O macaco misterioso

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INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


JOÃO JOSÉ DA SILVA

O MACACO MISTERIOSO



Oh! aurora florescente Que surge na amplidão Trazendo afeto e beleza Adorno, riso e clarão Deixai que eu conte as bravuras Do moço Serapião. Serapião, era filho De um grande comerciante Chamado José Monteiro, Que vivia triunfante Na Província São Luiz De um reino, muito distante.

Zé Monteiro, era viúvo E devotava um carinho A Serapião, seu filho Guiando-o pra o bom caminho Porém, entre algum revoga Um fato, quando é mesquinho.


Por ser ele, um filho único Vivia a vida a gozar, Por ser tão bonito e jovem Longe estava de pensar Que a desdita viria Manchar, o seu bem estar.

Ele tinha um tio rico Morava no estrangeiro Num lugar chamado Minas, Era um grande fazendeiro, O povo ali, o chamava Major Firmino Monteiro.

Serapião certa vez Resolveu a visitá-lo Pediu permissão ao pai Que sentiu um grande abalo Mas no final, permitiu Depois de recomendá-lo


Disse: − Filho, ande direito Pra não suceder-lhe mal, Volte daqui a dois meses Em tudo seja legal, Leve dinheiro e a bênção De seu papai, tão leal.

O moço chegando em Minas Procurou logo a morada Do tio, que residia Numa fazenda elevada, Que da cidade, uma légua Ficava distanciada. Serapião com seu tio Sentia grande prazer Passeava pelos campos Vendo pelos campos Porém, algo interessante Iria lhe acontecer.


Seu tio, tinha uma filha De beleza sem igual Estudava num colégio O melhor da Capital, Há anos ela era noiva Do filho de um general.

Dessa tão formosa jovem O seu nome era Julita, Além de educada, linda Quanto a flor da parasita, O homem que ela amasse Teria a sorte bendita.

Julita lá no colégio Sentia satisfação Cuidando dos seus estudos E também de uma paixão Que sentia pelo noivo O qual, lhe tinha afeição.


Ela gozava as delícias Dum céu risonho e aberto, Não vivia na fazenda Porque achava mais certo Morar na casa da avó Que do colégio era perto. Serapião, na fazenda Estava bem descansado, De momento, viu chegar Um carro muito asseiado E dele, saltou a prima Com o seu noivo, de lado.

Julita não conhecia Seu primo Serapião, Foi aquela, a vez primeira, Tomou-lhe logo afeição, Sentiu acendendo em si As chamas de uma paixão.


Por isso, a sua visita E deixou contariada Ela sem sentir prazer Retirou-se contristada, Foi pensar no que faria Pra do primo ser amada.

À noite, ela não dormiu Levou o tempo em pensar Se desprezaria o noivo, Ou prosseguia a lhe amar, Mas a paixão pelo primo Era de não suportar.

Ela não mais se conteve Mandou à Serapião Uma certa carta dizendo: − Meu amor! meu coração! Preciso falar contigo Em prol, da nossa união.


Querido primo adorado Eu te amo loucamente Meu coração sente a febre De uma chama, forte e quente E só tu, abrandarás Este calor, ardente. Tu sabes bem que sou noiva De um moço de qualidade... Mas eu casando com ele Não terei felicidade Só contigo, eu reinaria Ungida, à tranquilidade.

Hoje às dez horas da noite No jardim da harmonia Eu vou te esperar, querido Não mates minha alegria, Se falhares meu pedido Me matas de agonia.


Depois da carta lacrada Ao seu primo, ela enviou. Ele ao recebê-la, abriu-a E sem querer, desmaiou Por ver as frases tão lindas Que sua prima as citou. Mas reanimou-se e disse: − Comigo vai ser ruim Porque, esse noivo dela Não perdoará a mim, Porém, contudo eu irei Esperá-la no jardim.

Finalmente, antes da hora Serapião já se achava Sentado, lá no jardim Vendo quem ali passava, Olhando sempre o relógio Pra ver se a hora chegava.


Ao bater da hora certa O jovem Serapião Viu sua prima Julita Chegar, apertar-lhe a mão, Ele ali sentiu um choque Que parou seu coração.

Passou-se um curto silêncio Sem um, nem outro falar, Por fim Serapião disse Já quase à desapontar: − Minha prima que fazemos Sozinhos, neste lugar?

