBT e o meu acordo com a casa era que a partir de um determinado momento eu passaria a fazer programas longos, documentários, e eu propus que isso fosse feito a partir da minha própria empresa; eu entregaria o documentário pronto. E eu abri a Touareg Conteúdo, que é uma empresa hoje muito voltada para a comunicação interna das empresas. É claro que a gente usa muito o vídeo que é do nosso expertise, mas ela surgiu muito por oportunidade. A Tempo de Mulher foi diferente. Ela surgiu por um desejo de realizar a comunicação que eu queria com as mulheres, dizer o que eu pensava sobre isso e colocar o meu exemplo a ser seguido.

Quais foram as principais dificuldades que você encontrou no caminho para se consolidar como empreendedora? As experiências na área de jornalismo a ajudaram de alguma forma?

Não. Na verdade, às vezes atrapalha. Às vezes o cliente só quer o job se for com a Ana Paula e eu não consigo executar todas as 45 tarefas que uma empresa pede, então às vezes atrapalha mais do que me ajuda. E eu sou uma empreendedora como qualquer outra do Brasil. Tenho as mesmas dificuldades, pago a mesma quantidade absurda de impostos, tenho os mesmos problemas, sofro da mesma burocracia, preencho a mesma quantidade de papéis e no fim eu tenho um faturamento muito inferior ao que eu deveria ter, porque estamos em um país onde o empreendedorismo ainda não é levado a sério. A nossa cultura não é a do empreendedorismo ainda.

Estamos em um país onde o empreendedorismo ainda não é levado a sério. A nossa cultura não é a empreendedora ainda. Em que sentido?

No sentido de não ser cultural. Nos países em que a cultura empreendedora é muito forte, uma criancinha faz suco de limão para vender na rua, para arrecadar dinheiro para alguma coisa, e no Brasil isso não é feito. Até muito pouco tempo atrás, o empresário era visto como lobo mau, que explorava a pobre mão de obra iletrada do país e tinha lucros absurdos para si. Não se via o empreendedor como uma pessoa que estava ajudando o país a crescer, a se desenvolver, e que estava beneficiando uma mão de obra com um treinamento que de outra forma não poderia ter. Então, acho que essa é uma cultura diferente de mudar, precisa de uma geração, duas, talvez três... Mas acho que está começando a mudar, os mais jovens querem empreender, as mulheres querem empreender... O Brasil tem um dos maiores índices de intenção no mundo de empreendedorismo feminino e isso é uma ótima notícia! São as mulheres dizendo: empresa, você não me serve, você não me dá o que eu preciso e eu quero controlar melhor a minha agenda. E empreender é uma maneira de fazer isso. É claro que isso é mais sonho do que mundo real. Não é fácil desse jeito, mas acho que isso está mudando. O empreendedorismo está sendo visto de outra maneira. É fácil? Não, é muito difícil. Cada empreendedor é um guerreiro.

O que precisa fazer para mudar?

Várias coisas podem ser feitas: as escolas podem ajudar a mudar a cabeça das crianças, as famílias podem tratar esse assunto de outra forma e o governo pode desburocratizar muita coisa que hoje ainda é muito complexa.

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INSIGHT EMPRENDEDORISMO

O grande líder na imprensa popular por henry mintzberg

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ilustração thinkstock

O empreendedor se tornou o grande herói da mídia desde a década de 1970. Entre pesquisa e curiosidades, nota-se que, décadas depois, sua essência e seus traços continuam muito semelhantes.

Henry Mintzberg é um dos autores mais produtivos da Administração na atualidade, com 16 livros publicados, quase todos considerados referências na área. Ele é professor na McGill University, cofundador do International Master’s Program in Practicing Management, usado por institutos de ensino em Administração no Canadá, Inglaterra, Índia, China e Brasil. Mintzberg também é responsável pelo desenvolvimento do curso CoachingOurselves, que em solos brasileiros é gerenciado pelo Grupo A. www.impm.org www.coachingourselves.com

| Texto extraído do livro: Safari da Estratégia

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e todos os escritos a respeito de espírito empreendedor, a maioria tem sido popular – no espírito da visão de gerência do “grande líder” – e pode ser encontrada na imprensa popular ou nas biografias e autobiografias de famosos figurões da indústria e outros líderes notáveis. O espírito empreendedor pode, por exemplo, ser acompanhado a cada duas semanas na Fortune, uma revista que tende a atribuir o sucesso nos negócios à visão e ao comportamento pessoal do líder heroico. “O CEO Jack Smith não se limitou a deter a hemorragia”, era uma manchete da Fortune, em 17 de outubro de 1994. “Com o aumento das vendas de carros, ele tornou a GM saudável de novo”. Tudo sozinho!

A personalidade empreendedora

Um segundo corpo de literatura sobre espírito empreendedor, provavelmente o maior em termos de conteúdo empírico, focaliza a personalidade empreendedora. Manfred 14

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Kets de Vries, por exemplo, referiu-se ao empreendedor como “o último cavaleiro solitário” em um artigo de 1977, e publicou outro em 1985 sobre “O Lado Sombrio do Espírito Empreendedor”. Quase 30 anos depois, John Gartner (2005) foi surpreendido pela similaridade entre a descrição didática de pacientes “hipomaníacos” na psiquiatria e as descrições de empreendedores da internet na imprensa. Ele compilou os traços básicos da hipomania e perguntou então a dez CEOs da internet se aqueles aspectos descreviam precisamente o típico empreendedor dessa área. Os entrevistados em geral concordaram que os traços clínicos que descreviam os hipomaníacos caracterizavam os empreendedores. Por exemplo, tanto os hipomaníacos quanto os empreendedores costumam ser carismáticos e persuasivos; estão cheios de energia; não precisam de muitas horas de sono; e canalizam sua energia para grandes e audaciosas ambições que, eles acreditam, vão mudar o mundo.

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A pesquisa de Gartner, porém, sugere que os hipomaníacos e os empreendedores compartilham uma série de aspectos menos atraentes. Por exemplo, são inquietos, se irritam facilmente com os menores obstáculos, são propensos a agir impulsivamente com pouco discernimento e, como regra, não dão atenção às reações negativas que suas ações justificadamente ocasionam. Em vez de reconhecer que pode haver diferenças honestas de opinião, com frequência sentem-se perseguidos por aqueles que não concordam com eles. Evidentemente, embora os empreendedores muitas vezes apresentem traços desagradáveis (como a maioria das pessoas), o que é de maior interesse para os pesquisadores é de onde vêm essas características. Em um livro intitulado The Organization Makers, Collins e Moore (1970) apresentaram um quadro fascinante do empreendedor independente, com base no estudo de 150 deles. Os autores acompanharam suas vidas desde a infância, desde a educação formal e informal, até os passos que eles deram para criar seus empreendimentos. Dados de testes psicológicos reforçaram suas análises. O que emergiu foi um retrato de pessoas duras e pragmáticas, levadas desde a infância por poderosas necessidades de realização e independência. Em algum ponto da sua vida, cada um dos empreendedores enfrentou um rompimento


(“deterioração do papel”) e foi então que partiram por conta própria.

Características

Entre as várias características atribuídas à personalidade empreendedora, estão as fortes necessidades de controle, de independência e de realização, ressentimento em relação à autoridade e à tendência a aceitar riscos moderados. Como Baumol resumiu o conhecido estudo de McClelland (1961), o empreendedor não é um “jogador” ou um “especulador”, “não essencialmente um homem que escolha correr riscos”, mas um “calculista”. (como veremos logo, porém, nem todos

os observadores aceitam essa opinião). Ao examinar a personalidade “empreendedora”, vários autores fizeram uma comparação com a personalidade “administrativa”. Stevenson e Gumpert sugerem, por exemplo, que, “na tomada de decisões, os administradores e empreendedores com frequência procedem com uma ordem muito diferente de perguntas”. O administrador típico pergunta: quais recursos controlo? Qual estrutura determina o relacionamento da nossa organização com seu mercado? Como posso minimizar o impacto dos outros sobre minha capacidade de desempenho? Qual oportunidade é apropriada? O empreendedor setembro 2014

tende a perguntar: onde está a oportunidade? Como aproveitá-la? De quais recursos necessito? Como ganho controle sobre eles? Qual estrutura é a melhor? Com relação à “orientação estratégica”, Stevenson e Gumpert descrevem o empreendedor como “constantemente sintonizado com mudanças ambientais que possam sugerir uma oportunidade favorável, ao passo que o administrador quer preservar recursos e reage de forma defensiva às possíveis ameaças para neutralizá-las”. Além disso, os empreendedores “passam rapidamente da identificação da oportunidade para sua perseguição. Eles administradores.com

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de estratégias é dominada pela busca ativa de novas oportunidades. A organização empreendedora focaliza oportunidades; os problemas são secundários. Como escreveu Drucker: “O espírito empreendedor requer que as poucas pessoas boas disponíveis sejam alocadas para oportunidades, e não desperdiçadas na ‘solução de problemas’”.

são como os camelôs com guarda-chuvas que surgem do nada nas esquinas de Manhattan, mal começa a trovejar”. Assim, suas ações tendem a ser “revolucionárias, visando ao curto prazo”, em comparação com as ações “evolucionárias” dos administradores, “com longa duração”. A busca pela “personalidade” empreendedora tem seus críticos. Mitchell et al. (2002) dizem que os esforços para encontrar características psicológicas que sejam comuns e únicas entre os empreendedores são um fracasso. Admitindo que a personalidade empresarial típica pode não existir, muitos escritores voltaram sua atenção para o modo como pensam os empreendedores. Uma pesquisa feita por Busenitz e Barney concluiu que, embora os empreendedores sejam inclinados ao “excesso de confiança”, isso “pode ser especialmente benéfico na implementação de uma decisão específica e na persuasão de outros a aderirem com entusiasmo”. De fato, “a janela de oportunidade muitas vezes já teria se fechado quando todas as informações necessárias se tornassem disponíveis para uma tomada de decisão mais racional”. Quais são, então, as principais características da abordagem dessas personalidades na geração de estratégias? Há alguns anos, eu sugeri quatro: 1. No critério empreendedor, a geração 16

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2. Na organização empreendedora, o poder é centralizado nas mãos do executivo principal. Collins e Moore descreveram o fundador-empreendedor como “caracterizado pela falta de disposição para submeter-se à autoridade, a incapacidade de trabalhar com ela e à consequente necessidade de escapar dela”. Acredita-se que o poder esteja com uma pessoa capaz de comprometer a organização com cursos de ação ousados. Ele ou ela pode governar por decreto, baseando-se no poder pessoal e, às vezes, no carisma. 3. A geração de estratégia na empresa empreendedora é caracterizada por grandes saltos para frente, em face da incerteza. A estratégia move-se para diante na organização empreendedora pela tomada de grandes decisões – os “golpes ousados”. O executivo principal procura condições de incerteza em que a organização pode obter consideráveis ganhos. 4. O crescimento é a meta dominante da organização empreendedora. De acordo com o psicólogo David McClelland, o empreendedor é motivado, acima de tudo, pela necessidade de realização. Como as metas da organização são simplesmente a extensão daquelas do empreendedor, a meta dominante da organização que opera de modo empreendedor parece ser o crescimento, a mais tangível manifestação de realização. setembro 2014

Tanto os hipomaníacos quanto os empreendedores costumam ser carismáticos e persuasivos; estão cheios de energia; não precisam de muitas horas de sono; e canalizam sua energia para grandes e audaciosas ambições.


cases | blueye

CASES

Conhecendo o DNA dos consumidores por fábio bandeira de mello

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imagem acervo pessoal

Empresa brasileira cria solução que pretende revolucionar a maneira como as empresas fazem pesquisa de mercado. Com um mercado cada vez mais disputado, ter ao lado ferramentas que ajudem empresas a conhecer bem seu público e criar experiências diferenciadas pode ser um diferencial para o sucesso. Uma forma bastante usada para conseguir essas informações é através de pesquisas pontuais. Geralmente jovens com uma prancheta, caneta e formulário na mão param pessoas na rua, ou dentro das lojas, para coletar informações sobre idade e classe social, entre outras questões. A pesquisa, de fato, não agrada todo mundo. Muitos consumidores veem tal abordagem como invasiva e até constrangedora. Pelo lado da organização, algumas possuem custos elevados para serem feitas e apenas trazem uma realidade momentânea. Vendo uma brecha nesse mercado, uma startup no Rio Grande do Norte lançou uma solução de pesquisa automatizada, contínua e não invasiva, que pode revolucionar essa área: a Blueye. A partir de uma câmera instalada em um ponto estratégico da loja e um sistema em plataforma cloud, é possível gerar em tempo real o fluxo e informações das pessoas que passam em frente à câmera. “O nosso sistema é capaz de identificar o gênero, faixa etária, grupos familiares e o momento em que a foto foi tirada. Com essas informações, a empresa poderá direcionar suas ações para o público real, mensurar resultados de ações promocionais, comparar taxa de conversão entre lojas, tendo maior inteligência de mercado e diferencial competitivo”, indica Álvaro Barbosa, COO e gestor de TI da Blueye.

CASE

tempo de mercado

Blueye

Um ano

Com uma tecnologia desenvolvida no Brasil, a startup Blueye busca oferecer um serviço de pesquisa de mercado automatizado para qualquer tipo de loja e empresa.

Tudo começou com uma ideia do administrador e desenvolvedor Rodolpho Neri. Empreendedor desde os 17 anos e com longa experiência na área de segurança e Tecnologia da Informação, ele aproveitou esse know-how para criar a tecnologia usada na Blueye. “Comecei a fazer análises do sistema de Segurança e cheguei a essa tecnologia que permite identificar sexo e idade de quem passa em frente à câmera. Pensei inicialmente focar em algo voltado à segurança com identificação facial, no entanto, pivotamos essa ideia e vimos que esse sistema, caso fosse focado no varejo como uma ferramenta para uma pesquisa inteligente, poderia ser bem melhor aproveitado e

o que faz Pesquisa de mercado a partir de identificação facial. Clientes monitorados em tempo real.

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eficiente”, destaca Rodolpho. Com um pouco mais de um ano, a Blueye já vem alcançando bons resultados. Ela faz parte da primeira aceleradora do Nordeste (Mandaca. ru), conquistou o 2º lugar na Demo Brasil – Nordeste, uma das principais competições voltadas para startups no Brasil, e ficou entre as primeiras startups da Missão Londres, do consulado britânico. “Temos também 15 clientes consolidados, mas por alguns integrarem franquias ou redes, nossa previsão é que esse número se multiplique rapidamente. Esperamos chegar a 300 empresas que utilizam nosso serviço até o próximo ano”, finaliza Rodolpho.

público-alvo Qualquer estabelecimento comercial. administradores.com

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acadêmico | estudar fora

To leave or not to leave, eis a questão! por agatha justino

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ilustração thinkstock

Cursar uma pós-graduação no exterior é o sonho de muitos brasileiros. Com a possibilidade de bolsas e convênios, está cada vez mais fácil. Entretanto, é necessário sair do país para fazer uma pós-graduação de qualidade?

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rederick Taylor é o pai da Administração. Hipocrátes, da Medicina e Grócio, do Direito. O que não se sabia, é que a pós-graduação no Brasil também

tem seu genitor: Newton Sucupira. Foi em 1965 que, com pareceres seminais, o então Ministro da Educação implantou o regime de pós-graduações no ensino superior. De acordo com Sucupira, esses estudos se difundiam pelo mundo como uma consequência natural do progresso do saber, já que, segundo ele, seria impossível proporcionar treinamento completo e adequado para muitas carreiras nos limites dos cursos de graduação.

Desde então, a oferta de programas de pós-graduações aumentou e o aluno tem a possibilidade de escolher entre se especializar dentro do Brasil ou no exterior, recebendo ajuda do governo e de instituições que financiam a viagem dos estudantes. As vantagens de embarcar para estudar fora são bem propagandeadas: o aluno entrará em contato com uma nova cultura, aperfeiçoará um idioma estrangeiro e, ainda, ganhará mais conhecimento dentro da sua área. Entretanto, o romantismo do “estudar fora” muitas vezes ilude e faz com que os graduados fechem os olhos para as oportunidades que o próprio país oferece, além de outras armadilhas, como a de revalidação do diploma.

