Conversa de um xeleléu com o anjo da guarda

Page 1


ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


ABRAÃO BATISTA

CONVERSA DE UM XELELÉU COM O ANJO DA GUARDA

1973



Andando pelas calçadas encontrei-me, outro dia com um Xeleléu à toa; pensando que não o via falava despreocupado com o Anjo de sua Guardia. Xeleléu - todo mundo sabe é pessoa horripilenta é bufão, rufião, safado de ação incerta, nojenta desleal, ingrato sujo fala por quem o sustenta. Xeleléu sempre existiu desde o dia da Criação mas aqui em Juazeiro do Padre Cícero Romão tem Xeleléu aos milhares Xelelando bicha e ladrão.


Xelela a beata do padre também o da "igrejinha" Xelelam o grande empresário e o homen da gravatinha até vi xelelando, uns vates com estórias da Caroxinha... Eu nasci e me criei nesta urbe encantada rica de grandes belezas de misteriosos e fada mas nunca contei essa gente que xelela tanto que enfada.

Voltando ao primeiro assunto quando aqui me encontrei com o Anjo da Santa Guarda de um Xeleléu, abusei por ouvir tanta conversa quase visgo eu fiquei.


O Xeleléu todo enfronhado falava pro seu anjinho tentando menosprezá-lo por não ir no seu caminho pois quem não Xelelar meu amo dizia - não é meu amiguinho...

Xeleléu: -dizia meu anjo tomado de aflição deixe esta vida errada não me mates do coração ai... quem Xelela esta gente tem do inferno o purão

Que nada!... dizia o Xeleléu atrevido como o tinhoso moleque de calças curtas tu és um anjo teimoso vais xelelar comigo se quizeres ter repouso.


O anjo calmo e singelo santo como ninguém ajoelhava com as mãos postas olhando para o além - não ouvi o pai amado de quem juízo não tem!

O Xeleléu se enraivecia rasgada as roupas, mofado puxava, tonto, os cabelos rangia os dentes, danado dizendo-xelela ó meu anjo se não te deixo lascado! O Anjo da Guarda chorava soluçando, se maldizia pedia forças a Deus para aguentar a agonia de ter na responsabilidade aquele traste que eu via.


Quando dizia: meu filho deixe este modo ruim a vida de Xeleléu tem a sina de Caim quem xelelar neste mundo no outro só come capim.

O Xeleléu gritou: que nada eu sou a maior da cidade ando de carro na rua privo muita intimidade na hora do banho, eu enxugo do meu patrão a metade... Dou recados, faço tudo que o meu amo mandar se possível eu arrenego pai e mão; quem falar tem inveja do Xeleléu que não abre nem pro mar!


O anjo gritava: ó que triste sina a minha: bilhões de gene no mundo e pequei esta murrinha valei-me São Silvestre Mãe d'Água, Virgem Rainha! Eu não pensei que desta vez pegava peça tão mal ser Anjo da guarda disto é feio, descumunal não sei o que faça agora com ente tão desigual! Cala-te a boca meu Anjo já disse que cale essa boca deixa de resmungar parece que te deu a louca o que vale é dinheiro... não ves minha nova roupa?


Xeleléu olhe pras ruas cheias de águas e de lixos em vez de mostrares o fato ficas fazendo caprichos Xelelando o teu amo botando-o junto com os bichos. Quem foi que mandou fazer tanta coisa sem ter valia gastando tanto dinheiro... vais ser levado pra coxia quem já se viu tanta mentira nesta terra de Maria?

- Cale-te a boca eu já disse falou grosso o Xeleléu o meu patrão é um luxo já botei-o lá no céu não fales no nome dele se não te faço de réu


Xeleléu, olhe o mosqueiro por causa dessa nojeira não te faças de imaturo deixe esta cabroeira olhe: as mentiras que soltas vão ser vendidas na feira!

As professorinhas, coitadas ganham um salário do cão os varredores das ruas não parecem ser teu irmão por que é que um Xeleléu tem o maior quinhão?

Vai-te cabra da peste Anjo da Guarda ruim não te quero mais comigo não olhes mais para mim se não és pelo meu amo hoje tu levas o fim.


- Eu não falo do teu amo e não digo mal de ninguém sou eu o teu protetor daqui para o além agora, não adimito que me trates como refém. Sou o teu Anjo da Guarda me confiou o Senhor agora como um cachorro queres perder o rotor? eu toco fogo no mundo mas dou conta com valor.

Deves deixar esta folga com as aparências mundanas falando sempre a verdade não com mentiras profanas cuidado, pois tua queda conto em poucas semanas!


Em geral os vermes chatos são todos hermafroditas e os Xeleleus que existem não troco por estas fitas veja: o engodo e nojeira são coisas vãs que palpitas, Caia fora meu filho enquanto tempo existe esta instavel vida tua é como a lama que existe espalhada pela rua e mostro dedo em existe.

Ánjo da Guarda sem graça cala-te a boca, cafona se deres mais uma palavra deixo-o deitado na lona o meu amo é um luxo se negas dou-te uma tapona.


Eu falo porque eu posso sou o teu Anjo da Guarda tu mesmo é quem não prestas tua queda é que não tarda fazes-me constrangimento encoberto nesta farda. Tu andas pela cidade xelelando em seus jardins com as tuas mentiras podres matastes até os capins não respeitas a verdade e te metes em querubins.

Com esta mentira tua pareces com um mausoléu não repararás nas más palavras porque tu, ó Xeleléu só sabes dizer balelas misturas merda com mel.


Só sobes dizer vãs glórias arremedas um Tuxáu dormes sobre a agonia de um povo que não fez mal - não xeleles mais, meu filho se não meto-te o pau!

