Edição 291 Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

Page 1

5 DE NOVEMBRO DE 2018 ANO XXVII Nº291 GRATUITO PERIÓDICO DIRETOR PEDRO DINIS SILVA

Edição Especial Reportagens

Do passado ao presente, da Torre da Universidade à Baixa coimbrã, por aqui se escrevem os capítulos de uma cidade que teima em não parar­­­. Os temas­­­ retratados visam­­­ dar a conhecer histórias e peculiaridades de Coimbra, sob a perspetiva de várias gerações.


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL -2-

ESTA CIDADE NÃO É PARA VELHOS Coimbra acompanha a tendência do restante país, com uma população idosa cada vez mais isolada e desprotegida. As respostas sociais de apoio domiciliário e projetos de voluntariado são suficientes para dar resposta a esta realidade? - TEXTO E FOTOGRAFIAS POR MARINA FERREIRA-

O

s estudantes são os conhecidos protagonis­ tas da história de amor com o Mondego. Coimbra está, de forma inevitável, associada aos jovens que nesta cidade realizam o seu percurso académico. No entanto, escondido nos “segredos desta cidade” está um problema social que à grande maioria passa despercebido. Muitos são os casos de quem já passou o tempo áureo e caiu, agora, no es­ quecimento e na indiferença de tudo e de todos. São cerca de 150 mil os habitantes da cidade do conhecimento. Destes, mais de um quarto têm mais de 65 anos, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística. Grande parte desta popu­ lação envelhecida habita em zonas centrais do mu­ nicípio. Contudo, as quatro paredes são autênticos muros para quem já não se mexe como noutros tempos. O isolamento citadino é cada vez mais co­ mum e a negligência familiar é o fator que determi­ na os casos de maior alarme social. São muitos os idosos na cidade que vivem sós, sem qualquer tipo de retaguarda. Casos de abandono em hospitais e outras unidades médicas são, muitas das vezes, o alerta para que a Segurança Social intervenha.

Apoio Domiciliário: a solução eficaz Uma das respostas existente na cidade para o problema surge por mão de uma das maiores IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) do país. A Cáritas Diocesana de Coimbra apoia, na ­atualidade, mais de 90 idosos que habitam sozi­ nhos. Paula Gomes, assistente social e coordenado­ ra do serviço de apoio domiciliário da instituição, atenta que as vagas para o apoio domiciliário são “muito reduzidas” para o número de casos de iso­ lamento que necessitam de auxílio. É na viagem entre a sede da Cáritas Diocesana de Coimbra, situada no Vale das Flores, e a residên­ cia do utente que vai receber a primeira visita do dia, que Paula Gomes dá a conhecer um pouco do trabalho da IPSS. Todos os dias, entre o meio-dia e as duas da tarde, “nove carrinhas distribuem as refeições de almoço e lanche por toda a cidade”, explica a assistente social. As equipas que tratam da higiene dos utentes operam da parte da manhã. São assegurados “os cuidados básicos de higiene do idoso”, bem como “a limpeza da casa e da roupa de uso pessoal”, acrescenta.

O fornecimento de refeições é o principal serviço que a Cáritas providencia. Paula Gomes confiden­ cia que nas marmitas amarelas entregues está o al­ moço e lanche em “quantidades redobradas”. Expli­ ca que muitos dos utentes não têm capacidade de confecionar o jantar, assim, “o excedente serve para garantir esta última refeição”. A carrinha de nove lugares da instituição chega ao primeiro destino. Do lado de fora da porta ouvese um televisor em alto e bom som. O dono da casa, António (nome fictício), de 92 anos, demora­­­um pouco a abrir. Já sentado à mesa da sua sala de es­ tar explica que “estava deitado”, como passa grande parte do dia “a ouvir a televisão”. Pelos móveis da divisão estão espalhadas molduras, as fotografias nelas colocadas não são de nenhum dos nove fi­lhos do residente. “Os meus filhos é como se não me conhecessem”, confessa António que desde 2008, aquando do falecimento da esposa, é o único habi­ tante da casa. Porém, o nonagenário afirma de forma assertiva que “não vive sozinho” e apressa-se a apresentar a estrela das fotografias. “Teca” é o nome da cadela de raça caniche que António tem como animal de estimação. “É a minha única companhia há mais de dez anos”, revela emocionado. Quando questionado acerca da possibilidade de ir morar para um lar, António explica que não se trata de “não querer”. Esclarece que só não opta por esta solução, que considera “mais cómoda”, uma vez que sem a sua companheira não vai “a lado ne­ nhum”. Os lares não aceitam animais de estimação e, assim, a opção está “fora do baralho” para o utente. Contudo, explica que se encontra inscrito na lista de espera e, “se a “Teca” se for” antes dele, o lar da Cáritas irá recebê-lo. Uma refeição por dia e alguns minutos de ­companhia­ António é só um dos muitos idosos isolados que recebem o apoio da Cáritas no município de Coimbra. Paula Gomes explica que “não há zonas específicas” da cidade em que estes casos predo­ minem. Fala de uma distribuição “homogénea”. A assistente social destaca, porém, localizações como a Baixa de Coimbra e o bairro Norton de Matos, como palcos de alguns dos casos que

“Os meus filhos­­ é como se não me ­conhecessem”


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL -3-

“geram maior preocupação”. A situação de solidão de Ana e Maria (nomes fictícios) é uma das mais “tristes e complicadas” que a Cáritas acompanha, revela Paula Gomes. A residência das duas idosas é a próxima paragem da assistente social que admite ter “muita pena” de não poder efetuar estas visitas com maior frequência. Ana, de 82 anos, é invisual desde a idade da refor­ ma na sequência de uma operação às cataratas. Esta deficiência reduz-lhe, em grande medida, a mobi­ lidade. Conta com tristeza que os seus dias “já não têm interesse”. Quem a auxilia dentro de casa é a amiga Maria, com quem vive “desde os tempos de trabalho na Brotero”. Ana não tem filhos, os seus dois irmãos e únicos familiares não a visitam “há vários anos”. É na hora da entrega do almoço que as duas utentes têm a única oportunidade para interagir com outras pessoas, no decorrer de todo o dia. Ana confidencia que “as meninas da Cáritas” são as únicas visitantes da casa. Os idosos que recebem apoio domiciliário são, em muitas ocasiões, convidados a participar nas ativi­ dades do centro de dia da Cáritas. “Festas de Natal ou excursões religiosas” são algumas das atividades que a instituição promove, conta Paula Gomes. É fornecido transporte a estes utentes, porém, muitas das vezes, “estes acabam por preferir ficar em casa”, confessa a assistente social. Explica que estas são pessoas “muito agarradas à rotina e à habitação”. A grande maioria diz que já não têm “disposição para confusões e barulho” e acaba por se refugiar no seu lar, acrescenta. O centro de dia é uma opção que é sempre apre­ sentada pela IPSS aos beneficiários do apoio domi­ ciliário. Paula Gomes explica que será sempre “mui­ to mais viável e saudável” que o idoso esteja em contacto com os restantes utentes. A participação em atividades de “trabalhos manuais e jogos” e o acompanhamento de técnicos especializados em geriatria “é uma mais-valia” que as instalações do centro de dia, situado na sede da Cáritas Diocesana de Coimbra, oferece. Uma alternativa diferente para combater a solidão A figura do estudante é o retrato da cidade do Mon­ dego. A vida boémia e as saídas noturnas fazem parte desta tela. Mas há quem troque as noites académicas por serões sossegados e as tardes na esplanada por idas às compras. Esta é a face jovem do projeto social “Lado a Lado”. No reverso da moeda estão idosos que habitam sós e que decidem abrir as portas de sua casa à nova geração. Disponibilizam um quarto gratuito para um estudante universitário em troca de com­ panhia e de auxílio nas tarefas do quotidiano. É através de uma parceria entre a Associação Académica de Coimbra e o Gabinete de Intervenção Social do Centro de Acolhimento João Paulo II que surge esta iniciativa. O projeto “Lado a Lado” en­ trou em funcionamento em janeiro de 2009. Procu­ ra unir idosos que vivem sozinhos a estudantes de Coimbra com dificuldades económicas, através da partilha de casa. “O principal objetivo do programa é combater a solidão na terceira idade”, explica a co­ ordenadora do projeto, Teresa da Silva. Por outro lado, o estudante universitário “beneficia do facto de não pagar uma renda”, explica. No entanto, não é só a situação financeira do académico que é avaliada. É necessário que o par­

