Edição 294 Jornal Universitário de Coimbra - A Cabra

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12 DE MARÇO DE 2019 ANO XXIX Nº294 GRATUITO PERIÓDICO DIRETOR PEDRO DINIS SILVA EDITORES EXECUTIVOS LUÍS ALMEIDA E DANIELA PINTO

De olhos postos na fiscalização da academia

Chegado o fim do mandato, os presidentes cessante e eleito do Conselho Fiscal da AAC refletem sobre o passado e o futuro do órgão. PÁG. 3

GABRIELA MOORE

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ENSINO

CULTURA

DESPORTO

CIÊNCIA

CIDADE

No mês da sua tomada de posse, o novo reitor desenha a equipa que o vai acompanhar nos próximos anos

A nova rúbrica, “Cantos da Casa”, descobre as histórias guardadas nas “caixas negras” do TEUC e do CITAC

Manuel Picão promete deixar marca na história da AAC. Internacional português antevê os próximos anos

Alunos da UC não doam sangue por medo. Atitudes cívicas ajudam a encarar a dávida como algo natural

Presidente da ­­APPA­­­­­CDM­­­ conta a história da associação que celebra 50 anos e revela as maiores dificuldades


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COM VENEZUE­­­­­LA­­­­­ NO CORAÇÃO, SAUDADE GANHA NOVO SIGNIFICADO

A crise venezuelana sentida e analisada por quem saiu do país rumo à cidade dos estudantes. Contexto histórico como base das questões problemáticas - POR VASCO BORGES E SOFIA GONÇALVES -

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urante o século XX, a Venezuela chegou a ser um dos destinos mais apetecíveis para os emigrantes portugueses. Hoje, são muitos os que regressam, não só por opção, mas também para escapar à crise que o país atravessa. Todos os dias, os media noticiam a violência, as perseguições e a escassez de alimentos que afeta milhões de pessoas. Por cá, a mais de 6500 km de distância, a comunidade venezuelana em Coimbra tenta prosseguir os estudos e o trabalho, sempre com o país natal em mente. Arturo López veio para Portugal em 2002, estudou Medicina na Universidade de Coimbra e trabalha no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. Apesar de ter saído do país muito jovem, conta que a Venezuela era um país diferente. “Já havia criminalidade, mas era um país estável e próspero”, acrescenta. Fundador do Colégio Luso-Venezuelano, Fernando de Oliveira chegou a Portugal há 30 anos. Mesmo considerando a Venezuela “uma nação muito boa”, destaca a “insegurança pessoal” como o motivo que o levou a abandonar

o país. “As pessoas viviam lá pelo clima e pelas oportunidades” recorda, revelando que “pretendia passar lá a vida”. O ex-estudante de Medicina garante que os problemas surgiram antes de as notícias começarem a fazer eco pelo mundo. “Enquanto aqui se falava nas relações entre o governo de Chávez e Sócrates, por lá já havia escassez de comida e medicamentos”, relata Arturo López. Stephanie Batista, aluna de Engenharia Biomédica no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, deixou a Venezuela em 2016. Menciona “a desnutrição e a mortalidade” como principais consequências da crise. Os hospitais não têm condições higiénicas, mas “os governadores mentem ao publicitar, nas redes sociais, novos equipamentos”, comenta. Os entrevistados convergem no que cabe à falta de humanidade do governo. Para Stephanie­­­ Batista, “é muito difícil ver esta situação e ficar estável a nível emocional”. Com Nicolás Maduro no poder, “as situações económica, social e política tornaram-se insustentá-

veis”, adiciona Fernando de Oliveira. No cenário político, a repressão foi um problema desde que Hugo Chávez subiu ao poder. Em 2018, Nicolás Maduro antecipou as eleições presidenciais e declarou-se vencedor, envolto em polémicas por fraude. A comunidade internacional não o reconheceu como presidente da Venezuela e a nova crise política começou. Nesse momento entra em cena Juan Guaidó­­­, presidente da Assembleia Nacional e um dos poucos opositores que escapou à prisão. O ex-estudante de Medicina relembra que “Juan Guaidó aparece a invocar um artigo da Constituição, que diz que se o Presidente governa de forma ilegítima deve ser substituído, até à realização de novas eleições”. Maduro considera-se líder legítimo da Venezuela e conta com o apoio militar. Nas palavras de Arturo López, é uma luta “entre os que têm a razão e os que têm a força”. Para si, a esperança reside nos militares que têm desertado para o lado de Guaidó, mas avisa que o país tem pela frente uma longa e penosa batalha.

MESA DA ASSEMBLEIA MAGNA IMPLEMENTA MUDANÇAS PARA ATRAIR ESTUDANTES

Primeira AM do ano marcada pela alteração de local. Presidente da MAM/AAC promete fazer pressão para que reuniões passem a decorrer sempre no Polo I - POR PAULO CARDOSO E MARIANA ROSA GABRIELA MOORE

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primeira Assembleia Magna (AM) deste ano civil ficou marcada por alterações logísticas. O presidente da Mesa da Assembleia Magna da Associação Académica de Coimbra (MAM/ AAC), João Bento, considera que o principal objetivo das medidas implementadas é “envolver toda a academia” nas decisões da casa. A primeira alteração foi mudar o local da reunião para o Auditório da Reitoria. Ao recordar as AM dos anteriores mandatos, realizadas na Cantina dos Grelhados, João Bento argumenta que “o local não era adequado porque não tinha condições de som e de conforto”. No que diz respeito à negociação em torno da mudança de local, destaca a facilidade em dialogar com a reitoria da Universidade de Coimbra (UC). O presidente da MAM/ AAC revela contudo que “não existe garantia de, no futuro, ser possível continuar no Auditório da Reitoria”. Admite, mesmo assim, que “vão fazer pressão para permanecer nesse ou noutro espaço do Polo I”. Quanto à contabilização do ‘quórum’ da AM, João Bento destaca a introdução de guias de voto. Considera que a nova estratégia foi bem sucedida e que contrasta com a “contagem dos estudantes através dos votos contra e das abstenções” que antes acontecia. Recorda que, se a votação envolvesse uma elevada quantidade de pessoas, “podia não se chegar a saber o número exato de votantes”. Para o presidente da MAM/AAC, tal “não engrandecia a AM”.

Aponta o acesso direto do órgão ao ‘site’ da Assembleia Magna como outra das conquistas, mas revela “a pressão necessária junto da Direção-Geral da AAC para o conseguir”. João Bento declara que “a MAM/AAC é agora capaz de submeter os documentos e informar a comunidade através da plataforma, permitindo que os estudantes participem nas discussões da academia”. Os alunos da UC estão ainda a ser notificados pelo InforEstudante, aquando da realização das AM. O presidente da MAM/AAC confessa que encontraram dificuldades em elaborar um protocolo com a UC, apontando o intervalo de tempo entre o primeiro contacto com a universidade e o envio da notificação como “um processo muito demoroso”. Revela ainda que, mesmo que a AM se planeie com semanas de antecedência, a ordem de trabalhos só é definida nas suas vésperas. Outra medida do plano de ação futuro da MAM/ AAC é implementar o voto eletrónico em detrimento das guias. “Era uma promessa de campanha eleitoral, mas ainda não foi cumprida”, reconhece João Bento. Sugere que a dificuldade é “garantir que o voto seja submetido apenas por quem participa na AM e não por quem está de fora”. As medidas implementadas servem para reforçar a ligação entre os estudantes e a AM. Segundo João Bento, estas reuniões foram “palco de decisões históricas”, daí considerar ser necessário combater a falta de identificação que a comunidade estudantil sente em relação à AM.


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CONTINUIDADE É PALAVRA DE ORDEM PARA NOVO MANDATO DO CONSELHO FISCAL Presidentes eleito e cessante fazem balanço do mandato passado. Trabalho desenvolvido e planos para o ano que se avizinha deixam dirigentes confiantes no futuro - POR RITA FERNANDES E GABRIELA MOORE -

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o rescaldo das eleições do dia 26 de fevereiro para o Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra (CF/AAC), o vencedor da votação, Francisco Costa, e o dirigente associativo ainda no cargo, Jorge Graça,­­­ fazem um balanço do mandato passado e perspetivam a nova fase que se inicia. A tomada de posse vai realizar-se ainda este mês, em data a definir. O CF/AAC é o órgão de jurisdição encarregado da fiscalização de todas as estruturas sob a alçada da AAC. Atualmente, é composto por onze membros efetivos e onze suplentes. O novo presidente do CF/AAC fez também parte do termo anterior. Francisco Costa faz uma avaliação positiva do mandato de Jorge Graça. Refere que “não se fez mais por falta de tempo” e explica ser este o motivo pelo qual alguns membros decidiram recandidatar-se. “O ano turbilhão” O presidente que agora sai do cargo relembra que quando assumiu funções teve de adiar o plano que havia preparado. Isto porque outras questões precisaram de intervenção imediata, como os processos eleitorais das secções, que estavam em atraso. Jorge Graça relata que o órgão passou os primeiros meses num processo de “atualização” da casa, ao terminar “a transição dos antigos Estatutos da AAC para os novos”. Outro trabalho que julgou ser importante foi a fiscalização presencial nas festas académicas. Membros do CF/AAC estiveram no parque durante a Queima das Fitas para, depois, acrescentarem as suas observações ao parecer do órgão sobre o festival. Na Festa das Latas, o grupo esteve presente a fim de garantir que “tudo corria nos conformes”. Jorge Graça acredita que “ninguém espePEDRO EMAUZ SILVA

rava que o CF/AAC tivesse uma posição tão ativa e presente”, já que muitas vezes o órgão acaba por apenas reagir e por não estar presente na ação. O dirigente salienta a opção de atuar no momento, ao invés de “deixar algo correr mal para depois apontar culpados”. Considera que o facto do CF/AAC não ter tido uma sala própria até ao ano passado dificultava a organização da estrutura. Nestas condições, a revisão estatutária, a tarefa de organizar os arquivos do órgão e a polémica em torno das eleições académicas de novembro fazem com que Francisco Costa considere que Jorge Graça teve um “ano turbilhão”. “A AAC tanto vai do céu ao inferno como do inferno ao céu” Quando questionado sobre o que foi mais marcante, Jorge Graça descreveu a primeira volta das eleições da Direção-Geral da AAC como um “inferno”. Por outro lado, comparou a segunda ida às urnas ao “céu”, pois “nada correu mal”. O antigo presidente recorda que, na primeira votação, tanto ele quanto Francisco Costa passaram mais de 48 horas acordados, na tentativa de resolver o sucedido. Ao olhar para trás, classifica o esforço como “surreal”, mas garante que não se arrepende.