− Que fazemos? grita a moça: − Tu já não estás ciente Que amo-te o quanto a vida? Por ti sofro ardentemente! Diz ele – Eu também querida Amo-te extremorosamente.


Mas acho ser impossível Conseguir-mos este amor Pergunta a moça: − Porque? Se eu te amo com ardor, Será possível que tu Sejas pra mim traidor? Diz ele: − Não e por ti Enfrento a qualquer perigo, Mas sei que encontrei Na vida o maior castigo Porque o teu noivo será O meu feroz inimigo. Teu casamento com ele É fácil de se acabar, O titio, com certeza Com tudo vai concordar, Mas o teu noivo querido Comigo vai batalhar.


Outra mais, que ele é filho De um homem patenteado, Quando perder teu amor Ficará indignado, Por isso será bem triste Para nós, o resultado.

Disse ela: − Eu sei querido Mas se queres meu amor Eu contigo fugirei, Enfrentarei todo horror E se morrer em teus braços Eu não sentirei a dor. Mas se negares a mim O teu nobre coração Morrerei de amor por ti E depois da julgação Irei unir-me contigo Lá na celeste mansão.


Disse o moço: − Pela honra Do que disseste-me agora, Não digas que sou cruel Para quem tanto me adora, Pois, só Deus proibirá De contigo, eu ir-me embora.

Ao dizer isto, abraçou-a E bem na boca, a beijou, Julita de tão contente Dez minutos, não falou, Mas depois, reanimou-se E também, o osculou.

Ambos ficaram abraçados Sem se lembrar mais de nada, A linda Julita estava De paixão, tão dominada Que quando cuidou de si Eram três da madrugada.


Julita falou: − Querido Eu não posso mais voltar, Com certeza a minha avó Vendo-me tarde chegar Vai me botar de castigo E uma surra me dar.

Desta forma, o que eu te disse Desejo cumprir agora, Se me ama como dizes Me leva daqui pra fora, Ele disse: − Agora mesmo, Se queres, vamos embora. A mocidade não pensa No futuro e na paragem, Como bem, esses dois jovens Naquela noite de aragem Alugaram um automóvel Pra essa louca viagem.


O carro partiu veloz Quase igual a ventania Correu o resto da noite E um quarto do outro dia Quando parou, já cem léguas De distância se media.

Parou num lugar chamado Cidade do “Nevoeiro” Ali os jovens saltaram Mas foi grande o desespero Que projetou-se entre ambos Por não levarem dinheiro.

Quase em ponto de loucura Serapião exclamou: − Oh! meu Deus, o meu dinheiro Lá com titio ficou, Não tenho nem para o carro Em que triste estado estou!


Julita ouvindo estas frases Soltou um forte gemido Porque de levar dinheiro Também tinha esquecido E não podiam voltar, Pois tudo estava perdido. Falou o dono do carro: − Eu preciso receber O dinheiro da corrida, Isto eu não posso perder E só posso regressar Quando o carro resolver.

Dê-me qualquer objeto Que eu faço a camaradagem, Julita, então quis provar Ser pessoa de linhagem Com uma jóia, pagou-lhe A despesa, de viagem.


Dali o carro voltou E os fugitivos ficaram, Com poucas horas depois Novo destino, tomaram E a pé, por uma estrada, Com fé em Deus, caminharam. Apavorados seguiram Um caminho muito estreito Também, não levavam nada De alimento, ou de proveito Naquela situação Só mesmo Deus, dava jeito.

Naquela estranha jornada Os dois jovens se perderam Numa floresta escabrosa, Foi quando se arrependeram Daquela louca fugida Logo então, se entristeceram.


Começou se aproximando Uma noite, muito escura, A brisa abalava os montes Com desmedida bravura E a terra dava estalidos Da sua temperatura.

Saíam ecos das grutas Reboando pelo espaço, Os arvoredos rangiam A Terra dava arregaço Nos jovens, que se encontravam Num tenebroso embaraço. Julita não se continha Vendo o perigoso de lado, Chamava e pedia a Deus Um destino bem guiado Para ela sair das selvas Salva, com seu bom amado:


Mas ainda estava cedo Pra deus mandar-lhes clemência, Assim a noite agitou-se De vento, com violência Que arrebentava as árvores Provando sua influência. Os jovens se conservavam Debaixo de um arvoredo Contemplando aquele ermo E depois, sintiam medo Por ver que não poderiam Sair daquele degredo. E assim continuaram Os jovens no sofrimento, A tempestade aumentando Com chuva, ruído e vento, Até que veio a aurora Mandada do firmamento.