ticipante tenha uma “predisposição para vi­ ver com uma pessoa de mais idade”, atenta a coordenadora. É traçado um perfil do idoso e é feito o mesmo com o participante jovem, através de entrevistas individuais e testes psi­ cotécnicos. Teresa da Silva explica que o “o­­ bjetivo é conjugar as personalidades dos dois participantes”, de modo a que a convivência diária seja positiva para ambos os lados e que desta surja uma “relação de entreajuda que perdure”, acrescenta. “Idas ao supermercado e a consultas médi­ cas” são duas das ocasiões que a coordenadora aponta, em que a ajuda de alguém é essencial para a pessoa de mais idade. Tarefas simples do dia-a-dia em que dois braços para carregar sacos ou o “simples estar lá” fazem a diferença, atenta. A coordenadora do projeto de ação so­ cial refere a expressão “pôr a chave na porta”, que afirma ser empregue pela maioria, senão por todos os participantes idosos. O ”ânimo de saber que está alguém para chegar a casa” é um relato unânime, explica Teresa da Silva. A responsável confessa que o projeto “já viu melhores dias”, uma vez que o número de inscritos tem diminuído ao longo dos úl­ timos anos. Vivem “Lado a Lado”, neste mo­ mento, quatro pares de idosos e estudantes na cidade. Refere que em anos anteriores o número de casas partilhadas chegou às 16. Apesar de a adesão ter diminuído, a coor­ denadora afirma que quem está inserido no programa “faz um balanço muito positivo”

do mesmo. Acrescen­­­­­­ta­­­­­, ainda, que há “uma mu­ dança significativa na vida dos idosos e dos es­ tudantes que com eles vivem”. O testemunho de quem viveu “Lado a Lado” Cristiana Lopes aluna de mestrado em e­­­­­­­du­ cação pré-escolar na Escola Superior de Edu­ cação de Coimbra participou durante dois anos da sua vida académica no projeto. A jo­ vem estudante, de 22 anos, partilhou casa com uma das idosas selecionadas pelo programa. Adjetiva a experiência como “enriquecedora” a nível pessoal. A estudante na área da educação, durante as entrevistas, foi emparelhada com uma ex-pro­ fessora primária através do cruzamento dos dois perfis. A partilha de casa transformou-se, assim, também numa partilha de experiência profissional para ambas as participantes do pro­ jeto. A jovem entende que foi importante ouvir o testemunho de quem “deu aulas durante uma vida inteira”. A experiência terminou, mas Cristiana afir­ ma que sempre que regressa a Coimbra ten­ ta visitar a senhora com quem viveu durante parte do seu percurso académico. O contacto telefónico mantém-se “todas as semanas”, uma vez que a senhora se encontra “debilitada devi­ do a pro­blemas de saúde”, conta a mestranda. Do projeto “Lado a Lado”, a ex-participante faz um balanço “positivo”, explica que este é uma maneira de “ajudar e ser ajudado” e de “comba­ ter a solidão dos mais velhos”.


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL -4-

ANTIGUIDADE CLÁSSICA: UM TEMPO PASSADO­­­ VIVIDO NO PRESENTE Portugal é dos poucos países europeus com um grande défice de traduções de obras da antiguidade clássica. Crescente desinteresse pela língua e cultura clássica marca atual geração de jovens estudantes­­­ - TEXTO E FOTOGRAFIAS POR INÊS GAMA-

N

os tempos primordiais, as cidades tinham ou­ tros nomes. As ruas eram largas e espaçosas. Línguas antigas ecoavam em vários pontos do plane­ ta. Edifícios imponentes eram erguidos em inúmeros locais para homenagear deuses e imperadores. A hu­ manidade começava a escrever e organizar as primei­ ras civilizações. No velho continente, gregos e romanos faziam surgir os primeiros impérios europeus que marcaram e trans­ formaram para a eternidade o pensamento humano. Nasciam conquistadores. Adoravam-se deuses. Escre­ viam-se os primeiros poemas. Era o período em que o homem descobria o poder da sabedoria. Dos gregos sobreviveu até aos dias de hoje a litera­ tura, a filosofia, o teatro. Já dos romanos, poderosos dominadores, a herança é maior. Da sua passagem pela península ibérica ficaram as grandes cidades, alguns costumes e tradições, mas sobretudo ficou a língua lati­ na, mãe das atuais línguas faladas neste território como é a Língua Portuguesa. Pois, assim quiseram os deuses que quando Camões cantasse n´ Os Lusíadas que Vénus ajudaria os portugueses a alcançar a Índia, fosse porque “na língua, na qual quanto imagina\ com pouca cor­ rupção crê que é a latina”. Coimbra nasceu com os romanos. Tinha um outro nome e uma dimensão diferente da atual. Nos dias de hoje, a cidade é conhecida pelos seus estudantes e pela universidade que há mais de sete séculos forma os in­ telectuais de Portugal. Mas será que milénios depois, as marcas desse mundo antigo foram apagadas da vida cultural e académica da cidade, símbolo da sabedoria do nosso país? As palavras de um mundo antigo que inspiram as do presente Hoje as ruas do centro da cidade são vielas estreitas e apertadas. Os mantos volumosos e as vestes compri­ das há muito que deixaram de desfilar pelas vias. Já não se homenageiam imperadores ou soldados de exército romano. No entanto, do tempo clássico não ficaram só pedras e ruínas, pois as palavras faladas voam, mas as palavras escritas permanecem. No Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos (CECH) da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC) primazia-se o culto pelos Estudos Clássicos. Esta unidade de investigação, que celebrou 50 anos de existência em 2017, centra-se no estudo das palavras que foram legadas pelos gregos e romanos, mas não só. “Os Estudos Clássicos são a unidade central do centro, mas temos núcleos fortes de outras áreas como a filosofia, a arqueologia e os estudos artísticos”, esclarece o diretor do CECH e professor catedrático da FLUC , Delfim Leão. Dos vários projetos desenvolvidos no CECH, os ‘Clas­ sica Digitalia’ são um dos que mais sucesso tem e mais interesse desperta. Esta plataforma é uma biblioteca digital que reúne para descarregamento gratuito todas as traduções dos clássicos gregos e latinos, bem como as pesquisas publicadas no âmbito dos Estudos Clássicos. O principal objetivo dos ‘Classica Digitalia’ é que o pú­ blico laico ou especializado tenha acesso às publicações desenvolvidas no CECH “sem pagar um único cêntimo

