Edição 274 - Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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18 de Novembro de 2015 Ano XXV Nº 274 Gratuito Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Tiragem 2000 exemplares Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Propriedade Associação Académica de Coimbra Produção Secção de Jornalismo

Diretora Inês Duarte Editora Executiva Cátia Cavaleiro Equipa Editorial Sara Pinto, Vasco Sampaio Fotografia Magalí Zaslabsky, Inês Duarte Colaborou nesta edição Carolina Farinha, Carolina Marques, Fábio Lucindo, Liliana Pedro, Mariana Azevedo, Rita Espassandim, Rita Flores Colaboradores Permanentes Filipe Furtado, Paulo Sérgio Santos, Rafaela Carvalho Paginação Afonso Paiva

acabra JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

ELEIÇÕES AAC 2015

Eleições - PÁG. 2 E 3 -

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ENSINO

CULTURA

DESPORTO

Eleições pautam-se por novidades na Comissão Eleitoral. Quanto a candidatos, três listas para o CF, duas para a DG e para a MAM

“Caminhos” juntam cinema português e internacional, com um simpósio, um curso e seleções de filmes para todas as idades

A Secção de Cultura Física da AAC distinguiu-se no ‘World Powerlifting Championship’ com a conquista de 17 medalhas

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CIÊNCIA

Resultado do estudo dos muões permite perceber de que forma atua o hidrogénio quando está presente em materiais de uso diário


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Órgãos de gestão da AAC a votos para 2016 É no final do mês que vão ser eleitos os elementos para os corpos gerentes da AAC, que contam com duas listas candidatas à Direção-Geral e à Mesa da Assembleia Magna e três ao Conselho Fiscal. Introduzem-se alterações significativas no Regulamento Eleitoral e atesta-se a necessidade de manter a segurança das urnas

POR CAROLINA FARINHA E LILIANA PEDRO

Nos próximos dias 23 e 24 de novembro, vão ser eleitos pelos estudantes os representantes dos Corpos Gerentes da Associação Académica de Coimbra (AAC). A semana de campanha eleitoral vai ser realizada entre os dias 13 e 21 de novembro. Se necessário, um segundo sufrágio para a Mesa da Assembleia Magna (MAM) e para a Direção Geral (DG/AAC) será realizado no dia 30 de novembro e no dia 1 de dezembro. Existem dois projetos candidatos à presidência da DG/AAC. João Carvalho encabeça a Lista A – “Até Quando” - e José Dias lidera a Lista F – “Académica de Futuro”. Ambas apresentam ainda listas candidatas ao Conselho Fiscal (CF/ AAC) e à MAM, com a existência de uma terceira lista para o CF/AAC, intitulada de Lista T – “Tu és Académica”.

O presidente da Comissão Eleitoral (CE), Vasco Ferreira, espera que as eleições corram dentro da normalidade, já que “se prima a isenção e a exigência de um bom rigor sobre o Regulamento Eleitoral (RE) que foi definido, este ano, com muitas novidades”. “Passámos de um regulamento que era muito vago para um com mais exigências, mais específico”, acrescenta. Durante o decorrer do processo eleitoral, Vasco Ferreira tenciona manter como princípios fundamentais “a isenção, o rigor, a persecução dos atos sem distúrbios e uma resolução rápida e célere de conflitos”. Várias inovações no processo eleitoral Dentro das novidades a anunciar pela CE, o presidente fala sobre a existência da criação de “quatro categorias de delegados, incluindo o presidente que é o topo piramidal”. A este segue-se o delegado de segurança, que pode assumir funções de presidente caso o primeiro tenha algum problema. Este ocupa-se também do transporte das urnas, serve de “elemento direto de ligação com as forças policias”, assim como “valida a credenciação dos órgãos de comunicação social, dos delegados, dos mandatários e de toda uma panóplia de gente que está dentro do ato eleitoral”. Abaixo deste encontram-se os delegados supervisores e coordenadores, que “são responsáveis por supervisionar e coordenar os polos”, estabelecendo uma ligação entre os delegados de vigilância e os próprios delegados das comissões eleitorais. Finalmente, encontram-se os delegados de vigilância, “que vão estar em frente às mesas e às secções de voto”. Vasco Ferreira declara a criação de uma quarta secção de voto representada por “três faculdades e quatro urnas, que estão desagregadas dos outros polos”. São elas a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (FEUC), a Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUC) e a Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física (FCDEFUC). Acrescenta que este núcleo “vai exigir uma grande movimentação de dois delegados de coordenação e dos delegados tradicionais”.


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O ‘plafond’ para a campanha será, este ano, de 1500 euros, menos 1000 que o teto orçamental estabelecido o ano passado. No entanto, mantém-se a obrigação de apresentação de um orçamento e de um relatório de gastos à CE. Não existe, até ao fecho desta edição, ‘plafond’ estabelecido para a reprografia. O presidente da CE assevera que foram realizadas alterações substanciais ao RE que passou de “seis a 41 páginas”. O RE antigo contemplava as duas eleições numa. Contudo Vasco Ferreira afirma ser importante apresentar uma diferenciação das duas, já que “elas são feitas no mesmo dia, mas são para dois órgãos distintos: eleição para a DG e MAM e para o CF”. É esperado que a contagem de votos seja facilitada, este ano, pelo desaparecimento dos votos por envelope que “vai eliminar aquele tempo de espera de contagem durante a tarde”. Vasco Ferreira acrescenta que “já foi definido que haverá contagem de votantes ao meio-dia, às 16, às 19 e à meia-noite, portanto nesses dias saber-se-á logo qual é o andamento das votações. À meia-noite do primeiro dia e do segundo dia é feita a contagem total e à medida que os resultados saem a própria tabela do ‘website’ vai mostrar a variação positiva ou negativa daqueles dias”. Uma outra novidade a apresentar este ano é o envolvimento ‘online’ através do ‘website’ e das redes sociais sendo que, segundo o presidente, “já foi criada a plataforma do ‘Facebook’ e do ‘Twitter’ que estão a funcionar com a ‘hashtag’ #CorposGerentes15”. Pretende-se, assim, que exista uma maior facilidade na partilha de informação com o corpo estudantil que poderá acompanhar o processo eleitoral à medida que surjam informações novas. No sentido de manter um carácter de celeridade, cria-se também “uma maior articulação com os órgãos de comunicação nacionais” para que o vencedor seja capa de jornais no dia seguinte. No que concerne à segurança das urnas, esta vai ser assegurada, caso seja necessário, pela Polícia de Segurança Pública. Vasco Ferreira garante que “as urnas, este ano, à semelhança do ano passado, serão lacradas com cintas numeradas únicas”, cujos selos serão distribuídos de forma aleatória, sem números sequenciais. Adianta ainda que se vai verificar se “os selos estão ou não inválidos ou foram adulterados”. Para os cadernos eleitorais ainda está sob discussão que postura assumir quanto ao seu transporte. Assegurar os estatutos pelo Conselho Fiscal O CF/AAC apresenta-se como órgão de fiscalização da Academia. Conta com um número total de sete elementos a eleger segundo o método de Hondt. Existem, este ano, três listas candidatas às eleições para este órgão gerente. A Lista A, com o lema “Até Quando” é liderada por João Pinto Ângelo, enquanto Bernardo Nogueira encabeça a Lista F – “Académica de Futuro”. Por fim, a Lista T – “Tu és Académica” - dirigida por Carlos Leandro Marques.

Quer João Pinto Ângelo quer Bernardo Nogueira apontam a defesa dos estatutos da AAC e a necessidade de os fazer cumprir como aspeto prioritário do CF/AAC. O candidato pela lista F acrescenta ainda que, este ano, devem entrar em vigor os novos estatutos da AAC, “o que vai fazer com que seja necessário todo um processo administrativo de alteração de algumas normas”. O representante da lista A candidata-se pelo segundo ano consecutivo. Afirma que deseja prosseguir com o movimento de luta iniciado no ano passado, de forma a “assegurar que o que está nos estatutos é cumprido pelos diversos órgãos e organismos da Academia”. Como propostas para este ano apresenta a “defesa da justiça que está nos estatutos, uma maior transparência na atividade do CF/AAC e uma aproximação do mesmo aos estudantes, já que é o órgão que os protege e aos seus direitos enquanto sócios da Academia”. João Pinto Ângelo dá destaque a este último ponto de trabalho, “porque o que vemos hoje em dia é que os estudantes ou não sabem, ou não são informados do que se passa no CF e, sendo que este trata da Academia dos estudantes, é mesmo essencial que esses estudantes consigam perceber o que está a acontecer”. O candidato pela lista F dá ênfase à renovação dos estatutos da AAC, apontando como principais bandeiras da lista “o cumprimento dos estatutos que temos neste momento em vigor e fazer com que a passagem para os novos seja feita da melhor forma possível”. Pretende ainda dar continuidade ao Código de Ética implementado este ano já que “traz um profissionalismo maior ao CF”. Bernardo Nogueira acrescenta ainda que quer seguir as linhas orientadoras do anterior CF, já que “aos olhos de todos os estudantes, mostrou competência e rigor”. Até ao fecho da edição não foi possível contactar o candidato pela lista T – “Tu és Académica”, Carlos Leandro Marques. Uma Assembleia Magna com mais estudantes A AM é o órgão de decisão da AAC, com as funções de discutir e deliberar sobre todos os assuntos relacionados com a associação, segundo os Estatutos da AAC. Este ano, são dois os candidatos que concorrem à presidência da Mesa da AM. João Carocha pela Lista F – “Académica de Futuro” e Teresa Pereira com a Lista A – “Até Quando?”. João Carocha tem como propostas para a MAM “a revisão dos estatutos e valores criados que devem ser mantidos com a maior isenção, idoneidade e com critério bem esclarecido”. Teresa Pereira, por sua vez, pretende “respeitar a AM e o debate