Apolo, surgiu alegre Por cima dos matagais, Espalhou seus raios de ouro Cintilantes, colossais, Transformando a frialdade Deixando o deserto em paz. As águas se escoavam E eles atrapalhados, Pois chovera toda a noite Ambos estavam molhados, Outra mais, que pela fome Sentiam-se acabrunhados.

Mas contudo isto, seguiram A borda de um grutilhão, Andaram até meio-dia Por aquela direção, Adiante, viram o formato De uma grande habitação.


Eles, que de tanta fome Não podiam se conter Vendo esse formato ao longe Foram lá para saber Se aquilo, era uma casa Pra pedirem o que comer.

Depois de andarem bastante Viram que era uma morada Porém, não viram ninguém Porque estava fechada Dando aparência, que era Há anos, desabitada.

Pois era um grande castelo De uma monstruosa altura; Feito no meio da floresta Bem na parte mais escura Que aterrorizava a quem Olhasse-o de uma abertura.


Mas os jovens não pensavam Em nenhuma perdição, Se aproximaram do prédio E bateram no portão Porque, de mais precisavam De alguma alimentação. Estava o prédio, em silêncio Nem um tropel, se ouvia, Serapião como um louco Na porta dele, batia Com força desordenada E ninguém lhe respondia.

Aqui, eu vou explicar Aos meus apreciadores Que aquela infeliz morada Era de uns salteadores Que nessa hora, se achavam Roubando e causando horrores.


Depois de terem atacado Na estrada, uns viajantes Voltaram com o dinheiro Alegres e triunfantes, Mas na chegada encontraram Na porta, esses dois amantes. O chefe vinha na frente E quando aos dois avistou Teve um susto tão tremendo Que foi falar, gaguejou, Pois a beleza da moça Logo a ele embriagou.

Depois de um curto silêncio Falou um dos tais bandidos; − o que fazem nesta porta? Respondam! dois atrevidos? Serapião disse a ele: − Nós dois, estamos perdido.


E logo em poucas palavras Serapião revelou Toda história, desde o dia Que com Julita, arribou E de como se perderam O bandido acreditou

− Estejam bem vindo jovens; Falou assim o chefão E mandou tratar dos dois, Porém, a sua intenção Era ficar com Julita E matar Serapião. Serapião foi servido De tudo que precisava, Mas no futuro tristonho Ele, não imaginava, Enquanto, a sua desgraça O chefão, já preparava.


Ali na hora da janta Esse chefão desgraçado Mandou prender o rapaz Por um bandido malvado Depois num grande mourão Ele ficou amarrado.

Em que horrível sofrer Ficou a pobre Julita Vendo seu noivo amarrado, Clamando a sua desdita E ela ficar nas garras Daquela fera maldita. Ela ouviu bem o tal chefe Dizer a Serapião: − Vieste buscar a morte Aqui, nesta habitação E trazeres para mim Um luxuoso “pirão”


Julita ouvindo estas frases Deu-lhe um ataque e caiu, Mas o chefe dos bandidos A ela se dirigiu, Levou-a num aposento Deixou-a dentro e saiu. Enquanto a pobre Julita Ficara sem o sentido, Seu noivo Serapião Fora dali conduzido A uma praia arenosa Num lugar desconhecido.

Ia de olhos vendados Só para assim não ver nada, Mas presenciou que estava Encima de uma jangada, A qual, cortava no mar As águas, em disparada.


Ao chegar em outra praia Essa jangada encostou, Um bandido ia com ele Na mesma praia saltou, O conduziu a um bosque Numa árvore o amarrou.

Depois, se afastou, deixando Serapião amarrado, Entregue a todo o relento Além disto, amordaçado, Sofrendo terrivelmente Da luz do dia, privado. Serapião lamentava A sua grande amargura, Arrenegava da sorte, Lembrava da desventura Em que se achava Julita Sua luz, sua ternura.


Ele passou oito dias Sem comer e sem beber, Pedia a Deus que livrasse-o De desta forma morrer Quando ouviu por trás de si Uma voz assim dizer: − Serapião! se tu queres Eu darei-te a liberdade, Na condição de me dares De espontânea vontade A coisa que eu pedir-te Sem usares falsidade.