“Ninguém esperava que o Conselho Fiscal tivesse uma posição tão ativa e presente” Apesar de ser um momento tenso e do peso de limpar a imagem e reputação da AAC, o presidente eleito julga que a atuação do CF/AAC perante a situação mostrou aos estudantes e à cidade o compromisso da Académica com os princípios democráticos. Francisco Costa considera que a postura do CF/AAC foi “a necessária: manter a cabeça fria e averiguar”. Presi d entes d i s c ord am qu anto à C om i ss ã o D i s c ipl i n ar Este foi o primeiro CF/AAC a ter apoio da recém-formada Comissão Disciplinar da AAC (CD/AAC), um órgão de investigação criado pela última revisão estatutária. Jorge Graça defende que a divisão é positiva, uma vez que garante que “quem faz o inquérito e apura os factos não é quem os vai decidir”. Destaca ainda que isto tirou um peso de cima do Conselho Fiscal, que agora “pode debruçar-se sobre outros assuntos enquanto a Comissão Disciplinar está a investigar”. No entanto, o seu sucessor Francisco Costa avaliou essa dinâmica como pouco benéfica até ao momento. Reconhece que se trata de um JORGE GRAÇA (À ESQUERDA) E FRANCISCO COSTA (À DIREITA)

órgão com potencial para auxiliar bastante o ­­­­­­­C F/AAC,­­­­­­ mas reforça que “precisa de pessoas com disponibilidade, gosto e interesse por fazer o seu trabalho”, o que afirma não ter ocorrido. O futuro presidente revela que muitos dos requerimentos do CF/AAC não chegaram a ter desenvolvimento e que os processos que foram abertos tiveram pouca evolução. Perspetivas de futuro Francisco Costa reiterou que o seu mandato pretende a continuidade do trabalho já iniciado por Jorge Graça. As únicas mudanças que pondera efetuar são questões de melhoramento da organização interna do órgão. Apesar de a alteração estatutária ter aumentado o número de membros do CF/AAC de sete para onze, sentiu que, em algumas épocas do ano, foram necessários mais “recursos humanos”. Para suprir esta demanda, pretende englobar quatro suplentes neste ano, dois a mais do que no ano passado, de modo a que a estrutura fique a funcionar com 15 pessoas. Apesar do balanço positivo, os dois dirigentes associativos acreditam que ainda muito ficou por fazer. Como exemplo, Jorge Graça declarou que a intenção de fazer um modelo único de relatório de contas para todos os organismos da AAC ficou por cumprir. Espera, por isso, que o seu sucessor seja capaz de o implementar. Francisco Costa garante ter como uma das primeiras pautas a reestruturação dos três conselhos intermédios. Destes, considera que apenas o Conselho Internúcleos tem cumprido as suas funções, e classifica como “atroz” o reduzido número de reuniões anuais dos Conselhos Cultural e Desportivo. Conclui que a revitalização destes é essencial para o “acompanhamento mais fácil das secções”. PEDRO EMAUZ SILVA


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CRÍTICAS DOS ESTUDANTES ECOAM MENSAGEM DE FALTA DE ESPAÇOS DE AULA NA UC

Problemática alonga-se há vários anos e mantém-se sem solução à vista. Estudantes da FDUC cansados de serem vistos como “peças de museu”

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Universidade de Coimbra (UC) acabou de completar 729 anos. Apesar do feito, a idade parece pesar-lhe e já são visíveis algumas marcas dos séculos. Por toda a academia, em especial nas faculdades de Direito (FDUC), de Ciências do Desporto e Educação Física (FCDEFUC) e de Letras (FLUC) surgem problemas de falta e de desadequação de espaços de aula sentidos por quem as frequenta. UCsemespaços Queixas dos alunos chegam com frequência a vários núcleos de estudantes da UC. O presidente do Núcleo de Estudantes de Direito da Associação Académica de Coimbra (NED/AAC), Dani Moreira,­ explica que a falta de espaço na FDUC é uma das principais lacunas a solucionar. “Existem unidades curriculares do curso com 600 inscritos, mas não há nenhuma sala na faculdade com capacidade para receber esta quantidade de alunos”, ilustra. Considera que a questão decorre da distinção da UC como Património Mundial da UNESCO, em 2013, o que coloca obstáculos a possíveis obras de expansão. O presidente do ­­­­­NED/­AAC­­­ confirma que a classificação agravou os entraves burocráticos às renovações estruturais da faculdade. Da Alta da cidade à margem esquerda do Mondego, é também na FCDEFUC que se fazem ouvir críticas dos estudantes. A presidente do Núcleo de Estudantes de Ciências do Desporto e Educação Física da AAC (NECDEF/AAC), Joana Gonçalves, denuncia a carência de infraestruturas da sua faculdade. “O espaço não é idealmente nosso”, confessa para explicar que os alunos da FCDEFUC têm aulas no Estádio Universitário de Coimbra, que não pertence à faculdade. A falta de uma sala de estudo e o horário precoce de encerramento da biblioteca juntam-se às preocupações dos estudantes. Tal como a existência

- POR MARIA SALVADOR E PATRÍCIA SILVA -

de apenas três salas de aula, que obriga os alunos “a irem duas vezes por semana para os Departamentos de Física e de Matemática, que pertencem à Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC”, acrescenta. A presidente do NECDEF/AAC recorda as obras decorrentes dos Jogos Europeus Universitários que trouxeram a promessa de mais auditórios. No entanto, revela que ainda estão à espera da abertura destas infraestruturas. De volta ao Polo I, afirmam-se as preocupações da comunidade estudantil da FLUC. Os problemas da instituição prendem-se, segundo o presidente do Núcleo de Estudantes da Faculdade de Letras da AAC (NEFLUC/AAC), Marco Cosme, com a falta de salas de aula e de lugares nas mesmas e com estragos nas infraestruturas do edifício principal e do Colégio de São Jerónimo, espaço da faculdade. No entanto, des­ taca a sala de multimédia como a principal fonte de críticas por parte dos alunos. As queixas devem-se ao facto de o espaço não ter um número suficiente de computadores para todos os alunos. “Quem chega primeiro ainda consegue ter acesso à tecnologia, os que chegam atrasados já não têm lugar e acabam por não poder assistir às aulas”, explica o presidente do NEFLUC/AAC. “A faculdade é um espaço para aprender e não um museu” Os grandes prejudicados pelos problemas de espaço na UC são, para Dani Moreira, os próprios alunos. Refere que, se as aulas da FDUC funcionassem num regime de obrigatoriedade, a faculdade acabaria por bloquear. “Várias salas ficam completamente lotadas e há estudantes a sentar-se no chão”, completa. Já para Joana Gonçalves, o caráter prático dos cursos da ­FC­­­­­DEFUC é comprometido pela “falta de um espaço, fora do contexto de aula, destinado aos alunos que

queiram praticar para as avaliações físicas”. Também o turismo no Paço das Escolas se apresenta­­­como entrave ao aproveitamento dos estudantes da FDUC. O presidente do NED/AAC relata que não existe harmonia entre a atividade turística e o respeito pelos alunos. Revela que é frequente os turistas abrirem as portas dos anfiteatros a meio de exames, entrarem na sala de leitura e fotografarem os alunos sem a sua autorização. “A faculdade é um espaço da universidade, um sítio para aprender e tem de ser encarada como tal, não como um museu ou uma fonte de receita”, defende Dani Moreira. Um problema (ainda) sem solução O presidente do NED/AAC considera que “não surgiram soluções significativas por parte da reitoria, apesar das tentativas da direção da FDUC para expandir ao máximo o espaço da faculdade”. Marco Cosme acredita que houve um esforço por parte da direção da FLUC para colmatar estas falhas, através da transformação de salas de armazenamento de livros em espaços de aula. No entanto, crê que “a responsa­ bilidade não pertence à direção da faculdade”, cabendo a resolução do problema à própria universidade. Na outra margem do rio, Joana Gonçalves relembra a promessa do diretor de novas salas previstas para este ano, mas sem datas de abertura definidas. Dani Moreira espera que a mudança da equipa reitoral traga a aprovação de obras de melhoramento das infraestruturas da FDUC. “Deposito toda a minha esperança na nova reitoria, já que na anterior não havia nenhuma”, acrescenta. A reitoria revelou que a problemática pertence aos seus horizontes de preocupações, mas conside­ rou ser prematuro responder de forma aprofundada a questões tão específicas, em virtude de se tratar de uma nova equipa reitoral em início de funções.

NINO CIRENZA

ANDRÉ CRUJO GABRIELA MOORE


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QUAL É A TUA CENA, JANEIRO? “Acho que uma pessoa pode ser tudo... Podia estar a conduzir barcos no Zimbabué”. Irreverente, original e descontraído, Henrique Janeiro passou por Coimbra para “mandar o teto abaixo”

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ntre várias explosões de ‘confettis’, o lançamento de uma casca de banana para a plateia e sopros de bolhas de sabão, o Salão Brazil encheu-se de boas energias ao som de Janeiro. O concerto foi marcado pela irreverência e descontração dos músicos, com uma entrada em pés descalços e de fatos de treino vermelhos. A tranquilidade transmitida resultou em danças, não só entre os membros da banda, mas também com o público. “Os meus concertos são para aproveitar, para pensar e para estar bem. Quero passar-vos este sentimento porque eu estou bem”. A construção do palco, preenchido com várias plantas, acompanhou a originalidade do cantor e do resto da banda. O músico e compositor, natural de Coimbra, levantou os ânimos da casa na noite de 7 de março. A duas horas do concerto, aventurámo-nos numa conversa com Henrique Janeiro. Como te sentes ao atuar na cidade onde nasceste? É incrível, especialmente porque acho que isto já esgotou ‘online’. Não sei se está esgotado fisicamente, mas espero que esgote. Então, temos de mandar o teto abaixo. Tens algum ritual antes do concerto? Tenho. Todos nós bebemos um ‘shot’ de whisky e mandamos o grito: “toma coisas para viver”. Porquê “Frag.men.tos” para o nome do teu primeiro e único álbum até agora? Em primeiro lugar, por causa do género. Aquilo está tudo fragmentado em género. Primeiro ouves um ‘beat’, depois ouves um ‘R&B’ eletrónico e depois qualquer coisa acústica (como um som sozinho com a guitarra). E o título também é inspirado pelos meus amigos e pela minha família, como se fosse um fragmento de cada um deles. A malta que está na minha vida... É como se fosse um fragmento de cada um e me deixasse inspirar por cada um. Como é que a tua música se relaciona com a tua personalidade? Eu falo, canto e toco sobre o que sinto e o que vou vivendo... E vou-me transformando e desenvolvendo com aquilo que faço. Isso é lindo. É a minha personalidade a influenciar a minha arte. Se estou mais triste, vou falar de uma cena mais triste, vou falar sobre solidão. És tu que compões a tua música, então? Ya, ya. Pensavam que era mais malta?! Sim, sou eu que escrevo tudo e componho. A música sempre fez parte da tua vida? Sim. É uma cena que está sempre presente. Sai-se à rua e é uma coisa a que não dá para escapar (e a que também não se quer escapar). Mas é meio antidemocrático entrar-se numa loja e ter de se levar com uma espécie de música... Às vezes estou na boa, outras vezes apetece-me estar a ouvir outra coisa. E é curioso como as pessoas não se apercebem de que a música tem uma influência nelas a nível emocional. E depois não conseguem, com a razão, tomar consciência de que é a música que lhes está a transformar a emoção. A música tem esse papel funcional de nos transformar. Mas sim,

- POR LEONOR GARRIDO E INÊS CASAL RIBEIRO -

surgiu desde sempre. Lembro-me de estar ao colo do meu pai numa sala a ouvirmos música e discos... Quais são as tuas referências? No cinema, o Kubrick, o Jodorowsky… Estou sempre a ouvir o Frank Ocean, Anderson .Paak, Mac Miller, John Mayer… Assim essa malta. Se não tivesses seguido o curso de Musicologia na Universidade Nova de Lisboa, o que é que tinhas escolhido? Não sei. Se calhar era pescador ou caçador na Antártida. Uma pessoa pode ser tudo... Eu podia estar a conduzir barcos no Zimbabué. Já viram que tem sempre a ver com a água? E quais são os teus próximos objetivos no mundo da música? Não sei. Estava a apetecer-me começar a fazer filmes. Por isso, não sei o que vai acontecer com a música… Mas eu vou continuar a fazê-la. Mas a participar ou realizar? Realizar! Participar não sei. Mais realizar, dirigir...