democrático acessível a todos os estudantes”, bem como a existência de “uma divulgação atempada das Assembleias”. Segundo João Carocha, um dos problemas da AM “tem sido a falta de participação e alienação dos estudantes ao associativismo”. Teresa Pereira concorda com esta visão e incita à divulgação das AM junto dos estudantes, mas afirma que “a promoção já é feita da maneira que é possível”. Para a candidata, a divulgação no ‘Facebook’ “já chega a um grande número de estudantes”. Afirma que “há muitos cartazes afixados no Pólo I mas que também é necessário promover a divulgação física nos vários espaços do Pólo II e III”. Teresa Pereira acrescenta ainda que não só é importante divulgar aos estudantes mas também “comunicar aos órgãos de comunicação social da casa porque são eles que vão fazer a difusão”. Ambos os candidatos convergem no facto de serem realizadas poucas AM. “Não há culpado de uma forma geral, as pessoas participam pouco e existem temas e discussão insuficientes”, declara João Carocha. Também a lista A procura uma maior frequência das assembleias. “Se têm algum problema ou assunto da sua faculdade que querem falar”, os estudantes têm de sentir que há espaço para tal, como afirma Teresa Pereira. Também João Carocha salienta que os estudantes se devem sentir “confortáveis para participar”. A democracia é um valor que, para o candidato da Lista F, “rege a AM em si”. “Privilegiar os tempos de direito de resposta e defesa de honra” são essenciais para Teresa Pereira.


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LISTA

INÊS DUARTE

F Académica de Futuro

- POR INÊS DUARTE, MARGARIDA MOTA E VASCO SAMPAIO -

José Dias, natural de Coimbra, mestrando em Gestão e filiado na Juventude Socialista, é o candidato à Direção Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) pela Lista F – “Académica de Futuro”. Foi vice-presidente deste órgão durante os últimos dois anos, membro do Conselho Geral (CG) e ainda da A3ES. Pretende abolir as propinas, criar uma estratégica política para os núcleos e secções e realizar mais ações reivindicativas.


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Quais são as principais bandeiras do teu projeto? Acima de tudo, uma reestruturação global daquilo que conhecemos como a DG. Tem dois pontos fundamentais: o primeiro está ligado à parte estratégica de todas áreas. Queremos constituir quatro pilares: núcleos, cultura, desporto e política. Durante os últimos anos a política tem seguido uma estratégia mais ou menos definida, enquanto as outras três áreas têm tido algumas dificuldades, e é a isso que a candidatura se propõe: trazer uma visão para as quatro áreas. O segundo ponto é conseguirmos concentrar os nossos esforços em atividades de impacto local, nacional ou europeu. A DG tem de ser um órgão iminentemente político que consegue trabalhar com as lideranças dos núcleos, com os seus diversos braços, que promovem cultura, desporto, pedagogia e saídas profissionais. E temos de dar as condições devidas, a secções e núcleos, para desempenhar essas funções. Das bandeiras que já referiste, há alguma que seja mais prioritária? Temos de ver a AAC em duas grandes áreas que são transversais: a administração e a comunicação. Têm de dar suporte a toda a casa, não só à DG, mas a todas as secções e núcleos. Já não é uma prioridade como foi nos últimos três anos a redução da dívida externa. A garantia que tive desta DG é que toda a dívida externa vai ser, muito provavelmente, reduzida a zero até ao final deste mandato. Portanto, por aí, a estabilidade da AAC vai ser completamente diferente. De que forma é feito o financiamento da vossa campanha? Totalmente por iniciativa das pessoas. Eu coloco dinheiro e os membros da lista também são convidados a dar aquilo que podem. É óbvio que não podemos exigir recursos financeiros a quem não os tem. Quanto é que já despendeste? Até ao momento, foi só a campanha digital. Como os materiais ainda não estão prontos, não consigo fazer o cálculo. A tua candidatura tem apoios partidários? Não. Quais foram as maiores conquistas da DG nos últimos anos? Acho que a casa precisa de estabilidade completa, para que todos saibam com o que contar. O que aconteceu nos últimos anos foi o privilegiar do pagamento da dívida externa. Outra das conquistas é a política, a capacidade de apresentar um livro com propostas em várias áreas, que esperamos entregar ao futuro governo. Fez-se, igualmente, um caminho entre a DG, as secções e os núcleos, e isso vê-se em grandes projetos que são aprovados e executados. Um desses casos é na parte do desporto, os EUSA Games. Como é que se consegue essa proximidade, para além do esforço que falaste para manter as secções abertas? Podes apresentar medidas concretas? Falta uma estratégia cultural e desportiva. Temos uma postura mais reativa e quero que tenhamos uma postura ativa. Tem de haver a concertação de um plano, com a envolvência de todas as secções, para planear o ano inteiro. Temos de ter atividades de impacto na cidade. É essencial que seja os Conselhos Cultural e Desportivo a ganhar outro tipo de envergadura política e de pensamento, porque a partir daí conseguiremos trabalhar durante um mandato inteiro. Falhas dos últimos anos? O facto de não haver uma consequência direta das nossas ações políticas. Nem todas as ações reivindicativas trouxeram um resultado prático. Queremos mais ações, mas acima de tudo temos de ter resultados. Apostámos muito no 24 de março, dia

nacional do estudante. Tivemos uma massa estudantil como já não víamos há muito tempo. Nesse dia, conseguimos um conjunto de resultados que se vieram a verificar. Sabemos de fonte segura que o governo alterou muito a sua postura por termos feito aquela manifestação. E isso deu-nos uma força negocial que não tínhamos antes.

Acho que a regra pode vigorar da maneira que está explícita. Poderia criar-se um artigo de proteção para o caso daquelas secções que têm dificuldade em arranjar membros. Quero dar prioridade aos estudantes da UC; no entanto, se existirem dificuldades de funcionamento da parte das secções, temos de abrir as portas para todos os estudantes dos politécnicos.

Mas isso também teve consequências no Movimento Associativo Nacional (MAN)… Sempre dissemos que durante estes anos tivemos de dar o braço a torcer e trabalhar em conjunto pelo bem comum. Quando esse bem comum interfere diretamente na esfera do que defendemos, aí a AAC não pode tomar partido.

Qual é a tua posição acerca das propinas? É contra a existência da propina. Se conseguirmos, nos próximos anos, ir baixando progressivamente e depois anular o valor, é perfeito. Poderá não ser imediato, até porque entendemos que a nível governamental o orçamento providenciado às instituições teria de ser avultado. Não nos parece irrealista, por causa de documentos que já li, que dizem que a educação do ES deve ser gratuita, tal como as outras educações. O valor da propina, na lei, está mal fixado, porque está indexado à taxa de inflação. Vemos o ES como uma necessidade básica para cada sociedade evoluir. Temos de arranjar uma alternativa e mostrar que não é proveitoso ter uma propina tão elevada, porque tem um efeito contraproducente.