por isso”, ilustra Delfim Leão. Os ‘Classica Digitalia’ são um projeto com uma grande visibilidade e notoriedade internacional, uma vez que aproximam um mundo muito antigo com a era digital do tempo presente. Os classicistas portugueses da atualidade têm como principal desafio a aproximação desse tempo distante, que marca o início do pensamento humano, com as sociedades contemporâneas. Neste momento, as socie­ dades interessam-se cada vez menos pelas humanidades e as suas áreas. No entanto, para o diretor do CECH, uma área “que lida com o que nos foi legado do passado significa que tem ainda dois trabalhos básicos e essen­ ciais”. São eles o acesso às fontes e a aproximação desse legado com o presente. Para que estes dois objetivos sejam cumpridos é necessário um trabalho minucioso de tradução. Segun­ do a professora catedrática de Grego da FLUC e mais recente galardoada com o prémio desta instituição, Maria de Fátima Silva, “uma das tarefas que um clas­ sicista ainda hoje, passados tantos anos, pode fazer em prol dos Estudos Clássicos é traduzir”. A história anti­ ga e interpretação literária nunca está feita, porque em cada época e geração há sempre uma forma diferente de ­olhar e realizar a tradução. Ao contrário do que acontece em vários países da Europa, como a Itália ou Alemanha, Portugal tem um défice enorme de traduções de autores deste período. Isto faz com que ainda exista um considerável núme­ ro de autores clássicos que ou não estão completos ou não estão de todo traduzidos. Existem também cada vez menos pessoas a saber ler grego e latim, o que faz com que haja espaço nas equipas dos Estudos Clássicos para as gerações mais novas. A tradução de uma obra clássica não é apenas a co­ dificação de uma língua noutra. Exige um esforço de receção e de releitura de forma a que um texto com dois mil anos de existência seja lido e compreendido no século XXI. A tradução de textos escritos em grego e em latim “é uma tarefa que continua útil e necessária”, comenta a docente da FLUC. Textos, como são os da comédia grega, que vive muito do que está acontecer e de referentes do momento, necessitam de uma atua­ lização constante. Pois, “expressões que são usadas pas­ sados alguns anos não têm tanta piada e necessitam de atualização”, explica Delfim Leão. Dentro dos textos que sobreviveram à passagem do tempo e são, nos dias de hoje, considerados clássicos, “há um património que tem que ver com a antiguidade e figuras que marcaram gerações que hoje também nos inspiram”, ilustra o diretor do CECH. Estas obras e o imaginário relacionado com elas são o tipo de legado que se deve transmitir às gerações futuras, porque são a génese da identidade europeia e ocidental. “Não há dúvida de que nós necessitamos de marcas identitárias e que de facto a antiguidade clássica é uma delas porque, ao longo de milénios, plasmou a nossa forma de ver o mundo”, afirma Delfim Leão. Estudos Clássicos: uma área em crise? O estudo da Antiguidade Clássica nos tempos atuais contribui para a formação literária, cultural, mas so­ bretudo humana de cada indivíduo No entanto, parece

que o interesse por esta área é, por parte dos estudantes e do ministério, cada vez mais escassa. “Os interesses que hoje em dia parecem ser os dos estudantes ou até da própria tutela não passam por disciplinas como as nossas”, comenta a professora Maria de Fátima Silva. É certo que hoje os Estudos Clássicos carecem de di­ vulgação e estima por parte da sociedade portuguesa. “A ideia de que as Clássicas têm um número reduzido de alunos sempre foi evidente”, clarifica a classicista. Se­ gundo esta, o cidadão português desvinculado destes assuntos pensa que esta área é insignificante em Portu­ gal. No entanto, para Maria de Fátima Silva, basta estar atento, por exemplo, ao programa das grandes compa­ nhias de teatro nacionais para verificar que há muitos cartazes de teatro clássico. A docente e investigadora da FLUC considera que seria importante dar a esta área o lugar que lhe cabe no ensino secundário. Pois, crê ser “escandaloso que um país de tradição latina, como é Portugal, esteja reduzido a uma dezena de escolas que ensinam latim no país inteiro”. Este fator de desprezo pelas Clássicas leva a que os portugueses fiquem com “um atrasado em relação a outros países com marcas latinas fortes, como por e­xemplo a França ou a Itália, ou menos latina, como é o exemplo da Alemanha onde a cultu­ ra latina tem uma força que os portugueses parecem querer desconhecer”, comenta. No entanto, apesar da tendência ser de cada vez


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL -5-

menos interessados, ainda há alunos que chegam à Fa­ culdade de Letras fascinados pelos mistérios e apren­ dizagens que esta área oferece. Para Lara Paz, mestranda da FLUC no ramo dos Estudos Clássicos, a decisão de embarcar nesta aventura foi tomada à última da hora. “Quando faltava uma semana para as inscrições no En­ sino Superior, ­descobri o curso de Estudos Clássico e pensei que era mesmo isso que queria”, relata. O facto de sempre ter querido aprender grego e latim foi um peso forte na decisão da jovem estudante. Todos os anos são admitidos cerca de 20 alunos na Licenciatura em Estudos Clássicos. Ao longo do seu per­ curso académico, estes estudantes são convidados a par­ ticipar em inúmeros projetos desenvolvidos pelo CECH. Das várias atividades desenvolvidas por este centro para estimular o interesse dos seus alunos, o apelo à partici­ pação em projetos teatrais é das que mais se destaca. “Dentro do CECH há um grupo de teatro, o Thíasos, em que todos os alunos deste curso, e não só, são incen­ tivados a colaborar”, elucida o coordenador da Licencia­ tura em Estudos Clássicos da FLUC, José Luís Brandão. Através do teatro e da representação das peças dos autores da Antiguidade Clássica, os estudantes ficam a perceber, numa vertente mais prática, as obras e os cos­ tumes desta época que estudam na teoria numa aula normal. Pertencer a um grupo como o Thíasos “dá a oportunidade de ver a peça de uma outra forma e ex­ plorar um pouco mais este universo”, considera Lara Paz. Por norma, este grupo teatral leva a cena uma peça em cada ano que varia de forma alternada entre a tragédia e a comédia. O público é fiel, mas com o passar do tempo ficou reduzido. “É um público incógnito que procura o teatro cada vez menos”, lamenta José Luís Brandão. O coordenador desta licenciatura explica que reali­ zam-se ainda projetos de ‘workshops’ de cultura clássica em que “os monitores são os estudantes do Ensino Supe­ rior que ensinam os estudantes do ensino secundário”. Esta iniciativa pretende criar várias oficinas que abordam “a mitologia, o mosaico e também a escrita latina”, ilus­ tra o coordenador da Licenciatura em Estudos Clássicos. ­De­­­­s­­­­­­­­­t­­­­­­­­­­­­a­­­ forma, fomenta-se nestes jovens estudantes o gosto e empenho pela herança deixada por Homeros e Vergílios.


