O compadre da morte

Page 1


ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


JOATHAN MARQUES

O COMPADRE DA MORTE



Peço licença aos contistas p'ra que em verso eu reporte esse caso cativante sôbre o compadre da morte pedindo primeiro a Deus muita inspiração e sorte Num reino longínguo e forte habitava um cidadão que já tinha tantos filhos que não achava mais não que batizasse o último aí achou a solução

Era muito pobretão então procurou um jeito: p'ra batizar nosso filho mulher não tem um sujeito pois eu vou chamar a morte p'ro batizado ser feito


Disse a espĂľsa perfeito como sempre ela fazia toda vida concordara com o que o marido queria p'ra sombra d'um juazeiro eles foram ao meio dia

Invocou o que queria e a morte sem tardar chegou numa ventania vocĂŞ mandou me chamar? sim, eu mandei p'ra senhora um filho meu batizar Sem nada mais esperar a morte fez um mandado reuna toda familia e com muito bom agrado fizeram no mesmo canto o ato de batizado


O compadre para um lado a morte levou na hora dizendo agora ès doutor vá trabalhar sem demora o destino dos doentes eu vou lhe ensinar agora Saia por ai à fora exercendo a profissão ao visitar um doente veja a minha posição estando eu nos seus pés êle não vai morrer não

“Todo pau que nasce torto não tem geito morre torto” (popular) Com qualquer receitação êsse será levantado mas se eu estiver na cabeça é caso já encerrado pode chamar a família dando por desenganado


Com isso aí combinado foi o doutor consultando sem errar o diagnóstico e grande fama alcançando muita riqueza fazendo a família equilibrando

E foi nêsse tempo quando uma doença bem forte caiu no filho do rei sendo chamado por sorte p'ra fazer o tratamento o dito compadre da morte Buscando de sul a norte o doutor foi encontrado chegando ao trono do rei por êste foi avisado se não curasse o rapaz logo seria enforcado


Quanto ao quarto foi levado atacou-lhe a tremedeira ali estava a morte e logo na cabeceira com sua foíce na mão amoladinha e certeira

Com muito bôa maneira foi o doutor conversar diretamente com a morte: comadre o que é que há tú não vês que dêsse jeito es(tais) querendo me matar? A morte sem se alterar compadre êsse é meu o doutor estudou bem e logo se resolveu foi pedindo dois escravos no que o rei lhe atendeu


Então a cama moveu ali logo de repente deixando então a morte bem para os pés do doente mas ela logo mudou-se p'ra mesma parte da frente

“Quem corre cansa e quem caminha alcança” (popular) E doutor novamente mudou logo a posição a morte também rodou acompanhando o caichão e aí nova rodada foi dada de novo então

Seguindo nesse rojão se passou mais de uma hora e deram tanta rodada que com a língua de fora a morte muito cansou e saiu indo se embora


Aí do lado de fora ainda olhou para traz e disse para o compadre é isso que não se faz pois meu compadre você está sabido demais

Este respondeu sem mais p'ra que é que sou doutor? Disse o médico para a morte que logo o convidou a visitar sua casa o qual de pronto aceito Em condição eu vou só se você me jurar que voltarei para casa depois de isso aceitar disse a morte feche os olhos quando abriu estavam lá


Viu-se o doutor num lugar de paisagens muito belas era um plano muito extenso todo completo de velas ali estavam as vidas representadas por elas Grandes eram muitas velas e outras médias se via e tantas bem pequeninas ali também existia a morte dava explicação e o compadre cuvia

Ver a sua luz queria o doutor ali andando chegou numa vela bem grande foi a ela insinuando: comadre essa é a minha? Para o morto perguntando

“morre o homem fica a fama” (popular)


Nada é esta já se apagando foi a resposta ouvida apontando uma velhinha já quase que consumida a morte disse compadre chegastes no fim da vida

E o doutor em seguida côntra a morte reclamou você disse que eu voltava para isso até jurou disse a morte feche os olhos de volta à casa o levou

Logo que em casa chegou foi o doutor se prostrando mandou avisar à família que a morte tava chegando para a sua sentinela muitos íam se encostando


Com a noite se aproximando a morte achou de chegar ao compadre perguntou tรก pronto p'ra viajar? estou pronto mais me jure que antes posso rezar Depois de a morte jurar o compadre comeรงou pronunciou o pai-nosso... em seguida se calou... com muito tempo calado a morte lhe atiรงou

Reze compadre falou disse o doutor tou rezando minha reza dura anos continue me esperando querendo acenda outra vela nรฃo fique me atrapalhando


A morte se abuzando levantou saiu p'ra fora enrolada dua vezes e avan莽ada na hora olhando para o rel贸gio marcou passo e foi embora

Leitor encerro agora sendo voc锚 eu relia esta est贸ria de trancoso contada no dia-a-dia me narrou Lula Medeiros e eu fiz a poesia.

FIM



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.