Pretendem criar um novo movimento? O nosso objetivo tem de passar por isso. Portanto, demos o passo da saída perante determinadas condições que nos colocaram. A partir daí, a AAC não ficou parada. Discutimos propostas, reunimos com partidos. Falta conseguirmos uma alteração do paradigma do movimento associativo nacional. Isso faz-se indo desde a mais pequena associação de estudantes à maior associação e federação académica e discutindo com cada uma delas. Assim mostramos a nossa abertura. Se as outras associações não estiverem abertas, então já sabemos que, à partida, o bloqueio não é da nossa parte. Já têm propostas concretas para esse movimento? Mudar o sistema de votação. Pretendemos um modelo de maior proporcionalidade, de acordo com o número de estudantes. Parece-nos que é mais fiel àquilo que acontece regionalmente, até porque as federações académicas foram criadas tendo isso em mente. Que necessidades tem a AAC neste momento? Temos uma necessidade administrativa de acabar com a dívida interna. Fizemos esse esforço externo, mas temos de nos virar para dentro e credibilizar a nossa imagem internamente. No edifício, é preciso criar melhores condições para as secções culturais e desportivas. Já têm datas definitivas para as obras da sala de estudo? Não. O que pretendemos, mal entremos em funções, é saber exatamente em que ponto o projeto parou. Sabemos que é por financiamento, mas queremos saber mais. Limpar a dívida externa poderá dar folego para outro tipo de parcerias. E para a reestruturação do edifício? Foi outro processo que ficou parado. A informação que a administração me tinha dado era a de falta de financiamento. Quando o tivermos alocado, conseguiremos fazer uma gestão diferente. Pretendo, também, entrar em conversações com o reitor da UC e perceber se vão existir ou não complexos e edifícios da UC que nos possam ser cedidos. Na tua opinião enquanto vice-presidente, candidato a presidente e membro da Assembleia de Revisão dos Estatutos (ARE), que pontos consideras mais importantes para alteração nos estatutos? Entre as alterações que se têm debatido está uma reforma do Conselho Fiscal (CF). Lançou-se uma proposta de expansão do número de elementos, com funções diferentes e áreas bastante específicas de fiscalização. Ao nível da DG, núcleos e secções, vai tentar-se tornar mais explícito que competência cabe a quem. Por exemplo, na DG, não existe a figura dos coordenadores dos núcleos, da cultura e do desporto. Entendemos que deveriam existir essas três pessoas, porque são três pilares da casa. Qual é a tua opinião acerca do artigo 119º, que exige uma maioria de sócios efetivos na direção de cada secção?

Mas se a propina fosse erradicada de vez, qual consideras que seria a maior fonte de financiamento do ES? Estatal, porque tem de ser o próprio governo a aplicar determinadas políticas. Sabemos que há um Orçamento de Estado que aplica dinheiro em determinadas situações. Porque não aplicar no ES? O Estado ia sempre lucrar com os estudantes pelos impostos que eles pagariam. É uma logística – tem de haver uma aposta, e nós, enquanto AAC, temos de exigir que a educação seja uma prioridade. Um possível governo de esquerda dá-te esperança nessa solução? Temos a visão do governo PSD/CDS, com quem trabalhámos nos últimos quatro anos. Tivemos reuniões com o BE, o PCP e o PS, que apresentaram medidas diferentes, que vêm ao encontro das nossas propostas enquanto AAC. Por aí, poderá ser uma lufada de ar fresco, porque poderão trazer uma nova visão e revisão governamental. Consideras o modelo de pagamento de prestações mensais das propinas imposto pelo novo regulamento mais vantajoso do que o antigo? Pelo menos dá outro mecanismo às famílias, que sabem que assim podem pagar mensalmente e o dinheiro de que despendem pode mais facilmente sair do bolso. De qualquer maneira, é um mecanismo que não vai resolver coisa alguma. É positivo porque as famílias podem construir um plano de pagamentos, mas, por outro lado, não vai realmente facilitar, porque o valor a pagar é exatamente o mesmo. Qual a tua posição perante o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES)? Bastante negativa. Fomos muito lesados enquanto decisores políticos no RJIES de 2007. Esperamos que seja revisto no futuro, porque a universidade começa a ter competências politécnicas e vice-versa. Outra coisa que reivindicamos é a constituição do Conselho Coordenador do ES, que é um órgão que está na lei, mas nunca foi constituído. Que balanço fazes do mandato do ministro Nuno Crato? Acho que não existiu sequer uma aposta no ES. Por exemplo, não houve predisposição para uma presença numa reunião sobre o regulamento de bolsas, a rede de ES e o financiamento das instituições, mas para uma reunião sobre a praxe houve. A partir daí, o ministro relegava tudo para o secretário de estado do ES. A AAC sempre disse que enquanto não existir um ministro só para o ES e para a Ciência, por exemplo, vai ser muito complicado conseguir aplicar certas questões.


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INÊS DUARTE

LISTA

A

Até Quando?

- POR CÁTIA CAVALEIRO E INÊS DUARTE -

João Carvalho é cabeça de lista do projeto “Até Quando?”. O estudante de Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) tem 19 anos, é militante da Juventude Comunista Portuguesa (JCP) e faz parte da Assembleia de Revisão dos Estatutos (ARE) da Associação Académica de Coimbra (AAC). Propõe-se a mobilizar os estudantes em torno dos problemas da Academia e exige um maior financiamento para o Ensino Superior (ES).


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Quais as principais bandeiras do teu projeto? Agitar, lutar, transformar. Consideramos necessário consciencializar e mobilizar os estudantes em torno dos problemas concretos que se sentem no dia-adia nas suas faculdades. Agitar, informar, estar em contacto direto com eles acerca dos seus problemas para podermos lutar para os transformar. Que problemas são esses dos estudantes? A propina, que é um problema de manutenção e um entrave ao acesso ao ES. O regulamento pedagógico da FLUC, que apareceu em virtude da alteração do regulamento geral da UC e que surge para cobrir e legitimar a falta de financiamento e de professores no ES, que origina um maior número de alunos por turma. Este regulamento retira-nos a qualidade no ensino e legitima situações que se prendem com o subfinanciamento do ES. Na Faculdade de Medicina da UC [FMUC] há um novo programa de aprendizagem assistido por pares, onde os estudantes de 6º ano se substituem aos professores. Na Faculdade de Direito da UC há salas de aula que não conseguem cobrir a quantidade de alunos e estes têm de se sentar no parapeito das janelas, porque há cadeiras partidas. E que medidas concretas pretendes implementar para resolver esses problemas? Exigir mais financiamento para o ES, pois o subfinanciamento é a raiz dos problemas que os estudantes enfrentam. Enquanto DG, consideramos que dispomos de meios e força para resolver esses problemas. Sabemos que, mobilizando os estudantes, saindo à rua para defender os seus direitos consagrados nos Estatutos da AAC, bem como na Constituição da República Portuguesa [CRP], podemos resolver esses problemas. Já obtivemos alguns resultados concretos. Na FLUC no semestre passado fizemos circular um abaixo-assinado que reuniu 700 assinaturas e, em virtude disso, o Conselho Pedagógico da FLUC encontra-se a debater o problema do regulamento. De que forma é feito o financiamento para a vossa campanha? Passa pelo ‘plafond’ de que cada lista dispõe na reprografia da AAC. Caso seja necessário, por exemplo, pintar uma faixa, cada pessoa da lista contribui como puder. A nossa lista não assenta, em termos de financiamento, em qualquer hierarquização de contributos. A tua candidatura tem apoios partidários? Não, o facto de ser militante da JCP nada tem a ver com apoios partidários à nossa lista. Quais são para ti as falhas e conquistas dos últimos mandatos da DG? As sucessivas DG têm sido muito insuficientes a dar resposta aos problemas dos estudantes. Isto é, cada vez temos de pagar mais propinas. A propina máxima diminuiu 3 euros este ano, um valor irrisório, enquanto a propina mínima aumentou 26 euros. Cada vez temos mais propinas e bolsas de valor mais baixo. Mas consideras que o aumento da propina é responsabilidade da DG? A DG tem a responsabilidade de, cumprindo os seus estatutos, mobilizar e lutar contra a propina. O que assistimos nos últimos anos é à passividade das sucessivas DG para com estes problemas concretos. Não só da propina, mas também da degradação de materiais das faculdades e recursos humanos, docentes e não docentes. Há a deterioração das repúblicas e das residências, há o sucessivo subfinanciamento do ES. As DG têm tido uma postura de amorfismo, de passividade com a qual nós não compactuamos. Que balanço fazes do mandato do Bruno Matias? Um balanço de clara insuficiência. Foram dois mandatos que, para os estudantes, não se traduziram na melhoria das suas condições de vida. O que