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL -6-

GERAÇÃO PÓS 23: A LUTA PELO SONHO ADIADO A perspetiva daqueles que, pela sua experiência de vida, trazem história à Universidade. Entre o medo e o desejo de arriscar, um objetivo comum a todos - TEXTO E FOTOGRAFIA POR FRANCISCO MADAÍL-

T

odos os anos milhares de jovens entram, através do Concurso Nacional de Acesso, em cursos superiores por todo o país. No entanto, porque nunca é tarde para retomar ou, em certos casos, começar os estudos, são diversos os homens e mulheres que, ao abrigo do regime de maiores de 23 anos, se aventuram diariamente num mundo de livros e estudantes. Este concurso especial desti­ na-se apenas a candidatos nacionais, com mais de 23 anos, que não sejam titulares da habilitação de acesso ao Ensino Superior. Segundo dados facultados pela reitoria da Univer­ sidade de Coimbra (UC), no ano letivo 2017/2018, foram 53 os indivíduos que ingressaram através des­ te regime de acesso, distribuídos diferentemente em termos de género: 31 mulheres e 22 homens. Embora guiadas por diferentes motivos, todas estas pessoas partilham um sonho, o Ensino Superior, pelo qual escolheram batalhar até que se realizasse. O homem que se perdeu na História Fernando Pimenta é um desses casos. Aos 50 anos, teve a ousadia de entrar num mundo que considera pertencer aos mais novos. “Estou aqui por puro pra­ zer, apenas me regozijo por me deixarem participar”, afirma. Agora no segundo ano do curso de História da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o estudante admite que optar pela vida académica foi uma ideia que só surgiu recentemente. Após finali­ zar o secundário, não hesitou em seguir pela via mi­ litar. “Sou daquelas pessoas que praticamente nunca

trabalhou, sempre fiz aquilo que gostei”. No entanto, porque a vida é incerta e ninguém sabe o que o des­ tino reserva, Fernando viu-se obrigado a mudar de rumo. Devido a problemas de saúde, abrir mão da carreira militar foi necessário. Mas nem sempre His­ tória conquistou um lugar no coração de Fernando, não da mesma forma, pelo menos. Várias opções fo­ ram colocadas em cima da mesa e a ida para Agricul­ tura Biológica quase se tornou numa realidade. “O problema”, confessa, “foi na candidatura, exigiram-m­­­­­­­e­­­­­ conhecimentos que não tinha. Vi logo que não era a minha praia”. Neste momento, é feliz em História e participa ativamente na comunidade estudantil do seu curso. “Faço parte da comissão do carro, vou aos convívios, jantares, considero-me integrado. Eles li­ gam-me para ir às reuniões e eu vou com gosto”. Orgulhoso do caminho seguido, mostra-se pronto a aprender enquanto o deixarem. “O que me interessa é adquirir o maior conhecimento possível”, admite. Por este motivo, afirma não pensar muito no mestrado. “Se calhar, mais depressa faço outra licenciatura do que um mestrado”, revela, entre sorrisos. Contudo, não esconde que foi difícil tomar a decisão de voltar a estudar. “Se há coisa que não gosto é de abandonar algo a meio, tive de ponderar bastante”. No entanto, acrescenta estar mui­ to satisfeito com a decisão tomada, já que tem agora “o tempo preenchido e era isso que queria”. Trabalho e estudo equilíbrados na balança da Justiça O percurso de Ricardo Santos foi um pouco dife­ rente. Estudante de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (FDUC) desde 2014, o rapaz de 33 anos passou pela Universidade de Aveiro alguns anos antes. Engenharia do Ambiente parecia, na altura, a escolha certa. No entanto, não demorou muito até Ricardo se aperceber que não estava satis­ feito. “No secundário não nos dão matéria suficien­ te para termos uma decisão concreta daquilo que queremos”, desabafa. Decidido a abandonar o curso, ingressou no mercado de trabalho. Hoje, com mais experiência de vida, defende que “passar um ano a trabalhar é importante para a pessoa abrir horizon­ tes e saber aquilo que quer”. Ao fim de três anos como funcionário forense num escritório de advogados, chegou à conclusão que uma licenciatura na área do Direito lhe podia vir a ser útil. “Com as bases teóricas de um curso, facilmente me tornaria num melhor profissional”, re­ fere. “Uma pessoa nunca pode estar satisfeita com o

que tem, deve sempre procurar evoluir”, acrescenta. Uma vez aceite pela UC, restava apenas integrar-se na comunidade estudantil, o que, para alguém, na altura, cerca de dez anos mais velho, poderia ser um desafio. “No início, notei claramente uma barrei­ ra comunicacional, mas ao fim de um semestre ela acabou por cair. Neste momento não sinto qualquer diferença em relação aos meus colegas.” Com o tem­ po dividido entre faculdade e emprego, as atividades extracurriculares foram as que mais sofreram. Nas palavras do próprio, “quando uma pessoa toma uma decisão destas, sabe que alguma coisa vai ter de ficar para trás”. A pouco tempo de terminar a licenciatura, o estu­ dante admite que, embora esta tenha sido uma deci­ são solitária, contou sempre com o apoio da entidade patronal. “Se não me dessem as horas para ir às aulas como deram, provavelmente não conseguiria fazer o curso da mesma forma. Foi uma ajuda”. Não esquece também o quanto a sua mentalidade mudou desde que foi estudante pela primeira vez. “É uma expe­ riência totalmente diferente, a partir de uma certa idade conseguimos evitar alguns erros cometidos no passado”, admite. “Há outro método de estudo, outra responsabilidade”, completa. A respeito do futuro, Ricardo parece ter tudo definido. “O plano é fazer o mestrado, integrar a ordem e, mais tarde, exercer como advogado”, explica. “Caí aqui de paraquedas”: o relato de quem trocou os céus pelo conforto dos livros A força da gravidade é um fenómeno bem conhe­ cido, que, de um modo muito simples, pode ser ex­ plicado à luz desta premissa: tudo o que sobe, tem de descer. No caso de João Fonseca, foi literalmente o que aconteceu. O percurso deste estudante não foi propriamente o de um universitário comum. Na es­ perança de conciliar os estudos com uma fonte de rendimento, entra em 2005, com 22 anos, na Força Aérea. Destacado em Monte Real, começa a estudar Gestão em ‘part-time’, na cidade de Leiria, três anos depois. Embora lhe fosse proporcionado o estatuto de trabalhador estudante, com “todo o tempo e be­ nesses adjacentes”, nem tudo era um mar de rosas. “Caso houvesse trabalho, este recebia prioridade. Só depois vinham os estudos”, explica. Em 2012, interrompe a vida académica e focase apenas na carreira. Contudo, a vontade de con­ tinuar a estudar nunca morreu. Por este motivo,


