Edição nº 253

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20 de novembro de 2012 • ano XXii • n.º 253 • QUinZenal GratUito diretora ana dUarte • editor-eXeCUtiva ana morais

Micro-conto

acabra

“romance Histórico” por Samuel Úria

Jornal Universitário de Coimbra

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AAC elege novos representantes para o próximo ano Pág. 2 a 6

bolSaS

reSSaca

turiSMo De coiMbra

Metade dos alunos já receberam resultado

As verdades do que todos dispensam

Empresa Municipal Setor Ferroviário extinta em Fevereiro reivindicativo

Época com resultados favoráveis

1030 estudantes da Universidade de Coimbra (UC) já receberam uma resposta positiva por parte dos Serviços de Ação Social da UC no que toca ao pedido de bolsas de estudo e já viram as suas prestações serem pagas. A maior celeridade no processo é explicada, principalmente com as facilidades da plataforma online DGES, como explica a administradora Regina Bento.

Se nunca sentiram já ouviram falar. Dores de cabeça, boca seca ou até náuseas: sintomas que qualquer um dispensa após uma noite de embriaguez. No entanto, há receitas, mitos que se julgam eficazes na atenuação da ressaca como o café, as gorduras e até a ideia de que “uma bebedeira se cura com outra”. Outro facto é que quando se está alcoolizado a facilidade com que se faz novos “amigos” é enorme. A que se deve tudo isto?

A Turismo de Coimbra deverá fechar portas até fevereiro de 2013. A extinção vem em resultado da promulgação da Lei 50/2012, de 31 de agosto, que prevê a extinção de empresas locais que não atinjam 50 por cento de receitas próprias. A empresa municipal, até aqui responsável pela promoção do turismo na cidade, irá dar lugar a uma divisão da Câmara Municipal de Coimbra.

O setor dos caminhos-de-ferro está a sofrer cortes desde 2010. Os trabalhadores ferroviários têm organizado sistematicamente greves. Essas ações de luta tem prejudicado os utilizadores e as empresas que viram as suas receitas diminuir com perdas de milhões de euros. O Governo não tem mostrado abertura para entrar em diálogo com os diversos sindicatos do setor.

Numa altura de mudança no seio da Associação Académica de Coimbra, os pelouros de Desporto Universitário e de Desporto avaliam os resultados das várias secções desportivas na época transata e traçam novas metas. Com a maioria dos objetivos propostos cumpridos, a época transata apresenta-se favorável.

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DeSPorto

greveS

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Mais informação em

acabra.net

Os estudantes do d’ARQ pedem mais massa crítica Pág. 12 e 13


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As três listas candidatas esperam pelo veredito da próxima semana Está tudo a postos para mais uma eleição para os corpos gerentes da Associação Académica de Coimbra (AAC). Mesmo estando já em período de campanha eleitoral, nota-se um resfriar no envolvimento face ao ano passado. Quatro dias de fim-de-semana em campanha podem interferir no processo. Por Liliana Cunha Stephanie Sayuri paixão

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aqui a uma semana, nos dias 26 e 27 de novembro, decidir-se-á mais uma vez o futuro da academia. Os corpos gerentes para a Associação Académica de Coimbra contam neste ano com três listas. A lista A “Alternativa És Tu!”, liderada por Alma Rivera, a lista L “liga-te mais”, lista de recandidatura do atual presidente da Direção-geral da AAC, Ricardo Morgado e a lista T “Transforma a AAC”, com uma nova cara na academia, Celina Vilas Boas - são as candidatas à liderança pelos desígnios da academia que comemora 125 anos. No que toca ao Conselho Fiscal (CF), as listas concorrentes não se alteram. Diogo Xavier é o representante pela lista A, para que cada vez mais este órgão independente “se possa abrir cada vez mais à opinião de todo o estudante que queira intervir no processo de gestão”, garante o cabeça da lista A. Já o candidato pela lista T, Igor Constantino, apela à máxima já muitas vezes aludida de mais transparência. Para isso, a sua lista conta com um projeto que inclui a vontade de ter um orçamento participativo por todos os sócios efetivos da AAC: “a associa-

ção é de toda a gente e toda a gente tem o direito de em cada momento saber quanto dinheiro se deixa em cada lado”. “Não devemos trabalhar sozinhos nesse aspeto e eles chutam para o Fiscal a responsabilidade”, lamenta o candidato pela lista L, Jorge Resende. A sua passagem pelo CF durante o presente mandato fez com que se apercebesse de uma série circunscrita de problemas – os quais ninguém levanta: há incumprimentos por parte das secções da casa que se verificaram. “Acho que o grande problema é o facto de algumas secções se encontrarem em incumprimento no que toca a entrega de contas e não se poder fazer muito em relação a isso”, relata Jorge Resende. Daí deriva o seu desejo em permanecer no CF, porque acha que há uma série de tomadas de conhecimento no terreno que quer ter oportunidade de analisar com mais cuidado: “há situações em que o nosso papel é fazer uma coisa e nós questionamo-nos se isso realmente é o melhor. Sobre a bondade do que está disposto em situações concretas é difícil às vezes tomar decisões, como alguns artigos que se encontram nos es-

tatutos”, remata.

Conotação com a lista para a DG/AAC Os primeiros dois concorrentes são resolutos pois sentem que o sentimento de pertença a uma lista que também concorre à mesa da Assembleia Magna e à presidência da DG/AAC é o que os caracteriza. Só Jorge Resende não pensa assim. Aceitou concorrer em nome da lista de recandidatura porque o atual presidente da DG/AAC, Ricardo Morgado, não colocou nenhuma limitação quanto à escolha de membros para a sua candidatura. Jorge Resende afirma que a sua “isenção nunca será posta em causa” e compartilha algumas coisas que se passaram com a DG/AAC que quer ver alteradas no próximo mandato se for eleito - “para falar com o advogado da AAC, para obter um parecer tenho que ter a autorização do presidente ou do vice-presidente. Não será uma limitação ao CF?”, deixa no ar o candidato. Diogo Xavier, da lista A, acredita que a sua lista subirá neste ano a sua representação e garante que vai “trabalhar lá dentro para que cada vez mais haja uma aproxima-

ção da direção-geral dos estudantes. Nem que para isso tenha que se achar necessário requerer a convocação de uma Assembleia Magna como está nos estatutos do Conselho Fiscal e da AAC”.

‘Plafond’ não cobre o universo de eleitores A administração da DG/AAC limitou o ‘plafond’ em menos 200 euros. A presidente da Comissão Eleitoral 2012 (CE), Ana Jorge, afirma que tal se deve à “época de crise” e porque não se pode “exigir muito mais”. O problema de que já uma lista se queixou é de que este orçamento poderá não servir para que os 22 mil estudantes da Universidade de Coimbra possam ter acesso nem que seja a um ‘flyer’ com as bandeiras de cada projeto. Ana Jorge acredita que, se a verba for devidamente canalizada, e se se “souber coordenar tudo, o mais importante acaba por ser comunicar com as pessoas, chegar às pessoas, conversar com elas, explicar-lhes as coisas”, adianta a presidente da CE. Ana Jorge crê que não haverá problemas de maior durante a campanha e que principalmente nos locais de voto os seus delega-

dos serão “da minha maior confiança, isentos e que não estão ligados a lado algum”.

Campanha sem gás e com quatro dias utéis O período de campanha eleitoral fica marcado por dois fatores. O primeiro prende-se com o facto de ainda não se sentir nenhuma movimentação por parte das listas no que toca à divulgação. E, para mais, esta quinta-feira, 22, está marcada uma grande ação de protesto promovida pela DG/AAC. Nesse dia não será permitida campanha, o que faz com que as listas já só tenham mais quatro dias úteis para se darem a conhecer. “Temos de nos unir. O facto de só haver quatro dias durante a semana, não faz diferença. Se o fim semana for bem aproveitado. Acho que é uma questão de direcionar a informação”, assume Ana Jorge. Terça-feira, dia 27, saber-se-á quem ficou com o destino da AAC.

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Entrevistas na íntegra em

cabra net Noite eleitoral em

cabra net


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LISTA A • “A ALTERNATIVA ÉS TU” • ALmA RIVERA

“As contas desta casa são um mistério” Liliana Cunha Ana Morais Não é a primeira vez que Alma Rivera, de 21 anos, concorre aos corpos gerentes para a Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC). A estudante de Direito é aliada ao movimento A Alternativa És Tu!. A candidata, natural dos Açores, tem como ponto assente que não há derrotismos, só opções. “Se o buraco do BPN não existisse, o Estado poderia pagar 26 anos de propinas para toda a rede de Ensino Superior (ES)”. Alma acredita que a lista A vale porque é um projeto sólido desde há quatro anos

precisaríamos de 660 euros. Para as listas que dependem exclusivamente deste ‘plafond’ e das contribuições de cada um dos seus elementos, é difícil. Isto vai lesar gravemente o processo democrático, manifestámos o nosso repúdio, mas fazemos questão de frisar que foi uma imposição da DG/AAC, não foi sujeito a votação. Tiveram a proposta de uma coligação com a lista T? Nunca tivemos à nossa frente um projeto que o coletivo pudesse analisar. Tivemos apenas uma proposta de juntar elementos, de juntar números e nós não funcionamos assim, não achamos que juntar por juntar seja o caminho. Nós somos pela unidade na ação, não pela unidade em

a democraticidade de acesso aos segundos e terceiros ciclos, faz todo o sentido acabar com Bolonha. As consequências não se alteraram, se calhar passou mais tempo e mais anos em que os dirigentes ficaram calados. Achamos que o Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior (RJIES) vai na linha de uma política de privatização. De passagem ao regime fundacional, de passagem progressiva à privatização das universidades, da elitização do ensino à transformação do Ensino Superior num negócio. Abre portas a ingerência de grupos financeiros que não têm nada que deliberar acerca das propinas e de outras decisões da máxima importância na universidade.

Face às propinas qual é a posição da lista A? Nós somos contra as propinas. Achamos e até é uma das palavras de ordem que é “as propinas são um muro e sem elas não há futuro”. As propinas fazem a triagem entre aqueles que efetivamente olham para aquele valor e podem pagá-lo, outros que são vítimas de execução fiscal e por outro lado aqueles que simplesmente nem podem aceder e pagar valores tao elevados de frequência e de propinas ao ES. E com uma ação social escolar reduzidíssima como aquela que temos é muito mais fácil nem sequer chegar ao ES. Podemos comprovar pelo número de candidaturas deste ano às universidades que decresceu de uma

Quais são as principais bandeiras apresentadas pela Lista A? Neste mandato pretendemos focarnos em vários eixos fundamentais. A questão do financiamento é uma das bandeiras que nunca esqueceremos. O segundo ponto refere-se à questão da Ação Social Escolar (ASE), porque os cortes no financiamento têm-se refletido na ASE: em 2010 tínhamos 91 mil bolsas atribuídas e em 2012 são 48 mil. Quanto à transparência, sabemos que as contas desta casa são um mistério, de problemas que se passam a nível de tesouraria e ninguém sabe muito bem o que se passa. Queremos valorizar também as secções culturais e desportivas e dos organismos autónomos. Seria um ótimo modo de trazer os estudantes à academia e de reativar o associativismo jovem. Defendemos a nossa academia, e isso significa garantir que o ensino seja público, democrático, de qualidade e gratuito para toda a gente e para isso precisamos de mais financiamento para que toda a gente efetivamente acesso ao Ensino Superior. Qual vai ser o financiamento da campanha? Vai ser complicado, porque na última reunião da Comissão Eleitoral foi imposta pela DG/AAC que as listas contassem apenas com 300 euros de ‘plafond’, 200 para a DG e 100 para o Conselho Fiscal. Fizemos contas, e para que cada estudante da Universidade de Coimbra (UC) tivesse acesso a apenas um documento, com ambos os órgãos, nós

atirar as pessoas para fora do ES, porque uma vez conseguindo entrar no mercado de trabalho ou mesmo os outros que não encontram nada que fazer, depois acabam por não ter as condições económicas perdendo tempo, perdendo dinheiro. E aqueles que podem, dão-se ao luxo de pagar 300 euros por cadeira. Isto põe-nos outra vez perante aquela situação em que isto na teoria parece igual, mas materialmente não. É mais uma vez diferenciação das pessoas. O que falhou na Assembleia Magna convocada pela Alternativa? Por um lado, pensamos que no essencial a competência é da Mesa da Assembleia Magna (AM), este trabalho não foi feito ao cúmulo de nem na página da AAC estar divulgada a data. Compreendemos que haja pessoas que pensam não ter sido a melhor altura, mas tínhamos de debater o mais rápido possível, e no panorama atual o trabalho de divulgação que deveria ter sido feito, podia ter garantido que mais estudantes estivessem presentes. Está estatutariamente consagrado que a marcação e a divulgação das AM está ao cargo da mesa. Também estávamos restringidos a um período de marcação, pelo que também não é culpa nossa. Que balanço fazes do mandato ministro Nuno Crato? A atuação do ministro é a do Governo. A educação não é uma despesa, não é um negócio, é um direito. Só podemos condenar um Governo que encara a educação e castiga os estudantes e o conhecimento. Numa altura em que o debate sobre o nosso país, sobre a sociedade portuguesa está mais aceso, não seria um ponto essencial um investimento no futuro. Não passaria por aí o nosso levantar do chão?

eleições. A unidade constrói-se, não se fala só em novembro. O que nos preocupa é ter um projeto sólido o suficiente para fazer essa efetiva mudança. Relativamente ao RJIES e ao processo de Bolonha, faz sentido ainda lutar contra estes sistemas? Enquanto o processo de Bolonha afetar os estudantes e a qualidade da sua formação, por outro lado, afetar

O que é que a lista A pensa quanto às receitas provenientes das propinas? Eu acho que não há inevitabilidades, há escolhas. São opções políticas. Os 80 milhões que serviram ao BPN davam para 26 anos sem propinas no ES. O que está por detrás do subfinanciamento do ES e da retração do estado nas suas funções, são as tais opções políticas. Precisamos de escolhas que sirvam as pessoas, porque o Estado somos todos.

forma abrupta. Nós defendemos a abolição da propina. Qual é a tua posição face ao regime de prescrições? Somos contra este regime de prescrições. Porque os estudantes, mais uma vez, não estão nas mesmas condições. Vamos ver o caso do estudante que não reuniu as condições necessárias e acaba por prescrever. Prescreve e depois fica sem se poder matricular um ano e isto acaba por

O que seria um bom resultado para a lista A? Um bom resultado traduz-se durante a campanha. Sentimos que aquilo que defendemos reflete as inspirações dos estudantes. Isso para nós já é um bom resultado. Claro que o resultado ideal seria ganhar estas eleições. Não só para a Alternativa, mas também para o ES e não só para os estudantes de Coimbra mas também para o panorama nacional.


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LISTA L • “LIgA-TE mAIS” • RIcARdo moRgAdo

“Poder ser lista única dá mais segurança” Inês Balreira Liliana Cunha Ricardo Morgado é de novo candidato à Direçãogeral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC). A Lista L (“Liga-te mais”) quer um segundo mandato mais agressivo e reconhece que no ano anterior grande parte dos seus 900 colaboradores no organigrama eram “rostos para encher o papel”. O ainda presidente, natural de Gouveia, tem 23 anos, estuda Engenharia Biomédica e é filiado na Juventude Social Democrática. O fim do seu mandato fica marcado pela expetativa de um protesto a larga escala e pelos rebates para com os movimentos estudantis da cidade

nada for feito? O valor da dívida vai ser apresentado no relatório de contas, mas é um número muito elevado. Se nada for feito, e as condições do país continuarem a viabilidade, talvez dois, três anos. As coisas têm mesmo de ser alteradas e não é só o combate à divida, nomeadamente na despesa. Há muita que pode ser cortada e que podemos renegociar. Pensas que consegues resolver o problema financeiro da AAC no próximo ano, caso sejas reeleito? Num ano é possível pôr as coisas a funcionar bem. Se o problema se vai resolver na perfeição e a aca-

diálogo de proximidade com os estudantes? Vamos investir menos em dinheiro e material de campanha, a conjuntura é outra e não nego. A diferença é que sou presidente da DG/AAC e isso é uma coisa que as pessoas avaliam para o bem e para o mal. Não vai ser intenso como o ano passado, o facto de eu poder ser lista única, ou listas fortes como normalmente acontece, e ser só uma, dá mais segurança. Se eu vou investir tanto como nos outros anos em que houve listas únicas, não. Querem alterar a estrutura? Vamos agregá-la e criar áreas. Teremos uma área política, onde ha-

O anterior organigrama da Lista L apresentava 900 colaboradores. Efetivamente, estes estudantes colaboraram ou foram rostos para encher o papel? A maior parte foi preencher o papel. Se foi para encher o papel porque é que eles são chamados de colaboradores? E não apoiantes? A questão é 900 pessoas disponíveis, à partida, para poderem colaborar com a equipa. Não minto ao dizer que muitas dessas pessoas que aceitaram estar ali por serem amigas de alguém que vai estar na lista e lhes é pedido para dar uma força extra.