temos vindo a assistir é o traçar de um caminho de compactuação com as políticas de degradação do ES. Estes mandatos nada fizeram para devolver aos estudantes os estatutos que lhes tinham sido roubados. Tem de haver outro rumo. Qual a tua opinião acerca da rutura da DG com o Movimento Associativo Nacional (MAN)? Acho que deveríamos falar mais do facto de a DG deixar de participar no Encontro Nacional de Dirigentes Associativos (ENDA). Não se pode romper com o MAN. Simplesmente, o que aconteceu foi que a DG deixou de ir ao ENDA. Porque foi votado em AM que isso fosse feito. No ENDA discute-se a situação política do ES, do estudante e de cada instituição de ES. O que a DG decidiu fazer foi, simplesmente, deixar de participar. Isso significa deixar de levar a voz dos estudantes a esses encontros. Diziam eles que esta não participação seria também uma forma potenciadora da resistência e da luta da AAC, mas a verdade é que o que observámos é exatamente o oposto. Deixaram de procurar as convergências com outras associações académicas nesses encontros e nada fizeram para levar a voz dos estudantes frente aos governos. Quando a primeira AM após essa discussão não tem um ponto de situação política, é preocupante. Qual seria a solução? Voltar para o MAN? Voltar a participar nos ENDA? Ou, como propõe o candidato José dias, criar um novo movimento associativo? A AAC tem, pela sua história e pelo seu peso, de procurar uma convergência com as outras associações de estudantes. A AAC tem de participar no MAN. Não pode deixar de procurar convergências e deixar de dialogar e dar uma voz, um rosto aos legítimos direitos dos estudantes de Coimbra. As obras da sala de estudo e de reestruturação do edifício estão paradas. O que pretendes fazer quanto a isso? A degradação das condições materiais é um problema muito sério e a questão da sala de estudo da AAC é um exemplo claro disso. O que estamos a fazer é, mais uma vez, lutar para que as obras na sala de estudo possam ocorrer. Temos de procurar, junto dos estudantes, que isso aconteça e que seja possível a melhoria das infraestruturas da AAC. Que propostas tens? O que temos de exigir é que haja mais financiamento por parte do governo. É essa a raiz dos problemas materiais. Que programas tens para as secções desportivas e culturais e para os organismos autónomos? É verdade que algumas secções têm tido cada vez mais dificuldade e isto é um problema que não é da responsabilidade direta dos estudantes. Podemos apontar o Processo de Bolonha e o aumento das propinas como grandes causas do afastamento. Com Bolonha, num curso, a matéria é condensada em três anos e isso afasta os estudantes da vida associativa. O estrangulamento do ES pode conduzir os estudantes para longe do movimento associativo. É importante dizer que os estudantes querem participar. Consideras que a falta de participação não advém de um desinteresse por parte dos estudantes? Não, ela não advém do desinteresse dos estudantes, vem deste estrangulamento. Faz sentido uma AAC exclusiva a estudantes da UC ou também se poderia abrir aos Institutos Politécnicos de Coimbra? Essa questão tem sido muito discutida na ARE. As secções e as suas direções devem ser maioritariamente compostas por estudantes. No que diz respeito às secções desportivas, algumas sentem muito essa dificuldade e a sua subsistência pode ser posta em causa devido a essa norma. Um estu-

dante que se inscreve numa secção desportiva quer praticar um desporto e na atividade desportiva o querer praticar desporto não tem necessariamente ligações com trabalho administrativo. Se estiver em causa a extinção de uma secção, essa situação deve ser regulamentada. Que pontos consideras que devem ser revistos nos Estatutos ou alterados de forma mais urgente? Saber defender e regulamentar os fins a que a AAC se propõe nos seus Estatutos. Há questões importantes como a regulamentação do que são organismos autónomos, porque infelizmente isso não está feito. Está apenas presente nos fins da alínea d. A regulamentação de capítulos que têm a ver com a Queima das Fitas, com os protocolos que se estabelecem entre a DG/AAC e o Conselho de Veteranos. A Secção de Bilhar da AAC situa-se agora nas cantinas amarelas. Qual é o teu parecer em relação a isto? Assistimos constantemente ao encerramento de cantinas e à degradação da sua qualidade. A sua reabertura é uma prioridade. As secções como a Secção de Bilhar necessitam de infraestruturas e isso enquadra-se no apoio logístico, a infraestruturas e às suas necessidades. Os SASUC têm de estar ao serviço dos estudantes e retirar cantinas é tirar serviços prestados aos estudantes. E a Secção de Bilhar tem de ter infraestruturas. Estamos cá para dialogar com a secção sobre o local mais próprio à sua infraestrutura. Qual é que é a tua posição acerca das propinas? Nós somos absolutamente contra a propina. E quanto ao método de pagamento por prestações mensais que entrou em vigor este ano? Dizia-se no ano passado que um bacalhau às postas é sempre um bacalhau. E é verdade. A modalidade de pagamento das propinas alterou-se, mas a quantia não é a mesma porque são menos três euros, em virtude da taxa de inflação. Este é um valor irrisório quando o ensino deveria ser gratuito. Quais é que são para ti os principais problemas do ES neste momento? O entrave com que um estudante que se queira candidatar se depara por causa da propina, por causa da falta de bolsas. Em cinco anos, 320 milhões de euros foram cortados e muitos mais poderiam ter sido senão fosse a resistência dos estudantes. E qual é a tua posição quanto ao Regulamento Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES)? Somos pela sua abolição porque ele é introduzido no sentido de uma empresarialização e privatização do ES, que deveria ser público conforme a CRP. O RJIES permite colocar no CG, na vida interna da universidade, dez entidades externas, que nada têm que ver com os interesses dos estudantes. Que balanço fazes do mandato do ministro Nuno Crato? O mandato destes governos tem sido de clara ofensiva contra os estudantes, e a forma pela qual o realizaram foi o subfinanciamento. O problema do mandato de qualquer membro deste governo cessante é um problema de fundo, um problema que se prende com uma ofensiva ao ES e aos estudantes. O que é que consideras que deve ser prioritário no Ministério da Educação e no próprio governo para o ES? Um maior financiamento às instituições de ES. De que forma é que achas que isso poderia ser feito? O financiamento do ES é sem dúvida uma prioridade para a melhoria das condições do ES, do dia-a-dia dos estudantes. O dinheiro recentemente injetado nos bancos para cobrir a sua falência dava para pagar 37 anos de propinas.


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ILUSTRAÇÃO POR RAQUEL VINHAS

CINEMA PORTUGUÊS VOLTA A CAMINHAR POR COIMBRA Projeto pretende representar todos os estilos e ir ao encontro da totalidade dos potenciais públicos. Estilo híbrido vai ser adotado para esta e para as seguintes edições - POR RITA ESPASSANDIM -

O

Festival “Caminhos do Cinema Português” apresenta este ano a sua XXI edição, a decorrer em Coimbra, de 27 de novembro a 5 de dezembro. Os eventos do projeto decorrem, na sua maioria, no Teatro Académico de Gil Vicente, mas também no Conservatório de Música de Coimbra, como é o caso da sessão de abertura do festival. O diretor do festival organizado pelo Centro de Estudos Cinematográficos da Associação Académica de Coimbra (CEC/AAC), Vítor Ferreira, declara como objetivo principal “mostrar o cinema português numa perspetiva heterogénea e humorística”, passando “não só pelo cinema de autor, mas também pelo comercial”. Em espaços

como os Caminhos, “esses dois tipos de cinema podem conviver e ser avaliados”, explica. Essa avaliação parte de um painel de jurados, composto por sete “individualidades portuguesas reconhecidas”, que se quer “equilibrado, de forma a permitir uma discussão saudável”. Este ano, o projeto vai sofrer algumas mutações, como a “mudança do logótipo e nome, passando a assumir uma identidade híbrida entre os “Caminhos do Cinema Português” e a “Caminhos Films Festival”, afirma Vítor Ferreira. Estas alterações surgem “numa tentativa de internacionalizar o cinema português” que permita “aos criadores nacionais e ao público de Coimbra terem uma perspetiva sobre o que se está a fazer nas escolas de cinema a nível mundial”. Nesta XXIª edição, o projeto contou com 900 inscrições de escolas, um aumento significativo em relação aos outros anos. Vítor Ferreira afirma que, de seis usuais apresentações, este ano, o número aumenta para 12, com a entrada de filmes internacionais. O diretor declara ainda que não são apenas os números que aumentam, mas também o rigor na selecção cinematográfica, pois “se o número de inscritos do festival for maior, obriga a um processo de selecção mais rigoroso e obriga também que os filmes que entram na selecção final tenham muito mais qualidade”.

“Existem diferentes públicos para variados cinemas portugueses”, de diversas faixas etárias, o que também explica a pluralidade do nome “Caminhos”, como afirma o diretor. O próprio festival apresenta soluções para essa mesma diversidade de públicos. “De manhã, há o festival os Caminhos Juniores, para os mais pequenos”, seguido da seleção dos filmes consagrados, com “Caminhos”, e das escolhas “Ensaios”, destinadas ao público das escolas de cinema e estudantes de arte. Para terminar, há ainda uma preocupação de cativar o público mais velho, com um espaço designado “Caminhos Séniores”. O projeto engloba outras atividades, como um curso de cinema e um simpósio, que vão ser incorporadas consoante a adesão do público. O simpósio tem por objetivo “criar um espaço de discussão”, como afirma o diretor, e foi alargado, este ano, para uma perspetiva internacional. O mote é “voltar a juntar a comunidade científica portuguesa que se debruça sobre a investigação de cinema ou audiovisual com os próprios participantes do festival”. Com a meta de continuar a agradar os diferentes públicos, Vítor Ferreira espera que a XXI edição atraia “os espetadores para as atividades”. “Penso que os Caminhos do Cinema Português têm um certo nome e prestígio e, como tal, queremos continuar a apostar nesse valor e na cidade”, conclui.