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL -7-

faz uma paragem de quatro anos e, no ano letivo 2016/2017, decidido a acabar o curso, pede trans­ ferência para a cidade dos estudantes. “Foi uma de­ cisão fácil”, afirma. No entanto, avizinhava-se toda uma mudança. “De certa forma, caí aqui de paraquedas”, confessa. Esta­ va numa cidade estranha, rodeado de caras novas, que olhariam para ele com muita admiração. Porém, ao recordar como tudo começou, João garante nunca ter sido colocado de parte. Estabelecido o contacto, levantava-se uma questão: “Experimentar ou não a praxe?” – Para o ex-militar, que já tinha passado por isso em Leiria, o conceito não era completamente estranho. Contudo, decidiu ser apenas espectador desta vez. “Entrei numa segunda fase, já tinham co­ meçado as praxes, nem sequer pensei nisso”. Em tom de riso, acrescenta, “em Leiria foi diferente. Entrei mais cedo e também era mais novo.” Um ano depois, João assegura querer continuar a estudar e prosseguir para o mestrado, “talvez algo relacionado com a área de vendas, mas preciso de ponderar. Não quero tomar uma decisão precipita­ da”, explica. Porém, é também sem qualquer relutân­ cia que aconselha outros a não seguirem o seu exem­ plo no que diz respeito à licenciatura. O problema “começa quando estamos muito tempo afastados, há bases que acabamos por esquecer”. “Hoje em dia”, acrescenta, “o recurso mais escasso que temos é o tempo, por isso não podemos andar a brincar”. “Avançar, ir em frente e sem medo”. O conselho da mulher que tudo fez Para Graça Pereira, o valor das propinas foi ape­ nas uma pedra no sapato. Não impediu que o sonho se realizasse, apenas o adiou durante algum tempo. “Na altura, os meus pais não tinham possibilidades financeiras. Mais tarde, eu também não tive a dis­ ponibilidade, com dois filhos pequenos era impossí­ vel”. Estudante de Administração Público Privada na FDUC, é aos 43 anos que se torna aluna no Paço das Escolas e concretiza o sonho de uma vida. “É, acima de tudo, uma realização pessoal. Sinto-me orgulhosa de mim própria”, afirma, sorridente. “Sempre gostei de estudar e sempre quis tirar um curso superior”, acrescenta. Este não é, contudo, o único ponto posi­ tivo. Graça trabalha como coordenadora técnica na Câmara Municipal de Anadia e acredita poder pro­ gredir na carreira após concluir o curso. Porém, nem tudo foi fácil. Entre a excitação e adre­ nalina, eis que surge a dúvida: “E se não for capaz?” A estudante admite ter pensado mesmo em desistir, mas os amigos mostraram ser aliados poderosos. “Tenho amigos que me apoiaram e que sempre acre­ ditaram em mim. Graças a eles, estou a conseguir”. Divorciada, mãe de dois filhos e com vida atualmen­ te dividida entre trabalho, casa e faculdade, Graça tem lutado para conciliar tudo da melhor maneira possível. “É preciso espírito de sacrifício e tenho de ser muito metódica”, confessa. No que diz respeito à relação com os colegas mais novos, Graça acredita estar bem integrada, embora note algumas claras diferenças de maturidade. “Con­ sidero-me a mãe deles, são quase todos bem mais novinhos que eu”, admite enquanto deixa escapar uma gargalhada. A respeito do método de estudo, considera também haver algumas desigualdades. “Se calhar, apesar de não ter nem metade do tempo que eles têm para estudar, consigo gerir as coisas de outra forma. Tenho uma visão diferente da vida, é normal”. Graça reforça a importância de lutar por aquilo que se deseja, com base na sua própria história. É necessário “avançar, ir em frente e sem medo!”. Para esta mulher, concretizar o sonho foi apenas uma questão de tempo e de força de vontade, nunca algo impossível. “Quando se quer muito, acaba por se conseguir. Eu sou prova disso”, afirma com um misto de convicção e orgulho.

“Estou aqui por puro prazer, apenas me regozijo por me deixarem participar” “Uma pessoa nunca pode estar satisfeita com o que tem, deve sempre procurar evoluir” “O recurso mais escasso que temos é o tempo, por isso não podemos andar a brincar” “Apesar de não ter nem metade do tempo que eles têm para estudar, consigo gerir as coisas de outra forma”


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL -8-

PASEP: A AJUDA DE TODOS E O DESAGRADO DE ALGUNS NO SEIO DA ACADEMIA Com diferentes experiências, quatro alunas da UC a trabalhar pelo PASEP não negam a importância que o programa tem no equilíbrio das suas despesas. Apesar de o representante dos estudantes apontar falhas aos moldes em que o programa se realiza, a administradora dos SASUC considera o projeto “um sucesso estrondoso” - TEXTO E FOTOGRAFIAS POR MARGARIDA MANETA -

D

esde 2013 que os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), por meio do Programa de Apoio Social a Estudantes através de Atividades a Tempo Parcial (PASEP), têm encaminhado alguns alunos da Instituição de Ensino Superior para funções remuneradas em diferentes espaços da cidade. No entanto, o projeto não tem re­ unido opiniões consensuais. No seio da comunidade académica, o presidente da Direção-Geral da Asso­ ciação Académica de Coimbra (DG/AAC), Alexan­ dre Amado, critica os moldes em que o programa se realiza e entre as participantes há quem se queixe da experiência e quem a estime. “Desde que cheguei [à cantina], senti estar a ocupar um lugar de importância” Marta Castro (nome fictício), aluna do tercei­ ro ano de Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC (FPCEUC), trabalha desde o primeiro ano da licenciatura pelo PASEP. Da Biblioteca Geral da UC (BGUC) às cantinas, é numa das nove unidades alimentares dos SASUC que, de momento, passa três horas do seu dia, entre as quatro horas diárias permitidas pelo regulamento do programa. A remuneração pela atividade realizada não é, tal como a de todos os outros participantes, feita em dinheiro, mas sim através da comparticipação total

ou parcial do pagamento de propinas, alojamento em residências universitárias ou alimentação. Isto significa que o programa “amortiza a despesa do estudante com base no salário equivalente ao vo­ lume de trabalho”, explica a administradora dos ­S ASUC, Conceição Marques. A intenção é evitar que os alunos “abandonem o sistema universitário por carências financeiras”, explana a administrado­ ra dos SASUC. O trabalho é “muito cansativo”, revela Marta. Às 12 horas em ponto inicia funções, mas acredita que condições de trabalho diferentes não têm horas para chegar. No início, quando chegou à cantina, em específico à zona de recolha de tabuleiros, já exerciam funções duas funcionárias. Com a che­ gada de Marta, a vaga disponível no último ponto da recolha de tabuleiros, a lavagem da loiça, ficou preenchida. “Desde que cheguei, senti estar a ocu­ par um lugar de importância”, conta. Com o tér­ mino do contrato de uma das funcionárias, Marta viu o volume de trabalho crescer. Passaram a ser duas para “tratar de tudo naquela zona da canti­ na”, explica. Desta forma, apesar de o regulamen­ to afirmar que os estudantes não podem satisfazer necessidades de pessoal da instituição, a aluna de Psicologia sente que passou a substituir “não uma, mas duas funcionárias que, caso iniciassem fun­ ções, assinariam um contrato de trabalho”.