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acadêmico | estudar fora

Um retrato das pósgraduações no Brasil

De acordo com o último levantamento do Ministério da Educação, por meio das avaliações feitas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entre 2010 e 2013, o Brasil teve 23% de crescimento na quantidade de programas de pós-graduação. Dos 3.337 programas de pós-graduação existentes no país, 406 (12%) têm padrão de qualidade internacional. “A princípio, existem graduações boas e ruins, tanto no Brasil como no exterior. É preciso muito cuidado na escolha do programa, pois uma pós boa pode abrir muitas oportunidades e ser, de fato, um diferencial. Mas uma pós ruim pode significar tempo e dinheiro desperdiçado. No caso dos mestrados (profissionais ou não) e doutorados, o sistema de avaliação da CAPES é bastante confiável. Ele se desenvolveu ao longo de um largo período de tempo, sempre contou com um forte envolvimento da comunidade acadêmica e um compromisso institucional sério. É apontado como um dos sistemas mais bem sucedidos no mundo, por isso, um mestrado ou doutorado com notas de 5 a 7 pela Capes é uma garantia bastante confiável de qualidade”, afirma a Profa. Dra. Elizabeth Balbachevsky, vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da USP. Na área de Administração atingiram essa média os cursos oferecidos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, ambas com nota 6. Receberam nota máxima (7) os cursos da Universidade de São Paulo (USP) e Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Além destes, outros 145 cursos da área foram recomendados e reconhecidos pelo Ministério da Educação. Formação dos professores, pro-

O romantismo do “estudar fora”, muitas vezes ilude e faz com que os graduados fechem os olhos para as oportunidades que o próprio país oferece.

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dução intelectual e infraestrutura estão entre os quesitos avaliados. “Os programas lato-senso, especializações e MBAs já têm uma qualidade mais difícil de se aferir. Ainda assim, há vários muito bons, bem avaliados inclusive por rankings internacionais. Para áreas específicas, esses rankings funcionam até bem, pois avaliam coisas similares, que, para serem bons, precisam ter características similares. Assim, vale a pena olhar nos rankings e avaliações externas para se ter uma idéia. O principal é tomar a informação em avaliações específicas, pois às vezes uma universidade não é tão bem colocada nos rankings, mas tem um programa específico muito bem avaliado. O inverso pode acontecer. É perfeitamente possível encontrar um programa ruim, ultrapassado e pouco relevante dentro de uma universidade que, tomada em conjunto, tem uma boa avaliação. Isso vale tanto para programas no Brasil como no exterior”, completa a professora.

Estudar no Brasil x estudar fora

Com a diversidade de cursos no Brasil e pelo mundo, opções de financiamento e de bolsas, geralmente o jovem recém-formado e o profissional que buscam se especializar ficam em dúvida sobre em qual devem se matricular. Ao final, a ideia de viajar sobressai, entretanto é preciso planejamento e, ainda, pesquisar se vale a pena buscar no exterior uma experiência que se pode adquirir no próprio país. “Meu plano inicial era de fazer um mestrado em Londres. Estudaria na London College of Communication, uma grande instituição na área de Comunicação, sem dúvidas. Comecei a me preparar financeiramente; o curso custa em média R$ 35 mil e teria que me programar em relação à moradia - em capitais como Londres e Paris, o preço do aluguel pode ser bem alto. Além desses dois investimentos, calculei que precisaria de cerca de R$ 24 mil para me sustentar durante essa estadia. O problema é que para conseguir o visto, eu precisaria comprovar ter essa renda – o valor da pós-graduação e mais o equivalente


a nove meses de estadia em Londres, considerando mil libras por mês - 30 dias antes de entrar com o pedido. Essa quantia precisaria ficar parada na minha conta durante todo mês”, afirmou a jornalista Fernanda Maia. Fernanda afirma que em meio ao processo de aplicação para a London College passou a se informar sobre outros cursos dentro do Brasil e optou por cursar sua pós-graduação na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). “Claro que eu conheço todos os benefícios de se estudar no exterior. Não vou ser hipócrita e dizer que não gostaria. Entretanto, eu avaliei os gastos e também as vantagens, coloquei em uma balança. No Brasil, eu não ficarei longe do mercado e gastarei menos do que iria gastar fora, fazendo um curso de boa qualidade e reconhecido. Além disso, evitarei o drama da revalidação”, disse a estudante. Por outro lado, Luciana Boschi, diretora da Dom Graphein Consultoria, reafirma as vantagens de se fazer um curso no exterior. “Uma pesquisa da Universidade Estadual de Campinas traçou ‘a representatividade da formação acadêmica no exterior sobre a elite que assume postos de lideranças, seja no setor privado ou no público’. Mesmo não havendo um viés de homogeneidade social ou intelectual, percebemos que, estatisticamente, as pessoas que assumem postos de liderança têm em seu currículo estudos no exterior. Por tudo isso, não acredito em romantização. E também acho que existe, por parte das empresas, grande receptividade com pessoas com essa bagagem. Sem sombra de dúvidas, pessoas que tiveram esta vivência acabaram desenvolvendo uma linha de raciocínio diferente daquelas que não tiveram a mesma oportunidade. E posso afirmar, pela minha observação com as empresas às quais presto serviço, elas dão grande valor à vivência internacional”, disse a consultora.

A armadilha da revalidação dos diplomas

Um dos maiores problemas de cursar uma

pós-graduação no exterior não se manifesta nem antes ou durante o curso, mas sim depois, com a volta do estudante ao Brasil. Revalidar o diploma é um dos processos mais caros e burocráticos enfrentados pelo intercambista. Geralmente, o mercado não exige reconhecimento legal dos cursos no exterior. Entretanto, aqueles que desejam entrar na carreira pública ou acadêmica devem ter paciência para enfrentar as etapas do processo, que pode durar meses ou anos. A revalidação de diplomas estrangeiros cabe às universidades públicas ou privadas que ofereçam cursos de pós-graduação que tenham disciplinas, carga horária ou linhas de pesquisa ao curso feito em outro país. Entretanto, cada instituição tem seus critérios de avaliação e uma taxa referente ao custeio das despesas administrativas, um valor que por não ser prefixado varia por universidade. Por exemplo, na USP, entrar com o pedido de revalidação custa R$ 1.530, caso seja aceito, ainda é necessário o pagamento de outra taxa para retirada do diploma. Já na UNB, a taxa administrativa para mestrado é de R$ 700 e para doutorado R$1.200. Existem ainda instituições que cobram mais caro. Ainda assim, o pagamento é apenas parte da inscrição e não uma garantia de que o diploma será revalidado. Uma Comissão Especial deverá analisar a equivalência do curso, se houver dúvidas quanto à similaridade, a universidade aplicará provas com o objetivo de atestá-la. Na prática, o processo parece ser fácil, porém, Myrtis Azevedo, à frente do ReValide, que presta assessoria em revalidação de diplomas, afirma que não é tão simples. “Trabalho há dez anos na área, e hoje decidi oferecer os serviços apenas a estudantes de medicina, porque se tornou praticamente impossível revalidar um diploma estrangeiro em outras áreas no Brasil. Mesmo com os incentivos do governo para que o jovem vá estudar fora e mesmo quando as universidades são conveniadas, é impressionante a burocracia. Quem termina um mestrado fora e volta para revalidar seu conhecimento esbarra nesse processo. Um dos casos mais chocantes que acompanhei foi de uma professora de

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Matemática que chegou à gastar R$ 10 mil para revalidar o diploma e não conseguiu, no final. E todos nós conhecemos as dificuldades atravessadas pelos professores no Brasil. A cobrança dessas taxas é absurda”, declarou Myrtis. Para Elizabeth Balbachevsky, o principal problema do sistema de reconhecimento de diplomas no Brasil não é a demora ou a burocracia, mas sim a incerteza dos resultados. Segundo ela, o sistema brasileiro para reconhecimento de diplomas é arcaico e padece de um sério problema institucional. “Tudo isso acontece porque a revalidação depende da boa vontade de um professor (ou um comitê de professores) para dar um parecer favorável. E nada, absolutamente nada, garante que essa boa vontade vai existir. Esse resultado não tem nada a ver com a qualidade do curso feito no exterior: eu já tive alunos de doutorado que tiveram seus mestrados, feitos em instituições de altíssimo prestígio como a London School of Economics ou a Universidade de Jerusalém, recusados! E isso porque era um mero reconhecimento acadêmico. Quando um professor dá o parecer negativo, não há o que fazer, a não ser começar o processo novamente em outra universidade. A chance de isso acontecer aumentou mais recentemente porque o mestrado tem mudado muito no exterior, e o mestrado brasileiro ainda mantém um padrão mais estável e antigo, centrado no modelo acadêmico”, diz a professora. Elizabeth classifica como irracional a exigência de que os cursos no Brasil e exterior sejam similares. “Ora, uma razão possível para alguém fazer um curso no exterior é justamente o fato de que não há cursos similares aqui. Essa situação é completamente irracional, pois podemos jogar fora o investimento de anos, tanto do estudante como de sua família, e até dinheiro público, pois o fato da pessoa ter recebido uma bolsa de estudos do governo brasileiro não é garantia nenhuma de que o diploma seja reconhecido. Coisas como essa precisam ser consideradas quando se escolhe um programa de pós. Isso vale tanto para o Brasil como para programas no exterior”, finaliza Balbachevsky.

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carreira | ética

Fraude no trabalho: como combater essa prática por mayara chaves

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ilustração thinkstock

Conheça algumas fraudes comuns no mundo corporativo e veja como eliminá-las.

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impunidade em crimes de corrupção não vem de hoje e, infelizmente, convivemos com ela todos os dias. É só vermos os jornais para,

vez ou outra, nos depararmos com os escândalos que envolvem diversos membros da classe política brasileira. No entanto, a falta de ética não é uma exclusividade do ambiente político. Ela também pode ocorrer nas empresas, podendo passar despercebida por muito tempo… até a bomba estourar. 22

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Tão perto de nós, a falta de ética no trabalho se constitui numa situação presente nas empresas. Pelo menos é o que nos levam a crer estatísticas numa recente pesquisa da KPMG sobre corrupção empresarial, realizada com 500 altos executivos. O levantamento aponta que 55% dos empresários disseram ter sido vítimas de fraudes nos últimos 15 me-

ses, enquanto 62% acreditam que sua empresa poderia fazer parte de um ato corrupto. Mas o que contribui para que os profissionais cometam atos fraudulentos? O administrador Antonio Gesteira, sócio-diretor de Forensic Services e Consultoria de Riscos da KPMG no Brasil, indica que um dos motivos da fraude no ambiente de trabalho está relacionado à


pressão por resultados, metas agressivas e o retorno financeiro associado a atingir um determinado número do orçamento. “Em alguns casos, a motivação para cometer uma fraude, além do risco de perder o emprego, pode vir acompanhada da possibilidade de ganho financeiro. A ausência de controles internos nas empresas promove a adoção de práticas de corrupção, suborno ou até mesmo adulteração de resultados nos sistemas contábeis, financeiros e de tributos. A fraude, na maioria dos casos, depende não só de uma, mas de um grupo de pessoas, considerando os aspectos da delegação de poder e conflito de segregação de funções”, destaca Antonio Gesteira.

Fraudes mais comuns nas empresas

Sendo, infelizmente, um tipo de crime comum no mundo dos negócios, a fraude pode ocorrer das mais variadas formas e ter diversas finalidades. A especialista Flavia Oliveira, da AFO Advocacia, aponta que “as principais fraudes no ambiente de trabalho são praticadas em concordância entre subordinados e chefia para vantagens pessoais”. Ela cita oito tipos de fraudes: 1. Plano ou acordo com um concorrente em relação a preços, licitações, descontos, promoções, abatimentos e termos e condições de vendas; 2. Planos ou acordos com concorrentes para repartir clientes, demarcar territórios, controlar ou limitar a produção ou as pesquisas; 3. Planos ou acordos com concorrentes com a finalidade de se abster de fazer negócios com determinada empresa ou restringir seus negócios com essa empresa; 4. Acordos de vendas casadas; 5. Contratos com exigência de exclusividade; 6. Vendas abaixo do custo; 7. Fraudes contábeis, como manipulação,

falsificação ou alteração de registros ou documentos, de modo a alterar os registros de ativos, passivos e resultados; apropriação indébita de ativos; supressão ou omissão de transações nos registros contábeis; registro de transações sem comprovação e adoção de práticas contábeis inadequadas; 8. Suborno de fornecedores para a compra de materiais ou aprovação de materiais no controle de qualidade.

Consequências e combate

Como a maioria das práticas criminosas, a fraude numa empresa, mais cedo ou mais tarde, vem à tona. E, em decorrência disso, quem protagoniza essas ações acaba respondendo por isso, tanto perante a justiça, como diante da própria empresa, por meio da demissão por justa causa. No entanto, algumas companhias optam por não tomar medidas legais ou mesmo qualificar como justa causa a demissão do profissional. “Muitas vezes, as empresas não usam a justa causa com medo da exposição negativa”, afirma o especialista Paul Peter Boilesen, expert em combate a fraudes. Percebe-se, então, que com a fraude, tanto perde o profissional quanto a empresa. A imagem de ambos fica comprometida e há também que se arcar com os danos financeiros e de relações de negócios, que podem ser devastadores. Daí vem a importância do combate e prevenção a essa prática. “A principal forma de combate às práticas fraudulentas é pela cultura empresarial, disseminando de forma consistente campanhas contra as pequenas atitudes, às fraudes mais comuns e cotidianas, assim criando um ambiente que inibe tais ações”, esclarece Fernando Segato, sócio da Hallx Auditoria, Consultoria e M&A (Saiba mais no box ao lado). O incentivo a uma construção ou reforço da cultura corporativa é essencial para a promoção da ética e da transparência das relações e práticas empresariais. Companhias e profissionais bem sucedidos são reconhecidos tanto por sua competência como pela honestidade de suas atitudes e é isso que possibilita a construção da confiança e do reconhecimento por parte dos clientes e da sociedade como um todo. setembro 2014

Combatendo as práticas fraudulentas Com base nas dicas dos especialistas, veja uma lista com algumas atitudes que podem evitar que empresas e profissionais se envolvam em fraudes:

– Estabelecimento de normas de conduta e de ética; – Prevenção e detecção da fraude por meio da criação de canais anônimos de denúncia; – Atitudes de transparência partindo da alta gestão; – Implantação de programas de ética e de controles internos envolvendo todos os profissionais presentes nas relações da companhia; – Intolerância a “jeitinhos”; – Manter o compromisso de todos, por meio de educação continuada; – Aplicações de sanções a quem praticar essas ações.

DICA DE FILME Enron apresenta a ascensão e queda da corporação do ramo de petróleo e gás natural, principalmente pelas fraudes.

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carreira | ALTO POSTO

Você é um executivo completo? por michael wade

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ilustração niandson leocádio

A liderança sustentável envolve o equilíbrio de aspectos da saúde psicológica, emocional e física. 24

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omo você definiria um executivo de alto desempenho? Seria uma pessoa que toma decisões difíceis com informações incompletas?

Um líder que inspira os outros a terem desempenho superior? Ou, talvez, alguém que seja capaz de articular claramente uma visão de longo prazo? Um executivo de alto desempenho faz tudo isso, e mais.

