O rapaz que mamou na onça

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INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


SEVERINO MILAN DA SILVA

O RAPAZ QUE MAMOU NA ONÇA



Leitor mais uma história vou colocar no arquivo explorando o pensamento a muitos anos eu vivo que seja lenda ou mistério mas tudo tem um motivo A história que vos digo tem passagens lamentáveis trata-se de uma moça de pensamo-nos amáveis nas garras de dois bandidos brutos, ruins, miseráveis. No sertão de Cabrobó vivei na antiguidade um pai de família honrado cheio de honestidade criando gado e vendendo em larga propriedade.


Era ele e a mulher e uma filha somente uma sertaneja bela criada honestamente era dessas que a beleza prende o coração da gente. Chamava-se o pai da moça Daniel Dias Pereira a espôsa era Ambrosina uma alma verdadeira a filha chamada Alice linda mais hospitaleira. Neste tempo era um deserto os campos de Pageú havia porco do mato veado, cobra e tatu onça vermelha e pintada lombo preto e cangussu.


Tanto que fazia medo o sertão naquela era um homem viajar só que o tigre estava só de espera sempre uma vez e outra era atacado da fera. Um dia o velho chamou a sua boa espôsa dizendo nós precisamos de gozar de alguma cousa porque nós dois brevemente baixaremos a fria louza Dixa-se o nosso vaqueiro e vamos dar um passeio ele fica na fazenda isso ai não há receio vamos até no Recife ver se é bonito ou feio


A velha ficou contente com esta nova lembrança Alice ainda mais aquela jovem criança cada riso de seus lábios era um mundo de esperança Finalmente ficou certo o dia de viajarem as malas estavam prontas as quais pra eles levarem alimentos necessários próprios de se alimentarem. Quatro cavalos possantes já estavam reservados para fazerem a viagem e muito bem arriados um para levar a bagagem e três para irem montados.


Era uma amanhã de outubro a viagem projetada os cavalos estavam prontos e a bagagem preparada saíram de Cabrobó as duas da madrugada. A noite era enluarada soprava um vento de leve piavam as aves noturnas como quem fazia greve os meteoros brilhavam se desmanchando em neve. Quando a aurora rasgava as cortinas da manhã nos paus velados das serras cantava a triste cauã os maracajás pulavam de uma para outra chã.


Se via os altos rochedos com gigantescas colunas pousavam as aves dos céus nos galhos das baraunas se ouviam os cânticos sonoros das saudosas craunas. Neste tempo no sertão poucas casas se encontrava era de dez em dez léguas que uma se avistava com sacrifício de vida o pedestre viajava. Mas com tudo os viajantes nos desertos caminhavam na hora do meio dia numa sombra descançavam as cinco horas da tarde noutro lugar se acampavam.


Dois dias e uma noite passaram sem novidade vencendo aqueles desertos com paz e tranquilidade porÊm no terceiro dia surgiu a fatalidade. Continuando a viagem nos seus cavalos possantes o terceiro dia trouxe momentos agoniantes uma onça cangussu atacou os viajantes. A onça estava faminta raivosa e desesperada meteu as unhas no velho com uma fúria danada que o velho desceu da sela com a goela estrangulada.


Com o rosnado da onça os cavalos se espantaram não obedeceram a nada no marmeleiro embocaram mais de três léguas a galope esses cavalos tiraram. A velha não segurou-se o cavalo a derrubou e na carreira que ia na mesma continuou a moça era cavaleira no silhão se sustentou. Com uma légua ou mais que os cavalos deixaram a pobre velha caída todos os quatro estancaram nas margens de um ribeiro eles cansados pararam.