18 DE NOVEMBRO DE 2015 CULTURA - 9-

SASUC E MUSEU JUNTAM-SE EM PROL DOS INVISUAIS Parceria quer tornar conteúdos culturais mais acessíveis, através da criação de novas peças inseridas num roteiro pelo museu - POR CAROLINA MARQUES -

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ecorreu, no dia 20 de outubro, a formalização de um protocolo entre os Serviços da Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) e o Museu Nacional Machado de Castro (MNMC) que pretende dinamizar o espaço do museu. Através deste protocolo, é feita uma adaptação da arte a portadores de deficiência visual, com implementação de objetos táteis e documentação e de transcrições para braille. A Associação de Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), que também faz parte do protocolo, afirma que este é mais um passo em frente na facilidade de acesso à cultura por parte dos invisuais. Esta parceria visa dar a conhecer a arte de uma forma mais acessível para “vários tipos de público”, como refere o presidente da delegação de Coimbra da ACAPO, José Caseiro. Deste role de ajustes, nasce um roteiro adaptado “com o apoio do Núcleo de Inte-

gração e Acolhimento (NIA)”, acrescenta Carlos Santos, técnico superior do Museu. O protocolo nasceu de uma visita realizada ao MNMC, há cerca de um ano, por utentes do NIA. Daí cresceu a vontade de “realizar alguns trabalhos que pudessem ser postos à disposição das pessoas com deficiência visual”, explica Joana Bronze Ferreira, técnica superior dos SASUC. José Caseiro garante desde já que o projeto vai ter um retorno positivo, pois “as pessoas gostam de perceber que a cultura e a arte se podem aproximar à nossa forma de ver, ou seja, ao tato”. “Produzir e criar materiais e espaços que possam ser fruídos com o menor número de limitações possível pelas pessoas com deficiência visual” torna-se o objetivo basilar deste projeto, acrescenta Joana Bronze Ferreira. O contacto deste tipo de público com a arte, o conhe-

cimento e a informação é também uma das prioridades da ACAPO. Por isso, para além desta parceria, a “associação tem também outros projetos, nomeadamente com o Museu de Santa Clara-a-Velha e com o Teatro Académico de Gil Vicente, mas também parcerias científicas com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra”, sublinha José Caseiro. Carlos Santos defende ainda que “é necessário que os museus e os outros organismos trabalhem para estas pessoas não ficarem esquecidas” e argumenta que a necessidade de manter este propósito vivo na memória é crucial. Também José Francisco Caseiro refere a importância da solidariedade para promover o contacto entre pessoas diferentes. Assim se permite a convergência de “vivências e testemunhos que contribuem para uma partilha de experiências mais enriquecedora”, conclui. Com Mariana Azevedo

BIENAL ESPALHA ARTE POR COIMBRA “Um lance de dados” é o título do evento, que pretende divulgar espaços tornados património mundial - POR RITA FLORES E VASCO SAMPAIO -

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s eventos da primeira edição da Bienal de Arte Contemporânea de Coimbra, sob o tema “Um lance de dados”, arrancaram a 31 de outubro e têm estado espalhados pela cidade. Esta organização, em parceria entre o Círculo de Artes Plásticas de Coimbra (CAPC), a Câmara Municipal (CMC) e a Universidade (UC), apresentou, até ao momento, eventos de cinema, música, arquitetura e exposições de arte contemporânea. Artistas e organizadores da Bienal destacam alguns eventos já realizados no programa. José António Bandeirinha, curador da exposição 700+25, refere-a como um conjunto de “arquitetura contemporânea feita pelos arquitetos mais qualificados do país”. Contribuíram para o sucesso do evento as “visitas guiadas, acompanhadas por estudantes de arquitetura”, que chamaram “mais pessoas”. O diretor do CAPC, Carlos Antunes, frisa que o evento surge como uma “resposta do CAPC à inscrição de Coimbra como Património da Humanidade”. Refere ainda que o evento pretende “trabalhar os espaços patrimoniais e dá-los a ver de uma forma menos previsível”. António Olaio, outro dos curadores da Bienal, refere a

“intervenção de Pedro Cabrita Reis na Sala da Cidade do Refeitório de Santa Cruz” como um bom exemplo do aproveitamento desses espaços. Para o curador, também “intervenções mais discretas” como a exposição de mobiliário na Faculdade de Letras da UC são um “sinal do carácter interventivo e da consciência de lugar” da atividade. Na opinião da vereadora da cultura da CMC, Carina Gomes, um evento desta dimensão, em parceria com outras entidades, “tem mais qualidade e diversidade, porque junta diferentes pontos de vista” e torna “a iniciativa ainda mais enriquecedora”. António Olaio pensa que isto se tem refletido na “extraordinária adesão” dos conimbricenses. “Em Coimbra há muito bom público que está interessado” neste tipo de iniciativa, conclui. A Bienal “Um lance de dados” continua até 29 de novembro. Para o próximo ano, as datas ainda estão por definir. Sobre futuras edições, a vereadora da cultura da CMC adianta desde já que a parceria “está encaminhada para daqui a dois anos”. “As três entidades querem manter o projeto e estão muito empenhadas nisso”, conclui Carina Gomes.

MAGALÍ ZASLABSKY


18 DE NOVEMBRO DE 2015 DESPORTO - 10 -

SECÇÃO DE CULTURA FÍSICA CONQUISTA 17 MEDALHAS D.R.

O Complexo Municipal de Ténis da Maia recebeu o Mundial de Powerlifting, que contou com a participação de vários atletas da AAC - POR CÁTIA CAVALEIRO E RAFAEL SOARES -

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edição deste ano do World Championship Powerlifting (WCP) decorreu de 9 a 14 de novembro. O evento foi organizado pela filial da World Powerlifting Congress (WPC) em Portugal, promotora de eventos da modalidade, que se dedica à formação e qualificação de atletas para as competições organizadas pela WCP. Ao longo dos seis dias de competição, a Secção de Cultura Física da Associação Académica de Coimbra (SCF/AAC) alcançou diversas vitórias. André Reis, Paulo Santos, Marisa Freitas, Hugo Batista, Rui Faria e Joaquim Morais conquistaram várias medalhas de ouro, prata e bronze. Já Nuno Alves e Renato Santos alcançaram a prata

e o bronze. O treinador da secção e atleta, Paulo Santos considera que “conseguiram ter todos boas prestações”. Joaquim Morais foi um dos destaques da equipa: concorreu na categoria de veterano, conquistou dois primeiros lugares, um segundo lugar e bateu três recordes do mundo. A obtenção destas medalhas foi “fruto de muito trabalho e dedicação”, garante o atleta, que conta já com “40 anos de prática da modalidade”. Segundo Sandro Eusébio, atleta e organizador do WCP, o ‘powerlifting’ consiste em “três movimentos: agachamento, ‘spin’ e peso morto”. “Há três tentativas para cada um deles e, entre elas, é validada a maior marca levantada”, clarifica o atleta. Para distinguir o vencedor é feita “uma soma do valor obtido nos três movimentos”, acrescenta. No primeiro dia do evento, o presidente da secção, António Gaspar da Silva, mostrava-se confiante e colocava a fasquia elevada. Para além de pretender mostrar que a SCF/AAC tem “uma grande equipa de competição”, os objetivos também passavam por conquistar “títulos de campeões em algumas categorias e recordes do mundo”. Em balanço final da competição o presidente da SCF/AAC afirma que não contava “obter tantos primeiros lugares”, mas sublinha a “boa forma física e excelentes condições psicológicas e morais” dos atletas participantes. O treinador da equipa da SCF/AAC, Paulo Santos, refere que a “prestação dos atletas foi muito positiva” e que “os objetivos foram alcançados”. Joaquim Morais chama ainda à atenção para a falta de jovens na secção e refere que uma maior participação pode “levar o nome da AAC cada vez mais longe”.