O que te levou a recandidatar? As razões que me levaram a recandidatar são, sobretudo, duas. Uma de caracter político, outra de carácter interno. A nível político, este ano começámos a trabalhar de uma forma diferente a nossa ação política, em conjunto com os núcleos, e fomos tendo uma postura fortemente crítica e reivindicativa ao longo de uma série de ações, nomeadamente locais. A verdade é que a AAC, continua a ter um problema - há um fosso muito grande entre nós e os estudantes. Está em causa uma forma muito leviana por parte do governo. A juntar a isso o desemprego jovem, a emigração, o estado da juventude e o estado do país vai fazer com que a AAC tenha que ter uma postura muito mais agressiva. Podes concretizar essa tal postura agressiva? Para o ano é preciso bater o pé com mais força do que batemos este ano. Seja em Coimbra, seja em Lisboa, é preciso fazer isso, ao mesmo tempo que é preciso trabalhar e estarmos mais bem preparados a nível de política educativa. Quando falamos em problemas financeiros, falamos da sustentabilidade da AAC num prazo de quantos anos, se

questionar, talvez mais do que nos outros anos. Questionar o quê? Questionar a existência das propinas. Mas a AAC é explícita nisso. O que questiono sobre a propina é para que é que ela existe neste momento. Não estou a dizer que de hoje para amanhã, na situação em que estamos, a propina acabe. Mas acho que devia ser um objetivo do país, um governo que não pode pensar só na lógica de um ano e ter na sua mira um ensino gratuito. Nem que demoremos dez anos a lá chegar. Não tem de ser só uma questão financeira, tem de ser de atitude. Agora vale tudo? Queremos é que o governo assuma uma estratégia, se é ou não uma prioridade que o diga, nós estaremos cá para falar. Se Portugal tivesse uma estratégia para o ensino que nunca houve na educação, como todos sabemos, seria possível resolver a questão das propinas, mas sobretudo a questão do ES. Essa é a minha maior preocupação a nível político. Pensas que a atitude da DG/AAC na Magna foi uma atitude de respeito para com os estudantes? As Assembleias Magnas (AM) não se podem banalizar e ser tertúlias. Dias antes tive uma reunião com os movimentos, não diziam quando é que queriam marcar a AM, e ninguém foi capaz de dizer frontalmente- daqui a três dias vamos ter uma AM para o dia a seguir à Festa das Latas (FL). Se tivessem dito, as coisas iam fazer-se de outra forma. Não me venham com coisas. Marcou-se para aquele dia, para ter uma mobilização que se sabia que ia ser difícil e digam o que disserem, é um dia a seguir à FL, quando havia uma AM marcada pra o fim do mês.

démica vai ficar a dever zero a ninguém e a dar mais dinheiro às secções? Acho que isso não vai ser possível, mas deixar as bases corretas e de rigor é o meu principal objetivo. Quando as coisas não estão bem não as devemos esconder, mas devemos ser otimistas e encarar o problema de frente. Sentes que este ano vais ter de investir o mesmo que investiste o ano passado, nesse

verá uma pessoa mais vocacionada para as subáreas. Serve para fomentar o trabalho em equipa, porque o atual modelo, a uma certa altura, não é produtivo, e ter áreas faz com que as pessoas se sintam mais motivadas e cruzar mais informação, fazer mais coisas em conjunto. Vamos ter áreas novas de intervenção, mas não eliminamos competências, muito pelo contrário, até criamos.

Isto é tudo muito bonito mas as eleições também se têm que ganhar. Este ano não será o mesmo sistema. Quais vão ser as questões prioritárias para 2013 na política educativa? Ação social, financiamento, reestruturação da rede de Ensino Superior (ES). As propinas começam a estar outra vez no topo do debate e é algo que devemos continuar a

Qual vai ser o futuro do bar da AAC? Há muitos cenários em cima da mesa. Há um cenário em que se abre o concurso normal, o de a AAC poder ser exploradora do bar, o de a AAC poder estabelecer um contrato com a cervejeira de patrocínio que também inclua o bar. Os moldes vão ser públicos mas a decisão é competência da DG/AAC.


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LISTA T • “TrAnSformA A AAc” • ceLInA VILAS-boAS

“Não sou a favor de manifestações” Liliana Cunha Ana Duarte Celina Vilas-Boas é, pela primeira vez, candidata aos corpos gerentes da Associação Académica de Coimbra. Rosto desconhecido na academia, não tem qualquer experiência no associativismo. A concorrente da lista T - “Transa AAC” é forma apartidária ”de convicção” e fala mais vezes em nome próprio do que em nome do projeto. Estudante do terceiro ano de Psicologia, natural de Barcelos, tem apenas 20 anos. Confessa que tem receio de ganhar as eleições e lamenta que não haja uma lista conjunta entre movimentos

fende? Transformar o associativismo e tudo aquilo que tem a ver com isso. Não faz qualquer sentido fazer atos simbólicos com as 30 pessoas da DG/AAC. Sobre a divulgação das Assembleias Magnas (AM), queremos pôr os autocarros da AAC no Polo II e III, que acho que é uma coisa fundamental e que não faz sentido nenhum isso não estar já a funcionar. Outra coisa que é importante para nós é chamar a atenção para o papel da mulher no associativismo. Por isso, também tentamos que a lista apresente um equilíbrio nesse sentido, termos o mesmo número de homens e mulheres em lugares de destaque. A verdade é que nunca tivemos uma

pagam as propinas e depois, pagar o alojamento e a alimentação, é o desenrasquem-se. Mas a vice-reitoria tem mulheres em cargos importantes. Se me mostrares a cara das vicereitoras provavelmente não as vou reconhecer. Achas que houve uma tentativa de divisão para com a lista A? Houve um contacto direto com a lista do movimento A Alternativa És Tu!. Está a ser gasta energia que podia ser usada para o mesmo porque temos ideias muito parecidas. É pena estarmos a lutar uns contra

AM, achava espetacular. Aquilo é um discurso bonito mas na prática não acontece. Estou à espera do dia 22. As tais opiniões divergentes gostavam de juntar-se a isto e poder ajudar, até porque se queixam sempre que têm muito trabalho, estamos sempre a oferecer ajuda e nunca ninguém quer. Não lhes ia estragar nada, juro, não era para isso. Acho mal que seja, mais uma vez, uma coisa decidida à porta fechada. Sobre o processo de Bolonha e Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior. O que fariam para os conseguirem revogar? É um ano. Não sei se teríamos

Qual é o balanço que fazes do mandato do ministro Nuno Crato? Sinceramente, quando surgiu o nome dele tinha lido meia dúzia de textos do homem e achava que tinha a cabeça virada para o sítio certo. Entretanto, começou a falar sobre reduzir os cursos de humanidades e aumentar as áreas das matemáticas e fiquei tipo “não percebo”. Já não chega ter os bancos com voto no Senado, também estamos a virar os cursos para o mercado de trabalho? Se eu quiser tirar um curso por interesse pessoal não posso.

O que motivou esta candidatura à Direção-geral da Associação Académica de Coimbra? Não estava nada à espera de ser o rosto da lista. Quando surgiu a plataforma “Universidade contra a Austeridade”, fui às primeiras reuniões e surgiu a discussão se iríamos ou não fazer uma lista para as eleições. Infelizmente, na reunião em que decidiram se iam ou não fazer lista, só pude estar um bocadinho e vim-me embora antes de isso se decidir. Fui um bocado naquela “vou, há dois ou três pelouros que acho interessantes, se calhar posso ficar num pelouro qualquer”. Só que depois propuseram o meu nome [para presidente]. No início achei engraçado, “pronto, está bem, estão-se a passar um bocado”. Depois, quando a coisa se começou a tornar um bocado mais séria, comecei a ficar nervosa com o assunto. O grupo achou que fazia sentido estar eu nesta posição. Foi tudo proposto. Quanto ao ‘slogan’ da vossa lista, o que é que vocês querem dizer com isto? Além desse ‘slogan’, que foi criado por causa da letra [T], acho que a frase forte da nossa candidatura é “Da palavra à ação, a Academia aos estudantes”, e o transformar passa um bocado por aí, mudar a Academia neste sentido. Quais são as principais bandeiras que a vossa lista de-

Será que as manifestações são a única forma de combate? Não serão a única forma de mudar as coisas. Acho que é muito menos produtivo discutir estas questões na lista com 30 e tal pessoas do que alguma vez será discuti-la numa AM participada. Acho que a ideia que sai de uma discussão entre estudantes é muito mais rica e consequente. Se calhar a manifestação que propuseram em Lisboa podia ter mais ação – eu, pessoalmente, não sou a favor de manifestações. Não temos de tomar decisões sozinhos. Acho que deve dar um trabalhão enorme fazer parte da DG/AAC. Há coisas que só vamos perceber que temos de fazer quando ganharmos e depois teremos de jogar com o baralho.

E quanto ao mandato do reitor João Gabriel Silva, qual é a avaliação que fazes? Isso é chato porque até gosto do homem. É daquelas pessoas que sabes que tem este defeito, mas não consegues não gostar dele.

reitora. Temos oito faculdades, só temos duas diretoras, é um desequilíbrio muito grande. Não faz sentido apregoarmos a Universidade de Coimbra (UC) como muito democrática, quando, na verdade, os acessos para as mulheres não são iguais aos dos homens. Há uma série de taxas que são cobradas aos estudantes bolseiros que não fazem sentido, como a questão das propinas. Os estudantes bolseiros, quando recebem a bolsa,

os outros, quando não era de todo o que queríamos. Afirmam-se contra certas diretrizes da DG/AAC. Acham que não têm feito o suficiente? Não acho que há uma rutura tão grande assim da lista deles para a lista anterior. Acho que há uma diferença. O presidente, Ricardo Morgado, tem um discurso que eu ouço e, se não estivesse a par das

tempo para chegar aí, mas mais uma vez o objetivo seria sempre trazer essa discussão à mesa. Eu não tenho dúvidas de que os estudantes que entram este ano tenham noção de que o processo de Bolonha é uma coisa pela qual possam lutar contra. A nossa lista tem muito esta ideia de criar plenários de discussão sobre uma série de questões que os estudantes deixam de lado nos núcleos, nas faculdades, enfim, onde quer que seja.

O que é para ti um bom resultado eleitoral? Por um lado, tenho esperança de que os estudantes estejam mais conscientes do que a adesão às AM diz. Por outro, acho que a lista de continuidade também vai fazer um jogo inteligente. Vão mobilizar pessoas para o dia 22, mas diga-se que é extremamente conveniente ter a expressão da força estudantil uma semana antes das eleições. Nenhuma lista pode fazer campanha. Não acho justo. Adorava que ganhássemos porque acredito muito no projeto mas tenho imenso medo.


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Relato até à eleição do novo presidente a cobertura mediática de umas eleições tem sempre muito que falar. Histórias, análises temporais e realidades próprias de um microcosmos como o da aaC lembram-se para que os que estão de fora tenham uma perceção de como é acompanhar uma escolha que envolve toda a academia. Por Liliana Cunha

“J

á sabem dizer quem é que está à frente? A Cabra, a RUC e a TV dizem que nós vamos atrás dos outros, portanto temos que trabalhar mais”, cita em discurso direto, um constante interveniente na cobertura das campanhas eleitorais realizadas pela Televisão da Associação Académica de Coimbra (TV/AAC), Ricardo Abrantes. A réplica dada pelos órgãos de comunicação da casa era, e ainda continua a ser, da mais extrema importância para quem está por dentro das listas. Bem como o eco que as projeções obtêm muito antes do resultado oficial sair. A TV/AAC, em particular, só começou a acompanhar o alvoroço das eleições para os corpos gerentes da AAC no ano de 2008/2009, onde emitia para o circuito interno e apenas se limitava às entrevistas aos candidatos. Os meios eram insuficientes. Pela Rádio Universidade de Coimbra (RUC), o fervilhar é logo no anúncio à meia-noite de quem poderia ganhar o lugar na representação da maior académica do país. A diretora de informação de há dois anos, Lígia Anjos, garante que era impossível “estar perto do telefone entre um quarto para as 00h e a 00h15 porque era bombardeado de mensagens e chamadas dos candidatos, amigos dos candidatos, e primos dos candidatos, para saberem o resultado”. A singularidade da cobertura das sucessivas campanhas eleitorais não tem sofrido alterações. Todos admitem que é dos momentos chave para a repercussão que os órgãos de comunicação da AAC têm para mostrar o que valem de dentro para fora e que todos se entusiasmam à volta do processo: “lembro-me dos blogues e grupos onde se falava mal. Possivelmente era sempre alguém de dentro. E havia tricas, contava-se tudo nos comentários, era espetacular. Metade era mentira”, recorda um dos editores de Ensino Superior do Jornal Universitário de Coimbra, - A Cabra, Pedro Crisóstomo. Por lá, na edição impressa, era ponto assente que todos os candidatos teriam uma entrevista sobre alguns pontos essenciais dos problemas que afetam os estudantes e também sobre o que podiam dar de novo à academia. “Tínhamos o plenário à quarta, e no fim juntávamo-nos todos para fazer o guião, havia perguntas que tinham de ser feitas a todos e depois cada um preparava a entrevista por si”, recorda Pedro Crisóstomo, editor do ano de 2007/2008. Uma das perguntas mais rebatidas era se o candidato tinha filiação partidária e “eles diziam sempre a verdade”, garante o editor.

STephanie Sayuri paixão

mais alarve: “a cidade estava toda coberta de branco e de preto por causa dos cartazes, e a Padre António Vieira tinha para aí uns cem cartazes. Depois era tudo uns por cima dos outros. Mais tarde, arrancavam os cartazes uns dos outros”, recorda com entusiasmo. O tumulto do ano passado deu lugar a uma acalmia para mais um ano de DG/AAC. “Desde que foi a disputa de segunda volta com o Jorge Serrote e com o Alexandre Leal, o ciclo inverteu-se um bocado”, garante Rita Matos. O ciclo a que se refere marca o ano de transição para o regime de Bolonha e para uma temporada muito precoce no Ensino Superior: “vejo movimentos, vejo reuniões mas não vejo as campanhas que se viam há cinco anos atrás. Eram realmente renhidas e havia campanhas durante os dias todos e imaginários”, atesta Lígia Anjos.

Bolonha inverte a preparação

Todos os anos os órgãos de comunicação da academia fazem a cobertura das eleições de forma singular

Falta uma semana para as eleições Cinco anos passados, nada parece ter mudado no jornal. Mas há uma certeza. Esta coisa das candidaturas é cíclica – “num ano forte de eleições, onde havia uma campanha brutal de duas listas fortes, no ano a seguir era muito fraco”, reflete a responsável pela cobertura da TV/AAC em 2010, Rita Matos. Também

nesse ano já estavam dadas as condições para a noite ser emitida em ‘streaming’ pelo circuito interno em pleno até a contagem nos Grelhados terminar. Catarina Rodrigues, que liderou a RUC pelo ano de 2008/2009, também anui face a uma campanha mais apagada quando há notícia de uma recandidatura do atual presidente da Direção-geral da Associação Académica

de Coimbra (DG/AAC). “É sempre assim. Geralmente era um ano muito bom com cinco listas, depois são três, depois voltam as cinco. Isso acontecia sempre”, assume Catarina, que já se movimenta pelos corredores desde 2005. “Ah, não se vê nada. É recandidatura”, analisa Pedro Crisóstomo. Remontando a anos passados, a quantidade de informação era bem

“Os estudantes estão menos tempo na academia. No primeiro ano não sabem que a AAC existe, quando estão a conhecê-la estão a ir-se embora”, reconhece Rita Matos. Bolonha não facilitou o processo, a luta pelo poder é sempre desejada, bem como as reuniões e os cafés de preparação de cada candidato. No entanto, nota-se “uma impreparação que não existia. É a única comparação que consigo fazer”, atenta a editora de Ensino Superior do Jornal A Cabra do ano de 2008/2009, Cláudia Teixeira. No início da década quem assumia o papel de candidato eram pessoas que estavam no sétimo ou oitavo ano por razões várias. “O ano da invasão ao Senado [2004] foi extraordinário. Não vejo nada minimamente parecido. E é tudo isso que dá calo, que prepara as pessoas para aquilo que vão assumir”, assegura Cláudia Teixeira. Entre o cacique verificado à boca da urna com raparigas com decote em v para aludir à lista com o mesmo nome, entre três diretos que pareciam vindos de locais diferentes mas não o eram porque não havia meios, e um candidato que na verdade queria era ser presidente do Sport Lisboa e Benfica, as histórias destes que trazem os meandros dos detalhes de um microcosmos multiplicam-se. Fica uma certeza: “gosto é da chegada deles aqui. Parece que estão a ocupar uma casa nova”, revela Pedro Crisóstomo. Cláudia, que esteve do outro lado acredita “que em princípio, os eleitos sabem o que os pode esperar, mas é sempre um choque”. A história da cobertura mediática repete-se todos os anos. Subsiste saber qual o desfecho de mais uma.


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enSino SUperior Bolsas de estudo

1030 estudantes já têm bolsa paga Stephanie Sayuri paixão

Ao contrário do cenário do ano transato, neste ano letivo, cerca de metade dos estudantes que recorreram aos SASUC para pedir a sua bolsa já obtiveram uma resposta

mos de Segurança Social e de Finanças, explica a administradora. Por sua vez, as respostas negativas devem-se na sua maioria ao excedente de capitação, bem como ao aproveitamento escolar e à situação tributária não regularizada. Questionada sobre a possibilidade de mais estudantes abandonarem o ES, este ano letivo, Regina Bento responde: “temos tentado acorrer às situações mais prementes mas também temos consciência de que nem todas nos chegam”. A administradora dos SASUC faz, desta feita, um apelo aos estudantes para que contem a sua situação de dificuldade aos serviços. “Por vezes, a solução pode não estar em nós mas fazemos parte de uma rede de apoio social e podemos encaminhar para outras instituições”, explicita Regina Bento.

Ana Morais Entraram este ano letivo 2012/2013, 5100 candidaturas a bolsa de estudo nos Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), segundos dados recolhidos a 15 de novembro. Deste total, cerca de metade (2300) já foram despachadas, e metade já tiveram decisão final. Segundo a administradora dos SASUC, Regina Bento, o que explica esta maior celeridade na resposta às bolsas de estudo foi “o aperfeiçoamento na plataforma informática [da Direção Geral de Ensino Superior (DGES)] que fez com que se agilizassem os processos”. Segundo o Regulamento de Atribuição de Bolsas de Estudo a Estudantes do Ensino Superior 2012-2013, este é um regulamento que “mantém, na generalidade, as soluções acolhidas no regulamento do ano transato, embora o resultado da experiência da sua aplicação e os diversos contributos recebidos (…) visam, sobretudo, assegurar uma maior celeridade na decisão e pagamento das bolsas de estudo” aos estudantes que satisfaçam os requisitos legais e a possibilidade de, mesmo esgotado o prazo normal, um estudante poder candidatar -se aos apoios que o Estado

Alterações no regulamento deste ano letivo

Como é habitual da parte dos estudantes portugueses a entrega das candidaturas é feita em cima da hora atribui. Nesse sentido, 1500 alunos já receberam uma resposta positiva por parte dos SASUC. Tal não acontecia no ano letivo anterior, visto que em período homólogo, estavam apenas atribuídas cerca de 150 bolsas na UC. Está desta forma mostrada a celeridade que

tem caracterizado o processo este ano. Regina Bento faz ainda questão de acrescentar o número referente aos estudantes que já viram a sua bolsa paga: 1030.