Independentemente da definição, no entanto, um verdadeiro executivo tem de manter um desempenho no mais alto nível durante um longo período de tempo. E, no mundo corrido de hoje, não é algo muito fácil de fazer. O desgaste físico e psicológico do executivo é bastante comum – exemplos são o “colapso” e a “licença por estresse”. Nos últimos anos, casos trágicos de suicídios também abalaram o mundo dos negócios. Ser um alto executivo hoje em dia é mais do que ter um emprego em tempo integral. A função exige total dedicação e comprometimento na busca incessante pelo desempenho organizacional. A lacuna de informação entre o momento em que ocorre algo e o momento em que a empresa é obrigada a agir praticamente desapareceu. O executivo líder de hoje vive em um mundo sempre ligado, sob uma constante demanda por sua atenção. Embora a situação possa estar piorando, ela não é nada nova. Há anos falamos sobre a importância do equilíbrio entre trabalho/vida. No entanto, esse termo sugere uma separação irreal entre “trabalho” e “vida”. Para os executivos, o trabalho é uma parte importantíssima da vida – não há separação. Não faz sentido pensar que um

executivo possa ter uma “vida” saudável para compensar um “trabalho” estressante e insalubre. Na verdade, a chave para os executivos é otimizar e reforçar o desempenho em suas atividades de trabalho e não-trabalho, assim se tornando um executivo mais completo. Um executivo completo é aquele que mantém um equilíbrio entre sua saúde física (dieta saudável e exercício físico rotineiro), saúde emocional (experiências enriquecedoras com a família e amigos, bem como a realização de atividades, como hobbies) e saúde psicológica (administrar o estresse e manter a motivação), dentro e fora do trabalho. Há inúmeros benefícios de se manter esse equilíbrio. Uma pesquisa feita por Tony Schwartz e Catherine McCarthy, do The Energy Project, mostrou que funcionários que participaram de um curso de Administração de Energias relataram grandes melhoras nos relacionamentos com clientes, produtividade e satisfação pessoal. Outras empresas, como a Ernst & Young, Sony e Deutsche Bank, tiveram os mesmos resultados, mostrando que executivos em boa forma psicológica, física e emocional têm melhor desempenho e tomam decisões mais acertadas. Porém, não é fácil atingir o equilíbrio do executivo comple-

to e, na verdade, muitas empresas acabam conspirando contra. Há uma atitude comum que esses aspectos “mais suaves” da vida são de responsabilidade exclusiva e pessoal do executivo e devem ser perseguidas fora do horário de trabalho. O exercício deve ser feito antes ou depois do trabalho, e hobbies ou férias longas são vistos como atos de deslealdade. Para ensinar aspectos de liderança, algumas escolas de negócios focam unicamente o lado intelectual dos negócios – estratégia, estruturas organizacionais e como atingir objetivos concretos. Cursos que tratam especificamente da saúde psicológica, física e emocional dos executivos são vistos como superficiais e frouxos demais.

Mude

A.G. Lafley, lendário CEO da Procter & Gamble, discute bastante sobre a importância para os executivos de fazer exercícios e refletir, e que os gerentes mais eficazes sabem que a liderança é mais do que apenas resolver negócios. Ela envolve também a maximização de sua motivação e força mental, ou, segundo a neuropsicóloga Helle Bundgaard, tornar-se um “superusuário do seu cérebro”. Além disso, exige cuidar de sua saúde física, ou “lembrar do fato de que você tem um corpo”, como diz o psicólogo esportivo Steven MacGregor. Estes e outros especialistas ensinam aos executivos truques e dicas para extrair o benefício máximo da dieta e exercícios praticados durante os rigores de um dia de trabalho agitado no escritório ou em uma viagem de negócios. Para ser um líder de negósetembro 2014

cios é necessário também elevar a sua saúde emocional por meio do encontro com a felicidade e o descobrimento do significado maior do seu trabalho. Jørgen Vig Knudstorp, CEO da LEGO, mostra que os executivos e as empresas podem manter-se antenados e eficazes nos negócios ao tratar o trabalho como uma espécie de “jogo sério”, engajando a aprendizagem, a resolução criativa de problemas e a diversão. Sem dúvida, bater metas e lidar com pressão é fundamental para o executivo, e assim permanecerá. Mas vimos que empresas e escolas de negócios têm “espremido” demais os executivos, às vezes literalmente. Despedir ou contratar um novo executivo é algo caro e rompe com uma sequência de trabalho. É do interesse de empresas inteligentes manter seus executivos em boa forma por um longo período, e esperamos que esse seja o primeiro passo para desenvolver uma nova geração de executivos completos.

Michael Wade é professor de Innovation and Strategic Information Management no IMD. Ele codirige o maior programa do IMD: Orchestrating Winning Performance, para indivíduos e equipes. A edição de Lausanne do evento este ano será entre 15 e 20 de junho e inclui atividades diárias focadas na saúde física, psicológica e emocional do executivo completo.

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negรณcios | confianรงa

O papel da confianรงa entre diretores e empregados

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por sebastian reiche, yih teen lee, miguel ángel canela e pablo cardona

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ilustração thinkstock

Um fator vive em linha tênue frequente quando falamos em empresas: a confiança. O ato de acreditar ou duvidar pode ser rapidamente alterado, ainda mais quando há culturas diferentes na mesma organização. Uma pesquisa feita pela IESE revela até que ponto essa influência pode afetar o desempenho no trabalho.

O

fato de construir relações de confiança tem, em longo prazo, efeitos muito positivos para o desempenho dos indivíduos e da

empresa em seu conjunto. Portanto, para formar líderes globais, as companhias devem prestar atenção a esse detalhe, mas sem perder de vista as restrições culturais.

Assim assegura o estudo em que participamos: “Por que os diretores adotam comportamentos que geram confiança?”, onde pesquisamos 741 diretores e 2.111 empregados de 18 países das principais regiões culturais do mundo. O estudo, publicado na revista Personnel Psychology, revela como as diferenças culturais influenciam na percepção da confiança e na relação entre diretores e empregados, fatores chave no desempenho de uma organização.

Culturas individualistas vs coletivistas

O xis do assunto é o contraste entre as culturas individualistas – baseadas na equidade, o interesse próprio e os resultados imediatos –, e as coletivistas – em que são prioritários os objetivos do grupo sobre os individuais. Estudos prévios tinham concentrado na construção de confiança a

partir dos intercâmbios diretos entre chefes e subordinados, um modelo muito ligado às sociedades ocidentais, de estilo individualista. No entanto, essa pesquisa aborda a construção como um processo relacional, em que a confiança não só aumenta graças à relação pessoal entre ambas as partes, mas também graças a uma conduta pró-social generalizada, que inclui ações que beneficiam outros membros da empresa e a organização em seu conjunto. Essa abordagem integra melhor os valores das sociedades coletivistas, em que a confiança afetiva não é tão necessária no momento de gerar reciprocidade. De fato, os resultados indicam que, nas culturas coletivistas, os diretores não necessitam de vínculos afetivos para corresponder à conduta pró-social dos empregados. Isso não significa que os vínculos sejam subestimados, mas sim

que a reciprocidade não é considerada uma obrigação moral; por isso, não é necessário um esforço prévio para assentar a confiança na relação. Além disso, a investigação constata que a confiança afetiva adquire mais importância quando o comportamento pró-social se orienta para indivíduos concretos do que quando se orienta para a organização em geral.

Maximizar benefícios

Para que a organização seja beneficiada, a conduta pró-social deve surgir de uma preocupação genuína pelos demais, no lugar do interesse próprio ou da expectativa de retorno. Portanto, se trabalharem em um país coletivista, os diretores que já enfrentam culturas individualistas devem superar o incômodo que possam gerar entre seus subordinados com uma conduta pró-social antes de estabelecer uma relação de confiança. Caso sejam fortes as interações generalizadas, isto é, aqueles em que as pessoas se ajudam sem saber quando, como ou quem as corresponderá, os diretores poderão criar vínculos mais integradores do que com outras formas de intercâmbio social. As empresas podem fomentar esse tipo de intercâmbios dando protagonismo aos messetembro 2014

mos nos processos de seleção e avaliação e por meio do exemplo de seus diretores.

Contra a corrente

Essas sugestões contrastam com as abordagens da maioria de empresas, que não as contemplam por medo de que os diretores fiquem expostos e se tornem vulneráveis à manipulação. No entanto, esse efeito pode ser evitado se os diretores aprenderem a avaliar corretamente as motivações subjacentes dos empregados, de acordo com suas especificidades culturais.

Sebastian Reiche e Yih-teen Lee são professores de Direção de Pessoas nas Organizações do IESE Business School. Miguel Ángel Canela é professor de Análise de Decisões do IESE Business School. Pablo Cardona é professor do CEIBS. http://www.ieseinsight.com/

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(Debate) contraponto | maconha

Você é a favor da legalização da maconha? por marcelo faria e fernando albuquerque

O tema sobre legalizar ou não a maconha volta e meia vem à tona, principalmente quando em algum lugar do mundo passa a ser permitido o seu uso. Casos como a legalização da maconha no Uruguai, o Estado do Colorado se tornar o primeiro dos EUA a vender para recreação, e a autorização da Justiça para importação de um remédio derivado da droga a uma menina com epilepsia reacenderam esse debate. Convidamos dois especialistas no tema para argumentarem os pontos positivos e negativos dessa liberação.

Marcelo Faria é presidente do Instituto Liberal de São Paulo e bacharel em Administração de Empresas pela Universidade de São Paulo.

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| ilustração thinkstock

SIM!

A

argumentação a favor da guerra às drogas se baseia em três questões básicas: moral (uso das drogas em si), econômica (aumento do poder econômico dos traficantes) e social (aumento na criminalidade). Entretanto, tais argumentos não correspondem à realidade e à teoria econômica. Explico os motivos. Na questão moral, temos visões filosóficas de três autores diferentes: Hobbes, para o qual nascemos em estado de guerra, com o estado sendo necessário para impor a moral e a ordem; Rousseau, para o qual nascemos como “bons selvagens” e somos corrompidos pela civilização; e Locke, para o qual nascemos livres para atuarmos como desejarmos, com o estado natural não sendo bom ou ruim, apenas anárquico. No ponto de vista liberal, baseado em Bastiat e Locke, temos três direitos naturais (vida, liberdade e propriedade) e qualquer violação a um destes direitos constitui uma agressão. Em outras palavras: o estado não deve dizer o que você pode ou não inserir em seu próprio corpo e você deve ser livre para fazê-lo, desde que não entre em conflito com os direitos naturais de outra pessoa. Na questão econômica, a proibição às drogas faz com que apenas produtores dispostos a enfrentar os riscos legais de venda atuem no mercado, gerando disputas de território, ausência de defesa legal – impulsionando o tráfico de armas – e corrupção de policiais. Abrir tal setembro 2014

mercado levaria a uma óbvia competição dos atuais monopólios que o dominam com novos produtores – e até mesmo atuais usuários que resolvessem plantar suas próprias drogas – minando o poder dos atuais cartéis do tráfico ao aumentar a concorrência e reduzir os preços. Isso já tem acontecido nas regiões de plantio de drogas no México, onde o poder dos cartéis das drogas tem caído desde que estados americanos como o Colorado legalizaram o uso recreativo da maconha, principal produto destes cartéis. Na questão social, a proibição das bebidas alcoólicas nos EUA, entre 1920 e 1933, e a atual guerra às drogas mostraram um aumento no número de homicídios e roubos, tanto pelo aumento das disputas entre traficantes, policiais e usuários, quanto pela necessidade da polícia utilizar seus recursos escassos – tempo, recursos humanos financeiros – para combater as drogas ao invés de crimes mais graves. No Colorado, que legalizou o uso recreativo da maconha há pouco mais de quatro meses, houve redução no número de crimes violentos (homicídios, estupros e sequestros) de 6,9% em comparação com o mesmo período de 2013, enquanto crimes contra a propriedade (furtos em geral) caíram 11,1%. A sociedade brasileira precisa superar o preconceito e discutir de forma pragmática os aspectos morais, sociais e econômicos da questão. Desestatizar a maconha é salvar milhares de vidas e retirar milhões de pessoas da influência dos atuais cartéis de drogas.


) não!

I

nicialmente, embora existam defensores para ambas as circunstâncias, é importante destacar a diferença entre (i) legalização da droga e (ii) descriminalização do consumo. Enquanto que a descriminalização alude à atipicidade do consumo individual da droga (consumir), a legalização está relacionada em tornar a droga lícita em todos os seus aspectos (do plantio à comercialização). Dentro do Ordenamento Jurídico vigente, ambas as condutas são tipificadas criminalmente nos artigos 28 e 33 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, a qual, entre outros aspectos, estabelece normas para repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas. Atualmente, existem projetos de leis recém apresentados que não apenas descriminalizam o consumo, mas também regularizam o controle, a plantação, o cultivo, a colheita, a produção, a aquisição, o armazenamento, a comercialização e a distribuição da droga. No entanto, mesmo que tal projeto de

lei seja aprovado e sancionado, este padecerá de inconstitucionalidade por violação a diversas disposições contidas na Constituição Federal, com destaque especial para o artigo 196, segundo o qual “a saúde é direito de todos e dever do Estado”. É importante atentar que a vida é um direito indisponível, devendo-se compreender neste a saúde do indivíduo, a qual consiste em elemento para a sua preservação. Com efeito, pesquisas demonstram que são diversos os malefícios que a maconha ocasiona aos seus usuários, tais como perda de memória, câncer (pulmão, laringe, boca e testículo), problemas respiratórios (bronquite e tosse), além de taquicardia, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral. Além dos efeitos físicos do uso da maconha, há ainda os efeitos psicológicos da droga, cujo princípio ativo se trata de uma substância psicoativa denominada Tetrahidrocanabinol, que atua diretamente no cérebro do usuário, provocando alucinações e delírios persecutórios.

setembro 2014

Nesse aspecto, denota-se que os efeitos nocivos da maconha transcendem a “individualidade” do usuário, haja vista que, estando este sob efeito da droga, expõe terceiros a riscos. Feitas tais considerações, acredito que devam ser mantidas as tipicidades criminais relativas à maconha.

Fernando Albuquerque é especialista em Direito Processual Civil pela Faculdade Farias Brito, tem MBA em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas e é sócio do escritório Imaculada Gordiano Sociedade de Advogados.

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O po d3r dos nú me ros — texto dandara costa

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ilustração niandson leocádio

O primeiro grande numerólogo e matemático conhecido da história foi Pitágoras, 400 a.C., mas desde tempos imemoriais, egípicios, chineses, gregos e romanos já eram adeptos do estudo arquetípico dos números ou da numerologia. Hoje, os números estão em praticamente tudo – e isso inclui os vários campos da Administração: do Marketing às Finanças, da Teoria Clássica à Moderna. Separamos alguns casos que fazem os números serem tão poderosos, principalmente no mundo empresarial.

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A regência do

A Terra é habitável por ser o terceiro planeta do nosso sistema solar, não sendo nem tão quente nem tão gelado. O poder do número três vem da evolução do cérebro humano, que se desenvolveu como parte do nosso sistema de proteção. Gostamos de ter opções, no entanto, não muitas. Três opções são suficientes para que não escolhamos nem a mais quente nem a mais gelada. Mais do que isso confunde nosso cérebro no momento da escolha.

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O valor de ser o número

Iniciar algo conta inúmeros pontos e dá bastante vantagem a quem o faz, tornando-o memorável devido ao sentimento de surpresa suscitado pela inovação. Analisemos o exemplo do astronauta Neil Armstrong, notabilizado por ter sido o primeiro homem a pisar o solo lunar. Todos se lembram de sua declaração a respeito da viagem espacial: “Um pequeno passo para o homem, um grande salto para a humanidade”.

Contudo, quem se lembra do nome do segundo astronauta a realizar a mesma proeza, Buzz Aldrin? E que dizer do terceiro? Ser o primeiro é uma condição privilegiada reconhecida mundialmente. Para os marqueteiros, essa é uma das forças mais poderosas em branding.

Nos negócios e no marketing estratégico, ao analisarmos o mercado, sempre o categorizamos em três níveis: A, B e C; quente, morno e frio; alto, médio e baixo. Na maioria dos mercados, há três líderes de quem nos lembramos, como, por exemplo, no mercado automobilístico norte-americano: GM, Ford, e Chrysler (Fiat). São três as categorias das medalhas olímpicas: ouro, prata e bronze. Além disso, na música, a terceira nota de toda escala gera a harmonia primária que os ouvidos humanos acham prazerosa de ouvir.


