Casamento de zé miôlo com chica pelada

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


DAMASIO PAULO DA SILVA

CASAMENTO DE ZÉ MIÔLO COM CHICA PELADA

1975



Eu sempre fui uma rapaz Disposto e arrisorvido Em briga, baruio e teima Nadonde me vi metido Os duro desaparece Nunca achei quem me desse Só dez vez no pé do uvido. Outa coisa, toda vida Trabaiei pra luchá Apragata pra meus pé E dinhêro pra gastá, Boa rôpa de prêmera Pras cabôca de rebêra Do Miôlo não mangá.

Chapéu de paia dos bom Que custou mile duzento Camisa de pano fino Comprado a mile trezento, E nunca é de fartá -um lifoime de croà Custou dois e novecento


A minha avó me vendeu-me Porque dexô de usá E lenço do seu tabaco Pra eu cum ele luchá Cumprei pru achar barato Pra butá-lo no mato Conde fosse passiá. Já ti Chico Paviola Foi quem me deu um caxão Pra eu guardá minha rôpa Eu aqui tinha pricisão Sartei logo na ossada Cuma foi de mão bejada Li dei tombem um tustão

Cumprei tombem um relogi A um cabra istradêro Conde eu uei pro moto, Diabo, só tinha um pontêro Nem a mole nem pivô Os cabelo se quebro Eu perdi o meu dinhêro.


De munto tempo qui eu venho Sendo munto priciguido Eu só presto ir minbora Prum lugá discunhicido Ou então vô me casá Pra esse povo dexá De cúbica meus pissuido. Amenhã cedim eu vô A meu ti Né Gamela Pidi a Chica Pelada Mode eu casá cum ela E se ele me dé, ou!... Posso dizê qui já to Cum a festa na panela

A munto que meu ti Isperava isso já Disse qui a toda pressa Eu fosse me aprontá Qui tava Chica Pelada Cas coisa já arrumada Pro dia de si casá


Eu dipressa fui a loja Cumprei todo arrumamento Botei os bãe deixei tudo Arrumado im andamento Mandei tombem convidá Os tocadô pra tocá Na festa de casamento Mandei pisá 5 lito De mio e fazê farinha Fui buscá tombem uns côco No taiado de Chiquinha E mandei passa os ovo Pra fazê bolo prus povo Qui viére pra festinha Cumprei um fato de bode Pra fazê a panelada A cabeça de um poico De preá e rôla assada Um espeto mermo assim... Cum pedaço de toicim Cum fava de mãe guisada


Istava isso já pronto Cunvidei o pessoa Pra ire no meu casoro Quem não quisesse ficá Ia de cavalo tudo O povo do Carrancudo Debaxo inté o Topá

Do Carrancudo só fica A Quilé a tia Noca Qui viria ispiá Nós passando na Taboca E ajudá tia Têtê Passá os ovo e mechê O aluá de pipoca Eu ia fazê mió Mai meu tio Juão Rebolo Dixe qui eu não gastasse Dexasse de sê besta tolo Mai eu quiria mostrá Uns izempro de rachá A todos di Zé Miôlo


E’ isso mesmo tá bom Se por acaso vié Muita gente se ajunta U’a troxa de muié Di pressa a de se meche Coisa qui da pra isbrangê Ai se come o que quê

Um dia ante da festa Era grande animação Todo mundo só uvia U tê-tê-tei do pilão Pisando mio pra fuba Massa de mandioca puba Pra bolo tinha um caxão

De menhã as tistimunha Chegaro tudo vexado Dizendo: arriba meus povo Já tem cavalo celado Um rapaz chegou afoito Cum seu palitó V8 Ispernegando o melado


Ali tomano café E fumo logo arribando Ia moça que dizia De quando em vez só mangando -segura, si não tu cai Afroxa qui o cavalo vai Sem precisá tu ir butando A noiva qui nunca tinha Aguentado dum cavalo O arripucho da corrêra Sentiu o maió abalo Ohegô quagi escambichada De não prestá pra nada Pra caminhá eu nem falo

E assim cheguemo tudo Oie a noiva incabulada! Num pudia nem falá Cum veigonha inzambuada, Eu quagi deixo ela, Com pade na capela Sem casá lá enganchada


Mai uma madinha dela Quenguista veia passada Ageitô nos pé do pade Inté qui Chica Pelada Dixe qui gosto levava Daí a pouco já tava Nos pó do pade amarrada

Vertamo tudo pra casa Tudo animado gritando Chegando in casa já tava A festa véia rolando Guandú verde com xerem Aluá de mio tombem Pras caboca ir traçando

Os tocadô tombem tava Debaxo duma latada Um padêro um réco-réco Uma zabumba furada. Pife, gaita e vialeijo Fazia todo festejo Rebombá pulas quebrada


Já a meia noite eu Fui com Chiquinha dançá Pisei os pé dela todo, Ela pego a chorá Eu dançava de chinela, Machuquei os bicho dela Que o sangue pegou a pingá

Eu fiquei com pena dela Ali eu dixe: Chiquinha Discuipe qu’eu num sabia Daquilo que você tinha Tombem num foi pru capricho Me perdoe-me, viu bixinha?

Porém a madinha dela Cum água de sá lavô. Ante do dia amanhecê Chiquinha a dançá vortô Não sintia dô e nem nada, Ai deu de cutucada Nos coco do cantadô.


Todo mundo dava grito Dizendo: viva o noivado Um cumia outo bibia Outo dançava drobado Assim o dia amanheceu Teve nego que comeu Qui ficô impanturrado.

Todo mundo foi simbora Outos fora nos deixà Lá no rancho onde Chica Cuidô logo em se deitá, Numa estêra qui havia Drumiu o resto do dia Com u’a perna là outra cá Eu tombem cai de sono Num vi mai coisa arguma Machuquei os saco todo Qui eu tinha numa ruma Um roncava outo drumia Acordemo no outo dia Sem fazê coisa nem uma.


Aí fumo eu e ela Alegremente gozá Muié boa Cuma Chica Ainda num vi nem há, Se há ainda num veio Inda vindo eu num creio O leito pode jurá. FIM



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