- Que isso ó anjo doido não reconheces a mim?!... olhe que não lhe aprovo não me venhas de serafim vai-te embora pra longe se não faço o teu fim

Para que tu mentes tanto xelelando o teu patrão em vez de ver o mal feito que fazes tu enrolão? - não olhas para o mal jeito que está fazendo o ladrão


Daqui pra frente terás um peso na conciência e o teu anjo da guarda não fará de ti ciência a não ser que te arrependas e peça ao vate clemência Eu de ti tenho desgosto por não teres qualquer valia vendo a máscara do teu rosto tenho a vida sem regalia viver guardando o teu corpo É coisa que eu não queria. - Cale a boca eu já disse anjo da guarda sem prumo se não alguém vai ouvir da minha vida sem sumo e o povo todo sabendo ficarei sem o meu consumo


Pois eu quero é isso mesmo disse-lhe o Anjo da Guarda para ver se tua alma se despe da negra farda que veste um xeleléu que por inferno não tarda. Tu vives babando tudo com a suja língua tua que a baba de tua língua está correndo na rua e já ouvi reclamação de tua baba na lua.

Essas mentiras que soltas a tres por quartro, no vento dizendo tudo infundado mais assim, não aguento ou deixas de xelelar ou eu mesmo te arrebento.


Se teu amo é mentiroso e queres o endeuzar se naquela demagogia desejas tudo enrolar olhe- o Anjo da Guada está sempre protestar.

Diga para o teu amo que tudo tem o seu fim não adianta a arrogância títulos, dinheiro, assim se não deixares esta vida na tua vida dou fim.

Estás pensando que o povo Às vezes também, não entende? essa farsa Maquiavélica que na tua cara acende é igual aquele abraço que teu patrão dá, e ofende.


Anjo da Guarda, eu aviso é esta a última vezou xelelas cá, comigo o só conto até tres e peço para o meu amo subsituí-lo para o mes!

O Anjo da Guarda disse --Essa não!...és um idiota estás pensando que tudo cabe na tua malota? veja que o meu cargo não saiu dessa patota!

O xeleléu arrogante encheu o peito e falou: o meu amo vende as uzinas indústrias, sítios, e vou comprar um Anjo da Guarda que xelele como estou...


O meu amo não adimite liderança fora da sua naquela casa que é grande é melhor do que a tua pois não sabes onde ela é e tu moras aqui na rua.

Nisso eu vi umas lágrimas cair de manso, do Anjo e o soluço da criatura com a sonoridade dum banjo traduzi nesses meus versos que pesaroso eu tanjo...

O Anjo com um lenço branco os seus olhinhos enxugou e com a voz de criança para o xeleléu murmurou por que não ouves a verdade? por que o teu caráter mudou?


Naquela discussão feroz chorava o Anjo que eu via o xeleléu abusado babava a boca e rangia e eu calado num canto o que se passava escrevia...

O Anjo também lhe disse: xeleléu traz maldição na cidade que tem um deles só pode dar confusão xeleléu traz seca e guerra fome e peste, ó meu irmão! Então eu pensei comigo - - Virgem Nossa Senhora se só um traz isso tudo... desse jeito eu vou embora minha cidade está cheia o que o povo faz agora?!


Xeleléu é a desgraça da cidade que habita na casa que ele entra dá sete dias de desdita e ainda tem gente trouxa que em xeleléu acredita

Xeleléu é como Judas quem vendeu a Jesus Cristo é infame a traçoeiro, da sociedade é o cisto é o retrato da mentira não pode ser mais do que isto! Nesso momento, então O Anjo do Guarda me viu fez um aceno encabulado olhou para mim e sorriu dizendo que eu me fosse e de um pulo sumiu...


O xeleléu ficou Às tontas um pouco apavorado olhando para a direita onde eu estava sentado escrevendo o que eu via deu um pinote danado.

Repare aqui meu amigo não vais contar pra ninguém essa conversa que ouviste com o meu Anjo do bem é bom que faças segredo se não vais ver o que tem. Eu respondi pro xeleléu: essa não! - Eu vou contar não temo a bicho do mato nem tenho medo de azar essa história que vi vou todinha escriturar.


Ó xeleléu, não se engane desta vida errada tua atrapalhas o progresso com essa lingua cafua deves te arrepender se não meto-te a pua.

Arrenegastes o teu Anjo como há bem pouco eu vi falaste mau dos teus pais como também eu já li agora peças perdão ao leres o que eu escrevi.

A vida de xeleléu não tem nenhum fundamento deve-se dizer a verdade assim eu digo e sustento conte a verdade pro amo e sejas homem, jumento.


Por causa dessas lisonjas não temos saneamento dessas tuas mentiras as velhas perdem os assentos e essa conversa tua eu solto aos quatro ventos. Deixe de mexerico conheças o teu lugar És um porco de xiqueiro que come o que lhe botar peça ruim fofoqueiro me digas agora o que há!

Gente assim de tua marca enche qualquer puleiro com as fofocas que fazer atrapalhar o Juazeiro a cidade capital do sertão no mundo inteiro


Vá buscar o teu Anjo antes que não volte mas ja que as mentiras tuas fazem parte de satanaz deixes a cidade crescer sem o adulo pertináz

Será mesmo que teu amo às mentiras não entende? eu Garanto que o coitado dos seus nervos mal depende não por uma causa justa mas por isto que defendes. Eu não entendo como vives de adular e de mentir não olhas para a verdade só vives só de fingir um dia ou outro desses eu sei que tu vais cair!


Eu não quero mais conversa passe bem, eu vou embora conversar com xeleléu é perder a boa hora de construir para o progresso que é contágio de agora. Aos leitores que ouviram um adeus, aperto a mão... É que aqui faço final e agradeço de antemão; muito grato meu amigo quem assina é Abraão.

FIM



Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.