99

centavos

Seja como for, o poder dos 0,99 é inegável, seja qual for a época. Mas por quê? Um estudo realizado pela Escola Rutgers de Administração de Empresas, em Nova Jersey, constatou que os preços terminados em 99 passam aos consumidores a impressão de preço redondo com um leve abatimento.

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Na década de 1960, Dave Gold e sua esposa possuíam uma loja de bebidas e frios no sul da Califórnia que vendia vinhos pelos seguintes preços: US$ 0,79, US$ 0,89, US$ 0,99 e US$ 1,49. O casal notou que as garrafas de US$ 0,99 faziam bem mais sucesso que os demais, daí surgiu a franquia “99 Cents Only” (apenas 99 centavos, em português). Mais recentemente, a partir de 2003, Steve Jobs salvou a indústria musical do aniquilamento, ao adotar o conceito dos “99 centavos” na venda de músicas pela internet.

dedos na mão

Em uma mão e em um pé possuímos cinco dedos, o mesmo número médio de memorização do cérebro humano. A ideia de contagem com base no cinco vem desde a pré-história. A conferência de animais ou armas sempre era feita de cinco em cinco, com riscos em madeira ou nós em cordas. Hoje, crianças aprendem a contar com o auxílio da mão. No mundo empresarial, o cinco também tem a sua relevância. De acordo com a relação de fatias de mercado e lucratividade desenvolvida pela consultoria Boston Consulting Group, companhias cuja participação dos lucros representa 20% ou mais de um mercado interno são quase sempre rentáveis. Ou seja, coincidência ou não, em um setor, geralmente há cinco empresas relevantes.

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elementos fundamentais do marketing

Em várias culturas, sete é um número que traz sorte. São sete as maravilhas do mundo, sete continentes, sete anões e sete pecados capitais. Para criar uma estratégia de marketing, muitos partem do conceito dos 4 Ps (produto, preço, promoção e praça); contudo, atualmente é disseminado nos cursos de Administração que o “marketing mix” na verdade engloba sete elementos: pesquisa de mercado, imagem corporativa, estratégia de posicionamento, produto, preço, distribuição e promoção.


negócios | humor

Quando risadas se tornam negócios por marcela agra

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ilustração niandson leocádio

Porta dos Fundos, Dona Irene, Bode Gaiato. Se você nunca ouviu falar em nenhum desses comediantes que transformam humor na web em dinheiro, está na hora de conhecê-los e de – ironicamente – levá-los a sério. 32

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U

ma câmera e um computador. Um script cômico. Por vezes, nada de script, apenas confiança na graça natural do momento. Uma postagem no Youtube, no Facebook, algumas visualizações, alguns likes. Um certo ânimo para fazer de novo. Um pouco mais de curtidas, acompanhadas de compartilhamentos. Mil visualizações. “Isso pode dar certo”. Assim, com quase nenhum dinheiro e uma ideia na cabeça, somados a muito esforço e criatividade, surgem grandes negócios humorísticos na internet. Quer no Facebook, YouTube ou em um misto de televisão com web, são inúmeras as plataformas de humor que viraram negócios no Brasil: Porta dos Fundos, Dona Irene, Bode Gaiato, Gina Indelicada, Não Salvo, Jesus Maneiro, Não Faz Sentido, Ajuda Luciano e tantos, tantos outros. Através de acordos publicitários, monetização de visualizações e visitas, criação de merchandising próprio e outras formas de transformar risadas e sucesso de público em dinheiro, esses criadores de conteúdo cômico para internet cresceram e desenvolveram aquilo que começou com uma boa ideia e recursos limitados, em empreendimentos. Superando formatos cômicos ultrapassados e batidos, os vídeos e páginas dedicadas a piadas se dão bem como negócio porque atraem grande número de fãs e espectadores, seduzindo o interesse de anunciantes. A verdade do humor mais autoral e menos enlatado contribui para criar empatia no espectador/leitor. A página Bode Gaiato (no Facebook), por exemplo, foi criada por um morador de Recife/PE, e faz piadas em forma

de tirinhas com cenas tipicamente vistas em Pernambuco e regiões próximas. O sucesso da fan page entre nordestinos se dá por causa dessa identificação, que acontece naquele momento em que o internauta ri e compartilha a postagem porque já passou pela situação e diz “minha mãe é igual” ou “isso já aconteceu comigo”.

Marketing 3.0: o aliado do humor empreendedor

Muitas empresas, por perceberem a autenticidade presente no humor, passaram a investir em um marketing mais leve, menos engessado, que faz graça com o seu produto ou serviço. A percepção desse fenômeno e a consequente mudança na forma de fazer marketing contribuem para os negócios cômicos na internet, estabelecendo novas alternativas de publicidade: ao invés de figuras públicas recitando textos decorados, de forma nada autêntica, temos histórias criativas envolvendo os produtos divulgados. Xuxa, a “rainha dos baixinhos”, fazendo propaganda do hidratante Monange, por exemplo, não “cola” mais. O espectador sabe que

ela não usa o produto e acaba se sentindo ridicularizado pelo publicitário. “O humor em nossas propagandas é um formato de comunicação, não mais uma tendência. Estamos falando de uma mudança de ciclo, como houve do marketing 1.0 para o 2.0; hoje se fala em marketing 3.0. O brasileiro é muito criativo, e outros países, que eram referência em marketing e propaganda, hoje buscam em nossos escritórios o formato de comunicação que fazemos, incorporando humor”, afirma Ariana Lenz, professora de Marketing na Universidade Católica de Santa Catarina, que faz parte do Grupo PUC-PR. Uma das marcas pioneiras em apostar fichas nesse novo marketing foi a rede de restaurantes Spoleto. Após um vídeo sátira feito pelo Porta dos Fundos, canal humorístico no YouTube que tem mais de oito milhões de inscritos, fazendo pouco do atendimento em restaurantes fast food (o vídeo não citava o Spoleto, mas era obviamente sobre a franquia), Eduardo Ourivio, sócio da rede, decidiu inovar. Ao invés de levar a sério a brincadeira e apelar para meios judiciais contra os humoristas, o empresário pediu para que o vídeo tivesse o nome mudado de “fast food” para “Spoleto” e contratou a trupe para criar uma réplica, brincando ainda mais com a situação. Hoje, com o leque de canais, mídias e entretenimento, é muito fácil mudar de canal, seja na TV ou no YouTube. “Comento com alguns clientes e em sala de aula, que atualmente é mais divertido assistir aos comerciais, do que a alguns programas de televisão que ainda não entenderam essa forma inteligente, criativa e super bem setembro 2014

humorada de vender”, diz Ariana Lenz. Segundo ela, vender um produto no contexto da comédia é uma ótima opção para criar um relacionamento entre consumidor e marca. Essa ligação com o marketing é fundamental na construção da comédia como empreendimento. O Bode Gaiato, por exemplo, incorpora em suas tirinhas humorísticas anúncios de marcas locais, fazendo marketing sem perder sua irreverência característica. Dona Irene, comediante de um canal local de Mossoró/RN, é garota-propaganda da Eletro Shopping, aparecendo nos comerciais televisivos da rede de lojas. A página Ajuda Luciano, que divulga posts e comentários engraçados encontrados no perfil do apresentador Luciano Huck, criou camisetas com os posts mais memoráveis da página. Quer fazendo divulgação própria ou para outras marcas, os humoristas encontram suas maiores oportunidades de negócios nesse novo modelo de marketing. Como ser levado a sério fazendo piada na internet, então? Visibilidade, regularidade e autenticidade. A visibilidade do canal Porta dos Fundos foi o que incentivou o Spoleto a investir em um marketing feito por eles, e isso se aplica a todos os criadores de conteúdo citados. O sucesso de público dessas plataformas é o que as torna interessantes para anunciantes. A regularidade de posts fará o conteúdo perdurar na memória do espectador, gerando engajamento e fidelidade. Enfim, autenticidade. Fazer humor não deve ter como fim exclusivo o ganhar dinheiro. As boas oportunidades de negócios surgirão para aqueles que criarem algo novo, genuíno e particular. administradores.com

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marketing | Exposição

Gente que vira marca: o que aprender com o marketing das celebridades por marcela agra

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imagem thinkstock


Novos rostos aparecem nos tabloides toda semana, mas a maioria cai no esquecimento. Aqui desvendamos o segredo de marketing dos que aproveitam a fama e permanecem em evidência.

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ocê já ouviu falar em uma moça chamada Kim Kardashian? Não? Pois está na hora de conhecêla. “Por quê?” – talvez você

pergunte. Para começar, de acordo com a Forbes, no período de junho de 2012 a junho de 2013, US$ 15 milhões líquidos se somaram à sua fortuna, que já passa dos US$ 50 milhões. A fonte de sua renda são

reality shows sobre sua vida, produtos desenvolvidos com seu nome, além de anúncios com grandes marcas internacionais. Juntamente com suas irmãs, ela tem uma rede de lojas de roupas e acessórios chamada Dash, com unidades em Miami, Los Angeles e Nova York. As irmãs Kardashian desenvolveram ainda perfumes, linhas de roupa para grandes lojas de departamento e maquiagem para drogarias. O império (e patrimônio) da família só aumenta e se consolida. A construção de uma marca pessoal, e no caso citado acima, familiar, é um processo delicado e complicado. Isso porque criar um negócio em cima de uma personalidade real, e não inventada especificamente para representar um produto ou empresa, joga com a privacidade e cotidiano da vida de alguém. Não é fácil se expor dessa forma. Celebridades que

não ficaram conhecidas por sua profissão, mas se fizeram simplesmente por saber aproveitar os 15 minutos de fama são ainda mais intrigantes nesse sentido. Grazi Massafera e Sabrina Sato, por exemplo, levam o título infame de ex-bbb’s, mas souberam escapar do eventual esquecimento, transformando carisma em dinheiro. Na terra do Tio Sam, a cultura das celebridades é ainda mais forte e comum: famílias inteiras – como os Kardashians – ganham fama por serem um pouco fora do convencional, estarem envolvidos com pessoas famosas ou por qualquer outro motivo aparentemente irrelevante. Inúmeros reality shows e a hiperexposição que eles proporcionam transformam pessoas quaisquer em celebridades da noite para o dia, especialmente com a ajuda das redes sociais. O que faz algumas delas permanecesetembro 2014

rem em evidência, enquanto a maioria cai no esquecimento, é o x da questão. Conhecer essa resposta pode mudar a forma como vemos e fazemos marketing.

De personal stylist à realeza de Hollywood

Kim Kardashian era só mais um rosto bonito em Holywood. Trabalhava como stylist de alguns famosos e era amiga de Paris Hilton, herdeira dos hotéis Hilton. O que colocou seu nome no mapa foi um vídeo íntimo de relações sexuais com seu ex-marido, que vazou na internet em 2007. Apesar do estresse e transtornos vindos do fato, Kim conseguiu transformar a má fama em oportunidade de negócios. Sua família assinou um contrato para um reality show no canal E! naquele mesmo ano, e a partir dali ganhou visibilidade. “Keeping Up With the Kardashians” (em tradução livre, administradores.com

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marketing | Exposição

“Acompanhando os Kardashians”), que já está no ar há sete anos, virou um hit, dando origem a outros programas de televisão sobre a vida deles. Desde então, a fama do clã, especialmente a de Kim, cresceu exorbitantemente, tornando a família uma das mais ricas e proeminentes do mundo das celebridades. Onde o marketing entra nessa história toda? Hoje o nome Kardashian significa luxo internacionalmente, mas nem sempre foi assim. Foi um trabalho de construção de marca, de branding. A exposição da família no programa gerou fãs e não clientes, e o engajamento dos primeiros é sempre muito maior. “Os fãs são os consumidores mais fiéis, por isso é importante encantá-los, dar a eles possibilidades diferenciadas, permitir o contato mais próximo dele com o ídolo, fornecer informações em primeira mão… É como criar um programa de fidelização para um produto ou serviço, por exemplo, tomando todo o cuidado para que se possa angariar novos fãs”, afirma Karla Ikeda, pós-graduada em Marketing e autora do e-book Profissão: famoso – como gerenciar imagens de sucesso. Um ponto-chave da ascensão é, portanto, o sentimento de identificação que os Kardashian causam nas pessoas. O consumidor, que é na verdade fã, não compra produtos Kardashian ou endossados pela família porque eles são de boa qualidade ou suprem as suas necessidades, simplesmente, mas porque eles remetem a modelos fashion e de lifestyle que soam mágicos, mas ainda assim autênticos, alcançáveis. “Uma mulher que compra roupas da Kardashian Kollection não está comprando um vestido, mas a chance de parecer e se sentir uma Kardashian”, diz Meredith Coburn, professora de Marketing na DePaul University, em Chicago. A interatividade e exposição são ou-

tros fatores decisivos para o sucesso. Kim Kardashian sabe manter os fãs entretidos e interessados nela, usando esses aspectos. Sua página oficial no Facebook tem mais de 20 milhões de curtidas, e os seguidores da socialite no Twitter também passam desse número. As redes sociais possibilitam a aproximação com os admiradores, funcionando também como plataforma para sua imagem comercial. Se ela posta no Instagram uma foto usando o mais novo look da sua coleção de roupas, meninas do mundo inteiro imediatamente procuram

imagem acaba não sendo tão bem vista”, afirma Ikeda. Como já falado, a identificação é outro fator essencial na construção de uma imagem de sucesso. Por isso tantas celebridades e artistas são utilizados em campanhas publicitárias, o que, de fato, traz benefícios para ambos os lados. “A principal vantagem em associar uma marca a uma celebridade é a possibilidade de usufruir de seu brilho e credibilidade (ou admiração) junto ao público para alavancar a venda de produtos e serviços”, aponta Ikeda. É o que acontece também com o jogador de futebol Neymar Jr., um fenômeno do marketing nos últimos anos. Sua imagem agrega verdade aos produtos e marcas que ele representa, por despertar nas pessoas um sentimento de empatia. Como aplicar em outros tipos de negócios, então, os princípios usados por pessoas que transformaram seus nomes em marcas? Meredith Coburn resume em alguns passos: abrace o branding, desenvolvendo sua marca e a forma como as pessoas a enxergam; concentre-se na mensagem – qualquer que seja o assunto, Kim Kardashian se manifesta, ela é parte da “conversa”. Mantenha-se ativo nas redes sociais, interagindo com os fãs, dando informações importantes, pedindo a opinião deles. Kim não só posta fotos dos seus trabalhos como modelos ou dos seus looks na web, mas faz perguntas e pede feedback de seus seguidores, o que gera engajamento. Por fim, abuse da criatividade e renove-se sempre. Quando os fãs menos esperam, Kim Kardashian anuncia um novo projeto, algo diferente, que empolga seus admiradores e parceiros de negócios. Por causa desse hábito, somado às estratégias de marketing, o que começou com um reality show e uma loja de roupas, se transformou num império internacional de mais de US$ 50 milhões.

A principal vantagem em associar uma marca a uma celebridade é a possibilidade de usufruir de seu brilho e credibilidade.

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saber onde comprá-lo. A imagem de vida vendida através de redes sociais é atrativa para mulheres, que desejam imitá-la, e para homens, que desejam alguém como ela. O que há de tão sedutor na vida de Kim?

O segredo do sucesso

Celebridades são como empresas, e suas próprias imagens são a marca que vendem. As que alcançam o sucesso e permanecem em posição privilegiada, o fazem graças a alguns elementos específicos. “Manter-se em evidência acaba sendo uma consequência de três pilares básicos: talento, carisma e um bom gerenciamento de carreira [...]. Se falta um desses elementos, o artista não se sustenta ou, ainda que se mantenha na mídia por meio de hiperexposição, sua setembro 2014


DÚVIDAS | DRUCKER RESPONDE

SISTEMAS

LEITURA

Qual o modelo político-econômico mais vantajoso segundo o Pai da Administração?

