A moça de cajàzeiras

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ESTE FOLHETO É PARTE INTEGRANTE DO ACERVO DO BEHETÇOHO EM FORMATO DIGITAL, SUA UTILIZAÇÃO É LIMITADA. DIREITOS AUTORAIS PROTEGIDOS.


INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO O Acervo Eletrônico de Cordéis do Behetçoho é uma iniciativa que pretende dar consequências ao conceito de (com)partilhamento dos artefatos artísticos do universo da oralidade, com o qual Behetçoho e Netlli estão profundamente comprometidos.

INFORMAÇÕES SOBRE A EQUIPE A equipe de trabalho que promoveu este primeiro momento de preparação e disponibilização do Acervo foi coordenada por Bilar Gregório e Ruan Kelvin Santos, sob supervisão de Edson Martins.

COMPOSIÇÃO DA EQUIPE Isabelle S. Parente, Fernanda Lima, Poliana Leandro, Joserlândio Costa, Luís André Araújo, Ayanny P. Costa, Manoel Sebastião Filho, Darlan Andrade e Felipe Xenofonte


JOSÉ BERNADO DA SILVA

A MOÇA DE CAJÀZEIRAS



Prestem atenção, leitores É chegada a ocasião De contar o que se deu Sexta-Feira da Paixão O maldito traiçoeiro Na cidade de Juàzeiro Do Padre Cícero Romão

Êsse maldito chegou Num dia de sexta-feira Na presença duma moça Habitante em Cajàzeiras Já faziam onze anos Que êle fazia planos De a ter por companheira

Finalmente eu vou contar Como foi seu sofrimento Não comia e não bebia Nem tinha contentamento Passava o tempo chorando Vivia se lastimando A falta do sacramento


─ Ferrubraz, ficas ciente Que tu aqui não tens nada Romeiro do Padre Cícero Tem vida considerada Não é para tu, maldito Andar ensinando dito A esta moça delicada

Agora eu vou contar Como foi que aconteceu Na hora que foi chegando De tudo êle se esqueceu Mas disse logo a Quininha: Amanhã de manhãzinha Quero que volte mais eu

Quando foi passando perto Da matriz da Virgem Pura Disse: ali eu não entro Que estou com a vista escura Se me encontrar com o padre Quininha, nossa amizade Parece que não dura


─ Eu dêle não tenho mêdo Só não quero ver buzina Êle pensa que eu sou Como o outro de Campina Eu já dei em 4 padres Êsse aqui, tenho vontade De pegá-lo na esquina

─ porque eu quando subi Já deixei meu plano feito Se eu der nesse padre aqui Então volto satisfeito Encontrei um alcoviteiro Me disse que em Juàzeiro Eu perdia todo direito

─ Depois de minha chegada Me arranchei, guardei a maca Se eu vencer o Padre Cícero Romeiro centa da vaca Quando eu vim do meu sertão Foi com esta opinião Pega-pega atraca-atraca Engraçado eu só achei


Quando meu Padrinho entrou Perguntou: quedê a moça? Demore aí que já vou Ouço dizer que és forte Quem tem dado em sacerdote No lugar aonde andou?

O satanás não sabia Quem era o padre daqui Quando êle viu meu Padrinho Abriu do queixo a latir Deu-lhe uma tremura forte ─ Parece que não tem sorte Quem vem neste Cariri Quando satanás deu fé Estavam trancando o vapor ─ Talvez agora me arrume Que fique aqui de feitor Vou ver se junto romeiro Dêsses que jogam dinheiro Pra ser meu trabalhador


Chegou o dono do mundo Com seu cajado na mão ─ Quero que vocês me mostrem Êsse bicho valentão A hora que eu disse é esta Êle disse que detesta O Padre Cícero Romão Chegou meu Padrinho Cícero Com o seu poder divino Trazia um santo cordão E as ordens de Deus Menino Trazia o sinal da cruz Vinha mais o bom Jesus Mandando tocar o sino

─ No meu terreno não quero Raça que pertença a Luço Vem procurar mas não acha E êle eu não dou recurso Tenho para êle um cordão Dado pelas minhas mãos Corre nem que seja apulso


Então o satanás disse: Quem quiser ganha dinheiro Tenho um conto e oitocentos Dou a qualquer companheiro Que me fizer o favor De me tirar do vapor Do Padre do Juàzeiro

Chegou logo um portador ─ Pronto, aonde quer mandar? ─ Vá me chamar 3 bigodes Pra êle vir me soltar; Três bigodes respondeu: Êste recado é pra eu? Pode morrer de gritar ─ Vá me chamar cão caneco Pra eu mandar um recado Na casa do capitão Coxo do quarto quebrado Que me cercou um vigário De cordão e de rosário Estou todo escrafinhado


O caneco foi levar O recado ao capitão Êle então lhe respondeu: Eu não me meto em questão Vou escrever para Luço Se êle são der recurso Diga que está sem patrão Quando Luço recebeu A carta do capitão Perguntou: aonde está Êste rapaz na prisão? ─ Por causa do alcoviteiro Está prêso em juàzeiro Do Padre Cícero Romão

Luço então chamou cachimbo Chame aí um companheiro Chame quem furta cavalo Chame quem rouba dinheiro Chame quem levanta falso Chame quem morreu no laço Vamos cercar Juàzeiro


Cachimbo ficou saltando De satisfeito e contente Levanta o acompanhamento Com certeza eu vou na frente Vamos dançar um zambê Chegando lá quero ver Se tem romeiro valente Nino então disse: Cachimbo Com esta questão eu posso Saltemos no Pernambuco Lá tem muito povo nosso Vamos convidar quadrilha Ela junto com a filha Vamos dar naquele troço Ela então lhe respondeu: Eu não vou no Ceará Catraí, Gato e Catenga Certo dia apanhou lá Apanhou um de viçosa Minha mãe com sua prosa Apanha tantas vêzes vá


Assim que satanás viu Meu Padrinho chamar Joaquina Deu um grito tão horrendo Que só apito de usina Do salto que deu de costa Quebrou a trave da perta Fêz que só o de Campina ─ Eu bem podia estar quieto Lucifer é o culpado De eu me ver nesta prisão Dentro de um vapor trancado Apanhar dum sacerdote Pois me vi quase sem sorte Sem ter nenhum resultado Quando êle viu o cordão Que o Padre Cícero trazia Gritava que só cigarra Na hora do meio-dia Fazendo enorme careta Não acho quem me prometa Me tirar desta agonia


Daqui quando eu fôr embora Sei que não voltarei mais Vou dizer a Lucifer Não mande um só satanás Chegando aqui dentro apanha Tudo perde e nada ganha É o desgôsto que faz Nossa Senhora pediu Com o seu divino manto: Cícero, vai defender Esta moça que eu garanto Leve consigo a verdade Da Santíssima Trindade E do Divino Espírito Santo

O satanás foi embora Com mêdo da divindade Disse: Joaquina, eu não quero Saber da tua amizade Vieram me botar trincheira Pra eu sair na carreira Sem haver necessidade


Essa moça deu um viva A Jesus crucificado ─ Viva Nossa Senhora Mãe das Dores A mãe do Verbo Encarnado Viva a voz do Padre Eterno Que me tirou do inferno Por ser divino e sagrado ─ Viva o menino Jesus Que foi nascido em Belém Viva senhor S. José Nossa Senhora também Viva Padrinho Cícero Romão Que me deu a proteção Para todo sempre. Amém FIM



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