Participaste no Festival da Canção no ano passado, ficando em segundo lugar. O que sentiste? Como foi cantar no festival? Foi tranquilo. Aquilo é um ‘spot’ um bocado estranho porque tem muitas luzes e câmaras. Não é muito a minha cena... Sentes que há uma nova visão da música em Portugal, após o Salvador Sobral ter vencido a Eurovisão? Não sei se foi depois de ele ter ganho. Acho que já estava a surgir [uma nova visão] há alguns anos… Acho que a malta se está a aperceber agora de que isso está a acontecer, porque há uma data de novos músicos incríveis a surgir. O Salvador Sobral, para além de teu amigo, é também uma inspiração para ti? Claro. E espero que eu seja para ele também. Como é que começou essa relação? O Fred, que é um amigo em comum, apresentounos e começámos a conversar. A cena é que os artistas conhecem-se todos. Acontece que depois acabamos por encontrar uma conexão... De repente, estava sempre com ele. Mas pronto, espero que ele tenha sentido isso comigo também. Acho que nos transformámos em grandes amigos. Um transforma o outro. Cada um inspira cada qual. Se tivesses de escolher, tocavas em concertos só teus ou só em festivais? Epá, depende. Por exemplo, agora vou lançar um ‘single’ com a Carolina Deslandes; entretanto quero lançar um tema também com alguém do Brasil; depois quero lançar outra coisa, mais à frente, com mais malta. Ou seja, eu quero estar em parcerias com as pessoas que estão à minha volta, a fazer música, e fazer cenas no sentido da arte, a escrever e a compor. Então, o que eu quero mesmo é fazer a minha cena sempre, independentemente de onde for. Se o festival me der a logística, a permissão de eu “tripar” com o que eu quiser… Tipo eu chegar lá e dizer “agora quero um cão”, isso é que é a minha cena... Tens em mente um novo álbum para breve? Vou lançar 15 álbuns em 2020. Não, estou a gozar. Não sei, não sei. Epá, eu curto de continuar a fazer cenas e... Não sei, eu estou sempre com bué ideias. Posso-me fritar e ser caçador na Antártida, nunca se sabe.

FOTOGRAFIA GENTILMENTE CEDIDA POR RICARDO REIS


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“CAMINHOS” DE PEREGRINAÇÃO E DE AUSÊNCIA NA SEMANA MAIS LONGA DO ANO A Semana Cultural da UC celebra em 2019 os 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães. Uma rota que se inicia com as palavras de Sophia de Mello Breyner: “Por mais longos que sejam os caminhos, eu regresso” - POR ISABEL SIMÕES -

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ssim como Fernão de Magalhães explorou o mundo pela água há 500 anos, a Semana Cultural da Universidade de Coimbra (SCUC) abriu caminhos à cultura da cidade. Se a primeira edição da mostra cultural durou uma semana em 1999, a dinâmica criada depressa levou ao aumento do número de dias. Este ano, de 1 de março a 12 de abril, a UC, as secções culturais da Associação Académica de Coimbra (AAC) e produtores locais e internacionais de cultura oferecem à cidade e à comunidade académica iniciativas que podem passar por leituras de poesia, espetáculos de teatro ou dança, conferências e debates ou concertos. A 21ª SCUC teve início a 1 de março, dia em que a universidade deu posse ao novo reitor e à sua equipa de vice -reitores. Nessa noite, o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) acolheu um concerto da Orquestra Académica da Universidade de Coimbra, que interpretou a sinfonia “Novo Mundo” de Dvorák. “Caminhos” foi o tema proposto para 2019 numa alusão aos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, que ganham significado nos percursos de um rio e seus afluentes, mapeados no logótipo da semana cultural de 2019, desenhado por António Barros. “Pode dizer-se tudo sobre a semana cultural, menos que ela é insignificante”, disse José António Bandeirinha, docente do Departamento de Arquitetura (DARQ) e pró-reitor para a cultura entre 2007 e 2011, por altura da 19ª SCUC. Dois anos depois, continua a pensar da mesma forma, embora considere que “alguns dos seus propósitos iniciais este-

FILIPA FIGUEIREDO

jam debilitados”. A mudança na coordenação da iniciativa, com a saída da vice-reitora, Clara Almeida Santos, a poucos meses do início, foi uma das razões apontadas pelo arquiteto para essa fragilidade. Na sua opinião, o “projeto carece de uma organização intensa e constante ao longo de todo o ano e do apoio da instituição que a promove”. A alteração da coordenação e da equipa reitoral dificultou o processo, tendo trazido “uma inesperada necessidade de se ajustarem as coisas”, esclarece José António Bandeirinha. A celebrar 30 anos de existência, o DARQ combina na 21ª edição da Semana Cultural as comemorações com um colóquio sobre a cidade de Coimbra, considerada “matéria de eleição” pelo docente do DARQ. “Olhamos para o mundo com os pés assentes em Coimbra, e olhamos para Coimbra com os pés assentes no mundo”, ilustra. Um pouco de história da Semana Cultural Até 1999, o Dia da Universidade de Coimbra implicava um feriado académico, “que funcionava como convite a que muitas pessoas se ausentassem e a que a participação no aniversário ficasse enfraquecida”, conta a pró-reitora para a cultura de então e docente da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), Maria de Fátima Silva. “Semana da Mostra Cultural da Universidade”, assim se chamava. “Nasceu de uma forma mais tímida, mas, ao fim de pouco tempo, exigiu que ampliássemos o tempo para dar espaço a todos aqueles

que queriam participar”, revelou a docente da FLUC. Em 2004, com o pró-reitor João Gouveia Monteiro, a mostra mudou para Semana Cultural da Universidade de Coimbra e ganhou mais dias. “Achei que a ideia da Dra. Maria Silva era boa e podia ser aproveitada, dando-lhe uma dimensão muito mais larga no tempo”, mencionou o mesmo. Foi então que começou a colaboração da Secção de Jornalismo com a Semana Cultural da Universidade de Coimbra, através da publicação da revista Via Latina. Segundo Paulo Sérgio Santos, codiretor com Rafaela Carvalho da última Via Latina publicada, a parceria foi descontinuada a partir de 2016 porque, apesar de ser “uma obra tremenda a nível artístico, cultural e intelectual”, o custo da revista se tornou “uma sobrecarga para uma secção que está inserida na AAC, cuja fonte de financiamento é apenas o dinheiro proveniente da Queima das Fitas”. Com a diminuição da verba recebida da festa académica, tem sido impossível retomar a publicação. Que a revista volte “por mais longos que sejam os caminhos” A Via Latina existe desde 28 de dezembro de 1889. Ao longo dos seus quase 130 anos de vida conheceu vários momentos de suspensão. O primeiro aconteceu logo a 9 de maio de 1890 com a publicação do número 12. Reapareceria 30 anos depois, em maio de 1924. Foram também várias as designações, subtítulos e responsáveis de edições que teve, bem como formatos. Em 1958 foi publicada pela primeira vez como revista. Desde maio de 1991, adquiriu o subtítulo de “Fórum de Confrontação de Ideias”. A partir de 2004, a responsabilidade da edição deixou de ser da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) e passou para a Secção de Jornalismo da AAC. “Globalizações no Plural” foi o tema central da edição desse ano. Como escreveu o então presidente da DG/AAC, Miguel Duarte, a revista “revelou-se, ao longo dos tempos, uma publicação de referência da academia”. Seis anos depois, da direção de João Miranda, agora docente na FLUC, aos 500 exemplares da revista em papel viria a juntar-se uma parceira digital com publicações diárias nas redes sociais. “Não descurando obviamente a edição impressa da revista, acho que o online foi um verdadeiro desafio”, declara Eva Queiroz de Matos, que dirigiu os números 8 e 9 da sexta série. “Era aí que fazíamos jornalismo cultural e escrevíamos sobre as coisas que aconteciam na cidade”, destaca a ex-diretora da revista. “A ideia era criar um site que pudesse ser um espaço de discussão, debate e divulgação de questões mais ligadas à cultura: música, teatro, cinema, artes performativas, mas também à literatura”, reitera João Miranda. A plataforma “tinha um grande espaço de crítica e de crónica”. A ideia era suprir uma carência identificada na altura na cidade: a falta de aprofundamento dos temas culturais, informa o docente da FLUC. O processo de Bolonha diminuiu a participação da comunidade estudantil nas secções culturais da AAC, o que tornou difícil a constituição de equipas redatoriais. Este sentimento é consensual na opinião dos três diretores. Sem fazer paralelismos com outras revistas do mercado, João Miranda entende que “o trabalho de experimentação gráfica” que existiu na Via Latina “só funciona no formato papel”. Face às seis vidas que a revista já teve, quando for possível manter equipas redatoriais e “reformular a redistribuição”, o ex-diretor da revista espera que a sétima série possa mesmo vir à estampa.


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HÁ HISTÓRIA NAS CAIXAS NEGRAS DA AAC

CANTOS DA CASA

O TEUC segue o lema “pelo teatro é que vamos”. Já no CITAC, a “danada caixa preta só a murro é que funciona”. Grupos de teatro carregam décadas de história e de rebelião - POR JÚLIA LOPES E ISABEL PINTO -

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m 1938, entram novas personagens pelas portas da Associação Académica de Coimbra (AAC). Com 80 anos de atividade ininterrupta, o Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (TEUC) é o grupo de teatro universitário mais antigo da Europa. Em 1956, bifurca-se e nasce o Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra ­( CITAC). São dois organismos autónomos e as diferenças são evidentes desde o início. O presidente do TEUC, Rafael Santos, relata que o órgão surgiu “com um grupo de estudantes interessados em fazer teatro e com o professor Paulo Quintela, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC)”. Rafael Santos considera que, na altura, o apoio da universidade foi indispensável, uma vez que suportava toda a atividade. No início, a estrutura baseava-se no teatro clássico, usavam-se textos portugueses e alguns traduzidos por docentes da própria faculdade: “o primeiro uso de algumas obras traduzidas foi feito no TEUC”, recorda o presidente. “Ouvir Zeca Afonso no sótão de um gajo é uma questão política” Com o inicial e não tão conhecido nome de Círculo Académico de Iniciação Teatral, aparece, em 1954, um novo grupo. Era formado por alunos de liceu que se reuniam para “simplesmente ouvir música, ler poesia e falar sobre as peças”, conta Ricardo Seiça, antigo membro do grupo. Oficializa-se, dois anos depois, na academia de Coimbra, com a adição de antigos integrantes do TEUC e com o nome de CITAC. A união dos membros assenta nas suas ideologias semelhantes. O atual presidente do ­CITAC, Guilherme Pompeu, esclarece que “havia uma vontade de ouvir música censurada e de ter uma posição na cidade que não passava só fazer teatro”. Desde o início, a identidade do grupo é marcada por uma ânsia de falar do que nem toda a gente fala. “É isso que faz com que algo mude”, explica Guilherme. “Falar é que gera movimento” e, “durante todo este tempo, fomos criando a nossa linguagem de experimentação”, cimenta. Ao contrário do TEUC, o Círculo tem, desde a sua formação, mulheres a participar nos projetos desenvolvidos. O primeiro espaço deste novo teatro foi uma cave da Faculdade de Direito da UC, para a qual se entrava por uma janela. “A sala era de terra batida e estava infestada de ratos”, descreve o secretário do CITAC, Fernando Miguel Oliveira. “Faziam-se fogueiras lá dentro e o pessoal levava pressões de ar para, nos intervalos dos ensaios, caçar ratos”, conta. Com a construção do novo edifício da AAC, são destacadas para ambos os grupos salas de ensaio, com o nome “caixas negras”. “A AAC foi invadida pela PIDE, mas o CITAC foi o único organismo fechado com selo na porta” Durante a década de 1960, o Estado designou uma administração para gerir a AAC, o que resultou na ocupação da sua sede. Segundo as palavras de Ricardo Seiça, parte do CITAC estava envolvida e integrou o movimento estudantil contra a dita-

dura. “O Círculo transforma-se num espaço de liberdade e, além de teatro radical, faz ativismo político”, realça. Em 1969, há uma crise académica e membros do grupo integram também a organização da manifestação. Todo este cenário contribui para que o CITAC seja encerrado pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), em 1970, e os homens sejam mandados para a Guerra do Ultramar.