Não é bem uma pergunta, mas gostaria de indicação de livros para os administradores em formação.

lourival conrado

Peter Drucker sempre defendeu a democracia, foi um estimulador do empreendedorismo à luz do pensamento de Shumpeter e, com uma visão particular sobre o futuro, defendeu a sociedade de consumo como modelo de sustentabilidade econômica em forma de cadeia, ou seja, o capitalismo baseado na distribuição de renda e na responsabilidade. Em suas aulas, expressava sua indignação em relação à corrupção e ao enriquecimento ilícito por parte de grandes líderes e empresas gigantes que visualizavam apenas o lucro acima de tudo. Drucker percebeu a importância das novas realidades econômicas e sociais, o avanço dos países asiáticos e também a sociedade pós-capitalista, fator primordial e exclusivo para a sociedade e também seus governantes repensarem o mundo. CARREIRA Atuo há quase dez anos na área fiscal tributária, porém, estou infeliz. Dois anos atrás tive uma experiência na área administrativa e gostei. Estou para iniciar também um MBA em gestão de pessoas e de negócios. Na verdade, são várias perguntas. Devo mudar? Será que estou no caminho certo com o que faço? marcos josé santos

Marcos, essa é uma grande inquietação de todos os profissionais, após a fase da rotina, como: que caminho seguir? Como ganhar mais? Qual conhecimento preciso dominar a mais para permanecer em meu emprego? E por aí vai. Afirmo para você, o melhor a fazer é manter o equilíbrio. Vivemos a era da criatividade, da inovação, das startups, da independência financeira e, naturalmente, das incertezas, ansiedades e ambições. A ascensão social de nossa sociedade e o fortalecimento do nosso capital intelectual nos situam exatamente com dúvidas como a sua, porém, você não pode desprezar sua potencialidade. Verifique se é nessa área que você quer trabalhar, se vai te deixar mais feliz, e aí sim vá fundo. Não há erro nessas escolhas, Drucker diria para você estimular o espírito empreendedor, e somar os novos conhecimentos às suas atividades.

sanzio fillemon

O que Drucker faria? por raniere rodrigues

Tire suas dúvidas através da ótica dos pensamentos de Peter Drucker, considerado o pai da Administração moderna. Basta enviar a sua pergunta, curiosidade ou questionamento para revista@administradores.com.br

O responsável pelas respostas é o professor Raniere Rodrigues dos Santos, diretor geral da The Drucker Society of Brazil – Recife, Coordenador de Extensão na Faculdade dos Guararapes e um dos principais pesquisadores de Peter Drucker no Brasil.

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Temos uma série de títulos de Drucker e sobre ele que merecem ser lidos. Eu recomendo toda a sua obra, mas posso listar alguns títulos como: As 5 perguntas essenciais que você deverá fazer sobre a sua empresa, O gerente eficaz, Inovação e espírito Empreendedor, a tríade: O homem, A sociedade, A administração, e A profissão de administrador. Outros títulos imperdíveis são Drucker em 33 Lições e o Legado vivo de Peter Drucker. Existem muitos outros, mas acredito que você tenha um bom início com esses. Considero as leituras clássicas fundamentais para o embasamento da formação do administrador. Em suas respectivas áreas, temos os melhores autores, como Philip Kotler em Marketing, Michael Porter em Estratégia, Jim Collins em Liderança, Administração de Richard Daft, e Administração de Schermerhorn Jr, John R. SEM HIERARQUIA Gostaria de saber mais sobre o modelo de gestão sem hierarquia, ou holocracia. Esse é um modelo que pode se aplicar a qualquer tipo de negócio ou se limita a certas áreas e/ ou tamanho da empresa. marcelo henrique

Marcelo, é uma super tentativa de modernização e uma tendência forte de implementação nas empresas, principalmente nas de tecnologia da informação, onde foi criado pelo ex-empreendedor Brian Robertson, essa técnica compreendida como uma “Tecnologia Social”. Ela é democrática e se remete à participação das pessoas no processo de tomada de decisão, a serem mais criativas, autônomas e muito transparentes em suas posições. Vejo que tudo está muito relacionado à influência do Capital Intelectual, à expansão da mente e da inteligência, que foram muito bem definidos por Peter Drucker – o poder do uso da inteligência das pessoas para maior participação e cooperação nas organizações. Esse modelo não enfatiza os cargos das pessoas, mas suas responsabilidades e o reconhecimento pela dedicação e trabalho em conjunto. administradores.com

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capa | estratégia

E vi tar estabel ecer direção, sen t ido e p rop ó si to pa r a a vida é t ril har um caminho incerto e nocivo n a busca de suas re al iz ações pes soa is. Se você se esquiva des sas resp onsabil idades, está n a hor a de re ver e p l a ne ja r sua v ida com est r at égias que t r aga m resulta do s. por eber freitas e lívia maria

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imagens simão mairins


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omos todos sonhadores inatos, possuidores de desejos e aspirações. Casar, ter filhos, fazer aquela tão esperada viagem, conseguir o cargo na empresa que sempre imaginou, comprar aquele carro com o motor potente, ter o reconhecimento em seu trabalho. Por mais variado que seja, fazer projeções é uma característica intrínseca de todo o ser humano. Mas, como conquistar todos os nossos sonhos no curto período de tempo que nos é dado pela natureza? Como atingir satisfação plena na vida quando, muitas vezes, na velocidade imposta pelo dia a dia, estamos em busca de quantidade e não qualidade? Muitas pessoas esperam um sinal divino, que as coisas caiam do céu, seja pela simples acomadação ou por esperar que tudo irá melhorar por si só. No geral, existe uma dificuldade em, após identificar uma necessidade, dar um próximo passo para resolver o problema. Um “culpado” bastante apontado nesses momentos é o tempo: “eu ainda não fiz isso porque não tive tempo” é uma frase que provavelmente você já deve ter escutado algumas vezes (se você mesmo já não a repetiu). No entanto, o que muitas vezes se esquece é que nós mesmos somos os grandes responsáveis pela realizações de nossos sonhos e aspirações – e que, com dedicação, trabalho árduo e planejamento, é possível realizar boa parte deles. Da mesma forma que empresários e empreendedores têm suas metas de vendas e lucros para seus negócios, é necessário estabelecer objetivos pessoais claros e alcançáveis. Se o gestor não possui uma vida pessoal organizada e estrategicamente pensada, dificilmente conseguirá comandar uma empresa ou sua própria carreira de maneira funcional.

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capa | estratégia

quantas vidas você tem?

P R IM E IR O P A SSO

Aparentemente óbvia, a pergunta acima nos faz pensar a forma que compartimentalizamos as diferentes áreas da nossa existência: em nichos que, em uma análise superficial, não interagem entre si. Tom Coelho, em seu livro Sete Vidas, contesta a inexistência desse relacionamento e afirma: é preciso construir um equilíbrio entre todas as áreas para alcançar objetivos e sonhos. Abaixo listamos as sete áreas que precisam de cuidados mútuos para não transformar seus planos em meras listas de afazeres.

1. Saúde e esporte Colocar o corpo em primeiro lugar não é questão de egoísmo ou narcisismo, mas de necessidade. “Mantendo-se bem você estará apto a buscar o melhor em todas as suas demais vidas”, afirma Tom Coelho.

2. Família e afetividade

3. Carreira e vocação

4. Cultura e lazer

Quando se está psicologicamente saudável, é possível transmitir esses bons sentimentos para aqueles que o rodeiam. Além disso, cultivar relacionamentos doentios atrasa o desenvolvimento da sua vida como um todo.

Trabalhe com o que gosta. Executar tarefas que lhes são prazerosas impulsiona a produtividade e o deixa mais perto dos objetivos a serem alcançados.

Tire um momento para se divertir. Trabalhar até a exaustão – mesmo que seja com algo que lhe dê prazer – o torna cego para novas ideias. Relaxar a mente ajuda a trazer novos olhares e a tomar decisões sem se sentir pressionado.

5. Sociedade e comunidade

6. Bens e possessão

7. Mente e espírito

Como ser social, não podemos e nem conseguimos viver isolados do contato interpessoal. Participar de encontros com amigos e colegas de trabalho é essencial para aprender a conviver com as diferenças e exercitar habilidades importantes para a conquista de objetivos.

“A maioria de nós, mortais, associa a felicidade ao bem-estar, este ao conforto, este à posse de bens materiais”, diz Coelho. Porém, o problema está em privilegiar o material em detrimento das outras áreas da vida. Acumular riqueza não é tudo, porém uma parte importante na busca da felicidade.

Até mesmo aqueles que não possuem nenhuma crença religiosa, acreditam que a mente é uma das mais poderosas ferramentas que possuímos para transpor obstáculos, nos superarmos e nos compreendermos.

Para dar início a um planejamento estratégico pessoal, você deve, primeiramente, estar ciente da sua situação de vida. Esta capacidade de autoconhecimento e autoanálise lhe dará discernimento para diferenciar quais são os seus desejos e objetivos sinceros, separando-os daqueles que “foram passados ao longo da vida como ‘ideais a serem alcançados’”, afirma Heloisa Capelas, coach e especialista em Psicodinâmica Aplicada aos Negócios. Quando se faz planos, entretanto, é necessário pensar na vida como um todo. Para o educador Tom Coelho, não existe sucesso se não olharmos uma série de fatores que afetam vários comportamentos e momentos da nossa rotina, que ele caracteriza como “sete vidas” (veja o box). “Integrar, conciliar e harmonizar vários elementos da nossa vida pode significar o caminho mais curto para você encontrar o sucesso e a felicidade”, afirma. Segundo os especialistas, entretanto, olhar e privilegiar apenas a principal dimensão de um objetivo é um dos maiores erros na hora de colocar em prática um plano de vida. Quando se mantém uma visão limitada da vida, perde-se o que acontece paralelamente e isso pode significar a perda de oportunidades que adicionariam novas perspectivas. “Os dois únicos fatos verdadeiros para qualquer pessoa são que você nasce um dia e vai morrer em algum outro dia. O que acontece entre essas duas datas depende de seu modo de vida”, reflete Tom Coelho. Não adianta fazer planos na esfera financeira ou profissional e gastar toda sua energia na realização desse sonho para, no fim, estar exausto fisicamente e emocionalmente.

OR G A N IZ A Ç Ã O P E SSOA L E P R OF ISSION A L O administrador Douglas Duran, hoje aos 60 anos de idade, precisou organizar a vida desde cedo. Aos 7 anos, já trabalhava como engraxate, passando a vendedor de frutas na estação de trem e, depois, entregador. Seu passado em nada lembra a atual posição de vice-presidente de finanças do grupo editorial Abril e CEO da

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DGB, a holding de logística do grupo. A experiência o ensinou uma lição valiosa: é possível se projetar para o futuro, mas planejá-lo não é tarefa fácil. Duran conta que sempre foi organizado e para controlar as contas diárias comprou um caderno de anotações. “Abri várias colunas, do primeiro ao último dia do mês, onde anotava meus gastos reais e o balanço diário do que estava sobrando ou faltando para cumprir meus objetivos”, comenta. Enquanto que, para Douglas, estruturar a vida pessoal foi o que ajudou em sua carreira, para José Rubens a necessidade surgiu através do seu próprio negócio. Quando abriu o “Guia-se Negócios” a ideia era ter um guia de anúncios para as cidades de cada um dos sócios, porém, a sociedade eventualmente desmoronou. O administrador, analisando os concorrentes, percebeu que as empresas do setor não contavam com uma organização adequada nas áreas de atendimento ao cliente e desenvolvimento de produtos e serviços. “Decidi que nosso compromisso principal deveria ser com os resultados do cliente”, relembra. Para conseguir alinhar seu posicionamento com as novas diretrizes da empresa, Rubens precisou reestruturar sua vida. “Eu penso o seguinte: eu preciso ser feliz, meus colaboradores precisam ser felizes, meus franqueados precisam ser felizes e os clientes e os usuários precisam também”. Da sua experiência, ele ressalta que é preciso definir bem o que você quer para transmitir com facilidade e exatidão para o público. “Não adianta a sua missão de vida ser diferente ou se contrapor à missão da empresa. O planejamento só funciona se a cultura, missão, visão e valores estão bem alinhados, pessoal e profissionalmente”, finaliza.

GE RA Ç ÃO Y , P LANEJ A M E N T O E C A R R E I R A Uma das dificuldades que os jovens esbarram na hora de se planejar é a falta de visão em longo prazo e o imediatismo pelos resultados exigidos por eles mesmos. Duran culpa a formação da “geração Instagram”, com sua “arrogância e falta de humildade”, pelas frustrações que encontram pelo caminho, principalmente no profissional. “Eles não conseguem se sentir satisfeitos com o trabalho porque acham que são os melhores”, critica. “Fazem parte de uma geração que sempre teve tudo nas mãos e não aprendeu a ter certas responsabilidades e a dar valor ao que tem. Eles não acham que precisam se esforçar para atingir o sucesso”. As mudanças ocorridas no estilo de vida da população criaram, na visão de Duran, uma necessidade de planejamentos que sejam em curto prazo, de no

máximo 12 meses. O especialista em finanças pessoais Maurício Galhardo compartilha da opinião e aconselha a sempre estipular prazos para suas metas, dessa forma, atribuindo o valor desse sonho na sua vida: o que é mais importante e precisa ser realizado primeiro? “Quando você coloca data, está mudando a situação de um sonho para um objetivo e a coisa começa a ficar mais palpável”, explica. Por isso, todo planejamento, por mais que tenha um foco, deve ser flexível. Muitas vezes nos deparamos com situações que fogem ao nosso controle e que necessitam de tomadas de decisões que alteram o futuro. A partir do momento que você estabelece um objetivo a ser alcançado, não se deve fechar os olhos para as outras oportunidades que surgem no meio do caminho e que devem ser consideradas.

Apan h a d o te órico Sabe aquela história contada por Sun Tzu de vencer a guerra antes da batalha? Ou melhor, de evitar a todo custo a própria batalha para vencer a guerra? Essa é uma das melhores imagens para se ter em mente quando o assunto é estratégia. “Não procures vencer teus inimigos à custa de combates e vitórias”, recomenda. Quando um general domina todas as variáveis envolvidas no conflito, sua vitória é certa; quando deixa ao acaso, corre o risco de ficar à mercê do inimigo ou de simplesmente medir forças no campo de batalha. Faz sentido. Um conflito tem um custo alto para vitoriosos e derrotados, e a estratégia é a melhor maneira de encerrar o combate com a menor quantidade de baixas possível, o mais cedo que puder – se possível, antes de começar. No mundo corporativo, pode-se calcular as baixas em tempo gasto, profissionais envolvidos, horas trabalhadas, refeições, salários, benefícios e – o mais importante – o timing do mercado. “Pior do que ter uma estratégia rasa é não ter estratégia”, afirma o executivo e professor de Administração Carlos Alberto Júlio. Antes de pensar na estratégia, no entanto, é necessário entender o planejamento. Como essa palavra é mastigada setembro 2014

muitas metas atrapalham? É preciso que se estabeleça uma quantidade de metas que você possa lidar sem pressão, para que não desista no meio do caminho. À medida que suas realizações vão acontecendo, pode-se incluir novos objetivos a serem perseguidos. Se um de seus objetivos é grande demais, foque apenas nele por um momento. Pense e estude todas as possibilidades e, sempre que possível, distrinche-o em pequenos (porém não muitos) outros marcos idealizadores. Ajuda na visualização se você escrever todos os sonhos em um papel em branco. “É importante ver que quando a pessoa escreve isso, você percebe o que não está fazendo. É muito comum encontrar pessoas que parecem saber o que querem, mas em nenhum momento pararam para pensar nisso”, indica o especialista Maurício Galhardo.