Confrontada com a questão, Conceição Marques revelou-se surpreendida dado que “um aluno nunca pode substituir um funcionário”, até porque “o nú­ mero de horas diárias a desempenhar funções é bem mais reduzido, como indica o regulamento”. A admi­ nistradora dos SASUC clarifica que a vaga ficou por preencher uma vez que “os concursos ainda estão a decorrer e o número de funcionários é limitado, sen­ do que os existentes são necessários nos postos que ocupam”. Admite que o volume de trabalho possa ter aumentado, mas não “de forma exagerada”. Ain­ da assim, Conceição Marques assegura averiguar e analisar com a divisão de alimentação o sucedido, apesar de o considerar uma “interpretação extensi­ va” da realidade. A intensidade laboral e as condições, como “pas­ sar as três horas em pé”, alimentam o desgaste físico da aluna e influenciam o seu desempenho escolar. “A postura com que estou nas aulas é diferente devido ao cansaço que acuso”, esclarece. Marta confessa que só a prende à atividade a necessidade de ajuda para pagar as propinas. O ‘feedback’ positivo Rafaela Cruz constata outra realidade. Acorda cedo para rumar com tempo até à cantina da Facul­ dade de Ciências do Desporto e Educação Física da UC, onde trabalha desde fevereiro. Ao contrário de


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL -9-

Marta, esta aluna da Licenciatura em Direito na Fa­ culdade de Direito da UC (FDUC) só vê na expe­ riência proporcionada pelo PASEP elementos posi­ tivos. “O dinheiro é sempre bem-vindo”, começa por afirmar. Para a estudante de 19 anos, ganhar 4,80 eu­ ros por hora é “muito bom para um trabalho básico, que não necessita de qualificação específica para ser desempenhado”, explica. Para a aluna da FDUC, foram as duas horas de trabalho diárias que a ensinaram a “gerir o tempo”. “Sempre que tenho horas livres aproveito-as para es­ tudar, pelo que o PASEP não prejudicou em nada o meu rendimento universitário”, revela. Para a estu­ dante de 19 anos, o melhor a retirar desta experiên­ cia é o “contacto com outras pessoas”. “Na faculda­ de rodeamo-nos de pessoas da mesma faixa etária e com os mesmos interesses, criamos uma bolha de convicções que nos é confortável”, expõe. Com a che­ gada à cantina, Rafaela contactou pela primeira vez com o mercado de trabalho, para além de conhecer e aprender “com pessoas de outras idades e com outras experiências de vida”. “Gosto de trabalhar na canti­ na. Gosto das pessoas com quem trabalho e sinto que elas gostam de mim”, conta. Na perspetiva da administradora dos SASUC, este tipo de atividades laborais permite que os estu­ dantes desenvolvam “competências transversais”. É de casos como o de Rafaela que Conceição Marques tem recebido um ‘feedback’ “tão bom” que lhe per­ mite avaliar o programa como um projeto de “suces­ so estrondoso”. A posição do representante dos estudantes Alexandre Amado tece, desde o início do seu primeiro mandato, em 2016, críticas ao programa. Rafaela acredita que “o corpo associativista defen­ de a eliminação dos PASEP por não se aperceber do benefício que o programa traz aos alunos com ne­ cessidades financeiras”. O presidente da DG/AAC reconhece que “não se pode tirar o benefício ao estudante que precisa dele”. No entanto, para Ale­ xandre Amado, o programa só faria sentido se os

moldes fossem reconfigurados. “O PASEP deve com­ plementar o currículo do estudante e não ser utili­ zado para substituir contratos de trabalho”, afirma. Para o presidente da DG/AAC, o aluno deve retirar proveito curricular do desempenho das atividades. Deve apostar-se em atividades de “índole académica, isto é, trabalhos cujo desempenho apoie, ajude e de­ senvolva o estudante e o seu currículo”, defende. Até agora, todas as opções disponíveis são “exteriores à formação curricular”, elucida Alexandre Amado. Questionada sobre a hipótese de incluir propos­ tas de trabalho relacionadas com a oferta formativa da UC, a administradora dos SASUC confessa não ter controlo sobre a situação. “A necessidade de ter a colaboração de um aluno parte de uma unidade orgânica”, explica. Para além disso, na perspetiva de Conceição Marques, revestir as ocupações de um carácter académico não é um dos principais objeti­ vos do programa. “As atividades devem adaptar-se a qualquer estudante”, não devendo, por isso, “restrin­ gir-se a uma área”, clarifica. “Uma oportunidade excelente” No início do ano letivo, Jéssica Fachada não viu a bolsa que considerava justa ser-lhe atribuída. Atra­ vés dos SASUC conheceu o PASEP e hoje encontra­ mos a aluna do Mestrado Integrado em Psicologia na FPCEUC na sala de receção da BGUC. Para a estu­ dante de 21 anos, o programa é “uma oportunidade excelente” que lhe permite equilibrar as finanças lá de casa. O rendimento escolar não subiu nem desceu, “está bem”, até porque as horas de trabalho “são poucas” e o local onde trabalha é “silencioso e permite estudar ao mesmo tempo”. As relações sociais é que ficam, por vezes, para segundo plano. “Às vezes há um café à tarde com as amigas e, por causa do trabalho, não posso ir”, afirma. “Disseram-me que tinha de abdicar da minha vaga em função de outra estudante que reclamou por não ter sido contactada”

Rita Nogueira, aluna da Licenciatura em Línguas Modernas na Faculdade de Letras da UC (FLUC), também trabalhou entre os livros e as requisições de lugar da BGUC, mas por pouco tempo. Ao ter­ ceiro dia de trabalho, recebeu uma chamada que a obrigou a sair, apesar de estar a preencher a vaga para a qual se candidatou. “Disseram que tinha de a­­bdicar da minha vaga em função de outra can­ didata que reclamou por não ter sido contactada quando, na verdade, ela não atendeu o telemóvel e passaram para outra pessoa da lista”, conta. Con­ ceição ­Marques sustenta que este é um caso que lhe transcende. “Este tipo de situações estão ligadas à unidade orgânica”, esclarece. A estudante ainda tentou reverter a situação. “Desloquei-me aos SASUC e até deixei uma queixa no livro de reclamações, mas não deu em nada”, ex­ plica. “Depois de sair não me ajudaram em nada”, confessa. De momento, Rita está a trabalhar na bi­ blioteca da FLUC porque se candidatou e acredita ter tido “sorte”. A administradora dos SASUC revela que as exigências necessárias para um aluno se can­ didatar e ser selecionado se prendem com requisitos de mérito, por um lado, e financeiros, por outro. “O candidato deve ter aproveitamento em 50 por cento dos ECTS em que esteve inscrito no ano letivo ante­ rior ou, caso não consiga cumprir este patamar, 36 ECTS, no mínimo”. Para além disto, é feita uma se­ riação com base na “capacidade financeira do aluno”, esclarece Conceição Marques. Apesar de terem experiências diferentes, as inter­ venientes não negam a importância que o PASEP tem na sua vida académica e, sobretudo, financeira. O presidente da DG/AAC aguarda pelo dia em que os moldes do programa vão ser reconfigurados e se tornem de índole académica, de forma a favorecer o currículo dos participantes. Até lá, reconhece, tal como a administradora dos SASUC, a positiva opor­ tunidade que o programa dá aos estudantes que pre­ cisam de suprimir despesas com um trabalho que não põe em causa a atribuição de bolsa.