UC DESENVOLVE PROGRAMA DE NATAÇÃO VOLTADO PARA A TERCEIRA IDADE Projeto internacional tem como finalidade estudar as melhores abordagens para o ensino da modalidade na camada sénior, ao atender às suas caraterísticas POR FÁBIO LUCINDO

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Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da Universidade de Coimbra (FCDEFUC) juntou-se ao Life Long Swimming Project (LLSP), que conta com a participação de várias instituições internacionais. O principal objetivo do pro-

jeto é chamar a atenção para os benefícios da prática de natação por idosos, através do desenvolvimento de várias iniciativas. O LLPS integra-se no programa ERASMUS + e a UC é a única instituição de ensino portuguesa que integra o projeto. Luís Rama, coordenador do programa e docente na FCDEFUC, explica que o principal papel da instituição é “validar cientificamente as iniciativas” desenvolvidas pela organização desportiva. Trata-se de uma contribuição mais académica, que tem como suporte “uma equipa multidisciplinar que integra investigadores da área da sociologia, psicologia, desporto e atividade física”, acrescenta o coordenador. Através do ensino da natação e de atividades físicas como a hidroginástica, pretende-se colocar a população idosa em contato com a modalidade. Luís Rama refere que os programas educativos “são especialmente dedicados, preparados e adequados às condições físicas e motivacionais dos idosos”. O programa vai ser “aplicado por instrutores e professores de natação em todo o mundo”, sublinha o docente. A iniciativa desportiva partiu da Italian Swimming Federation, em conjunto com a Liga Europeia de Natação e outras federações de natação como a

espanhola. O programa ainda está em processo de desenvolvimento e vai ser apresentado em Portugal em 2016, num congresso nacional de técnicos de natação. O coordenador refere que “em cada país envolvido está prevista a realização de três ou quatro atividades até ao final do próximo ano”. As próximas atividades do LLPS incluem campanhas de conscientização, programas de ensino e treinos específicos para séniores, seminários para a capacitação e qualificação profissional e ainda ‘open days’ para promover os benefícios da natação. O coordenador espera que as atividades “sejam motivadoras e possam dar resposta às necessidades desta população”. Em todas as ações do projeto, “a segurança é a chave principal” porque “esta população tem que ter uma vigilância um pouco diferente”, remata Luís Rama. O docente sublinha ainda que esta parceria é de extrema importância para a universidade, porque as federações de natação “reconheceram à UC a respeitabilidade e o conhecimento para desenvolver o suporte científico e pedagógico para o projeto”. Além do ensino da modalidade em si, Luís Rama refere que se vão desenvolver “programas para aqueles que sabem nadar, com atividades motivantes”.


18 DE NOVEMBRO DE 2015 CIÊNCIA E TECNOLOGIA - 11 -

MAGALÍ ZASLABSKY

TOMA EXCESSIVA DE ANTIBIÓTICOS PODE CRIAR RESISTÊNCIA NAS BACTÉRIAS

A utilização indevida destes medicamentos é um problema para a saúde pública. Os antibióticos são muitas vezes utilizados para tratar gripes e constipações nas quais não vão surtir efeito - POR MARIANA AZEVEDO E SARA PINTO -

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omemora-se hoje, 18 de novembro, o dia europeu dos antibióticos. De acordo com um estudo publicado em 2011 na Revista de Medicina da Criança e do Adolescente da Sociedade Portuguesa de Pediatria, intitulado “International Study of Asthma and Allergies in Childhood”, “54% das crianças já tomaram antibióticos até ao primeiro ano de vida”. A resistência a estes medicamentos pode ser uma consequência do seu uso inadequado. O diretor do Serviço de Pediatria Médica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Jorge Saraiva, considera que é alarmante a “tendência para a utilização de antibióticos inapropriados”, dado que não trazem qualquer benefício para os doentes e “aumentam a possibilidade de casos de resistência, o que torna mais difícil o tratamento de infeções posteriores”. Segundo a docente e investigado-

ra do grupo de Biociências Clínicas e Aplicadas da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC), Olga Cardoso, é contraindicada a toma de antibióticos em casos de gripes ou constipações, uma vez que “são provocadas por vírus e não por bactérias” e, deste modo, não têm qualquer atuação nestas patologias. Estes medicamentos não atacam o vírus “porque não são antivíricos e são apenas dirigidos para bactérias”, explica a investigadora. Olga Cardoso aponta ainda para o problema das pessoas deixarem de tomar um antibiótico antes da duração estipulada. Em muitos casos, os indivíduos “começam a tomar o medicamento e quando, ao fim de dois dias, se sentem melhor, param o tratamento”. Como consequência, as bactérias não são todas eliminadas e criam mecanismos de resistência, o que significa que, numa futura infeção bacteriana, esse antibiótico não vai surtir nenhum efeito.

Crianças tomam mais antibióticos Quanto à toma do medicamento em idades precoces, Jorge Saraiva salienta que nas crianças “há uma utilização mais inapropriada dos antibióticos”. Tal como explica o médico, “as crianças têm infeções com mais frequência que os adultos e têm de ser tratadas com este tipo de medicação”. Por seu turno, Olga Cardoso frisa que “o consumo de antibióticos esporadicamente não vai ser um grande problema na vida da criança”. No que consta à prescrição, os antibióticos só podem ser receitados por um médico, pois, de acordo com Jorge Saraiva, “a escolha do medicamento mais apropriado é uma competência que estes profissionais devem desenvolver”. Olga Cardoso concorda com a prescrição médica, contudo acredita que “os farmacêuticos estão preparados para poderem dar alguma ajuda no caso de uma emergência”.

ESTUDO DOS MUÕES PARA A COMPREENSÃO DO HIDROGÉNIO Investigação permite obter informações sobre o comportamento do hidrogénio. A descoberta veio facilitar o desenvolvimento de tecnologia de uso quotidiano - POR RITA FLORES -

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oram apresentados resultados no estudo dos muões que permitem um conhecimento do comportamento microscópico do hidrogénio, difíceis de obter através da utilização de técnicas convencionais. O projeto surgiu da iniciativa de uma equipa de investigadores do Centro de Física da Universidade de Coimbra (UC) e contou com a colaboração da Texas Tech University e de dois centros de investigação, um de Berlim e outro de Inglaterra. O estudo foi publicado em agosto deste ano. A investigação apresenta informações relevantes para determinar o comportamento dos materiais quando o hidrogénio está presente, porque, apesar de ser um dos elementos mais abundantes na natureza, associa-se e faz ligações químicas muito facilmente, o que dificulta a compreensão do elemento. Como afirma o coordenador da equipa

da UC, Rui Vilão, a investigação consistiu numa “demonstração da possibilidade de estudar o hidrogénio através da analogia com o muão positivo”, que é apresentado como um eletrão pesado, mas com carga positiva tal como um protão. O coordenador afirma que para si o muão “é como o bisturi para o cirurgião”, contudo não se trata de um objeto de estudo, mas de uma ferramenta. Em relação às aplicações do estudo no quotidiano, não existe uma finalidade direta na sua execução tecnológica. Todavia, os resultados da pesquisa influenciam os materiais onde o hidrogénio é essencial para um possível funcionamento, como são exemplo os LED’s, feitos de nitreto de gálio (GaN), ou das células solares dos painéis voltaicos, feitas de silício amorfo (Si). A investigação foi financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnolo-

gia (FCT) e por fundos europeus que custeiam os centros internacionais de investigação. De acordo com a coordenadora do Gabinete de Comunicação da FCT, Ana Godinho, a entidade “apoiou o projeto através de um financiamento concedido no âmbito dos concursos anuais para projetos de investigação científica”. Nos concursos em questão, “as propostas são avaliadas por painéis constituídos por cientistas nacionais e estrangeiros, de reconhecido científico”, acrescenta a investigadora Ana Godinho. Apesar dos resultados obtidos, a equipa de investigação da UC perdeu entretanto o financiamento por parte da FCT, uma vez que ainda se encontra em discussão e apreciação a avaliação das unidades de investigação às quais foram atribuídos financiamentos neste último ano.