Quem recebe uma resposta negativa Os processos dos estudantes que

ainda não receberam uma resposta final prendem-se, segundo Regina Bento, com a ausência de documentos: “a maioria dos processos que estão por atribuir estão pendentes porque lhes falta qualquer coisa”. Desde informação académica até informações relativas à situação contributiva em ter-

testeMunHos de estudantes daniel Madeira estudos artístiCos

PatríCia Ferreira línguas Modernas

FiliPa santos Biologia

Paulo Castro arqueologia e História

Fiz a candidatura em julho, entretanto pediram-me mais documentos em setembro. e continuo à espera. o ano passado tive bolsa entre o valor da mínima e da máxima. a bolsa é para eu pagar a renda, e depois a partir daí consigo um pouco mais para despesas e uma pequena parte para propinas. o mais complicado no es são as propinas, o resto consegue-se gerir bem. espero que a resposta esteja para breve, não quero estar à esperar uma série de meses. o ano passado, no segundo semestre houve atrasos e foi absurdo. Com a plataforma da dges foi muito mais fácil do que ter que ir para uma secretaria, para uma fila com documentos.

Candidatei-me em julho ou setembro e estou à espera ainda da resposta. Mas em princípio vai ser indeferido devido ao aproveitamento escolar: precisava de ter feito 60 por cento das cadeiras a que estava inscrita, e por uma cadeira, não consegui atingir o valor. Por uma cadeira, em princípio, perdi a bolsa. Mas acho que foi uma boa medida porque os estudantes também têm que perceber que estão a ser ajudados e esforçar-se minimamente. só que é um bocado complicado. Por uma cadeira vou perder a bolsa e vai ser muito mais complicado, tenho que fazer um esforço muito maior, até já estou à procura de um ‘part-time’.

Candidatei-me no final de julho, e depois tive que esperar até ao início de outubro. o ano passado não tive bolsa por causa dos créditos, mas já tinha tido. Com a plataforma da dges foi fácil, foi só completar o que faltava do ano passado, o que foi mínimo. Facilitou todo o processo e tive a resposta positiva em outubro, a da bolsa mínima. a maioria dos meus colegas ainda não teve resposta, ainda estão à espera. Já estamos em novembro, vão começar as primeiras prestações de propinas e vai começar a ser puxado. e isso pode ser um entrave a alguns alunos que, sem condições, vão ter que abandonar o es.

estou no segundo ano de licenciatura e no primeiro recebi bolsa mínima. este ano perdi a bolsa porque sou trabalhadorestudante e apresentei os rendimentos de 2011, ano em que estive a trabalhar a ‘full-time’ e só depois mudei. Como tinha rendimentos superiores àqueles que estipulavam recusaram-me a bolsa. a bolsa sempre ajudava a pagar as propinas. Com cerca de 300 euros por mês terei que pagar a alimentação, parte da renda de casa e ainda juntar dinheiro para pagar as propinas. Mas, pelo menos, foi um processo bastante mais célere: num mês e meio, recebi logo a resposta. o ano passado recebi a resposta apenas em maio.

As melhorias introduzidas no novo regulamento deste ano letivo prendem-se sobretudo com ajustes na plataforma online da DGES, onde “cada instituição de ES mantém disponível no seu sítio da internet informação atualizada sobre os requerimentos de bolsa de estudo e respetivos pagamentos”, bem como a divulgação da “informação idêntica à referida no número anterior para a totalidade do sistema de ES” – pode ler-se na plataforma da DGES. O número de créditos escolares exigidos para o acesso à bolsa aumentou para 60 por cento. O que “faz sentido” para Regina Bento, já que este é um apoio do Estado. Ao considerar que “a bolsa é um contributo para o estudo”, Regina Bento encara este fator como “mais justo do que indeferir bolsas por dívidas do agregado familiar à Segurança Social ou às Finanças”, visto que o aproveitamento depende “diretamente do aluno”. O aumento do prazo de candidatura foi também alargado de forma a facilitar todo o processo e agilizar a ajuda aos estudantes. Contudo, a grande novidade no que concerne a prazos dá-se com a extensão da candidatura ao longo do ano letivo. Como explica a administradora, “este ano o processo está sempre aberto”, o que é importante para as situações de estudantes que veem a sua situação alterada ao longo do ano. O Jornal A CABRA contactou a DGES e o Ministério da Educação e Ciência e estes recusaram-se a responder, remetendo mais explicações para a plataforma online. No entanto, há quem faça questão de deixar o seu testemunho: estudantes dependentes das suas bolsas.


8 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

CULTUrA

XIX Caminhos cá com menos audiência

Stephanie Sayuri paixão

cultura por 20 NOV

"o LAço brAnCo" CineMa aMsCav 21H30 1€ C/desContos

21 NOV

norberTo Lobo MúsiCa tavgv • 21H30 7,5€ C/desContos

21 a 1 NOV

DEZ

“MiM - My inner Mind teatro Centro de neuroCiênCias e BioLogia CeLuLar 21H30 • 10€ C/desContos

22 NOV

JoSé dUArTe Conversa Conservatório de MúsiCa 21H30• entrada Livre

22 e 26 NOV

“operAção oUTono” CineMa tagv • 21H30 4€ C/desContos

24 NOV

Gobi beAr MúsiCa aqui Base tango 23H30 • entrada Livre

27 NOV

“SALVAdor Ao ViVo” stand-up CoMedy tagv • 21H30 10€ C/desContos

28 NOV

ShAkeSpeAre no CineMA

29

CineMa Casa das CaLdeiras 18H30 e 21H30 entrada Livre

NOV

ÓSCAr e A SenhorA Cor-de-roSA

“Florbela”, “A nossa Forma de Viver” e “A vingança de uma Mulher” foram os filmes que arrecadaram mais galardões na XiX edição do único festival dedicado exclusivamente ao cinema português. por Filipe Furtado

C

hega ao fim mais uma edição do Festival Caminhos do Cinema Português. Este ano a presença de público nas salas sofreu uma retração, dada a conjuntura económica, que põe em causa a própria realização do vigésimo festival. Numa noite de muitos prémios, Fernando Alvim e Filomena Cautela constituíram a dupla de apresentação da sessão de encerramento da XIX edição do Festival Caminhos do Cinema Português, acompanhados pela “Big Band” de Rags da Tuna Académica da Universidade de Coimbra, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV). “Florbela”, de Vicente Alves do Ó, foi sem dúvida o grande vencedor do Caminhos, com quatro galardões: melhor longa-metragem, melhor atriz, melhor caraterização e melhor som. Pedro Filipe Marques venceu em três categorias, a de melhor realizador, o grande prémio do festival e ainda o prémio Dom Quijote, atribuído pelo FICC|IFFC, com o filme “A Nossa Forma de Viver”. “A Vingança de Uma Mulher”, de Rita Azevedo Gomes, arrecadou também três prémios, a Melhor Fotografia, o Melhor Guarda-Roupa e a Melhor Direção Artística. O favorito do público foi o trabalho de Francisco Manso e João Correa sobre a figura histórica que salvou milhares de judeus do Holocausto: “Aristides de Sousa Mendes – o Cônsul de Bordéus”. O diretor do Festival, Vítor Ferreira, no discurso de abertura lança críticas a um comentário que encontrou a circular nas redes sociais, e citou-o: “o Festival Caminhos do Cinema Português é uma originalidade coimbrã que a nomenclatura cultural lisboeta despreza e que o público ci-

néfilo local tolera, mas não vê.” O diretor responde, defendendo que a organização do festival não se revê “nestes estereótipos culturais e mentalidades”, e pretende percorrer um caminho com o cinema português, garantindo o acesso a quem não quer ver, e abrindo os olhos de quem não quer ver. Vítor Ferreira termina o discurso a defender que “chegou a altura de deixar de subalternizar a nossa cultural em geral e o cinema em particular”. A atriz Dalila Carmo ressalva a importância de lembrar ao público o trabalho que os atores, produtores, realizadores e todos aqueles que estão envolvidos na sétima arte, e que “fazem cinema com pouquíssimos recursos”. Sobre o papel que lhe valeu o prémio de melhor atriz, Dalila fala de um longo processo de envolvência com toda a densidade psicológica da poetisa Florbela Espanca. Os dois anos de preparação permitiram-lhe “fazer uma apropriação muito gradual”, resultado também de leituras feitas por outros, que se revelam sempre “muito subjetivas”. Por fim, a atriz refere que “temos que nos entregar, pois o trabalho não pode correr o risco de ser excessivamente racional”.

Portugal dentro de casa “A Nossa Forma de Vida” tinha como objetivo retratar Portugal dentro de casa. O público, na opinião do realizador, revelou que as pessoas gostaram de ver o filme, “sem medo de ser português”. O filme somou peças ao longo de várias fases. Começou em 2008, em 2010 parou quando o avô adoecera, para finalmente finalizar em 2011. Pedro Filipe Marques queria um filme no qual só se pressen-

Filomena Cautela e Fernando Alvim apresentaram a cerimónia tisse a sua presença através da objetiva, enquanto filmava os seus avós: únicas personagens da longa-metragem. O realizador descodificava cautelosamente os momentos mais espontâneos e procurava ver como o casal junto há 60 anos funcionava, de manhã até à noite. O neto descobriu muito sobre os seus avós, mas acima de tudo conheceu-se a si mesmo ao longo do processo. No estrangeiro o filme não perdeu a força apesar da portugalidade do casal. Esse modo de ser português tinha tantas coisas incluídas que o resultado final não ficou limitado. Pedro Filipe Marques partilha que “estava receoso que o filme fosse mal compreendido”. “Queria um filme para rir com eles [os avós] e não para rir deles”, finaliza o realizador premiado. O estudante de Desporto e Lazer, Rui Barbosa, destaca o “Complexo – Universo Paralelo”, de Mário Patrocínio e a flexibilidade dos horários para a comunidade estudantil conseguir assistir às sessões. Por sua vez, a estudante de Línguas Modernas, Rafaela Caldeirinha, considera a presença de filmes como “Balas e Bolinhos” ou “Morangos com Açúcar” descontextualizados do Festival.

O diretor do festival define-o numa abordagem eclética, sem discriminar o seu entre filmes de autor ou fitas mais comerciais e explica a pouca audiência no filme dos Morangos, a título de exemplo, “porque talvez tenha esgotado em sala e demonstrado depois pouco interesse a um público de festival e a um público de não festival que se inibe de ver filmes em contexto de festival”, analisa Vítor Ferreira. Para a vigésima edição, a única confirmação até agora é a pré-marcação de datas no TAGV. “Neste momento não há garantia de apoio de nenhuma entidade, o que é uma situação ‘sui generis’”, dado que no passado o apoio para o ano seguinte estava sempre garantido, enfoca Vítor Ferreira. Resta agora esperar o desbloqueio das verbas de apoio à cultura para o ano de 2013, anunciado pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. Vítor Ferreira lamenta também que o “presidente da Associação Académica de Coimbra não tenha estado presente ou não se fizesse representar” no encerramento de um projecto cultural que, “talvez seja o mais visível projecto cultural de entre todos que a casa organiza”, afirma o director. Daniel alveS Da Silva

teatro Conservatório de MúsiCa 21H30 • 10€ C/desContos

30 NOV

SUpernAdA MúsiCa tagv • 21H30 12,5€ C/desContos

Por Daniel Alves da Silva


20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a

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CULTURA

Filatélica premiada no estrangeiro Stephanie Sayuri paixão

Apesar de carente de novos sócios estudantes, a SFAAC venceu prémios em duas competições de literatura filatélica, que decorreram na Alemanha e no Brasil Daniel Alves da Silva A Secção Filatélica da Associação Académica de Coimbra (SFAAC) trouxe da International Philatelic Literature Exhibition, realizada entre os dias 2 e 4 de novembro, dois prémios. A exposição, organizada pela Bund Deutscher Philatelisten (Federação de Filatelistas Alemães), em Mainz, premiou o blogue da SFAAC e dois livros-CD subordinados ao tema “Filatelia e Europa”. Os dois livros-CD foram também premiados na exposição luso-brasileira Lubrapex 2012, que decorreu entre os dias 10 e 18 de novembro, em São Paulo, no Brasil. Em ambas as competições foram obtidas medalhas de prata nas categorias em que a SFAAC estava a concurso. A literatura filatélica envolve atualmente plataformas online. Daí surgiu a ideia da candidatura do blogue, no festival alemão, integrando a categoria de sites web, como explica o tesoureiro da SFAAC, Nuno Cardoso. Através de um sistema de pontuação, o blogue obteve 68 pontos pelo júri do concurso, tendo obtido assim uma medalha de prata (as medalhas são correspondentes não a uma classificação ordenada dos premiados, mas sim ao intervalo onde o número total de pontos obtidos se encontra). Nessa exposição foram a concurso

6 Mário Gago

Coordenador-geral do Pelouro da Cultura da DG/AAC

o interesse em colecionar selos já não é uma distração partilhada pelos generalidade dos estudantes mais de 550 participantes de todo o mundo. O blogue já tinha recebido a medalha de Vermeil, na XXI Exposição Filatélica Nacional Póvoa do Mar 2011 na classe de Literatura Filatélica e o Prémio nacional “ANÍBAL QUEIROGA” – Melhor Website de Filatelia, dado pela Federação Portuguesa de Filatelia, em 2010.

Muitos prémios, poucos estudantes A SFAAC surgiu em fevereiro de 1965, sendo “a segunda secção mais antiga” da AAC, explica Nuno Cardoso. Existe também um clube dentro da secção dedicado aos carimbos comemorativos, criado em 1977, onde se encontra reunido o maior ‘stock’ de carimbos comemorativos do país e a única publicação nacional dedicada a esse assunto.

Localizada no primeiro piso do edifício da AAC, a secção está aberta àqueles que queiram aparecer. “Disponibilizamos todo o apoio aos sócios” seja na venda de material ou na consulta dos vários catálogos de selos mundiais, “sempre atualizados”, como informa o tesoureiro. Mas o mais importante, frisa Nuno Cardoso, é a “troca de experiências entre filatelistas”, onde se aprendem os truques deste passatempo com aqueles que são mais entendidos. O diretor da SFAAC durante a primeira metade da década de 80, João Rui Pita, revela que se viveu nessa época um “grande dinamismo”. Havia vários tipos de sócios nessa época, “desde sócios no liceu/ensino secundário até sócios antigos estudantes”. Hoje o cenário é diferente. Há 250 sócios ativos que já não estão em Coimbra. “Tivemos de re-

correr a filhos de filatelistas que estudam cá”, revela Nuno Cardoso, para a secção poder cumprir os estatutos da AAC, que exigem uma maioria absoluta de estudantes nos órgãos da secção. Atualmente, captam-se sócios por proximidade. Os colecionadores de selos são filhos de colecionadores mais antigos.

“Os miúdos já não têm interesse nos selos” O tesoureiro da SFAAC é perentório: “os miúdos já não têm interesse nos selos”. Existem outras distrações, e aponta também a cada vez maior utilização de etiquetas e de taxas pagas pelos utilizadores dos correios como um fator da diminuição da paixão pela filatelia. Deixaram de vir contas com selos diferentes, perdeuse o ato de ver o selo que chegava em cada carta. “Lembro-me de ser

miúdo e de cada vez que aparecia um selo numa carta eu tirava e guardava”, confidencia Nuno Cardoso. Numa secção com objetivo de dinamizar a filatelia, acabam-se por criar laços, na tertúlia que contribui para o “aprofundamento cultural”, adita João Rui Pita. O mesmo considera a sua passagem pela direção da SFAAC como uma “ótima experiência”, no “partilhar e participar na vida académica”. Mas a atividade da secção continua. Será publicado mais um número da revista, e está a ser ultimada a saída de um livro sobre carimbos comemorativos dedicados só a Coimbra, nos próximos meses. E apesar de parecer que estes prémios “passam bastante despercebidos”, como revela o antigo diretor, “têm levado muito longe o nome da AAC”.

“Não somos nós que vamos fazer cultura nem nunca vamos ser” A uma semana das eleições para a Associação Académica, Mário Gago faz um balanço das atividades culturais na académica durante o mandato. Apesar de terem sido “poucas mas boas”, o coordenador-geral lamenta não se ter feito mais Qual é o balanço que fazes das atividades do Pelouro da Cultura deste mandato? Acima de tudo, acho que foram poucas mas boas. Não fizemos muitas atividades, mas tentámos compensar por outro lado e fazer um acompanhamento maior às secções culturais, visto que também não é a Direçãogeral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) que tem a atividade cultural na académica. Foi muito essa postura que adotámos este ano.