Devido a grande carreira a moça estava abatida sem ter orientação naquele bosque perdida sem pai, sem mãe, sem parente sem entrada e sem saida. Este lugar era onde viviam dois malfazejos praticando atrocidades atacando os sertanejos com as misérias alheias saciavam seus desejos. Esses dois bandidos eram natural de Piancó viviam atacando gente de Salgueiro a Cabrobró um chamado Quebra Faca e o outro Mororó


Este tal de Quebra Faca tinha o gênio de serpente Mororó ainda mais desonrador e valente matava qualquer cristão e bebia o sangue quente. A moça pôs-se a chorar os dois bandidos ouviram pensando ser outra coisa com as armas se muniram todos dois a vagarinho para lá se dirigiram. Quando a moça os avistou disse: Oh! Felicidade não sabia que eles eram infames sem piedade ladrões covardes e assassinos sem honra e sem caridade.


De ter o amparo deles pensava a pobre donzela porém os dois monstros eram pior que febre amarela toda desordem do mundo eles eram dono dela. Chorando ela disse a eles a fazenda onde morava pediu que eles a levassem que muito bem lhes pagava até a fazenda toda se exigisse ela dava. Vocês poupem a minha honra não queiram me esforçar Mororó disse: Ora esta não convém nisto falar que está de pássaro na mão tolo é que deixa voar.


Ela aí fitou o céu disse: Valei-me Jesus pelas lágrimas dolorosas dos olhos lindos e azuis de vossa Mãe tão aflita vendo teus braços na cruz. Livrai-me desses malditos sem consciência e sem fé por tua perseguição nas terras de Nazaré pelos anos que passastes dentro de Matarié. Suas súplicas foram ouvidas no reino da divindade isto prova que Jesus defende a honestidade fecha o portão das trevas manda a luz a e verdade.


Nessa mesma hora vinha um moço bem parecido era um caçador de onça andava bem prevenido com dois cachorros de fila cada qual mais destemido. Tinha pegado uma onça vinha com ela amarrada rompendo o mesmo deserto em procura da estrada ouviu o choro da moça se aproximou da parada. Chamava-se este moço Jurandir Fagundes de Abreu nas horas tristes da vida ele nunca esmoreceu braço que nunca curvou-se gênio que nunca temeu.


Jurandir amparou-se e viu a moça quase despida os dois bandidos forçando ela já no chão caída e os dois bandidos dizendo: Ou perde a honra ou a vida. Nestas palavras Jurandir partiu com destino e força gritou: Bandidos covardes o sangue agora faz pôça vocês pagam com a vida se tocarem nesta moça. Quebra Faca nesta hora pulou e disse: Safado Mororó também gritou: Passe o seu caminho calado sujeito afoito enxerido cretino de tipo ousado.


Jurandir disse: Cachorros de um pulo para frente e foi manobrando o rifle quem for duro se apresente vocês agora vão ver como é que se mata gente. Quebra Faca disse: Suma-se tipo ralé ordinário Mororó disse: Comigo não acerta o seu horário o diabo quando não vem manda o seu secretário. Jurandir disse: Bandidos já com o rifle na mão um olho acima do cano e o dedo no camarão e as baladas dizendo vamos fazer nossa abrigação.


Entre os 3 travou-se a luta encarniçada e ferina os estremeços dos tiros reboavam na colina os matos cambaleavam a fumaça fez cortina. Os bandidos eram ligeiros que só peixe em correnteza mas Jurandir era atleta nada tinha de fraqueza tinha o salto do macaco e do gato a ligeireza. Os dois bandidos disseram: Sujeito cabra de peia nós vamos tirar-lhe o couro cortar e fazer correia para você nunca mais tomar parte em questão alheia.


Mororó disse: Eu sou pau de casca e miolo forte, Jurandir disse: Então vamos abrir o portão da morte morra quem for caipora escape quem tiver sorte. Esgotaram as munições se valeram dos punhais rolavam pedras nos pés acamavam os vegetais Jurandir gritou: Bandidos vamos ver quem pode mais. Jurandir na luta dizia: Não vejo quem me espore bravo quem não me obedeça duro que eu não devore não há faca que eu não quebre nem mororó que eu não tore.