“A rivalidade sempre foi cultivada como uma brincadeira. É mais picardia que outra coisa” A porta fica fechada por quatro anos e é um antigo membro que regressa da guerra e, segundo conta Ricardo Seiça, “dá um pontapé na porta e reergue o órgão”. Voltam a afirmar-se as grandes diferenças entre os grupos e o CITAC deixa o teatro de estúdio para fazer ‘performances’­­­ de rua. “A tónica na rivalidade não faz sentido. A história encarregou-se de marcar as diferenças, a vida evidencia-as” Membros do CITAC referem que a rivalidade “sempre foi cultivada como uma brincadeira” e que “é mais picardia que outra coisa”. Membros do TEUC partilham da mesma opinião, dizendo que “é saudável e histórica”. Os grupos trocam materiais entre si e contam que as próximas temporadas de espetáculos foram marcadas em conjunto para não coincidirem. É também comum, mais tarde, surgirem companhias com membros de ambos. Fernando Miguel Oliveira descreve um momento do ano passado em que, no primeiro dia de curso, o CITAC cantou a marcha fúnebre aos novos formandos do TEUC, enquanto entravam na sala. “Isso marcou-os de alguma forma. Primeiro perguntaram que rivalidade era essa, mas depois perceberam que eram umas boas-vindas à CITAC”. Guilherme acrescenta que “o CITAC é uma espécie de irmão mais novo, rebelde”. O presidente do TEUC clarifica que “hoje não há uma direção artística tão estática” e que esta tomou um “caminho mais experimental”. O presidente do CITAC concorda: “antigamente era óbvio que um fazia teatro clássico e o outro experimental. Agora, os dois trabalham tanto texto como movimento”. De acordo com Guilherme Pompeu, o papel do grupo é educar, mostrar o que é o teatro e formar. Os organismos oferecem, em anos alternados, cursos semelhantes de iniciação ao teatro. Ambos fazem parte da programação da 21ª Semana Cultural da UC, onde vão apresentar novas peças. FOTOGRAFIAS DO ARQUIVO DO CITAC (EM CIMA) E DO TEUC (EM BAIXO) AMBAS AS IMAGENS GENTILMENTE CEDIDAS PELOS RESPETIVOS ÓRGÃOS


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DESPORTO NA ACADEMIA COMO FORMA DE MANTER LIGAÇÃO ENTRE INTITUIÇÃO E CIDADÃOS Questões financeiras, espaciais e dificuldades na captação de atletas são os problemas apontados. Propostas da DG/AAC focam a formação administrativa e de tesouraria - POR DIOGO MACHADO E MARIA MONTEIRO -

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queixa transversal das secções desportivas da Associação Académica de Coimbra (AAC) prende-se com a má distribuição de verbas. O responsável da Direção-Geral da AAC (DG/AAC) pela Política Desportiva, Renato Silva revela que “a maioria dos apoios que a casa recebe vem da Câmara Municipal de Coimbra e da Queima das Fitas”, sendo depois distribuídas pelo Conselho Desportivo da AAC (CD/AAC). Todavia, o que dificulta o funcionamento das secções é o facto de as “verbas não chegarem a tempo ou não serem entregues”, reivindica Renato Silva. Por outro lado, o responsável pela Política Desportiva da DG/AAC acredita que “falta promover e divulgar as secções desportivas”. Renato Silva frisa que a dificuldade de captar atletas está ligada à insuficiente comunicação por parte das entidades. O presidente da Secção de Atletismo da AAC ­­­­­­­­­­­( SA/AAC)­­­­­­­,­­ Mário Rui, admite que os atletas inscritos “são provenientes de outros clubes”, o que condiciona o crescimento de algumas secções. A falta de formação administrativa e financeira por parte dos dirigentes das secções é também um obstáculo ao bom funcionamento das mesmas. Quem o assegura é o secretário-geral do CD/

AAC, Miguel Franco, que revela o facto de haver “muitas secções que falham nesse sentido”. Secções desportivas lamentam carência de verbas, infraestruturas e atletas Segundo Renato Silva, “uma queixa transversal a todas as secções desportivas é a parte das verbas que não recebem”. Além disso, o baixo financiamento é outra agravante da situação monetária. Mário Rui defende que “para a DG/AAC é fácil arranjar patrocínios de uma grande entidade destinados para si”. O presidente da SA/AAC frisa que “é necessário pensar distribuir os patrocínios com as secções desportivas”. A questão dos espaços desportivos é outro impedimento para as secções desportivas. Miguel Franco, devido ao estado débil em que se encontra o Pavilhão Eng. Jorge Anjinho, revela que “há secções que estão a treinar dispersas por Coimbra, quando podiam concentrar-se no pavilhão central”. Por outro lado, o subaproveitamento do Estádio Universitário de Coimbra (EUC) obriga equipas, como as da Secção da Patinagem da AAC (SP/AAC), a reajustarem o local de treino. De acordo com a presidente da SP/AAC, Cristina Oliveira, esta realidade “so-

brecarrega o orçamento da secção”, pois implica o aluguer de espaços alternativos. O problema de captar e manter atletas está relacionado, segundo Mário Rui, com as condições monetárias da AAC. O presidente da SA/AAC assegura que outros clubes criam oportunidades e ganham vantagem neste capítulo. Neste sentido, é necessário, de acordo com Renato Silva, que a DG/AAC promova novas propostas para a resolução dos problemas das secções desportivas. A formação administrativa e de tesouraria dos membros dirigentes das secções são, segundo Renato Silva, “temas que, se trabalhados, fazem a casa ganhar muito”. Segundo o responsável da DG/AAC para a Política Desportiva, é necessário “criar temas de discussão para melhorar toda a dinâmica das secções, a captação de atletas, e como estes podem contribuir para o desporto universitário”. Para além disso, refere que “cada equipa deve ter os seus patrocínios e tornar-se sustentável”. Cristina Oliveira refere que é necessário encontrar espaços alternativos de preço mais justo, enquanto o Pavilhão Eng. Jorge Anjinho e o EUC não estão disponíveis. A presidente da SP/AAC sublinha que “a disponibilidade de espaços a um custo modesto é determinante”. De modo igual, o trabalho de divulgação e incentivo à inscrição em secções desportivas é importante, dado que “quanto mais atletas uma secção tiver, mais fácil é gerir as contas, pois tem mais receitas e mais patrocínios”, reitera Renato Silva. “Solução deve passar pela DG/AAC e pela UC” Perante a presença assídua de alguns membros da DG/AAC nas competições das secções desportivas, Miguel Franco lembra que, “no início de cada mandato, é normal mostrar proximidade”. Deste modo, o secretário-geral do CD/AAC considera que deve haver, por parte da Direção Geral da AAC, uma maior atenção e interesse em seguir o trabalho das secções ao longo do ano. Para Miguel Franco, “se a DG/AAC conhecer as dificuldades das secções vai estar mais motivada a ajudar o Conselho Desportivo nessa questão”. De modo a resolver os problemas de cariz financeiro, é essencial, de acordo com Miguel Franco, “discutir as dívidas da DG/AAC perante o CD/AAC e formular o plano de pagamento às secções”. O secretário-geral do CD/AAC sublinha que “a proximidade entre entidades e a vontade de negociar o pagamento da dívida, para acertar um plano de pagamento tem sido positiva”. Perante estas questões, Cristina Oliveira crê que “é necessário conciliar o espírito e tradição da Académica e a sua organização interna com aquilo que se deseja para o desporto”. Todavia, a presidente da SP/AAC reitera que a situação atual das secções desportivas não deve passar ao lado da Universidade de Coimbra (UC) nem da DG/ AAC. “O desporto é uma das formas de manter a ligação entre a instituição e os seus cidadãos para incentivá-los a ser alunos da UC”, conclui Cristina Oliveira.

SOFIA CAMPOS


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MANUEL PICÃO AMBICIONA ESCREVER NOVA PÁGINA NA HISTÓRIA DA SECÇÃO DE RUGBY DA AAC Para além de jogador de rugby na Académica, veste também a camisola da seleção nacional. Aos 22 anos, o atleta é considerado uma referência pelos companheiros de balneário - POR PAULA MARTINS -

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atural de Coimbra, jovem e determinado, Manuel Picão iniciou o seu percurso desportivo aos quatro anos na modalidade que, 14 anos mais tarde, iria chamá-lo a representar o país pelo mundo fora: o rugby. Aos 22 anos, o internacional português é apaixonado pelo que pratica, pela Académica e pelos estudos. Estudante de Mestrado em Engenharia e Gestão Industrial na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC), Manuel Picão confessa ter sempre sonhado em estudar na UC. O internacional português frisa que oportunidades de ser aluno noutros estabelecimentos de ensino em Portugal não faltaram, mas optou por “toda a história que a UC representa” e pelas vivências que são possibilitadas. AAC: “representar uma camisola com história e ser parte dela” A Associação Académica de Coimbra (AAC) e a Secção de Rugby da AAC (SR/AAC) mudaram a vida do atleta. “Não me passa pela cabeça representar outro clube”, garante Manuel Picão. O pai do atleta, Paulo Picão, também representou o rugby da academia, conquistou vários títulos, envergou o símbolo da seleção nacional e é o atual dirigente da SR/AAC. Assume sentir que “com uma carreira desportiva tão vincada, difícil seria não passar essa inspiração” ao filho. Para além do rugby, Manuel Picão treinou noutros pisos desportivos. Revela que chegou a calçar as chuteiras para jogar futebol: “todos os miúdos têm um gosto pela bola redonda”. O atleta da SR/ AAC também praticou ténis, em simultâneo com o rugby, até que, aos 16 anos, teve de escolher o rumo que pretendia seguir. “O rugby foi o que me sorriu e não me arrependo nada da decisão”, reconhece. Depois de se tornar jogador sénior da SR/AAC, já foram muitos os jogos que disputou pelo clube. Em nome do grupo, o atleta diz ter “amor ao clube e paixão pelos adeptos”. Manuel Picão frisa o papel e a importância da equipa na história da Académica. “Nós gostamos de assumir a responsabilidade, desenvolver e escrever mais” nos registos da academia, garante. Em criança, o internacional português ambicionava jogar com os seus treinadores. Depois da sua estreia nos séniores da Académica, realizou esse sonho. O antigo treinador do atleta e atual companheiro balneário, Sérgio Franco, acompanhou o progresso do jogador e, hoje em dia, considera-o uma referência, tanto para si como para as gerações futuras. No ano transato, a Secção de Rugby da

AAC venceu a Taça da Liga, o que para o atleta “significou muito, como que uma devolução aos adeptos de todo o apoio que transmitiram ao longo da época”. A preparação “foi feita durante a Queima das Fitas, com treinos às 6h da manhã”. No entanto, reconhece que o esforço foi recompensado e classifica este momento como um dos mais marcantes da sua carreira. “O rugby é como se fosse o meu Erasmus” Aos 18 anos, o atleta da SR/AAC estreou-se pela formação dos Lobos, a seleção portuguesa. Do primeiro jogo, Manuel Picão lembra-se do “nervoso miudinho” que sentiu. Entre os colegas com que partilhou o balneário, estavam algumas referências do rugby nacional, que conseguiram acalmar e levar o atleta conimbricense aos índices de jogo ideais. “Não queria que tivesse passado tão rápido, queria vivê -lo mais”, recorda. Picão, como é chamado, descreve a sensação de estar perante os mesmos homens com quem antes apenas tira-

SAMUEL SANTOS

va fotografias, como Vasco Uva. “Eram os meus jogadores de referência e de repente estava no meio deles”, conta. O atleta da Académica revela que, na chegada ao grupo de topo nacional, foi tratado como “um deles”. Para Manuel Picão, o rugby é como se fosse o seu Erasmus. Um Erasmus diferente. “Já viajei por muitos sítios com o rugby, mas acabo por não os conhecer assim tão bem”, revela. “No Uruguai, a equipa tinha jogo de cinco em cinco dias, seguido de um breve repouso, completamente livre, e os outros dias eram de treino”. Porém, segundo o internacional conimbricense, a vontade de passear no dia de descanso torna-se reduzida devido à exigência física que o jogo envolve. “Estar no alto rendimento é ter várias vidas e tentar conjugá-las ao mesmo tempo” Muitos foram os aniversários de familiares e convívios entre amigos aos quais Manuel Picão não compareceu. Encontros removidos da agenda para dar lugar a treinos e aos estudos. O jogador da Secção de Rugby da AAC realça a dificuldade em abdicar de algumas atividades, mas confessa o quão enriquecedor este compromisso é para o seu desenvolvimento enquanto jovem. “Estou prestes a entrar na atividade profissional e todas estas experiências vão ser uma grande ajuda em termos de organização de tempo, espaço e até de ideias”, destaca o internacional português. Manuel Picão sublinha que “Coimbra tem as melhores condições para o desporto universitário em termos nacionais”. No entanto, considera que a UC tem de repensar o acompanhamento aos atletas da universidade. Segundo o internacional português, “não faz sentido ser obrigado a ter um percurso académico idêntico aos outros estudantes”, uma vez que as exigências são diferentes. Equilibrar ambições desportivas com prioridades profissionais Em Portugal ainda não é possível viver do rugby. Quem o garante é Manuel Picão, que tem um curso a terminar, na área a que pretende dedicar-se nos próximos anos. O atleta reflete sobre a importância de ter na sua vida a perspetiva do rugby profissional. Por esse motivo, após terminar o mestrado, pondera “um ano fora do país para experimentar a modalidade ao mais alto nível”. Para o atleta conimbricense, “paixão” é a palavra que melhor define a sua relação com o rugby na Académica. De acordo com Manuel Picão, “o amor ao clube, a paixão pelos adeptos e o orgulho em representar a academia” têm levado a que muitos jogadores “recusem propostas profissionais melhores fora de Coimbra para continuar a representar a Briosa”, conclui.