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capa | estratégia

ad infinitum nas salas de aula dos cursos de Administração, não é necessário um aprofundamento maior nestas páginas. Henry Mintzberg, autor de Ascensão e queda do planejamento estratégico destaca cinco formas de compreender o conceito: 1. Planejamento é pensar o futuro; 2. Planejamento é controlar o futuro; 3. Planejamento é tomada de decisão; 4. Planejamento é tomada de decisão integrada e, o mais importante; 5. Planejamento é um procedimento formal para produzir um resultado articulado na forma de um sistema integrado de decisões. “O que capta a ideia de planejamento acima de tudo é sua ênfase na formalização, a sistematização do fenômeno ao qual se pretende aplicar o planejamento”, explica. A formalização, de acordo com Mintzberg, é a chave. Pode se referir a “decompor”, “articular” mas, principalmente, “racionalizar” o processo. Significa, trocando em miúdos, pegar um papel, lápis e criar uma representação gráfica do que está estruturado em sua mente. “Acima de tudo, o planejamento é caracterizado pela natureza de decomposição da análise – reduzindo situações e processos a suas partes”. Planejar torna-se, portanto, uma ferramenta essencial para coordenar e mensurar a produtividade, racionalizar os processos e, sobretudo, antecipar o futuro. De modo básico, o planejamento se subdivide em estratégico, tático e operacional, conforme o tipo de decisão que se precisa tomar, segundo notação de Djalma Rebouças no livro Planejamento Estratégico. “De forma resumida, o planejamento estratégico relaciona-se com objetivos de longo prazo e com estratégias e ações para alcançá-los que afetam a empresa como um todo, enquanto o planejamento tático relaciona-se a objetivos de mais curto prazo e com estratégias e ações que, geralmente, afetam somente parte da empresa”, relata. Apenas grandes empresas devem planejar e pensar estrategicamente seu futuro? A resposta é não. Segundo Júlio, pequenas empresas e até mesmo as pessoas em sua individualidade devem ter noções de estratégia sem precisar recorrer a teorias e métodos complexos. Assim, pode-se dizer que qualquer planejamento de vida em nível pessoal é estratégico – uma vez que uma pessoa é indivisível, não dá para determinar que seu cérebro coordene e planeje e que suas mãos façam o trabalho operacional. O sistema já é perfeito, não tem o que melhorar. Resta saber o que você quer, e como chegar lá. 42

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como faz? Rebouças explica que, bem ou mal, cada empresa tem sua estratégia. E, bem ou mal, cada qual aplica de uma maneira que lhe parece melhor, independente se isso é feito de forma eficiente e eficaz. Porém, quando há uma forma – um esquema definido e fielmente executado –, diferentes metodologias tendem a englobar os elementos fundamentais de uma estratégia bem consolidada. E isso vale para a vida pessoal. São quatro etapas no planejamento estratégico: diagnóstico, missão, instrumentos prescritivos e quantitativos e controle e avaliação.

Apps para ajudar no planejamento em diversas situações legenda ícone do app

plataformas

disponível em português versão gratuita


Diagnóstico Parece frívolo, mas é determinante ter um objetivo que possa ser alcançado por etapas, “pois somente dessa forma se pode verificar a validade da metodologia apresentada”. No diagnóstico, são definidos também a visão e os valores da empresa. Em um nível pessoal, pode-se considerar os valores como os princípios consolidados durante a criação e formação do indivíduo, e a visão como suas aspirações – algo que requer uma boa dose de autoconhecimento.

v iagens

Ao final do diagnóstico, você irá obter as seguintes informações: Forças Quais são os meus pontos fortes e como posso utilizá-los melhor; Fraquezas Quais são os meus pontos fracos e como torná-los irrelevantes ou adequá-los; Oportunidades Quais são as oportunidades que tenho e como aproveitá-las; Ameaças Quais são as ameaças que vou enfrentar e como evitá-las ou superá-las.

iOS, Android, Windows Phone, Windows 8.1, Nokia

AppStore

instrumentos

Também requer autoconhecimento. Rebouças define a missão como o “motivo central da existência”. Ou seja, o que você quer fazer, para quem você quer fazer e por quê. Os propósitos vão informar quais são os setores dentro da missão onde você vai atuar – ou já atua. Depois são montados os cenários do futuro, com base nas informações coletadas até então e nas projeções. Com isso, você vai saber se posicionar estrategicamente diante do que você quer ou espera para o futuro.

Objetivo O que você pretende, afinal, atingir. Para esse destino é que devem ser direcionados os seus esforços;

tarefas

trip advisor

Auxilia mochileiros e viajantes em geral com base em indicações de pessoas que já visitaram os lugares indicados, com base em fotografias e comentários.

missão

Web, Android, iOS, Kindle Fire, Windows 8

Metas Passos, também quantificáveis, para se chegar aos desafios e objetivos; Projetos Trabalhos que devem ser executados com resultados esperados, considerando os recursos e tempo que deverão ser gastos;

finanças

pro d u ti v i d a d e

MoneyWise Android

Aplicativo com alguns anos de estrada, tem como ponto forte a parte visual. Os gráficos facilitam a compreensão e gerenciamento das finanças. Foi eleito pelo LifeHacker como “O Melhor Aplicativo de Monitoramento de Orçamento para Android”.

tripshare

Wunderlist

GuiaBolso

Com 500 mil alternativas de hospedagens em 20 mil cidades pelo mundo, o app fornece um ambiente onde o usuário pode planejar tanto viagens com vários itinerários quanto passeios simples.

Permite a criação de listas diversas, incluindo de tarefas. É possível sincronizar as listas em diversos dispositivos, mas algumas opções só estão disponíveis na versão paga.

Se propõe a ser uma solução completa na área de planejamento financeiro pessoal – possui inclusive sincronização com o internet banking cadastrado, mas apenas para conferência de saldo e extrato.

Mac, Chromebook, Web, Android, iOS, Kindle Fire

“Por mais bela que seja a estratégia, esporadicamente você deve analisar os resultados”, dizia Winston Churchill. E essa é a etapa a ser cumprida antes de reiniciar o ciclo. Você deve criar indicadores para avaliar o desempenho, o quanto você se desviou do objetivo, desafios, metas e projetos e, então, tomar uma atitude com as informações disponíveis. Por fim, esses resultados devem ser acrescentados ao planejamento estratégico, e o processo recomeça.

Planos de ação Reunião das partes comuns dos projetos, direcionadas ao objetivo.

Trello

Apresenta a proposta de ser uma alternativa às versões virtuais do post-it, permitindo o gerenciamento intuitivo e prático das listas de tarefas do dia a dia.

Desafios Feitos que precisam ser conquistados, porém com um prazo, e quantificáveis;

Controle e avaliação

Web, iOS

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Balanced scorecard iOS (apenas iPad)

A metodologia dispensa apresentações para os administradores. O aplicativo para iPad auxilia na criação de gráficos e monitorar a estratégia empresarial. O preço é um pouco mais salgado do que a média dos apps: US$ 24,99.

pocket Web/ Browser, Android, iOS, Windows Phone, Blackberry, WebOSe S60, Desktop

É um aplicativo que sincroniza endereços da web salvos em sua conta entre diversos dispositivos. A versão paga salva as páginas web para sempre – mesmo se forem retiradas do ar.

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conta aí | jogatina

O que aprendi sobre Administração em uma mesa de pôquer

por ravi freitas

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imagens thinkstock

O repórter da Administradores teve uma missão: jogar muitas rodadas do carteado mais popular do planeta e descobrir a relação do jogo com o campo dos negócios. O resultado dessa jornada você acompanha a seguir.

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Q

uando se é adolescente, poucas coisas são tão divertidas quanto fazer tudo que nos foi ensinado a não fazer. E uma dessas diversões, que descobri ainda jovem, era apostar. Sem dinheiro suficiente para sair de casa todos os finais de semana (afinal, ser jovem é caro), costumávamos trocar notas de R$ 10 por moedas dos menores valores possíveis para jogar pôquer: quanto mais moedas de 5 e 10 centavos, melhor.

Minha paixão pelas cartas do baralho não era uma coisa nova. Desde pequeno brincava de seja lá o que fosse com elas: tentar ser mágico (horas perdidas tentando adivinhar as cartas escolhidas pelos meus parentes), jogar paciência (de verdade, não esse formato do computador), relancinho (alguém lembra?). Aos 10 anos, aprendi a jogar sueca com meu avô e vencer de toda a família nas festas. Bom, isso até eu descobrir o mundo do pôquer. Mas o meu “relacionamento” com as cartas foi de idas e vindas. Nos separamos, até, recentemente, surgir uma pergunta na redação: o que se aprende de Administração em uma partida de pôquer? E, com toda minha vasta experiência no campo dos carteados, me ofereci a responder. Preciso admitir, eu realmente nunca havia parado para pensar que fosse possível aprender algo sobre Administração em um jogo que envolve administrar riscos, ler oportunidades, se preparar para o pior, ter estratégias em longo prazo... é, eu realmente nunca tinha pensado bem no assunto.

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conta aí | jogatina

Então, para conseguir esclarecer essa questão, decidi voltar a jogar. Liguei para os meus amigos (e isso seria uma oportunidade ótima para vê-los, já que as intempéries da vida fizeram com que esse grupo de amigos se reunisse com a mesma frequência que alguém vai ao dentista). Trocamos as notas de R$ 10 por moedas, compramos petiscos e bebidas para nos mantermos acordados e logo coloquei o motivo da reunião na mesa: “o que eu posso aprender sobre Administração jogando pôquer?”. Claramente teríamos que pensar um pouco fora da caixa para chegar às conclusões que queríamos alcançar – e assim o fizemos. Depois de alguns encontros para a jogatina, um deles de quase seis horas sem interrupções e já vendo o sol nascer, chegamos às conclusões que você irá ler a partir de agora.

Paciência: como não focar apenas em um Royal Straight Flush

Desde o início de meus dias como jogador de pôquer, meu sonho era conseguir o Royal Straight Flush, a melhor mão possível do jogo. Combinando uma sequência de Ás, K, Q, J e 10, todos do mesmo naipe, você automaticamente ganha a mão, ou seja, leva a mesa. Apesar de comum nos filmes (o que me fez buscar incessantemente por essa mão, afinal, se o James Bond conseguia, por que eu não poderia também?), obter um desses na vida real não era nada fácil. Mais do que difícil, a probabilidade de acontecer é de uma em 650 mil. Em todos meus anos de pôquer, eu nunca vi acontecer, seja comigo ou com alguém na mesa. Então foi daí que tirei minha primeira lição. Assim como nem todas as cartas que eu receber no pôquer vão se tornar um Royal Straight Flush, nem tudo na vida profissional e pessoal acontece quanto desejamos tão imediatamente. Há uma frase do “legendário” e “folclórico” investidor Warren Bufett que destaca o seguinte: “por maior que seja o talento ou o esforço, algumas coisas exigem tempo: não dá para produzir um bebê em um mês

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engravidando nove mulheres”. A paciência é algo tão importante para um bom administrador quanto respirar ou saber escrever. É só você parar para pensar nas grandes empresas. Nenhuma – por mais dinâmico que o mercado seja hoje – consegue se tornar um player do mercado da noite para o dia. Então, nunca entre esperando receber a maior recompensa possível no início. Aliás, para receber as boas recompensas, é necessário saber o quanto apostar. O que nos leva ao nosso próximo ponto...

Finanças: como saber quando investir o mínimo ou quando dar all-in

Após algumas partidas e ao olhar para minha carteira, percebi algo que já havia me esquecido: eu sempre tinha mais dinheiro na minha época de pôquer. Quando eu era um ávido jogador (e por ávido quero dizer jogar três a quatro partidas ao vivo por mês e algumas online), eu conseguia passar o mês com minha mesada! Hoje, mesmo trabalhando, o dinheiro vai se esvaindo. E sim, isso tinha a ver com o pôquer. Durante o jogo, diversas decisões são feitas sobre o que fazer com o seu dinheiro. Se você tem dez mil em fichas, bom, apostar 500 não é muita coisa, né? Mas se você possui apenas mil, os 500 já são a metade de tudo que você possui. Correr riscos é empolgante, mas quanto mais você se arriscar em coisas desnecessárias (como um 2 e 9 de diferentes naipes na mão), menos você vai ter para se arriscar com coisas que realmente importam.


Call, isso é, pagar a aposta mínima, já é um gasto. Fazer isso com uma mão que não vale a pena se encaixa em duas categorias: ou você arrisca demais por algo que não vai trazer o retorno que precisa para compensar, ou é um blefe, e essa última parte cobriremos já já. O oposto de correr riscos a todo o momento é não se arriscar de jeito algum. E isso também não vai te levar a nada, afinal, “correr riscos” faz parte da vida de um administrador. Algumas mãos são boas o suficiente para valer a pena a aposta. Dar all in (confiar todas as suas fichas) no mesmo 2 e 9 de diferentes naipes é tão errado quanto dar fold em dois K, isto é, desistir de uma mão promissora. Dê all in naquilo que você confia! Acredita no retorno e está seguro de que sua proposta é rentável? Aposte suas fichas.

Marketing: como fingir que tenho dois ases na mão com um 3 de paus e um 7 de espadas

Blefe é um dos principais elementos do pôquer. Saber vender o seu produto como sendo totalmente superior a todos os outros é uma habilidade que poucos possuem. Mas, bem mais que blefar, saber reconhecer um blefe é tão importante quanto; o que na vida de um administrador é saber quando não comprar ou aceitar um produto. Afinal, o blefe, no fim das contas, tem como fundamento a mentira e a atuação. Muito comum na rotina de administradores e empreendedores, as “propostas irrecusáveis”, ou seja, as que pro-

metem demais e nada cumprem, também estão no pôquer. Mãos vencedoras são mascaradas de mãos ruins, para que todos apostem e caiam. Dar raise, ou melhor, aumentar a aposta feita pelo seu adversário, é uma das maneiras mais comuns de blefe. Pensar duas vezes ao ver isso acontecer é importante, afinal, não é porque aquela empresa diz que seu produto é bom que você deva acreditar. No fim das contas, se você vacila e alguém consegue fazer você cair, saber se reerguer e ter um plano B para tudo que estiver ocorrendo é sempre o mais indicado. O que nos faz pensar no último ponto...

Estratégia e preparação: ou como reagir a um par de ases na mão do seu adversário

Você se viu encurralado no pior momento possível: seu adversário tem um par de ases na mão e já fez uma quadra com os outros dois ases que saíram durante o flop, isto é, as cartas que ficam sobre a mesa. O que fazer? Se desesperar? Não, assim como no pôquer, no mundo dos negócios precisamos sempre de um plano B. Mesmo que essa última medida seja desistir. Não tem como vencer com essa mão? Dá fold e deixa para a próxima. Conhecer as pessoas com quem você está lidando, conhecer o mercado que você quer se aprofundar, conhecer o assunto sobre o qual sua empresa vai focar, tudo isso ajuda. Saiba se preparar e montar uma estratégia de crescimento para sua empresa. Saiba observar o mercado e se mova antes dele. Saiba também colocar dentro da sua estratégia o gasto de suas fichas. Apesar de termos falado disso na parte de finanças, aqui estamos falando do uso das fichas antes da partida começar. Seja precavido com o que vai gastar. Se algo der errado, saiba que a culpa foi sua. A falta de preparação e estratégia tanto no pôquer quanto nos negócios é um dos principais motivos para perder todas as fichas apostadas. Porque no fim, assim como a Administração, o pôquer não é um jogo de azar.

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ADMINISTRADOR NA HISTÓRIA | Francisco Olympio

Francisco Olympio de Oliveira:

marketing e empreendedorismo nos anos 1930 por agatha justino

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imagem divulgação

LINHA DO TEMPO A empresa Leite de Rosas é registrada e passa a comercializar seus produtos

Leite de Rosas patrocina o concurso Miss Brasil

Lançamento do Talco Barla

1929

1955

1976

Aos 52 anos, o ex-seringalista Francisco Olympio de Oliveira se mudou do Amazonas para o Rio de Janeiro para fundar uma das marcas mais queridas do Brasil, a Leite de Rosas.

A

embalagem rosa com letras brancas é inconfundível. Assim como o cheiro e os diversos usos do Leite de Rosas. Presente há 85 anos no mercado, a marca

pode se considerar uma das mais tradicionais do Brasil. Carioca de berço, a Leite de Rosas nasceu inspirada nos seringais amazonenses onde trabalhava seu fundador, Francisco Olympio de Oliveira.