Esse número reduzido de atividades deveu-se a quê? Falta de financiamento? A falta de financiamento na académica em geral é um problema que nós, DG/AAC, ainda não temos solução a curto prazo. As soluções que temos são a longo prazo. O que tentamos fazer agora é poupar o máximo dinheiro possível e cabe a cada um ter essa responsabilidade. Esse poupar de dinheiro implicou cortes nas atividades culturais que a AAC poderia fazer? Não necessariamente. Acho que conseguimos fazer tanto com menos. Visto que temos 16 secções culturais, não devemos ser nós a ter esse papel. Acho que há muita coisa na cidade que faz cultura, não tem de ser a DG/AAC a fazer. Ela pode ajudar a promovê-la, a complementar algumas coisas, mas não somos nós que

vamos fazer cultura nem nunca vamos ser. São, principalmente, as secções. Se essa criação de atividades e organização deve ser feita pelas secções, qual é o papel do pelouro da Cultura? Infelizmente, ainda não está escrito qual é o papel do pelouro da Cultura em lado nenhum. Cada pessoa faz do pelouro aquilo que acha que é mais proveitoso para a casa. Deve ter um papel de proximidade com as secções, de apoiar em tudo o que elas precisam no dia-a-dia. Criar uma ligação entre todas as instituições com a académica e fazê-los instruir essa cultura. Não devemos estar na linha da frente. É um papel muito mais de gestão. Até ao final do ano, ainda há mais atividades programadas?a

enveredar por esta área? Sim, para além da revisão do regulamento interno, temos o apoio ao espetáculo do Salvador Martinha, no TAGV, temos a revisão do regulamento das tunas, ainda vamos proceder à distribuição de verbas, pelo Conselho Cultural, da Queima das Fitas… temos mais atividades, mas são mais coisas de gabinete. Relativamente às secções que estavam inativas? As três que estavam inativas já estão ativadas – a Secção Gastronómica, o Grupo Ecológico e a SESLA. Não posso dizer que o processo tenha sido rápido, porque demorou quase um ano. Mas já todas foram a eleições e as pessoas estão muito motivadas. É um ponto positivo para este ano, voltámos a ter as 16 secções culturais.

Ana Duarte e Daniel Alves da Silva


10 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

CULTURA

Orquestra Geração ou: como me interessei e passei a amar a música Um projeto com objetivos sociais e pedagógicos, a Orquestra Geração conta com a presença de quatro dezenas de jovens. Suscitar o interesse musical e orquestral entre os mais novos, bem como a adesão dos familiares a espaços culturais, surgem como principais metas desta iniciativa. Por João Valadão

O

projeto Orquestra Geração surge no seguimento de uma iniciativa baseada no Sistema de Orquestras Infantiles e Juvenilies de Venuzela. Surgido em Lisboa, corria o ano de 2007, foi resultado de uma parceria entre a Escola de Música do Conservatório Nacional, a Câmara Municipal da Amadora e a Fundação Calouste Gulbenkian, com o apoio do programa EQUAL (Fundo Social Europeu). Tendo em conta o sucesso da iniciativa na capital portuguesa e noutras regiões do país, como é o caso de Amarante, em Coimbra surgiu o interesse de trabalhar a iniciativa. O diretor do Conservatório de Música de Coimbra (CMC), Manuel Pires da Rocha, esclarece que a partir do momento em que foi criada a orquestra em Lisboa e esta começou a ter “os resultados esperados numa orquestra desta natureza, nós decidimos levar a cabo um projeto de integração através da música”. Em Coimbra, a iniciativa foi possível concretizar em 2011, através de uma colaboração entre o conservatório e um Agrupamento de Escolas de São Silvestre. Manuel Pires da Rocha explica que foi feito “um pedido ao Ministério da Educação para levar a cabo o projeto e isso foi concedido”. O diretor do conservatório salienta também que a Orquestra Geração não é “um processo de teor do ensino especializado, em que há uma educação individualizada, é um projeto de mobilização de crianças para o interesse pela música”. O principal objetivo do projeto é suscitar o interesse da criança pela prática musical e orquestral e permitir que “as crianças tenham uma educação social estética, através do desempenho musical”, acrescenta o diretor Manuel Pires da Rocha. A coordenação pedagógica e artística conta também com a presença de dois músicos venezuelanos residentes em Portugal, para além de outros formadores que se deslocam no verão ao país. Vestidos com t-shirts vermelhas, num estilo informal, o conjunto de quarentas crianças é coordenado por um único professor. Violinos,

FotoS gentilmente cedidaS por conServatório de múSica de coimbra

violoncelos, instrumentos de precursão e de sopro tentam alcançar um ponto de convergência nas mãos de jovens do segundo e terceiro ciclo do ensino básico. A plateia, maioritariamente familiares dos jovens músicos, aplaudem de forma entusiasta. Entre o público, algumas pessoas mais corajosas chegam-se à frente para dançar ao som das músicas mais animadas.

Recrutados pela sua própria vontade

FotoS gentilmente cedidaS por conServatório de múSica de coimbra

Qualquer jovem que o deseje pode juntar-se ao projeto orquestra geração

“A inscrição na Orquestra Geração é completamente gratuita”, clarifica o diretor do CMC, do regime educativo do conservatório de música, em que o acesso a qualquer curso é gratuito. Quanto à disponibilização de instrumentos, o professor adianta que “são fornecidos os instrumentos, através de um regime de empréstimo”, algo que é disponível através do apoio da Câmara Municipal de Coimbra. Dada a gratuitidade do projeto, o recrutamento de jovens para o mesmo “depende apenas da sua própria vontade”, salienta Manuel Pires da Rocha. O professor não se esquece também de mencionar o apoio que é prestado pelo Ministério da Educação na “contratação de professores”. Para os responsáveis da Orquestra Geração uma das suas mais-valias do projeto é poder levar a música a pessoas que, habitualmente, não têm qualquer ligação à música. Manuel Pires da Rocha adianta que “é curioso reparar que há muita gente que não tem ligação nenhuma a estes espaços e que vão poder aceder a eles de forma livre e com vontade”. A Orquestra Geração já deu concertos no Agrupamento de Escolas de São Silvestre e numa sala do CMC. Para o futuro estão previstas mais atuações, “prevê-se que esta orquestra seja, não só um fator de educação para crianças, mas um fator de divulgação para jovens e adultos”, explana Manuel Pires da Rocha. O responsável conclui que se houver interesse por parte do Ministério da Educação e Ciência em dar continuidade ao projeto, o seguimento “estará garantido” e o projeto “será um sucesso”. publicidade


20 de novembro de 2012 | terça-feira | a

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DEsPoRto AnA morAis

De olhos no futuro, lembra-se o passado

Ainda que a maioria das metas tenham sido alcançadas este mandato, falhou a criação de um espaço de recriação

Em tempo de mudança na Direção-geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), Hugo Rodrigues, do Pelouro do Desporto Universitário, e Nuno Lopes, do Pelouro do Desporto, avaliam os resultados das várias secções desportivas na época transata e traçam os objetivos para o futuro. Por Fábio Aguiar

A

poucos dias das eleições para a DG/AAC, é tempo de fazer um balanço sobre o mandato. Nesse sentido, o Desporto Universitário é um dos temas em discussão. Segundo o coordenador-geral do Pelouro do Desporto Universitário, Hugo Rodrigues, a maior parte dos objetivos traçados pela DG/AAC para este setor foram cumpridos, ficando apenas uma das metas por alcançar. “Tentámos que houvesse um espaço que não fosse só de competição mas também de recriação, mas não conseguimos implementar por falta de disponibilidade das instalações”, explicou. A nível desportivo, o dirigente mostra-se também bastante satisfeito, uma vez que todas as equipas consumaram as expetativas, e alcançaram os resultados esperados nos Campeonatos Nacionais Universitários (CNU’s). No entanto, o sucesso não foi atingido apenas internamente, pois também nos Campeonatos Europeus, disputados este ano em Córdoba, as diferentes modalidades da AAC “conseguiram uma boa classificação”. Hugo Rodrigues espera “renovar o título de campeões europeus”, já que a EUSA (European University Sports Association) ainda não divulgou os resultados oficiais dos campeonatos.

Apesar da grande prestação das equipas coimbrãs na cidade espanhola, o coordenador-geral do Desporto Universitário destaca os resultados de algumas modalidades, elogiando o valor individual dos atletas. “Sabíamos que a equipa de rugby feminino era muito forte e sempre ambicionámos o título, mas também tivemos algumas contrariedades a nível de lesões nos próprios jogos. Ficámos com o 2º lugar, perdemos com uma equipa com um

“A equipa de rugby feminino era muito forte e sempre ambicionámos o título” nível muito forte e, por isso, não defraudou as nossas expetativas”, confessou. À semelhança do badminton e do ténis, também o futsal feminino foi lembrado por Hugo Rodrigues, que não escondeu o sentimento de que o resultado até poderia ter sido melhor. “Ficámos com aquele sentimento de que poderíamos ter feito algo mais quando perdemos na final porque sentíamos que eramos superiores à equipa adversária”. De olhos postos no futuro, os atle-

tas já começam a preparar os Campeonatos Europeus do próximo ano, pois o objetivo é “estar sempre no topo da hierarquia do desporto universitário europeu”, ressalva Hugo. Académica nos EUSA Games Relativamente aos EUSA Games de 2014, Hugo Rodrigues considera ser “um pouco cedo de mais para falar”, mas assegura que já existem metas delineadas. “Já estamos a trabalhar no sentido de que a Académica tenha uma estrutura mais fixa relativamente ao desporto universitário, que tenha um gabinete com pessoas profissionais a trabalharem no desporto universitário pois também a grandeza da Académica no Desporto Universitário assim o exige.” Formalizada a candidatura à organização dos EUSA Games de 2016, o responsável máximo do Desporto Universitário mostra-se esperançado relativamente à escolha final e revela a confiança num trunfo: o título de bicampeões europeus. “Todas as equipas que participam nos europeus de desporto universitário conhecem a Universidade de Coimbra (UC) e, neste momento, já temos as coisas delineadas. Já apresentámos a segunda fase da candidatura e já temos as modalidades definidas. Agora, é continuar a esperar pelos ‘feedbacks’ por parte da EUSA”,

concluiu. E como nestes casos o prestígio também conta, o dirigente recorda outra mais-valia. “Por todas as qualidades que tem Universidade de Coimbra e por todo o reconhecimento que tem lá fora, acho que podemos mesmo vir a receber os EUSA Games de 2016”. Convicto de que, independentemente do resultado das próximas eleições, a candidatura irá manterse de pé, Hugo Rodrigues faz tam-

“Terá que ser feita uma gestão dentro de cada secção para conseguir superar as dificuldades” bém referência aos apoios que a Câmara Municipal de Coimbra e a própria Universidade têm dado, afirmando que ambas as entidades têm demonstrado interesse e mantido uma relação próxima com o projeto. A um nível mais pessoal, confessa que, caso a sua lista seja reeleita, continuará no cargo com o principal objetivo de fortalecer a estrutura, torná-la “mais sólida e fixa, de modo a que não varie tanto de ano para ano”.

O desporto na AAC Também Nuno Lopes, coordenadorgeral do Pelouro do Desporto, fez um apanhado do seu mandato. «O principal objetivo era fazer uma aproximação às secções e tenho a certeza que foi atingido. Tínhamos também programado uma atividade mensal que era o “Liga-te ao Desporto” e, até agora, foi sempre realizada», assegurou, lamentando a impossibilidade de realizar um outro projeto. “Também tínhamos proposto realizar um campo de férias desportivas, mas devido à conjuntura financeira que a Associação Académica está a passar, não foi possível fazê-lo”. Olhando para a época das várias secções, Nuno Lopes elogia todas as equipas que dignificam o nome da Académica, mas congratula os feitos no basquetebol e de rugby. A finalizar, e em jeito de despedida, o coordenador-geral do Desporto confessou que não irá continuar no cargo e lançou os desafios com que a nova DG/AAC terá que se bater. “Infelizmente, o maior desafio passará por ultrapassar a barreira financeira das secções e da AAC. As secções não querem deixar de ter equipas e competir e, como tal, terá que ser feita uma gestão dentro de cada uma para conseguirem superar as dificuldades”. Com Ana Duarte


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Ações nO D’ARQ

UMA FACA ROMANCE QUE ARQUITECTURA

Por entre a Universidade de Coimbra (UC), parece haver um departa e os seus alunos deixam as marcas na parede. O caminho não é fác marco primordial para a mudança. Por Ana Duarte e Ana Morais

P

ediram romance para uma escola sem identidade. “Não há escola neste romance”, pintaram numa parede. Assinaram como F.A.C.A. – Frente Ativa de Contestação Académica, um grupo composto por estudantes. No anonimato começaram e assim se vão manter. O objetivo foi “despertar consciências para os problemas do Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra (d’ARQ)”. Continuam, afirmando: “daqui para frente o objetivo é motivar a mudança”. Querem alertar os estudantes para uma reforma curricular no curso de Arquitetura, mas sobretudo pretendem que do d’ARQ saia massa crítica. Assim, surge um novo grupo de estudantes: Romance à Parte. Perceber o que está errado na sua escola é a vontade dos mesmos e eles estão dispostos “a mudar”. Dois grupos com objetivos semelhantes, mas com formas diferentes de intervir. A F.A.C.A. escolhe o ‘graffiti’ como meio de passar a mensagem e o Romance à Parte prefere, de forma coletiva, proceder a instalações críticas. A frase pintada a 17 de setembro: “Não há escola neste romance” não é original. A ideia decorre da inversão de uma frase pintada há alguns anos, na Escola de Arquitetura do Porto: “Não há romance nesta escola”. Curiosamente, alguns professores que

hoje integram o d’ARQ participaram nesta pintura de parede, agora reinventada pelos seus alunos. Esmiuçando a conceção, “não há escola” prende-se com o facto de não existir no d’ARQ uma escola autónoma com uma forma de pensar própria e um plano curricular ajustado”, alega a F.A.C.A. No que concerne ao “romance”, este é referido como “embuste ou floreado romantizado”, despojado de ideologia. Por outro lado, o Romance à Parte baseou-se num conjunto de conversas intitulados “Os Encontros de Tomar”, realizadas no âmbito dos dez anos do d’ARQ, onde foram expostas, pelos professores, algumas metas a atingir pelo departamento. Colagens de bustos de professores/arquitetos acompanhadas por citações dos mesmos referentes ao futuro do d’ARQ e da própria arquitetura. “O lugar do curso de Arquitetura de Coimbra depende da conquista definitiva das suas instalações: a precária situação atual não tem permitido institucionalizar o curso e afirmá-lo no panorama nacional das escolas de arquitetura”, pode ler-se numa pa-

rede do edifício. Esta frase foi proferida pelo atual diretor do d’ARQ, Jorge Figueira, em 2000, numa revista do departamento – a ECDJ. Hoje, há mais consciência da realidade: “a questão da identidade é uma questão de tempo, não nasce instantaneamente, precisa de alicerces”, apesar de não descurar uma certa posição que Coimbra possa ter no quadro do ensino da Arquitetura em Portugal. “Tenho o maior otimismo e considero que, pelo grupo de professores que temos cá, pelo grupo de alunos que foi criando, que estão destinadas grandes coisas para a escola de Coimbra”, acrescenta.

“Fosse a vontade de calar igual à de mudar” O primeiro ‘graffiti’ foi, dias após ter sido desenhado, mandado pintar de branco. Quem deu a ordem foi o vice-reitor para as Instalações da Universidade de Coimbra (UC), e professor no d’ARQ, Vítor Murtinho. O presidente do Núcleo de Estudantes de Arquitetura da Associação Académica de Coimbra (NUDA/AAC), Pedro Caiado, explica a situação: “dois dias depois do ‘graffiti’ ter sido pintado, estaria no nosso


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Ações nO D’ARQ

ADA NO UE TEM SIDO A A POR COIMBRA

artamento sem a identidade pretendida. O d’ARQ insurge-se fácil, mas a união não é posta de lado e é apontada como o departamento o arquiteto da comissão da UNESCO, para a avaliação do património. Isso iria prejudicar bastante a visita ao nosso departamento”. Para insistir e despertar de novo a massa crítica, a F.A.C.A. decidiu pintar no mesmo local: “Fosse a vontade de calar igual à de mudar”. Sentiramse silenciados? “Independentemente de quem parta, a repressão existe. Silenciar estas ações que partem dos estudantes passa a ilusão de que tudo está bem”, afirma a F.A.C.A.. Com opinião semelhante, Jorge Figueira alerta para o facto de não concordar com a ordem da reitoria, mas para a sua obrigação em acatar essa ordem superior. Enquanto diretor de departamento, o professor mostra a necessidade de “deixar livremente que os alunos possam expressar a sua posição”.

Identidade do d’ARQ na UC “Queremos que o d’ARQ tenha uma identidade própria e queremos ser reconhecidos como tal”. Este é um desejo expresso pela F.A.C.A., que corresponde também aos anseios de Jorge Figueira e do Romance à Parte. A identidade própria do departamento passa, em grande parte, pela relação tutorial entre professor/aluno – é uma marca registada já. “Toda a aura da escola, como todas as escolas de arquitetura

da nossa dimensão, tem a personalização do ensino”, refere Figueira. E essa é uma das valências do curso – o que fortalece uma relação conjunta de descontentamento perante as condições do departamento. Relativamente ao plano curricular, apontado pelos alunos como erróneo, daí o nome do grupo Romance à Parte - “o romance vai no sentido de uma escola aberta e romanceada no sentido do desenho e das maquetes. Mas também que seja uma escola que forme arquitetos para o futuro”. Deste modo, a reforma no plano curricular deve combater “a lacuna relativa ao cultivo do espírito crítico. E isso envolve muita coisa”, sublinha a F.A.C.A. Mais uma vez, os dois grupos invocam os Encontros de Tomar e os desejos expressos por uma escola de arquitetura com mais identidade. O diálogo existe entre os dois, é certo – “no fim de contas, a finalidade é comum”, expressa o grupo F.A.C.A.. A par destes grupos e dos professores, há ainda dois elementos no d’ARQ – O NUDA e a revista NU – que partilham do sentimento generalizado. Em nome do NUDA, Pedro Caiado afirma que o núcleo “tem servido um pouco como intermediário entre os alunos pertencentes aos dois

grupos, a reitoria e a direção do departamento”. Luís Madeira, diretor da NU, é perentório: a NU é um organismo isolado, mas os seus membros, enquanto estudantes, “estão a par das ações e concordam com algumas das intervenções”. O Romance à Parte já deu um passo para elevar a discussão, ao realizar uma reunião aberta no dia 14, onde se ouviram várias ideias de alguns estudantes relativamente às ações desenvolvidas pelos dois grupos. Divergindo na opinião sobre forma de intervir dos coletivos, os estudantes do d’ARQ parecem estar em sintonia em relação ao que querem e como o querem. Ainda assim, acham que é cedo para elevar o debate a instâncias superiores, uma vez que consideram que é preciso construir um discurso sólido no interior dos claustros. Para que a estagnação intelectual não prolifere, é preciso que “isto não acabe aqui”. foto gentilmente cedida pela f.a.c.a.