18 DE NOVEMBRO DE 2015

SOLTAS - 12 -

UM CORREDOR INQUIETO - POR CARLOS RODRIGUES - SECÇÃO DE ESCRITA E LEITURA DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

Fotografia por Paulo Abrantes / Secção de Fotografia da Associação Académica de Coimbra

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rrequieto, percorria os corredores do edifício. Algures, uma nota de fado perdia-se entre o dedilhar da guitarra que toca todas as melodias da lusa Atenas, saudade e nostalgia na mesma nota. Também oportunidade, mistério, aventura; a vaga da globalização que rebentava em espuma contra a perene porta férrea. Irrequieto, talvez já nervoso, imaginava um mundo melhor. A cada passo, as portas abriam-se e ficava um rasto de memórias feito. De nome, João José Cardoso. Das datas, 1959 – 2015. De espírito, aventureiro. De legado, a cultura. Os interesses centravam-se no património histórico e arquitectónico, na fotografia, no cinema, a música e a informação/jornalismo. Os diálogos prolixos alongavam-se nos finais de tarde no café Santa Cruz. Irrequieto no muito que quis e conseguiu conquistar, será recordado como um ser sereno, fonte de inspiração e (eterno) estudante de Coimbra, que mais nenhuma outra cidade conseguiu cativar. Dentro da nossa casa, deu vida aos seus interesses. Pertenceu a vários grupos fundadores que criaram Secções Culturais que ainda hoje perduram e nos permitem viver uma cidadania

mais activa: conhecer a técnica da Fotografia; saber analisar e construir uma peça jornalística, defender a causa ambiental; acima de tudo, porque é onde a sua alma se sente mais presente, trabalhar na Rádio Universidade de Coimbra. A propósito, Pedro Correia recordará para sempre a emissão feita a partir de um balão de ar quente: “Ele, que falava baixinho e mastigava as palavras, de microfone, auscultadores e umas maquinetas emissoras a tiracolo, a tentar falar acima do barulho produzido pelos queimadores do balão, num vôo rapidíssimo, sem mãos livres para se agarrar à barquinha, num dia com excesso de vento e turbulência, no limite da segurança (…).” Já José Manuel Diogo lhe ficará para sempre grato por ter evitado «dedicar» uma “vida a estudar foguetes, caixas de velocidade ou permutadores de calor” e ter permitido encontrar na Rádio um novo “sentido para a vida”. Na literatura, João José Cardoso é um nome indelével na promoção e divulgação das artes escritas. Inúmeros poetas foram pela sua mão e companhia (re)descobertos e lançados no mundo. Os seus amigos recordam-no pelo sentido de aventura, de descoberta e conquista. Os

seus livros sentem ainda o quente afago das suas mãos. Rapidamente aderiu às então novas tecnologias da informação e comunicação. O blogue, que viria a contar com trezentas visitas diárias, recebeu o nome de “aventar” e a última grande cruzada centrou-se na recente crise grega. Todo o mundo é composto de mudança, diria Camões, e João José Cardoso procurou assegurar-se que a cultura (as artes, as pessoas, as ideias e os sonhos) fosse parte dessa mudança. Em Coimbra, a cidade é dos doutores, da saudade e do fado; a Memória é de todos. Hoje, ele percorre outros corredores. A última de todas as portas abriu-se e ele seguiu o caminho sem retorno. Para trás, além das memórias, ficam as saudades, a inspiração e um abraço por dar. Como Eterno Estudante, saberemos que onde estiver, o João José Cardoso rapidamente encontrará forma de criar e divulgar a Cultura, esse pilar essencial da nossa existência, e de honrar o nome da Associação Académica de Coimbra, a sua casa, onde, pela sua mão, muitas Secções se encontram, hoje, abertas e dedicadas à construção de um Mundo melhor.


18 DE NOVEMBRO DE 2015 SOLTAS - 13 -

CRÓNICAS DO TRODA - ORXESTRA PITAGÓRICA -

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oimbra tem, como os experientes Doutores sabem e a mais recente manada de caloiros descobrirá a duras penas, um ritmo de vida peculiar comparável apenas ao que acontece no quarto de qualquer dos seus javardos semi-putos que nas festas se atiram desesperadamente às caloiras mais vulneráveis tal como mais tarde se atirarão a uma vaga num call-center com sucesso (na primeira situação, mas não na segunda). Após as matrículas e a sedução do “Reitor” João Luís (pelo menos tem idade para isso) e os catedráticos da Praxe com a grande história e irreverência desta Academia, começam os preliminares nas tascas, nos jantares e nas febradas de curso, preparando nossos fígados para o grande coito (ou pelo menos assim esperamos que tenha sido para os leitores): as noites da Latada onde, usando uma miríade de extenuantes técnicas, tentamos a sorte com qualquer caloira ou Doutora que encontremos na barraca do curso. Esta louca semana culmina no Cortejo da Latada, orgasmo de alegria em que tentamos sem sucesso manter-nos sóbrios até passarmos pelos nossos pais, disfarçamos os caloiros de acordo com nossos fetiches e numa trôpega marcha acabamos a festa com um banho Mondego tão revigorante como elucidativo pois nesse exacto momento lembramo-nos que temos avaliações para a semana e ainda não estudamos nada! E assim como depois do ato beijamos e abandonamos sorrateiramente nossa conquista, os estudantes metem as últimas fotos no Facebook e

ARQUIVO

desaparecem para enclausurar-se a focar. Sempre foi assim a Tradição até terem pregado a maior partida jamais feita à Academia: um suposto dilúvio adiou o Cortejo para véspera de frequências, estragando o que devia ser o pináculo da Latada ao tornar um prazer numa obrigação. Viram-se coisas insólitas nesse Domingo: caloiros recusando-se a beber por terem teste Segunda e Doutoras abocanhando vorazmente o nabo para poderem voltar aos estudos

e até se diz que a Pitagórica atuou sóbria no convívio nos Jardins. Enfim, os Imbecis Palermas do Meteorismo Acéfalo (IPMA) são ainda piores que o invejoso desmancha-prazeres que entra no teu quarto à procura dos seus fones quando estás na hora H para afinal lembrar-se que estavam na sala, acabando com todo ambiente e vontade e forçando-te a acabar o serviço apenas para não desapontar a menina.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

O BURRO E O BRUNO MATIAS

N

ão se sabe como chegou o animal ao fim do corso. Já o cortejo de Bruno Matias, com a duração de um ano e meio, aproxima-se agora do final. A voz deixa saudades mas a incerteza não: é a sala de estudo e a reestruturação do edifício, os telefones e o banco. E a dívida externa, também acaba com ele?

BA-CA-LHAU

O

ba-ca-lhau baixou, este ano, três euros o quilo. Os compradores da iguaria nem deram pela promoção no sítio do costume, até porque, agora que se aproxima a Consoada, perceberam que comprá-lo às postas ou inteiro é a mesma coisa. Tal como as pro-pi-nas.


18 DE NOVEMBRO DE 2015 ARTES FEITAS - 14 -

CINEMA Sicario De

Denis Villeneuve

Com

Emily Blunt Josh Broli Benicio del Toro

2015

Aquilo que se prefere ignorar - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

S

icario es un asesino a sueldo. Em espanhol é assim que o filme inicia. No México, o título da película significa ‘hitman’, assassino contratado. Na área desértica que domina o sul dos Estados Unidos e o norte do território mexicano, não há lei, a não ser a que cada um considera a sua. É este o cenário da obra do canadiano Denis Villeneuve, autor de uma filmografia que engloba títulos como ‘Incendies’, ‘Prisioners’ e ainda a adaptação de um romance de Saramago, ‘O Homem Duplicado’. O elenco conta com uma Emily Blunt cada vez mais à-vontade na sua faceta de ação (depois de um interessante ‘Edge of Tomorrow’), Josh Brolin e um igual a si próprio Benicio Del Toro.

A primeira cena do filme é o mote para o resto da história. Nas paredes de uma casa de uma cidade de subúrbio no Texas há um sem-número de corpos, o preço a pagar por uma guerra surda que se desenvolve em torno do tráfico de drogas. Daí, a trama arranca em torno de Blunt, uma agente do FBI com uma moral inquestionável, Brolin, um contratado do Departamento de Defesa, e Del Toro, o elemento mistério – caso a cor no ecrã fosse alternando, dir-se-ia que ‘Sicario’ teria passado a ‘Traffic’, de Soderbergh. Saltitando entre a fronteira e Juárez, a fotografia de Roger Deakins atinge o espectador como um tiro num colete à prova de bala, no

A violência domestica? A CANOA 27 a 29 de Novembro de 2015 sexta e sábado, 21h30 domingo, 16h00 1h40 > M/14 > 5 a 10 Euros

Em

Teatro da Cerca de S Bernardo

O

espetáculo “A Canoa” escrito e dirigido por Candido Pazò e encenado agora em parceria com a Escola da Noite, merece a sua atenção por diversos motivos. Além do texto engenhoso e da atuação precisamente densa do elenco, o tema da violência doméstica é abordado

que pode vir a ser um candidato a Óscar na categoria. Num filme onde o silêncio é criteriosamente gerido para se coadunar com a paisagem circundante, é a evolução das personagens e das suas lutas internas que sobressai, mais do que a violência implícita mas não expressa. O resto é uma espécie de aula prática sobre o funcionamento do equilíbrio precário de todo o sistema social dos países latinos. O papel americano é o de deixar no poder aquele que menos estragos fizer, numa luta contra o tráfico de estupefacientes que nunca terminará enquanto houver procura. Se lição há a tirar, é que nem tudo é o que parece e no fim sobrevive o mais apto e não o mais forte. Sem idealismos.