Jurandir pegou Quebra Faca de golpe deu mais de cem empurrou ele e disse: Vá em paz e passe bem Quebra Faca agora quebrou-se para século sem fim amém. Mororó disse: Danado Quebra Faca morto está partiu de punhal em punho Jurandir disse: Oh! Lá eu já quebrei Quebra Faca Mororó se quebra já. Mororó disse: Diabo isto a mim não desanima Jurandir meteu-lhe a cabeça como lutador de esgrima Mororó tombou por terra Jurandir montou-se em cima.


Virou-lhes os braços pra trás amarrou bem amarrado bandido você conhece quando está subjugado é desse jeito que eu faço com cangaceiro safado. Mororó ficou amarrado Jurandir não o matou foi onde estava a moça desmaiada e encontrou toda banhada em pranto a seus pés se ajoelhou. Jurandir disse: Levanta-se não tem que se ajoelhar diga onde é que mora a fazenda ou o lugar com toda calma e respeito vou a seus pais entregar.


Ela disse onde morava e contou o que se deu como fizeram a viagem e o tigre que apareceu nisto os quatros cavalos de um a um apareceu. Jurandir pegou os cavalos deixou tudo em uma mó trouxe os cachorros e a onça pegado pelo gogó agora nós vamos ver o que ele fez com Mororó. Jurandir disse: Imundo tipo ruim e caipora você já mamou em onça? me responda sem demora se você nunca mamou então vai mamar agora.


Jurandir montou Mororó na onça e ficou de lado bateu palma aos cachorros soltou um grito animado a onça saiu danada fedendo a chifre queimado. A onça deu quatro saltos pelas serras se sumiu a ossada de Mororó não se sabe onde caiu a moça assim mesmo fraca com esta cena sorriu. Jurandir foi ver os cavalos para seguir a jornada montou-se e montou a moça e seguiram em desfilada adiante encontraram a velha mas com a perna quebrada.


Jurandir pegou a velha com jeito pôde montar atou a perna com pano para o sangue estancar nisto deu rédeas aos cavalos e tratou de viajar. Com duas léguas distante de onde o velho estava ele viu uns urubus um subia outro baixava era no corpo do velho só a metade restava. Jurandir se aproximou da vítima sem defesa preparou-se e esperou consigo tinha a certeza que a ouça vinha outra vez buscar o resto da presa.


Como de fato voltou ele estava preparado de cá detonou-lhe o rifle estava bem carregado a bala atingiu a pá fez fogo do outro lado. Tirou o couro da onça só deixou a carne pura juntou os restos mortais da infeliz criatura embrulhou no couro e levou para dar-lhe a sepultura. Com três dias de viagem foi que puderam de sepultar os restos mortais do velho e a velha foi se tratar.


Quando a velha ficou boa Jurandir disse: Eu vou embora a moça disse: Jurandir não vá por Nossa Senhora antes cravar-me o punhal de que fazer isso agora. Disse a velha: Não senhor não deixo você sair o que for meu lhe pertence vou logo lhe advertir moça, fazenda e dinheiro e tudo mais que eu possuir. Se você quiser casar com a minha filha estimada disse a moça: Ele querendo com ele serei casada se paga o bem com o bem está a questão liquidada.


Jurandir disse pra ela: Sendo assim me casarei o que a senhora me disse eu jamais esquecerei se paga o bem com o bem com o bem lhe pagarei. Chegou o dia feliz e os dois jovens se casaram o sol sorriu no espalho e as estrelas brilharam as campinas floresceram e os passarinhos cantaram. Uma voz divina dizia: Feliz ĂŠ o que trabalha para defender a honra um momento nĂŁo empalha ganha os triunfos da luta e os louros da batalha.


A hist贸ria terminou-se toda desembara莽ada naquele inculto sert茫o foi esta cena passada quando havia pouca gente s贸 tinha fera e mais nada.

FIM



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