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CidAde

Turismo de Coimbra extinta até fevereiro O encerramento surge ao abrigo de uma nova lei publicada em agosto. A empresa, responsável pela promoção do turismo, irá dar lugar a uma divisão da CMC João Valadão A Turismo de Coimbra (TC) deverá extinguir-se até ao próximo de mês de fevereiro, ao abrigo da Lei 50/2012, de 31 de agosto, publicada pelo Governo. A referida lei determina que as empresas que não tenham receitas próprias numa percentagem de 50 por cento das receitas totais devam ser extintas num prazo de seis meses - o que prevê consequentemente o encerramento desta empresa municipal de Coimbra.

O presidente da TC, Luís Providência, afirma que não é suficiente num ano “operar as mudanças suficientes numa empresa que não estava minimamente vocacionada para ter receitas próprias”. A extinção, que não abrange entidades regionais de turismo, provoca no responsável algum incómodo: “vejo com pena e alguma estranheza que se mantenham entidades regionais de turismo com dívidas de milhões de euros”. O orçamento da TC, que é exclusivamente financiado pela Câmara Municipal de Coimbra (CMC), apresentava-se no passado ano na ordem dos 900 mil euros. Luís Providência adianta que “a TC em 2011 teve contas de 205 mil euros” e que “o esforço feito este ano vai mostrar um aumento significativo de receitas próprias”. Os lucros obtidos no aluguer da Praça da Canção, na venda de material promocional nos postos de turismo ou serviços de guia perfazem a

maioria dos lucros da empresa. Contudo, segundo Luís Providência, não é possível alterar as formas de financiamento da empresa, que no passado “vivia tranquilamente com percentagens de receita própria na ordem dos 3 ou dos 3,5 por cento”. A promoção turística volta agora ao modelo inicial, como uma divisão da CMC, que ainda assim, pelos cortes sucessivos que têm sido feitos ,“vai necessitar de um orçamento maior”, esclarece o responsável. O presidente da CMC, Barbosa de Melo, referiu em declarações ao Jornal As Beiras que a extinção da TC era “um mau negócio para o município”. Luís Providência está de acordo e lamenta que “a extinção só irá trazer prejuízos e nenhum ganho para a cidade”. O presidente da TC considera também que Coimbra, com potencial turístico nacional, “irá perder algumas oportunidades”. O presidente da CMC referiu ainda, em declarações à Revista C no passado mês

de setembro, que a Lei 50/2012 impõe limitações funcionamento muito graves, nocivas à promoção turística. Luís Providência assume que o objetivo será “tentar minimizar os efeitos da decisão” e que a cidade seguramente perde algo porque “deixa de ter um instrumento 100 por cento dedicado à promoção turística”.

“Tudo no mesmo saco” Para Luís Providência a lei é uma tentativa de meter “tudo no mesmo saco”: empresas direcionadas para ter receita com outras com outro tipo de vocação. O responsável da TC salienta que, para se alterarem as regras do regime jurídico da atividade empresarial local, se deve primeiro olhar para “a natureza da empresa e ver se isso é aplicável de forma igual entre uma empresa que vende um produto e uma empresa de promoção”. Ainda assim, o dirigente ressalva que a preocupação é ter “rigor nas contas e não ultrapassar o que é

posto à disposição para a promoção do turismo de Coimbra” e admite que “tem de haver regras e quem cumprir essas regras deve poder permanecer no mercado”. Luís Providência defende assim que deve ser dada às empresas municipais a mesma oportunidade que foi dada às entidades regionais, que terão a oportunidade de corrigir as dividas contraídas. No plano turístico está também a construção do Centro de Congressos do Convento de São Francisco, que “não irá sair prejudicado, visto que é um processo autónomo”, assegura Luís Providência. O presidente da TC garante que o projeto é “importante na receção de turismo em qualquer cidade” e que “deverá tornar-se o grande polo de congressos entre Lisboa e Porto”. Afastadas do perigo de extinção estão outras empresas municipais, que não deverão ser afetadas pela publicação da Lei 50/2012, de 31 de agosto. ARQUIVO - RAfAelA CARVAlhO

Com a extinção da Turismo de Coimbra, a promoção do turismo na cidade ficará entregue a uma divisão da Câmara Municipal de Coimbra

APBC quer lojas abertas nos quatro domingos de Dezembro Com vista a promover a afluência de pessoas à Baixa de Coimbra, a APBC promove uma iniciativa para alargar o horário comercial durante a época natalícia João Valadão “Atendendo aos fortes constrangimentos económicos previstos para a época natalícia, resultantes da descida do poder de compra dos consumidores e do receio das futuras medidas de austeridade previstas para o próximo ano”, é desta forma que se inicia o comunicado do Presidente da Direção da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC), Armindo Gaspar. O comunicado é feito aos comerciantes associados desta zona da ci-

dade, com vista à abertura das lojas nos quatro domingos do mês de dezembro. Armindo Gaspar refere que “dado que é a época natalícia adaptamos os horários para uma maior afluência de pessoas à Baixa, por isso queremos abrir aos domingos”. A apoiar a iniciativa está subjacente o que a organização considera como “uma forte campanha publicitária”. O presidente da APBC acrescenta que o trabalho parte no sentido de “chegar ao maior número de pessoas”, uma projeção que será feita através de “’flyers’, da divulgação em alguma imprensa ou do facebook”. Também programada está a realização de diversas atividades musicais e de animação de rua - um complemento que será possível através da “instalação de colunas a passar músicas em toda a Baixa”, diz Armindo Gaspar. Questionado sobre um possível convite a artistas musicais, o mesmo declara que “ainda não se pode adian-

tar isso, porque ainda está na parte da programação”. Reticentes quanto a esta iniciativa parecem estar os comerciantes da Baixa, que enfrentam a possibilidade de um Natal com decréscimos muito acentuados no volume de vendas. A funcionária da Ourivesaria Marialva, Sónia Leitão, refere que a loja onde trabalha “em princípio não irá aderir” e lamenta que, com a crise, “ninguém vem comprar à Baixa”. Ainda na Rua Ferreira Borges, imediatamente acima, Edmar Ferreira espera pacientemente a vinda de algum cliente. Funcionário da loja A.Loureiro, LDA, o comerciante, de 60 anos, afirma que a loja não estará aberta nos domingos propostos: “não moro cá e não tenho transportes”, acrescenta. Desanimado e pouco crente no sucesso da atividade, Edmar Ferreira reconhece que os Natais anteriores “não foram benéficos” e que presentemente a situação não deve melhorar. “Du-

vido que haja grande adesão”, adverte ainda o comerciante.

“Já nada leva os clientes à Baixa” Afastada do movimento da artéria principal, escondida nos recantos da Baixinha, encontra-se a Sapataria Ara. Ao balcão está Ana Simões, funcionária da empresa há mais de 40 anos, que observa melancolicamente a passagem das poucas pessoas que circulam na rua. Desanimada com o atual estado do negócio, a funcionária assegura que “se não vendemos durante a semana, não irá ser aos domingos”. Questionada sobre os acessos à Baixa, Ana Simões refere que “não é fácil aceder” e vai mais longe no que toca à Baixinha, “as pessoas estão lá em cima e não vêm cá para baixo”. Se, por um lado, se promovem mais iniciativas de apoio ao comércio tradicional, por outro os comerciantes começam a evidenciar um

estado de cansaço e desespero com a atual situação. Sónia Leitão lamenta que “já nada leva os clientes à Baixa” e ressalva que “são mais as lojas fechadas do que as abertas”. Ana Simões alerta para o facto de não haver dinheiro: “já não sei onde pegar”, confessa. Ciente de que o panorama comercial da cidade segue um caminho decadente, o presidente da APBC admite que um decréscimo é “inevitável, a nível do país as quebras vão ser muito acentuadas”. A unanimidade dos comerciantes surge na posição face à posição da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Edmar Ferreira afirma que esta “deveria dar mais apoio, estão a descair-se um bocado”, opinião partilhada por Ana Simões, que alega que a CMC “deveria ter uma maior intervenção”. Trabalhadores de uma zona comercial enfraquecida, aos comerciantes da Baixa começam a faltar ideias de recuperação.


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CiênCiA & TeCnOlOgiA

Ressaca – mitos, verdades e uma certeza: o álcool faz mal Há quem fale em café. Outros em comidas gordurosas. Serão estas verdades dogmáticas ou não passarão de mitos quando se pretende contornar a ressaca do dia seguinte? Joel Saraiva Paulo Sérgio Santos O que é a ressaca? Em termos científicos, há “múltiplas teorias sobre a ressaca”, começa por referir o docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), Carlos Fontes Ribeiro. O álcool que se encontra mais frequentemente em bebidas alcoólicas, como o vinho ou as cervejas, é o etanol, comummente conhecido por álcool etílico. O médico e ex-diretor do Centro Regional de Alcoologia do Centro (CRAC), Augusto Pinto, explica que “a ressaca tem a ver com o facto de um dos produtos em que o álcool se transforma, no nosso organismo, ser responsável por um conjunto de intoxicações e efeitos”. Esse produto da metabolização do etanol designa-se por acetaldeído. O nome pode parecer complicado mas basta dizer que é um composto altamente tóxico, cuja transformação, em acetato e água, deve ser rápida para que deixe de se sentir esse efeito nocivo no organismo. Simplificando, o acetaldeído “vai originar, entre outras coisas, dores de cabeça, enjoos, má disposição geral, erupções cutâneas”, demonstra Augusto Pinto. Na ressaca aumentam os níveis da hormona antidiurética, responsável pelo aumento da diurese, a eliminação de urina pelo organismo. Por exemplo, refere Fontes Ribeiro, “não se fica

com a cerveja, pede-se emprestada”.

Quando o vinho desce, as palavras sobem Outra das consequências do consumo de álcool é a desinibição do Sistema Nervoso Central (SNC). Ultrapassado o consumo moderado de álcool, é frequente dizer-se que até a pessoa mais tímida se solta. Segundo o ex-diretor do CRAC, tal deve-se “ao efeito depressor do álcool sobre determinadas áreas do córtex cerebral, nomeadamente a região frontal”, responsável, entre outros, pelo comportamento social e pela censura interna. O dia seguinte é o conhecido dia da

ressaca. Entre os “remédios” com maior disseminação popular contam-se o café e as comidas gordurosas. Fontes Ribeiro é perentório ao afirmar que “tomar café na ressaca nunca, a não ser que se enchesse com açúcar, tipo xarope”, aproveitando para brincar um pouco com o mito. Ou seja, o café é um erro porque a fase da ressaca seguinte à depressora é a da excitabilidade, pelo que acrescentar um composto energético como a cafeína tem sempre efeitos nocivos. Quanto às comidas gordurosas, prossegue o docente da FMUC, há contradições: “eu diria que uma pessoa com ressaca a comer gorduras não se deve sentir nada

bem”. Afinal, reside aqui a explicação para as náuseas e vómitos no dia seguinte, porque o álcool atua como irritante das mucosas do estômago e dos intestinos. Há quem diga que em tempo de Latada ou Queima, é melhor manter o estado de ressaca permanente, isto é, acordar às 17h e continuar a beber. Augusto Pinto explicita que “o ser humano está preparado para metabolizar o álcool mas apenas em pequenas quantidades”. Para além do fígado, o órgão que faz a metabolização do álcool, em caso de excessos, entra em ação uma outra via transformante - a microssomal, normalmente usada na degradação de STephAnIe SAyURI pAIxãO

O facto de o alcool ser a droga de eleição da europa Ocidental torna a embriaguez um ato banal

medicamentos.

A evolução e o futuro É um facto incontestável que o ser humano não foi preparado para metabolizar todo o álcool ingerido. O exdiretor do CRAC fala um pouco da relação entre a evolução humana e a resistência às substâncias alcoólicas: “durante a nossa evolução não tivemos contacto com o álcool. Não é uma substância natural, foi produzida precisamente pelo homem”. Comparativamente a nós, o álcool é uma substância recente, com um contacto extremamente precoce com a nossa espécie. “Existe provavelmente há cerca de 10, 20 mil anos. Se pensarmos nas bebidas alcoólicas mais consumidas, tem ainda menos tempo, entre três a quatro mil anos. Bebidas destiladas, então, só depois da descoberta da alquimia, há cerca de mil anos”, conclui Augusto Pinto. Não se pode falar em ressaca sem se abordar o início do problema, mais ainda num mundo cada vez mais sem fronteiras e num meio jovem. Ao contrário da obesidade, o alcoolismo jovem é encarado como irrelevante pela sociedade. “Eu diria que sim”, inicia Augusto Pinto, “por várias razões, e uma delas tem a ver precisamente com a forma como a sociedade olha para a problemática do álcool. A droga de eleição da Europa Ocidental é o álcool e isso faz com que se defenda e até aceite muito mais facilmente a alcoolização, a embriaguez, até por razões económicas”. A quantidade de álcool que circula na noite e, especialmente, em celebrações académicas, espanta Fontes Ribeiro: “se estão a comemorar um acontecimento, que é legítimo que o façam, é preciso ficar bêbado? Até porque um indivíduo bêbado fica com as funções cognitivas perturbadas. Está a comemorar o quê? Isso é que eu não entendo!”.

UC desenvolve vacina inovadora contra hepatite B esta vacina oral permite alterar a metodologia de aplicação, podendo substituir as injetáveis. Olga Borges, docente da FFUC, explica a viabilidade da terapêutica Hugo Teixeira Mota Tiago Rodrigues Investigadores da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC) e do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) estão a desenvolver uma vacina oral contra a Hepatite B. Apesar de já ter sido testada em ratos com sucesso, esta vacina ainda não

oferece garantias de poder ser aplicada em seres humanos. A hepatite B, considerada uma das formas mais perigosas da doença, pode ser transmitida por via sexual. Em Portugal existe uma vacina injetável que pode ser tomada por todas as pessoas, mas que não tem qualquer efeito em quem já está infetado. Ao contrário desse tipo de tratamento, a vacinação oral poderia ter alguma utilidade terapêutica, isto “pelo tipo de resposta imune que obtivemos em ratinhos, pelo tipo de anticorpos que se produzem e pelo tipo de resposta celular que conseguimos obter”, justifica a coordenadora da investigação, Olga Borges. Segundo a docente, esta solução surgiu através de uma investigação em que se procedeu à “administra-

ção de uma suspensão de nano partículas” em ratos. Apesar dessa experiência, não se poderá afirmar que a parte científica esteja concluída, uma vez que os ensaios em humanos ainda não avançaram. “Essa fase não está a decorrer porque não se perspetivam ensaios clínicos com esta vacina, dado que não há financiamento”, explica a investigadora da FFUC. No entanto, caso existissem parcerias, os ensaios poderiam avançar e consistiriam em proceder à “administração desta suspensão a pessoas saudáveis e perceber se elas também conseguem ter uma resposta imunológica semelhante àquela que obtivemos em animais”, se os resultados fossem favoráveis, seria viável a comercialização da vacina. Em contrapartida, “não há

previsões” da chegada da vacina ao mercado, sistematiza a docente. Olga Borges afirma ainda que “a mais-valia deste tipo de investigação é formar um ‘know-how’ que nos permite chegar a uma determinada solução, não só usando essa tecnologia, mas até melhorando-a e adaptando-a a outras vacinas”. Deste modo, vai ser possível que o conhecimento se desenvolva na faculdade e que “eventuais parcerias de investigação com a indústria” se implementem e apostem na investigação levada a cabo pela Universidade. Em termos futuros, seria expectável que todas as vacinas que estão neste momento no mercado pudessem ser “administradas por via oral”, uma tarefa que, segundo a docente, não se afigura fácil.

d.R.


16 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

PAÍS arquivo - joão gaspar

as greves têm afetado os utilizadores dos caminhos-de-ferro que veem-se muita das vezes sem alternativas de transporte

Luta ferroviária sem fim à vista O setor ferroviário encontra-se frequentemente em greve desde 2010 e o conflito laboral não parece ter solução a curto prazo. As empresas do meio vêm se abraços com perdas de receitas que ascendem a vários milhões de euros. Por António Cardoso e Stephanie D’Ornelas

N

a última quarta-feira, 14, Portugal amanheceu sem comboios a circular. Os trabalhadores do setor ferroviário uniram-se à greve geral, em que vários profissionais demonstraram o seu desagrado para com as medidas de austeridade que o Governo está a adotar, nomeadamente o novo Orçamento do Estado para 2013. A greve dos ferroviários já não é nenhuma novidade desde 2010 , ano em que foram efetuadas diversas paralisações dos revisores, operadores de bilheteira, maquinistas e trabalhadores das linhas férreas. É difícil encontrar portugueses utilizadores dos caminhos-de-ferro que nunca tenham sido afetados nos últimos anos por causa dessas paralisações. “Ainda nesta quarta-feira, quando houve a greve geral, não tive comboio”, conta Daniel Coutinho, estudante em Coimbra, que depende do transporte para regressar à sua “terra natal”. A também estudante Luísa Vieira já sofreu do mesmo problema, e acrescenta que faltam transportes alternativos: “já fui obrigada a perder aulas à custa disso”, afirma.