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OS PUPILOS DO SENHOR REITOR Qual romance nonocentista de Júlio Dinis, a típica aldeia portuguesa que serve de cenário às mais de 250 páginas do clássico “As Pupilas do Senhor Reitor” foi agora substituída. Desde o passado dia 1 de março, é a própria Universidade de Coimbra (UC) que serve de pano de fundo a um novo capítulo de quatro anos. Os protagonistas partilham entre si variadas pastas, do património à ação social, do desporto ao empreendedorismo. E, da introdução ao epílogo, há um nome que promete marcar cada virar de página: o novo reitor da UC, Amílcar Falcão. Fala-se, claro, da nova equipa reitoral INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

FINANÇAS E RECURSOS HUMANOS

CULTURA E CIÊNCIA ABERTA

LUÍS SIMÕES DA SILVA

LUÍS NEVES

DELFIM LEÃO

Ex-diretor e professor catedrático do Departamento de Engenharia Civil da FCTUC, Luís Simões da Silva desenvolveu softwares empresariais, promoveu parques eólicos e habitações eco-susten­ táveis. A investigação deu-lhe material para escrever quase duas dezenas de livros.

Diretor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), Luís Neves é professor catedrático na área da geologia, mineralogia, petrologia e geoquímica. As suas publicações científicas focam os riscos naturais, a requalificação ambiental e a radioatividade. É presidente da Sociedade Portuguesa de Proteção Contra Radiações.

Professor catedrático da Faculdade de Letras da UC, Delfim Leão investiga os temas da cultura clássica e da história antiga. Na bagagem profissional, carrega o peso de funções de coordenação do Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos e de presidência da Associação Portuguesa de Editoras de Ensino Superior.

PRÓ-REITORES SAÚDE GLOBAL, COOPERAÇÃO EM SAÚDE E BIOÉTICA PLANEAMENTO O pró-reitor para a Saúde Global, Co­ operação em Saúde e Bioética, José ­Pedro Figueiredo, e a pró-reitora para o Planeamento, Patrícia Pereira da Silva, completam a equipa reitoral. Juntam-se, assim, a Amílcar Falcão e

aos oito vice-reitores apresentados para protagonizar os próximos quatro anos da UC. Os vice-reitores apoiam o reitor no cumprimento do seu cargo, enquanto os pró-reitores se destinam a coadjuvá-lo em funções mais específicas.


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INVESTIGAÇÃO E 3º CICLO

PATRIMÓNIO, EDIFICADO E INFRAESTRUTURAS

ASSUNTOS ACADÉMICOS E SERVIÇOS DE AÇÃO SOCIAL

CLÁUDIA CAVADAS

ALFREDO DIAS

CRISTINA ALBUQUERQUE

No currículo de Cláudia Cavadas, sobressaem os cargos já desempenhados de subdiretora da Faculdade de Farmácia da UC, presidente da Sociedade Portuguesa de Farmacologia e diretora do Instituto de Investigação Interdisciplinar da UC. Doutorada em Farmacologia, investiga as neurociências e a biologia celular.

Licenciado e Mestre em Engenharia Civil pela UC, foi nos Países Baixos que Alfredo Dias obteve o grau de doutorado. A sua área de investigação permite-lhe fazer um diálogo entre as construções em madeira e em betão, numa perspetiva estrutural e construtiva.

Professora da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da UC, Cristina Albuquerque faz-se acompanhar de um currículo internacional. Os doutoramento e pós-doutoramento fizeram-na passar por universidades suíças e francesas. O ensino já a levou aos Estados Unidos e a Espanha, mas fê-la regressar a Portugal. Em 2018, foi Provedora do Estudante da Universidade de Coimbra.

QUALIDADE E DESPORTO

RELAÇÕES EXTERNAS E ALUMNI

ANTÓNIO FIGUEIREDO

JOÃO NUNO CALVÃO DA SILVA

Atual diretor da Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física da UC, António Figueiredo centra a sua investigação no treino de jovens atletas e dedica especial atenção à carreira dual que harmoniza os estatutos de estudante e de desportista.

Ligado à Faculdade de Direito da UC desde os tempos de estudante, João Nuno Calvão da Silva leciona cursos e pós-graduações organizados pelos institutos da faculdade que o formou. Entre Coimbra, Lisboa e Macau, já deu aulas sobre a dimensão jurídica da comunicação, o direito da banca, da bolsa e dos seguros.

ISABEL SIMÕES

- POR MARIA FRANCISCA ROMÃO -


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JUNTOS PELA VIDA, AFASTADOS PELO MEDO Receios e fobias são principal barreira à dádiva de sangue. Associar pensamentos positivos ao ato pode reduzir ansiedade e garantir bem-estar das pessoas - POR DIANA RAMOS E GABRIEL REZENDE DIANA RAMOS

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ais de 40 por cento dos estudantes da Universidade de Coimbra (UC) inquiridos não doam sangue por medo. Os dados foram revelados por um estudo científico realizado por investigadores da Faculdade de Economia da UC (FEUC). Para um grupo em ge­ral saudável e que tem o resto da vida para ser dador de sangue, o número é, nesta faixa etária, menor do que o expectável. Segundo a coautora do artigo, Carlota Quintal, a barreira à dádiva está associada à fobia a agulhas e sangue. A mesma alerta que o uso destas imagens, em campanhas, tende a afastar possíveis candidatos que tenham este receio da doação. De acordo com Margarida Lima, psicóloga e docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da ­E­­ducação da UC (FPCEUC), “o ideal seria que os anúncios colocassem a tónica no enaltecimento dos benefícios de quem recebe sangue, e não tanto dos de quem doa”. Margarida Lima refere que “as fobias são medos exa­ gerados ou infundados para uma situação”. Segundo esta, uma justificação plausível para o fenómeno passa por traumas experienciados noutros contextos que são depois generalizados. “As fobias têm um papel relevante no bloqueio de uma vida normal, sobretudo se forem associadas a situações de grande ansiedade”, esclarece a docente. Desmitificar o medo A psicóloga comenta que os medos têm uma base funcional e adaptativa, explicada pela preocupação com a integridade física do próprio indivíduo. Ver o corpo sangrar é entendido como um sinal de alarme, associado a qua­dros de perigo, como uma hemorragia. Para lidar com estas emoções, Margarida Lima argumenta que “o reexperimentar de uma situação desagradável pode ajudar a reduzir o impacto que esta tem”. “A dor da agulha é mínima para o prazer que se tem; é simbólica”, afirma o responsável pelo setor de promoção do Serviço de Sangue do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC), Mário Gama. Neste sentido, Carlota Quintal defende que o uso da experiência de outras pessoas que já doaram sangue pode desmitificar a questão do medo e tranquilizar aquelas que o têm. Na opinião de Mário Gama, quem doa ultrapassa essa barreira psicológica por um princípio maior, que é o da solidariedade. O tratamento das fobias, como explica Margarida Lima, passa por um processo de dessensibilização, já que o cérebro humano funciona por associações entre estímulo e

reação. “Relacionar a agulha ou a situação de tirar sangue a algo menos reativo vai afastar este momento da dor e do trauma, para o ligar a um ambiente mais positivo”, propõe a psicóloga. A docente da FPCEUC refere que é necessário trabalhar sobre as crenças que as pessoas têm em relação a determinadas situações. Fundamenta que estas convicções são disfuncionais e podem prejudicar o bem-estar da pessoa em causa. “Há que aceitar o momento sem catastrofizar, ou seja, sem colocar peso naquilo que está a acontecer”, argumenta Margarida Lima. Clarifica que a sensação de dor é passageira e, se esta está relacionada com a tensão física, a picada vai doer mais. Porque é que os estudantes não doam sangue? Cerca de 44 por cento dos estudantes questionados

acreditam que existem dádivas suficientes e não o entendiam como uma responsabilidade sua, reitera a coautora do artigo. Mário Gama alega que, apesar de Portugal ser autossuficiente em transfusões de sangue, “é de todo mentira que haja dadores suficientes”. Só a unidade hospitalar dos CHUC representa 10 por cento das necessidades do país. No serviço, preparam-se entre 150 a 200 unidades, utilizando 80 a cem unidades por dia. Dos mesmos alunos, 51,2 por cento afirmam não doar por indisponibilidade, ainda que os espaços da UC sejam pontos de recolha. O Núcleo de Estudantes do Departamento de Física da Associação Académica de Coimbra (NEDF/AAC) fez parte da última brigada móvel que acolheu vários estudantes que iam doar pela primeira vez. Para Cláudia Silva, colaboradora do pelouro de intervenção cívica do NEDF/AAC, “há muita gente que não pode ir aos pontos fixos de recolha, e as unidades móveis facilitam essa deslocação”. Nestas brigadas, segundo Mário Gama, aparecem cerca de 1200 a 1500 estudantes por ano, num universo à volta dos 24 mil alunos. Contudo, Carlota Quintal evidencia que as estatísticas baseadas em amostragens podem ser imprecisas. “Por um lado, há pessoas que têm uma certa vergonha em admitir o medo e, por outro, existe quem use o medo como desculpa para dizer que não doa”, assevera a coautora do artigo. O artigo corrobora que as pessoas mais propensas à dádiva de sangue são as que já participaram em atos de voluntariado e as que votaram em eleições. “Os alunos que ter ido às urnas votar nas últimas eleições têm cinco vezes mais de probabilidade de serem dadores do que os estudantes que não votaram”, salienta Carlota Quintal. Esta acredita que tal comportamento tem uma relação com a atitude cívica e de participação na sociedade e que, com a consciencia­ lização, a dádiva pode ser encarada de forma natural.

