A mulher que virou cobra por zombar de frei damião

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


PEDRO BANDEIRA

A MULHER QUE VIROU COBRA POR ZOMBAR DE FREI DAMIテグ



Jesus me dando memória Não faltando inspiração Vou ver se conto uma história Chagada do Maranhão Enquanto a coragem sobra Descrevo dobra por dobra Da mulher que virou cobra Por zombar de Frei Damião. Era um mulher casada Que traiu o seu esposo E passou a viver jogada Num meretrício seboso Jogou os Santos no mato Chamou Jesus de barato E botou gás no retrato De Frei Damião poderoso

Tentada por Satanaz Cheia de ódio e preguiça Passou a dizer aos pais Que não ia mais a Missa De Cristo fez zombaria Sem saber que ainda um dia Essa sua hipocrisia Ia findar-se em carniça


Quando alguem lhe pedia Esmolas pras os anciãos A condenada saía Com quatro pedras nas mãos Assim naquela balança Foi perdendo a confiança Do povo da vizinhança Do pai, da mãe, dos irmãos Na vida de quem não presta Feroz como um cão de fila Um dia foi uma festa Já se sentindo intranquila Era uma Santa Missão Pregada por Frei Damião Nos brejos do Maranhão Numa igrejinha sem vila Fumou e bebeu cerveja Tomou vinho e alcatrão Partiu no rumo da igreja Perdeu-se na multidão Com a feição desbotada Soltou um gargalhada E começou dizer píada Com o Santo Frei Damião


Seu corpo se peneirando Rinchou depois de um grito Aí foi se transformando Em um fantasma esquisito Alguém disse a Frei Damião Ele suspendeu a mão E continuou no Sertão Sem esbarrar o Bendito Frei Damião já sabendo Do caso fenomenal Fez que nada estava vendo Ali naquele local Enquanto ele rezava A Santa Missão pregava A mulher se transformava Numa serpente infernal.

Seus membros se demuliram Em menos de um segundo E seus parentes sentiram Um desengano profundo Ninguem sabia o que era Rosnava como pantera Parece que a bêsta-fera Tomava conta do mundo.


O povo se assombrou Com quem perdia a fé Mas Frei Damião gritou: Não saia ninguem desta Sé Ninguem daqui vai correr Ela a ninguem vai morder Depois é que vai dizer Este segredo o que é

Caía porta e janela No sopro da saraivada E até a propria Capela Tambem sentiu-se abalada A flor perdia o pistilo Voavam barata e grilo E Frei Damião tranquilo Como quem não via nada. A serpente se torcia Da cabeça ao mocotó Se esticava e se encolhia Como cobra de cipó Só a cabeça de gente E o corpo de uma serpente Como um cascavel valente Dos pantanais de Codó


Babava como um dragão Fazia no corpo um jogo Passava o rabo no chão Que as pedras tiravam fogo Enquanto isso se passava Frei Damião celebrava Como quem não escutava Assombro, conversa ou rôgo

As mulheres se assombravam A cobra chamava o diabo Suas pernas já estavam Transfiguradas num rabo Toda roxa e transformada Numa cobrona lavrada Cortando como uma enxada Que a folha encosta no cabo Como outra cobra qualquer Ficou a triste infiel A cabeça de mulher E o corpo de cascavel Como um fantasma teórico Maligno fantasmagórico Brusco, dramático e histórico Rude, assombroso e cruel


Quando correu a notícia Acolá, ali, alem O batalhão de policia Chegou na festa tambem Frei Damião vendo o sêgredo Disse balançando o dedo Não corram nem tenham medo Ela não morde ninguem Frei Damião contínuou Rezando a Salve-Rainha E a cobra se aproximou Do adro do capelinha Disse o Frei: vou perguntar O que ela veio buscar Nesta festa popular De Cristo, do povo e minha Antes dele perguntar O que a cobra queria Ela começou gritar Falava alto e dizia: Sou treva que apaga a luz Sou carne virada em pus Porque zombei de Jesus E critiquei de Maria


Sou infeliz pecadora Filha da brutalidade Nasci pra ser portadora Dos crimes da humanidade Me transformei na orgia Na farra, na boemia Sem me lembrar que perdia O reino da eternidade Deixei minha casa honrada Difamei do Pai Eterno Passei a viver jogada No vício negro e moderno Perdí da vida a caricia Assombro até a policia E passo até dar noticia Do que passa no inferno

Mulher que trai o marido Moça que responde os pais Homem casado enxerido “Quiba” que ilude rapaz Vigários amasiados Por Deus estão condenados Pra serem crucificados Nas prisões do Satanaz


Terá o mesmo desprezo Mulher casada que dança Marchante que rouba o pêso Sem dar fiel na balança O ladrão o assassino Quem nega esmola a um menino Pedeu de Deus o destino E da luz do céu a esperança. Disse Frei Damião: esta certo Ouvi sua explicação Mas lá naquele deserto Vai ser sua habitação Passe a viver sua idade Naquela concavidade E só volte aqui na cidade Com ordem de Frei Damião Vá pra aquela serrania Viver por entre o rochedo Que pode até inda um dia Você sair do degredo; A serpente se sumiu A alegria surgiu E Frei Damião pediu Pra não contarem o segredo

FIM



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