Serapião disse: − eu dou-te Até minha própria vida, Só não... a minha Julita Que se acha sem guarida Ou talvez, já deflorada Por uma fera homicida.


A voz disse: − Não pretendo A tua gentil donzela Que está presa a estas horas Numa monstruosa cela, Mas te confirmo que o chefão Ainda não venceu ela. Pelo que eu irei pedir-te Tu não ficarás aflito, Se queres, eu tirarei-te Deste lugar esquisito E também tua Julita Das mãos, daquele maldito.

Grita o moço: Então me salva Deste horroroso deserto, Ele ao findar das palavras Teve o rosto descoberto E pôde vê um macaco O olhando bem de perto.


Depois do moço liberto O macaco preparou Uma jangada possante E logo e ele entregou Mandou que subisse nela E bem franco lhe falou:

− Serapião, tua vida Seguiu a rota espinhosa, Tua Julita, se acha Numa prisão asquerosa, Logo amanhã morrerá Por ser muito caprichosa.

Pois ela não aceitou O chefe, por seu marido E ele considerando O caso, todo perdido Resolveu mandar queimá-la Por ser um cruel bandido.


Tanto que nesta jangada Agora tu seguirás Que na praia onde embarcas-te Cedo, amanhã chegarás E com a triste sentença Logo, te encontrarás. Toma este chicote mágico, Confia nele e em mim, Pois a quem chicoteares No momento, terá fim, Já tu estando com ele Não verás tempo ruim.

Toma também este líquido Suavíssimo e saboroso, Tu bebendo um gole dele Ficarás muito forçoso, Em qualquer luta que entrares Sairás vitorioso.


Terminando ele, a conversa Sumiu-se na mesma hora, Serapião ficou só Também, não quis ter demora, Firmou-se, em sua jangada E nela, se foi embora. Vou deixar Serapião Seguindo em sua jangada Para falar em Julita Quando ficou desmaiada Por ver seu noivo amarrado Sem ter mais ação pra nada.

Como antes ficou dito Que o moço foi levado Para morrer e Julita Ficou com terrível estado; Sujeita aquele bandido Um monstro viu desgraçado.


Ela ficou desmaiada Nem ao menos, se bolia, Logo o bandido levou-a Numa cama, bem macia, Ela ali, passou a noite Foi tornar, no outro dia.

Que enorme espanto teve Ela, naquele momento Que despertou sobre um leito De um luxuoso ornamento Que ela nem no passado Teve tão rico aposento.

Oh! que tão grande agonia Sentiu a pobre donzela Em se encontrar sem defesa Nas mãos de um “barba amarela” E mais em vê-lo atrever-se Ali, se abraçar com ela.


Ela nos braços do monstro Exclamava angustiada: − Solta-me sujeito imundo! Que eu não serei tua amada, Mas nisso, sentiu que estava Sendo, por ele beijada. Disse: − Liberta meus lábios Que a ti, não pertencerão; Diz ele: − Querida minha, Abranda este coração Que terei-te como um deus Para fazer devoção.

Grita ela: − Te retira Para bem longe de mim! − Diz ele: − Minha querida Eu não quero ser ruim, Mas do jeito que estou vendo Sou forçado a dar-te fim.


Portanto, tens dois partidos Um, poderás escolher, Ou pra seres minha amada, Ou do contrário, morrer, Dou-te o prazo de dez dias Pra poderes responder. Ele depois, retirou-se A jovem ficou trancada, Clamando a todos os santos Sua sorte desgraçada, Só esperando a desonra, Ou então ser condenada.

No outro dia, o bandido Tornou a lhe aparecer Perguntou: − Queres amar-me Ou nos dez dia morrer? − Some-te; responde ela: − Para eu nunca mais te ver.


O bandido retirou-se Com uma raiva danada, Chegou junto com seis cabras “Fedendo a macaco assado” Ordenou, pra nos dez dias A donzela ser queimada.

Julita foi arrastada Desse aposento elegante E amarrada num tronco De um arvoredo possante, Pra passar na mesma dor Que passava o seu amante.

Ela ficou amarrada Sofrendo uma dor imensa, Não teve mais alimento, Nem nada, por recompensa Até que chegou o dia De cumprir sua sentença.


Chegou o dia fatal Da morte dessa donzela, A quadrilha dos bandidos Achava-se junto dela Preparando uma coivara Pra queimar a jovem bela.