INFOGRAFIA POR GABRIEL REZENDE


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“GRETA” LEGISLATIVA MOTIVA MANIFESTAÇÃO PELO AMBIENTE Planeta em contagem decrescente para que efeitos das alterações climáticas não sejam devastadores. Jovens querem mostrar que estão atentos e preocupados com o futuro

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hegou a Portugal o movimento estudantil internacional #SchoolStrike4Climate, que pretende alertar políticos e jovens para a necessidade de tomar medidas de proteção do planeta Terra. Rita Vasconcelos, estudante e membro da organização em Coimbra, explica que a iniciativa “começou na Suécia, com Greta Thunberg, uma jovem de 16 anos que começou a faltar às aulas todas as sextas feiras, para protestar junto ao parlamento sueco.” Segundo Inês Fernandes, estudante da Licenciatura em Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Coimbra, “as pessoas ainda não têm noção daquilo que é certo ou não fazer em relação ao planeta”. Acredita que este tipo de iniciativas é essencial para “alertar as pessoas e o Estado para a importância de tomar medidas para ajudar o ambiente”. José Xavier, cientista polar e professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, acrescenta que “formas positivas de alertar a sociedade sobre o que se passa com o planeta são sempre de louvar”. Os objetivos desta greve prendem-se com uma chamada de atenção ao governo para a urgência na resolução da crise climática, explica Duarte Antão, membro da organização. O estudante alerta que as ações de hoje vão ter consequências nefastas nas gerações futuras. “É uma temática demasiado urgente para passar ao lado de quem governa”, adverte. Inês Fernandes acredita que não é apenas com uma greve que os dirigentes do país vão ouvir os jovens, mas que apenas se vai conseguir uma mudança no paradigma nacional se ações como esta foram contínuas. Uma vez que se trata de um movimento mundial, as medidas propostas pela iniciativa são muito semelhantes em todo o mundo e apenas sofrem algumas modificações consoante o país em que são

- POR FREDERICO MAGUETA E MARIANA NOGUEIRA -

FOTOGRAFIA GENTILMENTE CEDIDA POR DUARTE ANTÃO

aplicadas. A organização explica que, para Portugal, prevê medidas como a proibição da exploração de combustíveis fósseis e a redução da meta para a neutralidade carbónica de 2050 para 2030. Para além disso, Rita Vasconcelos afirma que é preciso melhorar a rede de transportes públicos a nível nacional, porque “é impossível pedir às pessoas que se desloquem de forma sustentável, tendo em conta que a rede ainda é insuficiente”. Duarte Antão crê que “os cenários vão ficar mais negros”, caso não haja “uma consciencialização coletiva da real gravidade desta situação”. Acrescenta que “é uma questão que joga com interesses económicos” e admite mesmo que a pressão exercida nos ministros é “muito elevada”. Para além disso, realça que o movimento #SchoolStrike4Climate é apartidário. Esclarece que o mote desta greve estudantil é garantir que “todas as políticas, quer de esquerda quer de direita, se unam em prol de um mundo melhor”. O estudante termina alertan-

do que é “do interesse de todos que sejam tomadas medidas em relação a este aspeto”. No que toca à adesão à greve do dia 15 de março, a organização não consegue avançar com um número e explica que “os constrangimentos de deslocação fazem com que muitas pessoas façam a greve nas suas localidades, ainda que pequenas”. Duarte Antão acrescenta que “pode não haver números avassaladores”, mas antecipa vários pontos em diferentes regiões com grandes concentrações de manifestantes. Para terminar, José Xavier explica que o planeta tem “pouco tempo” para evitar que “os efeitos das alterações climáticas não sejam muito mais graves”. Assim, por ser o futuro da humanidade, é a camada mais jovem da sociedade que deve dar maior atenção a estes alertas, como defende a estudante Inês Fernandes. Como membro da organização, Duarte Antão realça que se trata de “um movimento de todos”.

MEIO MILHÃO DE EUROS PARA O BEM-ESTAR DE COIMBRA “O que podemos fazer pelo bem-estar?” é o tema da segunda edição do Orçamento Participativo. Objetivo é apresentar propostas que dinamizem qualidade de vida no concelho - POR MARIA LUÍSA CALADO -

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Orçamento Participativo (OP) de Coimbra regressa para a sua segunda edição. Após uma estreia com mais de 50 propostas, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) decidiu aumentar o orçamento deste ano para meio mi­ lhão de euros. O projeto conta com dois escalões: o “Coimbra Participa”, para os cidadãos com mais de 30 anos, e o “Coimbra Jovem Participa”, para quem tenha idades entre os 14 e os 30. A primeira edição foi dedicada à “Dinamização do Centro Histórico da Cidade”. Este ano houve uma mudança no raio de ação, que passa a cobrir todo o concelho. Assim, os projetos destinam-se a qualquer área do município e visam melhorar a qualidade de vida da comunidade. As propostas apresentadas devem enquadrar-se nos seguintes sete domínios: saúde, balanço en-

tre a vida e o trabalho, educação, segurança, participação cívica, relações sociais e ambiente. A intenção é promover uma “cidadania ativa e reaproximar as pessoas da vida política”, admite a vereadora da CMC com a pasta da Cultura, Regina Bento. Tendo em conta a forte participação dos jovens no OP de 2018, nesta edição a verba vai ser dividida de igual forma pelo “Coimbra Participa” e o “Coimbra Jovem Participa”, anuncia a vereadora responsável pela Cultura. Esta norma faz aumentar cinco vezes o orçamento anterior e traz mais possibilidades aos cidadãos com idades entre os 14 e os 30 anos. O “sucesso da primeira edição”, que contou com mais de 50 propostas e mais de 11 mil votantes, deixou Regina Bento bastante satis-

feita. A vereadora confessa que “foi fantástico ter essa resposta da cidade”. Em relação ao OP deste ano, relembra a importância da participação de todos para que se consiga um “desenho do que é melhor para o concelho”. Os cinco vencedores do ano passado já têm os seus projetos em execução. Do “Coimbra Participa”, uma das iniciativas está em fase de contratação pública e a outra já se encontra em fase de ação. Quanto ao “Coimbra Jovem Participa”, os três projetos já têm datas previstas e vão concretizar-se ao longo de abril. As propostas são submetidas via plataforma eletrónica até ao dia 15 de abril. Depois de analisadas, acontece a fase de votação nos projetos, que vai realizar-se durante o mês de junho, no próprio site oficial.


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IGREJA DE S. BENTO RENASCE NO JARDIM BOTÂNICO Ação conjunta tem como principal preocupação salvaguardar o património. Condições climatéri­­­­­­cas­­­­­ dificultam os trabalhos - POR BEATRIZ FURTADO E CAROLINA D’OLIVEIRA BEATRIZ FURTADO

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pós 87 anos, as peças da antiga Igreja de São Bento estão a caminho do local de origem. O património, que se encontrava na Escola Secundária José Falcão, regressa ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (JBUC), num esforço conjunto da Universidade de Coimbra (UC), da Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares e da Direção Regional da Cultura do Centro (DRCC). O monumento religioso encontrava-se anexo ao Colégio de São Bento, onde integrava a Ordem de S. Bento. Após a extinção das ordens religiosas, o percurso não foi lisonjeiro para o espaço que já se encontrava bastante degradado. O liceu José Falcão estabeleceu-se em 1870 no Colégio, onde permaneceu até 1932. Como consequência do programa de renovação da Alta de Coimbra, durante o Estado Novo, o templo acabou por ser demolido. No seu lugar surgiu a rua do Arco da Traição, loca­ lizada atrás do atual Departamento de Matemática da UC. O liceu transitou para o novo espaço em Celas, onde permanece até aos dias de hoje, e levou consigo as pedras da igreja. Estas estruturas pétreas esculpidas são em “grande parte caixotões que pertenciam à abóbada da capela-mor, pedras que definiam o arco triunfal e uns re­ gistos decorativos que se encontravam à entrada das capelas centrais”, explica Lurdes Craveiro, professora de História de Arte na Faculdade de Letras da UC (FLUC). “Este material permite perceber a especificidade da cultura plástica da cidade de Coimbra remetida aos inícios do século XVII. Uma cultura estética muito arraiada que se distanciava da mais despojada do resto do país”, acrescenta. Até ao final de 2018, este espólio esteve à guarda do liceu José Falcão, “as pedras empilhadas umas em cima das outras, onde não podiam ser estudadas como merecem”, conta a docente da FLUC. No entanto, o diretor da Escola Secundária José Falcão, Paulo Santos, sublinha que as pedras “estiveram sempre envoltas em vegetação e num local de difícil acesso por parte dos alunos da escola”. Lurdes Craveiro realça que, apesar

dos anos em que estiveram privadas de qualquer cuidado, estas se encontram em boas condições, à parte de fissuras decorrentes do transporte e penetrações de vegetação. A falta de oportunidade de deslocação das pedras é uma das razões apontadas pela delegada da Direção Regional de Educação do Centro (DREC), Cristina Oliveira, para a permanência na escola ao longo de mais de 80 anos. “A constante troca de dirigentes das várias instituições envolvidas não permite tempo suficiente para terem um contexto adequado dos problemas e intervir nos mesmos”, reitera a delegada. Lurdes Craveiro considera que, “como não era incomodativo, por inércia, as pedras mantiveram-se quase um século naquele espaço”. O diretor do JBUC, António Gouveia, afirma que, “apesar de terem existido várias propostas ao longo dos anos para deslocar o

património, estas nunca se concretizaram”. Segundo António Gouveia, várias coincidências auxiliaram a que se criasse o momento propício a esta deslocação. “As obras de requalificação do ginásio da escola secundária criaram a necessidade de uma nova casa para o espólio, e a DRCC, que já tinha conhecimento do mesmo, propôs que as estruturas da igreja voltassem o mais perto possível ao local de origem”: o Jardim Botânico. “As instituições ligadas ao património decidiram, por fim, trazer as peças para um espaço mais apropriado”, complementa a professora da FLUC. “A UC acabou por acolher essa ideia e trabalhar com os diversos organismos para que esta receção se concretizasse, convocando os especialistas da universidade nestas matérias de História de Arte e História da Arquitetura”, esclarece o diretor do JBUC. Com o acompanhamento científico da universidade, a de­ legada da DREC garante que era necessário a oportunidade de promover as diligências necessárias para ­aquilo que implica a deslocação. Cristina Oliveira garante que o papel da educação, que passa pela requalificação do ginásio e encami­ nhamento destes espólios, acabou. A partir deste último processo, é esperado que a “universidade e as insti­tuições patrimoniais pensem num plano de salvaguarda que permita um sentido expositivo e investigação obrigatória”, afirma a historiadora. “Daqui para a frente, é preciso que se faça toda uma contextualização histórica do material e, mais tarde, pensar num plano de valorização que permita que as pessoas o possam usufruir”, conclui António Gouveia. De momento, o património do Estado encontra-se à guarda da UC, embora algumas peças ainda permaneçam no liceu devido a constrangimentos causados pelas condições climatéricas. Algumas das estruturas pétreas que já se encontram no botânico já podem ser conhecidas por quem visite o jardim, enquanto outras, apesar de visíveis, não estão ainda disponíveis para observação em detalhe por parte do público geral. BEATRIZ FURTADO


12 DE MARÇO DE 2019 CIDADE - 15 -

APPACDM EM COIMBRA: 50 ANOS DEPOIS, O QUE MUDOU? A Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM) instalou-se em Coimbra há meio século atrás. Na comemoração do seu aniversário, a sua presidente, Helena Albuquerque, conta as maiores dificuldades enfrentadas - POR RAFAELA CHAMBEL E JÚLIA FERNANDES -