O ex-seringalista se mudou para o Rio de Janeiro após o início da crise da borracha e, aos 52 anos, lançou no mercado um cosmético feminino cuja fórmula foi desenvolvida por um amigo farmacêutico, que lhe vendeu os direitos de comercialização. O líquido feito à base de álcool e cânfora passou a ser produzido e embalado pelo próprio Francisco e sua esposa na garagem de casa, no bairro de Laranjeiras, Zona Sul da cidade. Para não incomodar a vizinhança, ele martelava as caixas de madeira apenas no horário em que o bonde passava. Em 1929, ele obteve o direito de produzir e comercializar o produto batizado de Leite de Rosas. A família, então, se mudou para o bairro do Jardim Botânico onde foi instalada a sede da empresa e o primeiro funcionário foi contratado. Para divulgar o cosmético, Francisco usava o rádio e pregava cartazes pelos postes da cidade durante a madrugada, ignorando a proibição no período do Estado Novo de Getúlio Vargas.

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1942

Abertura da primeira fábrica Leite de Rosas

1961

Morre Francisco Olympio e seu genro assume o comando da empresa

Entretanto, essas não eram as únicas estratégias de marketing adotadas pelo empresário. Francisco passou a patrocinar artistas famosos como Orlando Silva e Elza Marzulo, além de convidá-los para serem “o rosto da marca”, como foi durante muito tempo a cantora Carmen Miranda. Ousado, Francisco Olympio patrocinou concursos como o Miss Brasil e desafiou os costumes da época ao ser o primeiro a colocar modelos de biquini em seus anúncios e a contratar mulheres na posição de gerência da empresa, fazendo com que elas recebessem salários mais altos que os dos homens. O filme It fez com que a atriz Clara Bow se consagrasse como a primeira “It girl” do mundo. Conhecendo a força do termo, a marca lançou seu slogan “O preparado que dá it” e rapidamente o Leite de Rosa se

A marca é consagrada como uma das mais tradicionais do Brasil

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2003

Lançamento de novas e modernas linhas de produtos

tornou um dos produtos mais desejados no Brasil na década de 1920. A empresa também foi a primeira a popularizar as grandes promoções interativas com os consumidores, dentre elas a “Escreva uma carta para Judy Garland”. Após a morte de Francisco Olympio, em 1961, a empresa passou a ser comandada por Henrique Ribas, genro do fundador. Sob o seu comando, na década de 1980, a empresa se expandiu e passou a investir nos mercados do Norte e Nordeste. Ele diminuiu os custos da produção trocando as embalagens de vidro para o plástico e reforçou a identidade da marca substituindo o branco pelo rosa. Hoje, a companhia continua sendo gerida pela família de Francisco Olympio e aposta em novas linhas de desodorantes e cremes hidratantes, sem perder o caráter tradicional do Leite de Rosas.


geração de valor opÇÕES

Empreendedor ou empregado? por flávio augusto

Flávio Augusto é um dos principais ícones do empreendedorismo no Brasil. Em 2011, criou o projeto Geração de Valor, que utiliza as redes sociais para compartilhar sua experiência com os jovens e profissionais que desejam chegar mais longe na carreira.

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ilustração niandson leocádio

O

lucro e o prejuízo são a justa remuneração pelo capital de risco investido, dimensionados unicamente pela performance do empreendedor em seu negócio. O salário é a remuneração mensal, sem risco, pelo tempo especializado empregado, dimensionado pela oferta e procura no mercado. Vamos analisar os prós e contras dos dois cenários:

O LADO DO EMPREENDEDOR • O empreendedor deve colocar em risco um dinheiro conquistado que tem aplicado. Se pegar um empréstimo, ele é responsável pelo pagamento, por isso, não apresenta garantias. Isso se chama risco. • Em troca, ele não tem limites em seus ganhos, caso seu negócio prospere. O que estabelece o seu ganho é sua performance e não uma remuneração estabelecida pela oferta e procura do mercado.

O LADO DO EMPREGADO

oferta de mão de obra desvalorizando o setor. Sua profissão pode ser extinta com a criação de novas tecnologias. O empregado pode ter um chefe com o qual não há identificação, prejudicando sua carreira. Pode ser substituído por profissionais mais jovens e mais baratos. O empregado pode ser vítima de “puxadas de tapete” de colegas, etc. O fato de ter o salário determinado pelo mercado e não por sua produtividade, ficando a mercê de fatores externos, em minha análise, nunca me agradou nem um pouco. Se, na moral da história, como empregado, eu tivesse meu ganho limitado, não seria tão sem riscos assim. Então, assumir de vez os riscos empreendendo em troca de maiores oportunidades sempre me agradou muito mais. Se eu voltasse aos meus 18 anos, duro como eu sempre fui, eu não teria nenhuma dúvida. Faria tudo da mesma maneira. Em minha empresa, eu estimulo os meus funcionários a empreenderem por meio de uma franquia. Os meus executivos empreendem ao meu lado. Escrevo este texto para que você reflita e analise o caminho que se adéqua mais ao seu perfil. Infelizmente, muitos apenas seguem a boiada e sequer fazem essa análise.

• Não emprega capital. Emprega o seu tempo. Seu salário e direitos trabalhistas são garantidos por lei. • Tem o seu ganho medido pelo mercado, podendo assim ficar limitado por circunstâncias que não dependem dele. O que vou dizer agora não é uma regra, pois isso é bem pessoal. Essa é apenas a minha opinião através da qual fiz algumas escolhas em minha vida. O principal benefício de ser empregado é não ter o risco. Agora, analisemos isso. Será que realmente não há nenhum risco? A empresa pode demiti-lo ao preço de apenas um aviso prévio de 30 dias mais 40% de multa sobre o FGTS. A empresa pode quebrar e você sequer receber os seus direitos. Sua área de atuação pode ter um excesso de setembro 2014

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MENTE ABERTA spam

O que é spam?

por seth godin

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ilustração niandson leocádio

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Seth Godin escreveu 13 livros que foram traduzidos em mais de 30 línguas. Cada um tem sido best-seller. Ele escreve sobre a revolução pósindustrial, a forma como difundir ideias, marketing, parar de fumar, liderança e, acima de tudo, como mudar tudo.

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pam é uma mensagem comercial, não solicitada, imprevista e irrelevante, enviada em massa. O e-mail que você não pediu para receber, o lixo egoísta em meio aos comentários que tenta vender algo, a ligação eletrônica em celulares promovida por uma empresa que se supõe ser o Google Maps. Alguns spamers (autores dos spams) vão lhe dizer que tudo que você precisa fazer é optar/ escolher. Mas, claro, o grande problema com o spam é que ele requer uma ação do destinatário, ação esta que, possivelmente, não pode ser medida em escala (quantas vezes por dia nós temos que optar comunicar com negócios que nunca pedimos para ver – em primeiro lugar, que nunca pedimos para saber a respeito?). Pessoas são inteligentes o suficiente para saber que quando os spams passam a ser aceitos profissionalmente e socialmente, todos os sistemas abertos desmoronam. Spam está nos olhos do espectador – de quem vê – e é aí que entra minha definição de marketing de permissão: se a pessoa com quem você está se comunicando sentiria sua falta caso você não aparecesse, você tem permissão. Por outro lado, só porque você sabe o e-mail ou o telefone de alguém por ter aprendido a automatizar um captcha ou a hackear um fórum de discussão, não significa que você seja bem-vindo lá. O que responder para o empresário que diz: “claro, está bem, mas como você conseguiu permissão primeiramente? Para começar, como eu posso ser notado sem mandar spams para as pessoas?”. As duas respostas: 1- gaste algum dinheiro e banque anúncios socialmente aceitáveis em escala, chamados de publicidade; ou 2- “fale a dez pessoas”. É fácil contar quantas vendas você realizou com uma lista de spam. Mais difícil, porém, mais importante, é contabilizar de quantas pessoas você perdeu a confiança. Confiança, como sabemos, é a essência da conectividade e da transação, e spam é o dispositivo radioativo antitruste.

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ARTIGO DO LEITOR SUCESSO

Guru da fórmula mágica

por bruno teixeira

Bruno Teixeira é técnico em Recursos Humanos no Metrus Instituto de Seguridade Social, administrador do site Opção Estratégica, apaixonado por Gestão de Pessoas e Desenvolvimento Organizacional.

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ilustração niandson leocádio

ltimamente o que mais vemos sendo publicado por empresas especializadas em consultorias miraculosas são fórmulas prontas para o sucesso, passo a passo para ser isso ou aquilo, várias e várias coisas que, segundo suas promessas, trarão o sucesso a partir de determinada receita. Como vivemos num mundo bombardeado por informações, acabamos caindo nas garras dos gurus das fórmulas mágicas. Acontece assim: estamos navegando pela internet e, de repente, aparece uma publicidade ou até mesmo um post, dizendo revelar o segredo que mudará a sua vida para sempre. Claro que não estou generalizando que esse tipo de informação não é útil, pois a experiência compartilhada por alguém de sucesso irá dar um norte mais claro na vida de quem deseja seguir um caminho parecido, mas o que vemos ultimamente são pessoas seguindo fielmente as receitas que deram certo para outras pessoas; pessoas que são totalmente diferentes e viveram vidas completamente diferentes. Uma pessoa não pode definir a fórmula do sucesso para outra. O sucesso, seja lá como

for, é um estado de espírito do qual somente o próprio ser pode idealizá-lo ou tê-lo já realizado. Como definir o que é sucesso? Sucesso para uma dona de casa, por exemplo, pode ser sempre deixar o seu lar aconchegante para receber quem ela ama, para um jovem pode ser trabalhar no Google e não importa em qual cargo, para outros pode ser o empreendedorismo ou criar um projeto revolucionário. Cada um deve encontrar o que é sucesso para si e, para isso, o nível de autoconhecimento deverá ser elevadíssimo. O grande problema é a perda do controle da própria vida. O ser humano tende a querer respostas prontas, seja quando consulta um amigo, quando desabafa com a família ou até mesmo navegando na internet. Para ter uma vida grandiosa não é preciso ter a resposta para tudo e sim fazer as perguntas certas nas horas certas. Por que isso é importante para mim? Qual o significado disso para minha existência? Isso me torna importante? E a pergunta que é mais interessante: estou cumprindo minha missão de vida? Cuidado com os gurus das fórmulas mágicas. A fórmula até pode ser mágica para ele, mas é óbvio que não será para você! Encontre sua própria fórmula mágica.

Confira a versão ampliada desse artigo em: adm.to/formulamagica

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FORA dO QUADRADO

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Sabe aquela ideia mirabolante que você já teve, mas nunca tirou do papel? Então, foi exatamente o oposto o que fizeram os responsáveis por esses 12 produtos a seguir. Para realizarem suas ideias incomuns, eles tiveram algo em comum: buscar financiamento popular através do crowdfunding (e tiveram sucesso). por stwart lucena

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5 Doorbot

fotos divulgação

1 Flykly Smart Wheel A FlyKly Smart Wheel é uma roda inteligente que transforma uma bicicleta simples em um produto hightech. Ela atua forçando a corrente para que a bike se movimente, permitindo ainda controlar a velocidade máxima através de um aplicativo. Caso seja roubada, ela envia a atual localização para o smartphone do verdadeiro dono, além de travar a roda. Cerca de US$ 700 mil foi o arrecadado no crowdfunding. A roda está em pré-venda por US$ 590.

2 Carbon O Carbon não é um smartwatch, mas sim um relógio comum com “poderes especiais”. Ele utiliza a luz solar para gerar energia e a transfere para objetos que precisam de carga. Ou seja, ele capta a luz solar, transforma em energia e carrega smartphones, tablets e afins. O produto é à prova d’água e busca US$ 15 mil em doações. Para receber um Carbon na pré-venda, o contribuinte precisa depositar US$ 75 na conta do projeto, no Kickstarter.

3 OMsignal Já imaginou uma peça de roupa à prova de odores que cuida da sua saúde? Pensando nisso, uma startup desenvolveu a OMsignal — camiseta que mede sua respiração e coleta informações sobre o ritmo cardíaco, frequência e atividade respiratória, deduzindo se você está ou não estressado. Além disso, a camiseta feita com fibras especiais elimina os odores da transpiração do dia a dia, evitando que o seu nível de estresse aumente.

4 Lifx Smart Light Essa é para os preguiçosos de plantão. A Lifx Smart Light é uma lâmpada inteligente que é controlada via aplicativo no smartphone. Através desse app é possível mudar a intensidade da claridade e a cor da luz. A ideia foi publicada em 2012 no Kickstarter, arrecadando mais de US$ 1,2 milhão, quando necessitava “apenas” de US$ 100 mil. A Lifx é vendida por US$ 99.

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O Doorbot é um dispositivo similar às campainhas tradicionais de hoje, mas é equipado com uma câmera rotativa, alto-falante, microfone e uma conexão Wi-Fi. A ideia é simples: saber quem toca a sua campainha (ou quem tocou, já que a câmera grava as imagens e arquiva na memória quando ativada). Graças ao crowdfunding, a Bot Home Automation arrecadou o dinheiro e colocou o Doorbot em produção. O valor do equipamento é de US$ 199,00.

6 Dash O Dash entrou na vibe dos objetos smarts. O pequeno aparelho é um fone de ouvido inteligente, que transmite ao usuário informações como a distância percorrida em um exercício, sua velocidade média, gasto calórico, entre outros. O Dash também bloqueia o som, além de permitir que o som externo chegue aos ouvidos mesmo com o aparelho sendo usado. O projeto arrecadou mais de US$ 2,8 milhões, quando a meta era de US$ 260 mil.

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9 7 Pebble O Pebble é o responsável pela campanha mais bem sucedida do site Kickstarter. Ele nada mais é que um relógio inteligente e precoce, que chegou ao mercado antes mesmo dos smartwatches de grandes empresas como Samsung, LG e Apple. Para a construção da tecnologia foi pedido US$ 100 mil, e a campanha arrecadou 10 milhões de dólares. O Pebble foi uma das atrações principais da Consumer Electronics Show, feira de tecnologia realizada em Las Vegas, em janeiro de 2014.

8 oculus Rift O Oculus Rift é um equipamento de realidade virtual para games, criado para que os jogadores mergulhem em um universo virtual. O projeto pediu US$ 250 mil em doações, arrecadou quase 10 vezes isso, mais de US$ 2,4 milhões. O Oculus Rift tem sensor de movimentos e imagens em 3D, que se movem conforme o usuário mexe sua cabeça. Em março, o Facebook “colocou” os óculos e apostou na compra do projeto por dois bilhões de dólares.

9 OUYA O OUYA é um console de games que deseja disputar espaço com os já consagrados Xbox e PlayStation. Seu diferencial é que, por ter sido financiado pelo público, ele é bem mais barato que os outros (US$ 99 nos EUA) e ainda irá disponibilizar os jogos de graça. O OUYA é o segundo projeto que mais captou dinheiro na história do Kickstarter, atrás apenas do já citado Pebble. Os US$ 950 mil necessários se tornaram US$ 8,5 milhões.

10 Narrative A Narrative é um pequeno aparelho que – quando programado – tira uma foto a cada dois minutos. As fotos são armazenadas na web e podem ser vistas através de um aplicativo para smartphones. O aparelho é pequeno e pode ser preso à roupa em um click. A empresa queria US$ 50 mil para produzir a câmera, abocanhou US$ 500 mil em doações. As câmeras são comercializadas por US$ 279 no site da Narrative.

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Ilustrações e desenhos nunca mais serão os mesmos. A 3Doodler é uma caneta capaz de desenhar em três dimensões. A tinta dela é um tipo simples de plástico que derrete e constrói um desenho em 3D de acordo com os movimentos do usuário. A técnica é similar às pistolas de cola quente: o plástico sólido é colocado, sai derretido e endurece. Os criadores pediam US$ 30 mil para desenvolver a caneta. Receberam US$ 2,3 milhões. A 3Doodler é vendida por US$ 99.