Cortes no setor ferroviário Os trabalhadores do setor ferroviá-

rio queixam-se sobretudo dos excessivos cortes no meio, como o congelamento das progressões na carreira e os cortes salariais. De acordo com o presidente do Sindicato Ferroviário da Revisão Comercial Itinerante, Luís Bravo, em 2011 “os trabalhadores perderam com o orçamento para 2012 o equivalente a quatro salários”. Os despedimentos são outra realidade que assombram trabalhadores dos comboios em Portugal. Segundo Luís Bravo, em cinco anos

“São rescisões de mútuo acordo transmite-se a ideia de que não houve despedimentos” a Comboios de Portugal (CP) reduziu 15 mil trabalhadores para apenas cinco mil. “As pessoas são convidadas a sair com rescisão de mútuo acordo”, denúncia o dirigente sindical e aponta para uma consequência especialmente grave: “quando são rescisões de mútuo acordo transmite-se a ideia de que não houve despedimentos”. Outra das queixas partilhada entre trabalhadores e utilizadores é

o aumento das tarifas dos caminhosde-ferro. “Temos sido combatentes contra essa maneira de gerir a empresa e os transportes públicos porque isso reduz a mobilidade das pessoas, nomeadamente dos estudantes”, reitera o representante do sindicato dos revisores. Desde o final de julho deste ano que os trabalhadores das empresas públicas do setor ferroviário, como a CP e Rede Ferroviária Nacional (REFER) fazem greves para contestar as alterações introduzidas nos Acordos de Empresa. Isto porque a sequência das alterações ao Código do Trabalho diminuiu para metade o pagamento do trabalho em horas extraordinárias, dias de descansos semanal e feriados. “Não trabalhamos em horas extraordinárias, nem nos nossos dias de descanso e feriados. Se não nos pagam, não trabalhamos“, assegura o coordenador sindical do Sindicato Nacional dos Maquinistas, Nunes Carvalho, a propósito das greves se terem tornado cada vez mais frequentes, particularmente no setor dos operadores das locomotivas. Os sindicatos apontam acima de tudo a falta de vontade dos órgãos de chefia em investir nos caminhos de ferro: “percebemos a realidade do país, não somos utópicos”, confirma Nunes Carvalho. No entanto, consi-

dera que as reivindicações dos trabalhadores ferroviários não chegam muita vezes à opinião pública e considera que “as reivindicações não são muitas, como querem fazer parecer. A única reivindicação é que a empresa pague pelos dias de trabalho”

Consequências das greves e os impasses com o governo “Em 2012, já foram suprimidos 9978 comboios devido às greves rea-

“Não há abertura por parte do Governo atualmente para discutirmos o que quer que seja” lizadas”, afirmou a porta-voz da CP, Ana Portela, em declarações prestadas em julho ao semanário Sol. Além dos comboios que são suprimidos, as greves dos trabalhadores tem tido consequências muito negativas na perda da receita. Em 2011, as perdas ascenderam aos oito milhões de euros, segundo o relatório de contas da empresa ferroviária. As greves no transporte ferroviário nos últimos dois anos levantam

também as questões que afetam diretamente os utilizadores, como medidas que põem em causa as tarifas sociais: “nomeadamente os estudantes e os passes sub-23 que perderam na totalidade este ano”, afirma o dirigente do sindicato dos revisores. Outro problema apontado é o facto de alguns trabalhadores do setor não estarem vinculados à função pública e mesmo assim integrarem empresas com participações do Estado e que sofreram cortes semelhantes aos dos funcionários públicos. “Encontramo-nos no pior de dois mundos”, declara Luís Bravo. Apesar de muitos apelos para o diálogo e das denúncias por parte dos sindicatos, atualmente não há reuniões entre as empresas e as centrais sindicais para chegar a um acordo. Adivinha-se assim, um fim das paralisações ainda distante. Para Abílio Carvalho, coordenador do Sindicato Nacional dos Trabalhadores Ferroviários associado à intersindical da CGTP, há intransigência da parte do Governo - “não há abertura por parte do Governo atualmente para discutirmos o que quer que seja“. Relativamente à postura do executivo no que concerne a estas matérias: “não temos tido respostas concretas, a não ser que não há nada a fazer“, sublinha Abílio Carvalho.


20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a

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MunDO da Crise À nova Constituição out’08

Governo nacionaliza maiores bancos do país e faz primeiro pedido de ajuda ao FMI. Dãose os primeiros protesto contra as politicas o governo do primeiro ministro Geir Harde.

nov’08

FMI aprova o pedido de ajuda e os protestos intensificam-se.

Jan’09

Escalada de protestos e Geir Harde demite-se e Presidente da República convida Johanna Sigurdardottir da aliança social democrata a formar governo.

Mar’10

Após proposta do Presidente Ólafur Ragnar Grimsson, realiza-se um referendo: os islandeses recusam pagar a dívida dos bancos islandeses aos estados britânico e holandês.

nov’10

São eleitos os delegados para a Assembleia Constitucional, que inicia a elaboração da nova constituição.

aBr’11

Realiza-se mais um referendo onde os islandês se recusam a pagar as garantias de empréstimo dos bancos islandeses.

out’12

islandeses aprova as propostas de revisão constitucional num referendo não-vinculativo.

Constituição popular na Islândia Crise financeira origina mudança política. Propostas de revisão constitucional são levadas a referendo. Inovação política revela “uma forma muito mais participativa”. Por Luís Azevedo e Pedro Martins

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uatro anos após o despoletar da crise financeira, os islandeses optaram por um novo rumo, exigindo que o conteúdo de uma futura constituição fosse levado a referendo. As graves consequências do colapso financeiro em 2008 levaram a um clima de tensão político-social. A Islândia é um país que tem figurado entre o rol dos estados mais desenvolvidos a nível mundial, e frequentemente presente no topo de vários ‘rankings’. O abalo sofrido em 2008 levou a uma perda de confiança na classe política, o que resultou na transferência do processo de decisão para a esfera da sociedade civil. A Islândia gozava de um estatuto de desenvolvimento invejável. Nas palavras do colunista do Jornal Expresso e antigo dirigente do Bloco de Esquerda, Daniel Oliveira, a Islândia é “um dos países com menores desigualdades na Europa”, gozando também de “uma forte coesão comunitária e social”. Com uma indústria transformadora assente na metalurgia, um setor pesqueiro significativo, um setor turístico em crescimento e mais-valias advindas da energia geotérmica, a Islândia sofreu uma reviravolta após a crise. A resposta a este problema partiu do atual Governo que ao não canalizar recursos para resgates à banca, e ao optar por uma política de desvalorização cambial: em virtude de ter moeda própria conseguiu reestabelecer a economia. “A Islândia contínua a ter alguns problemas por resolver”, reitera Daniel Oliveira.

Processo de revisão resulta numa consulta popular Após a eleição de quatro deputados

stephanie sayuri paixão

redes sociais têm sido uma das formas de participação na elaboração da nova constituição independentes e de três pelo Movimento dos Cidadãos nasceu um processo de revisão constitucional que resultou num processo de consulta popular que se traduziria num referendo. País pequeno e cuja capital reside em dois terços da população, a Islândia sempre se predispôs a formas mais diretas de ação democrática. Tendo, por exemplo sido facultado aos cidadãos a hipótese de propor as alterações à constituição, algo inédito em democracias ocidentais. Esta inovação política “confere maior legitimidade” à nova constituição devido ao “modo como foi feita, através de uma forma muito mais participativa”, nas palavras do constitucio-

nalista e professor na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Jorge Miranda. Quando questionado sobre a possibilidade de um procedimento constituinte semelhante ao islandês em Portugal, a hipótese é descartada pelo professor de Direito que relembra que “a atual constituição não permite a adoção de um referendo para revisão constitucional”, sendo necessária uma revisão constitucional para que isso seja possível. Postura semelhante é também a de Daniel Oliveira que afirma que “deveríamos ter uma democracia mais direta”, mas não “de forma tão alargada como na Islândia” visto que a população é maior e a socie-

Haiti no precipício do esquecimento Depois do terramoto de 2010 o Haiti, motivado pela devastação do Sandy, volta a pedir ajuda. Algumas organizações humanitárias poderão retirar-se em 2013 Bárbara Sousa “A ONU e o governo haitiano têmse multiplicado em apelos e estão a pedir 40 milhões de dólares, urgentes, que irão ser distribuídos pela alimentação, agricultura, abrigos, saúde e água potável”, afirma a responsável pela comunicação da UNICEF no Haiti, Mariana Palavra, que se encontra em Porto Príncipe. O novo pe-

dido de ajuda surge na sequência da passagem do furacão Sandy pelo Haiti, no final do mês de outubro. Em janeiro de 2010, o país já tinha sido atingido por um terramoto que deixou 1,3 milhões de pessoas desalojadas, a viverem em campos de deslocados, e originou um grave surto de cólera, provocando mais de 7600 mortes. A instabilidade política que o Haiti atravessa, segundo Mariana Palavra, constitui um entrave ao progresso do país, com a “queda sucessiva de governos, não permitindo a continuação de políticas”. A passagem do furacão Sandy pelo Haiti deixou para trás um rasto de devastação. Nas palavras da colaboradora da UNICEF, o Sandy “destruiu praticamente todas as culturas do sul, provocou 54 mortos e, pelo menos, 29 mil pessoas foram diretamente afetadas”. Embora o número

de haitianos afetados indiretamente chegue ao 1,5 milhões, nomeadamente em termos de alimentação. Umas das primeiras preocupações, quer com o Sandy, quer com qualquer outra catástrofe, é a cólera. Ainda assim, este ano, o número de casos e o número de contágios baixaram. A portuguesa em Porto Príncipe assevera que declarações feitas pelo Ministério da Saúde, na última semana, adiantavam “que apesar de se temer o pior, houve um ligeiro aumento do número de casos de cólera, mas não tão significativo como se esperava”. Este esforço foi conseguido com a ajuda das muitas organizações que continuam no terreno, desde 2010, e trabalham para evitar a propagação da doença. Mariana Palavra, no Haiti desde 2009, reitera que “2012 poderia ser 2009. Vejo as mesmas pessoas nas

ruas, a fazerem os seus negócios informais”. Acrescenta que, “no campo, as pessoas vivem à custa de alguma cultura que têm e do pouco que cultivam “. Por outro lado, também se verificaram mudanças positivas. O governo, em conjunto com organizações internacionais, conseguiu aumentar o número de crianças em idade escolar que vão à escola de 50 por cento para 80 por cento e conseguiu reduzir para metade a má nutrição no país. Por fim, a comunicadora da UNICEF no Haiti mostra-se alarmada com o fim do período de três anos de duração dos fundos de emergência: “2013 vai ser um ano determinante , grande parte das organizações vão partir em janeiro e a comunidade internacional vai abandonar, significativamente, o país”. Com Pedro Martins

dade civil menos participativa. Em períodos conturbados os apetites políticos populares tendem a polarizar-se. A questão presente na constituição da Islândia apresentase não como uma aspiração juvenil a valores democratas mas substancia-se de facto num passo determinado, em direção a uma participação política ativa real: “esperamos que a nova constituição venha a ser um novo pacto social que levará à reconstrução e à reconciliação. E para que isso aconteça toda a nação tem de estar envolvida”, afirma a primeira-ministra da Islândia, Johanna Sigurðardóttir, no Jornal “The Guardian”. Com antónio Cardoso d.r.


18 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | terça-feira

Cinema

artes

007 - skyfall”

N

De saM MenDes CoM Daniel CraiG Javier BarDeM JuDi DenCh 2012

name's Bond, Daniel Craig

ver

CrítiCa De Manuel robiM

H

á muito que a BBC nos habituou a séries de qualidade irrepreensível e esta não é excepção. Finalmente editada em Portugal, a primeira temporada de “Sherlock”, que conta com apenas três episódios de hora e meia, dá provas suficientes de que estamos perante um dos mais notáveis trabalhos televisivos dos últimos anos. Adaptada das obras de Sir Arthur Conan Doyle, trata-se de uma versão moderna, respeitando contudo o espírito das histórias clássicas, do lendário detective Sherlock Holmes e do sempre fiel John Watson. Numa Londres contemporânea, Holmes, brilhantemente interpretado por Benedict Cumberbatch, é um autodenominado detective consultivo,

a saga 007, um filme geralmente parece ser definido pelo desempenho directo do actor que interpreta o tão característico James Bond. A verdade é que, neste caso, o irrepreensível Daniel Craig estliliza ainda mais o seu personagem que, com a ajuda da história – clássica em termos de ideia, porém inovadora no que procura – se desenvolve ao longo do filme. E isto disponibilizanos para estarmos atentos a mais pormenores, e a olharmos além dos fatos desenhados por Tom Ford e dos Martinis do costume, até mesmo do Aston Martin. O terceiro filme da era Daniel Craig, que penso ser dos melhores a desempenhar este papel até hoje, funciona como um ‘time out’, com uma textura que me permite dizer “agora sim, percebo este tipo”. Porque ao contrário de recentes protagonistas, James Bond é nesta trilogia, em especial neste filme, de-

senhado desde o seu passado ao seu incerto futuro. Mas não só ele: também a M (Judi Dench) é dada uma profundidade que não se avista em outros filmes. A ideia de que M por vezes não confia em Bond para agente 007, que é vista em “Casino Royale” e complica em “Quantum of Solace”, é neste filme imposta de uma forma quase geométrica, um tanto rectilinea, o que a enriquece. E uma das coisas que torna este filme especial é o facto de ter uma premissa inovadora, o que lhe dá um carácter promissor. É, no entanto, depois, quando o filme avança, que as coisas se desintegram. O seu início forte e assimétrico leva o espetador para uma sala de suposições que, nos primeiros vinte minutos do filme, se emaranham todas. E isto é bom, especialmente num filme que reedita o que já foi visto 22 vezes nos útimos 50 anos. O grande problema é o nó não ser exactamente desa-

tado pelos excelentes Neal Purvis, Robert Wade e John Logan na sua escrita, e o que se vê ao longo destas duas horas e meia é um estreitar de hipóteses que parece apenas poder acabar da forma que acaba – que, obviamente, não iria nunca revelar. Posso, isso sim, revelar o interessante trabalho de Javier Bardem em relação à sua personagem como vilão, “Silva”, um híbrido bissexual entre o Joker de Nolan e Anton Chigurh, o vilão por ele também interpretado em “No Country For Old Men” (Ethan & Joel Cohen). A isto junto a qualidade suprema das cenas de acção, muito bem conduzidas por Sam Mendes (“American Beauty”), e uma banda sonora equilibrada e adequada, a fazer lembrar o timbre clássico desta histórica saga. Quando se comemora o 50º aniversário, 23 filmes depois, a pergunta que o filme faz fica no ar: estará James Bond a ficar velho para estas tropelias?

Sherlock - Primeira temporada” aquele a quem a polícia britânica recorre em caso último de desespero, uma vez que a socialização e o contacto humano não são o seu forte. Watson, a quem um sempre notável Martin Freeman dá vida, é um médico que acaba de cumprir dever militar no Afeganistão e se vê obrigado a dividir o apartamento com o detective. Desde logo percebemos que se complementam. Enquanto o médico tem jeito para os cadáveres, Holmes trata do resto. Para ele, a palavra-chave é dedução. Tudo advém dos pormenores. Aliás, a Holmes bastou o corte de cabelo e o coxear de Watson para concluir o seu passado. “Sherlock” é genialmente bem escrita e imaginada, ou não tivesse por trás as mesmas cane-

tas responsáveis pela modernização de “Doctor Who”, e o mais interessante é que, apesar das suas origens e das infindáveis, e quase sempre falhadas, tentativas de reprodução, consegue ser mais inteligente, divertida e, sobretudo, refrescante do que praticamente qualquer série televisiva hoje experimentada. Estes não são o Holmes e o Watson a que estamos acostumados – de sublinhar que o irmão de Holmes, Mycroft, e o seu eterno inimigo, Moriarty, também têm a devida atenção –, mas nem por isso perdem o charme com que Doyle os escreveu. Que os mais desconfiados não torçam o nariz, os elementos clássicos estão todos presentes e o resultado é sublime. tiaGo Mota

Série

De Mark Gatiss steven Moffat eDitora

DvD Pris/BBC 2010

Artigo disponível na:

a ciência da dedução


20 de novembro de 2012 | terça-feira | a

cabra | 19

feitas OUvir

Ler

luxury Problems”

a fábrica no fundo do mar

De anDy stott eDitora Molov 2012

A

pesar de não ser um nome reconhecido no firmamento da produção de música electrónica, Andy Stott conta já o terceiro registo com Luxury Problems. O produtor de Manchester, que vê nos ambientes obscuros o fio condutor de uma sonoridade quase maquinal, explora neste disco esses ambientes recorrendo a um instrumento musical vulgar: a voz. Com a ajuda de Alison Skidmore (aparentemente professora de piano do autor), Stott manipula esta voz de forma a criar texturas e guias melódicos que recriam a ideia de uma submersão sónica. Sem refrães, ou basslines pujantes (tendência cada vez mais aparente na música electrónica), os ambientes quase industriais predominam, sendo apenas pautados, em certos momentos, por simples, quase clássicas, batidas remanescentes de uma era em que a música de dança tinha em si um

rito espiritual. Ainda assim, as batidas surgem algo transfiguradas, o que revela que Stott está não só atento ao passado, mas também ao futuro – não raras vezes apropria – se e aproxima-se do que conhecemos como era digital, fabricada e simulada. A manipulação da voz acaba por tornar este registo mais humano e belo, reflectindo até as idiossincrassias e contrastes da nossa era (sendo os instragrams digitais que simulam a mais simples máquina analógica um desses exemplos). Mecânico e negro, Luxury Problems é praticamente uma viagem por um ambiente fabril (não esquecendo a devida submersão), quase assombrado, em que o ouvido é estimulado por cada som, seja ele manipulado ou natural, ou simplesmente reverberado. Numa colecção de contrastes, com momentos contemplativos, mas sem esquecer o pézinho de dança, este disco mostra cada vez mais como a música electrónica sai da pista de dança e passa para o quotidiano do ouvinte – e ao contrário da era digital, não é fácil e desafia-nos a cada audição. JoSé MiGuel Silva

agora e na hora da nossa morte” Jornalismo com um ombro encostado na poesia

De susana Moreira Marques eDitora tinta Da China 2012

C

usta a escrever sobre algo que nos fala da morte. Há qualquer coisa que nos prende, que nos leva à autocensura, a uma ponderação das palavras. Isto porque não é um romance que aqui se critica. Não é ficção, apesar de às vezes o parecer. São histórias de gente que morreu. Lá em cima, num Portugal que desaparece - Trás-os-Montes. Gente que sabe que vai morrer, mas também gente que se aguenta ao lado dos que morrem, na mesinha de cabeceira, antes e depois. Susana Moreira Marques faz-nos tremer com “Agora e na hora da nossa morte”. A jornalista, que colabora com o Jornal de Negócios e o Público, foi acompanhar um projeto da Fundação Calouste Gulbenkian que presta cuidados paliativos em aldeias de Mogadouro, Vimioso e Miranda do Douro. Entre Julho a Outubro de 2011, fez-se “a viagem sobre a morte”. Por aquelas bandas envelhecidas, Susana encontrou histórias em lugares onde surgem lances de poesia no céu roxo que vê ou nas aldeias nuas de crianças. O livro começa por se lançar em reflexões curtas da autora. Pedaços do que vê e ouve, do que pensa. Como que se a sua intimidade também se devesse abraçar àquela dos que lhe falam. E como seria possível, ao viajar até à morte de outros, seres palpáveis e não ideias de papel,

conseguir alcançar o distanciamento, deixar de ser cúmplice? Mesmo assumindo essa aproximação, Susana Moreira Marques não sucumbe a pieguices, antes nos deixa pausas, silêncios longos, como que espaços para nós refletirmos, por entre uma escrita sem gorduras. As notas agarram, em momentos de uma beleza singular, que a jornalista partilha connosco num olhar que se casou com a poesia. Surgem depois as histórias de gente a braços com a morte, pela voz da autora e pela dos que lhe contam. E aí conhecemos Paula, que luta por dizer que está sempre “fina”. Conhecemos João que tem medo de morrer primeiro que Maria enquanto olham os dois para a lua que é igual em Angola, onde viveram. Conhecemos Elisa e Sara, filhas de Rui, homem que fez questão de preparar a sua morte. Conhecemos estas histórias que ganham uma intimidade incrível, como se fossem desabafos. A autora dá-lhes a voz, deixa-os falar, e aí a realidade estala. É a voz. Aquela voz existe. É de pessoas a falarem dos seus medos, dos seus sonhos ou das saudades. No seu primeiro livro, Susana Moreira Marques não pede licença para esbater limites de géneros literários e mostra como a realidade pode ter mais poesia que muita cabeça de poeta. João GaSPar