Em que contexto é que a APPACDM cresceu em Coimbra? A APPACDM de Coimbra nasceu em 1969, a seguir às de Lisboa e do Porto. Assim, Lisboa resolveu dar autonomia a cada uma das instituições e ficaram connosco Montemor-o-Velho, Cantanhede, Tocha e Arganil. Hoje, a APPACDM de Coimbra apoia 1200 pessoas com deficiência intelectual. De que forma estão ou vão celebrar os 50 anos da associação? Realizámos um programa com iniciativas mensais. Em janeiro, decorreu a sessão de abertura sobre utopias, que teve lugar no Teatro Académico de Gil Vicente, com oradores de diversas áreas. Iniciámos, assim, as comemorações do meio século da nossa existência. Em fevereiro, fizemos um dia aberto da instituição e contámos com mais de cem pessoas. No dia 14 de março vamos ter um colóquio sobre os cuidadores. Quando começa o acompanhamento na instituição? O nosso objetivo é apoiar o cidadão deficiente mental durante todo o seu percurso de vida. A APPACDM de Coimbra foi a associação pioneira a abraçar o Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância ­(SNIPI). Começamos, muitas vezes, a apoiar os pais antes de o bebé nascer, já que há certas deficiências que são detetadas logo na gravidez. Temos um pré-escolar a partir dos três meses, Creche e Jardim de Infância Dandélio, que pertence ao ensino regular. Toda a filosofia da instituição está voltada para as crianças deficientes e fomenta o apoio dessas de forma personalizada. Isto através de terapias alternativas e todo o ajuda para se desenvolverem. Que tipo de apoio é que a APPACDM fornece? A APPACDM funciona como centro de recurso para a inclusão. Temos uma equipa subsidiada pelo Ministério da Educação que vai às escolas e faz a reabilitação e acompanhamento dos jovens, bem como a sensibilização da comunidade escolar. A partir dos 18 anos, a associação apresenta dois caminhos. Um deles passa por centros de atividades ocupacionais, vocacionados para deficiências mais profundas. Tratam-se de jovens que vão ficar connosco até ao fim das suas vidas, porque não têm autonomia. A par disso, temos centros de formação profissional, para jovens que realmente saem da escolaridade regular e apresentam capacidades promissoras quanto à sua autonomia. Estes são integrados no mercado de trabalho. Há também lares residenciais, nos quais os jovens pernoitam. Acabam por ser um substituto dos pais e familiares, quando estes já não têm condições para tomar conta deles. Porém, infelizmente, estamos com insuficiência de lugares. Temos também um serviço de apoio domiciliário, que funciona de forma esporádica, para que a ajuda se estenda às famílias. Está disponível, também, um espaço em que os jovens podem permanecer para descansarem. Quando os pais têm uma emergência médica, ou querem passear ao fim de semana, por exemplo. Onde é que a associação encontra financiamento? A instituição depende muito de fundos estatais. Isto porque a deficiência intelectual está muito ligada a baixas condições económicas. Não podemos contar com os pais para garantir a sustentabilidade da instituição, porque eles não têm capacidade para isso. Temos

uma tabela de mensalidades, mas muitos dos nossos utentes pagam apenas cinco a dez euros por mês. Assim, desenvolvemos uma parte empresarial para nos tornarmos mais independentes de fundos estatais e políticas locais. Temos oito empresas que contribuem para a sus­ tentabilidade e qualidade de atendimento que nos orgulhamos de dar. Temos um nível de excelência em termos de qualidade dos serviços sociais, atribuído pela Plataforma Europeia de Reabilitação. Uma das empresas encarrega-se de toda a limpeza dos espaços verdes da UC, desde o Jardim da Sereia ao Vale das Flores. E temos de igual forma uma empresa de reco­ lha de óleos alimentares usados. Estas funcionam também para empregar os utentes. Inicialmente a associação utilizava o termo “mongoloides” no nome, depois passaram para “crianças diminuídas mentais” e agora para “cidadão com deficiência intelectual”. Porquê as alterações? A sigla sempre foi APPACDM de Coimbra. No ­início, as crianças com Síndrome de Down designavam-se mongoloides, porque as pessoas que nasciam com esta síndrome tinham a forma dos olhos oblíqua. Não acho que o nome tenha importância, isso não define ninguém. O problema está na mente da sociedade. Qual o feedback que recebem da comunidade conimbricense? Neste momento, a APPACDM vive sem donativos. Num ano, temos um orçamento de cinco milhões, dos quais 500 euros são em donativos. As pessoas prefe­ rem comprar coisas para si. Ainda assim, alinham muito nas nossas campanhas, aí recebemos imenso apoio. Aderem muito bem, são solidárias, conhecem a instituição e o trabalho que se faz aqui. Quais as principais conquistas da associação até hoje? Saber adaptar-se à mudança ao longo destes 50 anos e manter a cabeça erguida nos períodos de maior ­in­­­­stabilidade financeira. E, ainda assim, ter capacidade e qualidade de atendimento. Lidar com a imprevisibilidade é o grande desafio e vitória da instituição até hoje.

Como é assistir à integração de pessoas com deficiência intelectual na sociedade? Se eu visse a inclusão e a integração dessas pessoas na sociedade, a sensação seria de uma felicidade extrema, mas não vejo. Estas pessoas reagem de uma forma que a sociedade nem sempre consegue perceber. Por exemplo, jovens adultos de 30 anos que reagem como bebés de dois, três anos. Isto causa estranheza, que por sua vez gera medo e isolamento. É natural do ser humano fugir daquilo que não consegue prever e controlar. De que forma estes jovens, ao trabalharem, desafiam os limites impostos pela sociedade? Eles podem ir muito além dos limites que lhes impomos por medo. Isso nota-se, por exemplo, nos empregadores que não contratam pessoas com deficiência intelectual, porque não acreditam nas suas capacidades. O que acontece é que, quando apostam neles, veem que estes conseguem fazer um bom trabalho. Cada um dos utentes tem um planeamento individual em que os seus sonhos e a sua autodeterminação são respeitados. Uma das nossas premissas é lidar com seres humanos e o nosso objetivo é criar todas as condições para que atinjam o seu potencial máximo. Assim, os jovens que vão para a Casa de Chá, por exemplo, são pessoas que gostam e querem fazer aquelas atividades. Vejo discursos como: “todos somos diferentes”, “todos somos as nossas deficiências”, e isso não ajuda. Eles são dife­ rentes, têm de ser encarados como diferentes, mas com todo o respeito que um ser humano merece. Quais são as expectativas e planos para o futuro? Os lares residenciais são, neste momento, a nossa grande prioridade. É a grande falha da instituição. Com o avanço da medicina, a esperança de vida destes jovens está muito mais longa e os pais começam a ficar mais cansados. O objetivo destes é permitir a todos uma vida com dignidade. Enquanto mãe, estou descansada. Sei que o meu filho fica bem entregue com esta ­APPACDM.

RAFAELA CHAMBEL


12 DE MARÇO DE 2019

SOLTAS - 16 -

O PRANTO SILENCIOSO DE UMA MUL­­­­­TIDÃO SEM ROSTO - POR SECÇÃO DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA -

PEDRO DINIS SILVA - SECÇÃO DE JORNALISMO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA

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surgimento e a formação de estereótipos são processos igualmente fascinantes e mórbidos de se reconhecer. Não menos de três anos atrás, o mundo todo dizia-se pasmo e devastado com a fotografia do cadáver de uma criança síria, que jazia inerte numa praia da Turquia. A imagem instantaneamente se tornou o símbolo do horror da guerra civil síria e da crise humanitária, foi o primeiro contato de muitos, inclusive eu, com o tema. Após a disseminação do tema vieram discursos edificantes e pessimistas, críticas foram tecidas contra as autoridades, debates foram conduzidos, porém algo vital não foi feito: o garoto sírio, e todas as outras crianças mortas e feridas que viralizaram nas redes sociais após ele, seguiam sem nome. Seus nomes, mesmo que divulgados, não viravam cartazes em passeatas, versos em poemas ou músicas ou protagonistas de livros. Era como se seus nomes fossem sufocados pelo gigantesco termo “refugiado”, uma palavra que se tornou uma espessa mortalha que apaga os traços, o nome, a individualidade. Assim nasceu o estereótipo do refugiado, tema

hoje comum e que desperta pouca comoção na grande maioria das pessoas, apesar da comunidade internacional estar imersa na maior crise humanitária do século. Em 2015, ano da foto do garoto sírio, a ONU registrou 65,3 milhões de pessoas deslocadas em função de perseguição política ou conflitos paramilitares. O garoto sírio sem nome não mudou isso, e os números, que em vão tentam quantificar o sofrimento e a desolação da guerra civil síria, continuaram a aumentar. O fluxo migratório dos que deixaram a Síria já compõe três quartos da população do país, cerca de 13 milhões e meio de pessoas sem nome, sem rostos memoráveis, 13 milhões e meio de refugiados. O efeito desindividualizante da “mortalha” de refugiado é tão evidente que o artista sírio (refugiado) Abdalla al Omari produziu uma série de imagens intituladas “the vulnerability series”, que mostra líderes globais como Donald Trump, Vladimir Putin e Angela Merkel como refugiados. As imagens possuem uma atmosfera quimérica, colocando rostos que se tornaram

símbolos de poder no meio de multidões cinzentas e maltrapilhas. Suas vozes impostadas e discursos eloquentes somem em meio a essas imagens, e a obra funciona como um lembrete da humanidade tanto dos refugiados quanto dos líderes que estampam os jornais e os futuros livros de história. Talvez mais mórbido ainda seja reconhecer que o estereótipo do refugiado sírio acaba não só por desindividualizar o próprio povo sírio como tomar espaço na esfera pública de outros povos refugiados, como é o caso de povos de países africanos, que também passam por guerras civis, ou das 124 milhões de pessoas por todo o mundo que passam por situações de crise alimentar. A mortalha de refugiado apaga a todos, e os demais cidadãos do mundo, grupo ao qual me incluo, escolhem esboçar um breve e frígido luto, que acaba quando um vídeo engraçado cruza nossos “feeds” nas redes sociais, e mesmo sendo biliões pela primeira vez na história da humanidade, nunca fomos tão alheios ao pranto silencioso de uma multidão sem rosto.


12 DE MARÇO DE 2019 SOLTAS - 17 -

CANTIGAS DE MÉ-MÉ

ESTUDANTES CONVOCAM GREVE CLIMÁTICA ESTUDANTIL

- POR CABRA TROVADORA -

- POR BEATRIZ MERGULHÃO - GRUPO ECOLÓGICO DA ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA-

Anda comigo às Amarelas Só depois de 6 anos foi possível vê-las Ah vocês queriam mais social? Não tem mal, Tomem lá mais sopas Neste regime reitoral Um dia ganho a reitoria ou faço uma magia e que eu reine aqui UC! só as monumentais dão cabo de ti

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o próximo dia 15 de Março, estudantes portugueses faltarão às aulas, reivindicando a atenção pelas alterações climáticas. A greve estudantil está convocada em várias localidades de Norte a Sul e regiões autónomas, esperando-se alunos de Arouca, Braga, Funchal, Chaves, Coimbra, Leiria, Faial, Faro, Lisboa, Santarém, Tomar, Porto, Setúbal, Santa Maria, Reguengos de Monsaraz, Évora, Vila Real e Ponte da Barca. Em Coimbra, a concentração terá lugar em frente à Câmara Municipal, às 10h30. A organização do movimento, que se descreve como pacífico e apartidário, conta com a participação de cerca de 60 jovens do ensino secundário e superior, surgindo enquadrado no crescente movimento internacional #SchoolStrikeForClimate, que preconiza uma greve estudantil por forma a exigir a acção governamental eficaz no combate às alterações climáticas, contando já com a participação de mais de 20 milhares de alunos. Por sua vez, este movimento surge inspirado pela activista sueca de 16 anos, Greta Thunberg, que faltou diariamente às aulas de 20 de Agosto a 9 de Setembro do ano transacto, e subsequentes sextas-feiras, exigindo a atenção do Parlamento Sueco. Assim sendo, a greve estudantil pretende, para o nosso país, o cumprimento do Acordo de Paris e metas estabelecidas pela EU, a redução de 2050 para 2030 da meta de neutralidade carbónica, uma expansão significativa das energias renováveis, com total produção elétrica através de fontes renováveis até 2030, o encerramento das centrais de Sines e do Pego, alimentadas a carvão, e uma melhoria drástica dos transportes públicos.

OBITUÁRIO - POR CABRA COVEIRA -

FISCALIZA QUE TU FISCALIZAS BEM

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uinGRAÇAdo. Já vais embora? Bebe mais um copo e conta mais um voto! Um ano soube a pouco. Mas pronto, nenhum presidente gosta de repetir a dose. Vá-se lá saber porquê… Será a ingratidão? A falta de sono? Ou a vontade de acabar o curso? Nunca ninguém saberá. Tanto quanto se sabe, são sempre motivos pessoais. A verdade é que acabaste com menos cabelo. O Amado que o diga. Todo o teu mandato foi um tutorial de como envelhecer 30 anos em apenas um. No fundo, é uma situação enGRAÇAda.