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL - 10 -

“MEIA DÚZIA DE MORANGOS, POR FAVOR” Quatro vendedores cansados, quatro bancas de memórias e uma casa desesperada por barulho e movimento. As grandes superfícies esvaziaram o Mercado D. Pedro V, deixando os vendedores a perder as pessoas de vista. Para as atrair, a Câmara Municipal de Coimbra quer dar uma nova vida ao edifício com um investimento de 800 mil euros - TEXTO POR E FOTOGRAFIAS POR MICAELA SANTOS-

U

ma pomba sem destino voa pelo mercado. A senhora da loja de vestuário dorme sobre a banca. Do outro lado, um casal cruza as palavras de um jornal. Às dez horas da manhã de segunda-feira, o Mercado D. Pedro V dorme mais do que o habitual. A maioria das bancas estão fechadas. À quarta-feira, o mercado parece mais pequeno. Há uma azáfama maior a preencher as pequenas ruas interiores. Na banca dos legumes, um senhor lê o jornal. Do outro lado, no talho, duas senhoras riem apontando para o telemóvel. O mercado que existe desde 1867 já to­ mou várias formas, já abraçou várias vidas. Hoje ves­ te um fato moderno, mas tem menos amigos. Ao transpor as escadas do Mercado D. Pedro V espera-se animação, pregões gritados de catapulta de um lado ao outro, o bulício do dia-a-dia preen­ chendo os ouvidos. Mas “a cada semana que passa, o mercado morre”. Quem o diz é Maria Lucília Silva. Vende peixe no mercado há 29 anos. Todos os dias o despertador estremece às 5h30. “Hoje dormi muito mal porque a minha mãe foi para as urgências”. Os 55 anos mostram-se nas mãos, doridas do trabalho. Conta que o Fórum Coimbra, inaugurado em 2006, levou muitos clientes do mercado. “Até tenho saído mais cedo porque se vende muito mal, e eu não te­ nho de estar aqui”. Há dias em que sai do mercado

pelas 14h30. Atrás de um bigode farfalhudo, tingido pelo taba­ co, está Manuel Soares. Sentado nas escadas de en­ trada do mercado, segura um cigarro com um olhar pensativo. Tem 62 anos e fuma desde os 16. Assim como Maria Lucília, trabalha numa banca de peixe. Fala do mercado: “os dias em que uma pessoa se safa aqui é à sexta e ao sábado. Nos outros dias, isto é um deserto”. Conta que as lojas que se encontram fecha­ das permanentemente já estiveram abertas, mas as pessoas foram embora. Ilda Simões carrega 53 anos nas costas. Senta-se no mercado a vender fruta desde os 12. As pessoas passam vagarosamente em frente à Cestinha da Ilda. Param quase todas para a cumprimentar. Perante o vazio do mercado àquela hora, Ilda conta que “as grandes superfícies vieram tomar conta do país, do comércio tradicional e da saúde”. Ajeita-se melhor no banco atrás das caixas de fruta. “Hoje quem vem ao mercado é porque gosta de qualidade. Ainda que tenhamos preços mais baratos, não temos dinheiro para fazer as nossas publicidades”. Apressada para regressar à Figueira da Foz, Mada­ lena Rodrigues acaba por se sentar para atirar as me­ mórias à boca. Tem 72 anos e só mantém a sua banca dos laticínios aberta para não estar sozinha em casa.

“Isto não dá para tirar um ordenado. Nem pensar!”. Diz que o que ganha com as vendas no mercado não dá para viver. Como já está reformada, conta que vai vivendo, ainda que o que ganha só cubra as despe­ sas. Com todo o trabalho que o mercado oferece sem retorno, Madalena diz que passa mais tempo com certos clientes do que com familiares. “Criámos as­ sim essa amizade. Eles vêm há muitos anos, nunca deixaram de vir”. Uma nova vida para o mercado? Há um projeto em desenvolvimento para “dar uma vida nova, mais urbana e cosmopolita ao Mer­ cado Municipal de Coimbra”. Segundo Carlos Cida­ de, ­vereador do pelouro dos Mercados Municipais e vice–presidente da Câmara Municipal de Coimbra, está a dar-se início a um projeto de refuncionali­ zação do mercado, integrado no Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano, que ronda os 800 mil euros. O edil revela que este empreendimento “vai ter um complemento de atividades que passam pela gastronomia e outras valências artísticas e culturais”, com um horário mais alargado. O vereador não tem dúvidas de que esta remode­ lação vai atrair mais pessoas para o mercado e para a Baixa de Coimbra. Descortina que o mercado vai


5 DE NOVEMBRO DE 2018

EDIÇÃO ESPECIAL - 11 -

ter duas vertentes: uma que é a do funcionamento normal do mercado, e outra que funcionará em pe­ ríodo noturno. Revela ainda que se vão fazer obras, nomeadamente na praça do peixe e nas galerias por cima – que estão fechadas e vão ter outra função. “Espero que nos próximos meses tudo seja apro­ vado, para depois lançar a obra”, termina Carlos Cidade. Após a definição do projeto, ainda tem de ser discutido com a Associação de Comerciantes do Mercado D. Pedro V. “Creio que nos próximos meses as coisas estarão em condições de ser lançadas”. Quanto a isto, Manuel Soares diz que é preciso “ver para crer”. Na sua opinião, as lojas que estão fe­ chadas, em vez de irem a leilão – “onde pedem uma exorbitância de dinheiro” –, deviam ser alugadas por um valor determinado. “Podíamos ter uma sapa­ taria de consertos rápidos, uma costureira - que já quis vir para aqui -, um senhor que quis duas lojas porque arranja computadores, e eles [Câmara] não ­quiseram…”. Roubos? E não são poucos… “Nós vivíamos dos estudantes. Hoje não. Os jo­ vens deixaram de vir…”. Ilda apoia-se na banca para lembrar a presença dos estudantes no mercado. “Na altura da Queima das Fitas, entram aqui bêbedos, a cair, beijam-nos, abraçam-nos… é aquela coisa”, des­ creve a vendedeira de fruta, soluçando entre risos. No entanto, os jovens também já lhe passaram a per­ na. “Há uns anos, um grupo de estudantes rouboume um saco de castanhas que tinha comprado no dia anterior por 70 euros”. Maria Lucília partilha histórias semelhantes. Já lhe roubaram o prato da balança onde pesa o peixe, duas douradas e um par de botas de cano, que usa­ va para lavar o chão do mercado. “Ainda na Queima deste ano um estudante tirou uma cavala à minha colega, mas veio aqui pousá-la”. A vendedeira de pei­ xe começou a trabalhar por conta de uns tios, mas sempre se ajeitou. “Antes de trabalhar aqui estava num restaurante, e eu era das poucas que gostava de amanhar o peixe”. Os vendedores do mercado reconhecem que há cada vez menos clientes. Maria Lucília diz que antes tinha muita clientela. Agora já não. “Tiraram o pos­ to médico, os correios… são coisas que fazem muita falta”. Ilda explica que comprou o espaço à Câmara em hasta pública. No entanto, se quiser ir embora, não pode vender o espaço, tem de o “entregar de mão beijada à Câmara, não há trespasses”.