Agora eu deixo os bandidos Seu coivarão, preparando, Julita ali amarrada E o fogo já laborando Pra fazer no noivo dela Que vinha se aproximando. O moço tinha deixado Na praia, a sua jangada E vinha de praia a fora Numa louca disparada Pra ver se chagava à tempo De defender sua amada.


Ao chegar foi logo ouvindo O bandido perguntar Qual Julita preferia Morrer, ou a ele amar E ela dizer: − Prefiro Neste fogo, me queimar.

− Queimem esta desgraçada! O chefe assim ordenou, Um dos bandidos virou-se Com Julita se agarrou, Mas antes de desatá-la Grande lapada levou.

Esta foi com o chicote Que tinha Serapião, O bandoleiro sumiu-se, Parece que entrou no chão, Ali travou-se na bala A maior revolução.


Julita nada fazia Porque estava amarada, Os mais entraram na luta Foi bonita a batucada, Serapião se vingava Somente, em dar chicotada.

O chicote onde batia Só se via o fumaceiro, O cabra nem se bolia Pegava fogo ligeiro, No moço, bala ofendia Quanto o vento num lageiro.

A volta desse chicote Não era de muita graça Porque, daqueles bandidos Que enfrentaram a desgraça O que melhor arranjou-se Foi transformado em fumaça.


Depois da luta acabada O moço logo em seguida Libertou sua Julita Que se achava esmorecida Devido a tanta emoção Não dava sinal de vida.

Ele a colocou nos braços E com carinho, a beijou, Do líquido que ganhou antes Um pouco, ele lhe aplicou, Ela chegou ao seu tino E com ele se abraçou.

Depois exclamou: − Meu anjo! Esmagasse a minha dor, Por certo, foi um milagre Que mandou-me o Criador Para suspender-me um calix De um tão profundo amargor.


Disse o moço: − Sim querida De Deus, eu tive a mercê, Mas devo tudo a um macaco E nele existe um ganguê Pois, eu ainda hei de dar-lhe Agora, não sei o que. Ele ali contou-lhe tudo Que consigo se passou, Desde que fora amarrado Até quando se soltou E tudo sobre o macaco Para ela, revelou.

Depois eles dois entraram No camelo abandonado, Abriram todos os quartos O moço ficou gelado Porque viu maior riqueza Do que se fosse um reinado.


Ele viu que essa riqueza Pra si, os ladrões deixaram, Uma parte necessária Os dois amantes, tiraram, Depois fecharam o castelo Para fora, viajaram.

Agora eu deixo os dois jovens Saindo do florestal Pra falar no reboliço Que era descomunal Naquela nobre família Do filho do general.

Eu volto a falar da hora Que a moça foi se encontrar Com seu primo no jardim Haja a avó a lhe esperar E assim passou-se a noite Sem a menina voltar.


Já tarde do outro dia A vovó preocupada Mandou saber da fazenda Se Julita era chegada, Mas lá, disseram que não, Aí travou-se a zuada.

A procura de Julita Foi feita com decisão, Depois deram pela falta Do jovem Serapião E viram bem que foi ele O autor dessa traição.

Com ódio descomedido O filho do general Organizou uma tropa E seguiu feito um chacal Procurando os fugitivos Por toda parte em geral.


Deu logo autorização A todo seu continente Pra quando encontrar os jovens Matá-los barbaramente E ele também seguiu Se mordendo brutalmente.

Também o pai de Julita Preparou bem seu cangaço, Uns duzentos cangaceiros Achavam-se no terraço Da grande casa, se armando No rifle e no punhal de aço.

O contingente do noivo Partiu logo em perseguida Dos jovens e o pai da moça Preparou sua partida, Agora eu falo nos dois Bem descansados da vida.


Serapião tinha posto Sua riqueza segura E vinha com sua amada A beijando com doçura Sem saber que a desgraça Já vinha em sua procura.

Ele com sua querida Subiu uma grande serra, Saiu em uma planície E viu que naquela serra Havia certa aparência De um grande campo de guerra O jovem desconfiou Que estava sendo emboscado, Como de fato, adiante Viu o campo empiquetado Por uma tropa do filho Do general, do passado.


Com uma forte rajada Ele logo se encontrou Numa levada que havia Julita, bem se ocultou E ele com seu chicote Naquela luta, embocou.