JOGar

resident evil 6”

a hidra

GUerra DaS CaBraS A evitar Fraco Podia ser pior Vale a pena A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro PlataforMa Ps3, XBoX 360 Artigos disponíveis na: eDitora CaPCoM

2012

R

esident Evil 6” (RE6) é como a Hidra: 4 cabeças num só corpo, 4 jogos num só disco, 4 concepções de entretenimento numa só experiência. Cada cabeça tem fisionomia e personalidade distinta - Leon, Chris, Jake e Ada - 4 campanhas unidas numa besta hedionda e disforme, criada para enfrentar um Heracles avassalador: o público contemporâneo do meio. Leon apela aos fãs incondicionais da série, recuperando ambientes icónicos dos capítulos originais, enquanto mantém o estilo frenético da acção de RE4, com a campanha de Ada a complementá-lo com um foco maior em puzzles e exploração. É aqui que se vê o que ainda resiste de bom em RE: um design de jogo tenso e pausado, que não tem medo de retirar controlo ao jogador, níveis pintados na estética gótica assombrosa de Tomonori Takano (porventura os melhores cenários desde RE0) e um desenho de monstros digitais que é tão enojante como os artifícios do “The Thing”. Ficássemos por aqui e Eiichiro Sasaki mereceria um comedido aplauso, só que há mais cabeças neste monstro: Chris vê inchar o seu modo brutamontes cinzentão de RE5 para agradar as audiências da fantasia militar de “Gears of War” e Jake adiciona-

lhe as ‘set-pieces’ explosivas de “Uncharted”. Pelo meio, arranjam ainda espaço para citar “God Hand”, “Clock Tower” e fazer uma homenagem a “Demon Souls”. Confuso? É caso para isso, RE6 é o fruto de uma indecisão descomunal sobre que direcção dar à série e nota-se. Claro que a culpa também é do tempo em que vivemos, que permite esta obscenidade que é um vigésimo primeiro jogo na saga. Haverá alguém ingénuo o suficiente para esperar algo de autêntico saído desta linha de montagem? É óbvio que não, mas o que dói mais é perceber toda a mestria que subsiste na Capcom, tornada agora subserviente a um mercado pobre em referências e avesso à mudança. Ainda assim, cumpre-se com brio a encomenda para esta monstruosidade lúdica, que apesar de tudo se vislumbra fadada a sofrer uma morte inglória nas mãos de um público que quer é jogar “Call of Duty” e uma comunidade crítica que apenas preza o hedonismo de segunda de “Dead Space” ou “Left 4 Dead”. RE6 é muito mau… mas depois também o são os jogos. Este ao menos tem os seus momentos.

rui Craveirinha


20 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

SolTaS

criTic’arTe

exPloSão ríTmica

Longas noites de Jazz encontram-se na Baixa de Coimbra, no Salão Brazil, desta vez com presenças musicais longínquas. Nobuyasu Furuya tem ascendência japonesa, e depois de uma curta passagem pelas cidade de Berlim, mudou-se para a capital portuguesa. Furuya alterna entre o saxofone tenor, o clarinete baixo ou a flauta, que criam cores novas à música que explora. Nobuyastu não vem sozinho e traz Hernani Faustino no contrabaixo e Gabriel Ferrandini na bateria - um trio avassalador. Do silêncio da sala irrompem as primeiras batucadas de Ferrandini que se misturam com as cordas de Faustino e a flauta de Furuya. A intensidade rítmica cresce nas baquetas até os três instrumentos atingirem o máximo da força, numa estrutura musical livre e sem amarras, onde cada um dos músicos extrai o possível e o impossível do seu instrumento. O trio cria um estilhaço de sons que cai novamente em silêncio. A pausa permite outra introspecção e deixa-nos começar de novo o crescendo rítmico e enérgico que os três transmitem quase uma hora sem parar. A seguir a um curto intervalo Nobuyasu dá novas linhas melódicas e vemos cada um dos músicos como universos paralelos que se conectam entre si e geram harmonia perfeita: Gabriel Ferrandini é uma explosão frenética na percussão, Hernani Faustino é muito seguro no contrabaixo, e Nobuyasu Furuya poderoso no saxofone. Nobuyasu Furuya Trio improvisa utilizando todas as possibilidades do 'Free Jazz', incansáveis de início ao fim com toda a capacidade técnica. Ouvir 'New Thing' deste trio não serve qualquer ouvinte, nem mesmo a um qualquer apreciador de jazz. Pode até ser difícil para os mais desprevenidos, mas poderá ser o caso não da música que queremos, mas aquela de que precisamos.

Por Filipe Furtado D.R.

uma ideia Para o eNSiNo SuPerior JoSé raimuNdo meNdeS da Silva • Prof aSSociado do deP. de eNgeNharia civil, fcTuc

Do proDuto e Da sua qualiDaDe e sustentabiliDaDe A roda já foi inventada, Camões e Pessoa já foram profusamente lidos e estudados, há poucos meses foi anunciada a descoberta do bosão de Higgs. A comunicação a grande distância com voz e imagem – tão brilhante e utópica no filme “2001 Odisseia no Espaço” - já nos parece um pilar imprescindível, quase banalizado, da comunicação quotidiana. A lista de descobertas, de criações e avanços desta civilização de que fazemos parte é imensa mas, cada vez que aumenta, acrescenta novas entradas à lista do que está por fazer, num processo de contínuo e interminável desafio. Não foi nas Universidades que se inventou a roda, apenas porque isso aconteceu antes de “inventarem” as Universidades. Mas se a ordem dos tempos fosse inversa, alguma relação teria existido porque é aqui, ao longo de séculos, o local da síntese do conhecimento, o local da síntese da dúvida, o local do impulso para que outras áreas da sociedade desenvolvam, concretizem e operacionalizem as grandes mudanças no mundo. Nesta época em que o mercado determina muito das nossas vidas e invade, com os seus conceitos e linguagem, os mais diversos domínios, é natural que a Universidade tenha que falar do seu “produto”. E se tal produto existe e é passível de definição e caraterização, então é possível questionar a sua qualidade e o modo como esta é definida e aferida. E que tipo de bem se produz? É perecível? Tem prazo de validade? É reciclável? Qual é a sua pegada ecológica? Qual é a sua

sustentabilidade? Em cada momento da história é preciso ler os seus sinais para melhor lhe responder e as Universidades têm hoje esse desafio muito claro, num tempo em que as suas fronteiras não são o seu espaço territorial, num tempo em que a comunidade universitária alargada inclui as empresas, o mundo artístico, as populações e os governos que as influenciam e dela usufruem. Ler os sinais da história não pode confundir-se com alinhar, de forma precipitada e imediatista, com a conjuntura, fechando e abrindo cursos, valorizando e desvalorizando formações e pesquisas ao ritmo das transações da bolsa de valores. Ler os sinais da história implica, reflexão, diálogo, humildade e convicção e, talvez entre as mais difíceis exigências, o discernimento sobre o adequado grau de resiliência para a prossecução de grandes objetivos de médio e longo prazo. A Universidade não é dona do conhecimento mas tem como principal missão

produzi-lo e difundi-lo. Pode fazê-lo de modo autista, num circuito fechado e autoalimentado, garantindo a pureza do produto final, mas a roda que assim inventar será, porventura, mais redonda, mas não vencerá os caminhos do desenvolvimento, da aproximação de povos e culturas, do respeito por um planeta de recursos limitados, da gestão das crises económicas e da eliminação das injustiças sociais. O que se conhece das Universidades? Que imagem têm os cidadãos do que se passa porta dentro, do que passa nos laboratórios, do que se passa nos projetos, do que se passa na enorme universidade virtual da nossa era? Apesar do muito que se fez nas últimas décadas, a Universidade tem que prosseguir e reinventar a sua abertura ao exterior. Ninguém ousaria pensar que alguma vez haveria vida em excesso. E porquê pensar que alguma vez haverá conhecimento em excesso? Também não há Universidade em excesso, mas sim uma universidade que precisa de se reencontrar, de redefinir as suas fronteiras e de recriar permanentemente uma roda que melhor possa vencer os caminhos para um mundo mais criativo, mais justo e mais feliz.

Sociedade Lusa de Negócios, administrada por Manuel Dias Loureiro, Ministro da Administração Interna do XII Governo Constitucional, lhe valerão uma fatia de bolo rei este Natal. Nessa altura aqui em Coimbra e nas restantes universidades, contestava-se a Lei nº 20/92 - Lei das Propinas, pelos mais variados meios, que se estendiam desde o requerimento aos Serviços de Acção Social por uma bolsa de estudo, de forma a possibilitar a inscrição sem o pagamento prévio da propina, até ao “Não Pago” exibido em autocolantes e faixas assim como nas nádegas de alguns colegas. Embora o mais exposto pela co-

municação fossem estas acções, algumas inteligentes outras mais caricatas, havia mais que se contestava e exigia. O discurso reivindicativo não se limitava ao aumento da participação das famílias no custo do Ensino Superior através da propina, exigiase também mais acção social escolar para estudantes carenciados, melhores serviços de alimentação e alojamento, melhores instalações para salas de aulas e laboratórios, regime de avaliação contínua de forma a melhorar a pedagogia, pela autonomia da universidade, enfim por uma efectiva democratização do Ensino Superior. Os defensores do aumento das propinas ludibriavam-se afirmando

que serviria para satisfazer todas as outras reivindicações, que as receitas delas provenientes seriam aplicadas nas universidades sem que implicasse uma desresponsabilização do Estado no financiamento do Ensino Superior, aumentaria a autonomia das universidades, reforçaria a Acção Social Escolar, etc.. Como qualquer um pode constatar, devido à fragilidade económico-social, todos os graus de ensino são cada vez mais elitizados, as cantinas fecham, as universidades perdem autonomia, os estudantes representatividade, a pedagogia pode sempre esperar.

D.R.

Naquele TemPo... Por Torcato Santos A minha ponderação na escolha de Coimbra para seguir os estudos superiores teve como principal factor o equilíbrio entre distância de casa de meus pais, de forma a desencorajá-los a visitarem-me inesperadamente, assim como minimizar da maçada de utilizar um transporte público quando os tivesse de visitar. A escolha era reduzida, porque para além do Porto que não obedecia às primeiras premissas, existiam as possibilidades de Coimbra e Lisboa nas quais já tinha, respectivamente um irmão e irmã mais velhos. Como as relações com irmãos mais velhos são propensas a tensões crescentes, previ que o meu irmão estivesse mais interessado em tocar fado do que

com o irmão mais novo, evitando assim tornar-me mais um calhau do Técnico. No ano de 1994, ano da minha chegada a Coimbra, era Ministra da Educação Manuela Ferreira Leite, aquela que há poucos dias invocou a suspensão da democracia para resolver alguns problemas da nação, pensamento na linha do “nunca me engano e raramente tenho dúvidas” do nosso tão prestigiado Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, que ultimamente sofre dificuldades económicas devido à retenção de subsídios e aumento de impostos. Nem mesmo os seus investimentos empreendedores no Banco Português de Negócios, propriedade da

Rafaela CaRvalho


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SolTaS romaNce hiSTórico

micro-coNTo

Por Samuel Úria

A

Sledge. Assim é natural que não consiga concentrar-se em nothing else. Em 29 de Setembro de 1938, o Primeiro Ministro do Reino Unido, Neville Chamberlain, reuniu-se em Munique com líderes das maiores potências europeias, entre eles o chanceler Adolf Hitler. O regresso a Inglaterra revelou-se triunfante. Neville trazia um acordo assegurando que alemães e ingleses jamais combateriam entre si. Só cabia aos britânicos consentirem uma certa anexação de partes da Checoslováquia por uma certa Alemanha nazi. Era pela paz! Pelo futuro! Chamberlain foi herói e os súbditos de Sua Majestade rejubilaram com o tratado. Mas, nem todos: à cabeça da dissonância estava um desconfiado, gordo, palavroso e capcioso Winston Churchill. Quando discur-

Ilustração Por Joana cunhas

quele livro não ajudou. Alguém tinha oferecido ao Novais uma colectânea de discursos do Churchill e foi mal jogado. Aquele livro não ajudou nada; piorou tudo. No dia 18 de Abril de 2009 declarou que ia deixar de ouvir rádio. Isto porque todas as músicas lhe faziam demasiado sentido, lembravam-no dela. Odiava as recordações um pouco mais do que odiava o cliché (esse, de ouvir canções na rádio e tudo fazer sentido). “When a man loves a woman/ can’t keep his mind on nothing else” – pois não, he can’t. Ainda para mais, juro, houve uma vez em que o Novais apanhou essa canção na rádio cantada pelo Michael Bolton, mudou rapidamente para outra estação e, juro mesmo, estavam a passar a versão original da música, pelo Percy

sou na Câmara dos Comuns a 5 de Outubro, Churchill arrasou o acordo de Munique. Apelidou-o de “total e categórica derrota”. Era-lhe claro que se tratava da primeira capitulação numa guerra iminente. Uma guerra do Bem contra o Mal. Alguém tinha oferecido ao Novais uma colectânea de discursos do Churchill e foi mal jogado. Não ajudou nada. O livro abria com o tal discurso de 5 de Outubro de 38 e o Novais revia-se em tudo: Sentiu-se Checoslováquia, invadida aos poucos pela Inês. Ela fingiu querer apenas um curto território de beijos mas, num ápice, anexou-lhe a totalidade do corpo, coração à cabeça. Sentiu-se Chamberlain, ao segurar uma paz aparente só para não ter de reconhecer os intentos expansionistas da Inês. Ela já andava de olho noutras messes, era tão óbvio. Sentiu-se um britânico rejubilante face ao acordo de paz. O Novais tinha evitado confrontar a Inês com as dúvidas que o cercavam; assim não discutiam. A paz parecialhe mais palpável que as suspeitas, logo rejubilava. Ou adormecia. É ténue, a linha entre júbilo e ignorância.

eNTre a arregaça e o calhaBé

O que o Novais não mereceu foi um Churchill, mas teve-o. O Tomé (curiosamente o mais magricela de todos os amigos) deu-lhe na cabeça, tanto, mas tanto. Só não chamou à Inês uma “total e categórica derrota” porque o vernáculo permitiu resumi-la com nomes mais curtos e deselegantes. Rasgou o livro, essa cruel e passiva máquina do tempo. Mas o que é que tinham na cabeça aquelas gentes dos anos 30?? Apeteceu darlhes um abanão póstumo. Não era óbvio que Hitler, mais do que ditador, era uma figura do Mal? Aquele risco ao lado podia ter alguma coisa do Bem? O bigodinho aspirava ser mais do que demoníaco? Aqueles olhos esverdeados dela podiam ser outra coisa que não hitlerianos? O traseiro exemplar podia prenunciar algo mais que genocídios afectivos? No fim de Maio de 2009 a Inês rompeu com o Novais e mudou-se para casa do César (não necessariamente por esta ordem). As tentativas de reconciliação foram perseguidas, capturadas e gaseadas sem remorso (caso prefiram a crueldade dos factos, a Inês simplesmente as ignorou). O Novais abateu-se muito e adquiriu comportamentos estranhos. Rasgou livros e, após invulgar incidente boltoniano, deixou de ouvir rádio. Depois de César, Zé e Rui (em simultâneo), Lúcio, Tomé e Fiúza, a Inês estava de novo, não só disponível, como particularmente disponível para o Novais. When a man loves a woman não consegue pensar em mais nada – só nela, e até dela se abstrai. Reataram. A 2 do 11 de 2011 o Novais tornou-se negacionista do Holocausto.

saMuEl ÚrIa 33 anos À primeira vista apenas um homem de barba rala e bigode e olhos encovados, samuel Úria não quer associar-se à nata da nata das figuras da cultura portuguesa. nasceu em tondela mas já foi alentejano. Fez um pouco de tudo. Foi professor, autor da personagem de BD alguidar cheio de Pão e participou no filme “o que há de novo no amor?”. acabou por estacionar para os lados da música, lançando o seu primeiro lP “caminho Ferroviário Estreito” em 2003, composto por gravações desconexas feitas ao longo de três anos. Foi membro do movimento Florcaveira, editora discográfica independente responsável pela descoberta de bandas como os Pontos negros ou Diabo na cruz. Em 2010 lançou “a Descondecoração”, que reunia músicas escritas e gravadas em 24h na sua casa. o processo foi filmado e transmitido em direto pela internet, enquanto quem via mandava sugestões por email. ainda que não seja consensual entre os entendidos do assunto, Úria afirmou-se já como um importante escritor de canções da atualidade.