EM PALCO

- POR FÁBIO LUCINDO -

de maneira multiangular, colaborativa e, pasme-se, bem humorada. Sim, Pazò consegue fazer rir neste bem cuidado espetáculo. Os diversos ângulos narrativos proporcionam ao público momentos contemplativos, alternados com outros de cumplicidade ativa nos quais a plateia é convidada a compor partes cruciais dessa narrativa assumidamente brechtiana. A peça conta a história de Délio, construído por Ricardo Kalash, que no início não convence, porém, durante o seu tragicómico percurso das palavras como pedras, nos conduz à total empatia pela sua precariedade humana. Um homem decadente e

orgulhoso que não consegue lidar com certas ruturas normativas, sejam elas banais ou intimamente ligadas aos seus valores de género: pode uma canoa ocupar um espaço destinado a carros? Pode a sua esposa Rosa (Sofia Lobo), desocupar o espaço que lhe é imposto socialmente? Para Délio, claramente não. E a sua reação violenta ainda hoje é uma triste norma. Ao mesmo tempo, Gusmão, Lúcia e Suso (Miguel Magalhães Maria João Robalo e e Igor Lebreaud, respectivamente ) usam uma serra elétrica para construir uma delicada ponte afetiva, enquanto resolvem-se artística e espacialmente. Neles encontramos

uma certa leveza e apontamento de possibilidades da existência de outros padrões de afeto. Nada muito claro, nada muito explícito, nada apresentado de maneira simplista, outro mérito de Pazò. O teatro é a grande arte do encontro. As convenções estabelecidas entre atores e plateia, durante aquilo que chamamos espetáculo teatral, constituem um dos fenómenos humanos mais sublimes. É poesia viva. A Canoa consegue através de um mise en scène inteligente composto sobre um belo cenário iluminado com leveza, oferecer de forma precisa, entretenimento reflexivo em nível acima da média atual. Imperdível.


18 DE NOVEMBRO DE 2015 ARTES FEITAS - 15 -

MÚSICA O espírito livre de Ibrahim Maalouf - POR FILIPE FURTADO -

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Red & Black Light De

Ibrahim Maalouf

Editora

Mi’ster Productions

2015

os lados da França chega-nos um quente Red & Black Light, lançado no passado mês de outubro. Falamos de Ibrahim Maalouf, trompetista nascido no Líbano, que deixou a terra natal com a família pela nação francesa durante a Guerra Civil Libanesa, durante a década de 80. Acompanhado por Eric Legnini nas teclas e sintetizadores, Stéphane Galland na bateria e François Delporte na guitarra, nada é deixado ao acaso neste primeiro trabalho discográfico de Ibrahim para o ano de 2015 (lançou também Kalthoum). “Free Spirit”, primeira faixa do álbum, dá começo a esta viagem por Red & Black Light. As linhas melódicas são simples e repetitivas em nuances electro-pop. Seguimos para “Essentielles” onde o rock deixa carimbo. Não é de agora. Na procura da sua sonoridade idiossincrática, Maalouf tem trocado de formações e procurado criar o máximo de contraste entre os estilos que encontra pelo caminho, quer falemos do jazz; da música erudita que acompanhou grande período da sua infância, interpretando composições de

António Vivaldi, Henry Purcell, Tomaso Giovani Albinoni ou Johan Sebastian Bach. Ibrahim Maalouf tem as raízes árabes bem seguras no seu trompete e lança-as descomplexadamente em jeito de festa. A música deste libanês é para se dançar sem hesitações. A faixa “Elephant’s Tooth” é bem exemplo disso. Na faixa que dá nome ao álbum entramos no que pode ser o tema mais introspetivo ou, como é habitual nas suas atuações ao vivo, o momento de “oração colectiva universal”. Depois de “Escape” e “Improbable”, universos musicais com as suas próprias estações, ouvimos o quarteto apoderar-se de um clássico da música pop – Run The World (Girls), de Beyónce Knowles – tornando-o mais escuro, elevando a presença orquestral, adicionando novos ornamentos e novas dinâmicas da faixa até à última nota. Em “Red & Black Light” Maalouf está a ouvir, sintetizar, misturar tudo. Mas regressa sempre às raízes árabes elevando a mestria e o virtuosismo dessas linguagens. Para ouvir de início ao fim.

LIVRO Romance Zero - POR FILIPE FURTADO -

H

á autores cujo primeiro livro a ser lido deve ser escolhido criteriosamente, caso não se opte pela ordem cronológica, sob pena de não se voltar a pegar num dado escritor. Em Umberto Eco, esse livro inicial será ‘O Nome da Rosa’, de 1980, que dá posteriormente origem a um filme com Sean Connery e Christian Slater. Portanto, no que diz respeito à bibliografia do autor italiano, nunca começar por ‘Número Zero’. A obra, de 2014 (editada em Portugal, pela Gradiva, este ano), é uma espécie de manual muito abstracto sobre jornalismo cruzado com livro histórico e pseudo-romance. Começa com um jornal, criado como experiência de alguém endinheirado que quer ter acesso aos círculos mais restritos de poder. Caso resulte, tornar-se-á um diário e uma arma de chantagem por excelência. Afinal, conversa-se a páginas tantas, um bom jornalista sabe levar o leitor a partilhar a sua própria opinião e crença sobre determinado assunto. Todavia, ‘Amanhã’ nunca terá o seu

primeiro número. ‘Número Zero’ tem peculiaridades. Na edição portuguesa, diferentes fontes para determinadas linhas temporais (o início e o final do livro correspondem ao presente, desenlace da história), o que causa estranheza visual. Os ritmos divergem entre uma lentidão arrastada aquando da teoria central da trama – Mussolini não foi executado em 1945 – e o quotidiano acelerado dos dias na redação e da convergência amorosa do protagonista, Colonna, com uma redactora. O problema de Eco, nas pouco mais de 160 páginas, é ter escrito somente para conhecedores da geografia italiana e historiadores, tal é a forma como torna demasiado específicas as descrições em torno da hipótese sobre Mussolini. Para quem pensar que aprenderá algo sobre jornalismo, ficam dois apontamentos: um jornal precisa sempre de uma agenda e “não são as notícias que fazem o jornal, mas o jornal que faz as notícias” (p. 47). Assim como uma história não faz um livro.

Número Zero De

Umberto Eco

Editora Gradiva

2015


acabra JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

EDITORIAL Novo ano, novo jornal

P

arece resolução de primeiro de janeiro, mas é uma realidade. O Jornal A Cabra mudou o seu ‘design’, para um periódico mais sóbrio e minimalista. Sóbrio não é, no entanto, o adjetivo mais adequado para falar das novas parcerias do jornal, do seu espaço de opinião e de crítica artística. Efusivo, talvez. O jornal conta agora com quatro páginas de puro subjetivismo. As críticas vão desde livros a espetáculos de artes. Já a página de opinião conta com parcerias intersecções, mas também com o novíssimo obituário, onde a Cabra Coveira poderá enterrar o que bem lhe aprouver e quem considerar necessário. Uma tentativa de introduzir novidades ao nosso periódico e uma espécie de lufada de ar fresco, passando o cliché.

Eleições da AAC 2015

N

Novembro chega, as folhas das árvores caem, deviam surgir os candidatos à presidência da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC). Até ao final da entrega das candidaturas, a 12 de novembro, não se perspetivava um segundo candidato. Até já tinha um outro editorial preparado em que discorreria sobre a falta de participação no associativismo. Já tínhamos chegado a esse ponto nas secções. No entanto, um só candidato à DG seria inédito. Mas, afinal, à última da hora apareceu um segundo candidato. Continuam a ser poucos. Numa Academia em que a corrida à presidência da DG costuma ser forte e acérrima, sabe a pouco. Em termos de propostas concretas, ambos os candidatos urgem pela gratuitidade do Ensino Superior (ES). Abolir a propina é, desde há bastante tempo, uma bandeira prioritária nas listas candidatas à DG/AAC. No entanto, a solução dos candidatos para tal passa, maioritariamente, pela exigência de um maior

financiamento no ES. Essa não pode ser a única solução. É necessário que as propostas tenham em conta o contexto económico-social da atualidade. Uma abolição da propina de um momento para o outro não é fazível. Urge pensar-se num plano estratégico para a sua diminuição progressiva e perceber que outro tipo de financiamento podem ter as Instituições de ES. Os dois candidatos apresentam visões bastante diferentes daquilo que foi a AAC nos últimos anos. Enquanto João Carvalho apresenta a visão da insuficiência na luta pelos direitos dos estudantes, José Dias afirma que a casa está a tornar-se estável. Em que ficamos? Uma AAC que rompeu com o Movimento Associativo Nacional (MAN) mas que, segundo José Dias, continua a negociar com os governos e com ainda mais força, é também vista como uma instituição que cruzou os braços. Se tal aconteceu, ainda não se sabe. Mas quererão as restantes associações alinhar num novo MAN? Ficamos à espera.


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