Só se via o fumaceiro E muitos dando gemidos, O moço com seu chicote Deixou todos derretidos, Fez pior, do que na gruta Quando abateu os bandidos. O filho do general Na luta também tombou, Serapião com Julita Desse local se afastou, Com os capangas do tio Logo adiante, se encontrou.


Travou-se ali outra lua Foi enorme a mortandade O moço com o chicote Queimava sem piedade, Dos cabras, em dez minutos Ele abateu a metade. O velho vendo o perigo Pediu a paz, na questão E abraçou sua filha Chorando de comoção, Depois foram pra fazenda Todos, com grande união.

No outro dia bem cedo Serapião foi buscar A riqueza do castelo Para dela, se gozar, Quase que três caminhões Não davam pra carregar.


Depois Firmino vendeu A sua propriedade Por uma vultosa soma E temendo novidade Mudou-se pra São Luiz Foi sua felicidade.

Julita e Serapião Juntos com ele, embarcaram, Com muita felicidade Quando em São Luiz chegaram Lá na casa de Monteiro Com uns dias se casaram. Sumiu-se ali o chicote Serapião deu cavaco Porque sem aquela arma Ele era um homem fraco, Vamos ver, no fim do livro O que queria, o macaco.


O pai se Serapião Quis ser homem justiceiro, Vendeu também os seus bens Arranjou muito dinheiro Assim juntos embarcaram Todos para o estrangeiro.

Num país desconhecido Que o nome eu não sei citar Esses viventes chegaram E o que posso contar É que compraram uma ilha E nela, foram morar.

Essa ilha era deserta Do mundo, quase esquecida, Mas eles, fizeram dela Uma cidade instruída E essa, passou a ser “A Ilha da Nova Vida”.


O moรงo ficou gozando Uma vida de primor, Vendo de um lado, o seu sogro, Do outro, o papai de amor E nos braรงos, Julita Seu sonho triunfador. Com um ano, depois disto Naquela feliz morada Julita foi mรฃe de uma Menina, linda e mimada, Era a segunda Julita Em crianรงa, transformada. Deram pra essa menina O nome de Flor do Lar Por ser ela, a mais bonita Das crianรงas do lugar, Assim ela foi crescendo Com formosura sem par.


A seus pais, cada vez mais Causava amabilidade Aquela bela criança, Mistério da divindade, Até que ela completou Seus quinze anos de idade.

Chegou ela a ser a moça Maior do mundo em beleza E mais gozada as delícias Da sua enorme riqueza, Sem saber que iria ter Na vida, a maior surpresa. Um dia, toda a família Com ela, estava presente Num luxuoso salão Quando chegou de repente O macaco do passado E falou sinceramente:


− Amigo Serapião Recorda-te de um passado? Diz Serapião: − recordo-me Por ti, eu fui liberto, Porém, te devo um pedido, Faze-o, que terás dobrado.

Diz o macaco: − Pois ouve-o Ele não vai te agradar, O que eu quero é tua filha Para comigo casar, Aceitas o meu pedido Ou pretendes me enganar?

− Aceito com muito gosto; Respondeu Serapião, Ali houvi da família Tamanha decepção, Deu na moça um passamento, Que rebolou sobre o chão.


Todos britaram: − É horrível Fazer-se esse casamento, Serapião protestou Todo aquele impedimento, Mandou chamar o Juiz E cumpriu seu juramento. De um castelo abandonado O macaco se empossou, Com a moça desmaiada No mesmo ele se trancou Uma noite de tormentas Logo mais se aproximou.

O povo no outro dia Despertou todo assombrado Porque essa ilha antiga Transformou-se em um reinado, Pois, o seu grande mistério Chegou, sem ser esperado.


Serapião nessa hora Do chicote, se lembrou E daquela grandes lutas Que junto a ele, alcançou Por isto, do que ele via Em nada, se admirou.

Depois olhando o Palácio Viu numa janela Sua filha, uma rainha Numa veste rica e bela E um príncipe elegantíssimo Sorridente, ao lado dela. Justamente aquele príncipe Há anos fora encantado Num macaco, mas por ter A Serapião salvado Voltou a reinar, no reino Que dantes, tinha reinado.


Já Flor do Lar foi rainha, O macaco um ser humano, Serapião viu a filha Inspirando um soberano Leitor, se quer dar cavaco Vá casar um macaco Até sair do engano. FIM



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