Catarina Gomes

cróNica de uma deSPedida aNuNciada

Por Bacharel Jorge gabriel

C

ara Coimbra, Conheci-te contrariado. Eu era jovem, tu nem tanto. Contavas já anos férteis de histórias, ou de História fértil, como desejares, mas para mim eras uma palavra, o nome de uma cidade, Coimbra, onde sabia existir um Portugal dos piquenos e sangue coalhado nas rochas da fonte, pouco mais. Apresentaste-te de cara limpa, à tua maneira, atraente, colina de voluptuosas curvas reflectida no leito do Mondego, imagem de postal, certamente milhares de vezes reproduzida, de preferência se pintada com laranjas e dourados de pôr-do-sol, tons que sempre dão outro ar à serigrafia postaleira. Quis o destino, ou falta dele, que nunca tal imagem e enquadramento me tivessem cruzado os olhos, de modo que para mim eras uma tela em branco que eu ia pintando aos poucos, demorando-me em certos retoques, apressando o

recheio doutros contornos, tu escolhias as cores. Ao início ofereceste uma tinta negra de capa negra que não apreciei especialmente, deixei-te insistir até que te cansasses, qualquer dia já vais impingir esses guaches para outro lado, pensei, e assim foi, que a tua paciência não é infinita e sempre houve gostos para todos os tons. Não guardei ressentimento, mais tarde aprendi até, imagina, que um pouco de aguarela negra pode ser salutar, essencial que é para certos efeitos de perspectiva e profundidade, técnicas do desenhar da vida que vamos aos poucos aprendendo e esquecendo, sinuosos são os caminhos dos esquissos da existência. Ao mesmo tempo me foste ensinando, me trouxeste o saber enclaustrado das salas e dos livros, sapiência tão importante como supérflua, sem dúvida, ainda assim cativante, até os bacharelatos o são, basta que as gentes assim os considerem. Também em outras faculdades

Stephanie SayuRi paixão

fui aprendendo, destas, dizem as mesmas gentes que não chegam a ser superiores, são meras escolas, da vida ao que parece, e nelas sempre estamos matriculados, ainda que se escondam pela cidade, esperam pacientemente que lá passemos, como tantos outros

antes e depois de nós, para delas levarmos algo, às vezes sem que saibamos. Fomos mudando, eu bem mais que tu, pois claro, normal disparidade tendo em conta a diferença de idades já referida, ou talvez não tenhas mudado e eu tenha mu-

dado pelos dois, talvez te visse a cada dia diferente por também os meus olhos mudarem. Nestas coisas das percepções nunca se sabe, cá para mim, vai daí, ainda é o Emanuel prussiano que tem razão no meio disto tudo e sempre foste um númeno, imutável, perpetuamente esquivo de olhares que realmente te apreendam e percebam. Não sei se te percebo, Coimbra, não sei se te conheço tampouco sei o que pensarei quando um dia te deixar. Talvez não cante como alguns. Provavelmente a minha voz não ressoará pelas tuas ruelas, embargada de emoção, capa negra de saudade, no momento da partida, decerto não levarei para a vida nenhum dos teus segredos. Levarei os meus, que presenciaste, e por isso te confesso, aqui que ninguém nos ouve: acho que aprendi a gostar de ti.


22 | a cabra | 20 de novembro de 2012 | Terça-feira

opinião Cartas à diretora ComUniCado do Conselho de rePÚbliCas (16-11-2012) Conselho de rePÚbliCas*

devido aos cortes nos serviços públicos e apoios sociais, sabem quantas pessoas não conseguem frequentar o ensino superior?”

É do nosso entendimento que o país está a saque, e neste momento a única diferença que encontramos entre os de Caxias e os dos sucessivos governos, é que os últimos são de certeza culpados! Neste sentido, tal como no passado, o Conselho de Repúblicas não se conforma com os sucessivos ataques aos direitos que estão na base da dignidade de todas as pessoas: os direitos da Educação, do Trabalho, da Saúde, da Habitação e da Alimentação. Esta situação é ainda mais gravosa pelo facto de, ao mesmo tempo, não se verificarem cortes nos grandes grupos económicos. Devido aos cortes nos serviços públicos e apoios sociais, sabem quantas pessoas não conseguem frequentar o Ensino Superior? A progressiva mercantilização do Ensino e privatização das Universidades reforçado pela aprovação do OE de 2012 provocou um abandono escolar de 100 pessoas

por semana. Imaginem quantas mais pessoas vão deixar de frequentar o Ensino Superior com a nova redução de 54 milhões de euros no OE de 2013. Queremos notar aqui, que não nos preocupa apenas a situação do Ensino Superior, que exigimos que seja, efectivamente, Público, Universal e Gratuito. Falando de emprego, e tendo em conta que, para além das nossas famílias e trabalhadores e trabalhadoras em geral, nós próprios somos ou seremos trabalhadores e trabalhadoras, não queremos engrossar as fileiras de precários/as que estes sucessivos governos tanto tendem a criar. Opomo-nos a isso! Queremos e exigimos condições de trabalho dignas! Porque acreditamos que não devemos baixar os braços, lançámos no passado dia 14 um desafio ao reitor e ao restante CRUP; que encerrassem, em simultâneo, todas as instituições de Ensino

Superior na Greve Geral, dia 14. Desta feita, reafirmamos este desafio: que encerrem, em simultâneo, todas as Instituições de Ensino Superior no próximo dia 22 de Novembro, dia de luta estudantil. Mais uma vez, propomos que encerrem e cubram de negro todas as janelas e portas das supracitas instituições. Por outro lado, que se pronunciem ainda contra todas as medidas de austeridade e todos os atentados à nossa dignidade, como este OE. Para além desta proposta, queremos deixar um último desafio ao Reitor da UC. Assim, incitamos o mesmo a convocar um plenário com toda a comunidade universitária (alunos, docentes e funcionários), com micro aberto. Neste sentido o Reitor deverá decretar o encerramento de todos os serviços universitários e também, ceder o espaço para o efeito. Propomos ainda à AAC, como representante institucional e de-

fensora incondicional dos direitos das/dos estudantes, que seja reafirmado, através de uma nova declaração, o Luto Académico. A ser decretado o Luto Académico, solicitamos desde já o apoio a este por parte da Reitoria da UC. Para terminar, queremos deixar claro que como Conselho de Repúblicas estivemos, estamos e estaremos sempre ao lado dos e das estudantes e de toda a população.

*Representantes das Repúblicas de Coimbra

ComUniCado sobre o Corte orçamental e a Posição do Conselho de reitores Plataforma Universidade Contra a aUsteridade e lista t

afinal os nossos interesses não estão salvaguardados, o corte mantém-se e soma-se aos dos anos anteriores. os problemas da UC mantém-se e agravam-se!”

Na passada sexta-feira, dia 16 de Novembro, as comunidades universitárias de todo o país aguardavam a reunião dos reitores das universidades públicas portuguesas (anunciada uma semana antes pelo Reitor da Universidade de Coimbra), na Sala dos Capelos, na qual estes se posicionariam acerca dos cortes previstos pelo Orçamento do Estado 2013 para o Ensino Superior. No entanto, na véspera deste acontecimento, os membros da comunidade universitária são informados do «cancelamento da comunicação solene ao país dos reitores das universidades públicas portuguesas», o que provocou o espanto de todos. A reunião aconteceu – mas longe dos estudantes - na sede da Fundação das Universidades Portuguesas, onde os reitores se reuniram. De acordo com o comunicado enviado à comunidade universitária pelo gabinete do reitor da UC, o Governo recuou no corte do financiamento das universidades,

acordando com um corte menor do apresentado anteriormente. Só faltou acrescentar que a origem do recuo está na reorganização de verbas que serão retiradas ao ensino básico e secundário. Nas palavras do reitor da UC, este é «um bom resultado». Contudo, é importante clarificar o que implicam, na realidade, estes retrocessos. A verdade é que o Governo não esclarece qual é o real montante disponibilizado às universidades para o seu financiamento. Mais, este montante é equivalente ao aumento de cinco por cento das contribuições das universidades para a Caixa Geral de Aposentações, não sendo suficiente, sequer, para cobrir os subsídios de férias. Assim, verifica-se que a falta de financiamento permanece e cabe à comunidade académica não considerar esta medida paliativa como uma vitória, afinal os nossos interesses não estão salvaguardados, o corte mantém-se e soma-se aos dos anos anteriores. Os problemas da UC mantêm-se

e agravam-se! Nós, estudantes organizados na plataforma U.C.A. - da qual foi lançada a Lista T - exigimos o fim dos cortes no ensino, pois esta dívida não foi contraída pelos estudantes e não devemos ser nós a pagá-la. Estes ataques só poderão ser derrotados com a luta e com a unidade dos estudantes e dos colectivos já existentes, conforme é a intenção da nossa plataforma. Por isso, estamos conscientes de que se deixarmos de lutar os ataques ao ES vão voltar e de forma mais violenta, pelo que faz todo o sentido que no dia 22 saiamos todos à rua tendo em vista um objectivo comum: o do acesso universal ao ensino superior, bem como a garantia dos direitos dos professores e funcionários, em suma, uma melhor qualidade de ensino! Cartas à diretora podem ser enviadas para

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20 de novembro de 2012 | Terça-feira | a

cabra | 23

OpiniãO Stephanie Sayuri paixão

editoriAl A cApitulAção do Ato eleitorAl Um ano volvido e nada é o mesmo. Novembro regressa com mais umas eleições para os corpos gerentes da Associação Académica de Coimbra (AAC), nos dias 26 e 27. A campanha eleitoral começou no dia 17, mas ainda não se viram os habituais ‘flyers’, cartazes, faixas e ‘outdoors’. O facto de dia 17 ser um sábado pode não ter ajudado. Mas teremos sempre o Facebook. Relativamente ao ano passado, as alterações são significativas. E isto traduz-se num ambiente (ainda) sereno. Se no ano passado, duas das cinco listas candidatas apostaram na pré-campanha e na divulgação acérrima de propostas e bandeiras, este ano isso não está a acontecer. Este ano, há apenas três listas –

presentava qualidade e/ou campanhas verdadeiras. Este ano também é marcado por alguma leviandade com que se lida com as eleições. Se por um lado há listas que se preocupam em apresentar o seu projeto condignamente, referindo os seus objetivos e desejos aos estudantes, a lista de recandidatura ainda não o fez. Dado que (supostamente) a campanha já teve início, é uma falha que se pode repercutir na aproximação aos estudantes, que sempre é invocada como bandeira. Sobre o restante programa apresentado, as diferenças não são muito grandes de ano para ano. A inovação é posta de parte, substituída por um comodismo nas iniciativas. Estas poderiam ser mais profícuas e arrojadas se houvesse

A culpa passa também pelos próprios estudantes, que vão delegando isso uns nos outros, até chegarmos ao último que simplesmente afirma que não se interessa” uma delas é recandidatura. Continuam as listas de sempre, que têm aqueles objetivos comuns mas que, apesar disso, continuam separadas. Ainda que os argumentos utilizados por uma dessas listas – a lista A – apontem para uma posição de continuidade (um coletivo que tem sido consistente desde há algum tempo), perdem alguma força continuando sozinhos. Perde a lista A e a lista T, a tal com objetivos muito semelhantes. Há coisas que nunca vão mudar, apresentem-se as justificações que se apresentarem. Para o Conselho Fiscal da AAC, a situação de mudança ainda é mais notória. Enquanto que no ano passado, haviam dez listas, este ano, existem apenas três. Pode ser que assim se leve este órgão um pouco mais a sério, dado que nem sempre a quantidade de listas re-

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debate prévio. Mas não um debate marcado em cima do joelho – tem de ser construído, fomentado e continuado. As Assembleias Magnas servem para isso mesmo. Mas ultimamente, isso pouco se tem verificado. Só a atitude passiva de quase sempre ouvir e votar aquelas moções com o mesmo proponente – a DG/AAC. A culpa não passa só pela DG/AAC, pela divulgação feita ou não pela Mesa da Assembleia Magna, e coletivos. A culpa passa também pelos próprios estudantes, que vão delegando isso uns nos outros, até chegarmos ao último que simplesmente afirma que não se interessa. Onde está a larga maioria que aprova as moções em Magna? Porque é que não marcam presença nas ações concretizadas? Vale a pena pensar nisto. Por Ana Duarte

Jornal Universitário de Coimbra - A CABRA Depósito Legal nº183245/02 Registo ICS nº116759 Diretora Ana Duarte Editora-Executiva Ana Morais Editora-Executiva Multimédia Andreia Gonçalves Editores Stephanie Sayuri Paixão (Fotografia), Liliana Cunha (Ensino Superior), Daniel Alves da Silva (Cultura), João Valadão (Cidade), Paulo Sérgio Santos (Ciência & Tecnologia), António Cardoso (País & Mundo) Secretária de Redação Mariana Morais Paginação António Cardoso, Catarina Gomes, Rafaela Carvalho Redação Beatriz Barroca, Daniela Proença, Emanuel Pereira, Ian Ezerin, João Martins, Joel Saraiva, Luís Azevedo, Miguel Patrão Silva, Pedro Martins Colaborou nesta edição Ana Namora, Andreia Oliveira, Bárbara Sousa, Fábio Aguiar, Hugo Teixeira Mota, Inês Pereira, Inês Rama, Joel Saraiva, Tiago Rodrigues, Stephanie D’Ornelas Fotografia Ana Morais, Daniel Alves da Silva, João Gaspar, Rafaela Carvalho, Stephanie Sayuri Paixão Ilustração Carolina Campos, Joana Cunha, Tiago Dinis Colaboradores permanentes Bruno Cabral, Camila Borges, Camilo Soldado, Carlos Braz, Catarina Gomes, Fábio Rodrigues, Filipe Furtado, Inês Amado da Silva, Inês Balreira, João Gaspar, João Miranda, João Ribeiro, João Terêncio, José Miguel Pereira, José Miguel Silva, Luís Luzio, Manuel Robim, Rafaela Carvalho, Ricardo Matos, Rui Craveirinha, Tiago Mota, Torcato Santos Publicidade António Cardoso - 914647047 Impressão FIG - Indústrias Gráficas, S.A.; Telefone. 239 499 922, Fax: 239 499 981, e-mail: fig@fig.pt Tiragem 4000 exemplares Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Propriedade Associação Académica de Coimbra Agradecimentos José António Raimundo Mendes da Silva, Samuel Úria


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Paulo Júlio

O Secretário de Estado da Administração Local e Reforma Administrativa, Paulo Júlio, curiosamente nascido em Coimbra, fez promulgar a Lei 50/2012, de 31 de agosto, que prevê a extinção de empresas locais que não atinjam 50 por cento de receitas próprias. A lei leva ao encerramento da Turismo de Coimbra (TC), que por não atingir os números propostos, deverá ser extinta até fevereiro. O presidente da TC, Luís Providência, acusa o Governo de meter as empresas locais todas no mesmo saco. Por outro lado, entidades regionais são poupadas, tendo-lhes sido permitido regularem a sua dívida. Saberá o Governo no que anda a mexer? J.V. Pág. 14

SASUC

Seguindo as alterações do Ministério da Educação e Ciência ao regulamento de atribuição de bolsas de estudo, os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC) parecem estar a ver a sua vida facilitada. Com uma celeridade notória, a plataforma DGES parece ter sido fundamental nessa viragem, que permitiu o pagamento das bolsas já a 1030 estudantes. Contudo, há que atentar a outras alterações, como é o caso do aumento do número de créditos para 60 por cento. Será legítimo um aluno com dificuldades sócio económicas ser alvo desta avaliação? E ainda há quem esteja à espera e a assistir ao abandono do ES por colegas. A.M. Pág. 7

Pelouro da Cultura da DG/AAC

O coordenador-geral do Pelouro da Cultura assume que não é função da DG/AAC “fazer” cultura. A função do pelouro, para o coordenador, é apenas aproximar as secções. Uma justificação válida, mas que peca pela falta de ambição, demonstrando a forma com que esta DG/AAC encara o seu esforço na vida cultural da cidade: passivamente. Esperando que as secções façam cultura, sem definir linhas mestras que unam o trabalho das várias secções. Apesar dos pontos positivos deste mandato (voltamos a ter todas as 16 secções culturais ativadas), não se pode esperar que as ações culturais surjam apenas pela mão das secções, sem a participação Pág. 9 ativa do pelouro. D.A.S.

Palavras à Parte por Stephanie Sayuri paixão

200 x 100 Não foi fácil começar num novo (velho) mundo, mas foi fácil gostar e pensar ter encontrado o ideal. Tudo parecia convidar e elucidar. Difícil foi um dia perceber que o sonho também tem as suas nuances e armadilhas e que nada é tão bom - que não possa melhorar. Ou melhor, ver que na verdade, ao trocar as lentes, ao adquirir-se conhecimento e pensamento crítico, perceber que não se estava tão bem como se pensava. Difícil então foi acordar. Sair do conforto cego de um sonho romântico que já mostra a sua verdadeira face que deve estar cada vez mais à parte; e não só querer o melhor, mas lutar por ele. É fácil conformarmo-nos. Difícil é levantar e agir. Por uma luz, pela sobrevivência da esperança. Por mim, por ti, pela arquitetura, pelo nosso departamento, pelo futuro e pelo país.


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