Para os amantes da natureza que moram em apartamentos, por exemplo, o Smart Herb traz uma novidade. O projeto foi criado para cultivar plantas dentro de casa. Com ele você não precisa regar o solo, a base já dá os nutrientes necessários para as plantas. Também não precisa expor a luz, os LEDs já fazem isso. A ideia precisava de US$ 75 mil e arrecadou US$ 625 mil. As bases estão à venda por US$ 99.

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ENTRETENIMENTO | curiosidades, humor e sustentabilidade

MKT de guerrilha

até desaparecerem os escombros digitais no vídeo. As reações, em relação ao vídeo, mostravam a dramaticidade que a campanha conseguiu provocar naqueles que a viam. A agência responsável foi a We Love Talent.

Niandson Leocádio

A Save the Children tem como característica fazer ações fortes, que criem uma compreensão emocional do trabalho da instituição – que é ajudar crianças em áreas de desastres ou de guerra. Seguindo essa linha, a ONG fez uma ação para lá de diferente na Estação Central de Copenhagen, na Dinamarca, simulando uma missão de resgate a uma menina de 12 anos soterrada. O objetivo era fazer com que os transeuntes interagissem digitalmente através do Instagram

Tudo que tem no seu alimento e remédio Uma empresa norte-americana criou um pequeno sensor que identifica rapidamente a composição de comidas e medicamentos. Batizado de Scio, o aparelho é formado por um leitor molecular que identifica as matérias orgânicas dos produtos e envia as informações para o smartphone do usuário. Basta acionar o sensor e direcioná-lo para a substância, pronto! O resultado pode ser compartilhado nas redes sociais, “prato cheio” para usuários do Instagram. Mas, que fique claro, o sensor lê apenas substâncias. Nada de tentar ler a mão do amigo. 54

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Sangue novo, vida nova? Cientistas da Universidade da Califórnia descobriram que transfusão de sangue pode deixar você mais jovem. Não, não funciona como uma máquina do tempo, mas ratos idosos que receberam sangue de ratos jovens curaram danos cerebrais e problemas cognitivos ligados à idade. Apesar da falta de explicação, os estudiosos acreditam que tenha a ver com as proteínas e a forma com que elas acordam as células-tronco. Os pesquisadores acreditam que há possibilidade da cura para males advindos da idade, como o Alzheimer, mas ainda não foram feitos testes em humanos. setembro 2014

Apple, Google e Microsoft unidos Pensando em combater a “mão leve” dos ladrões de celulares, Apple, Google e Microsoft resolveram se unir. As gigantes da tecnologia irão adicionar o recurso kill switch em seus smartphones a partir de julho de 2015. O objetivo da ferramenta é simples: inutilizar os telefones caso sejam roubados, frustrando – em parte – a ação dos bandidos. O iOS 7 já permite que o usuário realize o travamento permanente do iPhone, mesmo se o sistema operacional for reinstalado. Algo parecido é encontrado no Android, mas nele o sistema é burlado facilmente.


AçÕES para um mundo melhor

DES COM Software gratuito faz PLI de dados gerados CAN análise por usinas eólicas DO por

Founder e Co-founder Criadores da empresa. Além do fundador e idealizador do projeto (founder), seus sócios, caso existam, também podem ser chamados de co-founders.

Pivotar Consiste em uma mudança de curso estruturado para testar novos modelos de negócio inicialmente pensado para uma startup.

Equity Etapa em que a startup atinge relevante estabilização e tem seu capital aberto, é inserida como marca em bolsas de ações ou até mesmo torna-se atrativa para venda.

eber freitas

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Quem vê aquelas plantas de energia eólica, com coletores que parecem moinhos de vento, não imagina que existe um trabalho de coleta de dados por trás de tudo. Assim como acontece com as plataformas de petróleo, por exemplo, os aerogeradores têm uma estrutura complexa e geram muitos, muitos dados. E para processar e analisar esses dados, são necessários programas de computador altamente complexos e caros, certo? Em geral, sim. Mas um grupo de engenheiros decidiu fazer diferente: criou um software livre e gratuito para trabalhar com esse tipo de dados e gerar informações competitivas para a indústria de energia eólica. O Vayu – batizado em homenagem à divindade hindu dos ventos – facilita a criação de fluxos processuais, reúne informações de geolocalização das torres, e tem várias outras funcionalidades interessantes para engenheiros da área. “Sempre gostamos de software livre, somos mais programadores do que vendedores”, afirma Ricardo Zely, engenheiro que deu o pontapé

inicial no projeto. Apesar de não ser cobrado nada do usuário final, Ricardo garante que todo o projeto é tocado de forma independente, com três pessoas na equipe – sendo dois programadores e um responsável pela parte jurídica e comercial. “Queremos uma relação bem pura, interessada no usuário. Para gerar lucro, pensamos em trabalhar com espaços para publicidade, ou angariar patrocinadores para financiar o projeto”, explica. Mas para quê um software para tratar os dados de energia eólica? O engenheiro explica: “na energia eólica, o vento é o combustível. Se alguém for construir uma usina eólica, precisa conhecer a região e os ventos profundamente – para cada tipo de vento, existe um aerogerador diferente, por

exemplo”, detalha. “É muito comum haver problemas na medição, como falhas, baterias descarregadas ou até a própria demora na comunicação desses problemas. Um software é importante para garantir a qualidade do projeto”, diz Ricardo. Atualmente, a energia gerada pelos ventos compõe 2,38% da matriz energética brasileira. Ou seja, não está no centro das atenções, como a hidrelétrica, que responde por 63% da energia que consumimos e a energia gerada por usinas de base térmica, acionadas nos últimos meses para suprir a baixa geração por conta da seca nos reservatórios. Contudo, métodos alternativos e sustentáveis de gerar energia sempre são benquistos. O Vayu já está disponível na versão beta (www.vayuwind.com).

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ENTRETENIMENTO | Leitura e cinema

LEITURA

Super apresentações por dayvson carvalho

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Você já precisou fazer uma apresentação para seu trabalho? A probabilidade de a resposta ser sim é quase 100%, pois usamos apresentações para tudo: vender um projeto, mostrar os resultados de um setor, motivar uma equipe, na faculdade... E como encantar sua plateia - ou o seu chefe - fazendo apresentações incríveis? O livro Super Apresentações, do Joni Galvão e Eduardo Adas, responde a pergunta facilmente. A obra mostra com um didático passa a passo como fazer algo realmente surpreendente.

O livro é inspirado no trabalho realizado pela empresa SOAP, fundada em 2003, que produz apresentações para diversas organizações, conciliando design e consultoria. Com uma linguagem jovem e descolada, ela introduz conceitos explicando quem é sua empresa, o que faz e mostra alguns cases realizados – inclusive com os slides feitos! A segunda parte é uma explicação de como fazer uma apresentação no “estado da arte”. Prepare-se para esquecer aqueles modelos prontos! Nessa parte, uma curiosidade é como se começa: em vez de ir direto ao Power Point, você primeiro faz um diagnóstico de quem será seu público-alvo, para entregar algo que eles realmente se interessem. Agora vamos aos slides? Ainda não. Primeiro incorpore o roteirista que há dentro de cada um de nós e no Word escreva a história que você irá apresentar. A história, o storytelling, inclusive, é algo amplamente defendido pelos autores e o grande diferencial entre apresentações chatas e aquelas no estado da arte. Chegamos à parte mais rica desse livro: um detalhado passo a passo de cada etapa de uma apresentação profissional. São elas: roteiro, identidade visual, criação visual dos slides, sobre o apresentador e finaliza com as ferramentas de apoio (aí sim, o Power Point).

Fica muito fácil entender cada parte, pois além de explicar o conceito de forma inteligente, há muitos exemplos de sucesso - e de insucesso também! - e histórias de seus clientes, como o apresentador Marcos Mion ou o piloto Luciano Burti. Ao longo do conteúdo, dúvidas que sempre vêm à nossa cabeça, como quantos slides ter em uma apresentação e o que colocar para chamar a atenção do público são sanadas. O Super Apresentações não compartilha o ditado “casa de ferreiro, espeto de pau”, pois tudo que ele mostra, utiliza durante o livro, seja no design cativante e diferente de cada página ou nas explicações divertidas, como na vez em que foi feita a “pior apresentação do mundo”, com o objetivo de não deixar ninguém cochilar. Centenas de dicas, como bons – e alguns gratuitos – bancos de imagens ou para onde olhar enquanto estiver de frente para mil pessoas é um toque que faz esse livro ter um lugar cativo em sua escrivaninha. Preparado para surpreender na próxima apresentação?

Facebook Marketing

Empreendedorismo – Plano de Negócios Em 40 Lições

Panda Books, 184p. R$ 47,92 Dayvson Carvalho é um mineiro que gosta dos tradicionais pães de queijo e acredita no esforço alinhado à criatividade para surpreender a todos. Criou um currículo diferente que está no www.dayvsoncarvalho.com.br.

ESTANTE Blockbusters por anita elberse

por camila porto de camargo

por marcos hashimoto e cândido borges

O livro mostra que estratégias adotam líderes do cinema, tv, música e esportes para obter vantagem competitiva e como construir um negócio em torno desses produtos.

A autora reuniu o que os profissionais de Marketing, empreendedores e interessados na área precisam saber para obter sucesso trabalhando com o Facebook.

A obra traz os principais componentes de um plano de negócio, com orientações específicas, objetivas e práticas para quem está em um empreendimento nascente.

Campus Elsevier, 320p. R$ 54,90

Editora Novatec, 360 p. R$ 75,00

Saraiva, 257p. R$ 49,90

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CINEMA

Getúlio por

O filme retrata a intimidade de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, em seus 19 últimos dias de vida.

daslei ribeiro

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Começa com uma voz rancorosa que diz: “eu fui um ditador e não me arrependo”, para depois revelar um rosto cansado e marcado pelo tempo. Por vezes, a liderança pode ser tentadora, mas tem seu preço, uma pressão vinda de todos os lados, corroendo por dentro, isolando-o de tudo e todos, até mesmo dos seus entes queridos. Ao menos é essa a sensação que você tem ao sair do filme Getúlio (2014), de João Jardim. O longa é um thriller político com o recorte dos últimos 19 dias da vida do então presidente eleito, agora pelo próprio povo, Getúlio Dornelles Vargas (Tony Ramos, em uma interpretação excepcional). Tem seu início com o atentado frustrado à vida do jornalista, político e principal opositor governamental, Carlos Lacerda (Alexandre Borges) em 5 de agosto de 1954, culminando com a morte do major-aviador Rubens Florentino Vaz. O fato se tornou o estopim de uma campanha difamatória contra o presidente, onde o próprio Lacerda veio a público acusar Vargas como mandante do crime em um discurso transmitido ao vivo pela televisão, exigindo a renúncia do Governo. A administração de Getúlio é posta em cheque na frente do próprio povo. Ataques diretos de políticos da oposição, da imprensa e em particular pelas forças armadas. “Trabalhadores do Brasil”, assim Getúlio endereçava todos os seus discursos. Uma relação íntima entre líder e seu povo é criada (uma característica de ditadores), mas é quebrada quando os indícios apontam que o mandante do atentado a Lacerda foi um dos seus homens de confiança. O povo rompe com seu amado líder e o torna vilão, através de jogadas midiáticas da oposição. Cercado por inimigo, a única fuga que Getúlio possui é a companhia da filha, Alzira Vargas (Drica Moraes), revelando setembro 2014

o homem por trás do ícone. Desmistificando o imponente líder em pai de família, um ser humano triste e cansado, afetado cada vez mais pela pressão do seu ambiente, tendo que absorver tudo para ele, sem ter mais ninguém de confiança para compartilhar o fardo da liderança. Já em uma situação insuportável, a pressão era para que o presidente renunciasse ou simplesmente se licenciasse. Após Getúlio ter abdicado de tomar qualquer posição ofensiva em sua defesa, a única saída possível ao presidente parece ter sido o suicídio. O filme dá a entender que antes de qualquer coisa esse ato foi uma ação política, um martírio em nome do legalismo, um último movimento no complexo jogo político que o cercava. O filme acaba se tornando um reflexo involuntário do cenário político atual, com suas intrigas de Estado, corrupções expostas e as influências dos meios de comunicação. Mas João Jardim não é imparcial em relação ao seu personagem-título. O filme retrata um Getúlio, mesmo com a sua autoridade no olhar e rispidez em suas ações, que nada mais é que um personagem íntegro, que desconhecia absolutamente todos os planos do Anjo Negro - seu chefe de segurança pessoal e principal suspeito do mandato do crime, assim o inocentando do atentado. Talvez a fuga de Getúlio Vargas tenha sido vista como a mais fácil, como também a escolha de João Jardim de caracterizar o personagem como um grande defensor do bem que é estigmatizado por seus inimigos. Um “produto” muito mais fácil para ser vendido ao grande público, o mesmo público que ainda está em busca de uma figura paterna, ausente desde Getúlio Vargas. Daslei Ribeiro é um video maker que não quer entrar pra história tão cedo.

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PONTO FINAL 49 anos

Administrador, protagonista de mudanças na sociedade por walter sigollo

Walter Sigollo é presidente do Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA-SP.

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ilustração niandson leocádio

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profissão de administrador completa 49 anos neste mês de setembro. Ao longo desses anos, aconteceram vários avanços em prol do desenvolvimento da função, no entanto, ainda há muito o que fazer. A Administração profissional é essencial e devemos trabalhar para mudar a percepção das empresas públicas e privadas, das instituições de ensino, das entidades e demais setores da sociedade em relação a essa questão. A responsabilidade é grande. A Administração, apesar de ser uma profissão ainda jovem, já encontra o seu lugar consolidado como a preferência entre os estudantes. Segundo o último Censo da Educação Superior, é a campeã entre os matriculados no Brasil. O curso teve mais de 800 mil matrículas em 2012, de acordo com o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). É nossa função demonstrar aos jovens administradores a responsabilidade da área em que estão ingressando e intensificar as ações em prol da qualificação e do desenvolvimento profissional. Nossas instituições de ensino superior precisam de atualização permanente e o governo deve criar instrumentos que incentivem a qualificação; as empresas também precisam fazer a sua parte e investir no desenvolvimento desses jovens que irão ingressar nos quadros profissionais. Sabemos que boa parte das deficiências de uma organização, seja nas empresas públicas ou privadas, pode ser superada por meio da administração profissional. Em meio aos problemas de gestão que encontramos nas empresas e no país, há muito que se pensar sobre a responsabilidade de gestores capazes de administrar as organizações. Frente a isso, a partir deste ano, os administradores passaram a contar a Certificação Profissional

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por Experiência, na ênfase Recursos Humanos. A inédita iniciativa do Sistema Conselhos Federal e Regionais de Administração (CFA/CRAs) – de caráter não obrigatório – tem o objetivo de facilitar a inserção dos profissionais capacitados no mercado, com foco na qualidade do trabalho e atualização permanente. Posteriormente, as próximas áreas oferecidas serão Finanças/Orçamentos, Mercado/Marketing e Materiais/Logística/Produção. Buscamos incessantemente cumprir as nossas metas consolidando a presença do CRA-SP e ampliando a nossa representatividade nas regiões mais importantes do Estado. Atuamos fortemente na captação de registros, fortalecendo o trabalho de fiscalização e defesa da nossa profissão. Estamos preocupados em oferecer ferramentas de gestão que melhorem a performance das atividades do administrador e divulgamos as melhores práticas de gestão. Nossa missão é zelar pela ética profissional, promover a cidadania, defender a sociedade em um entendimento alicerçado na certeza de que é necessário substituir amadores por administradores socialmente responsáveis. Eu não poderia deixar de dizer que sabemos que são muitos os desafios para a área de Administração, porém, os administradores são agentes de mudanças, acostumados a alterar os rumos das empresas para torná-las mais competitivas. Não é diferente em nosso Conselho. Creio que o principal desafio continua sendo mostrar que, para exercer a profissão, é preciso ser qualificado e estar habilitado para isso. O caminho rumo à eficiência da administração pública e privada requer a conscientização e determinação de toda a classe para mostrar à sociedade o papel fundamental do administrador quando se fala em eficácia e eficiência de gestão.



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