NO FINAL, JESUS MORREU

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ormias nas serenatas, mudaste o cortejo da Queima para o domingo, foste ho­ menageado pela Orxestra Pitagórica… Afinal ainda fizeste alguma coisa. Em 19 anos… Nada mau. Agora, vais viver do que a natureza te dá. Neste caso, a fruta. Houve quem te atribuísse o título de “maior burro da universidade”, mas pelo menos não usavas relógio de pulso com capa e batina. Porque, para isso, a capa e a batina são necessárias. Não precisavas de dizer estavas de saída. Afinal de contas, estás 19 anos atrasado. Já agora, quanto é um quilo de banana da Madeira?


12 DE MARÇO DE 2019 ARTES FEITAS - 18 -

CINEMA Um Guia para o Oscar

GUERRA DAS CABRAS A evitar Fraco

- POR PEDRO DINIS SILVA -

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ão é difícil perceber o porquê de “Green Book – Um Guia Para a Vida” ter arrecadado o galardão de Melhor Filme na cerimónia dos Oscars deste ano. Com duas performances memoráveis e uma narrativa sobre a segregação racial característica da sociedade americana da primeira metade do século XX, o filme explora diálogos, emoções e protagonistas de uma maneira bastante familiar. Baseado numa história real e com personagens verídicas, “Green Book” passa-se em 1962 e ilustra a amizade entre Frank “Tony Lip” Vallelonga, um segurança de discoteca “faz-tudo” de descendência italiana, e Don Shirley, um pianista virtuoso afro-americano. Quando o clube onde trabalha fecha para obras, Tony é empregado para servir de motorista e segurança ao músico numa digressão de dois meses pelo sul dos Estados Unidos. Viggo Mortensen assume o papel de Tony Vallelonga e Don Shirley é interpretado por Mahershala Ali, a­mbos executando rendições soberbas dos personagens. Mais tarde, Ali arrecadou o Oscar de Melhor Ator Secundário pela prestação, que ele assume sem esforço, com mestria e classe. Também Mortensen merece os louros pelo seu desempenho, que se afirma fugaz e cheio de genica. Juntos, Tony e Don exploram as suas diferenças ao longo do percurso e, sem grande surpresa para o público, descobrem que o que os une é maior do

Podia ser melhor

que aquilo que os separa. As suas interações durante todo este processo, apesar de doces e apreciáveis, são demasiado previsíveis. As cenas mais marcantes do filme, aliás, são ambas desprovidas de diálogo. Logo no início, Tony deita para o lixo dois copos utilizados por eletricistas negros. Mais tarde, já durante a viagem, o carro avaria no meio de uma estrada sulista perto de um campo onde estão presentes vários agricultores afro-americanos, que ficam perplexos ao reparar no motorista branco encarregado de arranjar o motor, enquanto o músico se encosta à viatura em repouso. O filme é dirigido por Peter Farrelly, conhecido por realizar as comédias naïve “Doidos por Mary” e “Doidos à Solta” com o seu irmão. “Green Book” é o seu primeiro trabalho a solo. Farrelly tomou conta do argumento em conjunto com Brian Hayes Currie (“Armaggedon”, “Con Air”) e Nick Vallelonga, filho de Frank. Repleto de cores serenas, clichês ocasionais e ‘punchlines’ facilmente adivinháveis, a película reúne os ingredientes certos para uma nomeação quase automática ao Oscar. Numa indústria cinematográfica em constante busca de questões sociais para se debruçar, “Green Book” utiliza a estrutura clássica de um filme para ilustrar uma história sonante. Todo ele transpira Hollywood e Academia. Não é um filme mau, muito pelo contrário – só não é um filme novo, nem tampouco original.

Razoável A Cabra aconselha A Cabra d’Ouro

Green Book De Peter Farrelly Com Viggo Mortensen, Mahershala Ali, Linda Cardellini 2018

Razoável


12 DE MARÇO DE 2019 ARTES FEITAS - 19 -

MÚSICA Caymmi é deus e o Funaná é a vida - POR FILIPE FURTADO -

La Dôtu lado” é o segundo trabalho de estúdio da formação “Coladera”, onze temas repartidos pelo universo da lusofonia, da lusáfrica. Nesta simpática ousadia de conter num nome toda a tradição musical de Cabo Verde nada soa com mácula. Partem desta raiz para juntar um pouco do Brasil de Marcos Suzano (percurssão) e Vitor Santana (guitarra) e do Portugal de João Pires (guitarra). Escutamos belos poemas que soam a ditos do povo: “a luz de yayá”, por José Eduardo Agualusa, poderia dar banda sonora para os romances de mar, pescadores e Iemanjá de Jorge Amado; “mandiga” de Brisa Marques surge na voz de Aline Frazão como profecia; em “D’órixá” fica a homegem divina a Dorival Caymmi, “velho baiano fazendo oferendas bem perto do mar”; “primer letra” fala dessa mágica função de escrever poemas balançados a ritmo criolo. “La Dôtu Lado” é ponto de encontro destas diferentes geografias. Neste convívio multicultural, são também os diferentes sotaques que acrescentam beleza tímbrica ao aconchego percussivo e às harmonias da terra pelas guitarras.

La Dôtu Lado De Coladera Editora Scubidu Music Género Funaná 2018

No meio dos ensinamentos ancestrais, há espaço para a faixa instrumental “mantafro” e, claro, para a grande festa cabo-verdiana com “funaná do moreré”. O disco fecha com “gira”, o tema com sonoridade mais contemporânea, alguma electrónica nas camadas de ornamentação, improvisos vocais de João Pires a contrapôr com os coros do verso/ refrão de homenagem, claro, ao funaná. Uma faixa para deixar muito produtor de ‘beats’ invejoso. A­final está tudo aqui nas raízes. “La Dôtu Lado” é um álbum bonito, na mesma linha do primeiro trabalho editado em 2013, uma pequena enciclopédia lusófona com vontade de manter a tradição de perto. Descolamos e aterramos em Cabo Verde entre muitas paragens, re­ novadas palavras para antigas batidas, novos poemas que possam ser eternos.

A Cabra aconselha

LIVRO O hoje amanhã? - POR PAULO SÉRGIO SANTOS -

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ondres, final do século XX. Um arranha-céus, marco de modernidade e farol de todo o funcionamento futuro de uma sociedade prestes a entrar num novo milénio. “High Rise”, no seu título original em inglês, do britânico nascido em Xangai, J. G. Ballard, é uma distopia escrita em 1975 e editada em Portugal 40 anos depois. “De certo modo, a vida no arranha-céus tinha começado a assemelhar-se ao mundo exterior: a mesma crueldade e agressividade ocultas num conjunto de convencionalismos educados” (p. 185). Há, como noutras obras do género (como “The Handmaid’s Tale”, de Margaret Atwood), uma espécie de adivinhação de um tempo onde a convivência regrada entre pessoas cessa, com o escritor a traçar um cenário em que os homens são personagens principais, mas as mulheres são quem subsiste no final, em grupos matriarcais, estruturas fortes e coesas que, aliás, se observam nalgumas espécies de primatas. “Ar­ranha-Céus” faz pensar num possível amanhã, olhando para o carácter egoísta, maquiavélico e cruel que o ser humano apresenta nos seus piores momentos. Contudo, o livro não é bem conseguido. As passa-

gens mais marcantes e, ao mesmo tempo, mais claras do escritor surgem já no final, o que constitui um óbice difícil de ignorar e contornar ao longo da leitura. O fraco desenvolvimento das personagens secundárias e os inúmeros e desnecessários figurantes tornam a escrita de J. G. Ballard arrastada e difícil, fruto ainda da tremenda repetição de palavras na descrição do cenário e cenas, dificuldade que passou para a tradução de Marta Mendonça e Rute Mota, nas demasiado visíveis gralhas (não se pode trocar números de andares, quando isso é um simbolismo inerente à ascensão social, nem o nome de personagens em diálogos). Não é um livro fácil de julgar. A marcada crítica à vivência em sociedade está lá e vale uma nota positiva. A forma fortuita como é alcançada, desde canibalismo, consumo de animais domésticos e violações, pende para o negativo. Respondendo ao título, espero que não.

Podia ser melhor

Arranha-Céus De J. G. Ballard Editora Elsinore 2015


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EDITORIAL - POR LUÍS ALMEIDA E DANIELA PINTO -

Fiscais com disciplina

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az um ano desde que o atual Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra (CF/ AAC) começou a sua jornada. Com a transição para os novos Estatutos da AAC, este órgão teve certamente com que se ocupar nestes 12 meses. Desde as eleições das quase 70 estruturas da casa até ao último processo eleitoral dos corpos gerentes, a Académica está a dever horas de sono ao ainda presidente do CF/AAC. Apesar do esforço, o dirigente afirma que não conseguiu implementar tudo o que queria. Aqui entra o trabalho do seu sucessor. Francisco Costa não deixa dúvidas sobre a vontade de dar continuidade ao que Jorge Graça começou. Com tantas tarefas pela frente, o foco inicial parece estar na reestruturação dos órgãos intermédios. Como o próprio conclui, esta será a forma mais simples de agilizar o acompanhamento das secções e núcleos. E depois disto? O novo presidente do Conselho Fiscal critica a anterior Comissão Disciplinar da AAC ­­­­­­(CD/ AAC) pela pouca evolução dos processos. No fundo, quer dirigentes mais empenhados e com interesse numa Académica bem oleada. Com a eleição também recente deste outro órgão, espera-se que Mariana Farinha e a sua equipa estejam à altura das expectativas de Francisco Costa. Até porque apenas com esforço coletivo, transparência e cooperação entre os dirigentes se pode alcançar uma gestão responsável da AAC.

Apenas com esforço coletivo, transparência e cooperação entre os dirigentes se pode alcançar uma gestão responsável da AAC”

Ficha Técnica

Diretor Pedro Dinis Silva

Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA Depósito Legal nº183245702 Registo ICS nº116759 Propriedade Associação Académica de Coimbra

Editores Executivos Luís Almeida e Daniela Pinto

Morada Secção de Jornalismo Rua Padre António Vieira, 1 3000-315 Coimbra

Equipa Editorial Maria Francisca Romão e Pedro Emauz Silva (Ensino Superior), Joana Pedro e Micaela Santos (Cultura), Samuel Santos (Desporto), Hugo Guímaro (Ciência & Tecnologia), Luís Almeida, Daniela Pinto e Pedro Dinis Silva (Cidade), Hugo Guímaro (Fotografia) Colaborou nesta edição Vasco Borges, Maria Luísa Calado, Rafaela Chambel, Paulo Cardoso, Júlia Fernandes, Rita Fernandes, Beatriz Furtado, Leonor Garrido, Sofia Gonçalves, Júlia Lopes, Diogo Machado, Frederico Magueta, Paula Martins, Maria Monteiro, Gabriela Moore, Mariana Nogueira, Carolina d’Oliveira, Isabel Pinto, Diana Ramos, Gabriel Rezende, Inês Casal Ribeiro, Mariana Rosa, Maria Salvador, Patrícia Silva

JORNAL UNIVERSITÁRIO DE COIMBRA

Conselho de Redação Carlos Almeida, Inês Duarte, Filipe Furtado, Margarida Mota, João Diogo Pimentel, Paulo Sérgio Santos

Fotografia Nino Cirenza, Rafaela Chambel, André Crujo, Beatriz Furtado, Gabriela Moore, Diana Ramos, Samuel Santos, Pedro Dinis Silva, Pedro Emauz Silva, Isabel Simões Ilustração Sofia Campos, Filipa Figueiredo Paginação Luís Almeida, Maria Francisca Romão, Pedro Dinis Silva, Pedro Emauz Silva

Impressão FIG – Indústrias Gráficas, S.A. Telf. 239499922, Fax: 239499981, e-mail: fig@fig.pt Produção Secção de Jornalismo da Associação Académica de Coimbra Agradecimentos Reitoria da Universidade de Coimbra Tiragem 2000 exemplares


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