O cheiro do queijo não incomoda Madalena Ro­ drigues. Compõe-se no banco onde se senta e conta que comprou o seu lugar no mercado em 1977 por 413 contos (que hoje se traduz em cerca de 2.060€). “Era muito dinheiro!”. Diz também que continua a pagar renda. “A renda é baixinha. Pago 18,90€”. Cerram-se-lhe as sobrancelhas quando se fala das lojas que já fecharam. “Quando as pessoas queriam vir para cá, a Câmara não mostrou facilidade, tinha muitas exigências. Depois, as vendas começaram a piorar, não havia clientes, e agora já ninguém quer vir para aqui”. Suspira: “vão saindo, e qualquer dia não está cá ninguém”. A Câmara Municipal de Coimbra quer contrariar essa expectativa com o novo investimento, prome­ tido por Manuel Machado nas autárquicas de 2017. A última reestruturação do mercado data de 2001, sob tutela do atual presidente da Câmara. Custou 1,5 milhões de contos (que equivale hoje a quase 7.5 mi­ lhões de euros) e serviu para reconstruir e ampliar o edifício, muni-lo de equipamentos modernos e melhorar as condições de higiene. A estes aprimora­ mentos, acresce a construção do elevador e funicular na parte exterior do edifício, que liga o mercado à Alta da cidade, e 180 lugares de estacionamento.

A “Revolta do Grelo” e outras histórias Corria o ano de 1903 quando a “Lei do Selo” agrava­ va os impostos, atingindo principalmente os vendedo­ res do mercado. A revolta foi tamanha, que houve uma grande onda de descontentamento popular nos dias 11 e 12 de março, fechando o comércio, as fábricas e as oficinas. O aparato movimentou milhares de pessoas, o que obrigou à vinda de forças militares para a cidade. A este acontecimento, que registou mortos e feridos entre a população, apelidou-se de “Revolta do Grelo”. Nesses dias, a universidade e o liceu foram também encerra­ dos, tendo a academia manifestado a sua solidariedade para com as vítimas. A história do mercado está repleta de episódios curio­ sos. Por exemplo: em 1915, uma vendedeira foi impedida de entrar no edifício durante 15 dias, por ter proferido palavras ofensivas da moral pública (vulgo: palavrões). Uma outra, em 1917, foi suspensa durante 30 dias por incitar à greve. Um outro episódio decorreu na manhã do dia 27 de setembro de 1935, quando um casal entrou no mercado. Gerou-se a confusão, uma grande algazarra, lançaram-se frases de escárnio contra os namorados. O acontecimen­ to é descrito na ata da Câmara Municipal do dia 3 de ou­ tubro, explicando que “o burburinho foi motivado por o referido casal, especialmente a mulher, se apresentar com um vestido que parecia bom demais para a sua condi­ ção”. Episódios como estes não se contam pelos dedos das mãos dos vendedores do mercado. “Podia-me sair o Euromilhões hoje, que eu continuava a vir para aqui” Apesar do sentimento esmorecido dos vendedores, vigora um grande sentido de companheirismo e entrea­ juda. “Isto aqui é uma família”, conta Madalena, de mãos sentadas nas pernas. Os clientes fiéis também entram na história. “Tenho clientes de há 40 anos. Já atendi as mães, os filhos e os netos. Nem são clientes, são amigos. Já são da casa, como costumo dizer”, exprime Ilda, com ternura, franzindo os cantos da boca. “Podia-me sair o Euromilhões hoje, uma grande for­ tuna, que eu continuava a vir para aqui”. Manuel Soares diz que, até se reformar, continua a ir para o mercado, por gostar de lidar com as pessoas. Todos os dias levanta o corpo da cama às 3 horas da manhã, para ir buscar o peixe à Figueira da Foz. Quando sai do mercado, pe­ las 14h30, vai ter com os seus pombos-correio. “Já hoje fui treiná-los. Na sexta-feira vão para uma prova para o Algarve e outros para Espanha”. É o seu desporto pre­ ferido. Ninguém o vê num café. Ou está no mercado, ou com os pombos, ou em casa. Como um pombo sem destino, vai voando pelo mercado.

Reportagem redigida a 22 de julho de 2018


Mais informação disponível em

EDITORIAL - POR PEDRO DINIS SILVA -

As cores de quem por cá passa

O

jornalismo, se de alguma coisa for fei­ to, é produto de histórias, experiências e pontos de vista. Seja de quem for, de pessoa para pessoa. É esta a premissa que rege a presente edi­ ção especial, que funciona como um culminar do Curso de Jornalismo 2017/2018, dinamizado pela Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra (SJ/AAC). É do povo bem sabido que quem conta um conto acrescenta um ponto. Contudo, há contos que de pouco ou nada precisam de pontos acres­ centados. Histórias cuja necessidade de ser ouvi­ das não tem hora marcada, cujo valor e interesse, por não serem imediatos, são imensamente es­ peciais. Casos como o do nonagenário António, que vive sozinho há uma década e que tem como única companhia a sua cadela, abrandam uma sociedade mediática que teima em funcionar pela atualização constante, pela ordem do dia e pelo descartável. Do mesmo modo, são problemáticas como a crescente falta de interesse pela cultura clássica nos jovens ou o funcionamento de um programa de apoio a estudantes que abrem as portas à discussão em comunidade. São histórias como a de Ilda, que vende fruta desde os 12 anos de idade e que vê o seu local de trabalho cair cada vez mais no esquecimento, ou de João, que largou a carreira na Força Aérea para se dedicar ao so­ nho de acabar o curso, que enriquecem a função do jornalista e a enchem de cor. Desta forma, tal como a SJ/AAC e o Jornal A Cabra sobrevivem pelas mãos dos que por cá passam e vão ficando, também o jornalismo vai crescendo com as histórias que por cá se contam. Escre(vi)vendo. Há que delinear que pontos dei­ xar por acrescentar. Há que saber colorir antes de riscar e deitar fora. É assim que crescemos.

PUBLICIDADE

colabora connosco! 14h às 18h Secção de jornalismo

da Associação Académica de Coimbra (2º piso)

239 851 062 a_cabra /jornalacabra

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

acabra@gmail.com

Ficha Técnica

Diretor Pedro Dinis Silva

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Equipa Editorial Luís Almeida, Inês Duarte, Hugo Guímaro (Fotografia), Margarida Mota, Paulo Sérgio Santos Colaboraram nesta edição Marina Ferreira, Inês Gama, ­Francisco Madaíl, Margarida Maneta, Micaela Santos Ilustração João Ruivo (primeira página), Luís Gomes (pág. 7) Publicidade Marta Emauz Silva Paginação Luís Almeida e Pedro Dinis Silva

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.